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1 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Reitor: Prof. Dr. Antonio Cesar Gonçalves Borges Vice-Reitor: Prof. Dr. Manoel Luiz Brenner de Moraes Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Dr. Luiz Ernani Gonçalves Ávila Pró-Reitora de Graduação: Prof. Dra. Eliana Póvoas Brito Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia Pró-Reitor Administrativo: Eng. Francisco Carlos Gomes Luzzardi Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Prof. Ms. Élio Paulo Zonta Pró-Reitor de Recursos Humanos: Admin. Roberta Trierweiler Pró-Reitor de Infra-Estrutura: Mario Renato Cardoso Amaral Pró-Reitora de Assistência Estudantil: Assistente Social Carmen de Fátima de Mattos do Nascimento Núcleo de Produção de Material (NPM) - FPELE Profª Dra. María Pía Mendoza Sassi (coord. FPELE) Prof. Me. Javier Eduardo Silveira Luzardo (coord. FPELE) Profª Esp. Lélia Caetano Martins Borges (coord. FPELE) Profª. Dra. Mitizi Gomes (coord. FPELE) Profª. Me. Cintia Blank (coord. FPELE) Profª Dra. Neusa Rodrigues Félix (coord. NPM) Profª Dra. Adriane Borda (coord. NPM) Profª Me. Ana Lúcia Pinho Lucas (coord. NPM) Conselho Editorial Profa. Dra. Carla Rodrigues Prof. Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira Profa. Dra. Cristina Maria Rosa Prof. Dr. José Estevan Gaya Profa. Dra. Flavia Fontana Fernandes Prof. Dr. Luiz Alberto Brettas Diretor da Editora e Gráfica Universitária: Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes Gerência Operacional: Carlos Gilberto Costa da Silva Editora e Gráfica Universitária Rua Lobo da Costa, 447 Pelotas, RS CEP 96010-150 Fone/fax: (53) 3227 8411 E-mail: editora@ufpel.edu.br Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas Profa. Dra. Francisca Ferreira Michelon Prof. Dr. Vitor Hugo Borba Manzke Profa. Dra. Luciane Prado Kantorski Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes Profa. Dra. Vera Lucia Bobrowsky Prof. Dr. William Silva Barros Projeto gráfico Profª Me. Daniela Velleda Brisolara (design gráfico-capa e editoração) Designer Julia Arosteguy (design gráfico e ilustrações) Me. Olga Silva (editoração) Projeto Editorial Profª Dra. Renata Azevedo Requião Revisores da Língua Portuguesa Profª Me. Janaina Brum; Profª Esp. Terezinha Brandão; Profª Esp. Vivian Bonow Impresso no Brasil Edição: 2010 ISBN: 978-85-7192-696-7 Tiragem: 500 exemplares Dados Internacionais de Catalogação na Publicação: Bibliotecária Daiane Schramm CRB-10/1881 U58 Universidade Federal de Pelotas Introdução aos Estudos Literários II. / Claudia Lorena Fonseca Ministério da Educação, FPELE, 2010. 146 p.: il.; 21 cm. ISBN 978-85-7192-696-7 1. Gêneros Literários. 2. Drama. 3. Lírico. 4. Narrativa. I. Fonseca, Claudia Lorena. II. Pereira, Beatriz Helena. III. Título. CDD 372 e Beatriz Helena Pereira. - Pelotas: Editora Universitária / UFPEL, 1 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Prof. Drª Cláudia Lorena Fonseca Prof. Me. Beatriz Helena Pereira Ministério da Educação Universidade Federal de Pelotas Universidade Aberta do Brasil Introdução aos Estudos Literários II 2 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm 2 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Apresentação Cara aluna, Caro aluno, tens em mãos o manual de Introdução aos Estudos Literários II. Nesta disciplina vais aprofundar os teus conhecimentos nos estudos dos gêneros literários, nas formas narrativas e poéticas, no estudo de conceitos e de vocabulário crítico específico. Ao longo deste semestre, serão apresentadas leituras literárias para que pratiques os conceitos estudados, aprimorando cada vez mais o teu modo de ler, tornando-te um leitor capacitado para fazer uma análise embasada teoricamente. Uma vez mais, o intento desta disciplina, além de apresentar novos conhecimentos teóricos, é proporcionar a leitura do maior número possível de textos clássicos da literatura ocidental. Preparamos este material sempre esperando que as leituras feitas, mais do que tarefas a serem cumpridas, sejam bons momentos de fruição. Boas leituras! As professoras, Drª Cláudia Lorena Fonseca Me. Beatriz Helena Pereira 3 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm 3 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Gêneros Literários1 2 3 O Drama A Lírica Apresentação05 Gêneros Literários Teoria dos gêneros As formas clássicas A moderna teoria dos gêneros Gêneros Literários x Modos do discurso Quadros s nteseí Teatro - o primeiro cânone O Dramático - traços estilísticos fundamentais Formas do dramático Quadros síntese A Lírica Caracterização e formas da Lírica Um pouco de história Elementos da Lírica Formas da Lírica Outras palavras... Quadros síntese 4 A Narrativa A Épica A Narrativa Elementos da narrativa Formas da narrativa Quadros síntese 10 12 13 24 28 33 36 46 48 56 60 63 64 64 74 80 82 86 91 94 114 134 Bibliografia138 4 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm 4 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Gêneros Literários 1 5 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 10 unidade 01 pg UNIDADE I Gêneros Literários Profª Cláudia Lorena Fonseca 1. WELLECK, René; WARREN, Austin. Teoria da Literatura. 5ª ed. Lisboa, Europa-América, 1987. Caso semelhante, ou igualmente problemático, nesse terreno, diz respeito à questão dos Gêneros Literários, ponto que, se em algum momento de seu percurso chegou a ser considerado pacífico (ou quase), tido como definitivo, hoje se sabe que não o é, pois vários são os pontos de vista, várias são as teorias visando dar conta do fenômeno, muitas delas de excelente fundamentação. Essas questões vão ao encontro daquela que se põe, por exemplo, , logo às primeiras palavras do capítulo XVII, dedicado à discussão acerca 1dos gêneros literários, em sua obra Teoria da literatura : “Será a literatura uma coleção de poemas, peças e romances individuais que compartilham uma designação comum?”. Evidentemente, não podemos dizer que seja, René Welleck O confronto com definições pouco precisas é uma constante quando falamos de Literatura ou das artes em geral. Terreno dos mais subjetivos, as dificuldades de definição inquietam os estudiosos e mesmo aqueles que, com um pouco mais de atenção, voltam-se para as questões que envolvem o fenômeno do literário. Certamente todos esses já buscaram uma resposta para a questão maior: ‘o que é Literatura?’. Certamente, também, encontraram apenas definições não completamente satisfatórias, resultado da busca de um sem número de estudos empreendidos ‘desde sempre’, porém toda reflexão fundamentada nos serve de apoio para que possamos de nossa parte, igualmente formular nossas próprias reflexões e, quiçá, definições. De qualquer forma, é certo que todos nós, estudiosos, sobretudo, malgrado a subjetividade do campo de investigação, temos respostas que nos satisfazem, provisori- amente, é claro. 5 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 11 unidade 01 pg pois esta seria uma forma simplista de tratamento para o tema, embora possamos dizer que, basta termos tido acesso a uma boa variedade de textos, para comprovar que os textos literários guardam características que os distinguem entre si, ao mesmo tempo em que os aproximam daqueles que se lhes assemelham. Diz ainda que “a espécie literária não é um mero nome, por isso mesmo que a convenção estética em que participa uma obra enforma o caráter 2desta” . Ponto pacífico, todos concordam com a afirmação do autor, não é aí que divergem, mas sim quando se trata de nomear essas espécies, que compartilham de determinadas características entre si. Formatar é dar forma, verbo que difere de outro de mesma origem: enformar, principalmente se estivermos nos movendo pelo campo da subjetividade. No que tange ao literário, significa dizer de determinada forma, seguindo uma determinada convenção, e a esses ‘formatos’ convencionou-se chamar ‘gêneros’, embora nem mesmo essa nomenclatura seja unanimidade entre os estudiosos. Ao eleger uma forma, aquela mais adequada ao que quer dizer, o autor leva em conta não apenas os traços distintivosdos gêneros, mas também todo o percurso por eles percorrido ao longo dos tempos. Segundo , as espécies guiam os escritores e são determinadas pelas obras que produzem, configurando- se a partir da produção desses autores, de seu estilo, de certa forma. As leis que regem determinada espécie de texto, não são imutáveis, são ajustadas, alteradas sem que percam uma essência que as distingue das demais formas. Para o autor, ainda, a ‘forma’ é uma necessidade, já que René Welleck Welleck [...] o prazer que uma obra literária instila no homem é composto por uma sensação de novidade e por uma sensação de reconhecimento. [...] o esquema inteiramente habitual e repetido é maçador; a forma inteiramente nova será ininteligível é mesmo inconcebível. O gênero representa por assim dizer, uma soma de processos técnicos existentes, de que o escritor pode lançar mão e dispor e que o leitor já 3compreende. 2. WELLECK, René; WARREN, Austin. op. cit., p. 281. 