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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 INTRODUÇÃO • Mundialmente, o sangramento está entre as primeiras causas de mortalidade materna. • Os sangramentos podem estar presentes tanto na gestação quanto no puerpério. • Gestação: São divididos em: primeira metade (até 20 semanas de gravidez) e segunda metade (20 semanas até termo). • Quando se fala de sangramento da primeira metade, existem 3 patologias de fundamental importância, são elas: aborto (gravidez no local, não evolui), gravidez ectópica (fora do local, seja trompa, mesentério, ovário) e gravidez molar. Sangramentos da primeira metade, segunda metade, pós parto e ginecológicos. Quando chega uma paciente com sangramento, a primeira coisa que precisa ser avaliada é a hemodinâmica. Ao atender uma mulher sangrando, questionar: está grávida ou não está grávida? Se não estiver, vai pros sangramentos relacionados a ginecologia. Estava grávida e já pariu? Pensar em hemorragia pós- parto. Lembrar que existem patologias específicas da gestação que também causam morte, como por exemplo a gravidez ectópica, que pode levar a um quadro de abdome agudo. • 10 a 15% das gestações apresentam hemorragias. CLASSIFICAÇÃO PRIMEIRA METADE DA GESTAÇÃO • Abortamento. • Gravidez ectópica: gravidez fora do local. • Neoplasia trofoblástica gestacional benigna (mola hidatiforme): patologia de divisão celular do cromossomo. Às vezes tem uma formação diferente da placenta. Quando não cuidada, pode avançar, e até se malignizar. • Descolamento corioamniótico: dentro da parte de ameaça de aborto. Corio é a placenta no início da sua criação. É diferente do descolamento de placenta (quadro grave). Ter cuidado com a palavra descolamento, porque na segunda metade tem o descolamento prematuro da placenta como causa. Quando se tem menos de 22 semanas de gestação, não se tem viabilidade (chance de sobreviver ao parto) pra aquele bebê. A partir de 22 semanas (dentro da segunda metade da gestação) já é possível ter essa viabilidade. SEGUNDA METADE DA GESTAÇÃO • Placenta prévia. • Descolamento prematuro da placenta. • Rotura uterina. • Vasa prévia. Outras causas são: relacionada a sangramento ginecológico - cervicites, pólipo endocervical, ectrópio, câncer de colo uterino, trauma vaginal (laceração por relação sexual), sangramento do colo durante o trabalho de parto (prematuro ou não) na segunda metade da gestação. Lembrete: se fala em feto a partir de 9 semanas. Feto viável é, provavelmente, a partir de 24 semanas. ABORTAMENTO Sangramento da primeira metade da gestação que é uma das causas de morte materna. Em 2012, tinham 143 mortes para cada 100.000 nascidos vivos. Hoje, é em torno de 60-70, mesmo 10 anos depois. Então, é necessário trabalhar situações que diminua isso Em 2015, o objetivo era de chegar a 35 mortes maternas por 100.000 nascidos vivos, o que não foi alcançado. Sangramento da primeira metade da gestação 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 Objetivos de desenvolvimento sustentável Lembrete: Observação: No Brasil, a principal causa de morte materna é hipertensão. No mundo, sangramento. • Atualmente a razão de morte materna global situa-se em torno de 210 mortes por 100 mil nascidos vivos. • Meta: chegar a 70 mortes por 100 mil NV. • No Brasil, a meta para 2030 é reduzir a mortalidade materna para aproximadamente 20 mortes para cada 100 mil nascidos vivos. Em 2012, os cinco primeiros grupos de causa materna foram: hipertensão, hemorragia, infecção puerperal, doenças do sistema circulatório complicada por GPP. No período de 1990 a 2021 diminuiu o risco de morrer por: aborto (82%), hemorragia (72%), hipertensão (69%), infecção puerperal (63%), doenças do sistema circulatório complicada por GPP (25%). • No Brasil, persiste uma importante subnotificação das mortes por aborto, já