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Lei 9 455-1995 Tortura

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Aula 06 - Lei 9.455/97 - Tortura - Professor: Diego Fontes
Disposições Constitucionais 
Art. 5º III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; 
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;
3TH Tortura, Tráfico, Terrorismo e Hediondos
Os 3T são crimes equiparados a hediondos, ou seja, tortura não é crime hediondo, apenas equiparado. Na Lei de Crimes Hediondos (8.072/90) é dito que, para crimes hediondos e equiparados a hediondos, não cabe indulto (além de insuscetíveis de graça ou anistia), mas a CF não fala nada sobre indulto. De acordo com o STF, essa parte não é inconstitucional, porque a graça e o indulto estão dentro do chamado "poder de graça" do Presidente da República.
Existem algumas modalidades de tortura. O que distingue cada uma dessas modalidades é justamente o especial fim de agir, o dolo específico. Então, de acordo com o dolo que move o agente ativo, essa tortura é qualificada em uma categoria, uma classificação.
Tortura - Prova, Tortura Probatória, Persecutória, Institucional ou Inquisitorial
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: (elemento em comum em todas as modalidades de tortura) 
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; 
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
❑ Tortura – Prova, Tortura Probatória, Persecutória, Institucional ou Inquisitorial; 
❑ Natureza da informação; 
Já que é um crime comum, a informação não precisa necessariamente ser pública, ou seja, pode ser de interesse público ou privado.
❑ Crime comum;
É um crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa.
❑ Cabe tentativa;
Tem total relação com o momento consumativo. Pode haver a tentativa, mas sem conseguir a finalidade desejada.
❑ Momento consumativo;
 É quando a efetiva causação do sofrimento físico ou mental.
Tortura - Prova, Tortura Probatória, Persecutória, Institucional ou Inquisitorial x 
Lei 13.869/2019 - Abuso de Autoridade/Abusatoriedade
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a: 
III – produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro: 
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.
Não confundir Tortura-Prova com Abuso de Autoridade. Pois, na Lei 13.869/2019 falta o resultado de sofrimento físico e mental para configurar tortura.
Crime de tortura absorve o crime de abuso de autoridade, pelo fato de ser de menor gravidade.
O abuso de autoridade não ocasionando sofrimento físico e mental responde pelo Lei 13.869/2019.
Tortura para a Prática de Crime
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, (o que muda nessa modalidade é o dolo específico, a finalidade) 
Pena – reclusão, de dois a oito anos. 
❑ E para a prática de contravenção;
Não há tortura para contravenção penal, uma vez que a lei diz ser de natureza criminosa, ou seja, para crimes e não para contravenção penal.
❑ Concurso material;
Tortura e Homicídio.
❑ Coação irresistível;
Se houver coação moral elimina a culpabilidade, responde pela conduta o torturador.
 
❑ Consumação;
Acontece com a efetiva causação, quando acontece o sofrimento físico ou mental.
Tortura Discriminatória
Art. 1º Constitui crime de tortura: 
I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: 
c) em razão de discriminação racial ou religiosa; 
Pena – reclusão, de dois a oito anos. 
STF,crime de homofobia e transfobia, não foi decidido com base na Lei de Tortura, mas na Lei n. 7.716/1989 Racismo, aplicando-se o artigo 20, considerando que a discriminação por motivo de homossexualismo ou transsexualismo, passa a ser crime no Brasil.
Considerações:
❑ Tentativa;
É possível quando não se consegue causar o sofrimento físico ou mental.
❑ Ação Penal;
Pública incondicionada.
❑ Competência para julgar; 
Em regra, é da Justiça Comum (Estadual/Federal); 
Ex.:Tortura próprio , praticada em unidades da União.
Julgado pela Justiça Federal.
 
Justiça Militar (13.491/2017); 
Julgado pelo Tribunal Militar, mesmo se o crime for comum, conforme art.9 CPM.
Resultado Agravador em outro local; 
Julgado onde se der o resultado agravador.
Ex.: Torturou em SP e morreu no RJ, será julgado no RJ.
Conexão entre Tortura e Homicídio Doloso; 
Julgado Pelo tribunal do Júri
Ex.: Tortura e Homícidio doloso. Torturou, e para apagar os vestígios da tortura matou, queima de arquivo.
