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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre Emergências obstétricas Medicina – 8º semestre 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre INTRODUÇÃO Hiperglicemia durante o ciclo gravídico puerperal constitui um relevante problema da atualidade, não só pelo risco de piores desfechos perinatais e de desenvolvimento de doenças futuras, em decorrência da epidemia de obesidade que tem sido observada em vários países, por isso é tão importante a prevenção realizada durante o pré-natal. A prevalência de DMG varia de 1 a 37,7%, com uma média mundial de 16,2%. A hiperglicemia durante a gestação também afeta os filhos dessas mulheres aumentando os riscos dessas crianças desenvolverem obesidade, síndrome metabólica e diabetes na vida futura. Sem contar com as complicações intraútero que podem ocorrer quando não se consegue ter uma vigilância maior, aumentando o risco de macrossomia com bebês muito grande, risco de morte intraútero. CONCEITO DE DM Distúrbio do metabolismo dos carboidratos, caracterizado por hiperglicemia decorrentes de defeitos na produção e/ou ação da insulina (Protocolos assistenciais, FMUSP 5ª ed., 2016). Tem os tipos 1 e 2, porque a paciente pode já ter a doença prévia e engravidar; pode ter a paciente que faz uso de drogas como corticoide que pode provocar hiperglicemia; e tem a diabetes da gestação. O diabetes é a complicação médica mais comum da gravidez. PRÉ-GESTACIONAL OU CLÍNICA Gestacional → ocorre por conta da fisiopatologia na questão endócrina de um hormônio específico da placenta (lactogênio placentário), que aumenta a resistência de insulina favorecendo o desenvolvimento do DMG. Porém, a DMG involui após o parto, normalmente nas semanas que seguem o puerpério tardio. Pré-gestacional ou clínica → já tinha DM e engravida, ou não sabia que era diabética, mas ao realizar o exame da glicemia no pré-natal é detectado. Atentar para os valores de referência para perceber quem é a que é prévia, e quem é a da gravidez. Ao identificar essa questão, existem algumas situações em que será necessária uma investigação mais profunda de lesão de órgão alvo. No DMG não irá afetar tanto os órgãos por ocorrer num curto espaço de tempo, diferente do DM prévio, que ocorre por anos e vai aos poucos lesando os órgãos. CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA DO DM (Explicando a tabela) 1. DM tipo 1: fisiopatologia é mais por restrições decorrentes das células beta do pâncreas, por uma questão idiopática ou autoimune. 2. DM tipo 2: está mais relacionada com a resistência insulínica, que é um diabetes mais tardio. 3. DMG: por uma má adaptação da mulher na gravidez à resposta do lactogênio placentário. 4. Outros tipos: causados por infecções, endocrinopatias, outras alterações. COMPLICAÇÕES • Abortamento. • Pré-eclâmpsia. • Trabalho de parto pré-termo, levando a um parto antes do tempo. • Distorcias, até mesmo por conta da gordura dos nenéns, fazendo com que o parto seja mais difícil • Macrossomia (peso > 4,0 kg). Diabetes Mellitus Gestacional 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre • Polidrâmnio (com o aumento da frequência urinária aumenta a quantidade de líquido amniótico). • Restrição de crescimento fetal (principalmente em pacientes com DM prévia, que já tem vasculopatias, provocam uma danificação da placenta levando a uma má nutrição desse bebê); • Complicações neonatais. • Malformações (síndrome da regressão caudal, CIV principalmente nas diabéticas prévias); • Mortes perinatais (aumenta muito o risco). • Natimorto. FATORES DE RISCO PARA HIPERGLICEMIA NA GRAVIDEZ (Fonte: RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO DE DMG NO BRASIL, 2017) ❖ Idade (aumento progressivo de risco com o aumentar da idade). ❖ Sobrepeso/Obesidade (IMC > OU = 25 Kg/m²). ❖ Antecedentes familiares de DM (primeiro grau – pai e mãe). ❖ Antecedentes pessoais de alterações metabólicas: • HbA1c > ou = 5,7% (método HPLC). • Síndrome dos ovários policísticos. • Hipertrigliceridemia. • HAS. • Acantose nigricans. • Doença cardiovascular (aterosclerótica). • Uso de medicamentos hiperglicemiantes (uso crônico de corticoide). ❖ Antecedentes obstétricos: • Duas ou mais perdas gestacionais prévias (DM é uma das causas de abortos precoces). • DMG. • Polidrâmnio. • Macrossomia (recém-nascido anterior com peso > ou = 4000g). • Óbito fetal/neonatal sem causa determinada. • Malformações fetais. Atentar para todos os fatores de risco para rastrear o mais precoce possível, e modificar os fatores em que há essa possibilidade evitando uma progressão de doença e danos maiores. MARCADORES CLÍNICOS (FEBRASGO, 2017) • Passado de macrossomia. • Idade acima de 35 anos. • História familiar. • História de diabetes na gestação. BIOQUÍMICO – GLICEMIA EM JEJUM COMO PREVINIR? • Dieta. • Atividade física. • Programar gestações (Se preparar, reduzir peso, hemoglobina glicada ...). • Controle de glicemias. TRIAGEM E DIAGNÓSTICO DE DMG A tabela é de 2018, apesar de já ter a de 2020, porém os valores são os mesmos. Houveram alguns estudos com a linha que utilizava um valor de açúcar na hora do teste que pode mudar as referências. Atualmente, o que a Associação recomenda é que se dose o jejum, mas se tiver (OMS – fatores de risco: acrescentar o Teste de Tolerância Oral 75g). A depender do protocolo pode- se pedir até hemoglobina glicada. GLICEMIA EM JEJUM: Até 92 mg/dL; Na 1ª hora: até 180 mg/dL; Até 2h: 153 mg/dL; Os outros valores trazidos na tabela podem variar as referências, porém é importante atentar que o TTOG por exemplo utilizado para diagnóstico é o de 75 g e não de 100g. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre RASTREAMENTO Primeiro, ocorre o aumento da glicemia durante a gestação. E temos que determinar se é DM especifico ou é DM gestacional. No momento que a paciente chega, temos que pedir a glicemia em jejum logo (de preferência no 1º trimestre – até 12 semanas, mas se ela chegar após esse tempo, pede do mesmo jeito). Se o valor for < 92mg/Dl, a paciente não tem diabetes. Se for > 126mg/dl, ela tem DM prévia. Ou seja, ela não vai baixar após o parto. Tem que se preocupar em avaliar os órgãos alvo dessa paciente, procurando complicações. Se a gestante estiver entre 92 e 126 mg/dl, pensamos em DM gestacional (over diabetes). Por conta da fisiopatologia, é mais comum ocorrer na segunda metade da gestação (em torno de 20 semanas), por conta da ação maior do lactogênio placentário. Tem pacientes que tem resistência a insulina aumentada por algum outro fator (ex: na história, ela conta que tem SOP). FISIOPATOLOGIA Na gravidez, a placenta produz lactogênio. O bebê, na primeira fase da gravidez, vai hiperplasiar suas células, ou seja, vai multiplicar (aumentar quantidade). Em certo momento, ele vai aumentar o tamanho das células que já existem (hiperatrofia). Nesse momento de hipertrofia, ele vai precisar de consumir mais glicose (diferente do primeiro momento, que ele precisava armazenar). A forma que o bebê tem de sinalizar a mãe para deixar mais açúcar para ele é: aumento da placenta, maior produção de lactogênio e ação do cortisol e prolactina, aumentando a resistência da insulina materna. A insulina da mãe vai agir nas células materna, aumentando a resistência, assim, não consegue usar a glicose, ficando disponível na circulação e passa pela placenta, em direção ao feto. Ao chegar lá, o pâncreas do feto vai produzir sua insulina e colocar o açúcar para consumo. Quanto mais glicose tiver para o bebê, mais ele vai armazenar, podendo transformar em gordura no fígado. OBS; insulina não passa na barreiraplacentária, pois é um hormônio grande. Em resumo: quem tem a resistência à insulina é a mãe. O bebê armazena a glicose. Se a glicose materna está compensada, ela disponibiliza menor quantidade para o bebê, e ele armazena menor, não vai descompensar. CLASSIFICAÇÃO DE WHITE Na década de 40, tinha a classificação de Priscila White, que falava de gravidade. Pacientes que tinham mais trabalho para o controle de glicemia tinham maior risco de mortalidade. Eram pacientes que tinha mais lesões em órgãos alvo. Para ela, a classificação A era a gestacional. Os valores estão um pouco desatualizados (não usa mais os valores em jejum). A professora trouxe para mostrar que existia uma classificação que falava de complicações, em que cada “letra” representa a lesão em um órgão. 