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IELit2_manual (1)

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1 A - 09/15/2010 15:23:29 - 148x210mm
 
Reitor: Prof. Dr. Antonio Cesar Gonçalves Borges 
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Impresso no Brasil
Edição: 2010
ISBN: 978-85-7192-696-7 
Tiragem: 500 exemplares 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação:
 Bibliotecária Daiane Schramm CRB-10/1881
U58 Universidade Federal de Pelotas 
Introdução aos Estudos Literários II. / Claudia Lorena Fonseca
Ministério da Educação, FPELE, 2010. 
146 p.: il.; 21 cm.
ISBN 978-85-7192-696-7 
1. Gêneros Literários. 2. Drama. 3. Lírico. 4. Narrativa. I. 
Fonseca, Claudia Lorena. II. Pereira, Beatriz Helena. III. Título.
CDD 372
e Beatriz Helena Pereira. - Pelotas: Editora Universitária / UFPEL, 
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Prof. Drª Cláudia Lorena Fonseca
Prof. Me. Beatriz Helena Pereira
Ministério da Educação
Universidade Federal de Pelotas
Universidade Aberta do Brasil
Introdução aos 
Estudos Literários II
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Apresentação 
Cara aluna,
Caro aluno,
tens em mãos o manual de Introdução aos Estudos 
Literários II. Nesta disciplina vais aprofundar os teus 
conhecimentos nos estudos dos gêneros literários, nas 
formas narrativas e poéticas, no estudo de conceitos e de 
vocabulário crítico específico.
Ao longo deste semestre, serão apresentadas leituras 
literárias para que pratiques os conceitos estudados, 
aprimorando cada vez mais o teu modo de ler, tornando-te 
um leitor capacitado para fazer uma análise embasada 
teoricamente.
Uma vez mais, o intento desta disciplina, além de 
apresentar novos conhecimentos teóricos, é proporcionar a 
leitura do maior número possível de textos clássicos da 
literatura ocidental. Preparamos este material sempre 
esperando que as leituras feitas, mais do que tarefas a 
serem cumpridas, sejam bons momentos de fruição.
Boas leituras!
As professoras,
Drª Cláudia Lorena Fonseca
Me. Beatriz Helena Pereira
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Gêneros Literários1
2
3
O Drama
A Lírica
Apresentação05
Gêneros Literários
Teoria dos gêneros
As formas clássicas
A moderna teoria dos gêneros
Gêneros Literários x Modos do discurso
Quadros s nteseí
Teatro - o primeiro cânone
O Dramático - traços estilísticos fundamentais
Formas do dramático
Quadros síntese
A Lírica 
Caracterização e formas da Lírica 
Um pouco de história
Elementos da Lírica
Formas da Lírica
Outras palavras...
Quadros síntese
4 A Narrativa
A Épica
A Narrativa
Elementos da narrativa
Formas da narrativa
Quadros síntese
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Bibliografia138
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Gêneros Literários
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UNIDADE I
Gêneros Literários 
Profª Cláudia Lorena Fonseca
1. WELLECK, René; 
WARREN, Austin. Teoria da 
Literatura. 5ª ed. Lisboa, 
Europa-América, 1987. 
Caso semelhante, ou igualmente problemático, 
nesse terreno, diz respeito à questão dos Gêneros 
Literários, ponto que, se em algum momento de seu 
percurso chegou a ser considerado pacífico (ou quase), 
tido como definitivo, hoje se sabe que não o é, pois vários 
são os pontos de vista, várias são as teorias visando dar 
conta do fenômeno, muitas delas de excelente 
fundamentação. Essas questões vão ao encontro daquela 
que se põe, por exemplo, , logo às primeiras 
palavras do capítulo XVII, dedicado à discussão acerca 
1dos gêneros literários, em sua obra Teoria da literatura : 
“Será a literatura uma coleção de poemas, peças e 
romances individuais que compartilham uma designação 
comum?”. Evidentemente, não podemos dizer que seja, 
René Welleck
O confronto com definições pouco precisas é uma 
constante quando falamos de Literatura ou das artes em 
geral. Terreno dos mais subjetivos, as dificuldades de definição 
inquietam os estudiosos e mesmo aqueles que, com um pouco 
mais de atenção, voltam-se para as questões que envolvem o 
fenômeno do literário. Certamente todos esses já buscaram 
uma resposta para a questão maior: ‘o que é Literatura?’. 
Certamente, também, encontraram apenas definições não 
completamente satisfatórias, resultado da busca de um sem 
número de estudos empreendidos ‘desde sempre’, porém toda 
reflexão fundamentada nos serve de apoio para que possamos 
de nossa parte, igualmente formular nossas próprias reflexões 
e, quiçá, definições. De qualquer forma, é certo que todos nós, 
estudiosos, sobretudo, malgrado a subjetividade do campo de 
investigação, temos respostas que nos satisfazem, provisori-
amente, é claro. 