❑ Absorção de crimes menos graves;
❑ Reclusão de 2 a 8 anos;
❑ Exame de corpo de delito é imprescindível;
Não é imprescindível. É importante, mas muitas vezes a tortura não deixa vestígios, e tem também a tortura psicológica, que não deixa vestígios físicos.
Informativo n. 436 do STJ COMPETÊNCIA. TORTURA. PM. PF. 
In casu, o indiciado foi preso em flagrante pela suposta prática de crime de roubo e, em depoimento, alegou ter sido torturado para que confessasse os fatos a ele imputados. Feito o exame de corpo de delito, comprovaram-se as lesões corporais supostamente praticadas por policiais militares na dependência de delegacia da Polícia Federal. Esses fatos denotariam indícios de crime de tortura. Noticiam os autos que, no momento do recebimento da notícia do suposto delito de roubo, os policiais militares estavam em diligência de apoio a policiais federais. Daí o juizado especial criminal, ao acolher parecer do MP estadual, remeteu os autos à Justiça Federal de Subseção Judiciária. Por sua vez, o juízo federal de vara única, ao receber os autos, suscitou o conflito de competência ao considerar que os policiais federais não participaram do suposto ato de tortura. Para o Min. Relator, com base na doutrina, o crime de tortura é comum, porém se firma a competência conforme o lugar em que for cometido. Assim, se o suspeito é, em tese, torturado em uma delegacia da Polícia Federal, deve a Justiça Federal apurar o débito. Destaca, ainda, que a Lei n. 9.455/1997 tipifica também a conduta omissiva daqueles que possuem o dever de evitar a conduta criminosa (art. 1º, I, a, § 2º, da citada lei). Quanto à materialidade e autoria do suposto crime de tortura, embora não haja, nos autos, informações de que os policiais federais teriam participado ativamente do crime de tortura, os fatos, em tese, foram praticados no interior de delegacia da Polícia Federal, o que, segundo o Min. Relator, atrai a competência da Justiça Federal nos termos do art. 109, IV, da CF/1988. Nesse contexto, a Seção conheceu do conflito para declarar competente o juízo federal suscitante. CC 102.714-GO, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 26/5/2010.
Aula 07 - Lei 9.455/97 – Tortura
Tortura Castigo ou Punitiva
II – submeter alguém, sob sua GUARDA, PODER OU AUTORIDADE, com emprego de violência ou grave ameaça, a INTENSO sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. 
Pena – reclusão, de dois a oito anos.
❑ Crime de ação livre; 
Pode ser praticado de diversas maneiras, o legislador deixa em aberto.
❑ Crime próprio;
Crime próprio, pois só pode ser cometido por aquela pessoa que tem a guarda, poder ou autoridade em relação à vítima.
❑ Qual a natureza da guarda, poder ou autoridade; 
Pode ser pública e privada
❑ Esposa pode ser sujeito passivo;
Não pode, porque não existe uma relação de guarda do marido em relação a esposa.
❑ Consumação e Tentativa;
Consumação (quando é causado o intenso sofrimento físico ou mental); e 
Tentativa (se o sujeito tenta e não consegue, responderápor tortura castigo tentada).
Tortura Castigo ou Punitiva / Modalidade Equiparada
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
❑ O sofrimento físico ou mental;
O sofrimento físico ou mental não precisa ser intenso
❑ A violência ou grave ameaça;
Não se exige a violência ou grave ameaça.
❑ O dolo específico;
Não tem.
Tortura Imprópria / Omissão Perante a Tortura 
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. 
No Código Penal, o art. 13, § 2º, fala-se da posição do garante, aquela pessoa que tinha o dever de evitar que aquele resultado acontecesse e mesmo assim não faz nada. Este responde pelo crime na modalidade de omissão. A doutrina critica muito esse parágrafo 2º da Lei de Tortura, porque deveria ser aplicada a omissão imprópria, pois, segundo a CF, deve responder não apenas aqueles que praticarem, mas aqueles que, podendo evitar o resultado, não fizeram nada.
Resultado Agravador (Preterdolo - dolo no antecedente e culpa no consequente)
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.
Majorantes 
Causas de aumento de pena, que são aplicadas na 3ª fase de aplicação da pena, já que na 1ª fase, tem a definição da pena base, na 2ª é a aplicação das atenuantes e das agravantes, e na 3ª é a aplicação das causas de aumento e das causas de diminuição.
