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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA - CAMPUS FLORIANÓPOLIS Av. Mauro Ramos, 950 - centro 88020-300 – Florianópolis/SC Fone: (48) 221 0570 Fax: (48) 224 0727 http://www.ifsc.edu.br MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE SANTA CATARINA DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA - CAMPUS FLORIANÓPOLIS Elaboração: Prof. Eugênio Avello Prof. Orlando Antunes Apostila Eletrônica Geral Florianópolis, Fevereiro/2003 Revisão: Julho/2011 SUMÁRIO 1 HISTÓRIA DA ELETRÔNICA .................................................................................... 1 1.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 1.2 ORIGEM ................................................................................................................. 1 1.3 A INDÚSTRIA ELETRÔNICA ...................................................................................... 3 1.4 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 3 2 INSTRUMENTAÇÃO .................................................................................................. 4 2.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4 2.2 MULTÍMETRO ......................................................................................................... 4 2.3 GERADOR DE SINAIS .............................................................................................. 4 2.4 OSCILOSCÓPIO ...................................................................................................... 7 2.5 OSCILOSCÓPIO ANALÓGICO .................................................................................... 9 2.6 PONTEIRAS DE MEDIDA ........................................................................................ 12 2.7 TÉCNICAS DE MEDIÇÃO ........................................................................................ 14 2.8 OSCILOSCÓPIO VIRTUAL ....................................................................................... 17 2.9 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS..................................................................................... 19 2.10 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ................................................................................... 20 2.11 RESPOSTAS: ...................................................................................................... 22 3 FÍSICA DOS SEMICONDUTORES .......................................................................... 23 3.1 CONDUTORES ...................................................................................................... 23 3.2 SEMICONDUTORES ............................................................................................... 24 3.3 CRISTAIS DE SILÍCIO ............................................................................................. 24 3.4 CONDUÇÃO EM CRISTAIS ...................................................................................... 25 3.5 DOPAGEM DE UM SEMICONDUTOR ........................................................................ 25 3.6 JUNÇÃO P-N ........................................................................................................ 27 3.7 A POLARIZAÇÃO DIRETA DA JUNÇÃO P-N ............................................................... 28 3.8 A POLARIZAÇÃO REVERSA DA JUNÇÃO P-N ............................................................ 28 3.9 RUPTURA............................................................................................................. 29 3.10 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ................................................................................... 29 4 DIODOS .................................................................................................................... 31 4.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 31 4.2 SÍMBOLO DO DIODO .............................................................................................. 31 4.3 A CURVA DO DIODO .............................................................................................. 31 4.4 PRIMEIRA APROXIMAÇÃO. “O DIODO IDEAL” ............................................................ 33 4.5 SEGUNDA APROXIMAÇÃO ...................................................................................... 33 4.6 TERCEIRA APROXIMAÇÃO ...................................................................................... 34 4.7 A ESCOLHA DA APROXIMAÇÃO ............................................................................... 35 4.8 A RETA DE CARGA ................................................................................................ 35 4.9 O PONTO Q.......................................................................................................... 36 4.10 TESTE ELÉTRICO DO DIODO................................................................................. 36 4.11 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ................................................................................... 37 4.12 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................... 38 4.13 RESPOSTAS ....................................................................................................... 41 5 CIRCUITOS COM DIODOS ...................................................................................... 42 5.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 42 5.2 O TRANSFORMADOR ............................................................................................. 42 5.3 RETIFICADOR MONOFÁSICO DE MEIA ONDA ............................................................ 43 5.4 RETIFICADOR MONOFÁSICO DE ONDA COMPLETA COM PONTO MÉDIO ........................................................................................................................ 48 5.5 RETIFICADOR MONOFÁSICO DE ONDA COMPLETA EM PONTE .................................... 52 5.6 FILTRAGEM CAPACITIVA ....................................................................................... 55 5.7 DIODO ZENER ...................................................................................................... 58 5.8 O DIODO EMISSOR DE LUZ – LED ......................................................................... 60 5.9 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ..................................................................................... 61 5.10 EXERCÍCIOS PROPOSTOS .................................................................................... 64 6 TRANSISTORES ...................................................................................................... 70 6.1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 70 6.2 CONSTRUÇÃO ...................................................................................................... 71 6.3 VERIFICAÇÃO DO ESTADO DE TRANSISTORES ........................................................ 72 6.4 POLARIZAÇÃO (CONFIGURAÇÃO BASE-COMUM) ..................................................... 72 6.5 POLARIZAÇÃO DIRETA/DIRETA (REGIÃO DE SATURAÇÃO) ................................. 73 6.6 POLARIZAÇÃO REVERSA/REVERSA (REGIÃO DE CORTE) .................................. 73 6.7 POLARIZAÇÃO DIRETA/REVERSA (REGIÃO ATIVA DIRETA- RAD) ........................................................................................................................ 74 6.8 CURVAS DE COLETOR (CONFIGURAÇÃO EMISSOR-COMUM)................................... 75 6.9 POTÊNCIA DO TRANSISTOR ................................................................................... 78 6.10 RETA DE CARGA ................................................................................................ 79 6.11 FUNCIONAMENTO COMO CHAVE .......................................................................... 81 6.12 FUNCIONAMENTO COMO FONTE DE CORRENTE .................................................... 84 6.13 EXERCÍCIOS PROPOSTOS:................................................................................... 87 6.14 RESPOSTAS: ...................................................................................................... 90 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 91 ____________ Eletrônica Geral 1 1 História da Eletrônica Competências a serem atingidas: Ao final deste capítulo o aluno deve ter adquirido subsídios, básicos, sobre o desenvolvimento da eletrônica ao longo dos anos. 1.1 Introdução Eletrônica é o campo da ciência e da engenharia que trata dos dispositivos eletrônicos e de sua utilização. É a parte da física que estuda e utiliza as variações das grandezas elétricas para captar, transmitir e processar informações, bem como apresentá-las de forma que possamos entendê-las. Trata dos circuitos elétricos e instrumentos constituídos por válvulas termiônicas, dispositivos semicondutores (transistores, diodos, circuitos integrados, etc.), e outros componentes. 