3. WELLECK, René ; WARREN, Austin. op. cit., P.293-294 6 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm A espécie literária é uma Instituição, por meio dessa instituição manifestam-se os autores, expressam- se, produzem, a partir das instituições pré-existentes, transformando-as ou não, ou criando novas, acrescentando-as às existentes. Os autores podem também participar de uma instituição sem aderir completamente a ela. Estudar os gêneros nos permite um olhar abrangente que abarca a gênese e o desenvolvimento das espécies literárias e, mesmo, da própria literatura. A Teoria dos gêneros é o princípio ordenador, que “classifica a literatura e a história literária, não em função da época ou lugar, mas sim de tipos especificamente literários de organização ou estrutura. Todo e qualquer estudo crítico e valorativo (em contraposição aos históricos) acarreta, de alguma maneira, o apelo a essas 4estruturas.” Ao lermos ou estudarmos um texto recorremos a esse conhecimento, a essas estruturas. Avaliamos, e também fruímos, a partir daquilo que 'conhecemos por', ou da concepção que temos daquela forma literária, embora não descartemos as novas experiências. Porém, pertenceria toda e qualquer obra a uma espécie? Sim e não, diríamos, em resposta à questão que se coloca em seu estudo. Mais precisamente, diríamos que sim, que de certa forma as obras pertenceriam a uma espécie, mas que devemos considerar que há formas de transição e, ainda, formas híbridas. Talvez possamos falar em predominância de um determinado gênero, a partir da análise da cada obra individualmente ou, de pertencimento predominantemente a um gênero, com eventual ocorrência de outro (ou de outros) gênero, disseminado(s) pela obra em análise. , na abertura do estudo que dedica aos gêneros literários, afirma que Teoria dos gêneros René Welleck Angélica Soares IELit 12 unidade 01 pg 6 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 13 unidade 01 pg Em suma, as diferentes teorias que tentam dar conta do fenômeno evoluem em torno de um mesmo denominador comum, embora acrescentem à noção, a partir de seu estudo, questionando-a e questionando-se, identificando especificidades, propondo novas abordagens, novas formas de posicionamento em relação ao objeto de investigação. É um longo trajeto percorrido ao longo dos tempos, uma longa história, desde que a noção de gênero começa a se tornar tema recorrente dos debates acerca do literário. Cada época trata a questão à sua maneira, em conformidade com os valores que lhe são correspondentes e com o estágio do pensamento em que se encontra, evidenciando aspectos que, por sua vez, atendem às necessidades e vão ao encontro das ideias e ideais vigentes. De qualquer forma, podemos distinguir três fases bastante distintas desta história, três etapas: a As formas clássicas 5. SOARES, Angélica. Gêneros literários. 6ª ed. São Paulo: Ática, 2004. [...] a tendência para reunir, em uma classificação, as obras literárias onde a realidade aparece de um determinado modo, através de mecanismos de estruturação semelhantes, surge com as manifestações poéticas mais remotas. [...] A denominação de gêneros literários, para os diferentes grupamentos das obras literárias, fica mais clara se lembrarmos que gênero (do latim genus- eris) significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, geração. E o que se vem fazendo, através dos tempos, é filiar cada obra literária a uma classe ou espécie; ou ainda é mostrar como certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova modalidade literária. A caracterização dos gêneros, tomando por vezes feições normativas, ou apenas descritivas, apresentando-se como regras inflexíveis ou apenas como um conjunto de traços, os quais a obra pode apresentar em sua totalidade ou predominantemente, vem diferençando-se a cada época. Em defesa de uma universalidade da literatura, muitos teóricos chegam mesmo a considerar o gênero como categoria imutável e a valorizar a obra pela sua obediência a leis fixas de estruturação, pela sua 'pureza'. Enquanto outros, em nome da liberdade criadora de que deve resultar o trabalho artístico, defendem a mistura dos gêneros, procurando mostrar que cada obra apresenta diferentes combinações de características 5dos Diversos Gêneros. 7 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm clássica, desde os filósofos gregos e até o Neoclassicismo; a romântica, de até os poetas ingleses e, a terceira delas, representada pelo período que vai do início do século XX, com o surgimento dos Formalistas russos e seu interesse em sistematizar a noção de texto, até nossos dias. No entanto, dentro do período correspondente a cada uma dessas fases, podemos, também, distinguir uma alternância do pensamento, que oscila no interior das mesmas. Façamos uma reconstituição do percurso histórico dos gêneros literários, a fim de compreender o atual estágio do pensamento naquilo que diz respeito à noção. 6Devemos a (428 a.C 347 a.C) , o crédito pela primeira referência, no pensamento ocidental, aos gêneros literários. Esta referência se encontra no livro III da República (394 a.C). Depois dele vieram e , responsáveis pelos textos clássicos da teoria dos gêneros. A devemos, ainda, a distinção entre drama, épica e lírica, esta que acaba por se tornar a distinção clássica e fundamental de gêneros, norteadora das discussões que têm lugar mesmo nos dias atuais. Poderíamos dizer que esta prevalece ainda, embora a moderna teoria dos gêneros prefira distinguir entre poesia e prosa, além de dividir a literatura imaginativa em ficção, drama e poesia. Nesse caso, a Ficção abarca a épica, o romance, e o conto, ou seja, a quase totalidade da literatura em prosa. Quanto ao Drama, neste podem ser encontrados tanto textos em prosa quanto em verso. Em relação à Poesia, pode-se afirmar que esta corresponde à antiga Lírica. A ideia de mimesis surge já em , para quem as artes possuíam uma função moralizante. Para ele, todos os textos literários são uma narrativa (ou diegesis) de acontecimentos, que se concretizam a partir de três modalidades: por um ato mimético (discurso das personagens); por um ato narrativo (discurso em primeira pessoa, do próprio poeta); e por uma modalidade híbrida, a qual combina mimese e ato narrativo (alternância entre Platão Aristóteles Hegel Platão Aristóteles Horácio Aristóteles Platão Platão, Aristóteles e Horácio IELit 14 unidade 01 pg 6. Data aproximada. 7 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 15 unidade 01 pg as vozes do poeta e das personagens). Exemplificam essas modalidades, respectivamente, a tragédia e a comédia; o ditirambo, e a epopéia. Em relação à idéia de mimesis, que concretiza a comédia e a tragédia, esta se constrói por imitação, segundo , que considerava o poeta apenas um imitador do que fabricava o artesão, cuja obra era de segunda espécie, contrapondo-se à obra do poeta, de terceira espécie. No primeiro lugar dessa escala, encontrava-se o “natural”.Para , a perfeição se encontra no mundo das ideias. Nosso mundo não passaria de uma imitação desse mundo , sendo, portanto, imperfeito. A arte, segundo o pensamento de , estaria ainda mais afastada da perfeição, pois estaria mais distante do mundo das ideias, já que não é a este que imita, e sim àquele que é já simulacro. (384 a.C. 322 a.C.), partindo das idéias de , opõe-se a este, recusando sua hierarquia 'das três espécies' de obra, valorizando, assim, o trabalho poético. Suas preocupações eram de ordem estética, o que explica a diferença de posicionamento em relação a . Suas ideias a esse respeito, e sua percepção do processo de mimesis artística são apresentadas na Poética. Para o autor, a mimese poética não é uma literal e passiva cópia da realidade, nas palavras de , “uma vez que apreende o geral presente nos seres e nos eventos particulares [...], incide sobre os ‘homens em ação’, sobre os seus caracteres, as 7suas paixões, e as suas ações [...]” . É Aristóteles o primeiro a propor uma teoria sobre a origem dos gêneros literários, “o primeiro a insinuar uma distinção entre os modos literários e as diferentes formas de representação textual que resultam do processo mimético artístico (os 8diferentes gêneros)” . Segundo , Platão Platão Platão Aristóteles Platão Platão Vitor Manuel de Aguiar e Silva Carlos Ceia ideal O Platonismo é a doutrina filosófica relacionada ao pensamento de Platão. O princípio fundamental dessa doutrina consiste, basicamente, em acreditar que as experiências vivenciadas ou construídas no mundo (ou plano) das ideias são perfeitas, superiores às experiências vivenciadas ou construídas no mundo material. 7. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da Literatura. 8ª ed. Coimbra: Almedina, 1994, p. 342. 8. CEIA, Carlos. Verbete 'Gêneros literários. In.: CEIA, Carlos. e-dicionário de termos literários, disponíivel em: http://www2.fcsh.unl.pt/edtl /verbetes/G/generos_literari os.htm [...] para a arte da poesia se concretiza em diferentes modalidades (gêneros) a partir de um modo único de realização: a mimesis. Toda a poesia é imitação, reclama , que encontra nas diferentes 'espécies' ou gêneros literários como a epopeia, a tragédia ou a poesia ditirâmbica a mesma matriz de interpretação da realidade. Os gêneros literários só são, portanto, distinguíveis pelos Aristóteles Aristóteles 8 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm Esta distinção entre (narrativo e dramático) é a primeira feita de forma sistemática. Destaque-se que, para , o termo “poesia” abrange toda a produção literária. Já o que o autor denomina 'poesia lírica', corresponde ao que hoje chamamos, simplesmente, de Lírica. Tomado e retomado, ou seja, 'interpretado' de muitas formas e por vezes à conveniência daqueles que pretendem dar uma base sólida e 'fundamental' à sua teoria, , em parte, sofre as consequências do quão pouco explícito foi em seus escritos, que são poucos, é verdade, já que boa parte de sua obra não chegou a nossos dias. Esses dois fatores contribuem para que muitas de suas ideias fiquem sujeitas à interpretação que delas é feita, embora em inúmeros aspectos haja consenso, mercê dos estudos com o decorrer do tempo cada vez menos 'parciais' que se fizeram. Outro importante pensador desses primeiros tempos na história dos gêneros literários foi o romano (65 a.C. 8a.C.). Em sua arte poética, a Epistulæ ad Pisones (Carta aos Pisões), estão algumas reflexões sobre os gêneros literários. E, se a reflexão levada a cabo pelos gregos destaca-se por ser eminentemente teórica, a disposição romana destaca-se por seu pragmatismo. De acordo com , “enquanto em e em a distinção dos gêneros era feita levando em conta a caracterização da linguagem poética, entre os alexandrinos e os romanos o problema teórico é abafado e, em seu lugar, é posta a preocupação de diferençar para 10bem legislar.” Ainda segundo o autor, “o decoro se 11torna o princípio do poeta e do homem culto em geral” , por esse motivo a literatura assume um caráter, ou uma função, moral e didática. Se para a literatura, e a arte de maneira abrangente, era prejudicial ao bem-estar dois gêneros Aristóteles Aristóteles Horácio Luiz Costa Lima Platão Aristóteles Platão IELit 16 unidade 01 pg 9. CEIA, Carlos. Op. cit. meios da imitação (ritmo, canto e verso), pelos objetos que imitam (pelas personagens que são superiores ao próprio homem, como na epopeia e na tragédia; ou pelas personagens que lhe são inferiores, como na paródia e na comédia) e pelos modos de imitação (narrativo, como na epopeia, e dramático, como na 9tragédia e na comédia). A poesia lírica não é considerada, aqui, já que esta não pertence ao domínio da poiesis (ou “acção”) e também porque Aristóteles não considera a poesia lírica uma forma de imitação narrativa ou dramática. Apud. Carlos Ceia, op. Cit. 10. IMA, Luiz Costa. (org) Teoria da literatura em suas fontes. Vol. 1. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2002, p. 259. 11. LIMA, Luiz Costa. (org). op. cit., p. 259. 8 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 17 unidade 01 pg social, nociva, portanto, se para a mímese artística, além de fonte de conhecimento, era também catarse, para a poesia integrava prazer e educação. Para , o gênero é definido pelo metro e por um conteúdo específico, é caracterizado por um determinado tom. Para ele, o poeta, para que possa assim ser chamado, é aquele que respeita o domínio e o tom de cada gênero literário. Em relação a esse aspecto do pensamento horaciano, assim afirma : As reflexões de sobre gêneros literários vão exercer grande influência na poética e na retórica dos séculos XVI, XVII e XVIII, quando a tradição clássica será retomada. Na Idade Média o que se percebe é um rompimento com a tradição clássica dos gêneros literários, a partir de novos conteúdos que são agregados a estes. Sabe-se que a Idade Média caracteriza-se por um olhar voltado às questões que dizem respeito à religião, à alma, ao não- racional, portanto, embora o caráter extremamente moralista, e mesmo sensor da época. A rigidez das normas vigentes se faz valer também quando se trata da reflexão sobre a arte, aí inclusa a Literatura, Aristóteles Horácio Horácio Vitor Manuel de Aguiar e Silva Horácio Idade Média 12. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Teoria da literatura. 1ª ed. Brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 1976. [...] O poeta deve portanto escolher, conforme os assuntos tratados, as convenientes modalidades métricas ou estilísticas, de maneira a não exprimir um tema cômico num metro próprio da tragédia ou, pelo contrário, um tema trágico num estilo pertencente à comédia. [...] foi deste modo conduzido a conceber os gêneros como entidades perfeitamente distintas, correspondendo a distintos movimentos psicológicos, pelo que o poeta deve mantê-los rigorosamente separados, de modo a evitar, por exemplo, qualquer hibridismo entre o gênero cômico e o gênero trágico. [...] Assim se fixava a famosa regra da unidade de tom, de tão larga aceitação no classicismo francês e na estética neoclássica, que prescreve a separação absoluta 12dos diversos gêneros. Horácio 9 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm evidentemente. É o auge da poesia trovadoresca, do ideal cavalheiresco. As sistematizações são rigorosas, mas algumas referências aos gêneros são feitas, uma delas, pelo menos, bastante importante, segundo , aquela que é feita por , o qual, na Epístola a Can Grande Della Scala, “classifica o estilo em nobre, médio e humilde, situando-se no primeiro a epopeia e a tragédia, no segundo a comédia (também diferenciada da tragédia pelo seu 13final feliz) e no último a elegia.” Com o retorno a uma maior racionalidade, que se experimenta no período renascentista, é natural que se vá buscar na Antiguidade, considerada perfeita naquilo que tange à arte, os códigose pressupostos que nortearão a reflexão sobre os gêneros literários e a arte literária em geral. Os humanistas do Renascimento retomam os clássicos, sobretudo . Florescem e proliferam as ‘artes poéticas’. Segundo , Para os renascentistas, quanto mais perfeita a imitação, maior o valor da obra, ou seja, trata-se da leitura distorcida da mimesis aristolética, mímese como “imitação da natureza e não como um processo de recriação. [...] Desse modo, o que se tem é uma concepção imutável dos gêneros, em perfeito acordo com a defesa da universalidade da arte, da sua essência 15supra-histórica” . Os pressupostos que norteavam os estudos à época eram essencialmente normativos, e assim continuariam a ser mesmo depois, já no Angélica Soares Dante Alighieri Horácio Carlos Ceia Os Renascentistas IELit unidade 01 pg 18 13. SOARES, Angélica. op. cit., p. 12. A questão dos gêneros literários concorre, curiosamente, com a questão do decorum ou conformidade do estilo com o assunto, uma convenção ética de sabor clássico que é, afinal, uma das grandes motivações de quem procura agradar a um público letrado exigente pela boa concordância com o cânone de escrita estabelecido, que o homem do 14renascimento não pretende ainda discutir livremente. 14. CEIA, Carlos. op. cit. 15. SOARES, Angélica. op. cit., p. 12. 9 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 19 unidade 01 pg Neoclassicismo. É também nesse período que a Lírica começa a fazer parte, de forma mais destacada, do sistema dos gêneros literários, quebrando a hegemonia da épica e do drama. O Neoclassicismo consolida essa distinção entre os gêneros, pregando também a permanência dessa distinção, a qual para os estudiosos da época, era necessária. Segundo , o Neoclassicismo foi uma mistura de autoritarismo e racionalismo e agiu de forma conservadora. De acordo com o autor “a teoria neoclássica não explana, não expõe nem defende a doutrina das espécies ou a base de diferenciação. Em certa medida, atende a certos tópicos, tais como pureza da espécie, hierarquia das espécies, duração das 16espécies, acréscimo de novas espécies” , razão pela qual os estudos do período são bastante vagos em relação a esses aspectos. Isso ocorre devido ao fato de que o Neoclassicismo “parte do pressuposto de que a teoria dos gêneros tradicionais da literatura é uma evidência em si mesma, por isso não necessita de explicitação ou de 17uma nova sistematização. Porém, é no período que corresponde ao Renascimento tardio e o Neoclassicismo que os estudos sobre os gêneros literários alcançaram o maior desenvolvimento, agregando a eles sistematicidade e minúcia. De acordo com , é nesse período, também, que começa a ser refletida, pregada e difundida a noção até hoje bastante conhecida, e inadvertidamente empregada, de pureza dos gêneros, a qual consiste em um repúdio à mistura de vários estilos, temas ou emoções em um mesmo texto. Esse é o motivo pelo qual a tragicomédia é relegada a um plano tão inferior que praticamente desaparece. Paralelamente à questão da pureza dos gêneros, o Neoclassicismo refletiu, também, sobre duas outras questões: a hierarquia e a invenção de novos gêneros literários, e a sociologia dos gêneros literários. A primeira trata da distinção entre gêneros maiores e O Neoclassicismo René Wellek Vitor Manuel de Aguiar e Silva 16. WELLECK, René ; WARREN, Austin. op. cit. p. 287. 17. CEIA, Carlos. op. Cit. 10 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm menores, ou seja, mais, ou menos valorizados; a segunda, diz respeito à correspondência de cada gênero a uma determinada classe social. Naturalmente, os gêneros considerados maiores (a epopeia e a tragédia) eram associados à classe de maior projeção social: a nobreza; por conseguinte, os gêneros considerados “baixos”, ou menos nobres (a sátira, a comédia, a farsa, a pastoral), eram consagrados às classes mais populares, na cidade ou no campo. Há, inclusive, ‘receitas’ para a composição de obras literárias como aquela que oferece , o qual se dedica a expor, em sete itens, o que deve ser considerado quando da produção de um bom exemplar da espécie literária mais valorizada, o poema épico: Portanto, para o Neoclassicismo, todo valor da arte está diretamente relacionado à razão, fonte de equilíbrio, bom senso e clareza. Este é o ideal de uma época, em todos os campos da existência humana, não excluindo, obviamente, a arte. Fiel a esses preceitos, destaca-se um dos teóricos mais representativos do período: (1636-1711), o qual produziu um importante documento do racionalismo francês do século XVII, intitulado, como outros homônimos, Arte poética. E aqui, um outro ponto importante deve ser destacado: essas normas não eram unanimidade entre os pensadores do Neoclassicismo. As polêmicas multiplicaram-se, a partir Thomas Hobbes Nicolas Boileau- Despréaux IELit unidade 01 pg 20 18. CEIA, Carlos. op. Cit. 1) vocabulário vernáculo, sem estrangeirismos nem termos técnicos, porque o público leitor deve poder entender o vocabulário do poema e as mulheres têm tanto direito de compreender e ter acesso à leitura de um poema épico como os homens, já que elas não são supostas ter a mesma competência linguística; 2) o estilo deve ser natural, sem estar preso a regras de rima e metro; 3) o modo de apresentação formal do poema narração do poeta ou das personagens e a sequência temporal dos fatos narrados devem ser adequadamente medidos; 5) toda a inspiração poética deve ser moderada pela razão e pelo juízo, anulando toda a possibilidade de validar criações fantásticas e maravilhosas; 6) originalidade e correção no uso de imagens; 7) respeito pelas figuras históricas e 188) variedade de apresentação formal. 