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Fisiologia Veterinária II Trocas Gasosas e Transporte de Gases AR ATMOSFÉRICO O ar atmosférico é composto por vários gases, sendo o nitrogênio o que está em maior concentração, sendo seguido pelo oxigênio e por outros gases (CO2, argônio, etc.). Composição do ar seco ao nível do mar (pressão atmosférica de 760 mmHg). Essas porcentagens podem variar de acordo com a altitude e a profundidade. Quanto maior a altitude, menor a pressão atmosférica → Hipóxia da altitude (ar rarefeito). Quanto menor a altitude, maior pressão atmosférica → Mal dos Mergulhadores ou Doença da Descompressão. EFEITOS DA ALTURA E DA PROFUNDIDADE SOBRE O ORGANISMO Em altas altitudes, a tendência é que se diminua a pressão atmosférica a medida em que essa altitude aumenta. Acima de 2000- 3000 metros o ar é mais rarefeito. Nessa condição, um indivíduo que não esteja acostumado pode ter um quadro de hipóxia, com uma baixa oxigenação dos tecidos, e com isso um quadro de alcalose respiratória. Ele também pode apresentar fadiga, náusea, perda de apetite, tonturas e incoordenação motora. Para diminuir todos esses efeitos, é necessário que se faça uma aclimatação, que consiste em “acostumar” o corpo com essa condição (altitudes mais elevadas). Uma situação oposta ocorre em baixas altitudes, como mergulhos em profundidades. Nesse caso, quanto maior a profundidade, maior a pressão atmosférica. Nessas condições, o indivíduo terá um maior teor de nitrogênio dissolvido no sangue, e com isso uma redução da excitabilidade neuronal (narcose por nitrogênio) e uma sensação de euforia (êxtase das profundezas). A doença da descompressão ou o mal dos mergulhadores ocorre quando o indivíduo retorna em uma velocidade muito rápida para a superfície. São relatados sintomas como tontura e dores em articulações. FATORES QUE AFETAM A RESISTÊNCIA DAS VIAS AÉREAS O ar inspirado e expirado precisa fluir por um sistema de tubos, com diferentes diâmetros e com características morfológicas que serão responsáveis pela variável chamada resistência das vias aéreas. Assim, os fatores que podem aumentar ou diminuir essa resistência estão listados no quadro anterior. O comprimento do sistema e a viscosidade do ar não são levados muito em consideração, pois são tidos como constantes. O fator mais importante está relacionado ao diâmetro das vias aéreas. As vias aéreas superiores podem sofrer, por exemplo, uma obstrução física por muco ou por outras secreções até purulentas no caso de uma infecção do trato respiratório superior. Nessa caso, isso constituiria um bloqueio, aumentando a resistência ao fluxo do ar nessas vias. Os bronquíolos são estruturas que contêm uma quantidade considerável de fibras musculares lisas, contendo receptores para diferentes substâncias, que vão provocar constrição ou dilatação. Em termos de broncoconstrição, o principal fator envolvido são neurônios parassimpáticos (vias vagais) que vão liberar acetilcolina, que ligando-se ao receptor muscarínico provocam broncoconstrição. A histamina e os leucotrienos também vão atuar causando broncoconstrição. Já a broncodilatação, pode ser causada pela própria presença de dióxido de carbono (CO2), ou pela via simpática: terminais simpáticos liberam noradrenalina ou adrenalina da medula adrenal que se ligam à receptores beta 2 adrenérgicos, promovendo broncodilatação. DIFUSÃO E SOLUBILIDADE DOS GASES A Lei de Fick trata da difusão dos gases através de membranas permeáveis. Essa lei diz que a taxa de difusão de um gás é diretamente proporcional à área de superfície, ao gradiente de concentração do gás e à permeabilidade da membrana. Diz também que a taxa de difusão de um gás é inversamente proporcional à espessura da membrana em questão. LOCAIS DAS TROCAS GASOSAS As mesmas variáveis aplicadas à Lei de Fick direcionarão as trocas de O2 e CO2 ao nível dos alvéolos pulmonares e também nos tecidos periféricos. Dessa forma, ao inspirar o ar atmosférico, os alvéolos são preenchidos com O2, e este se difundirá pelos capilares alveolares, que o transportarão via sistêmica até os tecidos. Dos tecidos, o CO2 removido (produto do metabolismo celular) difunde-se para os capilares teciduais, que o transportarão via vênulas e veias até de volta aos pulmões. Nos pulmões, o CO2 se difundirá para os alvéolos, e assim, será expirado para o ar atmosférico. PRESSÕES DE OXIGÊNIO E DIÓXIDO DE CARBONO A figura a seguir mostra os