1.2 Origem Por volta do século XXVII, quando foram feitas as primeiras experiências com eletricidade, o homem ainda não tinha conhecimento sobre a constituição da matéria. Foi em 1750, que um cientista e estadista americano, Benjamin Franklin, deu uma contribuição relevante à eletricidade. Ele imaginava a eletricidade como um fluído invisível. Se um corpo tivesse mais do que sua cota normal deste fluído, ele dizia que o corpo tinha uma carga positiva; se o corpo tivesse menos que sua cota normal, sua carga era considerada negativa. Com base nessa teoria, Franklin concluiu que, se um corpo com carga positiva fosse colocado em contato com um corpo de carga negativa, o fluído escoava do corpo positivo (excesso) para o corpo negativo (deficiência). Este fluído hoje é chamado de corrente elétrica. Em 1831, o físico inglês Michael Faraday mostra que um imã pode gerar eletricidade numa bobina de fios de cobre. Em 1880, Thomas Édson descobre o princípio da lâmpada elétrica e, em 1882, é implantado o primeiro sistema de iluminação pública de Nova York. Foi em 1887, que Heinrich Hertz, durante suas experiências com arcos voltaicos, observou que a luz emitida durante a descarga de alta voltagem de um arco elétrico influía consideravelmente na descarga produzida por outro arco menor, colocado diante dele. No momento em que o menor deixava de receber a luz da descarga do maior, produzia-se uma faísca muito mais curta do que enquanto iluminado. Iniciou-se assim o estudo da fotoeletricidade. J. A. Fleming, em 1902, através de seus estudos desenvolveu o diodo de emissão termoiônica. Este componente ficou conhecido como válvula de Fleming, ou simplesmente válvula, e é o marco inicial de toda a história da indústria eletrônica. Deve-se a ele a regra, hoje clássica, dos “três dedos”, que dá o sentido das forças eletromagnéticas. Lee de Forest, inventor norte-americano, em 1906, ____________ Eletrônica Geral 2 inventa a lâmpada de três eletrólitos ou tríodo. Acrescenta um terceiro eletrólito, ou grade, à válvula de Fleming. A nova válvula começa a impor-se, mostrando sua utilidade, como geradores, amplificadores e detectores de sinais. A partir desta data, várias descobertas foram feitas em todos os campos da eletricidade e da eletrônica, como a invenção do rádio, do radar, do microscópio eletrônico, da televisão, entre outros. A válvula tinha alguns inconvenientes, como ser grande e pesada demais, o que tornava os equipamentos volumosos e exigiam um certo tempo para começar a funcionar, além de consumir muita energia. O primeiro computador totalmente automático surgiu em 1939, o MARK I, ou Automatic Sequence Controlled Calculator, na Universidade de Harvard, e foi inventado por Howard Aiken. Alguns anos se passaram, e na Universidade da Pensilvânia, em 1946, foi apresentado o primeiro computador eletrônico digital, o ENIAC ( Eletronic Numeral Integrator and Calculator ), que possuía 100.000 válvulas e ocupava 400m2. O ENIAC deu início à primeira geração de computadores que custavam milhões de dólares. Foi em busca de uma solução para o problema do tamanho da válvula que, em 1947, uma equipe de físicos comandada por Willian Shockley inventou o transistor. Foi um desses acontecimentos que mudam todas as regras. Todos sabiam que grandes mudanças estavam para acontecer, mas não imaginavam que uma nova era estava surgindo. Os computadores de primeira geração foram suplantados pelos transistorizados, entre o fim da década de 50 e início da década de 60. Os computadores de segunda geração diminuíram de tamanho e já eram capazes de fazer um milhão de operações por segundo. A terceira geração de computadores teve início no final da década de 70, tendo como base os circuitos integrados (CI), que é um componente eletrônico do tamanho da tampa de uma caneta e pode conter milhares ou milhões de transistores. A década de 80 foi caracterizada pelo desenvolvimento do microprocessador e pela evolução dos minicomputadores, microcomputadores e computadores pessoais, cada vez menores e mais poderosos. O microprocessador, que é um CI programável, foi a base da quarta geração de computadores. O microprocessador pode ser utilizado em aplicações específicas, bastando para isto programá-lo para esta função, podendo ser alterada a sua aplicação, apenas mudando-se a sua programação. Surgiram os supercomputadores, máquinas capazes de realizar milhões de operações por segundo, utilizadas para resolver grandes problemas, como cálculos, e que fazem desde a previsão climática, até a simulação de explosões nucleares. A quinta geração de computadores ainda é um conceito impreciso, pois busca-se a implementação da inteligência artificial, onde a máquina não mais realizará uma operação aritmética e, sim, buscará uma resposta lógica para os problemas, assim como faz o nosso cérebro. Este feito ainda não foi alcançado, e no dia em que o homem consigir inventar uma máquina que imite o cérebro humano, haverá uma nova revolução no campo da eletrônica e da informática. ____________ Eletrônica Geral 3 1.3 A Indústria Eletrônica Mesmo depois da invenção do tríodo, as válvulas demoraram a ser comercializadas. Durante a Primeira Guerra Mundial, as válvulas encontraram aplicação na radiocomunicação, mas a indústria eletrônica surgiu efetivamente em 1922, com o advento das emissões radiofônicas. Entre 1922 e 1960, o total anual de vendas de equipamentos eletrônicos subiu de U$ 60 milhões para U$ 10.2 bilhões. A atividade espacial, por parte de governos e do desenvolvimento bélico, bem como as técnicas de automação, têm contribuído muito para a expansão da indústria eletrônica. Conseqüentemente, grandes somas de dinheiro são movimentadas por essas indústrias, principalmente nos países mais desenvolvidos. Nos países da América Latina, como Brasil, México e Argentina, que apesar de mais desenvolvidos, a indústria eletrônica está apenas engatinhando, restringindo-se à produção da chamada “eletrônica de lazer”, que abrange televisores, rádio-receptores e aparelhos de som em geral. Alguns gruposde pesquisa universitária e outras poucas indústrias, entretanto, já começam a desenvolver tecnologia e aparelhos de aplicação técnico-científica. Para que possamos reverter esta situação de estagnação de desenvolvimento tecnológico no Brasil, é necessário que o governo invista em uma política de incentivo à criação de indústrias que fabriquem semicondutores, dando condições para que a indústria se expanda. Por outro lado, as universidades devem receber apoio e recursos para serem aplicados na pesquisa, a fim de diminuirmos nossa dependência tecnológica, e com isto economizarmos divisas importantes para o país. Na outra ponta, estão os trabalhadores, que devem ser qualificados para que possam continuar atuando no mercado de trabalho, que hoje em dia é muito dinâmico e exige a reciclagem do conhecimento constantemente. 1.4 Conclusão Nas últimas décadas, a eletrônica vem assumindo um papel cada dia mais importante em nossas vidas. Em todas as atividades em que nos envolvemos, e praticamente tudo que nos rodeia, a eletrônica está presente, o que nos facilita o dia-a-dia. Os componentes eletrônicos incluem-se entre os responsáveis pela revolução e transformação que a humanidade vem experimentando – através dos aparelhos eletrônicos – possibilitando um avanço tecnológico e tornando mais confortável o nosso modo de viver. Topologia: Estrutura do circuito ____________ Eletrônica Geral 4 2 Instrumentação 2.1 Introdução O trabalho de manutenção ou montagem de circuitos eletrônicos exige do técnico, além do conhecimento teórico, um local apropriado e instrumentação adequada, para que o serviço seja feito mais rápido e da melhor maneira possível. Quanto aos instrumentos, existe uma variedade enorme de equipamentos que podem ser adquiridos, que de acordo com a precisão ou o grau de sofisticação, podendo alcançar preços elevados. Uma bancada básica de manutenção eletrônica deve possuir três equipamentos básicos, que são: multímetro, gerador de funções e osciloscópio. 2.2 Multímetro O multímetro é o principal instrumento para o técnico que trabalha com eletricidade de um modo geral. Por ser um instrumento amplamente estudado na disciplina de medidas elétricas, não nos deteremos neste instrumento. 