que muitos óbitos devido à septicemia e hemorragia decorrentes de complicações de abortamentos não são devidamente computados. • O aborto realizado de forma insegura, em contextos de ilegalidade, tal qual a situação brasileira, resulta em graves consequências para a sociedade, pos afeta a saúde da mulher, com elevada morbidade e mortalidade. No Brasil não tem a legalização do aborto, mas determinadas situações permitem a realização. Estudo que fala em relação as áreas que ocorre mais aborto. Risco de morte, morte materna, sangramento e infecção estão dentro da questão do abortamento. CONCEITO • Interrupção espontânea ou induzida (uso de medicação ou procedimento) da gravidez antes que o feto seja viável. Em relação ao tempo, é viável entre 20 e 22 semanas mais ou menos, podendo avaliar a partir de outros fatores, como peso e altura, por exemplo. • ¨Interrupção da gravidez antes de 20 semanas de gestação, ou quando o feto pesa menos de 500g, ou 16,5 cm¨. OMS. É importante diferenciar o aborto do natimorto. Exemplo: se o bebê que nasceu tem mais de 20 semanas, mais de 500 g ou mais de 16,5cm, teoricamente, ele tem que ter declaração de óbito. Se ele tem declaração de óbito, ele tem direito a herança. Se determinada pessoa teve 2 casamentos com 2 filhos no primeiro e um natimorto no segundo, a herança tem que ser dividida entre todos os filhos. O produto da concepção eliminado no processo de abortamento é chamado ABORTO. CLASSIFICAÇÃO O aborto é dividido em algumas formas clínicas, assim como pela questão do tempo. O abortamento pode ser: • Precoce: quando ocorre até a 13º semana. • Tardio: quando ocorre entre 13º e 22º semana. *20 semanas (Zugaib). É importante saber quando foi aborto precoce e quando foi tardio, justamente pra saber quais as causas que levaram a esse aborto, principalmente no espontâneo. Existem paciente que abortam 1-3 vezes, sendo classificadas como aborto de recorrência. Tem que identificar o que levou a repetição desses abortos para que a mulher possa ter um filho. • Abortamento espontâneo: acontece por alguma situação que necessita ser investigada. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 ❖ Ameaça de abortamento. ❖ Inevitável. ❖ Incompleto. ❖ Completo. ❖ Retido. • Abortamento de repetição. • Abortamento provocado. Existem situações mais presentes no aborto precoce e outras mais frequentes no aborto tardio. Aborto legal é quando ele é legalmente permitido do ponto de vista judicial, como por exemplo vítima de estupro. Os abortos espontâneos tem as seguintes formas clínicas, dependendo do exame clínico. • Ameaça de aborto: feto com menos de 20 semanas que ainda tá vivo após sangramento. Nestes casos, a paciente vai chegar com a queixa de dor (presente praticamente o tempo inteiro na gestação – distensão do útero) e perda de sangue. Colo fechado com feto vivo. Dor isolada é diferente de uma dor com sangramento, dor que não melhora com medicação. O tempo todo tem que dividir em <20 semanas ou >20 semanas. É importante palpar o útero e avaliar o colo. Quando o bebê tem mais de 12 semanas, teoricamente, se consegue auscultar com o sonar. • Aborto inevitável: Se o colo está pérvio, o aborto pode ser inevitável (ainda dá pra ouvir batimentos cardíacos do bebê, mas já rompeu a bolsa). Tem situações em que o feto já está passando pelo canal. • Aborto incompleto: situações em que o material foi eliminado, mas ainda tem uma quantidade. • Aborto completo: quando o material foi eliminado inteiro. Exemplo: gravidez local, primeira metade, queixa de dor e sangramento → pensar em aborto. A partir daí, é preciso avaliar o colo: colo fechado → ameaça de aborto (sangue mais avermelhado, analisar presença de BCF) ou aborto retido (que já ocorreu há algum tempo, o feto tá morto, mas o colo fechou) ou completo(ele expulsa tudo e o colo fecha também). A diferenciação vai