gradientes de concentração do O2 e do CO2 ao nível pulmonar e ao nível tecidual, uma variável que irá direcionar a taxa de difusão desses gases, de onde eles estão mais concentrados para onde eles estão menos concentrados. O sangue que chega pelos capilares alveolares é pobre em O2 e possui uma alta concentração de CO2, então ele encontra os alvéolos com uma pressão de oxigênio em torno de 100mmHg, após uma inspiração. Assim, a difusão do O2 ocorrerá do alvéolo para o capilar. O sangue agora oxigenado será distribuído para todos os tecidos do organismo, pois a difusão ao nível celular se dará do capilar para as células, e no caso do CO2, das células de volta para os capilares. DIFUSÃO DOS GASES NA UNIDADE ALVÉOLO-CAPILAR Para que o O2 se difunda do espaço alveolar para o interior do capilar, ele precisa atravessar a membrana do alvéolo, o espaço intersticial e, por fim, a membrana do capilar. O gradiente de concentração do O2 será o responsável por direcionar essa difusão, entretanto, a integridade das membranas que compõem a unidade alvéolo-capilar é extremamente importante para que as trocas ocorram de forma adequada. Qualquer anormalidade nessas três estruturas (membrana alveolar, membrana capilar e espaço intersticial) podem interferir no processo normal das trocas gasosas. CONDIÇÕES PATOLÓGICAS QUE REDUZEM A VENTILAÇÃO ALVEOLAR E AS TROCAS GASOSAS Algumas condições patológicas podem afetar a estrutura da unidade alvéolo-capilar, comprometendo a ventilação e as trocas gasosas. No quadro a seguir são representadas algumas dessas condições: enfisema, doença fibrótica do pulmão, edema pulmonar e asma. TRANSPORTE DE OXIGÊNIO Após a ocorrência da hematose nas unidades alvéolo-capilar, o O2 precisa ser transportado na circulação sistêmica. Esse transporte vai ocorrer de duas formas: ele pode estar ligado à molécula de hemoglobina (98%) ou pode estar livre (2%, gás dissolvido no plasma). Essa fração de O2 livre é chamada de pO2, que significa pressão parcial do oxigênio dissolvido. Cada molécula de hemoglobina possui 4 sítios de ligação para o oxigênio, sendo essa a sua capacidade máxima de transporte. Não necessariamente todas as moléculas de hemoglobina presentes em uma hemácia precisam estar transportando a todo momento 4 moléculas de oxigênio. Quando uma molécula de oxigênio se liga, ela facilita a ligação de uma segunda, que por sua vez facilita a ligação de uma terceira e essa a ligação de uma quarta, causando um processo que é chamado de saturação da hemoglobina (todos os sítios preenchidos pelas moléculas de O2). A ligação da hemoglobina ao oxigênio é chamada de oxihemoglobina (HbO2), e essa é uma ligação fraca e reversível. TRANSPORTE DE DIÓXIDO DE CARBONO No caso do CO2, existem 3 formas de transportar essa molécula. A que tem maior proporção (70%) é na forma de íons bicarbonato (HCO3-). Uma outra forma (23%) é quando ocorre a ligação do CO2 à uma molécula de hemoglobina, formando a chamada carbaminohemoglobina (HbCO2). Apenas 7% do CO2 é transportado na forma livre (gás dissolvido), que também confere a chamada pressão parcial ou pCO2. O sangue venoso ao nível dos tecidos, após o CO2 atravessar as membranas celular e capilar, ele entra dentro da hemácia e uma parte dele se liga às moléculas de hemoglobina que agora estão livres (já liberaram o oxigênio para os tecidos), e uma outra parte fica dissolvida no plasma. Agora a maior parte desse CO2sofre um processo de hidratação, formando o H2CO3 (ácido carbônico), que é um ácido fraco que se dissocia rapidamente em H+ e HCO3- (bicarbonato). O H+ vai se ligar em sítios na molécula de hemoglobina formando um tampão, que evita que moléculas de H+ (ácidas) permaneçam livres podendo causar uma acidez sanguínea. Já o íon bicarbonato, sai da hemácia trocando com o íon cloreto (Cl-), sendo transportado no plasma dessa forma até alcançar os capilares da unidade alvéolo-capilar. Nessa condição, o bicarbonato é direcionado de volta para dentro da hemácia, se juntando à moléculas de H+ e formando ácido carbônico, se dissociando em moléculas de água e CO2, que pode finalmente ser expelido ao nível dos alvéolos para ser expirado. Essa hidratação ocorre em praticamente todas as células do organismo, mas em determinadas situações, como nesse caso, esse processo ocorre em uma quantidade maior pela presença em maior quantidade da enzima anidrase carbônica, responsável por catalisar essa reação. HEMOGLOBINA (HB-A) Uma