2.3 Gerador de Sinais O gerador de sinais é um instrumento que gera alguns tipos de forma de onda, com freqüência e nível de tensão de saída determinados pelo usuário. Como exemplo de formas de ondas, podemos citar: onda quadrada, triangular, senoidal, dente de serra, etc. As figuras abaixo mostram algumas formas de ondas típicas. Fig. 2.1 - Formas de ondas Competências a serem atingidas neste capítulo: Conhecer instrumentos de bancada utilizados em eletrônica; Entender o funcionamento do osciloscópio; Fazer algumas medições com o osciloscópio. serra ____________ Eletrônica Geral 5 2.3.1 Valor médio de um sinal É a componente contínua de um sinal. Seu cálculo é obtido através da expressão: Vmed areas T T O valor médio de um sinal é a somatória () das áreas de um período, dividido pelo período. As áreas que correspondem a um nível de tensão negativa subtraem-se das positivas A medição do valor médio pode ser feita com um instrumento BMIP, ou com um multímetro na escala CC(___). Isso só é valido para um sinal senoidal, pois os instrumentos já levam em conta a forma de onda. 2.3.2 Exercício Resolvido 1) Para o sinal da Fig. 2.2, calcule: a) O valor médio. b) Desenhe a componente contínua (cc) e a componente alternada (ca). Fig. 2.2 - Onda quadrada Resolução: a) O valor médio é a área de um período dividida pelo período, e como só possui parte positiva: V s sV Vmed 5 2 110 b) A parte contínua, como diz o nome, é uma linha contínua indicando o valor médio, e a parte alternada é o sinal original diminuído do valor médio, ou seja, deslocado do valor médio para baixo no gráfico, como mostra a Fig. 2.3. Fig. 2.3 - Componente cc e ca do sinal ____________ Eletrônica Geral 6 2.3.3 Exercícios propostos Calcular o valor médio dos sinais abaixo e desenhar suas componentes contínua e alternada. a) b) c) d) e) Dado: A área de um semiciclo da senóide é Asemiciclo = 2Vpico (quando o argumento é wt). f) ____________ Eletrônica Geral 7 2.4 Osciloscópio 2.4.1 Introdução Uma das funções básicas dos circuitos eletrônicos é a geração e manipulação de formas de onda. Estes sinais eletrônicos podem representar informação de áudio, dados de computador, imagens de televisão, informações relativas à distância (conforme uso em radares), e assim por diante. Os medidores comumente utilizados em eletricidade - voltímetro DC ou AC - medem valores dc, de pico ou rms. Essas medidas são corretas apenas para sinais senoidais não distorcidos. No caso de um valor rms, embora a medida possa ser correta para um determinado sinal, não há indicação da variação desse sinal no tempo. É óbvio que durante o processamento do sinal essas medidas não têm significado. Em certos casos, é necessário “ver” a evolução ao longo do tempo de cada sinal do circuito. O osciloscópio de raios catódicos tem precisamente esta função, produzir uma representação visual da forma de onda do sinal, permitindo ao engenheiro ou técnico olhar para pontos diferentes do circuito e verificar as mudanças que ocorrem. Além disso, a calibração do osciloscópio permite a obtenção de informações sobre a tensão em um determinado instante, a variação desta tensão e quanto tempo ela levou para acontecer (ou uma parte da variação). Sem o osciloscópio, o trabalho com circuitos eletrônicos seria praticamente impossível, pois, a menos que se possam ver as formas de onda de um circuito, não há meios de corrigir erros, descobrir falhas de projeto ou fazer ajustes. 2.4.2 Questões básicas sobre o osciloscópio O que é um osciloscópio? O osciloscópio é um instrumento basicamente de visualização gráfica que mostra sinais elétricos variáveis no tempo em uma tela. O eixo vertical, denominado de Y , representa a voltagem, enquanto que o eixo horizontal denominado de X, representa o tempo. O que podemos fazer com o osciloscópio? Basicamente podemos fazer ou determinar o seguinte: Determinar diretamente o período e a voltagem de um sinal; Determinar indiretamente a freqüência de um sinal; Determinar que parte do sinal é AC ou DC; Localizar defeitos em um circuito; Medir defasagem entre dois sinais; Determinar que parte do sinal é ruído e como este varia com o tempo. ____________ Eletrônica Geral 8 Que tipos de osciloscópios existem? Os equipamentos eletrônicos se dividem em dois tipos: analógicos e digitais. Os analógicos trabalham com variáveis contínuas, enquanto que os digitais trabalham com variáveis discretas. Por exemplo, um toca-discos é um equipamento analógico e um “compact disc player” (toca CDs) é um equipamento digital. Os osciloscópios também podem ser analógicos ou digitais. Os analógicos trabalham diretamente com o sinal aplicado, que, uma vez amplificado, desvia um feixe de elétrons no sentido vertical proporcional ao seu valor. Os osciloscópios digitais utilizam previamente um conversor analógico-digital (A/D) para armazenar digitalmente o sinal de entrada, reconstruindo posteriormente esta informação na tela. Ambos ostipos possuem suas vantagens e seus inconvenientes. Os osciloscópios analógicos são preferidos quando se deseja visualizar variações rápidas do sinal de entrada em tempo real. Os osciloscópios digitais são utilizados quando se deseja visualizar e estudar eventos não repetitivos (picos de tensão que se produzem aleatoriamente). Quais os controles que um osciloscópio possui? A primeira vista, um osciloscópio se parece com uma televisão, sendo que a tela do osciloscópio é quadriculada e com algumas linhas pontilhadas e possui um maior número de controles. A fig. 2.2 mostra um osciloscópio de dois canais, onde são mostrados estes controles divididos em cinco seções: a) Vertical b) Horizontal c) Disparo d) Controle de visualização e) Conectores Fig. 2.4 - Osciloscópio comercial de dois canais. ____________ Eletrônica Geral 9 Como funciona um osciloscópio? Para podermos entender o funcionamento dos controles de um osciloscópio, é necessário deter-se um pouco nos processos internos de funcionamento desse equipamento. Vamos faze-lo para o osciloscópio analógico, que é com este tipo que iremos trabalhar e é mais simples. 2.5 Osciloscópio analógico Quando se conecta a sonda ou ponteira a um circuito, o sinal que está sendo gerado por este atravessa a ponteira e se dirige à secção vertical. Dependendo de como ajustamos o controle do amplificador vertical, teremos o sinal atenuado ou amplificado. Na saída deste bloco já dispomos de intensidade suficiente no sinal para atacar as placas de deflexão vertical (que estão na posição horizontal) e que são encarregadas de desviar o feixe de elétrons que surge do cátodo e se chocam com a capa fluorescente no interior da tela, no sentido vertical. Para cima, se a tensão é positiva em relação ao ponto de referência (GND), ou para baixo, se é negativa. O sinal também atravessa a secção de disparo, para, dessa forma, iniciar a varredura horizontal (esta é encarregada de mover o feixe de elétrons desde a parte esquerda até a parte direita da tela em um determinado tempo). Fig. 2.5 - Diagrama interno de funcionamento de um osciloscópio analógico. O traçado (marcado da esquerda para a direita) se consegue aplicando a parte ascendente de uma onda dente de serra às placas de deflexão horizontal (situadas na posição vertical), e pode ser regulada no tempo atuando sobre o controle Time-Base ou base de tempo. O retorno ou retraçado do feixe (volta da ____________ Eletrônica Geral 10 direita para a esquerda) se realiza de forma muito mais rápida com a parte descendente do mesmo dente de serra. Dessa forma, a ação combinada do traçado horizontal e da deflexão vertical forma a visualização gráfica do sinal na tela. A secção de disparo é necessária para estabilizar os sinais repetitivos (assegura-se que o traçado comece no mesmo ponto do sinal que se repete). Concluindo, para utilizarmos de forma correta um osciloscópio analógico, necessitamos fazer alguns ajustes básicos: Atenuação ou ampliação necessária ao sinal: utilizar o controle AMPL ou Volts/div. É conveniente que o sinal ocupe quase toda tela sem ultrapassar os limites. Base de tempo: utilizar o controle TIMEBASE ou Base de Tempo para ajustar o que representa uma divisão horizontal da tela. Para sinais que se repetem, é conveniente ajustar a base de tempo para que apareçam dois ciclos. Disparo do sinal: ajustar o comando TRIGGER LEVEL ou nível de disparo e TRIGGER SELECTOR ou tipo de disparo para estabilizar o melhor possível os sinais repetitivos (sinal correndo na tela). Controles que afetam a visualização: FOCUS ou foco, INTENS, ou intensidade, que não deve nunca ser excessiva, Y-POS posição vertical do feixe e X-POS posição horizontal do feixe. 