ocorrer por meios da história. Se a paciente fala que tá sangrando um pouquinho, e ao fazer o toque, o colo está fechado, além da presença de BCF, embrião vivo visto na USG → ameaça de aborto. Se tentou auscultar o feto e não conseguiu ou pediu uma USG e não viu a presença do embrião → aborto completo. Uma coisa que chama muita atenção no aborto retido é que o fundo do útero é menor para idade (é como se fizesse o cálculo pela DUM ou IG através da 1º USG, fosse esperado 16 semanas, mas não fosse possível palpar direito, ou seja, ele não acompanha o crescimento, não tem como ouvir o feto). Nestes casos, a paciente costuma contar que sangrou e depois parou. Nos casos do aborto completo, a paciente conta que sangrou muito, e às vezes, até leva o material pra análise do médico. Colo fechado ao toque. Em suma, clinicamente o aborto completo é colo fechado, sangramento de grande volume com saída de material. No incompleto, o colo está aberto. No infeccioso, tem sinais de infecção. O inevitável é aquele que o material tá saindo. Colo pérvio significa aborto incompleto. ABORTAMENTOS ESPOTÂNEOS DO PRIMEIRO TRIMESTRE Os abortos espontâneos podem ser divididos em abortos precoces (até 13 semanas) e abortos tardios. Dentre os precoces: • 80% ocorrem nas primeiras 12 semanas. • 50% das perdas gestacionais são anembrionadas. Exemplo: 1 aborto somente durante a vida reprodutiva da mulher é considerado normal, ocorre na maioria. Mas, se isso ocorrer pela 2ª ou 3ª vez, já não é mais normal. Então, quando é apenas 1 aborto, principalmente quando é precoce (menos de 13 semanas), não se investiga. Mas, se no caso for o 3º aborto precoce, tem que investigar as causas. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 A maioria dos abortamentos ocorrem nas 12 semanas de gravidez e 50 a 80% apresentam alterações cromossômicas. Em até 9 semanas, que é quando ocorre a formação do embrião, depois disso passa a ser feto, pensa-se que as causas são as alterações cromossômicas que fez com que esse embrião não sobrevivesse ou não se formasse. As principais alterações cromossômicas que se pode ter são: Euploides (46, XY e 46 XX), aneuploidias (trissomias, monossomias, tetraploidias) e anembrionadas (não formou embrião). FATORES DE RISCO Quando tem que fazer diagnóstico diferencial, e tem lá: “aborto espontâneo”, a primeira pergunta que se faz é: qual é a idade gestacional? Antes de 13 semanas é precoce, entre 13 e 22 é tardia. Dentre as causas precoces tem: • Cromossomopatias: mais comum até 9 semanas. • Infecções: ❖ Clamydia trachomatis estava presente em 4% dos abortamentos. ❖ Infecção polimicrobiana associada a doença periodontal, foi relacionada a um aumento de 2 a 4 vezes no risco de abortamento. ❖ Infecção pelo Treponema Pallidum (sífilis) no aborto tardio. • Doenças clínicas: Tuberculose, carcinomatose., diabetes mellitus, doenças da tireoide, LES, doença celíaca, doenças inflamatórias intestinais. • Uso de drogas. • Exposição a toxinas. • Fatores imunológicos. • Trombofilias hereditárias: vai solicitar exames como: TTGO, TSH, Anti-TPO, TRAB... A principal trombofilia da gestação que causa pré-eclâmpsia e abortos de repetição é a SAAF, • Anomalias uterinas. • Radioterapia abdominopélvica. • Estados nutricionais extremos. • Deficiência grave de iodo: nos casos de mulheres que tiveram vários abortos com menos de 13 semanas, tem que pesquisar o iodo, suplementar insulina no caso de DM. • Traumatismo. • Fatores sociais e comportamentais: uso de drogas; pacientes que tem IST´s, por exemplo, são doenças vulneráveis a promiscuidade. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DO ABORTAMENTO ESPOTÂNEO AMEAÇA DE ABORTAMENTO • Sangramento pelo orifício vaginal fechado durante as primeiras 20 semanas + clínica de dor. Apesar disso, mesmo não ocorrendo o aborto, a paciente vai ter um risco aumentado de ter: Descolamento de placenta; placenta prévia → cesariana. Ou seja, uma complicação puxa outra. Para o bebê aumentam os riscos de ter: Restrição de crescimento, baixo peso ao nascer, ruptura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro. Quando a gestação uterina está bem desenvolvida, os níveis séricos de b- HCG devem aumentar no mínimo de 53 a 66% a cada 48 horas. Na ameaça ao abortamento vai ter o exame de USG que pode ajudar na condução. Mas, quando essa ameaça está muito no início, e não apresenta imagem na usg, faz o b-HCG quantitativo. O b-HCG 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 dobra de valor a cada 48 horas numa gestação que vai progredir. Então, primeiro deve-se observar o sintoma, depois faz o exame físico, e aí vai ver qual o tipo de exame que será solicitado. Se for uma gestação que passa de 6 semanas, o embrião deve estar dentro da cavidade uterina, nesse caso pode ver se tem batimentos presentes, se é um aborto retido ou está vivo em ameaça de aborto. Se está antes das 6 semanas, o b-HCG é mais viável. O b-HCG no início da gravidez tem uma ascensão entre 9 e 16 semanas, depois abaixa. Na fase ilustrada em amarelo mostra o momento em que o corpo lúteo está estimulando o trofoblasto a produzir o b-HCG. Depois de 12 semanas, começa a ter a ascensão dos outros hormônios (estrógeno e progesterona) por conta da placenta que se forma. Por isso, deve-se observar dentro das causas de abortos por endocrinopatias se tem falência ou anomalia do corpo lúteo. Pois, se há uma falência hormonal, será interessante introduzir uma medicação que possa ajudar, como por exemplo, a progesterona nas pacientes que tem essa deficiência. • Concentrações séricas de progesterona: ❖ <5 ng/ml, sugerem gestação abortada, enquanto níveis >20 ng/ml reforçam diagnóstico de gestação normal. Uma boa concentração de progesterona é acima de 20 ng/ml, se tiver menos que isso pode ser baixo e vai precisar suplementar. Isso porque, a progesterona abaixo do nível ideal é uma causa de aborto. Essa imagem ilustra os níveis de b-HCG já citados anteriormente. ULTRASSOM • Na USG, só vai ver embrião na cavidade uterina se níveis de b-HCG entre 1.500-2.000 mUI/ml. Nesse valor, já é visível o saco gestacional ou o embrião em torno de 6 semanas. • Saco gestacional (SG) em torno de 4,5 semanas. • Nos casos típicos, SG é detectado em torno de 5,5 semanas e com um diâmetro de 10 mm. • 5 a 6 semanas embrião de 1 a 2 mm. Se não conseguir observar o embrião, que mede em torno de 1-2 mm, pode ser um caso de gravidez anembrionada, gerando um aborto espontâneo. • A atividade cardíaca fetal pode ser detectada 6 a 6,5 semanas e um embrião de 1 a 5 mm e SG com 13 a 18 mm de diâmetro. • Um embrião de 5 mm sem atividade cardíaca, provavelmente esteja morto. • Ausência de embrião em SG de 16 a 20 mm sugere que o feto esteja morto. Anembrionada. A imagem da esquerda mostra um saco gestacional bem grande, não dando pra visualizar o embrião dentro. Na imagem da direita é outro tipo de ameaça de aborto visto na USG, na parte onde tem o corpo uterino, na região onde era pra estar a placenta tem uma parte preta que pode ser sangue, sugerindo um descolamento ou um hematoma que pode provocar uma perda dessa gravidez. TRATAMENTO Se for dado o diagnóstico, seja pela clínica ou pelo exame laboratorial com progesterona, ou b-HCG ou pela USG. A primeira coisa a se fazer é saber o Rh dela. Se for Rh negativo, faz imunoglobulina, pois ela sangrou e é uma ameaça ao aborto, a gravidez pode 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 vingar e pode ocorrer outro problema que é a sensibilização. Em seguida, deve confortar a paciente, fazer analgesia e atentar para os sinaisde instabilidade (hipovolemia, pesquisar anemia). • Analgesia. • Se houver anemia ou hipovolemia significativa evacuação da cavidade uterina. • Realizar