10 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 21 unidade 01 pg da , a tal ponto que provocaram reações bastante apaixonadas, sendo a de maior repercussão (entre o final do século XVII e o início do século XVIII, na ), a querela dos antigos e modernos. Os ‘modernos’, chamados posteriormente de maneiristas, pré-barrocos e barrocos, “posicionavam-se a favor das formas literárias inovadoras, que melhor representariam as mudanças de cada época, contrariamente aos ‘antigos’, que ainda 19defendiam a imutabilidade das regras greco-romanas” . De acordo com Vitor Manuel de Aguiar e Silva, A contenda, além de enriquecer o debate sobre os gêneros, prepara o terreno para o período imediatamente posterior, o período romântico, no qual a concepção de gênero pregada pelos ‘modernos’ alcançará não apenas desenvolvimento, mas uma exacerbação. Embora o século XVIII, sobretudo na primeira metade, ainda convivesse com a doutrina classicista, a partir do que pregavam algumas correntes, modificações Itália França Pré-Romantismo e Romantismo 19. SOARES, Angélica. op. cit., p. 13 [...] A poética do maneirismo e, sobretudo, a poética do barroco, entendiam o gênero literário como uma entidade histórica, admitindo a possibilidade da criação de gêneros novos e do desenvolvimento inédito de gêneros já existentes, advogando a legitimidade e o valor intrínseco dos gêneros mistos ou híbridos. [...] Iniciava-se, assim, o tempestuoso e multiforme debate entre os antigos e modernos: os antigos consideravam as obras literárias greco-latinas como modelos ideais e inultrapassáveis e negavam a possibilidade de criar novos gêneros literários ou de estabelecer novas regras para os gêneros tradicionais; os modernos, reconhecendo a existência de uma evolução nos costumes, nas crenças religiosas, na organização social, etc., defendiam a legitimidade de novas formas literárias, diferentes das dos gregos e latinos, admitiam que os gêneros canônicos, como o poema épico, pudessem assumir características novas e chegaram mesmo a afirmar a superioridade das literaturas modernas em relação às letras greco-latinas. Para os modernos, as regras formuladas por e por não representavam preceitosválidos intemporalmente, pois constituíam um corpo de normas indissoluvelmente ligado a uma determinada época histórica e a uma concreta experiência literária. Nos modernos, com efeito, era muito vigoroso o sentido da 20historicidade do homem e dos seus valores [...] Aristóteles Horácio 20. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p. 355- 356. 11 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm ocorriam não apenas no âmbito do literário. Modificações profundas, em um século de crise de valores nos mais diversos planos, valores esses que acabam por sofrer um processo de relativização, decorrente de fatores como “a crença no progresso contínuo da civilização, da sociedade e das suas instituições, das ciências e das letras, e do espírito modernista e antitradicional daí 21decorrente.” Nesse contexto, surge, na , o movimento pré-romântico conhecido por , o qual contestava a teoria fixa dos gêneros literários. Segundo , “o movimento quis destacar a autonomia da obra de arte literária em relação a quaisquer convenções 22impostas previamente para a sua criação e recepção” . vai ainda mais longe e o classifica como rebelião total contra a teoria clássica dos gêneros e das regras, o qual põe em evidência “a individualidade absoluta e a autonomia radical de cada obra literária, sublinhando o absurdo de estabelecer 23partições no seio de uma atividade criadora única.” Portanto, a existência dos gêneros, nesse cenário, estava condenada. Com o Romantismo há uma valorização ainda maior da liberdade de criação e da individualidade do poeta, sendo este considerado um gênio inspirado pela Musa. É dele que brota e irrompe a poesia. Essa concepção, nas palavras de , leva também “à valorização da individualidade e da autonomia de cada obra, com o que se vê condenado todo tipo de classificação da 24literatura.” Contraditória e multiforme, a teoria romântica dos gêneros não foi totalmente aceita ou adotada sem reservas pelos autores românticos. Dentre estes, encontra-se , o qual observa, em sua obra Diálogo sobre a poesia, que a fantasia do poeta não deve desintegrar-se em obras caóticas, mas cada uma delas deve “construir-se de acordo com o gênero a que pertencem, embora mantendo características 25peculiares. O autor é responsável, ainda, por uma classificação que aproxima, dialeticamente os gêneros literários: a épica à tese; a lírica à antítese; e o drama à síntese das manifestações poéticas do espírito humano. Alemanha Carlos Ceia Vitor Manuel de Aguiar e Silva Angélica Soares Friedrich Schlegel Sturm und Drang IELit unidade 01 pg 22 22. CEIA, Carlos. op. Cit. 23.AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p.359. 24.SOARES, Angélica. op. cit., p.13. 25. Apud Angélica Soares. op. cit., p.14. Expressão que significa, literalmente, “tempestade e impulso”. 21. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit. p. 359. 11 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 23 unidade 01 pg Já , outro autor romântico de destaque, apregoa, veementemente, por sinal, no bastante conhecido “Prefácio” do Cromwell, de 1827, o hibridismo dos gêneros, posto que, segundo ele, não apenas o belo e o feio, o riso e a dor, o grotesco e o sublime, fazem parte da existência humana, como se misturam, sendo indissociáveis. Na mesma obra, o autor ataca a noção de pureza dos gêneros. Quanto ao alemão , trata-se de outro autor importante do Romantismo, autor de uma Poética, em que a questão dos gêneros desempenha papel relevante. Porém é que produz a mais importante reflexão sobre os gêneros literários no período romântico, por sua coerência e profundidade, bem como por seu caráter sistemático. A segunda metade do século XIX é caracterizada pelo domínio das ciências naturais e do Positivismo, nos moldes de , e pelo Evolucionismo de e de . É também nesse cenário que surgem os estudos do francês e do italiano . , nas palavras de , Ou seja, o gênero literário é como um organismo vivo que nasce, vive e desenvolve-se, e morre. Já vai opor-se a . Seu ponto de vista a respeito da questão dos gêneros literários aproxima o autor de certas formas atuais de pensamento no campo da Teoria da literatura, por combater o conceito de imitação, de gênero e de historiografia literária. Para , o crítico/leitor de literatura deve estar mais preocupado com o que o texto significa ou exprime, do que em saber a que gênero esse texto pertence e se está Victor Hugo Goethe Hegel Taine Spencer Darwin Brunetière Benedetto Croce Brunetière Angélica Soares Benedetto Croce Brunetière Croce defende a idéia de que uma diferenciação e uma evolução dos gêneros literários se dão historicamente, como nas espécies naturais, sendo também determinadas por fatores como a raça ou a herança, as condições geográficas, sociais, históricas e a individualidade. Assim, por exemplo, o romance teria nascido da epopeia ou da canção de gesta e, por sua vez, se transformaria em várias espécies (de aventura, épicos, de costumes...), que também se sucederiam temporalmente. Pela lei de permanência do mais forte, a tragédia clássica teria desaparecido ante o drama romântico. Como as substâncias vivas, o gênero nasceria, cresceria, alcançaria sua perfeição 26e declinaria para, em seguida, morrer. 26. SOARES, Angélica. op. cit. p.15. 12 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm perfeitamente adequado às convenções que regem esse gênero. Embora admita a utilidade dos gêneros literários “na sistematização da história literária, desde que não sirvam para abstrações e generalizações que acabam 27sempre por sacrificar os melhores autores da literatura” , não admitia a criação poética sujeita à realidade, pois para ele “todo conhecimento ou é intuitivo ou lógico, 28produzindo respectivamente imagens ou conceitos” . Para o autor a obra literária era uma individualidade, e os gêneros, formas a serem atualizadas a partir de novos pressupostos: valorativos e qualificativos. As ideias de iriam influenciar significativamente a investigação literária que terá lugar na primeira metade do século XX. A moderna teoria dos gêneros literários opõe-se à teoria clássica na medida em que deixa de ser normativa, prescritiva e dogmática, para se tornar essencialmente descritiva. Essa nova época dos estudos de literatura é marcada pelo aproveitamento de ideias e noções que se foram construindo ao longo dos tempos, bem como dos novos estudos que se foram fazendo. Dentre estes últimos cabe ressaltar aquele empreendido por um dos mais influentes, constituindo-se em marco e referência para a investigação que se irá fazer a partir deles. Na obra, Teoria da literatura, de 1942, publicada por ambos, encontra-se o capítulo referente ao estudo dos gêneros literários, já citado anteriormente, de autoria de , estudo de capital importância para a compreensão do fenômeno. Nele, o autor discute o percurso histórico da noção, além de refletir sobre a validade de sua permanência. A obra do autor é citada pela grande maioria dos estudiosos que se dedicaram à questão dos gêneros, dos dias que se seguiram a sua publicação, até nossos dias. , por exemplo, a propósito do tema cita o estudo de . Afirma o autor que Croce Croce Welleck e Warren, Welleck Carlos Ceia Welleck A moderna teoria dos gêneros IELit unidade 01 pg 24 27. CEIA, Carlos. op. Cit. 28. SOARES, Angélica. op. cit., p. 15. 