2.5.1 Seqüência recomendada para pôr em funcionamento um osciloscópio. Ajuste inicial dos controles. É necessário familiarizar-se com o painel frontal do osciloscópio. Todos osciloscópios possuem três seções básicas, que chamaremos de: Vertical, Horizontal e Disparo. Depois de conectar o osciloscópio à rede, deve-se ligá-lo pulsando o interruptor principal (POWER). Fig 2.6. Fig. 2.6 - Comando para ligar O conector BNC é onde conectaremos a ponteira de prova. A maioria dos osciloscópios atuais possuem dois canais identificados normalmente como I e II, ____________ Eletrônica Geral 11 ou A e B. Dispor de dois canais nos permite comparar sinais diferentes facilmente. A Fig. 2.7 mostra o conector para o canal 1. Fig. 2.7 - Conector BNC A tabela a seguir mostra os principais passos para ajustar um osciloscópio analógico. AÇÃO Ajustar o osciloscópio para visualizar o canal I (automaticamente o canal I será o canal de disparo). Ajustar para uma posição intermediária da escala volts/divisão do Canal I (por exemplo 1 V/div) Colocar na posição calibrada o comando variável de volts/divisão (potenciômetro central). Desativar qualquer tipo de multiplicadores verticais (ponteira). Colocar o comutador de entrada do canal I em acoplamento DC. Colocar o modo de disparo em automático. Situar o controle de intensidade no mínimo que permita apreciar o traço na tela e o foco ajustado para uma visualização o mais nítida possível. Tab. 2.1 Seqüência de comandos. ____________ Eletrônica Geral 12 2.6 Ponteiras de Medida Com os passos detalhados anteriormente, já estamos em condição de conectar a ponteira de medida ao conector BNC do canal I. É muito importante utilizar ponteiras projetadas para trabalhar especificamente com o osciloscópio. Uma ponteira não é apenas um cabo com uma pinça, e sim um conector projetado para evitar ruídos que podem perturbar a medida. 2.6.1 Ponteira Passiva As ponteiras são construídas para que tenham um efeito mínimo sobre o circuito a ser medido. A esta interferência dá-se o nome de efeito de carga e, para minimizá-la, é utilizado um atenuador passivo, como mostra a fig. 2.8. Fig. 2.8 - Esquema eletrônico de uma sonda passiva. O tipo de ponteira mais comum é a ponteira que possui uma chave comutadora 1X e 10X. Quando utilizarmos este tipo de ponteira, devemos nos certificar da posição do comutador antes de realizarmos uma medição. Antes de utilizarmos a ponteira atenuadora 10X, devemos realizar um ajuste para o osciloscópio em particular que vamos trabalhar. Este ajuste se chama Calibração ou compensação da ponteira, e deve ser feito da seguinte forma: 1. Conectar a ponteira à entrada do canal 1; 2. Conectar a ponta da ponteira no ponto de calibração do osciloscópio. (A maioria dos osciloscópios dispõem de uma saída ou ponto para ajustar as ponteiras, caso contrário devemos utilizar um gerador de onda quadrada). Fig 2.9; 3. Conectar a garra jacaré da ponteira à massa; 4. Observar o sinal da onda quadrada de referência na tela; 5. Com a chave de fenda de ajuste, atuar sobre o capacitor de ajuste até observar uma onda quadrada perfeita. ____________ Eletrônica Geral 13 Fig. 2.9 - Calibração Fig. 2.10 - Formas de onda para ajuste da ponteira. 2.6.2 Ponteira Ativa Proporcionam uma amplificação antes de aplicar o sinal à entrada do osciloscópio. Podem ser necessárias em circuitos que trabalham com sinais muito pequenos. Esse tipo de ponteira necessita de uma fonte de tensão externa. 2.6.3 Ponteira de Corrente Possibilita a medição direta de corrente em um circuito. É encontradapara medidas de corrente AC e DC. Possui uma pinça do tipo alicate amperométrico, que abraça o cabo no qual se deseja medir a corrente. Não situando-se em série com o circuito, não causa quase interferência no mesmo. Fig. 2.11 - Ponteira de uso Geral. ____________ Eletrônica Geral 14 2.7 Técnicas de Medição Esta seção explica as técnicas de medição básicas que podemos fazer na tela de um osciloscópio, por isso começaremos falando sobre a tela. 2.7.1 A Tela Olhando a Fig. 2.12, que representa a tela de um osciloscópio, percebe-se que existem umas marcas na tela que a dividem tanto na vertical como na horizontal. É o que denominamos grade ou retícula. A separação entre duas linhas consecutivas em uma grade é o que chamamos de divisão. Normalmente a grade possui 10 divisões na horizontal e 8 na vertical, todas do mesmo tamanho (aproximadamente 1cm). As linhas centrais, tanto na horizontal quanto na vertical, possuem marcas extras, e cada divisão ou quadro é subdividida em 5 partes iguais, para dar precisão à medição. Alguns osciloscópios possuem marcas horizontais de 0%, 10%, 90% e 100% para facilitar a medida dos tempos de subida e descida das bordas (flancos) de uma onda (mede-se entre 10% e 90% da amplitude de pico a pico). Fig. 2.12 - Tela de um Osciloscópio. 2.7.2 Medidas de Amplitude (tensão) Geralmente, quando falamos de voltagem ou tensão, queremos realmente expressar a diferença de potencial elétrico, expresso em volts, entre dois pontos de um circuito. Entretanto, normalmente um dos pontos está conectado ao terra (0 volts) e simplificamos dizendo que aquela é a voltagem no ponto X, quando, na verdade, é a diferença de potencial entre o ponto X e GND (terra). O osciloscópio é um dispositivo para medir-se voltagem de forma direta, por isso medem-se valores de pico ou de pico a pico (valor entre o máximo e mínimo do sinal). É muito importante que se especifique que tipo de voltagem estamos medindo. Outras medidas podem ser feitas através de cálculo, usando a tensão como referência, por exemplo, corrente e potência. Na fig. 2.13, estão assinalados os valores de pico Up, o valor de pico a pico Upp, normalmente o dobro de Up, e o valor eficaz Uef ou URMS (root-mean- ____________ Eletrônica Geral 15 square, que é a raiz quadrada da média dos valores instantâneos elevados ao quadrado) utilizado para calcular a potência de um sinal CA. Fig. 2.13 - Valores de pico e pico a pico. Para fazermos uma medição, devemos ajustar o comando volts/div, a fim de conseguirmos enquadrar o sinal que queremos na tela. Utilizamos o maior número de divisões possíveis, a fim de aumentar a precisão. A leitura é feita contando-se o número de divisões e subdivisões no eixo vertical. O valor que queremos é o número de divisões vezes o valor ajustado no comando volts/div. Exemplo: A fig.2.14 nos mostra a tela de um osciloscópio com uma senóide ajustada com seu pico de onda na escala vertical central, para facilitar a leitura e aumentar a precisão. Fig. 2.14 - Graduação dos eixos X e Y. Exemplo de medição de tensão para a forma de onda mostrada na fig. 2.14. Escala de sensibilidade vertical (Volts/div) lida no instrumento é 50mV/div. Determinar: -Tensão de pico a pico (Upp) -Tensão de pico e tensão de pico em rms Solução: 5 divisões de pico a pico mV250 div mV50 div5Upp mV125 2 V U pp p Escala central graduada para aumentar a precisão. ____________ Eletrônica Geral 16 2.7.3 Medidas de Tempo O sinal de varredura horizontal pode ser ajustado em passos desde alguns segundos até microsegundos por divisão. Se o seletor de tempo de varredura (base de tempo) fosse ajustado em 1 ms/div, cada divisão na tela, eixo horizontal, corresponderia a 1ms. Fig. 2.15 - Leitura do eixo X para medida de tempo. Usando as escalas de tempo calibradas do osciloscópio, também é possível calcular a freqüência dos sinais observados. Para isso, é necessário usar a escala de varredura horizontal calibrada para medir o tempo gasto para um ciclo de sinal observado (T, período do sinal) e então calcular a freqüência do sinal pela relação: T f 1 Onde f é a freqüência e T o período do sinal. Exemplo de medição de tempo para a forma de onda da Fig. 2.15. Escala central horizontal graduada para aumentar a precisão Um sinal tipo onda quadrada, conforme fig 2.9, é observado em um osciloscópio e obtém-se o valor medido de 8 div para um ciclo com escala ajustada em 20s/div. Calcular a freqüência do sinal. s div s divT 160 20 8 Portanto para a freqüência teremos: KHz sT f 25,6 160 11 ____________ Eletrônica Geral 17 2.7.4 Medidas de Defasagem usando Escalas Calibradas do Osciloscópio As escalas de tempo calibradas também podem ser usadas para calcular a defasagem entre dois sinais senoidais (de mesma freqüência). Usando um osciloscópio de duplo traço, podem-se observar os dois sinais senoidais simultaneamente, de forma que, usando um dos sinais para sincronismo externo, as duas formas de onda aparecerão com fases próprias, podendo assim ser medido o intervalo de tempo entre os inícios do ciclo de cada forma de onda. Este tempo pode então ser usado para calcular a defasagem entre os dois sinais. A defasagem em graus pode ser calculada usando-se a seguinte expressão: 0360 completocicloumdedivisõesdeNúmero defasagemdadivisõesdeNúmero Fig. 2.16 - Medida de Defasagem. Exemplo de medida de defasagem entre dois sinais. 2.8 Osciloscópio Virtual O uso da informática, no ensino da eletrônica, cada dia se faz mais presente nas salas de aula e nos laboratórios de eletrônica. Programas de simulação de circuitos eletrônicos de diversos tipos podem ser encontrados na internet. Alguns são de uso sem restrições e outros são versões demonstrativas. Calcule a defasagem entre os dois sinais senoidais da fig. 2.16. 0360 5 1 072 ____________ Eletrônica Geral 18 Alguns destes softwares trazem instrumentos virtuais como, gerador de sinais, multímetro e osciloscópio, entre outros, onde o usuário manipula os instrumentos e faz medições de grandezas como se estivesse usando um instrumento real. Será apresentado aqui, para fins didáticos, o osciloscópio que faz parte do software Eletronics Workbench (EWB), pois tem sua interface (aparência) muito parecida com um osciloscópio real de dois canais. A fig.2.17 mostra a tela do osciloscópio e seus comandos. Fig. 2.17 - Tela do osciloscópio virtual. Comandos básicos: Fig. 2.18 - Base de tempo Base de Tempo As setas aumentam ou diminuem o tempo do campo numérico. Posição X As setas mudam o sinal em relação ao eixo X, para cima ou para baixo. Canal A Tensão em volts/divisão para o canal A. Posição Y Posição do sinal em relação ao eixo Y. ____________ Eletrônica Geral 19 Fig. 2.19 - Comando volts/div AC-O-GND Tipo de sinal medido. Alternado ou contínuo. 