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pois esta seria uma forma simplista de tratamento para o 
tema, embora possamos dizer que, basta termos tido 
acesso a uma boa variedade de textos, para comprovar 
que os textos literários guardam características que os 
distinguem entre si, ao mesmo tempo em que os 
aproximam daqueles que se lhes assemelham. 
Diz ainda que “a espécie literária não 
é um mero nome, por isso mesmo que a convenção 
estética em que participa uma obra enforma o caráter 
2desta” . Ponto pacífico, todos concordam com a afirmação 
do autor, não é aí que divergem, mas sim quando se trata 
de nomear essas espécies, que compartilham de 
determinadas características entre si.
Formatar é dar forma, verbo que difere de outro de 
mesma origem: enformar, principalmente se estivermos 
nos movendo pelo campo da subjetividade. No que tange 
ao literário, significa dizer de determinada forma, 
seguindo uma determinada convenção, e a esses 
‘formatos’ convencionou-se chamar ‘gêneros’, embora 
nem mesmo essa nomenclatura seja unanimidade entre 
os estudiosos. Ao eleger uma forma, aquela mais 
adequada ao que quer dizer, o autor leva em conta não 
apenas os traços distintivosdos gêneros, mas também 
todo o percurso por eles percorrido ao longo dos tempos. 
Segundo , as espécies guiam os escritores e são 
determinadas pelas obras que produzem, configurando-
se a partir da produção desses autores, de seu estilo, de 
certa forma. As leis que regem determinada espécie de 
texto, não são imutáveis, são ajustadas, alteradas sem 
que percam uma essência que as distingue das demais 
formas. Para o autor, ainda, a ‘forma’ é uma necessidade, 
já que 
René Welleck
Welleck
[...] o prazer que uma obra literária instila no homem é composto por 
uma sensação de novidade e por uma sensação de reconhecimento. 
[...] o esquema inteiramente habitual e repetido é maçador; a forma 
inteiramente nova será ininteligível é mesmo 
inconcebível. O gênero representa por assim dizer, 
uma soma de processos técnicos existentes, de que 
o escritor pode lançar mão e dispor e que o leitor já 
3compreende. 
2. WELLECK, René; WARREN, 
Austin. op. cit., p. 281.
3. WELLECK, René ; WARREN, 
Austin. op. cit., P.293-294
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A espécie literária é uma Instituição, por meio 
dessa instituição manifestam-se os autores, expressam-
se, produzem, a partir das instituições pré-existentes, 
transformando-as ou não, ou criando novas, 
acrescentando-as às existentes. Os autores podem 
também participar de uma instituição sem aderir 
completamente a ela. Estudar os gêneros nos permite um 
olhar abrangente que abarca a gênese e o 
desenvolvimento das espécies literárias e, mesmo, da 
própria literatura.
A Teoria dos gêneros é o princípio ordenador, que 
“classifica a literatura e a história literária, não em função 
da época ou lugar, mas sim de tipos especificamente 
literários de organização ou estrutura. Todo e qualquer 
estudo crítico e valorativo (em contraposição aos 
históricos) acarreta, de alguma maneira, o apelo a essas 
4estruturas.” Ao lermos ou estudarmos um texto 
recorremos a esse conhecimento, a essas estruturas. 
Avaliamos, e também fruímos, a partir daquilo que 
'conhecemos por', ou da concepção que temos daquela 
forma literária, embora não descartemos as novas 
experiências. 
Porém, pertenceria toda e qualquer obra a uma 
espécie? Sim e não, diríamos, em resposta à questão que 
se coloca em seu estudo. Mais 
precisamente, diríamos que sim, que de certa forma as 
obras pertenceriam a uma espécie, mas que devemos 
considerar que há formas de transição e, ainda, formas 
híbridas. Talvez possamos falar em predominância de um 
determinado gênero, a partir da análise da cada obra 
individualmente ou, de pertencimento 
predominantemente a um gênero, com eventual 
ocorrência de outro (ou de outros) gênero, disseminado(s) 
pela obra em análise. 
, na abertura do estudo que dedica 
aos gêneros literários, afirma que
Teoria dos gêneros 
René Welleck
Angélica Soares
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Em suma, as diferentes teorias que tentam dar 
conta do fenômeno evoluem em torno de um mesmo 
denominador comum, embora acrescentem à noção, a 
partir de seu estudo, questionando-a e questionando-se, 
identificando especificidades, propondo novas 
abordagens, novas formas de posicionamento em relação 
ao objeto de investigação. 