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre B: paciente com mais de 20 anos e com mais ou menos 5 anos de doença. Hoje, não se usa mais. CLASSIFICAÇÃO DE HAPO O estudo HAPO trabalhou utilizando teste de tolerância de 100g, observando 3 DP para os valores de referência. Naquela época, utilizaram os valores de: • 90 mg/dL (jejum). • 165 mg/dL (para 1h). • 145 mg/dL (para 2h). • 125 mg/dL (para 3h). Para pacientes com valores maiores que esses, na respectiva hora, tinham desfechos ruins na gravidez. Em 1979, os critérios de O’Sullivan e Mahan foram aprovados pelo National Diabetes Data Group (NDDG). DMG seriam necessários dois valores iguais ou superiores a 105 mg/dl no jejum, 190 mg/dl na 1ª hora; 165 mg/dl na 2ª hora e 145 mg/Dl na 3ª hora. Em 1982, Carpenter e Coustan observaram que devido a mudanças nos métodos laboratoriais usados para avaliar a glicemia, seria necessário fazer uma segunda correção em relação aos valores propostos em 1979. Assim, passam a ser utilizados para diagnóstico dois valores iguais ou superiores a 95 mg/dl no jejum, 180 mg/dl na 1ª hora; 155 mg/dl na 2ª hora e 140 mg/Dl na 3ª hora. Não estudar pelo manual de 2012. Estudar pelo Rastreamento e diagnóstico de diabetes melitus gestacional no brasil, de 2017. International Association of Diabetes in Pregnancy Study Group (IADPSG) realizou um encontro de especialistas, com participação de várias sociedades médicas mundiais. Definiu que caso a gestante apresente, na primeira consulta de pré-natal, critérios de diagnóstico iguais aqueles pré-determinados para o diagnóstico de diabetes fora da gestação (hemoglobina glicada >= 6,5%; glicemia de jejum >= 126mg/dl; ou glicemia em qualquer momento >= 200mg/dl), será considerada como portadora de DM, diagnosticado na gravidez. Então, o que é importante: saber os fatores de risco e o fluxograma abaixo. De preferência, fazer a glicemia em jejum antes de 20 semanas para todas as pacientes. Se tiver fator de risco, acrescentar o restante do teste, que tem o TTOG e a hemoglobina glicada. • Se for < 92 naquele momento, ela não tem DM. Entre 24-28 semanas tem que fazer o teste novamente. • Se os valores forem < 92 em jejum, < 180 na 1ª hora e < 200 na 2ª hora, não é uma paciente diabética. • Se entre 92 e 125 em jejum, possivelmente é uma paciente com DMG (JÁ FECHA DIAGNÓSTICO, POIS BASTA UM VALOR). • Se for > 126 em jejum, é DM prévia. Paciente entre 20-28 semanas, já faz o TTOG, independente se há fator de risco ou não. Paciente com mais de 28 semanas, também já faz TOTG. A qualquer momento que chegar depois de 20 semanas, já pede logo o teste de tolerância, para 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre buscar o diabetes da gestação. Se vier valores muito altos, acima de 126 em jejum, ou episódicas acima de 200, fechou, é DM. GRAVAR FLUXOGRAMA. Aqui, o rastreamento coloca para as populações que tem dificuldade de ter o teste de tolerância, então ele coloca para trabalhar somente com glicemia. MANEJO DO DIABETES NA GRAVIDEZ CUIDADOS PRÉ-CONCEPCIONAIS Na paciente diabética, se ela chegar no consultório porque quer engravidar e pediu os exames, vai pedir para que ela tenha o controle antes do almoço e do jantar, que varia entre 70 e 100mg/dl, e depois, de preferência 2h depois do café, almoço ou jantar, de 100 a 129mg/dl. ADA definiu o controle de glicose: • Pré-prandial 70 a 100mg/dl; • Pós-prandial 100-129mg/dl; • Concentrações médias de glicose inferior a 110mg/dl; • Hemoglobina glicada menor que 7%; 6,5% ADA 2019; (6%) Zugaib. Se tiver glicada abaixo de 6,5%, concentração média de glicose de 110mg/dl, pode dizer que a glicemia está controlada, e está autorizada a engravidar. Hemoglobina glicada acima de 8% fala de um desajuste nos últimos 3 meses, e também maiores chances de má formação, principalmente cardíaca. Então, se ver uma glicemia glicada muito alta, orientar que essa paciente nem engravide naquele momento, o ideal é controlar para depois engravidar. PRIMEIRO TRIMESTRE Se a paciente diabética engravidar, ou pediu os exames e deu o diagnóstico de diabetes, primeiro separar: é da gestação ou é prévia? Se for prévia, vai investigar: • Avaliação de complicações vasculares: rastreamento do raio X, fundoscopia, encaminhar para dentista (DM descompensada aumenta chances de doenças periodontais, e doenças periodontais descompensa DM), pesquisar alterações tireóideas, eletro (para saber se ela já teve algum infarto), questão renal, pedir proteinúria de 24h, investigar infecção urinária (são pacientes que tem mais chance de ter infecção urinária se DM descompensado), e, a nível vaginal, buscar candidíase (processo de descompensação para mulheres que estão com açúcar alterado, tendo mais chance de ter a candidíase). Observar membros inferiores, para uma neuropatia periférica. • Otimizar dose de insulina: se ela já toma insulina, vai otimizar as doses, para manter valores bons de controle; • Manter folato; • Estabelecer com precisão idade gestacional: de preferência até 12 semanas, porque se tem um cálculo ruim da IG, não vai saber se o bebê está crescendo muito ou não. • *Uso do AAS (NICE 2015): Por conta do risco aumentado de pré-eclâmpsia, aumenta o risco em 3x mais em pacientes que tem DM na gestação, foi orientado a prescrição do AAS e do cálcio (cálcio para os deficientes de cálcio – suplementar). No momento que deu o diagnóstico, rastreou lesão de órgão, se a paciente é gestacional, ela não precisa ser rastreada de lesão de órgãos, porque ela é gestacional, não dá tempo de lesar, vai fazer isso na prévia. Na gestacional vai orientar dieta e atividade física. 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre • Restrição calórica para pacientes com sobrepeso e obesidade: em torno de 2000 calorias; ❖ *1800 a 2200 calorias (30 a 35 Kcal/kg, **) • Composição dietética ideal: 55% de carboidrato, 20% de proteína e 25% de gordura com menos de 10% de saturada. Vai reduzir o máximo carboidratos, de preferência carboidratos complexos, de uma quebra mais difícil. Importante encaminhar para uma nutricionista. Se é endócrino, nutrólogo, vai manejar bem e fazer um cardápio legal, mas se for generalista, trabalha junto com a nutrição para ajudar nesse momento. Nesse momento do primeiro trimestre, rastrear também a USG transluscência nucal, marcadores de má formação. Ter a idade gestacional. SEGUNDO TRIMESTRE Quando chega no segundo trimestre, falando da pré- existente, vai ter a morfológica e pedir também um ecocardiograma fetal. • Avaliação com USG de morfologia fetal; • Avaliação de ecocardiograma fetal em DM pré- existente. Na DM gestacional, geralmente a chance de ter, praticamente não dá tempo de lesar, porque constitui o coração fetal com 5-6 semanas, a gestacional é depois disso, então não tem necessidade de pedir um eco fetal por conta de uma DM gestacional.Pode até pedir por vontade da mãe, ou porque viu alguma coisa suspeita no morfológico, que pode ser causado por outra coisa, por ser uma mãe epilética, mas a obrigatoriedade do eco é na DM pré- gestacional. TERCEIRO TRIMESTRE • Avaliação com USG de crescimento fetal e líquido amniótico: o USG, a depender de alguns protocolos, tem que ser todo mês, então tem que fazer mais USG, para ver a dinâmica de crescimento e líquido desse bebê, que pode alterar. • Avaliação de retina em DM pré-existente: a fundoscopia, assim como pediu no início da gravidez, é interessante repetir no terceiro trimestre; • Informações sobre o parto e puerpério; • Parto em DM-1 e DM-2: 37/38 semanas: importante avaliar se o bebê está crescendo, se não está crescendo, se está conseguindo ter controle do açúcar com as medicações, então vai ter que antecipar o parto; • Parto sem complicações do DMG: 40 semanas. O parto nessa paciente vai ser definido de acordo com as complicações que podem ou não ocorrer. Se for um bebê microssômico, a mãe não está conseguindo controlar com a insulina, será que não tem risco de ter um óbito intrauterino indo até o final? Isso vai ser mediado de acordo a conduta que a paciente está tendo no pré-natal, a conduta sua e a dinâmica, se ela está obedecendo ou não. Às vezes tem paciente que não obedece a dieta, não faz exercício, que não traz as glicemias para a consulta, tudo um conjunto de fatores. PIRÂMIDE DE ALIMENTOS PARA A DM Essa seria a pirâmide de alimentos para diabetes. As frutas e verduras vão ficando no meio da pirâmide. Se for pensar nos carboidratos, seria os mais complexos (o pão fatiado, de preferência com sementes, para demorar na digestão). Tabela só para demonstrar como seria os alimentos que poderia estar sugerindo para a paciente. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre ROTA DE SEGUIMENTO DESSA GESTANTE É aquela paciente que desde o início já viu um rastreamento positivo. Vai tentar aumentar a sensibilidade a insulina através da dieta e do exercício físico. Lembrando que com base vai seguindo a gestação, a barriga aumenta, a placenta aumenta, então o lactogênio que está agindo vai aumentando essa resistência, então vai entrar com medicações que possa, aumentando as doses e trabalhando com essa paciente. No pós-parto, a placenta foi embora, então a tendência de não ter mais aquela resistência causada pelo lactogênio placentário é voltar ao normal, a não ser que ela é diabética prévia (não volta). Então vai sinalizar o acompanhamento dela na clínica médica para poder lidar com essas complicações, como doenças cardiovasculares, por exemplo. INSULINA A insulina é sempre a primeira escolha, embora na prática, quando percebe que a paciente tem dificuldade de ter insulina, tem dificuldade de furar o dedinho, no jejum, após café-almoço-jantar, às vezes na hora de dormir, e na manhã, quando está tendo chance de hipoglicemia de madrugada. A fita é cara (2-3 reais), e para algumas pessoas, esse valor faz muita diferença, e aí não consegue trabalhar com insulina nessas pacientes, mas a primeira escolha sempre foi e sempre será insulina. É o que tem menos dano no sentido de má formações e no sentido de resposta de bom controle do DM. A seguir, um exemplo da USP, não vai dizer que seja sempre esse, dos valores do primeiro, segundo e terceiro trimestre. Na Maternidade Climério usa 0,3, 0,4 e 0,5. Pega o peso da paciente e vê o trimestre que ela está. Ex.: 24 semanas, ou seja, no segundo trimestre. Com o peso dela, ex. 60kg, multiplica pela constante (que vai variar de protocolo), que no caso é o 0,8. O resultado será 48 unidades de insulina durante o dia. Vai dividir essas 48 unidades no momento que a glicemia estiver mais alterada, e assim vai tateando. • Primeiro trimestre: 0,6 unidade/kg/dia. • Segundo trimestre: 0,8 