2.9 Exercícios Resolvidos 1) Para o sinal senoidal abaixo, calcule o valor da tensão de pico (Vp), tensão de pico a pico (Vpp), freqüência (f) e o período (T). Resolução: Para achar o valor de pico( Up), devemos ler o númerode divisões e subdivisões na vertical, eixo Y, o sinal que ocupa a tela do osciloscópio a partir do eixo central X e multiplicar pelo valor que indica o seletor volts/div do canal em questão, no caso, canal A . A leitura para o caso acima é 5V/Div, indicando que cada divisão vale 5V. Div Div V U p 25 pp VU 10 ppp UU 2 pppp VU 10 Para calcularmos o valor do período (T) e, conseqüentemente, a freqüência (f), devemos ler quantas divisões temos no eixo X correspondente a ____________ Eletrônica Geral 20 um período do sinal (indicado na figura com setas), e multiplicá-lo pelo valor lido no seletor Time Base, ou base de tempo. A leitura para o exemplo é 2,00ms/div. Div Div mS T 3.800.2 sT 0166,0 T f 1 0166,0 1 f Hzf 3,60 2) Para o osciloscópio a seguir, encontre a defasagem entre os sinais apresentados na tela. Resolução: A leitura é feita pelo número de divisões ou subdivisões no eixo X, entre os dois sinais, na figura indicada por setas. A base de tempo indica 2,00ms/div, a defasagem aproximada é de 0,6 div e o número de divisões de um ciclo completo é 8,2 div, logo: 0360 2,8 6,0 034,26 2.10 Exercícios Propostos 1) Para os sinais a seguir, calcule o valor da tensão de pico (Vp), tensão de pico a pico (Vpp), freqüência (f) e o período (T). a) Sinal triangular, sendo medido pelo canal A. ____________ Eletrônica Geral 21 b) Onda quadrada sendo lida no canal A. Respostas: Up= Upp= T = f = Respostas: Up= Upp= T = f = ____________ Eletrônica Geral 22 2) Calcule a defasagem entre os sinais. Resposta: = 2.11 Respostas: Exercício 2.3.3 – a) 5V, b) 0V, c) 2V, d) 5V e) 0V, f) 10π 2.10 – 1) a) Up= 10V, Upp= 20V, T= 1mS, f= 1KHz b) Up=15V, Upp= 30V, T= 0,16mS, f=6,25Hz c) θ = 900 ____________ Eletrônica Geral 23 3 Física dos Semicondutores 3.1 Condutores Para podermos entender como se fabrica um material semicondutor, devemos relembrar alguns conceitos básicos de química sobre os átomos. Vamos tomar como exemplo o átomo de cobre, que é um bom condutor, para podermos explicar o que é um material condutor. Observando-se a Fig. 3.1, vê-se que o átomo de cobre contém 29 prótons (cargas positivas) em seu núcleo, e 29 elétrons (cargas negativas) em suas órbitas, sendo que sua ultima órbita (camada) possui apenas um elétron. Como é sabido, à medida que os elétrons circulam em camadas mais afastadas do núcleo, eles possuem menos velocidade e, conseqüentemente, menor força centrífuga. Conclui-se então que, para retirarmos um elétron de uma camada que esteja distante do núcleo, necessitamos de uma pequena força externa. Isso é o que ocorre com o átomo do cobre, por possuir um único elétron na última camada. Com pouca energia, esse elétron se desloca, ocorrendo o fenômeno da condução de eletricidade. Chamamos de órbitas de valência as órbitas externas do átomo. No átomo de cobre, consideramos o núcleo e suas três primeiras órbitas como internas. A órbita externa é que define as propriedades elétricas de um átomo. Fig. 3.1 - Átomo de Cobre Valência: um átomo é estável quando apresenta a última camada completa. Competências a serem desenvolvidas neste capítulo: Identificar, nos níveis atômicos, as características de bons condutores e dos semicondutores; Descrever a estrutura de um cristal de silício; Explicar as condições que existem na junção PN de um diodo nas suas polarizações; Explicar como ocorre a ruptura em um diodo. ____________ Eletrônica Geral 24 3.2 Semicondutores Os materiais semicondutores são caracterizados por terem valência quatro. Isto significa que este material possui um átomo com quatro elétrons na última camada, ou órbita de valência. Os materiais condutores possuem apenas um elétron de valência, os semicondutores possuem quatro elétrons de valência e os isolantes, oito elétrons de valência. 3.2.1 O Germânio e o Silício Podemos citar como exemplo de semicondutor o germânio e o silício. Como se vê nas Fig. 3.2 e 3.3, os átomos de germânio e silício possuem 4 elétrons na última camada, ou a camada de valência indicando que são semicondutores. Fig. 3.2 - Átomo de Germânio Fig. 3.3 - Átomo de Silício 3.3 Cristais de Silício A combinação dos átomos de silício dão origem a uma estrutura sólida chamada cristal. A formação do cristal é conseqüência da cessão, por parte de cada átomo de silício de um elétron, a outros átomos de silício, fazendo com que a órbita de valência fique com oito átomos, conforme a Fig. 3.4., assim sendo, ele se torna um átomo quimicamente estável. Cada átomo vizinho compartilha um elétron com o átomo central, fazendo com que todos os átomos centrais contribuam com quatro elétrons adicionais, ____________ Eletrônica Geral 25 somando oito elétrons na sua camada de valência. Esse tipo de ligação química chama-se ligação covalente. O número máximo de elétrons que um átomo pode ter em sua camada de valência é oito, e esses elétrons são chamados de elétrons de ligação, porque estão fixos pelos átomos. Devido a esses elétrons de ligação, um cristal de silício é um isolante quase perfeito à temperatura ambiente ( 250C). Fig. 3.4 - Cristal de Silício – Ligação covalente O cristal de silício possui uma pureza tal, que em 109 átomos de silício há apenas um átomo estranho presente no cristal. 3.4 Condução em Cristais Se o cristal for submetido a altas temperaturas, os elétrons de valência podem temporariamente deixar suas posições no átomo (rompimento da ligação covalente) e se moverem como elétrons livres. Os átomos a que os elétrons pertenciam ficam carregados positivamente devido à saída do elétron. Como eles podem capturar elétrons, são chamados de buracos ou lacunas, quando nesta condição. À temperatura ambiente, cada cm3 de um cristal tem aproximadamente 2x1010 elétrons livres e igual número de lacunas. Isto explica a inerente condutividade do silício. Quando um cristal está sujeito a um campo elétrico, os elétrons e buracos movem-se no cristal em direções opostas. Os buracos movem-se na direção do campo e comportam-se como portadores de cargas positivas. Podemos dizer que existem dois tipos de trajetos possíveis para a corrente num semicondutor: Corrente devido ao fluxo de elétrons livres num sentido; Corrente devido ao fluxo das lacunas no sentido oposto. Os elétrons livres e as lacunas são chamados, às vezes, de portadores, porque transportam uma carga igual de um lugar para outro. 3.5 Dopagem de um Semicondutor Um cristal de silício puro é conhecido como semicondutor intrínseco. Na maioria das aplicações, não existem elétrons livres suficientes num semicondutor intrínseco para produzir uma corrente utilizável. ____________ Eletrônica Geral 26 A dopagem é o processo pelo qual se introduz impurezas num semicondutor intrínseco, de forma a aumentar o número de elétrons de condução ou o número de lacunas. O semicondutor assim formado é chamado extrínseco. 3.5.1 SemicondutorTipo-N É formado introduzindo na estrutura cristalina, átomos de substâncias pentavalentes (5 elétrons na órbita de valência). Quando colocado no cristal, um elétron excedente é forçado a percorrer uma órbita da banda de condução. A Fig. 3.5 ilustra a dopagem de um cristal de silício por uma substância pentavalente, no caso o Fósforo (P). Um elétron fica livre, pois não tem com quem combinar-se. Fig. 3.5 - Dopagem com Fósforo Nos semicondutores tipo-N (negativo), os elétrons são considerados portadores majoritários, e as lacunas, portadores minoritários. 