12 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 25 unidade 01 pg O aproveitamento, pela moderna teoria dos gêneros, de noções dos mais relevantes estudos do passado, permite que se afirme que e continuam sendo atuais, por exemplo, pois que as três principais espécies já lá se encontram. Muito foi acrescentado, algumas mudanças aconteceram, sobretudo no que diz respeito à Épica, que sofreu a maior transformação, atualizada e englobada pela forma mais abrangente da Narrativa. Embora muito tenha sido atualizado, talvez seja essa a mudança mais significativaem relação às formas, pelo menos no aspecto de sua constituição, pois que uma outra mudança, igualmente significativa se deu no aspecto posição/relevância/ disseminação das formas. Hoje diríamos que há uma predominância da narrativa sobre as outras formas, quando em diferentes épocas predominaram o Drama, a Épica ou a Lírica. Ao tratar da reformulação do conceito de gênero na teoria da literatura contemporânea, em sua obra, Teoria da literatura, afirma que durante a primeira metade do século XX, ainda sob a influência de , imperou “o descrédito em relação ao conceito de gênero”, reforçado por correntes crítico-teóricas essencialmente idealistas. Seu Platão Aristóteles Vitor Manuel de Aguiar e Silva Benedetto Croce Os gêneros em algumas teorias literárias do século XX 29. CEIA, Carlos. op. Cit. [...] a dificuldade histórica da teoria dos gêneros literários é comum a qualquer tentativa de encontrar uma tabela de valores referenciais para uma ciência. A partir do momento em que a criação literária não pode estar presa a nenhuma lei discursiva implacável, nunca será possível alcançar uma tipologia universal, irrefutável e imutável. e observaram que os critérios para definir os gêneros sempre foram subjetivos, podendo incluir a atitude do artista perante o mundo, as temáticas sociais, as modalizações linguísticas, etc. Todo o ato artístico que envolve a criatividade não é, de fato, suscetível de ser guardado numa categoria intemporal. O universo de discursos que podemos estar sempre a (re)descobrir e a (re)inventar obrigar- nos-á a rever constantemente a teoria dos gêneros 29Literários. Wellek Warren 13 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm pensamento vai repercutir, por exemplo, “em , um dos fundadores da estilística moderna; nas proposições do New Criticism de ; e no período inicial do Formalismo Russo, com a teoria do estranhamento de 30.” Afirma que, do Formalismo russo, passando por “outras orientações da teoria e crítica literárias contemporâneas [...] tem-se reconhecido e atribuído ao conceito de gênero uma função relevante 31[...]” . É certo, e sobre essas correntes ou, mais especificamente, de que forma trataram a questão dos gêneros literários, poderíamos falar brevemente, a fim de reconstituir o caminho percorrido pela noção ao longo do século XX. O Formalismo Russo considerava relevante o estudo dos gêneros literários. , por exemplo, reintroduz a ideia de gênero Já , cuja investigação começa ainda sob a influência do Formalismo russo, e do qual começa a se distanciar, após, se voltaria, nas palavras de , para outro fator na concepção do gênero: a percepção, pois que já levava em conta não apenas o receptor da obra literária, como também a forma como a essa obra capta a realidade, além, obviamente, dos traços de linguagem. Para , os gêneros seriam uma espécie de filtros, colocados entre a obra e a realidade, Vossler Allan Tate Chklovski Aguiar e Silva Tynianov Bakhtin Angélica Soares Bakhtin IELit unidade 01 pg 26 30. SOARES, Angélica. op. cit., p. 16-17. 31. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p.370. 32. SOARES, Angélica. op. cit., p. 17. [...] como um fenômeno dinâmico, em incessante mudança. Já outro formalista, , consideraria como traços dos gêneros um grupamento em torno de procedimentos perceptíveis. Esses traços seriam dominantes na obra, embora houvesse outros procedimentos necessários à criação do conjunto artístico. Ressalta que é impossível estabelecer classificação lógica ou fechada dos gêneros, porque sua dimensão é sempre histórica. Assim, os mesmos procedimentos podem levar a diferentes resultados, em cada época. , como , ainda limitava o dinamismo dos gêneros na produção da obra às propriedades que, segundo eles, transformavam um 32texto em obra literária. Tomachevski Tomachevski Tynianov 13 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 27 unidade 01 pg A proposta formalista para o problema dos gêneros, embora tenha influenciado o pensamento imanentista de , por exemplo, com sua teoria da hierarquização das funções da linguagem no texto literário, vai repercutir realmente apenas nos anos 60, reelaborada a partir da retomada de uma visada formal nos estudos teóricos do fenômeno literário. Ainda em meados dos anos 40, é que acrescenta contribuição significativa à teoria dos gêneros, ao retomar a tradicional tripartição dos gêneros, reformulando-a profundamente, ao substituir “estas formas substantivas e substancialistas pelas designações adjetivais e pelos conceitos estilísticos de 34lírico, épico e dramático.” resume bem aquilo que é básico na teoria do autor alemão: Concebendo a literatura como “uma complexa e coerente organização de modos, de categorias e de 36gêneros” , e tomando por modelo , o Roman Jakobson Emil Staiger Angélica Soares Aristóteles 33. SOARES, Angélica. op. cit., p. 17. 34. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p 381. [...] selecionando-a de diferentes formas. Esses ‘filtros’ não só permitiam distinguir o literário do não-literário, mas também apontariam tratamentos específicos para cada gênero. [...] Assim, os gêneros apresentariam mudanças, em sintonia com o sistema da literatura, a conjuntura social e os valores de cada cultura. Ao propor que a noção de gênero inclui um conjunto de expectativas e de seleção de elementos da realidade, deixa de opor o social ao formal. Com isso, abandona as propostas imanentistas, caracterizadoras do literário 33apenas em suas diferenças linguísticas. Bakhtin Emil Staiger Staiger , em sua obra [...] afasta-nos das classificações fechadas e substantivas de herança clássica, que sempre procuraram localizar as obras literárias na lírica, na épica ou na dramática. O aspecto da teoria staigeriana, que convém ressaltar, é a proposta de que traços estilísticos líricos, épicos ou dramáticos podem ou não estar presentes em um texto, independentemente do gênero. Em caso afirmativo, é possível que aqueles traços [...] apareçam em diferentes combinações, sendo por estas ressaltados ou diluídos, podendo-se mesmo percebê-los como tênues nuanças. analisa os traços dos gêneros em suas mais fortes presenças, mas sempre lembrando que nenhuma obra é totalmente lírica, Épica ou dramática, não só por não apresentar apenas características de um único gênero, mas também porque essas características não se projetam, na 35constituição da linguagem, sempre da mesma maneira. 35. SOARES, Angélica. op. cit., p. 18-19. 36. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p. 376. 14 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm estudioso canadense contribui de maneira decisiva com a teoria dos gêneros, sobretudo por recolocar essa questão, acrescentando à tradicional tripartição dos gêneros um quarto gênero: a ficção, forma narrativa em que tende a dominar a prosa, diferente da epopeia que é episódica e não contínua, além desta se apresentar predominantemente em versos. No que diz respeito às teorias de orientação marxista, podemos dizer que estas também dedicaram especial atenção à problemática dos gêneros, em especial . Já a partir de meados dos anos 70, são as chamadas Estéticas da Recepção e do Efeito que irão acrescentar sua contribuição a esses estudos. Seus principais representantes são, respectivamente, e . Nessa perspectiva, “o gênero literário constitui um fator relevante da problemática da comunicação literária considerada sob o ponto de vista do leitor receptor, pois este encontra no gênero um conjunto de normas e de convenções, de 'regras do jogo', que contribui para configurar o seu 'horizonte de expectativas' e que o orienta na leitura e na compreensão do texto, desde as estruturas retórico- estilísticas às estruturas semânticas e aos componentes 37pragmáticos.” Estando ou não firmemente vinculados a uma determinada corrente teórico-crítica, podemos afirmar que os estudos que se fazem hoje tendo por objeto os gênerosliterários, além de levarem em conta todo o seu percurso histórico, procuram aprofundar a investigação, atualizando-a sempre, acrescentando à mesma, atentos às contribuições que se estão constantemente fazendo a esses estudos. Poderíamos dizer, grosso modo, que gêneros literários são uma forma de classificação, utilizada para os textos literários, os quais são agrupados “por qualidades formais e conceptuais em categorias fixadas e Northrop Frye Georg Lukács Hans Robert Jauss Wolfgang Iser Gêneros literários x Modos do discurso IELit unidade 01 pg 28 37. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p. 384. 