unidades/kg/dia. • Terceiro trimestre: 1 unidade/kg/dia. As insulinas têm tanto de longa, moderada e curta duração, então vai depender do tipo de insulina que vai usar, que vai atuar mais no momento da refeição do que em outro. Também tem alguns hipoglicemiantes, que no decorrer dos últimos anos, foram feitos estudo observacionais em pacientes que já usavam a medicação, engravidaram e continuaram usando sem saber, e foram ver as respostas. METFORMINA • Não são recomendados como primeira linha; • Cruza a barreira placentária; • Menor ganho de peso para a mulher: vantagem. • Associação com CIUR e obesidade; Precisa conversar com a paciente. Para aquela que está dando altas doses de insulina, e não quer aumentar a insulina dela, será que não seria interessante colocar metformina? Aquela paciente obesa, que tem dificuldade de lidar com a insulina, com valores muito pequenos de variação no perfil glicêmico dela, a metformina pode ser uma escolha. GLIBENCLAMIDA • Não são recomendados como primeira linha; • Cruza a barreira placentária. • Maior chance de ocorrer hipoglicemia. Na tabela abaixo, estão exemplos de alguns tipos de insulina. Encontramos bastante na rede SUS a NPH e a regular. A NPH é de moderada duração, ou seja, se aplicar agora, 11:30 da manhã, ela atuará basicamente a partir de 13/14 horas durando até o final da tarde, podendo pegar o início da noite. Portanto, a insulina 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre NPH administrada ao meio-dia agirá da tarde até o início da noite, ela vai agir no que chamamos de glicemias pré-prandiais, antes do jantar, é onde sua ação se concentra. A insulina regular, de duração curta, é uma ação mais próxima da refeição, então seria para os pós logo. A paciente acabou de comer, tem a oscilação da glicemia e essa insulina começa a agir. Tomou a insulina 11:30 da manhã, ela começa a agir por volta de 12:30, então, se a paciente comeu ao meio-dia, a insulina começa a agir nesse almoço. Portanto, as insulinas de curta duração irão agir sobre as glicemias pós-prandiais, ou seja, depois que a paciente comeu (tomou café/almoçou/jantou), enquanto as insulinas de longa/moderada duração irão agir no momento que a paciente não comeu ainda (jejum) ou que ela ainda irá comer, próximo do almoço/jantar. Com base nisso, avaliar a glicemia que está alterada quando fazemos o teste de glicemia capilar (no jejum, 2 horas depois do café/almoço/jantar ou meia hora antes do almoço/jantar). Vendo o que está alterado, avaliar qual insulina se encaixa melhor no caso e ir tateando. Usaremos a insulina de curta duração se a glicemia que está alterada for a dos pós-prandiais. Para sabermos qual a glicemia que está alterada (se pré ou pós prandial), precisamos saber os valores. DIAGNÓSTICO • Glicemia em jejum – Acima de 92 mg/dL; • Teste de tolerância: ❖ Glicemia em jejum: 92 mg/dL ❖ Primeira hora: 180 mg/dL ❖ Segunda hora: 153 mg/dL; • Hemoglobina glicada – Maior que 6,5%. CONTROLE: Para avaliar se a paciente está bem, com o controle bom, se controlou apenas com a dieta ou se o controle não está adequado, sendo necessário associar a insulina. MONITORIZAÇÃO GLICÊMICA JEJUM • Limite inferior 70 mg/dL. • Limite superior 95 mg/dL. PÓS-CAFÉ, ALMOÇO E PÓS-JANTAR • Limite inferior 70 mg/dL. • Limite superior 140 mg/dL (primeira hora) ou 120 mg/dL (segunda hora). PRÉ-PRANDIAIS E MADRUGADA • Limite inferior 70 mg/dL. • Limite superior 100 mg/dL. Existe o valor de diagnóstico e o valor de controle. Esse é o perfil glicêmico, é controle, é fazer a glicemia capilar, furar o dedinho e ver se encaixa nos valores do jejum, pós e pré. Esses valores são necessários aprender para quando estiver na enfermaria acompanhando sua paciente para ver se ela está bem, se ela vai precisar mexer ou introduzir insulina. Vai precisar noambulatório de diabetes. 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre METAS DO CONTROLE GLICÊMICO NA GESTAÇÃO Valores do ministério da saúde. Como vigiar o bebê? Depois de 28 semanas, vigiamos o bebê com a cardiotocografia, com o perfil biofísico. Lembram que o ultrassom já seria mensal? Então pela ultrassonografia já é possível vigiar o perfil biofísico que avalia padrões do bebê respirando, de líquido dentro da bolsa, movimentos corporais. E o doppler que é a circulação do sangue, seriam aquelas pacientes com vasculopatia. Então antes de 28 não tem porque fazer cardio, nem perfil, nem doppler, nem nada. Mas aqui são exemplos de como vigiar. Em relação ao parto isso vai depender muito do protocolo. CETOACIDOSE DIABÉTICA Exemplo do protocolo da USP. A conduta na cetoacidose diabética é semelhante à clínica médica. Então você vai ter que pesquisar os distúrbios hidroeletrolíticos, ver como está o cálcio (avaliar reposição) sódio. Ter que fazer a administração de glicose a 5%, junto com o potássio e insulina em doses maiores e venosa, para tentar tirar ela dessa cetoacidose. Isso geralmente se faz em regime de semi-UTI ou UTI. MOMENTO DO PARTO A ACOG, Colégio Americano traz uma sugestão de partos. Uma diabetes prévia bem controlada, você pode ir até 39 semanas e 6 dias nessa paciente. Na Climério é 38 fechado. Por exemplo, uma paciente que tem diabetes prévia, uma vasculopatia, vai depender da complicação, e baseando na questão de prematuridade do bebê, mediar aí qual o melhor momento. A paciente que controlou só com dieta e exercício, pode ir até 40 semanas e 6 dias, ele coloca. Por exemplo na Climério ou na José Maria é 40. O parto pode variar de acordo se há complicações ou não, de bom controle ou não. Não tem um número fechado exato. E o pós-parto? Como saber? Aquela paciente que era prévia provavelmente com esses valores acima de 126 jejum, e 200 em qualquer momento, vai ter os ajustes, voltar a insulina que ela usava antes da gravidez, ou as medicações orais. A que é diabetes gestacional, depois de 6 semanas do parto está orientado a ela repetir o teste de tolerância a glicose, justamente para ver se essa paciente vai manter níveis aumentados para se pensar em diabetes, ou na resistência, que seria aquele estágio denominado pré-diabetes. Onde às vezes se faz o exame em jejum depois de 2h glicemia de 115, iria ser o chamado o pré-diabetes. Recomendado normalmente atividade física, dieta, às vezes tomar doses pequenas de metformina. 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre Então nesse momento a gente vai ver como vai ficar com essa paciente. Acima estão algumas recomendações também do Zugaib que era justamente o que fazer. Então o teste de tolerância depois de 6 a 12 semanas, para ver em que momento ela se define na classificação. Você vai ter o controle no pós-parto, de 1 a 10 dias, para ver como vai ficar essa glicemia dela, e ver esses ajustes glicêmicos. Se tiver muito alto, que já seria a prévia mesmo. E depois, essa paciente, se ela for prévia, tem que estar pelo acompanhamento da clínica médica. Se ela for gestante que só foi gestacional, comunicar que ela tem um risco aumentado de ter diabetes de 7 vezes e deve fazer periodicamente (anual) a sua glicemia. Valores de referência do teste de tolerância depois de 6 semanas. De acordo com a FEBRASGO: • Normal: JEJUM menor que 100 e 2 horas menor que 140. • Intolerância a glicose: glicemia menor que 126 em JEJUM e 2 horas depois entre 140 – 199. • DM: JEJUM acima de 126 e 2 horas depois acima de 200. No estágio pré-diabético, se ela só tem a glicemia de jejum alterada, também ficar de olho, manter a atividade física que já estava mantendo na gravidez. Pra facilitar: https://www.febrasgo.org.br/media/k2/attachment s/FEMINAZ11ZV3.pdf 12 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre INTRODUÇÃO • Mundialmente, o sangramento está entre as primeiras causas de mortalidade materna. • Os sangramentos podem estar presentes tanto na gestação quanto no puerpério. • Gestação: São divididos em: primeira metade (até 20 semanas de gravidez) e segunda metade (20 semanas até termo). • Quando se fala de sangramento da primeira metade, existem 3 patologias de fundamental importância, são elas: aborto (gravidez no local, não evolui), gravidez ectópica (fora do local, seja trompa, mesentério, ovário) e gravidez molar. Sangramentos da primeira metade, segunda metade, pós parto e ginecológicos. Quando chega uma paciente com sangramento, a primeira coisa que precisa ser avaliada é a hemodinâmica. Ao atender uma mulher sangrando, questionar: está grávida ou não está grávida? Se não estiver, vai pros sangramentos relacionados a ginecologia. Estava grávida e já pariu? Pensar em hemorragia pós- parto. Lembrar que existem patologias específicas da gestação que também causam morte, como por exemplo a gravidez ectópica, que pode levar a um quadro de abdome agudo. • 10 a 15% das gestações apresentam hemorragias. CLASSIFICAÇÃO PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO • Abortamento. • Gravidez ectópica: gravidez fora do local. • Neoplasia trofoblástica gestacional benigna (mola hidatiforme): patologia de divisão celular do cromossomo. Às vezes tem uma formação diferente da placenta. Quando não cuidada, pode avançar, e até se malignizar. • Descolamento corioamniótico: dentro da parte de ameaça de aborto. Corio é a placenta no início da sua criação. É diferente do descolamento de placenta (quadro grave). Ter cuidado com a palavra descolamento, porque na segunda metade tem o descolamento prematuro da placenta como causa. Quando se tem menos de 22 semanas de gestação, não se tem viabilidade (chance de sobreviver ao parto) pra aquele bebê. A partir