outra condição limitante para o transporte dos gases, principalmente do O2, é a molécula da hemoglobina, que precisa estar em um número adequado e também com sua estrutura sem alterações. Na figura a seguir, observa-se a estrutura quaternária da hemoglobina A (de adultos), que possui 4 cadeias de globinas, sendo 2 cadeias alpha e duas cadeias beta, possuindo em seu interior um grupamento heme central, que tem um íon ferro no estado ferroso (Fe2+). Essa estrutura básica da hemoglobina é capaz de se ligar de forma reversível à até 4 moléculas de oxigênio (cada grupo heme pode se ligar reversivelmente à uma molécula de O2). MODIFICAÇÕES NA MOLÉCULA DE HEMOGLOBINA RELACIONADAS AO TRANSPORTE DE GASES Condições que podem interferir no transporte de O2 vão desde reduções no número de hemácias ou da concentração de hemoglobina (casos de anemias), até alterações na molécula de hemoglobina, que é uma situação um pouco menos comum. Exemplos de formas modificadas da hemoglobina: • Hemoglobina fetal (HB-F) Condição normal em que a troca da cadeia beta pela gama aumenta o transporte de O2 ao nível da placenta. Essa hemoglobina vai sendo substituída ao longo do tempo pela hemoglobina A. • Metahemoglobina (Fe3+) Condição onde o ferro do grupo heme encontra-se no estado férrico, levando a uma menor afinidade da hemoglobina ao O2. Ocorre em alguns tipos de intoxicação, não sendo muito comum. • Hemoglobina S (HB-S) Doença falciforme. Possui um caráter hereditário e é provocada por uma troca de aminoácidos na estrutura da molécula de hemoglobina, levando a uma deformidade na hemácia, que adquire uma forma de foice, comprometendo o trânsito nos vasos, principalmente nos mais finos, causando uma obstrução. • Carboxihemoglobina (HB-CO) Condição que ocorre em casos de intoxicação com o monóxido de carbono (CO). Essa molécula possui muita afinidade pela molécula de hemoglobina, impedindo que o O2 se ligue a ela. RELAÇÃO VENTILAÇÃO/PERFUSÃO Na unidade alvéolo-capilar, tanto a ventilação do alvéolo quanto a perfusão dos capilares, devem estar de uma forma adequada para que o processo de trocas ocorra levando a uma taxa de ventilação/perfusão própria. Qualquer situação que atrapalhe o fluxo de ar até os alvéolos pode comprometer essa relação, da mesma forma que qualquer situação que danifique a perfusão dos capilares também pode atrapalhar essa relação. Em casos de infecções do trato respiratório superior, como em uma bronquite, há uma obstrução do fluxo de ar, e em uma embolia, pode levar a uma danificação da perfusão. Em suma, a eficiência das trocas gasosas nos alvéolos depende da distribuição de sangue em áreas bem ventiladas do pulmão. Os pulmões possuem um mecanismo intrínseco que é capaz de promover um grau de adaptação nessas condições, que é chamado de vasoconstrição hipóxica. Nesse mecanismo, quando ocorre uma redução da concentração de O2 num grupo de alvéolos, sensores detectam essa queda e a sinalizam para fibras simpáticas, que por sua vez vão liberar noradrenalina em seus terminais, que se ligam à receptores alpha nas arteríolas promovendo vasoconstrição, restringindo o fluxo sanguíneo na área pouco ventilada. Dessa forma, o sangue pode ser redistribuído para áreas onde os alvéolos estão ventilados. Além disso, existem os fatores humorais, que são mediadores locais como a angiotensina II, a histamina e a serotonina, que também vão promover vasoconstrição. Outra forma de se melhorar a taxa de ventilação/perfusão é atuando sobre as vias aéreas, reduzindo a resistência ao fluxo do ar. O SNA atua sempre, regulando o diâmetro das vias aéreas. O sistema nervoso simpático vai, através de vias noradrenérgicas, liberar noradrenalina que vai ser ligar à receptores beta 2, causando a dilatação das vias aéreas, aumentando o diâmetro e diminuindo a resistência. No caso do sistema parassimpático, fibras colinérgicas liberam acetilcolina que se liga à receptores muscarínicos causando uma constrição, diminuindo o diâmetro e aumentando a resistência. Alguns mediadores locais também podem atuar em receptores próprios, causando constrição das vias aéreas (histamina, leucotrienos) ou dilatação (óxido nítrico - NO). Em casos de obstrução grave das vias aéreas, como em uma crise asmática, podem ser usados fármacos agonistas simpatomiméticos, que causarão uma dilatação dessas vias. Esses fármacos recém o nome de broncodilatadores.
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