3.5.2 Semicondutor Tipo-P É formado introduzindo na estrutura cristalina, átomos de substâncias trivalentes, (três elétrons na órbita de valência). Quando colocado no cristal, apenas 7 elétrons se encontram nas órbitas de valência e, portanto, uma lacuna aparece. A Fig. 3.6 mostra um cristal de silício sendo dopado com um material trivalente, no caso, o Boro. Nos semicondutores tipo-P (Positivo), os elétrons são considerados portadores minoritários, e as lacunas, portadores majoritários. Alguns átomos pentavalentes: Fósforo, Antimônio e Arsénio. Alguns átomos trivalentes: Boro, Alumínio e Gálio. ____________ Eletrônica Geral 27 Fig. 3.6 - Dopagem com Boro 3.6 Junção P-N É possível produzir um cristal com metade do tipo-P e metade do tipo-N. A junção é a região onde há a união das duas substâncias. Devido à repulsão mútua, os elétrons do material N difundem-se (espalham-se) em todas as direções, inclusive através da junção. Fig. 3.7 - Junção P-N Um importante fenômeno ocorre se um cristal do tipo-N é conectado a um cristal tipo-P. Na junção entre as duas regiões, os elétrons livres, majoritários no cristal N, se difundem no cristal P, onde são minoritários, e ocupam as lacunas. O resultado desta difusão de partículas carregadas é formar na junção uma barreira eletrostática de potencial. Os átomos do semicondutor do lado N perto da junção são íons positivos, pois perderam um elétron. Os átomos do lado P perto da junção são agora íons negativos, pois ganharam um elétron. Isso forma, em torno da junção, uma região com poucos portadores chamada camada de depleção mostrada na Fig. 3.8. Fig. 3.8 - Barreira Eletrostática de Potencial ____________ Eletrônica Geral 28 Esta região de depleção produz um campo elétrico devido à presença de cargas, que fica mais forte à medida que mais cargas atravessam a junção. O equilíbrio é alcançado quando o fluxo causado pela difusão de portadores é contrabalançado pelo fluxo devido ao campo elétrico. À temperatura de 25OC, a barreira de potencial é aproximadamente igual a 0,3V para os cristais de germânio e 0,7V para os cristais de silício. 3.7 A polarização direta da Junção P-N A junção dos cristais dopados com elementos pentavalentes e trivalentes, como visto acima, é um dos componentes mais comuns empregados em eletrônica, o diodo semicondutor. Aplica-se uma corrente cc aos terminais do cristal de silício, através de uma fonte cc, identificada como Vf, conforme a Fig.3.9. O terminal negativo da fonte está ligado ao lado N do cristal e o terminal positivo da fonte ao lado P do cristal. Isto faz com que os elétrons da fonte exerçam uma repulsão nos elétrons do cristal em sentido à barreira de potencial, e as lacunas fazem o mesmo no lado oposto. Se a energia aplicada pela fonte for maior que a barreira de potencial, 0,7V para o silício, os elétrons vencem a barreira de potencial, ultrapassando-a e encontrando lacunas do lado P, que, após a recombinação, passam a ser elétrons de valência. Como elétrons de valência, eles caminham através das lacunas até alcançarem a extremidade do cristal e escoarem para o terminal + da fonte. Fig. 3.9 - Polarização direta da Junção Desta forma conseguimos criar altas correntes no sentido direto de polarização. 3.8 A polarização reversa da Junção P-N A Fig. 3.10 mostra o diodo sendo polarizado reversamente. Uma fonte cc, identificada como Vf, alimenta o diodo no sentido contrário a sua condição natural. Isto faz com que os elétrons da fonte (terminal negativo) atraiam as lacunas do diodo, e as lacunas da fonte (terminal positivo) atraiam os elétrons livres do diodo, fazendo com que todas as cargas acumulem-se nos pólos do diodo. Nesse caso, a barreira de potencial aumenta até igualar-se ao valor da fonte Vf. ____________ Eletrônica Geral 29 Fig. 3.10 - Polarização reversa da junção Mesmo após a camada de depleção estabilizar-se, igualando-se a Vf, uma pequena corrente circulará devido aos portadores minoritários nos dois lados da junção. Muitos deles se recombinam com portadores majoritários. Estes elétrons livres, portadores minoritários, são gerados pela energia térmica do sistema. O nome que se dá a essa corrente que surge é corrente de saturação , Is. Diz-se que é de saturação, pois não podemos obter mais portadores minoritários do que os produzidos pela energia térmica, ou seja, o aumento da tensão reversa não aumenta a corrente de saturação, que é apenas função da energia térmica. A corrente Is dobra a cada aumento de 10 oC. Existe uma outra corrente circulando pela superfície do cristal, conhecida como corrente de fuga superficial, Ifs. Essa corrente é produzida por impurezas existentes na superfície do cristal, que acabam por criar caminhos ôhmicos para a corrente. fsSR III IR, Corrente reversa. 3.9 Ruptura Os diodos têm tensões nominais máximas. Existe um limite do valor da tensão reversa que um diodo pode suportar antes de ser destruído. Continuando a aumentar a tensão reversa sobre a junção, em um determinado momento será atingida a sua tensão de ruptura. Para os diodos retificadores (aqueles fabricados para conduzir melhor de um modo que de outro), a tensão de ruptura é usualmente maior que 50V. A tensão de ruptura de um diodo depende do seu nível de dopagem. A tensão de ruptura deve ser evitada, pois danifica o componente. 3.10 Exercícios Propostos Responda às questões abaixo utilizando a apostila e outros textos a sua disposição, bem como a internet como fonte de pesquisa. Para o diodo 1N914 Ir=25mA @20V, 250C ____________ Eletrônica Geral 30 1) Por que um semicondutor puro não tem aplicação prática? 2) Defina material intrínseco e extrínseco. 3) O que é dopagem? 4) O que obtemos dopando um semicondutor com um elemento pentavalente? E com Boro? 5) Como se forma a barreira de potencial? 6) Explique o que ocorre com a barreira de potencial e a circulação de corrente quando o diodo está diretamente polarizado. 7) Explique o que ocorre quando a barreira de potencial e a circulação de corrente o diodo está reversamente polarizado. 8) O que é corrente de saturação? 9) Qual o valor da camada de depleção para o germânio e o silício? 10) O que ocorre com a camada de depleção quando a tensão reversa aumenta de 5 para 10V? 11) Defina o que é corrente reversa (Ir) e como ela é formada. 12) Quando se dá a ruptura de um diodo? 13) Pesquise na folha de dados do diodo 1N4001 e encontre os principais parâmetros do mesmo. ____________ Eletrônica Geral 31 4 Diodos 4.1 Introdução Alguns dispositivos eletrônicos são lineares, o que significa que suas correntes são diretamente proporcionais às suas tensões. O gráfico V x I (tensão x corrente) é uma reta. O exemplo maiscomum é o resistor. O diodo, por causa da barreira de potencial, não age como um resistor, e sua curva V x I produz um gráfico não-linear. 4.2 Símbolo do diodo A Fig. 4.1mostra o símbolo esquemático de um diodo retificador. O lado P é chamado de anodo, e o lado N, catodo. Fig. 4.1 - Símbolo do diodo O símbolo do diodo se parece com uma seta que aponta do lado P para o lado N, do anodo para o catodo. 4.3 A curva do diodo Quando o diodo é fabricado para converter uma corrente alternada em corrente contínua, o diodo é chamado retificador. Uma de suas principais aplicações é nas fontes de alimentação, circuitos que convertem tensão alternada em tensão contínua. Competências a serem desenvolvidas neste capítulo: Desenhar e identificar um diodo em um circuito. Desenhar a curva do diodo e identificar os pontos mais importantes. Entender e aplicar as aproximações básicas usadas com os diodos. Verificar o estado de um diodo. ____________ Eletrônica Geral 32 A Fig.4.2 mostra o mais simples dos circuitos com diodo. A primeira análise que devemos fazer é se o diodo está polarizado direta ou reversamente, se ele está conduzindo ou está bloqueado. Fig. 4.2 - Circuito com diodo A curva apresentada a seguir pode ser facilmente feita em laboratório, basta montar o circuito da Fig. 4.2 e graficar os valores, tanto para +Vs como para –Vs. A Fig. 4.3 mostra a curva do diodo. Fig. 4.3 - Curva do diodo A Fig. 4.3 nos mostra que quando o diodo está polarizado diretamente, região direta, do 0 a 0,7V que é a tensão de joelho para o silício (barreira de potencial), existe apenas uma pequena corrente. Acima deste valor, a corrente aumenta rapidamente e o diodo comporta-se como uma chave fechada. Este fato mostra que o diodo não é um dispositivo linear. O motivo da corrente aumentar rapidamente é que, uma vez vencida a barreira de potencial, o que limita a corrente é somente a resistência devida às regiões P e N. A soma dessas resistências é chamada resistência de corpo do diodo. Esta resistência depende do nível de dopagem do diodo e das dimensões do mesmo. Este valor para um diodo retificador é menor que 1. A corrente CC que circula pelo diodo também é de extrema importância, pois, se esta corrente for muito alta, produzirá uma temperatura que o destruirá. Mesmo que não o danifique, pode diminuir a vida útil do diodo, degradando suas propriedades. As folhas de dados dos diodos, que são fornecidas pelos fabricantes, trazem este valor, corrente direta máxima, que é um valor nominal e é listada como IF(máx), IO etc. ____________ Eletrônica Geral 33 A potência de dissipação máxima é o produto da corrente CC direta máxima pela tensão e nos mostra a potência que o diodo pode dissipar sem perder suas características. Trocando-se a polarização do diodo para reversa, observa-se apenas uma pequena corrente de fuga. A corrente no diodo é muito pequena para todas as tensões reversas até a ruptura. Quando se atinge a ruptura, a corrente aumenta fortemente para pequenas variações de tensão. 