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GENÉTICA EVOLUTIVA

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GENÉTICA EVOLUTIVA 
A AQUARELA DA ESPÉCIE HUMANA
Há aproximadamente 160 mil anos houve o surgimento dos primatas humanos. Isso só foi possível a partir da evolução de uma linhagem de primatas bem mais antiga, datada de 6 milhões de anos, subdividindo-se em chimpanzés, nas florestas tropicais do noroeste da África, e em uma segunda que se adaptou em meio a savana do lado leste e deu origem aos Homo sapiens 200 mil anos após os primeiros ancestrais de primatas humanos. Através de várias evidências minuciosas como fósseis, achados arqueológicos e análises moleculares o consenso de que o homem moderno emergiu da África foi estabelecido, originando todos os povos que são conhecidos hoje. Estando entre 8 mil gerações estimadas, evoluiu ao longo do tempo, passando a ocupar várias regiões por via de diversas características próprias, facilitado pela ausência de predadores e de espécies competidoras (SANTOS, 2014).
Por meio desse grande espaço temporal, o cérebro da nova espécie começou a aumentar de tamanho e complexidade, o grupo passou a se diversificar em espécies, o que se tornou um importante fator para a especialização e criação de novos nichos no continente africano, junto a mudanças de estruturas físicas, como exemplo, andar sobre dois pés. O aumento da intelectualidade melhorou a obtenção de alimentos, e os hábitos de caça e coleta, além de modificar a capacidade de fugir dos eventuais predadores e animais maiores, possibilitou também o estabelecimento de uma possível vida em “sociedade”. Nos últimos 60 mil anos, a barreira da África foi ultrapassada, permitindo que essa nova espécie migrasse para outros continentes, como Ásia, Europa, Oceania e por último, o continente americano, levando sua contribuição genética que alteraram o cenário daquele mundo até se transformar no que conhecemos hoje, sendo motivo de estudo por inúmeros cientistas do mundo (SANTOS, 2014).
Os hominídeos possuíam o corpo repleto de pelos, há milhões de anos. Essa proteção contra as condições daquele tempo foram sendo perdidas, ou seja, a redução de pelos passou a ocorrer nas linhagens dos primatas humanos devido às mudanças climáticas naquela região. À medida que estes hominídeos se afastaram dos seus locais de origem para a obtenção de suprimentos, encontraram um clima muito mais quente, e mesmo que a seleção natural tivesse atuado no favorecimento dessa nova característica, a menor quantidade de pelos, a incidência dos raios ultravioletas em uma pele clara e sensível, seria uma combinação totalmente perigosa (ROSA, 2013; DÍAZ, 2018).
Humanos, assim como qualquer outra espécie, possuem inúmeras características peculiares. Uma delas está relacionada aos variados tons de pele que cada população possui, de forma a intrigar se ainda é o correto separar a espécie humana em subdivisões (raças) baseadas em padrões específicos de cor. Carlos Lineu (1707-1778), criador do sistema classificatório dos reinos até as espécies e também criador do sistema binominal, teve a sua mais importante contribuição com o livro Systema Naturae (1730) onde classificou milhares de espécies de animais e plantas, nomeou a espécie humana como Homo sapiens e também, criou a ideia de raças em “concordância” com a cor de pele observada por ele. (BUCKERIDGE, 2008) Hoje, as distinções entre brancos, negros, amarelos e avermelhados, por mais que ainda sejam aceitas para fins “representativos”, essa diferenciação do novo mundo provoca uma ação de segregação numa espécie única, que jamais deveria ser separada por tons de pele.
