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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Atualmente, sabe-se que a infecção por HPV do trato genital humano é extremamente comum e causa quadros clínicos variando desde infecção assintomática até condiloma genital (condiloma acuminado), lesões displásicas ou câncer invasivo de ânus, pênis, vulva, vagina e colo uterino, e um subgrupo de cânceres de orofaringe. O papilomavírus humano (HPV) é considerado o agente da infecção viral sexualmente transmissível mais prevalente em todo o mundo. A maioria dos indivíduos sexualmente ativos (mais de 80%) se infectará em algum momento da vida. No entanto, as infecções serão predominantemente assintomáticas e serão clareadas em cerca de 2 anos. CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS O HPV é um vírus DNA de fita dupla, icosaédrico, não envelopado, com 8.000 pares de bases, com diâmetro de 55nm. O genoma do HPV é formado por uma região de genes precoces (E), uma região de genes tardios (L) e uma região não codificadora que contém elementos de regulação. As proteínas E1, E2, E5, E6 e E7 são expressas precocemente no ciclo de crescimento e são necessárias para a replicação viral e transformação celular. ❖ As proteínas E6 e E7 são responsáveis por transformação maligna, tendo como alvo, respectivamente, as moléculas p53 e Rb (proteína do retinoblastoma) reguladoras do ciclo celular humano para a degradação. O gene E5 parece ser importante no início da infecção do vírus, por estimular crescimento celular pela formação de um complexo com receptores do fator de crescimento epidérmico, do fator de crescimento derivado de plaquetas e do fator estimulante de colônia-1. Além disso, previne a apoptose de células com DNA alterado. No entanto, com a integração do DNA viral ao DNA da célula, é deletado, portanto não parece essencial para eventos da carcinogênese. Já os genes E6 e E7 e suas respectivas proteínas são expressos em tecidos de lesões invasoras e, de forma independente, são hábeis em imortalização celular. O gene L1 codifica a proteína maior 54 kDa do capsídeo que compõe a maior parte do envólucro viral, e a proteína menor L2 de 77 kDa contribui com uma porcentagem menor da massa do capsídeo. Foram identificados mais de 125 tipos de HPV que são designados numericamente de acordo com a sequência única do gene L1. ❖ Cerca de 40 tipos de HPV são regularmente identificados no trato anogenital e são divididos nas categorias de alto e baixo risco com base na associação ao câncer do colo uterino. Os HPVs são classificados como de baixo e alto risco oncogênico, conforme sua associação com tumores invasivos. ❖ Baixo risco -> 6, 11, 40, 42, 43 e 44. ❖ Alto risco -> 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66. MECANISMOS DE TRANSMISSÃO A infecção é transmitida por contato, e não apenas pelo coito. O uso regular de preservativo pode conseguir algo em torno de 60% de proteção, mas áreas não protegidas podem estar associadas à transmissão. Há grande possibilidade de transmissão genital sem que tenha havido a coitarca, apenas com o contato pele a pele dos genitais dos parceiros. A transmissão pode também ser não sexual. ❖ Alguns estudos apontam a transmissão por fômites (superfícies/objetos contaminadas). ❖ Pode haver passagem de HPV de mãe para o concepto, em especial em casos de lesões genitais na passagem do canal de parto, o que pode causar a papilomatose respiratória. EPIDEMIOLOGIA O HPV é um vírus presente em todo o mundo. A maior incidência ocorre em jovens, entre mulheres especialmente, de 15-19 anos. Cerca de 90% dessas jovens eliminarão o vírus em um período médio de 2 anos. A grande maioria não desenvolve qualquer lesão. No entanto, é no pequeno percentual de mulheres em que o vírus é persistente que há risco de associação com quadro mais preocupante de risco para lesão neoplásica invasiva. Considera-se ainda que há um novo pico na incidência, embora menor que o primeiro, na faixa dos 50 anos, talvez por conta de novos parceiros sexuais e da menor resposta imunológica. APG 31 - INFECÇÃO PELO HPV Maria Luiza Sena – Med XIV FASA FATORES DE RISCO O tabagismo é um fator de risco, pois causa dano ao material genético das células cervicais e imunossupressão local devido às substâncias carcinogênicas contidas no tabaco. Além disso, o uso de contraceptivos, gravidez, sexarca precoce (<15 anos), idade (19-24 anos), baixo conhecimento sobre a doença e relações sexuais desprotegidas são outros fatores de risco. FISIOPATOLOGIA As infecções pelo HPV provocam doença ao induzir a proliferação do epitélio da pele e das membranas mucosas. Nas lesões benignas, como verrugas e condilomas, todas as camadas epiteliais estão acometidas, exceto o estrato basal de replicação dos queratinócitos. É também acompanhada de grandes células com núcleo (ou núcleos) retraído