imunoglobulina anti-D. ABORTAMENTO INCOMPLETO Sangramento que ocorre depois do desprendimento parcial ou total da placenta e da dilatação do orifício cervical. No momento em que o colo uterino abre, já se configura aborto incompleto. O tratamento vai ser curetagem (embrião com mais de 12 semanas) que é feita com esses pequenos metais da imagem abaixo ou medicamentoso (nos casos que tem menos de 12 semanas; misoprostol). Em situações que tem resto, com endométrio pouco espessado pode-se observar durante 6 semanas a evolução da paciente que acaba expulsando espontaneamente esse resto de tecido que ficou. TRATAMENTO • Conduta expectante para gestantes clinicamente estáveis. • Curetagem uterina. • Esvaziamento químico. MISOPROSTOL Uma dose única de Misoprostol de 600 mg via oral é recomendada para tratamento de aborto incompleto em gestação menor que 12 semanas. A imagem ao lado fala de um estudo de 2016 que traz o uso do misoprostol em aborto incompleto com menos de 12 semanas para expulsão do resto do tecido que ficou. Essas imagens mostram as recomendações da FIGO para o uso do Misoprostol (quantidade e vezes) de acordo com a idade gestacional. No aborto com mais de 13 semanas até 20 semanas e no óbito fetal acima de 22 semanas vai usar também. Embora, o foco vai estar nos abortos precoces com menos de 13 semanas e no aborto tardio que é de acima de 13 semanas. AMIU AMIU (aspiração manual intrauterina) - sondas com seringas bem grandes que faz por aspiração. Enquanto a cureta adentra a cavidade, a sonda vai e aspira. Essa é uma outra forma de fazer o esvaziamento do corpo uterino com menos de 12 semanas. Maior que 12 semanas não faz, pois o colo é muito aberto e não consegue ter sonda suficiente para isso. Além disso, depois desse tempo, o feto já possui ossos, por isso é necessário que o feto saia para depois fazer a curetagem. 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 ABORTAMENTO COMPLETO Nos casos que faz a USG e vê que não ficou nenhum material, ou quando o paciente expulsa um material e o médico observa o colo fechado, possivelmente ocorreu um aborto completo. • Expulsão de todo concepto. • Orifício cervical fechado. • Endométrio minimamente espessado (menos de 15mm). • Casos duvidosos: dosagem sequencial de b-HCG. ABORTAMENTO RETIDO Ocorre quando, por algum motivo, aquela gravidez não foi adiante. A idade gestacional é alta e o útero é pequeno. Nesses casos pode fazer o uso do Misoprostol para induzir ou para abrir o colo e fazer o AMIU. • Perda ou falência gestacional precoce. ABORTAMENTO INEVITÁVEL Ocorre, por exemplo, quando a bolsa se rompe com 16 semanas, e não tem como progredir com essa gestação. • Ruptura perceptível de membranas com dilatação do colo quase sempre seguida de contrações uterinas e infecções. PROGRAMA ATENAS • Ser de Salvador ou Região Metropolitana. • Ter sofrido o aborto com até 12 semanas de gestação. • 10 a 15% dos abortos são espontâneos. 10% são não-espontâneos. • Entre 80 a 90% dos abortamentos são incompletos e cerca de 75% dos retidos vão ser esvaziados espontaneamente entre 4 e 6 semanas. É um projeto da Climério que seleciona pacientes com até 2 abortos espontâneos, que tem pequenos sangramentos, no máximo de duas cruzes, que possa acompanhar durante 6 semanas a evolução natural do aborto. Ou seja, o expelir e depois o completo. Tem casos que coloca o misoprostol para ajudar nessa questão. Caso a paciente passe das 6 semanas, pode tá indicando a curetagem. A vantagem de aguardar as 6 semanas é de não passar por anestesia, nem correr o risco de perfuração na da passagem da sonda uterina. O risco infeccioso é pequeno, praticamente o mesmo de quem faz a curetagem. Embora, exista situações que a mulher abortou utilizando métodos irregulares para isso e costuma a ter infecção. ABORTAMENTO SÉPTICO Infecção é a principal causa de óbito da