A pele é o maior órgão do corpo, cobrindo aproximadamente 2 m², sendo constituída por 3 camadas denominadas epiderme, derme e hipoderme. Tem como principal função proteger todos os órgãos internos do meio externo e é responsável por cerca de 16% do peso corporal, além de ser formada por células epiteliais que são achatadas e distribuídas umas sobre as outras (BERNARDO et al. 2019). Além dos vários tipos celulares que constituem a epiderme, um dos principais ligado a pigmentação da pele são os melanócitos, que
[...] são células dendríticas de origem neuroectodérmica (crista neural) que, por meio de estruturas intracitoplasmáticas específicas denominadas melanossomas, sintetizam e armazenam a melanina, um pigmento que determina a cor da pele e absorve a radiação ultravioleta. (CESTARI, 2020. p. 11)
Eles estão distribuídos em vários locais do corpo humano, tais como: pele, matriz dos pelos, nas mucosas, nos olhos (íris, coroide, e epitélio pigmentar), entre outros locais, e, na epiderme, estão localizados na superfície basal e, às vezes, na derme. A melanina produzida por essas células é um protetor biológico contra a exposição dos raios UV do sol, pois absorve a radiação eletromagnética, mantendo a integridade das moléculas de DNA, das proteínas e também de outras macromoléculas. (RODENBUSH, 2014) A pele, quando exposta excessivamente aos raios UV, é acometida de sérias doenças, além de perder vários nutrientes importantes contidos na nela. Um dos nutrientes pertencentes à pele que é importantíssimo para o desenvolvimento correto dos embriões, nas mulheres grávidas, é conhecido como folato ou ácido fólico, vitamina pertencente ao complexo B, que atua na formação de glóbulos vermelhos, do Sistema Nervoso Central e diversos processos metabólicos. (ROSA, 2013; JOHNSON, 2018)
A energia da radiação solar aumenta com a redução do comprimento de onda, assim a radiação UV é a de menor comprimento de onda e, consequentemente, a mais energética, ou seja, a mais propensa a induzir reações fotoquímicas. Outra consideração importante diz respeito à capacidade desta radiação permear a estrutura da pele. A radiação UV de energia menor penetra mais profundamente na pele e, ao atingir a derme, é responsável pelo fotoenvelhecimento. (FLOR et al. 2007. p. 153)
A grande incidência solar na África é explicada através da sua localização no Planeta. O grande continente é cortado ao meio pela linha do Equador, possuindo 80% do seu território na zona intertropical, o que caracteriza as altíssimas temperaturas, e cortado ao norte pelo Trópico de Câncer e ao sul pelo Tópico de Capricórnio. O continente é bastante diversificado no que diz respeito ao clima, isso é determinado principalmente pela relação entre dois importantes fatores: as baixas altitudes e o predomínio de baixas latitudes. Quanto mais perto da linha do Equador, maiores serão as temperaturas registradas em função da baixa latitude e, quanto mais longe da linha do Equador, maior será a latitude, implicando diretamente nas baixas temperaturas (DECICINO, 2020).
 Como a característica de indivíduos com menor quantidade de pelos foi selecionada, a necessidade para uma maior proteção começou a surgir. Por isso, a produção da melanina em maior quantidade favoreceu a coloração de uma pele mais escura nesses ancestrais africanos, devido às características climáticas da região, de forma a auxiliar na proteção contra os efeitos do sol, sem prejudicar a fixação da vitamina D que será informada a seguir. (ROSA, 2013) Diante disto, há uma relação direta entre disponibilidade de luz solar (raios UV) e a quantidade de melanina que o indivíduo possui. “A quantidade de melanina e sua disposição nas células derivam de mecanismos genéticos, e indivíduos de pele mais escura são menos susceptíveis a desenvolver algum câncer de pele.” (KASHIWABA et al, 2016. p. 83) “Existem dois tipos de melanina: a construtiva, determinada pelos genes e não dependente da exposição solar; e a facultativa, produzida pelo organismo após a exposição aos raios UV” (HEXSEL et al. 2013. p. 299).
Em contrapartida, também existe uma relação direta da fixação da vitamina D com a exposição ao sol (UVB), pois a radiação (em exposições de curto período de tempo) estimula a produção desse composto e sua fixação na forma ativa, que é essencial “para manter o equilíbrio mineral no corpo e manter a homeostase de cálcio, além de trazer bem-estar físico e mental” (LOPES, 2014. p. 14) Estudos também apontam para o envolvimento dessa vitamina em vários processoscelulares, no sistema imune, na secreção de hormônios, entre outros. (BASILE, 2014) A partir da ida dos hominídeos para as regiões fora do seu perímetro e de maior latitude, a necessidade de proteção conta os raios UV já não era tão importante, uma vez que, regiões de alta latitude possuem clima temperado (frio) devido à baixa incidência solar. 