14 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 29 unidade 01 pg 38descritas por códigos estéticos” . Trata-se de uma definição satisfatória, pelo menos desde que se começou a tratar do tema até princípios do século XX, quando a noção vai ser questionada de forma mais 'veemente'. O fato é que sempre foi utilizada a nomenclatura gêneros tanto para os modos de produção dos textos literários (lírico, épico, dramático, narrativo), quanto para suas formas (romance, conto, poema, ensaio, etc.). A questão relacionada à nomenclatura, embora a princípio pareça pouco relevante, é outro ponto em que as opiniões divergem nos estudos focados sobre a questão dos gêneros literários. , no seu já citado estudo sobre os gêneros literários, aborda a questão, chegando mesmo a sugerir uma distinção entre as categorias históricas e as meta-históricas. O autor admite a dificuldade de se arranjar uma designação, além de julgá-la frequentemente desnecessária. De qualquer forma, utiliza frequentemente o termo 'espécies' para fazer referência tanto a uma forma, quanto à outra. No que diz respeito à nomenclatura, poderíamos ainda citar o interessante estudo de sobre o Teatro épico, mais especificamente o primeiro momento desse estudo, em que o autor trata de gêneros e traços estilísticos. Afirma que Ou seja, em sua acepção substantiva, temos ‘A lírica’, ‘A Épica’, ‘A Dramática’ (ou ‘O Drama’). As obras, do ponto de vista estrutural, pertenceriam ao domínio de cada uma delas. Já em sua acepção adjetiva, estamos falando de traços estilísticos característicos. Portanto há uma maior flexibilidade nessa acepção, já que podemos falar em uma narrativa lírica, um poema dramático, etc. A René Welleck Welleck Anatol Rosenfeld Rosenfeld a teoria dos gêneros é complicada pelo fato de os termos ‘lírico’, ‘épico’ e ‘dramático’ serem empregados em duas acepções diversas. A primeira acepção mais de perto associada à estrutura dos gêneros poderia ser chamada de ‘substantiva’ [...]. A segunda acepção dos termos lírico, épico, dramático, seria de cunho ‘adjetivo’ e refere-se a traços estilísticos de que uma obra pode ser imbuída em grau maior ou menor, qualquer que seja o 39 seu gênero (no sentido substantivo). 39. ROSENFELD, Anatol. “A teoria dos gêneros”. In: O teatro épico. São Paulo: Perspectiva, 1997, p. 17-19 38. CEIA, Carlos. op. cit. 15 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm concepção de é bastante esclarecedora, pensamos. Segundo , “as mais recentes propostas no campo da teoria da literatura, recomendam a distinção clara entre gêneros literários (categorias históricas do texto literário) e modos literários (formas meta-históricas 40ou arquitextuais de concretização do literário)” . , ao final de um longo capítulo de sua Teoria Literária, dedicado à problemática dos gêneros, intitulado, justamente, ‘Gêneros Literários’, afirma que, embora até aquele momento tenha propositalmente utilizado a nomenclatura ‘gênero’, deseja, a partir de então, discutir essa questão por julgar que o termo tem “caráter multívoco e até equívoco”, pois ora designam categorias acrônicas e universais (lírica, narrativa, etc.); ora categorias históricas e socioculturais (o romance, o romance histórico, a ode, etc.). Ressaltando que não é o único a pensar dessa forma, o autor propõe o termo e o conceito de ‘modo literário’ para designar categorias meta-históricas (modo lírico, modo narrativo, modo dramático); e ‘gênero literário’ para as categorias históricas (a tragédia, a comédia, o poema épico, o romance, etc.) O autor propõe, ainda, a nomenclatura ‘subgêneros’, a fim de designar as variedades dentro dos gêneros. Por exemplo, dentro do gênero romance encontramos subgêneros tais como o romance de aventuras, o romance de aprendizagem, o romance Anatol Rosenfeld Carlos Ceia Vitor Manuel de Aguiar e Silva IELit unidade 01 pg 30 40. CEIA, Carlos. op. Cit. A distinção entre modos literários, entendidos como categorias meta-históricas, e os gêneros literários, concebidos como categorias históricas, parece-nos lógica e semioticamente fundamentada e necessária. [...] Os modos literários representam, por um lado, o nível da forma de expressão, possibilidades ou virtualidades transtemporais da enunciação e do discurso uma longa tradição teorética, de aos nossos dias, tem caracterizado assim, embora com variações conceptuais e terminológicas, o modo narrativo, o modo lírico e o modo dramático e, por outra parte, a nível da forma do conteúdo, representam configurações semântico-pragmáticas constantes que promanam e atitudes substancialmente invariáveis do homem perante o universo, perante a vida e perante 41si próprio. Platão 41. AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. op. cit., p. 389. 15 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 31 unidade 01 pg epistolar, etc. Porém, essa forma de tratamento para as formas históricas e meta-históricas, bem como para as ‘ramificações das espécies históricas’, não se constituem em novidade, pois já são encontradas nos estudos de . Assim como , o teórico russo postula uma nomenclatura distintiva para essas formas. Em seu estudo ‘Gêneros do discurso’, datado de 1952-1953, e compilado em Estética da criação verbal, , por paradoxal que possa parecer, recua e amplia essa classificação, ao incluir nela não apenas o discurso literário, mas toda forma relativamente estável de enunciado. Para o teórico russo, estudam-se prioritariamente os gêneros literários, pois que devido a sua diversidade funcional, os traços comuns a todos os gêneros do discurso tornam-se abstratos e inoperantes. Para , primeiramente, Resumidamente, podemos dizer que, segundo a teoria de os gêneros do discurso se dividem em primários (simples) e secundários (complexos). Os gêneros do discurso primários (orais ou escritos) correspondem às formas menos elaboradas de discurso, como a curta réplica do diálogo cotidiano; o relato familiar; a carta; todo o repertório dos documentos oficiais e das declarações públicas, etc.; já aos gêneros secundários correspondem todas as formas complexas, mais elaboradas, de discurso, notadamente o discurso científico e ideológico, mas, sobretudo, o discurso literário (o romance, o teatro, etc.), o qual se subdivide, Mikhail Bakhtin Aguiar e Silva Bakhtin Bakhtin Bakhtin 42. BAKHTIN, Mikhail. “Os gêneros do discurso”. In.: Estética da criação verbal. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 279. Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam estão relacionadas à utilização da língua, [...] A utilização da língua efetua-se sob forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só, por seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal [...] mas também, e sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso42que denominamos gêneros do discurso. 16 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm por sua vez, em subgêneros (romance epistolar, romance de aprendizagem, romance de cavalaria, tragédia, comédia, tragicomédia, etc.). Portanto, dentro do gênero do discurso do tipo secundário, do tipo literário, estão os modos (lírico, narrativo, dramático) do discurso e seus respectivos gêneros (o gênero literário romance, o gênero literário soneto, etc.), subdivididos em subgêneros, conforme dito anteriormente. Os pressupostos bakhtinianos vão ao encontro da concepção de gêneros de considerado o pai da Narratotogia, cujos pressupostos norteiam, predominantemente, os estudos que se fazem na atualidade tendo por objeto o texto literário. afirma que “os autores pretendem não deixar cair as suas narrativas em modelos pré-concebidos que facilmente o leitor codificaria por um simples exercício de analogia”. Parece ser esta a voz corrente. Afirma, ainda, que a definição de gênero é necessária para os estudos que têm por objeto o texto literário, a fim de que encontremos a identidade de cada texto. Cremos que as palavras do autor sintetizam o pensamento contemporâneo acerca dos gêneros literários, o qual não é, por sua vez, definitivo, como nada o é no que tange ao fenômeno do literário. Gérard Genette, Carlos Ceia IELit unidade 01 pg 32 43. CEIA, Carlos. op. Cit. O que se pretende concluir é que um texto literário não pode escapar à lógica do gênero a que pertence, mas pode desafiar a lógica da contextualização que o aprisiona. Essa lógica caracteriza-se por uma total abertura à definição do seu mecanismo. [...] Aceite a necessidade de definição do gênero, deve notar-se ainda que o texto de ficção também não fica prisioneiro da classificação que lhe é atribuída nem nos casos em que o próprio autor a consagra nem nos casos em que os críticos literários e os historiadores a determinam. Os romances pós-modernos jogam precisamente com os limites da definição do gênero literário a que as suas obras devem pertencer. Mas é preciso ter em atenção que neste campo de 43investigação nada é definitivo. 16 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit unidade 01Quadros síntese sobre Gêneros literários | Os textos literários guardam características que os distinguem entre si, ao mesmo tempo em que os aproximam daqueles que se lhes assemelham. Gêneros literários são, grosso modo, uma forma de classificação, utilizada para os textos literários, os quais são agrupados “por qualidades formais e conceptuais em categorias fixadas e descritas por códigos estéticos. Estudar os gêneros nos permite um olhar abrangente que abarca a gênese e o desenvolvimento das espécies literárias e, mesmo, da própria literatura. sobre Teoria dos gêneros | Princípio ordenador, que “classifica a literatura e a história literária, não em função da época ou lugar, mas sim de tipos especificamente literários de organização ou estrutura. Todo e qualquer estudo crítico e valorativo (em contraposição aos históricos) acarreta, de alguma maneira, o apelo a essas estruturas.” De certa forma as obras pertenceriam a uma espécie, mas devemos considerar que há formas de transição e, ainda, formas híbridas. Talvez possamos falar em predominância de um determinado gênero, a partir da análise da cada obra individualmente ou, de pertencimento predominantemente a um gênero, com eventual ocorrência de outro (ou de outros) gênero, disseminado(s) pela obra em análise. todas sobre As formas clássicas | Percurso histórico pela noção de gêneros literários estudos, desde Platão e Aristóteles (a quem devemos a distinção clássica e fundamental de gêneros, norteadora de todas as discussões que se fazem, mesmo hoje) passando, entre outros momentos, pelo Neoclassicismo e Romantismo, até o início do século XX. A Escola de Atenas, Rafael Sanzio A Leitora, Jean-Honoré Fragonard Newton, Willian Blake 17 