paciente que está abortando. O principal patógeno é o Strepctococos. • 1 a 2% das mulheres com ameaça de aborto ou incompleto desenvolvem infecção pélvica e síndrome séptica. • Infecções preocupantes são as causas por Estreptococos do Grupo A – S pyogenes. QUADRO CLÍNICO • Hipertermia. • Sangramento vaginal discreto. • Dores abdominais. • Colo uterino doloroso a mobilização. • Exame especular: saída de material purulento do OE. TRATAMENTO • Administração imediata de antibióticos de amplo espectro. • Curetagem por aspiração, quando há material retido. • Cuidados devem ser prestado em UTI: ❖ Síndrome séptica grave. ❖ Lesão renal. ❖ CIVD (Coagulação Intravascular Disseminada). EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma com contagem de plaquetas. • Urina tipo I. • Coagulograma. • Hemocultura. • Cultura de secreção vaginal e do material endometrial (aeróbios e anaeróbios). • Raio X de abdome. 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 • Ultrassonografia pélvica transvaginal ou de abdome total. • Tomografia. É importante avaliar outros focos, como por exemplo, foco intracavitário (abcesso). Deve-se solicitar USG, raio X, muitas vezes até TC, avaliando onde está essa infecção. ABORTAMENTO ESQUEMA DE ANTIBIÓTICOS O tratamento geralmente é esquema Tríplice: vai matar pelo menos três classes dos patógenos (os anaeróbios, gram positivos e gram negativos). A Clindamicina e o Metronidazol cobrem os gram positivos e anaeróbios, e a Gentamicina cobre os gram negativos. Pode usar a Clindamicina + Gentamicina OU Metronidazol + Gentamicina associado com uma Cefazolina também para cobrir os gram positivos. E depois de fazer o antibiótico, deve-se pensar em fazer a curetagem dessa paciente por AMIU ou pelas curetas. O AMIU tem um site pra poder ver como se realiza. COMPLICAÇÕES • Perfuração uterina. • Choque séptico. • Parada cardíaca. Todos os abortos citados até agora são espotâneos (completo, incompleto e retido). Lembrar que o retido pode evoluir para infecções e levar a óbito. ABORTAMENTO DE REPETIÇÃO • Outros termos: ❖ Abortamento espontâneos de repetição. ❖ Perda gestacional repetida. ❖ Abortamento habitual. • Definição clássica: ❖ Três ou mais perdas gestacionais consecutivas com <= 20 semanas ou fetos com peso < 500 gramas (Willians). 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 ❖ As perdas de repetição ocorrem em até 5% das mulheres na fase reprodutiva e têm efeitos devastadores sobre a vida da mulher e da família. ❖ Em relação às mulheres com perdas gestacionais, está evidenciado o aumento do risco de aborto em gestação subsequente e nas obesas. No Climério tem um ambulatório de perdas recorrentes. Essas imagens ilustram um estudo que mostra o perfil epidemiológico dos pacientes que tiveram abortos recorrentes e a quantidade de perdas que elas já tiveram para justamente buscar ajuda. Nessa investigação são pesquisadas: ETIOLOGIA: • Anomalias cromossômicas dos pais. • SAAF. • Anormalidades uterinas. • Aloimunização (Rh negativo). • Distúrbios endócrinos: DM, tireoidiopatias. • Toxinas ambientais. • Infecções. ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS DOS GENITORES ❖ 2 a 4% das perdas gestacionais. ❖ Avaliação do cariótipo. ❖ 50% translocações recíprocas compensadas. ❖ 25% translocações robertsonianas. ❖ 12% mosaicismo do cromossomo X (síndrome Klinefelter ou 47XXY). ANORMALIDADES UTERINAS ❖ Anormalidades adquiridas: Síndrome de Asherman: são debris que ficam na cavidade uterina. Exemplo: curetagens que causaram ferimentos e cicatrizes ao endométrio. Leiomiomas uterinos:quando localizados nas proximidades do sítio da implantação da placenta, ocorrendo a não evolução da gestação. ❖ Anomalias congênitas. A formação do útero também influencia no abortamento. No útero Didelfo os ductos de Muller deveriam se unir e formar uma única cavidade, mas não foi