§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: 
I – se o crime é cometido por agente público; 
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; 
III – se o crime é cometido mediante sequestro. 
Bis in idem
CP. Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime: 
II – ter o agente cometido o crime: 
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência contra a mulher, na forma da lei específica; 
STJ. Informativo n. 589. Não é bis in idem, porque, nesse caso, as razões são diferentes. A razão pela qual o legislador colocou uma causa de aumento de pena quando o crime é cometido contra um adolescente ou criança ou grávida é justamente pela condição peculiar de uma pessoa que não tem a mesma capacidade de resistência que um adulto. No caso do agravante, é o fato de se abusar de uma relação doméstica, de coabitação.
Efeitos da Condenação 
§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. 
Efeito automático, não necessitando de fundamentação específica por parte do juiz em sua condenação.
Cumprimento da Pena 
§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. 
STF diz que é inconstitucional, por violar o princípio da individualização da pena.
Progressão de Regime - Pacote Anticrime
Tortura não é crime hediondo, é equiparado.
Livramento Condicional (Pacote Anticrime) 
Art. 83 CP / Art. 112 da LEP
E a substituição por pena restritiva de direito; 
Art. 44, I, CP - não vai ser possível essa substituição quando houver violência ou grave ameaça à pessoa.
Impossibilidade de Substituição por PRD 
HABEAS CORPUS. TORTURA. CONDUTA OMISSIVA. ART. 1º, § 2º, DA LEI N.º 9.455/97. (...). SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR SANÇÕES RESTRITIVAS DE DIREITOS. IMPOSSIBILIDADE. ART. 44, INCISO I, DO CÓDIGO PENAL E PRESENÇA DE CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. ORDEM DENEGADA. (...) 2. No caso, verifica-se que o quantum de aumento revela-se proporcional e amplamente fundamentado - com base nas circunstâncias e consequências do crime, pois a vítima sofreu lesões gravíssimas que conduziram à cegueira -, em se considerando que a pena abstratamente prevista para o crime é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de detenção. 3. Nos crimes definidos na Lei de Tortura, dado que a violência é ínsita aos tipos penais preconizados neste diploma legal, há óbice à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos, com base no art. 44, inciso I, do Código Penal. 4. A presença de circunstâncias judiciais desfavoráveis é óbice intransponível ao deferimento do pedido de substituição da reprimenda corporal por restritivas de direitos. 5. Ordem denegada. (HC 459.851/SC, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 11/12/2018, DJe 01/02/2019)
Extraterritorialidade
Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.
❑ Princípio da Personalidade Passiva; 
Leva em conta que o sujeito passivo é brasileiro.
❑ Extraterritorialidade Incondicionada;
❑ Justiça Estadual.
Direito Processual Penal Competência para Processar e Julgar Crime de Tortura Cometido fora do Território Nacional 
O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e Julgar os agentes estrangeiros. De fato, o crime de tortura praticado integralmente em território estrangeiro contra brasileiros não se subsume, em regra, a nenhuma das hipóteses de competência da Justiça Federal previstas no art. 109 da CF. Esclareça-se que não há adequação ao art 109, V, da CF, que dispõe que compete à Justiça Federal processar e julgar "os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente", pois não se trata de crime à distância. De igual modo, não há possibilidade de aplicar o inciso IV do art. 109 da CF, visto que não se tem dano direto a bens ou serviços da União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Ademais, ressalte-se que o deslocamento de competência para a jurisdição federal de crimes com violação a direitos humanos exige provocação e hipóteses extremadas e taxativas, nos termos do art. 109, V-A e § 52, da CF. Desse modo, o incidente só será instaurado em casos de grave violação aos direitos humanos, em delitos de natureza coletiva, com grande repercussão, e para os quais a Justiça Estadual esteja, por alguma razão, inepta à melhor apuração dos fatos e à celeridade que o sistema de proteção internacional dos Direitos Humanos exige (AgRg no IDC S-PE, Terceira Seção, DJe 3/6/2014; IDC 2-DF, Terceira Seção, DJe 22/11/2010; e IDC 1-PA, Terceira Seção, DJ 10/10/2005). CC 107.397-DF, ReL Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/9/2014. 
CPP. Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
Aula 08 - Lei 9.455/97 – Tortura

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