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Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 1 ¨ Conceito Uma das partes originária do processo, formula demanda contra terceiro, trazendo para dentro do processo, nessa demanda, a parte que a formula, que é chamado DENUNCIANTE, pretende um direito de regresso ou reembolso contra terceiro, que é chamado de DENUNCIADO, a fim de ressarcir-se dos prejuízos de eventual sucumbência que venha a sofrer na demanda principal daquele processo. ® É intervenção de terceiros provocada. ® O terceiro é chamado a integrar o processo pelo autor, ou pelo réu. ® Justifica-se pela economia processual. ® A parte poderia mover ação de regresso contra o terceiro. A denunciação da lide baseia-se na ação de regresso. Importante: Ação de regresso é o direito da parte ser ressarcida. Denominação: Denunciante: Quem requer 3º no processo. Denunciado: é o 3º. ® Pode haver denunciação da lide ATIVA: o denunciante é autor da ação principal. ® Pode haver denunciação da lide PASSIVA: o denunciante é réu na ação principal. ® ¨ Espécies: 1. EVICÇÃO: Art. 125, I, CPC I - Ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam É a perda de um direito material em decorrência de uma decisão judicial que tenha como fundamento um FATO ANTERIOR à aquisição do bem. ® Trata-se daquele que vende bem que não é dele. ® Pelo menos, 3 pessoas no processo. Exemplo 1: João tem imóvel adquirido de Pedro e posteriormente Ana propõe ação contra João (que comprou o imóvel do Pedro) alegando que aquele imóvel é de sua propriedade, porque ela adquiriu de Pedro antes do João. João pode neste processo fazer a denunciação à lide de Pedro, a fim de que Pedro passe a compor esse polo passivo da demanda e seja compelido a ressarcir João. Caso Ana vença- denunciação da lide feita pelo réu. João vai perder a propriedade do imóvel que tem como fundamento fato anterior a compra desse imóvel. Proprietário do bem Vendedor do bem (que não é dele) Comprador Denunciação da Lide Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 2 Exemplo 2: Maria adquire imóvel de Paulo e descobre que o imóvel está sendo ocupado por Beatriz. Beatriz diz que é proprietária. Maria propõe ação contra Beatriz para discutir a propriedade do imóvel. Maria denuncia a lide a Paulo, para que seja responsabilizado por eventual ganho de causa de Beatriz, podendo responsabilizar desde já Paulo – denunciação da lide feita pela autora. 2. POR LEI OU CONTRATO: Art. 125, II. II - Àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo. Exemplo: Seguradora. Autor propõe ação contra o réu dizendo que causou o acidente. O réu traz a seguradora a fim de que esta responda por eventual prejuízo, no limite do que estiver previsto na apólice de seguro. ® Em concepção restritiva, não se admite a denunciação do funcionário público em demandas contra o Estado, em que se discute a responsabilidade civil deste. O STF vai na corrente restritiva, já que o servidor somente responde administrativamente e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro funcional pertencer. ® Em concepção ampliativa, aquele que se vê obrigado a pagar dívida alheia pode denunciar a lide quem tem direito de regresso, fica parecendo chamamento à autoria. Denunciação nada mais é do que uma lide regressiva que é resolvida paralelamente à ação principal, em que o denunciante tenta reaver um direito de regresso estabelecido por lei ou por contrato. Denunciação sucessiva ® O denunciado a lide denuncia outra pessoa. ® Fala-se na Cadeia Dominial. Art. 125, §2º: só permite 1 única denunciação sucessiva. O sucessivo não pode promover nova denunciação. O sucedido, se quiser, deve promover a Ação de Regresso = ação autônoma. § 2º Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual direito de regresso será exercido por ação autônoma. ® Não se admite denunciação “per saltum”, não pode denunciar pessoa que não tenha relação com o denunciante. ® Modificação do novo CPC (2015). Não pode pular no 1º para o último, pois não há o liame subjetivo. A pessoa só tem Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 3 relação com o que a sucede, ou seja, o 1º só tem relação com o 2º. Justificativa: celeridade processual. Exemplo: denunciante “pula” o alienante da coisa para denunciar o alienante do alienante. ¨ Procedimento da denunciação da lide: 1. DECISÃO da denunciação: Ao falar na Denunciação da lide, dizemos que há 2 demandas no mesmo processo. Na 1º demanda (originária): há relação do AUTOR (quem ingressa com a ação) com o RÉU. Na 2º demanda (incidental): há relação do RÉU (denunciante) e o 3º (denunciado). Aqui, os elementos da ação são diferentes da 1º demanda. Se discute a ação regressiva das partes. O juiz primeiro analisa a 1º demanda, afinal, é a demanda principal. Se o autor for vencedor (ação procedente), eventualmente, surgirá a necessidade da analise da 2º demanda. Art. 129, CPC. A finalidade, portanto, é permitir a condenação do denunciado. Mas, caso seja improcedente (réu vencedor), não há a necessidade da análise da 2º demanda. ® Falamos aqui do julgamento da denunciação da lide. ® Prejudicialidade da denunciação da lide. Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da denunciação da lide. A questão é: QUANDO QUE O DENUNCIANTE É VENCIDO? Depende!! Se a denunciação da lide for ATIVA (autor é o denunciante) = será quando a sentença for de improcedência. ® Ou seja, nesse caso, se a sentença for de procedência p/ ação principal, fica prejudicada a denunciação da lide. Se a denunciação da lide for PASSIVA (réu é denunciante) = será quando a sentença for de procedência. ® Ou seja, nesse caso, se a sentença for de improcedência p/ ação principal, fica prejudicada a denunciação da lide. Quem é que paga os honorários na denunciação da lide? Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedido examinado, SEM PREJUÍZO da condenação do denunciante ao pagamento das verbas de sucumbência em favor do denunciado. Ou seja, quem pagará é o denunciante!!! ® Art. 129, parágrafo único, CPC. Atualmente, no caso de denunciação da lide, qualquer modalidade dela é facultativa. Assim, quem dá causa à lide inicialmente é autor principal (denunciante), que é ansioso e que deu de cara com a promoção da lide regressiva. Portanto, se ele está promovendo uma ação que não Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 4 sabe ser necessária, ele assume o risco de demandar alguém que não houvesse necessidade de ser demandada. Ementa: “1. Quando não obrigatória a denunciação da lide, o denunciante deve arcar com os honorários devidos ao denunciado, independente da procedência ou não da ação principal. Precedentes”. (STJ-4ª Turma, AgInt no REsp 1.502.061/SP, rel. Min. Raul Araújo, j. 18/05/2020, deram provimento, v.u., DJe 01/06/2020). 2. FACULTATIVIDADE da Denunciação da lide: É opção das partes. Não há perda do direito de entrar com a ação de regresso. Isto é, a parte pode querer ingressar com um processo distinto, requerendo a ação de regresso. Porém, o andamento do processo é mais demorado, menos eficiente. A denunciação da lide é obrigatória? Não. O CPC expressamente optou por ser facultativa. ® Art. 125, §1º do CPC. ® A não denunciação não implicaem perda do direito de regresso. Art. 125, §1º: O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida. 3. MOMENTO da denunciação: Art. 126 É cabível apenas na fase de cognição, sob pena de preclusão. ® Se o denunciante for o autor, será requerida na petição inicial. ® Se o denunciante for réu, será requerida na contestação. Art. 126. A citação do denunciado será requerida na petição inicial, se o denunciante for autor, ou na contestação, se o denunciante for réu, devendo ser realizada na forma e nos prazos previstos no art. 131. Denunciação feita pelo autor: D/L ativa ® A denunciação deverá ser requerida na PI- ART. 126. Quem será citado primeiro? O réu ou o denunciado? Leiamos o art. 127 Art. 127. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e acrescentar novos argumentos à petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu. ® O DENUNCIADO será citado primeiro. Porque isso ocorre? Na ação principal, o denunciado (3º) quer que o denunciante ganhe. Pois, dessa forma não será necessário a ação de regresso. a) Sendo citado primeiro, o denunciado poderá aceirar a D/L e pode aditar a PI. Para atuar ao lado do denunciante, como litisconsorte na lide principal, desaparecendo a lide de denunciação. Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 5 b) Sendo citado primeiro, o denunciado poderá resistir à lide regressiva. Denunciação Feita pelo Réu: D/L passiva. Aqui, o requerimento da denunciação deverá ser na contestação- art. 126. Dispõe o art. 128 do CPC: ® Na demanda incidental, ele é réu. ® Na demanda principal ele é litisconsorte do denunciante. O autor pode exigir o cumprimento da obrigação diretamente do denunciado, nos limites da condenação. Exemplo: Houve um acidente de carro. A vítima (autor) ingressa uma ação contra o réu. O réu, denuncia a lide a sua seguradora (contrato). Ao final do processo, caso seja julgada procedente, pode o autor pedir que o pagamento seja feito pela própria seguradora. ® Art. 128, parágrafo único Quando o denunciado for citado, ele poderá: ® Aceitar a denunciação da lide: nesse caso, o denunciado poderá migrar para a lide principal, se tornando o litisconsorte do denunciante. Não resistindo à lide regressiva, todavia ela pode ajudar o denunciante a vencer a demanda, haja vista que o denunciado quer que o denunciante vença na ação principal, ficando