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit unidade 01 sobre A moderna teoria dos gêneros | A moderna teoria dos gêneros literários opõe-se à teoria clássica na medida em que deixa de ser normativa, prescritiva e dogmática, para se tornar essencialmente descritiva. A Épica sofreu a maior transformação, atualizada e englobada pela forma mais abrangente da Narrativa. sobre Gêneros literários x Modos do discurso | A questão relacionada à nomenclatura é outro ponto em que as opiniões divergem nos estudos focados sobre a questão dos gêneros literários. Gêneros, modos, espécies? O que seria mais adequado, sobretudo na atualidade? Chapéuzinho Vermelho, Gustave Doré Crak, Roy Lichtenstein 17 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm O Drama 2 18 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 36 unidade 02 pg UNIDADE II O Drama Profª Cláudia Lorena Fonseca O primeiro estágio desse distanciamento do teatro em relação às formas primitivas de contar (-se) é quando este adquire um caráter ritualístico, associado às danças e rituais primitivos que imitavam fatos e fenômenos naturais. Na sequência, o teatro adquire uma outra função, ao se associar às narrativas de fundação: mitos, lendas e histórias de heróis e deuses. São bastante conhecidos os festivais em honra dos deuses, sobretudo na antiga, quando começam a se delinear os contornos da forma seus principais traços, tal como a concebemos hoje. É nesse tempo e espaço, nesse contexto, que surgem, por volta do século VI a.C., as duas principais, e as mais valorizadas, formas de representação teatral: a tragédia e a comédia. e , são os principais autores. À época, encenava-se ao ar livre, sem palco, com o público Grécia Ésquilo, Sófocles Aristófanes Teatro: O primeiro cânone As origens da representação teatral remontam aos primórdios da existência humana. A necessidade de representar a si e ao mundo acompanha a história do homem. Podemos dizer que a representação teatral supre essa neces- sidade, assumindo uma dupla função, pois serve a essas duas causas. Esse movimento de contar contando-se, em seus primórdios, não se distinguia sobremaneira da dança, das pinturas, dos desenhos, porém, no decorrer de sua evolução, o teatro vai se configurando como forma independente, associado ainda às formas primitivas da dança, porém, cada vez mais próximo da narrativa, o que persiste nos dias de hoje, muito embora as formas se interpenetrem, característica observada na contemporaneidade, quando temos em mente e consideramos a forma teatral. 18 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit unidade 02 em semicírculo, em degraus, ao redor da cena e dos atores. Os primeiros palcos, ainda um rudimento de palco sob tendas, só vão surgir em . No teatro romano surgem, também, as conhecidas máscaras teatrais (personas), da tragédia e da comédia, as quais acrescentam à forma de representação, na medida em que propiciam que um único ator represente, ou ‘ ’ vários em uma peça: trágico, cômico, tragicômico. O teatro em , acredita-se, não teve uma origem única, embora a tragédia tenha se inspirado no modelo grego. Como autores, destacam-se e , além de , renomado autor de tragédias, as quais chegaram aos nossos dias, sendo ainda muito encenadas. No entanto, os teatros grego e romano tratavam de maneira distinta tragédia e comédia, do ponto de vista de valor, pois enquanto para os gregos a tragédia ocupava uma posição de maior relevância, sendo considerada mais nobre que a comédia, os romanos, ao contrário, tinham a comédia como a forma mais valorizada. A época medieval foi marcante em termos de mudanças na forma de pensar e ver o mundo. Com o foco na religiosidade, a Idade Média, recusa qualquer manifestação artística que não esteja vinculada à espiritualidade ou, mais precisamente, com a fé cristã e a Igreja. Por esse motivo, muitas dessas formas de manifestação foram banidas, o que quase ocorre com o teatro, o qual, após um longo período, em que esteve ligado aos rituais religiosos dos povosda antiguidade, assume um caráter profano, manifestação pagã. Ao apropriar-se da forma, a Igreja acaba por 'salvá-la', transformando-a em veículo eficiente de propagação do Cristianismo. Muitas são as formas surgidas no período, as quais se disseminaram, permanecendo ao longo dos tempos, algumas delas chegando até nós, sendo ainda utilizadas. Dentre as formas mais conhecidas e valorizadas surgidas no medievo estão os Mistérios (ou ), os Milagres, as Moralidades e as Farsas, essa última, a forma mais preservada, embora atualizada. Os mistérios vão buscar Roma Roma Plauto Terêncio Sêneca finja papéis Autos O verbo “fingir”, na origem, significava apenas “interpretar”. Portanto, os atores ‘fingiam’ uma personagem. A conotação pejorativa se estabeleceu, por analogia, com o tempo. Ver > “Autopsicografia”, de . “O poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”; “Persona”, em sua origem, significava “máscara” > Para pensar a respeito... Fernando Pessoa Essa forma é denominada “Pantomima”, hoje designando “teatro de gestos” ou “Mímica”. As moralidades confundem-se com outras formas dependendo do país, em , por exemplo, é englobada pela denominação mais genérica de 'autos', talvez por isso, no , colonizado pelos portugueses, também seja essa a nomenclatura mais genérica aquela adotada. , o maior nome do período em , 'pai' do teatro português, é autor de mistérios (Auto da História de Deus), milagres (Auto de S. Martinho) e moralidades (Auto da Alma). Portugal Brasil Gil Vicente Portugal 19 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm nas sagradas escrituras seus temas e histórias, representando-as, a fim de transmitir ao povo, impregnado pela oralidade, o ideário cristão, propagando essa fé. São encenados por ocasião de datas religiosas, como a Páscoa e o Natal, sobretudo, e são espetáculos de longa duração. Do mistério, mais especificamente do auto como forma abrangente, bem como da farsa, iremos tratar no item dedicado às formas teatrais mais relevantes. Já os milagres guardam alguma semelhança com os mistérios por sua temática e 'objetivos', porém é um espetáculo de duração mais reduzida e, embora muitos tratem da vida de santos (encenados no dia consagrado a cada um deles), poderíamos dizer que os milagres, ao contrário dos mistérios, se aproximam mais do sujeito terreno, do homem comum, personagens do dia-a-dia, os quais experimentam situações-limite, sendo modificados pela fé, ou pela intervenção dos santos e da Virgem Maria. Já as moralidades, outra forma de representação surgida na Idade Média, dão sequência aos mistérios, retratando o homem em conflito entre o 44Bem e o Mal. Segundo , as moralidades baseiam-se A autora afirma, ainda, que a moralidade incorpora elementos profanos e cômicos, o que, nesse sentido, a afasta do teatro religioso. Porém, é o mistério a forma considerada a mais importante do teatro religioso medieval, tendo se difundido por conta da 'itinerância', o que dá origem àquilo que viríamos a conhecer por Companhias teatrais, na época , que se apresentavam em diversas cidades, seja individualmente ou em festivais, estes cada vez mais populares. Percorrendo aldeias e cidades, em carroças, Lígia Vassalo troupes de saltimbancos IELit unidade 02 pg 38 [...] no princípio universal decorrente da Queda e da Redenção da humanidade: o homem é destinado a morrer em pecado, a menos que seja salvo pela intervenção divina. Este tema é informado em estrutura alegórica, uma das grandes linhas que perpassa a arte medieval. Seus personagens encarnam abstrações e valores morais [...]. Por meio destas personificações e de outros recursos formais, a moralidade visa à edificação do ser humano. Dentre todos os tipos de peças medievais, é a que mais se aproxima da tragédia. [...] É, de certo modo, o intermediário entre o auto e a farsa. 44. VASSALO, Lígia. “O teatro Medieval”. In.: VASSALO, Lígia. Revista Tempo brasileiro : Teatro Sempre. v. 72, jan-mar/1983, Rio de Janeiro, p. 41-46. Sugestão para assistir: “A viagem do Capitão Tornado”, belíssimo filme franco-italiano, dirigido por , 1990, o qual narra as experiências de uma troupe, em seus deslocamentos, no período medieval. Ettore Scola 19 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 39 unidade 02 pg levando sua arte à população destes lugares, as troupes, ao incorporar temas do cotidiano às peças encenadas, dão origem ao teatro popular, perpetuando a herança medieval. Mais adiante, nobres viriam a patrocinar as companhias de teatro, que a eles serviam, constituindo- se no que passou a ser chamado, mais tarde, de teatro elizabetano, do qual é o maior representante. O teatro atinge reconhecimento em toda a , tanto entre as classes mais favorecidas, quanto entre a população em . Mas é na renascentista que a forma do teatro, ao atingir um de seus períodos de maior projeção, se encaminha para fixar de maneira definitiva seus traços, aqueles que, continuamente atualizados, chegariam à contemporaneidade: desenvolve-se a Commedia Dell'Arte. Forma teatral sem similar no mundo, tratava-se de espetáculo baseado na improvisação, em personagens estereotipados e no uso de máscaras. A Commedia Dell'Arte era também conhecida, em seu país de origem, por Comédia . De acordo com 45, é a partir desse período que ator/atriz passa a ser uma profissão pois, até aquele momento, e principalmente na antiguidade greco-romana, aqueles que atuavam no teatro eram geralmente escravos ou pessoas pertencentes às classes sociais inferiores. Tratava-se de um espetáculo auditivo e visual, construído com rigor, no qual a expressão corporal dos atores desempenhava papel não apenas relevante, mas essencial, já que estes, com o rosto encoberto pelas máscaras, não podiam se valer de sua expressão facial. Essas máscaras eram utilizadas exclusivamente pelos Shakespeare Europa Itália Maria Lúcia de Aragão geral buffonesca 45. ARAGÃO, Maria Lúcia de. “A Commedia Dell'Arte”. In: VASSALO, Lígia. Revista Tempo brasileiro : Teatro Sempre. v. 72, jan-mar/1983, Rio de Janeiro, p. 57-59. 