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PAPILOMAVIROSES HUMANAS HPV É uma das IST mais comuns do mundo – cerca de 80% dos indivíduos do mundo entram em contato com algum tipo de HPV. Existem mais de 150 tipos de HPV, dos quais 40 infectam os genitais, anus e orofaringe. AGENTE ETIOLÓGICO Os papilomavirus pertencem à família Papilomaviridae e são estritamente espécie- específicos, podendo infectar répteis, pássaros e mamíferos. O HPV é um vírus pequeno de dupla fita de DNA circular, capaz de codificar oito proteínas maiores, das quais cabe citar: • E6: proteína carcinogênica, liga-se e inativa a proteína supressora tumoral (p53) do hospedeiro, evitando o reparo do defeito genético e a apoptose. • E7: liga-se à proteína supressora tumoral pRB, ativando células quiescentes do ciclo celular. Sendo assim, E6 e E7 são oncoproteínas – E7 tira a célula da quiescência e E6 remove o mecanismo de segurança da apoptose, resultando em um fenótipo com mutação em que a célula se perpetua ciclando e incorpora qualquer mutação espontânea que ocorra. Transmissão: o vírus é capaz de sobreviver no ambiente sem um hospedeiro. Ocorre por meio do contato direto de pele com pele, via microabrasão ou microtraumatismo. Contato sexual íntimo, e não necessariamente a penetração (transmissão mão-genital e boca-genital documentada). PATOGENIA Para que ocorra a infecção pelo HPV, ele necessita atingir as células da membrana basal, por meio de microtraumas. Ele entra nas células da membrana basal por meio de alteração conformacional de sua proteína L2, que permite à proteína L1 ligar- se a receptor específico nos queratinócitos, permitindo a infecção à medida que os queratinócitos migram da membrana basal para cicatrizar a ferida ou microtrauma. Imunidade: como as células epiteliais não são boas apresentadoras de antígenos, o HPV permanece no interior das células epiteliais sem causar maiores danos. Anticorpos: anticorpos séricos contra diferentes produtos virais foram demonstrados, e os anticorpos mais bem diferenciados são aqueles gerados contra a proteína maior (L1). Nem todas as pessoas geram anticorpos detectáveis após a infecção natural, e eles não se mostraram duradouros e capazes de proteger integralmente contra novas infecções pelo mesmo tipo viral. 1. Infecção clínica, ou produtiva: os vírus reproduzem- -se rapidamente, liberando grande número de novas partículas virais, para infectar outras células. Isso gera modificações celulares, como o espessamento epitelial que acompanha a maior velocidade mitótica. As células desenvolvem halos perinucleares (coilocitose), acantose, atipia citológica, multinucleação e vacuolização citoplasmática. A maioria dos indivíduos é capaz de eliminar espontaneamente a infecção por meio do sistema imune em período médio de oito meses para os vírus de baixo risco oncogênico e 13 meses para os HPV de alto risco. 2. Infecção latente: o DNA viral reside no núcleo em forma epissomal (o DNA do vírus permanece livre no núcleo da célula do hospedeiro sem se ligar ao DNA do hospedeiro), porém não produz nenhuma alteração no tecido. Pode ser desencadeado pela imunodepressão e apenas é detectado por métodos de biologia molecular. CARCINOGÊNESE O HPV é um fator de risco para carcinogênese genital, assim como o tabagismo, a imunossupressão, outras ISTs e fatores genéticos. Os aspectos morfológicos da infecção pelo HPV dependem principalmente do status biológico do tecido infectado e da sua localização anatômica. O epitélio passa por alguns estágios (pré-câncer) antes de se tornar um câncer invasor. Para classificá-los, foram criados vários sistemas de classificação: Quando ocorre progressão de lesão de baixo (infecção por HPV e displasia leve) para alto grau (displasia moderada, severa e carcinoma in situ) também ocorre alteração na relação infecção-hospedeiro, e o vírus, anteriormente na forma