4.4 Primeira aproximação. “O diodo ideal” Quando se faz a análise ou o cálculo de um circuito onde envolva um diodo, é necessário saber que tipo de aproximação vamos utilizar. A primeira aproximação, mais simples, é chamada diodo ideal. O diodo ideal comporta-se como uma chave. Quando está polarizado diretamente, ele conduz (resistência zero). Quando polarizado reversamente, ele bloqueia a passagem de corrente (perfeito isolante, resistência infinita). A Fig. 4.4 mostra a curva do diodo ideal e sua representação. Fig. 4.4 - Diodo ideal 4.5 Segunda aproximação Na Segunda aproximação, o diodo não conduz até a tensão chegar a 0,7V. A partir daí, o diodo começa a conduzir e só aparecerá 0,7V de queda de tensão no diodo. A Fig. 4.5 mostra a curva para a Segunda aproximação. ____________ Eletrônica Geral 34 Fig. 4.5 - Segunda aproximação A Segunda aproximação pode ser pensada como uma chave em série com uma fonte de 0,7V, que corresponde à barreira de potencial. Para qualquer valor inferior a 0,7V ou tensão inversa, o diodo se comporta como uma chave aberta, não conduzindo. 4.6 Terceira aproximação Na Terceira aproximação, além da fonte, incluímos uma resistência de corpo do diodo Rb. O efeito desta resistência é que, a partir de 0,7V, a tensão aumenta linearmente com o aumento da corrente. A Fig. 4.6 mostra a curva para a terceira aproximação. Fig. 4.6 - Terceira aproximação O circuito equivalente para a Terceira aproximação é uma chave em série com uma barreira de potencial de 0,7V e uma resistência Rb. Quando a tensão aplicada for maior que 0,7V, o diodo conduz, caso contrário o diodo bloqueia. A tensão total no diodo é bDD RIV 7,0 ____________ Eletrônica Geral 35 4.7 A escolha da aproximação Na análise de um circuito, devemos levar em consideração os níveis de tensão que estamos trabalhando, por exemplo: Se o diodo que estamos verificando está sendo alimentado por uma fonte de 1,4V e utilizamos a primeira aproximação, vamos produzir um erro de 50% na nossa análise, pois somente no diodo teremos uma queda de 0,7V. Por outro lado, se a tensão de alimentação for de 70V, o erro será de 1%. Em geral, a segunda aproximação nos dá um bom resultado em termos de análise do circuito. 4.8 A reta de carga A reta de carga é um recurso usado para calcular o valor exato da corrente e da tensão no diodo para um determinado circuito. Vamos calcular a reta de carga para o circuito da Fig. 4.7. Fig. 4.7 - Circuito com diodo Sendo este circuito série, a corrente é a mesma em qualquer ponto do circuito. s s R VV I (4.1) Se a tensão na fonte for 2V, e a resistência de limitação de corrente for de 100, então a equação (4.1) será: 100 2 V I (4.2) A equação (4.2) é uma relação linear entre a tensão e a corrente. Plotando-se essa equação, obteremos uma reta. O ponto de saturação, que representa a corrente máxima, é encontrado fazendo-se a tensão sobre o diodo igual a zero, que fica: (4.3) As coordenadas para este ponto são (I=20mA, V=0), e está mostrado na Fig. 4.8. mAI 20 100 02 ____________ Eletrônica Geral 36 O outro ponto importante que devemos marcar é o ponto de corte, que significa o ponto onde a corrente é mínima. Para isso fazemos V=2V. Então a equação (4.2) fica: 0 100 22 I (4.4) Com o ponto de saturação (I=20mA, v=0) e o ponto de corte (I=0, V=2), traçamos a reta de carga, sabendo-se que qualquer outro ponto de funcionamento estará sobre essa reta. Fig. 4.8 - Reta de carga para o diodo 4.9 O ponto Q O ponto Q representa a solução do problema e é a interseção entre a reta de carga e a curva do diodo. As coordenadas do ponto Q nos mostram a tensão e a corrente no diodo para uma fonte de alimentação de 2V e uma resistência de limitação de corrente de 100. Lendo-se as coordenadas do ponto Q, obtemos uma corrente de 12,5mA e uma tensão no diodo de 0,75V. O ponto, para o caso citado, está representado na Fig. 4.8. 4.10 Teste elétrico do diodo Falaremos agora de como testar um diodo comum de silício, a fim de verificar o estado de suas junções. Este teste aplica-se em geral para diodos que trabalhem com correntes de até 10 A.____________ Eletrônica Geral 37 A prova é de continuidade, por isto necessitamos de um instrumento como o multímetro, que possui ohmímetro, a fim de medirmos a resistência ôhmica no sentido direto e reverso. Multímetros mais modernos trazem em sua escala de resistência uma posição especial para teste de diodo, onde a prova de continuidade nos dois sentidos é verificada através de um som. Em instrumentos analógicos, ou mesmo digitais mais antigos, devemos fazer a leitura da resistência da junção, utilizando menor escala de resistência que o aparelho possuir. A resistência, no sentido direto, deve ser muito baixa (sempre inferior a 1000 ) e, no sentido inverso, deverá acusar resistência infinita. Nesse caso, o diodo encontra-se em bom estado. Se a medida da resistência for muito baixa nos dois sentidos, é sinal que o diodo está em curto, e se a resistência for alta nos dois sentidos, o diodo está aberto. A Fig. 4.9 mostra a posição das ponteiras para o teste do diodo. Fig. 4.9 - Teste do diodo 4.11 Exercícios resolvidos 1) Observação da experiência: a. R(direta) pequena diodo em bom estado b. R(inversa) muito grande ____________ Eletrônica Geral 38 2) Observação da experiência: a. R(direta) grande ou diodo danificado b. R(inversa) muito pequena 4.12 Exercícios propostos 1) Que tipo de dispositivo é o diodo analisando sua resistência interna? a) Unilateral b) Linear c) Não-linear d) Unipolar 2) Qual a polarização de um diodo em corte? a) Direta b) Inversa c) Fraca d) Reversa 3) Quando a corrente em um diodo é alta, sua polarização é: a) Direta b) Inversa c) Fraca d) Reversa 4) A tensão de joelho de um diodo é, aproximadamente, igual à: a) Tensão aplicada b) Barreira de potencial c) Tensão de ruptura d) Tensão direta 5) Na Segunda aproximação, que valor de tensão existe num diodo de silício, quando ele está reversamente polarizado? a) 0 b) 0,3V c) 0,7V d) Vfonte 6) Na aproximação do diodo ideal, qual é a tensão do diodo? a) 0 b) 0,7V c) Mais de 0,7V d) 1V 7) Identifique a condição das afirmações a seguir. Considere lâmpadas de 6V/120mW no circuito abaixo: I – Lâmpada L1 acende (brilho normal) II – Lâmpada L3 não acende III – Lâmpada L2 acende com sobrecarga de tensão podendo se danificar ____________ Eletrônica Geral 39 IV – Lâmpada L5 acende com tensão inferior à nominal (menor brilho) 8) Na figura abaixo, a tensão da fonte Vs = 9V e Rs é 10Ω. VTO = 0,7V. Calcule a corrente no diodo. 9) Se um diodo real for aproximado pelo modelo simplificado e pela curva característica correspondente a seguir, que valores teremos para VDO (VTO) e rT? A) VDO = 0,6V e rT = 60Ω. B) VDO = 0,6V e rT = 80Ω. C) VDO = 0,7V e rT = 40Ω. D) VDO = 0,7V e rT = 80Ω. E) VDO = 0,6V e rT = 20Ω. 10) No circuito a seguir, calcule a potência dissipada (PD) na carga (R) e no diodo. Encontre o percentual perdido no diodo. Características do Diodo: VTO = 0,7V ; rT = 0,1Ω. a) Para Vcc=50 V e R=10Ω b) Para Vcc=5 V e R=10Ω 11) Na figura a seguir, VS=200V, R1=1kΩ, R2=1kΩ, R3=1kΩ. Calcule a corrente no diodo. Quais dos diodos da tabela podem ser utilizados no circuito? ____________ Eletrônica Geral 40 12) Considere agora o circuito a seguir, onde VS=200V, R1=1kΩ, R2= 1kΩ, R3=1kΩ. Quais dos diodos da tabela anterior que podem ser utilizados no circuito? 13) Verifique quais diodos mostrados na tabela anterior que podem ser utilizados no circuito a seguir. A tensão da fonte é 220 Volts AC. Considere R1=R2=R3=1KΩ. 14) Na figura a seguir, a tensão medida no diodo é 5V. O diodo está aberto ou em curto? Se medirmos 0V no diodo da figura e 5V na fonte com relação ao terra, o que pode haver de errado com o circuito? 15) Supondo que temos uma carga que precisa de 6 volts DC. Como podemos fazer para alimentar esta carga se dispomos de uma fonte de 8,8 Volts, sem risco de sobre tensão? 16) Determine VO e ID para o circuito a seguir. Considere a queda de tensão no diodo de 0,7V: ____________ Eletrônica Geral 41 17) Na figura a seguir, qual deve ser o valor de R2 na figura para termos uma corrente de 0,25mA no diodo? 4.13 Respostas Exercício 4.12 1) c, 2) d, 3) a, 4) b, 5) Vfonte, 6) a, 7) Afirmações corretas: II; III e IV, 8) 0,83 A, 9) E, 10) a) Pc = 243W / PD = 5,88W à 2,4% b) Pc = 1,85W / PD = 0,32W à 17,3%, 11) Todos eles podem ser utilizados. 12) Apenas 1N3070 e 1N1185. 13) Apenas o diodo 1N3070 pode ser utilizado neste circuito. 14) : a) O diodo está aberto; b) O diodo está em curto. 15) Usamos quatro diodos em série. 16) Vo = -4,7 V ; ID = 3,6 mA. 17) R2 = 22,94KΩ. ____________ Eletrônica Geral 42 5 Circuitos com Diodos 5.1 Introdução Podemos pensar no diodo retificador como uma chave fechada, quando polarizado diretamente, e como uma chave aberta, quando polarizado inversamente. A isto chamamos de diodo ideal. Devido a esta característica, ele é muito utilizado na conversão de corrente alternada em corrente contínua. Veremos neste capítulo três tipos básicos de retificadores. Um outro tipo de diodo também conhecido é o diodo zener, utilizado para a regulagem de tensão. Por último, veremos o LED (Diodo emissor de luz), que, como o nome diz, é utilizado para sinalização. 