46. ARAGÃO, Maria Lúcia. op. cit, p. 57-59. [...] as companhias de cômicos dell'arte eram constituídas por artistas profissionais, enquanto que, durante as fases anteriores, os intérpretes, tanto do teatro medieval religioso, quanto do teatro erudito do cinquecento, não se haviam ainda organizado profissionalmente. [...] Com a comédia dell'arte, os atores passaram a se especializar através de um apurado adestramento técnico, mímico, vocal, acrobático e cultural, necessário para um aprimoramento cada vez maior da representação 46Improvisada. Na Espanha, na França, Inglaterra e na Itália foi a forma mais difundida e apreciada de representação do mundo, a mais democrática também, em uma época em que praticamente toda forma de transmissão e memória era oral. A oralidade é marca distintiva do teatro e, até a conquista do letramento por uma parcela realmente significativa da população em todas as camadas, foi, ao lado do conto, também de transmissão oral, importante forma de representação literária do mundo. PEREIRA, Beatriz; FONSECA, Cláudia L. & REQUIÂO, Renata. In.: Manual Ielit I. (no prelo) Termo difundido e incorporado ao vocabulário, não apenas teatral, mas também cotidiano. O termo “bufão” dele se origina. 20 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm homens. O ator era ‘polivalente’', deveria não apenas interpretar o texto, mas também improvisar, cantar, dançar e ser malabarista, além de mímico, pois para se fazer entender em meio à profusão de dialetos utilizados na no período, era necessária a utilização da mímica, que viria se tornar uma das marcas mais fortes da Commedia Dell’Arte. Era bastante comum o ator se especializar em um papel específico e interpretá-lo até o fim da vida. Personagens como Arlequim, Colombina,Pantaleão e o Doutor, por exemplo, são eternizados. A Commedia Dell’Arte era essencialmente popular, e reproduzia os valores e comportamento do sujeito de sua época, satirizando-os, razão pela qual o conteúdo não era o aspecto mais relevante na sua constituição. Mais importantes eram os aspectos funcionais, sua clareza, a comicidade, a abertura à improvisação e à inserção de danças e canções. Tradicionalmente, o espetáculo contava com um prólogo e três atos, ligados entre si por pequenos sketchs de dança, canto ou farsa conhecidos por lazzis. Com relação ao teatro elizabetano, podemos dizer que este tem seu período de florescimento e apogeu, na , entre os anos de 1562 a 1642. Suas principais características são a variedade de temas, inspirados na mitologia, na história, nas literaturas medieval e renascentista e pela mistura: do sério e do popular (ou cômico); do verso e da prosa. É essencialmente ‘localista’: refere-se à obra produzida por autores ingleses do período, levada ao palco em terras inglesas. Seu público era variado e reunia tanto a nobreza quanto a intelectualidade e a população em geral, inclusive crianças. As companhias teatrais também experimentaram um desenvolvimento considerável. Além disso, as apresentações começam a ser realizadas em local específico, o teatro, o qual tinha por característica principal o fato de ter o palco circundado pela audiência, com os atores no meio da plateia, pois se tratava de uma construção de formato circular (ou hexagonal), em três níveis. Outro detalhe interessante: a plateia era extremamente ativa, e participava da encenação. Mulheres ainda não eram aceitas como atrizes no teatro elizabetano. Itália Inglaterra IELit unidade 02 pg 40 20 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 41 unidade 02 pg O maior nome do período é o de (1564-1616), inglês nascido em , local em que chega a exercer a atividade de professor. Já casado, deixa sua cidade natal, em 1585, para se estabelecer em , a fim de se dedicar ao teatro. Depois de algum tempo como ator, dedica-se à . Considerado o maior dramaturgo da história, a autoria de suas peças é contestada, pois muitos historiadores as consideram por demais cultas para serem creditadas a alguém não pertencente à nobreza. O fato é que o autor tem realmente uma biografia um tanto quanto vaga sob alguns aspectos. 47Segundo , o fato de pouco gostar de falar e escrever sobre si mesmo, deu motivo à lenda de sua não existência, corroborado pelo fato de sua obra não ter sido publicada à época, o que em si não causa estranhamento, pois pouco era publicado até então em uma sociedade em que ainda predominava a cultura oral. Em sua obra, na qual se pode perceber uma profunda visão do mundo, detectamos três fases, a primeira delas que vai de 1593 a meados de 1600, representada por Romeu e Julieta, Tito Andrônico e Hamlet; aquela que vai de 1601 a 1607, aproximadamente, representada pelos dramas históricos; e a terceira fase, da maturidade, compreendida pelo período que vai de 1607 a meados de 1612, período em que produziu suas grandes tragédias, Otelo, Rei Lear e Macbeth. No século XVI, ainda vemos surgir a Ópera e, com ela, os teatros, bastante próximos dos que conhecemos hoje, com todos os elementos que os caracterizam: palco, cortina, plateia, camarotes, cenários cuidados, luzes apagadas durante a encenação, entre outros. Na mesma época, floresce o teatro clássico francês, um outro marco na história da dramaturgia. É o auge da Commedie Française, que tanta influência exerceu sobre o teatro moderno. Em contraposição ao ideal barroco, no teatro clássico do século XVII, a verossimilhança é o ideal a ser alcançado pelos autores. Busca-se o universal e o intemporal em todas as esferas da atividade humana. Conforme já destacado, na Unidade I, no momento do texto dedicado ao percurso histórico dos gêneros William Shakespeare Stratford- upon-Avon Londres Luíza Lobo dramaturgia Dramaturgia, em si, seria por definição particular a “arte ou a técnica da composição dramática”. Porém, aquilo que outrora seria a “arte da composição de textos teatrais”, em tempos modernos se expande para arte da composição de um espetáculo ou de um ato cênico. De maneira geral, empregamos o termo dramaturgia para nos referirmos à produção de um autor teatral. TORRES NETO, Walter Lima. “Dramaturgia” In.: CEIA, Carlos. e-dicionário de termos literários. Disponível em: http://www2.fcsh.unl.pt/e dtl/verbetes/D/dramaturgi a.htm 47. LOBO, Luíza. “O teatro elizabetano”. In: VASSALO, Lígia. Revista Tempo brasileiro : Teatro Sempre. v. 72, jan-mar/1983, Rio de Janeiro, p. 71-73. 21 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit unidade 02 pg 42 literários, arazão norteia todos os passos e pensamentos do homem do período. A fantasia está (temporariamente) banida a fim de que o homem alcance o equilíbrio e o conhecimento. O Neoclassicismo, na arte, respeita as conveniências, “evitando chocar a sensibilidade, 48costumes e preceitos morais do público a que se dirige.” O teatro nos moldes do período, sob a égide da monarquia, vai surgir na , e é lá que atinge seu auge, também, para depois se disseminar pela Europa e, aos poucos, pelo mundo. A literatura clássica e o teatro trágico, nos moldes de e , além da comédia como a concebeu . O período áureo do classicismo francês chega ao fim com a eclosão da ‘querela dos antigos e modernos’, embora sua herança, pelo menos no que diz respeito ao teatro, perdure. Na virada do século XVII para o século XVIII, o movimento Sturm und Drang, o qual eclode na , vai marcar a transição entre o ideário racionalista do iluminismo e o ideário romântico. No teatro do romantismo, a obra considerada séria não deriva da tragédia, mas sim da comédia do classicismo, pois prega a verossimilhança, com personagens e situações reais e cotidianas, apesar do predomínio da emoção sobre a razão. O teatro nos moldes como o concebeu volta a ser valorizado, pois a estrutura, nas peças do dramaturgo inglês, é mais livre. Alguns dos nomes mais representativos do Romantismo são os de , , , , e o francês , o qual escreve o célebre prefácio ao texto teatral Cromwell (1827), onde são expostos os novos princípios estéticos, entre eles aquele que maior impacto causaria: a legitimação do grotesco, negando as regras “do bom gosto”, que imperavam no período neoclássico e propondo a Poética da totalidade, a qual apregoa a harmonia dos contrários, na qual reside a verdadeira poesia. França Corneille Racine Molière Alemanha Shakespeare Goethe Alfred de Musset Vigny Byron Shelley Victor Hugo 48. RODRIGUES, Cleone Augusto. “O teatro clássico francês”. In: VASSALO, Lígia. Revista Tempo brasileiro : Teatro Sempre. v. 72, jan- mar/1983, Rio de Janeiro, p. 93-94. [...] a musa moderna verá as coisas com um olhar mais elevado e mais amplo. Sentirá que tudo na criação não é humanamente belo, que o feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz [...]. É da fecunda união do tipo grotesco com o tipo sublime que nasce o gênio moderno, tão complexo, tão variado nas suas formas, tão inesgotável nas suas criações, e nisto bem oposto à 49uniforme simplicidade do gênio antigo [...]. � 49. HUGO, Victor. Do grotesco e do sublime tradução do “Prefácio de Cronwell”. São Paulo: Perspectiva, 1988, p. 25 e 27. 21 B - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm IELit 43 unidade 02 pg Segundo “o Drama Romântico e a produção artística do final do século XVIII e primórdios do XIX terão o mérito de legitimar o Grotesco como categoria estética, em convivência com o Sublime da Arte 50Clássica” . O , ainda nas palavras da autora, Dalma Nascimento Grotesco Porém, o idealismo romântico começa a ceder espaço para o ideário do Realismo, no qual se destacam obras que põem em cena histórias
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