o que ocorreu. Formou duas cavidades, dois corpos com dois orifícios e duas vaginas. Esse tipo 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 de útero causa mais abortamentos e partos prematuros. Útero bicorno é quando aquela paciente tem septação. Quando os ductos de Muller quase se fundiram, chega uma parte que não fundiu. Tem um formato parecido com coração. Essa imagem só mostra que tem mais chances de encontrar útero bicorno e didelfo. FATORES IMUNOLÓGICOS: • 15% entre mais de 1000 com abortos de repetição tinham fatores autoimunes. • Abortamentos são comuns em mulheres com LES. • Algumas dessas mulheres tem anticorpos antifosfolípedes. • Tem uma frequência maior de anticorpos que os controles normais. • 5 a 15% X 2 a 5%. Lembrar que, de fatores imunológicos, as pacientes que tem lúpus tem uma chance aumentada de abortamento por conta da colagenase, da associação com trombofilias. FATORES ENDÓCRINOS: • Deficiência de progesterona. ❖ Anormalidade da fase lútea. ❖ Síndrome dos ovários policísticos. • Diabetes melitus descompensado. • Deficiência grave de iodo. ABORTAMENTO ESPONTÂNEO DO SEGUNDO TRIMESTRE Todas essas questões da imagem anterior devem ser investigadas e ver a evolução desses casos para que seja possível o acompanhamento. INSUFICIÊNCIA ISTMOCERVICAL Esses abortamentos citados anteriormente são comuns até 13 semanas (que envolvem infecção, cromossomopatias, endocrinopatias). Nos abortos tardios já se tem uma outra linha (do colo que abriu, e não era pra abrir), cada vez que a gravidez vai avançando, o colo cede (abre), configurando a insuficiência istmocervical. Isso pode ocorrer por uma fragilidade do corpo ou por algum trauma anterior (curetagem), fazendo com que a fibra do colo não tenha mais tensão e abra, causando o aborto tardio. • Definida por dilatação cervical indolor no segundo trimestre. • A dilatação pode ser seguida com prolapso e abaulamento de bolsas. • Traumatismo anterior de colo uterino é um dos fatores de risco. A medida da cérvix entre 22 e 32 semanas permite realizar curva de distribuição pela obtenção de percentis. Ao chegar nas 32 semanas e o colo for de 30 é normal. Não se pode ter um colo menor que 2,5 cm, porque tem um risco aumentado para parto prematuro, a depender, se for antes de 20 semanas 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências obstétricas – Aula 10 e o colo abrir, está diante de uma insuficiência istmocervical. AVALIAÇÃO E TRATAMENTO: • Colos de 2,5 cm são de risco, avaliar a cerclagem nesta ocasião. A depender da idade gestacional e do desejo da mãe, pode fazer a cerclagem uterina (costurar o colo), que é o que vai sustentar essa gravidez até 36/37 semanas. Temporária. Técnica definitiva. Dentre os abortos recorrentes deve-se identificar se é precoce ou tardio. A principal causa do aborto tardio é insuficiência no colo e o tratamento é a cerclagem. Se tem a história de antes e conseguir fechar, tem que cerclar o mais precoce possível. Portanto, com 12 semanas fez a morfológica do 1º trimestre, afastou mal formação, vai costurar o colo. ABORTAMENTO INDUZIDO • Interrupção clínica ou cirúrgica da gestação antes que o feto seja viável. CLASSIFICAÇÃO • Terapêutico. • Eletivo ou voluntário. A indução do aborto é legalmente permitida no Brasil somente quando necessária para salvar a vida da mulher ou quando a concepção ocorreu a partir de estupro (Código Penal, Artigos 126-129, Decreto – lei nº 2848 de 7 de dezembro e emendas em 1941)1969). REALIZAÇÃO DILATAÇÃO CERVICAL: Dilata com comprimido de Misoprostol ou sonda (dilatador), depois passa a cureta pra eliminar. ASPIRAÇÃO INTRAUTERINA: No feto maior que 12 semanas se usa o comprimido de Misoprostol pra contrair o útero, amolecer o colo para que o embrião saia, e termina com a curetagem depois que o embrião saiu.
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