de 22 semanas (dentro da segunda metade da gestação) já é possível ter essa viabilidade. SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO • Placenta prévia. • Descolamento prematuro da placenta. • Rotura uterina. • Vasa prévia. Outras causas são: relacionada a sangramento ginecológico - cervicites, pólipo endocervical, ectrópio, câncer de colo uterino, trauma vaginal (laceração por relação sexual), sangramento do colo durante o trabalho de parto (prematuro ou não) na segunda metade da gestação. Lembrete: se fala em feto a partir de 9 semanas. Feto viável é, provavelmente, a partir de 24 semanas. ABORTAMENTO Sangramento da primeira metade da gestação que é uma das causas de morte materna. Em 2012, tinham 143 mortes para cada 100.000 nascidos vivos. Hoje, é em torno de 60-70, mesmo 10 anos depois. Então, é necessário trabalhar situações que diminua isso Em 2015, o objetivo era de chegar a 35 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, o que não foi alcançado. Sangramento da primeira metade da gestação 13 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre Objetivos de desenvolvimento sustentável Lembrete: Observação: No Brasil, a principal causa de morte materna é hipertensão. No mundo, sangramento. • Atualmente a razão de morte materna global situa-se em torno de 210 mortes por 100 mil nascidos vivos. • Meta: chegar a 70 mortes por 100 mil NV. • No Brasil, a meta para 2030 é reduzir a mortalidade materna para aproximadamente 20 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. Em 2012, os cinco primeiros grupos de causa materna foram: hipertensão, hemorragia, infecção puerperal, doenças do sistema circulatório complicada por GPP. No período de 1990 a 2021 diminuiu o risco de morrer por: aborto (82%), hemorragia (72%), hipertensão (69%), infecção puerperal (63%), doenças do sistemacirculatório complicada por GPP (25%). • No Brasil, persiste uma importante subnotificação das mortes por aborto, já que muitos óbitos devido à septicemia e hemorragia decorrentes de complicações de abortamentos não são devidamente computados. • O aborto realizado de forma insegura, em contextos de ilegalidade, tal qual a situação brasileira, resulta em graves consequências para a sociedade, pos afeta a saúde da mulher, com elevada morbidade e mortalidade. No Brasil não tem a legalização do aborto, mas determinadas situações permitem a realização. Estudo que fala em relação as áreas que ocorre mais aborto. Risco de morte, morte materna, sangramento e infecção estão dentro da questão do abortamento. CONCEITO • Interrupção espontânea ou induzida (uso de medicação ou procedimento) da gravidez antes que o feto seja viável. Em relação ao tempo, é viável entre 20 e 22 semanas mais ou menos, podendo avaliar a partir de outros fatores, como peso e altura, por exemplo. • ¨Interrupção da gravidez antes de 20 semanas de gestação, ou quando o feto pesa menos de 500g, ou 16,5 cm¨. OMS. É importante diferenciar o aborto do natimorto. Exemplo: se o bebê que nasceu tem mais de 20 semanas, mais de 500 g ou mais de 16,5cm, teoricamente, ele tem que ter declaração de óbito. Se ele tem declaração de óbito, ele tem direito a herança. Se determinada pessoa teve 2 casamentos com 2 filhos no primeiro e um natimorto no segundo, a herança tem que ser dividida entre todos os filhos. O produto da concepção eliminado no processo de abortamento é chamado ABORTO. CLASSIFICAÇÃO O aborto é dividido em algumas formas clínicas, assim como pela questão do tempo. O abortamento pode ser: • Precoce: quando ocorre até a 13º semana. • Tardio: quando ocorre entre 13º e 22º semana. *20 semanas (Zugaib). É importante saber quando foi aborto precoce e quando foi tardio, justamente pra saber quais as causas que levaram a esse aborto, principalmente no espontâneo. Existem paciente que abortam 1-3 vezes, sendo classificadas como aborto de recorrência. Tem que identificar o que levou a repetição desses abortos para que a mulher possa ter um filho. • Abortamento espontâneo: acontece por alguma situação que necessita ser investigada. 14 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre ❖ Ameaça de abortamento. ❖ Inevitável. ❖ Incompleto. ❖ Completo. ❖ Retido. • Abortamento de repetição. • Abortamento provocado. Existem situações mais presentes no aborto precoce e outras mais frequentes no aborto tardio. Aborto legal é quando ele é legalmente permitido do ponto de vista judicial, como por exemplo vítima de estupro. Os abortos espontâneos tem as seguintes formas clínicas, dependendo do exame clínico. • Ameaça de aborto: feto com menos de 20 semanas que ainda tá vivo após sangramento. Nestes casos, a paciente vai chegar com a queixa de dor (presente praticamente o tempo inteiro na gestação – distensão do útero) e perda de sangue. Colo fechado com feto vivo. Dor isolada é diferente de uma dor com sangramento, dor que não melhora com medicação. O tempo todo tem que dividir em <20 semanas ou >20 semanas. É importante palpar o útero e avaliar o colo. Quando o bebê tem mais de 12 semanas, teoricamente, se consegue auscultar com o sonar. • Aborto inevitável: Se o colo está pérvio, o aborto pode ser inevitável (ainda dá pra ouvir batimentos cardíacos do bebê, mas já rompeu a bolsa). Tem situações em que o feto já está passando pelo canal. • Aborto incompleto: situações em que o material foi eliminado, mas ainda tem uma quantidade. • Aborto completo: quando o material foi eliminado inteiro. Exemplo: gravidez local, primeira metade, queixa de dor e sangramento → pensar em aborto. A partir daí, é preciso avaliar o colo: colo fechado → ameaça de aborto (sangue mais avermelhado, analisar presença de BCF) ou aborto retido (que já ocorreu há algum tempo, o feto tá morto, mas o colo fechou) ou completo (ele expulsa tudo e o colo fecha também). A diferenciação vai ocorrer por meios da história. Se a paciente fala que tá sangrando um pouquinho, e ao fazer o toque, o colo está fechado, além da presença de BCF, embrião vivo visto na USG → ameaça de aborto. Se tentou auscultar o feto e não conseguiu ou pediu uma USG e não viu a presença do embrião → aborto completo. Uma coisa que chama muita atenção no aborto retido é que o fundo do útero é menor para idade (é como se fizesse o cálculo pela DUM ou IG através da 1º USG, fosse esperado 16 semanas, mas não fosse possível palpar direito, ou seja, ele não acompanha o crescimento, não tem como ouvir o feto). Nestes casos, a paciente costuma contar que sangrou e depois parou. Nos casos do aborto completo, a paciente conta que sangrou muito, e às vezes, até leva o material pra análise do médico. Colo fechado ao toque. Em suma, clinicamente o aborto completo é colo fechado, sangramento de grande volume com saída de material. No incompleto, o colo está aberto. No infeccioso, tem sinais de infecção. O inevitável é aquele que o material tá saindo. Colo pérvio significa aborto incompleto. ABORTAMENTOS ESPOTÂNEOS DO PRIMEIRO TRIMESTRE Os abortos espontâneos podem ser divididos em abortos precoces (até 13 semanas) e abortos tardios. Dentre os precoces: • 80% ocorrem nas primeiras 12 semanas. • 50% das perdas gestacionais são anembrionadas. Exemplo: 1 aborto somente durante a vida reprodutiva da mulher é considerado normal, ocorre na maioria. Mas, se isso ocorrer pela 2ª ou 3ª vez, já não é mais normal. Então, quando é apenas 1 aborto, principalmente quando é precoce (menos de 13 semanas), não se investiga. Mas, se no caso for o 3º aborto precoce, tem que investigar as causas. 15 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre A maioria dos abortamentos ocorrem nas 12 semanas de gravidez e 50 a 80% apresentam alterações cromossômicas. Em até 9 semanas, que é quando ocorre a formação do embrião, depois disso passa a ser feto, pensa-se que as causas são as alterações cromossômicas que fez com que esse embrião não sobrevivesse ou não se formasse. As principais alterações cromossômicas que se pode ter são: Euploides (46, XY e 46 XX), aneuploidias (trissomias, monossomias, tetraploidias) e anembrionadas (não formou embrião). FATORES DE RISCO Quando tem que fazer diagnóstico diferencial, e tem lá: “aborto espontâneo”, a primeira pergunta que se faz é: qual é a idade gestacional? Antes de 13 semanas é precoce, entre 13 e 22 é tardia. Dentre as causas precoces tem: • Cromossomopatias: mais comum até 9 semanas. • Infecções: ❖ Clamydia trachomatis estava presente em 4% dos abortamentos. ❖ Infecção polimicrobiana associada a doença periodontal, foi relacionada a um aumento de 2 a 4 vezes no risco de abortamento. ❖ Infecção pelo Treponema Pallidum (sífilis) no aborto tardio. • Doenças clínicas: Tuberculose, carcinomatose., diabetes mellitus, doenças da tireoide, LES, doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais. • Uso de drogas. • Exposição a toxinas. • Fatores imunológicos. • Trombofilias hereditárias: vai solicitar exames como: TTGO, TSH, Anti-TPO, TRAB... A principal trombofilia da gestação que causa pré-eclâmpsia e abortos de repetição é a SAAF, • Anomalias uterinas. • Radioterapia abdominopélvica. • Estados nutricionais extremos. • Deficiência grave de iodo: nos casos de mulheres que tiveram vários abortos com menos de 13 semanas, tem que pesquisar o iodo, suplementar insulina no caso de DM. • Traumatismo. • Fatores sociais e comportamentais: uso de drogas; pacientes que tem IST´s, por exemplo, são doenças vulneráveis a promiscuidade. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DO ABORTAMENTO ESPOTÂNEO AMEAÇA DE ABORTAMENTO• Sangramento pelo orifício vaginal fechado durante as primeiras 20 semanas + clínica de dor. Apesar disso, mesmo não ocorrendo o aborto, a paciente vai ter um risco aumentado de ter: Descolamento de placenta; placenta prévia → cesariana. Ou seja, uma complicação puxa outra. Para o bebê aumentam os riscos de ter: Restrição de crescimento, baixo peso ao nascer, ruptura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro. Quando a gestação uterina está bem desenvolvida, os níveis séricos de b- HCG devem aumentar no mínimo de 53 a 66% a cada 48 horas. Na ameaça ao abortamento vai ter o exame de USG que pode ajudar na condução. Mas, quando essa ameaça está muito no início, e não apresenta imagem na usg, faz o b-HCG quantitativo. O b-HCG 16 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre dobra de valor a cada 48 horas numa gestação que vai progredir. Então, primeiro deve-se observar o sintoma, depois faz o exame físico, e aí vai ver qual o tipo de exame que será solicitado. Se for uma gestação que passa de 6 semanas, o embrião deve estar dentro da cavidade uterina, nesse caso pode ver se tem batimentos presentes, se é um aborto retido ou está vivo em ameaça de aborto. Se está antes das 6 semanas, o b-HCG é mais viável. O b-HCG no início da gravidez tem uma ascensão entre 9 e 16 semanas, depois abaixa. Na fase ilustrada em amarelo mostra o momento em que o corpo lúteo está estimulando o trofoblasto a produzir o b-HCG. Depois de 12 semanas, começa a ter a ascensão dos outros hormônios (estrógeno e progesterona) por conta da placenta que se forma. Por isso, deve-se observar dentro das causas de abortos por endocrinopatias se tem falência ou anomalia do corpo lúteo. Pois, se há uma falência hormonal, será interessante introduzir uma medicação que possa ajudar, como por exemplo, a progesterona nas pacientes que tem essa deficiência. • Concentrações séricas de progesterona: ❖ <5 ng/ml, sugerem gestação abortada, enquanto níveis >20 ng/ml reforçam diagnóstico de gestação normal. Uma boa concentração de progesterona é acima de 20 ng/ml, se tiver menos que isso pode ser baixo e vai precisar suplementar. Isso porque, a progesterona abaixo do nível ideal é uma causa de aborto. Essa imagem ilustra os níveis de b-HCG já citados anteriormente. ULTRASSOM • Na USG, só vai ver embrião na cavidade uterina se níveis de b-HCG entre 1.500-2.000 mUI/ml. Nesse valor, já é visível o saco gestacional ou o embrião em torno de 6 semanas. • Saco gestacional (SG) em torno de 4,5 semanas. • Nos casos típicos, SG é detectado em torno de 5,5 semanas e com um diâmetro de 10 mm. • 5 a 6 semanas embrião de 1 a 2 mm. Se não conseguir observar o embrião, que mede em torno de 1-2 mm, pode ser um caso de gravidez anembrionada, gerando um aborto espontâneo. • A atividade cardíaca fetal pode ser detectada 6 a 6,5 semanas e um embrião de 1 a 5 mm e SG com 13 a 18 mm de diâmetro. • Um embrião de 5 mm sem atividade cardíaca, provavelmente esteja morto. • Ausência de embrião em SG de 16 a 20 mm sugere que o feto esteja morto. Anembrionada. A imagem da esquerda mostra um saco gestacional bem grande, não dando pra visualizar o embrião dentro. Na imagem da direita é outro tipo de ameaça de aborto visto na USG, na parte onde tem o corpo uterino, na região onde era pra estar a placenta tem uma parte preta que pode ser sangue, sugerindo um descolamento ou um hematoma que pode provocar uma perda dessa gravidez. TRATAMENTO Se for dado o diagnóstico, seja pela clínica ou pelo exame laboratorial com progesterona, ou b-HCG ou pela USG. A primeira coisa a se fazer é saber o Rh dela. Se for Rh negativo, faz imunoglobulina, pois ela sangrou e é uma ameaça ao aborto, a gravidez pode 17 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre vingar e pode ocorrer outro problema que é a sensibilização. Em seguida, deve confortar a paciente, fazer analgesia e atentar para os sinais de instabilidade (hipovolemia, pesquisar anemia). • Analgesia. • Se houver anemia ou hipovolemia significativa evacuação da cavidade uterina. • Realizar imunoglobulina anti-D. ABORTAMENTO INCOMPLETO Sangramento que ocorre depois do desprendimento parcial ou total da placenta e da dilatação do orifício cervical. No momento em que o colo uterino abre, já se configura aborto incompleto. O tratamento vai ser curetagem (embrião com mais de 12 semanas) que é feita com esses pequenos metais da imagem abaixo ou medicamentoso (nos casos que tem menos de 12 semanas; misoprostol). Em situações que tem resto, com endométrio pouco espessado pode-se observar durante 6 semanas a evolução da paciente que acaba expulsando espontaneamente esse resto de tecido que ficou. TRATAMENTO • Conduta expectante para gestantes clinicamente estáveis. • Curetagem uterina. • Esvaziamento químico. MISOPROSTOL Uma dose única de Misoprostol de 600 mg via oral é recomendada para tratamento de aborto incompleto em gestação menor que 12 semanas. A imagem ao lado fala de um estudo de 2016 que traz o uso do misoprostol em aborto incompleto com menos de 12 semanas para expulsão do resto do tecido que ficou. Essas imagens mostram as recomendações da FIGO para o uso do Misoprostol (quantidade e vezes) de acordo com a idade gestacional. No aborto com mais de 13 semanas até 20 semanas e no óbito fetal acima de 22 semanas vai usar também. Embora, o foco vai estar nos abortos precoces com menos de 13 semanas e no aborto tardio que é de acima de 13 semanas. AMIU AMIU (aspiração manual intrauterina) - sondas com seringas bem grandes que faz por aspiração. Enquanto a cureta adentra a cavidade, a sonda vai e aspira. Essa é uma outra forma de fazer o esvaziamento do corpo uterino com menos de 12 semanas. Maior que 12 semanas não faz, pois o colo é muito aberto e não consegue ter sonda suficiente para isso. Além disso, depois desse tempo, o feto já possui ossos, por isso é necessário que o feto saia para depois fazer a curetagem. 18 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre ABORTAMENTO COMPLETO Nos casos que faz a USG e vê que não ficou nenhum material, ou quando o paciente expulsa um material e o médico observa o colo fechado, possivelmente ocorreu um aborto completo. • Expulsão de todo concepto. • Orifício cervical fechado. • Endométrio minimamente espessado (menos de 15mm). • Casos duvidosos: dosagem sequencial de b-HCG. ABORTAMENTO RETIDO Ocorre quando, por algum motivo, aquela gravidez não foi adiante. A idade gestacional é alta e o útero é pequeno. Nesses casos pode fazer o uso do Misoprostol para induzir ou para abrir o colo e fazer o AMIU. • Perda ou falência gestacional precoce. ABORTAMENTO INEVITÁVEL Ocorre, por exemplo, quando a bolsa se rompe com 16 semanas, e não tem como progredir com essa gestação. • Ruptura perceptível de membranas com dilatação do colo quase sempre seguida de contrações uterinas e infecções. PROGRAMA ATENAS • Ser de Salvador ou Região Metropolitana. • Ter sofrido o aborto com até 12 semanas de gestação. • 10 a 15% dos abortos são espontâneos. 10% são não-espontâneos. • Entre 80 a 90% dos abortamentos são incompletos e cerca de 75% dos retidos vão ser esvaziados espontaneamente entre 4 e 6 semanas. É um projeto da Climério que seleciona pacientes com até 2 abortos espontâneos, que tem pequenos sangramentos, no máximo de duas cruzes, que possa acompanhar durante 6 semanas a evolução natural do aborto. Ou seja, o expelir e depois o completo. Tem casos que coloca o misoprostol para ajudar nessa questão. Caso a paciente passe das 6 semanas, pode tá indicando a curetagem. A vantagem de aguardar as 6 semanas é de nãopassar por anestesia, nem correr o risco de perfuração na da passagem da sonda uterina. O risco infeccioso é pequeno, praticamente o mesmo de quem faz a curetagem. Embora, exista situações que a mulher abortou utilizando métodos irregulares para isso e costuma a ter infecção. ABORTAMENTO SÉPTICO Infecção é a principal causa de óbito da paciente que está abortando. O principal patógeno é o Strepctococos. • 1 a 2% das mulheres com ameaça de aborto ou incompleto desenvolvem infecção pélvica e síndrome séptica. • Infecções preocupantes são as causas por Estreptococos do Grupo A – S pyogenes. QUADRO CLÍNICO • Hipertermia. • Sangramento vaginal discreto. • Dores abdominais. • Colo uterino doloroso a mobilização. • Exame especular: saída de material purulento do OE. TRATAMENTO • Administração imediata de antibióticos de amplo espectro. • Curetagem por aspiração, quando há material retido. • Cuidados devem ser prestado em UTI: ❖ Síndrome séptica grave. ❖ Lesão renal. ❖ CIVD (Coagulação Intravascular Disseminada). EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma com contagem de plaquetas. • Urina tipo I. • Coagulograma. • Hemocultura. • Cultura de secreção vaginal e do material endometrial (aeróbios e anaeróbios). • Raio X de abdome. 19 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre • Ultrassonografia pélvica transvaginal ou de abdome total. • Tomografia. É importante avaliar outros focos, como por exemplo, foco intracavitário (abcesso). Deve-se solicitar USG, raio X, muitas vezes até TC, avaliando onde está essa infecção. ABORTAMENTO ESQUEMA DE ANTIBIÓTICOS O tratamento geralmente é esquema Tríplice: vai matar pelo menos três classes dos patógenos (os anaeróbios, gram positivos e gram negativos). A Clindamicina e o Metronidazol cobrem os gram positivos e anaeróbios, e a Gentamicina cobre os gram negativos. Pode usar a Clindamicina + Gentamicina OU Metronidazol + Gentamicina associado com uma Cefazolina também para cobrir os gram positivos. E depois de fazer o antibiótico, deve-se pensar em fazer a curetagem dessa paciente por AMIU ou pelas curetas. O AMIU tem um site pra poder ver como se realiza. COMPLICAÇÕES • Perfuração uterina. • Choque séptico. • Parada cardíaca. Todos os abortos citados até agora são espotâneos (completo, incompleto e retido). Lembrar que o retido pode evoluir para infecções e levar a óbito. ABORTAMENTO DE REPETIÇÃO • Outros termos: ❖ Abortamento espontâneos de repetição. ❖ Perda gestacional repetida. ❖ Abortamento habitual. • Definição clássica: ❖ Três ou mais perdas gestacionais consecutivas com <= 20 semanas ou fetos com peso < 500 gramas (Willians). 