5.2 O transformador As concessionárias de energia elétrica no Brasil fornecem uma tensão de 127 Vrms ou 220 Vrms, dependendo da região. Como essa tensão é muito alta para a maioria dos dispositivos eletrônicos, devemos baixá-la e depois retificá-la com diodos. Essa é a razão de abordarmos esse tema brevemente aqui. A Fig. 5.1 mostra um exemplo de um transformador, onde N1 é o número de espiras do enrolamento primário e N2 do secundário. Fig. 5.1 - Transformador As linhas verticais no núcleo do transformador indicam que o mesmo é de ferro. Ao secundário está ligada uma carga RL. Diz-se que o transformador é abaixador quando N2 é menor que N1, e elevador quando do contrário. Competências a serem desenvolvidas: Entender a função do transformador de entrada das fontes de alimentação; Desenhar e entender o diagrama de um retificador de meia onda e explicar o seu funcionamento; Desenhar e entender o diagrama de um retificador de meia onda completa em ponte e ponto médio e explicar o seu funcionamento; Entender o funcionamento de um filtro capacitivo; Conhecer o diodo zener e o LED. ____________ Eletrônica Geral 43 1 1 2 2 V N N V (5.1) A equação (5.1) mostra a relação de tensão entre primário e secundário, em função do número de espiras N1 e N2. Considerando-se o transformador ideal, onde não há perdas, a potência de saída é igual a de entrada: 12 PP ou 1122 IVIV da onde deduzimos que 1 2 1 2 I N N I 5.3 Retificador monofásico de meia onda Um circuito retificador converte um sinal de corrente alternada em um sinal unidirecional, isto é, converte uma tensão ca em cc. Após a retificação, a tensão obtida cc não é pura como a de uma bateria. Contém uma componente de ripple (componenteca) superposta a um valor contínuo médio (cc). Os circuitos retificadores não controlados, possuem em sua estrutura apenas diodos, fornecendo à carga uma tensão média constante, dependente da tensão alternada na sua entrada. 5.3.1 Estrutura e convenções de polaridade A estrutura apresentada na Fig. 5.2 é a mais simples dentre os retificadores, todavia não encontra grandes aplicações na indústria. Como exemplo, podemos citar carregadores de baterias e pequenos equipamentos cc, tendo como principal desvantagem sua baixa eficiência. Entretanto, essa configuração é útil para podermos entender o princípio da retificação. Para a compreensão do funcionamento deste retificador e dos outros que vamos estudar é importante fixarmos algumas convenções que vão auxiliar no ATENÇÃO Para todas as considerações, cálculos e fórmulas empregadas a partir de agora para os retificadores, será atribuída ao diodo ou diodos a primeira aproximação ou diodo ideal. Na resolução ou análise de um circuito retificador, devemos levar em conta qual aproximação utilizar para ter uma resposta mais precisa. ____________ Eletrônica Geral 44 estudo. Na figura abaixo a polaridade das tensões e o sentido da corrente indicam as convenções de polaridade e de sentido de circulação para estas variáveis, ou seja, quando elas são positivas elas apresentam as polaridades e o sentido indicados na figura abaixo. Caso sejam negativas obviamente tem-se a polaridade ou o sentido de circulação contrário aos indicados. A variável vp é a tensão no primário do transformador, vs a tensão no secundário do transformador, vd a tensão no diodo e ic e vc a corrente e tensão na carga respectivamente. Fig. 5.2 - Estrutura e convenções de polaridade para o retificador monofásico de meia onda com carga R 5.3.2 Seqüências de funcionamento a)0 Na figura 5.3 observa-se que a tensão no secundário vs é positiva de 0 até , ou seja, a sua polaridade instantânea será idêntica à indicada na convenção (Fig. 5.2): potencial positivo no terminal superior e negativo no inferior. Para analisar as seqüências de funcionamento, após a identificação da polaridade instantânea da fonte, descreve-se o caminho percorrido pela corrente e após faz-se a análise da tensão nos componentes (diodo e carga). Corrente: a corrente sai do terminal positivo e é sugada pelo pólo negativo da fonte. É importante observar que a corrente elétrica é conservativa: toda corrente que entra em um componente do circuito tem que sair dele. Neste caso a corrente sai do pólo positivo de vs, como mostra a figura acima, passa pelo diodo, o qual permite sua passagem (observe o sentido da seta no símbolo do diodo), pela carga e finalmente chega ao pólo negativo. ____________ Eletrônica Geral 45 Tensão: se a análise do caminho percorrido pela corrente for correta, então o(s) diodo(s) por onde a corrente passou estão com tensão positiva (+0.7 V da barreira de potencial) e funcionam como chave fechada. Nesta análise iremos desprezar a queda de tensão na barreira de potencial. No(s) caminho(s) onde não há a circulação de corrente então certamente o(s) diodo(s) estão com tensão negativa (polarização reversa) e funcionam como chave aberta. Para o circuito acima visto que o diodo é um elemento passivo (não fornece energia elétrica), no terminal do diodo onde a corrente entra temos um pólo positivo (neste caso o anodo) e onde a corrente sai o pólo negativo (neste caso o catodo) caracterizando polarização direta e o diodo funciona como chave fechada. Desconsiderando a queda na barreira de potencial o diodo tem tensão nula: veja a Fig. 5.3. Com o diodo funcionando como chave fechada o pólo positivo da fonte é conectado diretamente com a carga e toda a tensão do secundário do transformador é aplicada à carga. Observe que a tensão na carga é positiva nesta seqüência, pois o pólo positivo está no terminal superior e o negativo no inferior, exatamente como na convenção indicada na Fig. 5.2. b) 2 A partir de wt=0 até wt=2 a tensão vs apresenta valor negativo, ou seja, pólo negativo no terminal superior do secundário e pólo positivo no terminal inferior (observe a figura abaixo). Corrente: neste caso a fonte tende a empurrar a corrente pelo pólo positivo e sugar pelo negativo. Mas isto é impossível, pois o diodo (observe o sentido da seta no símbolo do diodo) não permite. A corrente então é nula. Tensão: como não há corrente na carga a tensão na carga é zero. Isto significa que a diferença de potencial nos terminais da carga é nula, ou seja, o potencial no terminal inferior da carga, que é positivo, é igual ao do terminal superior. O pólo positivo da fonte vs é conectado diretamente ao catodo do diodo através da carga. Note que apesar de não haver corrente elétrica na carga a ligação elétrica entre seus terminais não foi interrompida! O pólo negativo da fonte é conectado diretamente ao anodo do diodo caracterizando polarização reversa. Observe que toda a tensão do secundário vs é aplicada ao diodo e é negativa (Fig 5.3): o positivo está no catodo e o negativo no anodo (o contrário da convenção adotada). ____________ Eletrônica Geral 46 5.3.3 Formas de onda Fig. 5.3 - Formas de onda 5.3.4 Tensão e Corrente Média na Carga A tensão média na carga é obtida utilizando a definição de valor médio: Vmed areas T T No caso de vc, a somatória das áreas, como mostra a figura abaixo, corresponde à área do semiciclo positivo de uma senóide, que é calculada pela expressão: pVA 2 ____________ Eletrônica Geral 47 então: 2 222 Vo T Vp Vcmed VoVcmed 45,0 ou 𝑉𝑐𝑚𝑒𝑑 = 𝑉𝑝 𝜋 A componente contínua da tensão de carga é 45% da tensão eficaz do secundário do transformador. A corrente média na carga é obtida através da expressão: Icmed Vcmed R 5.3.5 Componente alternada da tensão na carga A tensão na carga é um sinal contínuo pulsante, isto é, possui uma componente contínua e uma componente alternada: )()()( cavcVmedcavcccvcvc A Fig. 5.4 mostra o sinal e suas componentes contínua e alternada: Fig. 5.4 - Componente cc e ca ____________ Eletrônica Geral 48 A componente alternada pode ser facilmente obtida subtraindo o sinal vc de sua componente contínua (Vcmed). O valor eficaz de vc é maior que seu valor médio, pois a potência ou calor produzido por todo o sinal (componente contínua e alternada) é superior ao produzido apenas pela componente contínua. O valor eficaz pode ser calculado por: .0,707 ef o Vc V Devido ao aparecimento de uma componente contínua, a potência aparente do secundário do transformador deverá ser maior que a potência aparente do primário, porque esta corrente satura o transformador, sendo que o transformador isola a rede da componente contínua do retificador. A corrente eficaz do diodo Idef pode ser calculada como: R Vo Idef 707,0 5.3.6 Tensão inversa máxima e corrente média nos diodos Durante o semiciclo negativo, o diodo bloqueia, recebendo sobre ele toda a tensão de pico do secundário. A máxima tensão reversa aplicada ao diodo é: VoVd pico 2 É importante observar que a tensão Vdpico aplicada sobre o diodo não pode ultrapassar a máxima tensão de pico que o componente suporta VRRM, cujo