epissomal (circular), passa para linear e se incorpora ao DNA da célula epitelial. VERRUGAS GENITAIS A infecção clínica pelo HPV caracteriza-se por lesões aparentes, vegetativas, vascularizadas, sésseis e com múltiplas projeções papilares, denominadas condilomas acuminados ou verrugas genitais. Ocorrem, mais comumente, em pacientes jovens entre 16 e 25 anos e estão localizadas em regiões úmidas, como o vestíbulo e a pele vulvar na mulher e no corpo do pênis, escroto e base do pênis no homem. As verrugas anogenitais são na maioria das vezes assintomáticas, podendo ser acompanhadas por prurido, ardência e umidade. DIAGNÓSTICOS Os métodos diagnósticos das lesões induzidas pelo HPV se baseiam na identificação de alterações celulares (citologia oncológica, exame clínico, colposcopia e histologia) Já a identificação do DNA do HPV bem como de seu tipo e carga viral é realizada por métodos de biologia molecular (captura híbrida – CH- PCR e hibridização in situ - ISH). COLPOCITOLOGIA ONCOLÓGICA Consiste na realização de esfregaço na lâmina de vidro com material oriundo da raspagem da superfície da mucosa cervical, fixação e coloração pela técnica de Papanicolau. Os efeitos citopáticos são característicos nas formas puras de infecção por HPV e nas lesões de baixo grau, diminuindo gradativamente de maneira inversa à gravidade da lesão histológica. Entre as alterações citopáticas tem-se a coilocitose: células superficiais e intermediárias, caracterizada por evidente halo claro que circunda o núcleo hipercromático de contornos irregulares. Sistema de Bethesda: as anormalidades intraepiteliais escamosas foram descritas como alterações celulares sugestivas de lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (correspondente, à NIC-1 e/ou infecção por HPV) e lesão intraepitelial escamosa de alto grau (correspondente à NIC-2, NIC-3 e carcinoma in situ). COLPOSCOPIA Constitui método de imagem empregado para estudar as variações fisiológicas ou patológicas da mucosa e tecido conjuntivo do trato anogenital, por meio de lentes de aumento de 10 a 60 vezes (colposcópio) e aplicação de corantes específicos. TRATAMENTO Como não existe cura para o HPV, o primeiro objetivo do tratamento da infecção clínica é a remoção dos condilomas visíveis. Sabe-se que a regressão espontânea dos condilomas pode ocorrer em até 20% dos casos, porém o atraso no tratamento pode levar à disseminação local, tornando as lesões mais extensas e potencialmente mais graves, além do potencial de transmissão. Uma variedade de métodos citodestrutivos tem sido utilizada para remover as verrugas, incluindo excisão, vaporização a laser, eletrocauterização, crioterapia, podofilina, ácido tricloroacético, 5-fluouracila e podofilotoxina. VACINAS As vacinas HPV são produzidas por meio de tecnologia de DNA recombinante e contêm partículas proteicas imunogênicas, não infecciosas, que se assemelham ao vírus (virus- -like particles – VLP). A infecção natural pelo HPV caracteriza-se pelo pouco acesso do vírus aos nódulos linfáticos, uma vez que se trata de infecção de ciclo eminentemente intraepitelial e sem viremia, e, portanto, induz resposta imune fraca. Já as vacinas HPV são administradas por via intramuscular, o que propicia rápido acesso das VLP aos vasos sanguíneos e aos nódulos linfáticos locais. Por esse motivo, as vacinas são muito imunogênicas. As vacinas HPV parecem exibir proteção cruzada parcial contra outros tipos filogeneticamente relacionados aos HPV-16 e 18. A vacina HPV deve ser administrada por via intramuscular em três doses de 0,5 mL, de acordo com o seguinte esquema: 0, 1- 2 e 6 meses. Em 2014, o Brasil introduziu a vacina HPV-6, 11, 16 e 18 (recombinante) no calendário do SUS para a população-alvo de meninas de 9 a 13 anos com esquema vacinal estendido, composto portrês doses em 0, 6 e 60 meses.
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