20 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre ❖ As perdas de repetição ocorrem em até 5% das mulheres na fase reprodutiva e têm efeitos devastadores sobre a vida da mulher e da família. ❖ Em relação às mulheres com perdas gestacionais, está evidenciado o aumento do risco de aborto em gestação subsequente e nas obesas. No Climério tem um ambulatório de perdas recorrentes. Essas imagens ilustram um estudo que mostra o perfil epidemiológico dos pacientes que tiveram abortos recorrentes e a quantidade de perdas que elas já tiveram para justamente buscar ajuda. Nessa investigação são pesquisadas: ETIOLOGIA: • Anomalias cromossômicas dos pais. • SAAF. • Anormalidades uterinas. • Aloimunização (Rh negativo). • Distúrbios endócrinos: DM, tireoidiopatias. • Toxinas ambientais. • Infecções. ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS DOS GENITORES ❖ 2 a 4% das perdas gestacionais. ❖ Avaliação do cariótipo. ❖ 50% translocações recíprocas compensadas. ❖ 25% translocações robertsonianas. ❖ 12% mosaicismo do cromossomo X (síndrome Klinefelter ou 47XXY). ANORMALIDADES UTERINAS ❖ Anormalidades adquiridas: Síndrome de Asherman: são debris que ficam na cavidade uterina. Exemplo: curetagens que causaram ferimentos e cicatrizes ao endométrio. Leiomiomas uterinos: quando localizados nas proximidades do sítio da implantação da placenta, ocorrendo a não evolução da gestação. ❖ Anomalias congênitas. A formação do útero também influencia no abortamento. No útero Didelfo os ductos de Muller deveriam se unir e formar uma única cavidade, mas não foi o que ocorreu. Formou duas cavidades, dois corpos com dois orifícios e duas vaginas. Esse tipo 21 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre de útero causa mais abortamentos e partos prematuros. Útero bicorno é quando aquela paciente tem septação. Quando os ductos de Muller quase se fundiram, chega uma parte que não fundiu. Tem um formato parecido com coração. Essa imagem só mostra que tem mais chances de encontrar útero bicorno e didelfo. FATORES IMUNOLÓGICOS: • 15% entre mais de 1000 com abortos de repetição tinham fatores autoimunes. • Abortamentos são comuns em mulheres com LES. • Algumas dessas mulheres tem anticorpos antifosfolípedes. • Tem uma frequência maior de anticorpos que os controles normais. • 5 a 15% X 2 a 5%. Lembrar que, de fatores imunológicos, as pacientes que tem lúpus tem uma chance aumentada de abortamento por conta da colagenase, da associação com trombofilias. FATORES ENDÓCRINOS: • Deficiência de progesterona. ❖ Anormalidade da fase lútea. ❖ Síndrome dos ovários policísticos. • Diabetes melitus descompensado. • Deficiência grave de iodo. ABORTAMENTO ESPONTÂNEO DO SEGUNDO TRIMESTRE Todas essas questões da imagem anterior devem ser investigadas e ver a evolução desses casos para que seja possível o acompanhamento. INSUFICIÊNCIA ISTMOCERVICAL Esses abortamentos citados anteriormente são comuns até 13 semanas (que envolvem infecção, cromossomopatias, endocrinopatias). Nos abortos tardios já se tem uma outra linha (do colo que abriu, e não era pra abrir), cada vez que a gravidez vai avançando, o colo cede (abre), configurando a insuficiência istmocervical. Isso pode ocorrer por uma fragilidade do corpo ou por algum trauma anterior (curetagem), fazendo com que a fibra do colo não tenha mais tensão e abra, causando o aborto tardio. • Definida por dilatação cervical indolor no segundo trimestre. • A dilatação pode ser seguida com prolapso e abaulamento de bolsas. • Traumatismo anterior de colo uterino é um dos fatores de risco. A medida da cérvix entre 22 e 32 semanas permite realizar curva de distribuição pela obtenção de percentis. Ao chegar nas 32 semanas e o colo for de 30 é normal. Não se pode ter um colo menor que 2,5 cm, porque tem um risco aumentado para parto prematuro, a depender, se for antes de 20 semanas 22 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre e o colo abrir, está diante de uma insuficiência istmocervical. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO: • Colos de 2,5 cm são de risco, avaliar a cerclagem nesta ocasião. A depender da idade gestacional e do desejo da mãe, pode fazer a cerclagem uterina (costurar o colo), que é o que vai sustentar essa gravidez até 36/37 semanas. Temporária. Técnica definitiva. Dentre os abortos recorrentes deve-se identificar se é precoce ou tardio. A principal causa do aborto tardio é insuficiência no colo e o tratamento é a cerclagem. Se tem a história de antes e conseguir fechar, tem que cerclar o mais precoce possível. Portanto, com 12 semanas fez a morfológica do 1º trimestre, afastou mal formação, vai costurar o colo. ABORTAMENTO INDUZIDO • Interrupção clínica ou cirúrgica da gestação antes que o feto seja viável. CLASSIFICAÇÃO • Terapêutico. • Eletivo ou voluntário. A indução do aborto é legalmente permitida no Brasil somente quando necessária para salvar a vida da mulher ou quando a concepção ocorreu a partirde estupro (Código Penal, Artigos 126-129, Decreto – lei nº 2848 de 7 de dezembro e emendas em 1941)1969). REALIZAÇÃO DILATAÇÃO CERVICAL: Dilata com comprimido de Misoprostol ou sonda (dilatador), depois passa a cureta pra eliminar. ASPIRAÇÃO INTRAUTERINA: No feto maior que 12 semanas se usa o comprimido de Misoprostol pra contrair o útero, amolecer o colo para que o embrião saia, e termina com a curetagem depois que o embrião saiu. 23 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre INTRODUÇÃO A gravidez ectópica é a gravidez fora do lugar. Toda vez que pensarmos em sangramento em gestante → monitorização. A gravidez ectópica é um quadro que pode apresentar pra gente como um abdômen agudo. Ecto = fora, tópico = lugar → gravidez ectópica = gravidez fora do lugar. A gravidez que deveria acontecer dentro do útero, que tem a capacidade de aumentar, se implanta em outra localidade seja numa trompa, em um ovário, no mesentério, colo ou na cicatriz da cesárea. Então, só de imaginar o tamanho de uma trompa, que é pequena, que tem mais ou menos uns 5mm de diâmetro, vai chegar um momento que se essa gravidez crescer mais um pouco vai passar o diâmetro da trompa, vai aumentar muito e chegar no momento que essa trompa não resiste e rompe. Existe a gravidez abdominal, que ela se implanta, por exemplo, no mesentério e ela cria sua implantação na placenta em determinado local, consegue ter a vascularização e segue, mas é uma gravidez que é considerada de risco, não é uma gravidez que está em um local adequado, mesmo que tenha algumas que avancem e cheguem a termo, mas não é o ideal, são casos de risco tanto pra mãe quanto para o bebê. Denomina-se gravidez ectópica a gestação cuja implantação e desenvolvimento do ovo ocorrem fora da cavidade corporal do útero. Na imagem tem os locais possíveis de implantações e suas porcentagens. O local mais provável de se encontrar, na emergência, será a tubária. Então, vocês terão muito mais chance de abrir uma barriga por um abdômen agudo de uma gravidez ectópica e essa gravidez estar na tuba, isso não quer dizer que não estará em outros locais. Cada local terá uma conduta diferente, por exemplo, no istmo e na ovariana pode avançar até romper, por outro lado, a cervical é muito mais difícil de crescer. Além disso, o istmo, na região cervical, na região da cesárea são locais que podem sangrar mais. A gravidez tubária representa mais de 95% das ectópicas; O ovo fertilizado pode se alocar em qualquer posição da tuba uterina, dando origem às gestações tubárias. Existem fatores que podem ser na migração do útero e aí tem alguma coisa que atrapalha, uma trompa muito longa ou a tuba ser estreita demais ou as fimbrias que ficam dentro da tuba estarem danificadas por alguma DST. Às vezes os quadros de doença inflamatória pélvica podem ter infecção de qualquer região supracitada e às vezes isso danifica a anatomia. Então, ai já se tem alguns exemplos de que se pode aumentar risco para se ter uma gravidez ectópica (estenose da tuba, tuba muito longa, DIPS, fertilização). FATORES DE RISCO • Cirurgia tubária prévia; • Gravidez tubária anterior; Às vezes a tuba pode recanalizar, por exemplo, fez laqueadura tubária e de repente o organismo recanaliza e aí fica ali algum tecido que ainda tenha cicatrizes e isso favorece que ovo não consiga seguir o caminho dele e implante em um local diferente. • Ligadura tubária; • Uso atual de dispositivo intrauterino; O DIU não protege contra DST, então ele pode estar fora do lugar e o paciente não ter tanto Gravidez ectópica 24 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre conhecimento disso, o que favorece que a paciente engravide. O uso de DIU tem relação com maior risco de DSTs (lesão de fimbrias), porque as mulheres que usam DIU, na grande maioria, não usam preservativos. • História de doença inflamatória pélvica (DIP); • História de infertilidade; Porque o