Nota-se, portanto, que através da distribuição geográfica onde o hominídeo africano de pele escura se estabeleceu, as gerações subsequentes passaram a apresentar uma coloração de pele mais clara. Isso é explicado pela necessidade de absorver os raios solares para atuar sobre a produção de vitamina D essencial, uma vez que os indivíduos de pele mais escura não conseguiriam essa fixação com eficiência, por causa do bloqueio exercido pela melanina. A vitamina D e o ácido fólico reagem de formas opostas no corpo humano, mas devido à extrema importância desses dois elementos, a seleção natural teve que obter uma forma de beneficiar os dois. O resultado foi justamente este exposto ao longo do texto, ou seja, peles mais claras são favorecidas em regiões temperadas, onde há baixa incidência solar por meio da alta latitude, favorecendo a fixação de vitamina D, e, peles mais escuras são favorecidas em regiões tropicais, onde há grande incidência de luz solar, por meio da baixa latitude, protegendo o ácido fólico (JABLONSKI & CHAPLIN, 2017).
Segundo Jablonski & Chaplin (2017), a cor da pele humana evoluiu sob a ação da seleção natural, e os fenótipos das variações semelhantes, evoluíram de forma independente diversas vezes sob condições determinadas pelos raios UV. As variadas combinações de genes de cor aconteceram durante a pré-história por causa das forças evolutivas: seleção natural, fluxo gênico, deriva gênica (efeito fundador) entre outros aspectos exercidos sobre a população humana durante a sua dispersão. Portanto, a pigmentação da pele é produto da evolução, que através de diversas migrações, adaptações, polimorfismos e mutações, se fixaram nas gerações subsequentes, apresentando uma vasta variação de tonalidades pelo mundo até hoje. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	
BASILE, L. H. Gestante e necessidade de vitamina D. International Journal of Nutrology, São Paulo, n.1, v.7, p. 05-13. Abr/2014. Disponível em: https://www.thieme-connect.com/products/ejournals/pdf/10.1055/s-0040-1704012.pdf Acesso em: 19 jun. 2020.
BERNARDO, A. F. C; SANTOS, K; SILVA, D. P. D. PELE: ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DO NASCIMENTO À MATURIDADE. Saúde em Foco, Minas Gerais, n. 11, p. 1221-1233. 2019. 
BUCKERIDGE, M. “Deus fez, Lineu organizou”. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/deus-fez-lineu-organizou/. Acesso em: 24 jun. 2020.
BBC NEWS. Por que os humanos que migraram da África para a Europa ficaram brancos há milhares de anos. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-43008445. Acesso em: 19 jun. 2020.
CESTARI, S. C. P. NOÇÕES DE ANATOMIA E HISTOLOGIA DA PELE. Capítulo 2 p. 9-16. Disponível em: http://editoradoseditores.com.br/loja-virtual/wp-content/uploads/2018/09/capitulo_02_dermatologia-1.pdf/ Acesso em: jun/2020. 
EDUCAÇÃO - UOL. África - Geografia Física - Espaço natural, relevo, hidrografia, clima e vegetação. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/geografia/africa---geografia-fisica-espaco-natural-relevo-hidrografia-clima-e-vegetacao.htm. Acesso em: 25 jun. 2020.
FLOR et al. Protetores solares. Química Nova, Araraquara, volume.30, No. 1, 153-158, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/qn/v30n1/26.pdf Acesso em: 24 jun. 2020.
HEXSEL, D. et al. Variação dos níveis de melanina da pele em áreas expostas e não expostas ao sol após inverno e verão. Surgical & Cosmetic Dermatology, v. 5, n. 4, p. 298-301, 2013.
JABLONSKI, N. G; CHAPLIN, George. The colours of humanity: the evolution of pigmentation in the human lineage. Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences, v. 372, n. 1724, p. 1-8, 2017.
KASHIWABARA. et al. MEDICINA AMBULATORIAL IV: com ênfase em dermatologia. 4. ed. Minas Gerais: Dejan Gráfica e Editora, 2016. p. 1-560.
Lopes, P. P. Proteção solar: o papel da vitamina D. Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação de Engenharia Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. 2014 Disponível em: http://sistemas.eel.usp.br/bibliotecas/monografias/2014/MBI14017.pdf/ Acesso em: 20 jun. 2020.
MANUAL MSD. Folato. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-nutricionais/vitaminas/folato. Acesso em: 22 jun. 2020.
SANTOS, F. R. A GRANDE ÁRVORE GENEALÓGICA HUMANA. UFMG, Belo Horizonte, v. 21, n. 1e2, p. 88-113, dez./2014.

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