prejudicada a lide regressiva. ® Art. 128, inciso I do CPC ® Rejeitar a lide regressiva, que ficará do mesmo jeito: duas lides no mesmo processo. Importante: nos dois casos, há prazo determinado para citar o denunciado. ® Esse prazo é importante porque, enquanto o denunciado não é citado, a ação principal para. Como é possível ter uma ampliação do polo subjetivo da ação principal, para-se a ação principal enquanto não se cita o denunciado. Prazo limite: o art. 126 nos leva ao art. 131 do CPC. Art. 131. A citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio passivo será requerida pelo réu na contestação e deve ser promovida no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de ficar sem efeito o chamamento da denunciação da lide. Parágrafo único. Se o chamado denunciado residir em outra comarca, seção ou subseção judiciárias, ou em lugar incerto, o prazo será de 2 (dois) meses. ® No art. 128, dispõe sobre as 3 posturas típicas do denunciado – é um rol exemplificativo. Art. 128, I: se o denunciado contestar o pedido formulado pelo autor, o processo prosseguirá tendo, na ação principal, em litisconsórcio, denunciante e denunciado; ® O réu já havia contestado, e o denunciado, ao não resistir à denunciação entra também para a Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 6 lide principal mediante apresentação da sua contestação – litisconsórcio. Art. 128, II: O denunciado pode ser revel, caso em que o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa. Exemplo: “A” promoveu uma ação contra “B”, e “B” denuncia a lide “C”. “B” resiste e faz a denunciação da lide, citando o denunciado. Se o denunciado for revel (“C” não resistiu na lide regressiva- se manteve inerte), o denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação regressiva. ® Se o denunciado não contesta tanto a lide regressiva quanto o pedido principal, se torna revel. MAS, mesmo sendo revel, não significa que o denunciante ganhará a ação. Importante: revelia não implica reconhecimento do pedido, podendo gerar, no máximo, confissão, ou seja, reconhecimento dos fatos. Essa presunção relativa está no art. 344 – efeito material da revelia. ® Em outras palavras: o inciso II está dando autorização ao réu que deixe de insistir na defesa, concentrando- se apenas na seguradora. Essa postura de ter sido revel permitirá que o denunciante queira apenas se concentrar na seguradora? Sim. Art. 128, III: Se o denunciado confessar os fatos alegados na PI, o denunciante pode prosseguir com sua defesa. Ou, se aderir a confissão (reconhecer), pode apenas pedir a procedência da ação de regresso. ® Essa hipótese do inciso III anota que o ato praticado por um litisconsorte não pode prejudicar o outro litisconsorte. Assim, se o denunciado segue para a ação principal e confessa, esse ato que atinge o confitente não prejudica o denunciante formalmente, que pode continuar na sua defesa ou reconhecer a culpa (mesmo que queira condenação de indenização regressiva). ® Há possibilidade de execução direta do denunciado: art. 128, p. único. Se for julgado procedente a ação, o autor pode diretamente “cobrar” do denunciado, desde que esteja nos limites da condenação deste na ação regressiva. Em substituição processual, age-se aqui em nome próprio pleiteando direito alheio, sobretudo na hipótese em que desaparece a litisdenunciação, vendo o denunciado ingressar na lide processual – o que pode condenar os dois direta e, em alguns casos, solidariamente Por fim, pode se dizer que a denunciação da lide é uma demanda incidente, regressiva, eventual e antecipada. a) Demanda incidente: Forma-se uma nova demanda no processo em curso. Há ampliação objetiva do processo. O processo passa a ter uma demanda principal e uma demanda incidental. Processo Civil | Maria Eduarda Q. Andrade pág. 7 Se feita pelo autor, será na Petição Inicial, já incluído o terceiro. b) Demanda regressiva: Quer dizer, de garantia (do denunciante). A relação se dá entre o denunciante e denunciado. Ou seja, aqui fala-se na relação somente da 2º demanda, incidental. ® A princípio não há relação entre denunciado e a outra parte do processo. c) Demanda eventual: A demanda regressiva somente será analisada se o denunciante for derrotado na demanda principal. Há prejudicialidade. A segunda demanda somente é analisada de acordo com o resultado da primeira demanda. Há nexo de prejudicialidade entre as duas lides. A segunda pode ser procedente ou improcedente, no caso de o denunciante sair sucumbente. d) demanda antecipada: O denunciante se antecipa para a hipótese de vir a sofrer sucumbência no processo. Caso não houvesse o processo, a propositura da ação pelo denunciante contra o denunciado seria sem interesse de agir.
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