paciente tende a passar por fertilização e aí na hora que implanta o embrião acaba nidando no local que não era o ideal para colocarmos. • História de cervicite para clamídia ou gonococo; • Anormalidade tubária documentada; • Anticoncepção de emergência. Quando faz uso da pílula do dia seguinte, por exemplo, faz espessamento do muco e às vezes lentifica e o espermatozoide não consegue atravessar essa barreira, mas tem uns que podem vir a atravessar, e como vai aumentar o trajeto o ovo também pode ter dificuldade nessa implantação. QUADRO CLÍNICO Pode ter pacientes que tem o quadro clínico estável até pacientes que tragam o exame para o médico mostrando a gravidez. A paciente estável seria aquela paciente que sentiu a ausência menstrual, ficou na dúvida e procurou a emergência. Faz beta, USG e é visto algo que sugestivo de uma gravidez no ovário, em anexo, algo que leva a suspeita de gravidez ectópica, e, além disso, não se visualiza nada dentro do útero. Tem o outro quadro da paciente que chega instável, com um quadro por ter rompido aquela gravidez que estava em um local inadequado e ela chega com um abdômen agudo. • Sangramento do 1º trimestre; • Atraso ou irregularidade menstrual; • Dor abdominal ou pélvica que pode ser leve a lancinante; • Massa abdominal no local da rotura; • Sinal de Laffont – dor na região escapular; • Sinal de Cullen – sinal característico de equimoses azuis-pretas ao redor do umbigo; • Sinal de Blumberg – descompressão da fossa ilíaca direita do paciente; • Sinal de Proust; • Choque hipovolêmico. Então, assim como um aborto que caracterizou os sintomas iniciais e principais do paciente, como a ausência menstrual por um período seguida de sangramento e dor. Logo, se um paciente procura o médico por dor e algo mais, fixe o olhar – se tem dor e está sangrando antes de 20 semanas de gravidez → sangramento da primeira metade (aborto, gravidez ectópica ou doença molar). Buscar coisas que identifique isso. DIAGNÓSTICO Paciente que estava com atraso menstrual e depois abre o quadro de dor e sangramento, costuma dizer que vinha sangrando um pouquinho, em borra preta, e o médico ao examinar percebe que vem um abdômen agudo. Você não vai pedir exame, vai colocar na sala e abrir essa paciente, a não ser que esteja em um lugar que não tenha um cirurgião ali e aí você vai tentar com brevidade pedir uma transferência, porque se tem um sangramento interno que está causando a queixa de abdome agudo ela via chocar, e se ela choca ela para e morre. Então tem que ser uma coisa que não devemos esperar muito. Às vezes tem uma condição na gravidez ectópica que o paciente começa a sangrar muito e o organismo entende isso e tenta tamponar aquela área de sangramento. Com isso, a paciente fica parecendo que está estável e quando se abre a cavidade tem sangue. Naquelas pacientes estáveis vamos ficar em alerta e pedir: • Dosagem isolada e seriada de beta-hCG: É uma forma de ver se a gravidez está fora do lugar ou não. Conseguimos ver isso porque na gravidez tópica o beta dobra, logo se não dobra, se diminui, posso estar diante de um aborto, porém se eu tiver um valor que aumente, mas não igual a gravidez tópica (o dobro a cada 48 horas) podemos estar diante de uma gravidez ectópica; Uma paciente que está com o beta de 1.000 e não se enxerga nada no USG, então vai depender do quantitativo de beta. Obrigatoriamente tem que ver a imagem no USG e essa imagem surge quando se visualiza um saquinho gestacional com uma vesícula e na sequência um saquinho gestacional com uma vesícula e embrião e isso ocorre, mais ou menos, 25 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre entre 5-6 semanas de gravidez. Por isso quecom 1- 4 semanas pode realizar o USG e não ver nada. Gravidez viável e produtiva: quando o beta está dobrando. Então, obrigatoriamente, quando chega em 5/6 semanas de gravidez, geralmente o beta está acima de 2.000. Resumindo: • <5-6 semanas → beta HCG. ❖ Beta >2.000 → fazer USG, porque já se visualiza imagem dentro da cavidade uterina. Se não visualiza, é porque está em outro local. ❖ Beta >5.000 → se não tem nada na USG → gravidez ectópica. • 5-6 semanas → USG. Formas de detectar gravidez ectópica: laboratorial → beta-hCG QUANTITATIVO. Em uma gravidez ectópica, o beta HCG aumenta de 15 a 20% em média a cada 48 horas. • USG transvaginal; Dentro do regime do USG, pode-se também jogar o fluxo do doppler para avaliar vascularização, já que a ectópica vai ter uma vascularização daquela região que não seria dela. • Dopplerfluxometria; • Progesterona; A progesterona em uma gravidez tópica é acima de 20 ng. Menos que isso, pode-se estar diante de um aborto ou de uma gravidez que não é viável. • Culdocentese; O que se fazia antes era a culdocentese. Seria a punção do fundo do saco de Douglas e vê se vem líquido, se vem sangue um pouco coagulado, é o sangue velho, pode-se pensar que teve a rutura de algum órgão, provavelmente uma gravidez ectópica. Por exemplo, a paciente chega alegando atraso menstrual, dor, sangramento e ao palpar o abdome, é um abdome um pouco reativo; nesse caso pode estar associando uma punção de fundo de saco. É uma coisa mais antiga, hoje em dia é raro fazer por conta de o USG ser mais fácil e disponível. • Curetagem uterina; Curetagem uterina é um recurso mais utilizado em gravidez cervical, embora possa sangrar muito, terminando até em uma histerectomia. • Laparoscopia ou laparotomia: identificar o que está causando a dor ou a alteração de abdome. • Ressonância magnética: algumas situações. Tomografia não pode fazer por conta da gravidez. DIAGNÓSTICO BETA-HCG: • Beta-HCG negativo, afastar a possibilidade de PE; • Beta-HCG entre 1.500-2.000 mUI/mL, no geral, já é possível visualizar imagem de saco gestacional à USG transvaginal; • Repetir o Beta-HCG em 48h. Em 85% das gravidezes intrauterinas viáveis, o beta-HCG cresce no mínimo 66% em 48h. Um aumento de menos de 50% em 48h sugere uma gravidez não viável. Alguns pontos que o ultrassonografista vai buscar: busca pelo útero para ver se consegue identificar o ovo dentro da cavidade; não achando, ele vai procurar nos ovários. Muitas vezes pode encontrar nos anexos (ovários, trompas) uma massa sugestiva, às vezes até uma massa com saco gestacional. Além disso, no momento que olha o USG no fundo de saco é possível ver a presença de líquido, colocando no laudo ”presença de líquido livre”; esse líquido tem grandes chances de ser sangue, algo que rompeu nessa massa e está causando sangramento nessa área. 26 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre No momento em que se tem uma paciente com suspeita clínica de ectópica, pediu o beta-HCG dela e na imagem vê algo sugestivo no anexo, se o beta- HCG for menor que 2000, possa ser que a imagem no útero não surgiu ainda, podendo repetir o beta-HCG com 48 horas para ver se vai dobrar, ficar no mínimo 2000, já que com o valor de 2000 obrigatoriamente tem que ter imagem. Se por um acaso ao fazer USG e já vê um saco gestacional dentro do anexo, já fecha o diagnóstico de gravidez ectópica. Uma das coisas que é preciso observar no USG, além da presença de massa, se tem saco gestacional, deve- se ver se tem a presença de líquido livre na cavidade. DIAGNÓSTICO CIRÚRGICO: • Laparoscopia: oferece o diagnóstico adequado da suspeita de gravidez ectópica, inconclusiva à ultrassonografia. • Laparotomia: recomendada quando a mulher está hemodinamicamente instável ou a laparoscopia não está prontamente disponível. Na imagem acima é uma laparoscopia. Na parte que mostra a massa retrata uma gravidez fora do lugar. Essa massa era para estar aumentando o tamanho do útero, sendo uma gravidez ectópica que foi diagnosticado pela laparoscopia e que vai ter que ser retirado, virando o que se chama de cirurgia laparoscópica. Às vezes pode abrir a barriga – laparotomia – e se deparar com a mesma situação. Acima é um diagnóstico por ressonância, em que é identificado o útero, a placenta e a gravidez. Utiliza-se muito a ressonância mais para gravidez abdominal, porque as vezes no USG a imagem fica muito confusa, necessitando de uma RNM para identificação. TRATAMENTO • Expectante; • Medicamentoso; • Cirúrgico. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. Um dos clínicos é o expectante. É aquela paciente que tinha um beta-HCG, p. ex. de 1000, repetiu com 48 horas para ver se ia 2000 e procurar imagem no USG, mas na verdade esse 1000 começou a cair → 700 → 500. Esse quadro é de um aborto, que pode ser local (se tem dentro do útero uma decídua) ou pode ter sido um aborto tubárico, por exemplo, fez o USG, viu uma massa no anexo, ao pedir o beta-HCG quantitativo e veio 1000, podendo ser um cisto ovariano, um endometrioma etc. Depois das 48 horas se esse beta- HCG deu 2000, obrigatoriamente é preciso ver algo dentro do útero pela USG; se não ver dentro do útero, pode ser aquela massa encontrada no anexo durante a 1º USG. Se o beta-HCG está caindo, provavelmente aquela massa vista no anexo era uma gravidez ectópica que está sendo expulsa pelo próprio organismo (aborto tubário). Dessa forma, não é preciso fazer nada, apenas vigiar ambulatorialmente seguindo o beta-HCG de 7 em 7 dias até zerar esse beta-HCG. Já o medicamentoso segue alguns critérios, porque as vezes dependendo do avançar dessa gravidez ectópica não vai responder a medicação. 