hipercromático, circundado por um halo (denominadas coilócitos) no estrato acantoso. Em nível celular, a infecção começa na camada mais baixa e menos diferenciada do epitélio, as células basais, onde são expostas a microtraumatismos. No estrato basal, o genoma viral se estabelece no núcleo, que se replica em tandem com a replicação celular, mantendo, assim, um número de cópias estável de genomas virais. À medida que as células basais migram para cima e diferenciam-se nas camadas superficiais do epitélio, ocorrem replicação do DNA viral vegetativo completo e expressão de proteínas estruturais, com montagem de vírions infecciosos na camada mais superficial do epitélio. ❖ Os vírions são liberados com a descamação das células mortas durante a renovação celular normal. A resposta imune à infecção pelo HPV é menos robusta do que para a maioria das infecções virais. As proteínas virais e os vírions infecciosos desenvolvem-se em células superficiais com contato limitado com o sistema imune, e não há lise celular nem viremia para desencadear uma resposta inflamatória. Além disso, o HPV suprime vários componentes da resposta imune, incluindo a via da interferona e a expressão de citocinas inflamatórias e MHC I. O exame histológico das lesões em indivíduos que evoluem com regressão de verrugas genitais revela infiltração de células T e macrófagos. A regulação de células T CD4+ é particularmente importante no controle das infecções por HPV, como evidenciado pelas taxas maiores de infecção e de doença nos indivíduos imunossuprimidos, em particular aqueles com infecção HIV. A resposta específica de células T contra as proteínas do HPV pode ser mensurada, sendo que as mais importantes parecem ser as proteínas E2 e E6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O HPV infecta a uretra masculina, o pênis e o escroto, além da vulva, vagina e colo uterino em mulheres. Em ambos os sexos ocorre infecção perianal, anal e orofaríngea. As verrugas genitais são causadas primariamente por HPV tipo 6 ou 11 e aparecem como crescimentos sésseis e moles com superfície lisa ou rugosa com múltiplas projeções que lembram dedos. As verrugas genitais penianais geralmente têm 2-5mm de diâmetro e ocorrem em grupos. Um 2º tipo de lesão peniana, as placas ceratóticas, encontram-se ligeiramente elevadas acima do epitélio normal e apresentam superfície rugosa frequentemente pigmentada. As lesões do colo com frequência aparecem como proliferações papilares próximas da zona de transição. Alças vasculares irregulares estão presentes abaixo da superfície epitelial. Os pacientes que desenvolvem câncer de colo uterino a partir de infecção por HPV podem se apresentar com diversos sintomas. Os carcinomas em fase inicial parecem lesões erosivas que sangram com facilidade. Os carcinomas mais avançados apresentam-se como lesões ulceradas ou como uma massa exofítica no colo. DIAGNÓSTICO TÉCNICAS DE BIOLOGIA MOLECULAR Envolve a captura híbrida de 2ª geração e a técnica de PCR (reaçãode cadeia de polimerase). Esta última, considerada padrão-ouro, permite a genotipagem viral, embora em alguns casos apenas para os tipos 16 e 18. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA CITOPATOLOGIA É um método de estudo morfológico de alterações celulares, que esfregaços, que, no caso do epitélio escamoso, podem ser classificadas conforme o tipo de lesão causada pelo HIV, como lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (L-SIL) e lesão intraepitelial escamosa de alto grau (H-SIL). A imagem A representa células normais, a B lesões de baixo grau, e as imagens C e D representam lesões de lato grau. COLPOSCOPIA É um método de magnificação que exige habilidade do examinador para determinar, em caso de anormalidade, o sítio adequado para a realização de biópsia, se indicada. Tem nomenclatura própria e define lesões de maior relação com H- SIL no colo. Além disso, a colposcopia tem sido útil para os outros sítios como vulva, vagina, pênis e ânus. HISTOPATOLOGIA Esse exame é considerado o padrão-ouro no diagnóstico das lesões induzidas pelo HPV, mas não do HPV. O padrão-ouro para diagnóstico da infecção é a biologia molecular, pesquisa do DNA do vírus. IMUNOISTOQUÍMICA A grande ajuda desse método veio pela inclusão na rotina, para casos de dúvida, do marcador p16ink4a. Esse marcador deve ser utilizado pelo patologista para casos mimetizadores de H-SIL e quando da presença de NIC2. POTENCIAL CARCINOGÊNICO Embora o HPV seja o agente causal de vários cânceres, a maior parte da atenção se concentra no câncer de colo uterino, que é o segundo câncer mais comum nas mulheres do mundo todo. Mais de 500 mil mulheres são diagnosticadas e 275 mil morrem anualmente por câncer de colo uterino invasivo. Mais de 85% dos casos de câncer do colo uterino e das mortes ocorrem em mulheres que vivem em países de baixa renda, especialmente na África Subsaariana, na Ásia e nas Américas do Sul e Central. ❖ A infecção persistente por HPV é o fator de risco mais importante para câncer de colo uterino. A International Agency for Research on Cancer concluiu que os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58 e 59 de HPV são carcinogênicos no colo uterino. ❖ O HPV-16 é particularmente virulento e causa 50% dos cânceres de colo. ❖ Em todo o mundo, o HPV-16 e o HPV-18 causam pelo menos 70% dos carcinomas espinocelulares do colo e 85% dos adenocarcinomas do colo. ❖ O HPV-16 e o HPV-18 também causam quase 90% dos cânceres anais em todo o mundo. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Além dos cânceres de colo uterino e ânus, o HPV foi associado aos cânceres de vulva e vagina em 50 a 70% dos casos, do pênis, causado por HPV em 50% dos casos, e pelo menos 65% dos casos de carcinoma espinocelular de orofaringe (CECOF). O risco oncogênico do HPV varia não apenas de acordo com o tipo, em que o HPV 16 é o mais oncogênico, mas também de acordo com variantes em determinado tipo -> uma alta carga viral também pode contribuir para o risco. Embora a infecção persistente por um tipo de alto risco seja necessária para o desenvolvimento do câncer do colo do útero, ela não é considerada suficiente, visto que não há desenvolvimento de câncer na maioria das mulheres persistentemente infectadas. Os possíveis cofatores incluem tabagismo, uso prolongado de contraceptivos hormonais, multiparidade, deficiência de micronutrientes, imunodeficiência (ex: HIV) e, possivelmente, outras infecções (ex: Chlamydia trachomatis e herpes-vírus simples tipo 2). Além disso, os dados que sustentam um risco familiar de câncer do colo do útero apontam para possíveis fatores genéticos, incluindo genes que controlam a resposta imune. A patogenia do câncer induzido pelo HPV envolve a integração do vírus no genoma do hospedeiro, com consequente ruptura do gene regulador da transcrição E2 e aumento da expressão das proteínas E6 e E7. Essas proteínas apresentam atividade oncogênica e afetam o crescimento celular por sua ligação a proteínas supressoras de tumor: ❖ Atividades oncogênicas de E6 -> proteína se liga e medeia a degradação de p53 e também estimula a expressão de TERT, a subunidade catalítica da telomerase, que se recordará que contribui para a imortalização de células. ❖ Atividades oncogênicas da E7 -> proteína tem efeitos que complementam os da E6, e todos são centralizados nas velocidades das células através do ponto de checagem do ciclo celular de G1-S. Ela liga-se à proteína RB e desloca os fatores de transcrição E2F que normalmente são sequestrados por RB, promovendo a progressão através do ciclo celular. A proteína E7 também inativa os inibidores de CDK p21 e p27 e liga-se e presumivelmente ativa as ciclinas E e A. Um fator adicional que contribui para o potencial oncogênico dos HPVs é a integração viral ao genoma do hospedeiro. Nas verrugas benignas, o genoma do HPV mantém-se sob a forma epissomal não integrado, enquanto nos cânceres, o genoma do HPV integra-se aleatoriamente ao genoma do hospedeiro. A integração interrompe uma região reguladora negativa no DNA viral, resultando em superexpressão das oncoproteínas E6 e E7. Além disso, as células nas quais o genoma viral se integrou exibem significativamente mais instabilidade genômica, o que pode contribuir para a aquisição de mutações pró-oncogênicas nos genes associados ao câncer no hospedeiro. Nas lesões pré-cancerosas ou cancerosas, a discariose (alteração citológica que defini uma célula de núcleo anormal com citoplasma diferenciado) é causada pela proliferação das células do estrato basal, que também exibem mitoses anormais. ❖ Essa discariose progride ao substituir as camadas superiores do epitélio estratificado, causando neoplasia intraepitelial de graus crescentes 1 a 3, de acordo com a proporção em terços do epitélio acometido. ❖ O comprometimento de toda espessura define o carcinoma in situ. ❖ A ruptura do estrato basal indica câncer invasivo. As neoplasias intraepiteliais (NI) do colo do útero, da vagina, da vulva, do pênis e do ânus também são designadas pelos acrônimos de NIC, NIVA, NIV, NIP e NIA, respectivamente. ❖ No caso do colo do útero, a lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL/LIEBG) é o equivalente do condiloma plano e NIC1, enquanto a lesão intraepitelial de alto grau (HSIL/LIEAG) regrupa o NIC 2 e 3. LIEBG com atipia coilocitótica nas camadas superficiais do epitélio e alterações displásicas no terço inferior do epitélio escamoso, representando NIC 1. A 3ª imagem representa atipia progressiva em todas as camadas do epitélio, a displasia se estende para o terço médio do epitélio se enquadrando ao NIC 2. Na última imagem há atipia difusa e perda de maturação (carcinoma in situ), sendo enquadrada no NIC 3.
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