27 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre TRATAMENTO COM METOTREXATO PARA GRAVIDEZ ECTÓPICA: • Estabilidade hemodinâmica; • Diâmetro da massa anexial menor ou igual a 3,5 cm: Massas muito grandes não respondem bem ao remédio; o que se observa é que massas em torno de 3,5 tem menos chances de romper; caso rompa vira rota, que é sinônimo de cirurgia. • Ausência de dor abdominal intensa persistente; • Impossibilidade da paciente em realizar o acompanhamento até a resolução do tratamento; • Função hepática e renal normais: o remédio utilizado pode cursar com lesões hepáticas e renais. • Desejo de gravidez futura; • Termo de consentimento assinado. As candidatas que não podem fazer o medicamentoso, vai ter que operar. Beta-HCG de 5000 corresponderia aproximadamente a esse diâmetro de massa no seu maior diâmetro aceitável, correspondendo a aproximadamente 6 semanas de gestação. Então, tendo uma paciente que não está tendo dor persistente, fez o USG e tem uma imagem de 3,5 cm no máximo, com um beta até de 5000, essa paciente pode fazer o seguimento medicamentoso. A paciente deve voltar para fazer seguimento, já que se deve repetir o beta-HCG para ver se ela está respondendo ao remédio. • Os principais critérios para indicação do MTX são: ❖ Massa anexial com diâmetro menor que 3,5 cm; ❖ Beta-HCG < 5000 mUI/mL; ❖ Ausência de embrião vivo. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO: Existem duas formas de usar: quando é uma gravidez em um local que pode ter melhor resposta, como a tuba, a fímbria, região de abdome, costuma-se usar muito o esquema de única dose. Porém, situações no colo do útero, gravidez na cicatriz de cesárea, pode usar outro esquema, que é de múltiplas doses. O de dose única se faz 50 mg/m², então é área de superfície corporal. Primeiro se pega a calculadora, calcula o índice de massa dessa paciente, para depois dividir 50 por essa medida; o valor que deu é o valor que será aplicado. No primeiro dia da aplicação, é preciso ter o beta-HCG desse dia, pois o primeirobeta vai fazer o seguimento dos outros betas. No momento em que se usa o MTX, ele vai causar destruição de algumas células, sendo que as que serão destruídas são as que apresentam maior reprodução, pois o MTX vai competir com a região que absorveria o folato, e sem o folato não se consegue fazer as bases nitrogenadas; sem DNA não tem célula. Nesse momento a célula que mais está se reproduzindo é o trofoblasto, sendo um dos primeiros que serão atingidos, sendo esse o objetivo. Na hora que destrói esse trofoblasto vai ser liberado beta-HCG, podendo então que no 4ºdia, desde o dia que a dose foi aplicada, o beta-HCG suba seu valor. Como diferenciar se esse beta-HCG é de uma produção ou da lise do trofoblasto? Dosando novamente no 7º dia o beta. Então o beta tem que ser no dia 1, 4 (se tiver em queda melhor ainda, está agindo bem. Se estiver aumentando não quer dizer que é falha de tratamento) e por fim no dia 7; no dia 7 precisa baixar, sendo a relação do dia 1 com o dia 7 uma relação de diminuição. Caso não tenha diminuição, é porque não respondeu ao tratamento. Entre os dias 4 e 7 cai em torno de 15%. Lembrando que a paciente tem que ficar alerta a sinais de hipotensão e também não deve tomar sol, pois aumenta a pigmentação, além de evitar folhas verde escuras porque interfere na ação do MTX. • Dosagem de Beta-HCG: ❖ D0, D4 e D7; ❖ Necessário queda mínima de 15% entre dosagens de beta-HCG entre D4 e D7, para considerar tratamento efetivo. 28 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre TRATAMENTO CIRÚRGICO: Pode ser a retirada da trompa (salpingectomia) ou abrir a trompa, retira a gravidez e fecha novamente (salpingostomia); a salpingostomia é mais difícil de ser feita, podendo ter mais cicatriz e voltar com gravidez ectópica no mesmo local. Acima está descrita mais ou menos a forma de como caminhar no tratamento (leu o fluxograma). DOENÇA TROFOBLÁSTICA GESTACIONAL Observou-se que tinham gravidezes que a mulher começava a sangrar muito precocemente, a barriga e o fundo de útero iam aumentando, e elas começavam a expelir um material em forma de vesículas. Então, começaram a estudar esse tipo de patologia e deu-se o nome de mola por conta desses cachos que eram formados. A placenta não consegue formar o tecido dela de placenta, começa a formar essas vesículas cheias de sangue, que não possuem um bom funcionamento e que acaba tendo um comportamento de reprodução acentuada, multiplicação celular rápida com invasão. Uma das complicações da doença trofoblástica gestacional benigna é que pode se malignizar (raríssimos casos). Devemos observar se possui sangramento, posteriormente, pedir o BHCG (pode ter valores muito altos, passando de 2000) e o embrião não será visto e vai ser visto a imagem de cachos de uva no USG, fechando o diagnóstico de mola e sendo necessário o esvaziamento da cavidade. • Mola hidatiforme (parcial ou completa). Na completa o tecido é todo em vesícula, já na parcial, parte da placenta é formada por vesículas e a outra parte é funcionante e o embrião também. • Mola invasora. Quando não se trata, a paciente pode apresentar quadros como crise tireotóxica, pelo excesso de BHCG (é muito elevado, chegando a 100.000- 200.000). Se não for eliminado, causa sangramento e óbito nessa paciente ou até o material começa a se comportar como se fosse um câncer, podendo inserir na parte de músculo, formando a chamada de mola invasora, que terminaria com histerectomia (depende do estadiamento). COMPLICAÇÕES: • Coriocarcinoma: tumoração maligna. • Tumor trofoblástico do sítio placentário. • Tumor trofoblástico epitelióide. Ao ser vista uma paciente com mola no ultrassom, bem no início, é feita uma curetagem e fica acompanhando o BHCG que deve se manter negativo por 1 ano, estando, a partir disso, autorizada a preparar uma gravidez de novo se ela quiser. 29 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre MOLA HIDATIFORME COMPLETA O branco é o óvulo e o cinza é o espermatozoide. Após ocorrer a fecundação, por algum motivo, desconhecido, o óvulo rejeita o espermatozóide e tem seu material degradado no meio. A partir disso, o material genético do espermatozóide se duplica para ficar autossuficiente, se transformando no 46XX (diploide). Não é o material do 23 do pai com 23 da mãe, formando 46XX, é de uma duplicação desse material do espermatozóide, começando toda divisão e assim segue. No entanto, na hora de formar o embrião que deveria, vai formar apenas as vesículas, que é a mola completa. A origem cromossômica da mola completa é paterna! A materna não tem origem nenhuma. MOLA HIDATIFORME PARCIAL Nesse caso, fecunda com 2 espermatozóides, ficando dois materiais do espermatozóide associado a um material materno, formando um triploide (66XXY). USG: imagem com vários pontos pretos que seria o líquido dentro, representando o sangue dentro das vesículas. O estimulo para o ovário é tão grande, pela quantidade de beta que começa a formar os cistos tecaluteínicos (imagem inferior esquerda), bilateralmente. Os cistos não devem ser retirados, porque ao tratar a patologia mola, esses cistos involuirão. Pode ter crises hipertensivas (inclusive pré-eclâmpsia) por uma crise tireotóxica, porque a presença do beta em excesso vai confundir a hipófise, achando que é fração do hormônio tireoideano, evoluindo para um hipertireoidismo, causando a crise tireotóxica. Logo, quando se tem uma gestação molar, ela pode avançar, chegando a 20 semanas. Hoje com o evento do USG, é difícil ver úteros tão grandes com cistos tecaluteínicos, é menos comum, porque logo no início quando tem ausência menstrual, a paciente corre para fazer um beta ou uma USG. Quando essa USG é feita, pode identificar um pequeno material desse, numa gestação bem inicial ainda, encaminhando para um tratamento que seria através do AMIU. Na imagem de USG, se não forma mola, provavelmente vai formar uma gravidez tópica. 30 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – 8º semestre A gestação gemelar já é outra característica, tem o material genético da mãe e do pai e na hora da divisão celular, divide de uma forma muito rápida, formando 2 embriões que é a monocoriônica ou monoamniótica. Se for dicoriônica ou diamniótica, teremos um espermatozóide para um óvulo, ou seja, carga genética materna e paterna e outro espermatozoide e outro óvulo (material genético materno e paterno). Cada uma dessas cargas genéticas formam os 2 embriões, caracterizando a gravidez gemelar. Essa imagem mostra que a evolução da moléstia trofoblástica gestacional não é somente presente na gestação molar. Às vezes, em uma gestação normal pode ter situações de ter uma gravidez de mola parcial, a gente não saber e lá na frente evoluir para uma situação dessa. No entanto, é mais raro. Logo, gestações normais, é muito raro (1:40000) evoluir para coriocarcinoma. O coriocarcinoma é uma complicação de qualquer gravidez, sendo mais comum na molar. FATORES DE RISCO • Idade materna (avançada); • Antecedente de mola hidatiforme; • Infecções virais; • Estado nutricional; • Defeito das células germinativas; • Paridade (multíparas); • Consanguinidade; • Contracepção oral; • Influência do meio ambiente. QUADRO CLÍNICO • Sangramento vaginal; • Atraso menstrual; • Dores abdominais, geralmente localizadas no hipogástrio; • Vômitos (hiperêmese gravídica) - pelo estímulo do beta em excesso; • Eliminação espontânea de vesículas é indício patognomônico; • Ao exame físico o aumento do útero pode ser maior que o esperado para a idade gestacional e BCF ausentes; • DHEG antes de 20 semanas, podendo evoluir para a eclâmpsia; • Hipertireoidismo. • Cistos ovarianos (tecaluteínicos).
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