É um longo trajeto percorrido ao longo dos tempos, 
uma longa história, desde que a noção de gênero começa 
a se tornar tema recorrente dos debates acerca do 
literário. Cada época trata a questão à sua maneira, em 
conformidade com os valores que lhe são 
correspondentes e com o estágio do pensamento em que 
se encontra, evidenciando aspectos que, por sua vez, 
atendem às necessidades e vão ao encontro das ideias e 
ideais vigentes. De qualquer forma, podemos distinguir 
três fases bastante distintas desta história, três etapas: a 
As formas clássicas 
5. SOARES, Angélica. Gêneros 
literários. 6ª ed. São Paulo: 
Ática, 2004.
[...] a tendência para reunir, em uma classificação, as obras literárias 
onde a realidade aparece de um determinado modo, através de 
mecanismos de estruturação semelhantes, surge com as 
manifestações poéticas mais remotas. [...] A denominação de 
gêneros literários, para os diferentes grupamentos das obras 
literárias, fica mais clara se lembrarmos que gênero (do latim genus-
eris) significa tempo de nascimento, origem, classe, espécie, 
geração. E o que se vem fazendo, através dos tempos, é filiar cada 
obra literária a uma classe ou espécie; ou ainda é mostrar como 
certo tempo de nascimento e certa origem geram uma nova 
modalidade literária. A caracterização dos gêneros, tomando por 
vezes feições normativas, ou apenas descritivas, apresentando-se 
como regras inflexíveis ou apenas como um conjunto de traços, os 
quais a obra pode apresentar em sua totalidade ou 
predominantemente, vem diferençando-se a cada época. Em defesa 
de uma universalidade da literatura, muitos teóricos chegam mesmo 
a considerar o gênero como categoria imutável e a valorizar a obra 
pela sua obediência a leis fixas de estruturação, pela sua 'pureza'. 
Enquanto outros, em nome da liberdade criadora de que 
deve resultar o trabalho artístico, defendem a mistura 
dos gêneros, procurando mostrar que cada obra 
apresenta diferentes combinações de características 
5dos Diversos Gêneros.
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clássica, desde os filósofos gregos e 
até o Neoclassicismo; a romântica, de até os poetas 
ingleses e, a terceira delas, representada pelo período 
que vai do início do século XX, com o surgimento dos 
Formalistas russos e seu interesse em sistematizar a 
noção de texto, até nossos dias. No entanto, dentro do 
período correspondente a cada uma dessas fases, 
podemos, também, distinguir uma alternância do 
pensamento, que oscila no interior das mesmas. Façamos 
uma reconstituição do percurso histórico dos gêneros 
literários, a fim de compreender o atual estágio do 
pensamento naquilo que diz respeito à noção.
6Devemos a (428 a.C 347 a.C) , o crédito 
pela primeira referência, no pensamento ocidental, aos 
gêneros literários. Esta referência se encontra no livro III 
da República (394 a.C). Depois dele vieram e 
, responsáveis pelos textos clássicos da teoria 
dos gêneros. A devemos, ainda, a distinção 
entre drama, épica e lírica, esta que acaba por se tornar a 
distinção clássica e fundamental de gêneros, norteadora 
das discussões que têm lugar mesmo nos dias atuais. 
Poderíamos dizer que esta prevalece ainda, embora a 
moderna teoria dos gêneros prefira distinguir entre 
poesia e prosa, além de dividir a literatura imaginativa 
em ficção, drama e poesia. Nesse caso, a Ficção abarca a 
épica, o romance, e o conto, ou seja, a quase totalidade 
da literatura em prosa. Quanto ao Drama, neste podem 
ser encontrados tanto textos em prosa quanto em verso. 
Em relação à Poesia, pode-se afirmar que esta 
corresponde à antiga Lírica. 
A ideia de mimesis surge já em , para quem 
as artes possuíam uma função moralizante. Para ele, 
todos os textos literários são uma narrativa (ou diegesis) 
de acontecimentos, que se concretizam a partir de três 
modalidades: por um ato mimético (discurso das 
personagens); por um ato narrativo (discurso em primeira 
pessoa, do próprio poeta); e por uma modalidade híbrida, 
a qual combina mimese e ato narrativo (alternância entre 
Platão Aristóteles
Hegel 
Platão 
Aristóteles
Horácio
Aristóteles
Platão
Platão, Aristóteles e Horácio
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6. Data aproximada.
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as vozes do poeta e das personagens). Exemplificam 
essas modalidades, respectivamente, a tragédia e a 
comédia; o ditirambo, e a epopéia. Em relação à idéia de 
mimesis, que concretiza a comédia e a tragédia, esta se 
constrói por imitação, segundo , que considerava o 
poeta apenas um imitador do que fabricava o artesão, 
cuja obra era de segunda espécie, contrapondo-se à obra 
do poeta, de terceira espécie. No primeiro lugar dessa 
escala, encontrava-se o “natural”.Para , a 
perfeição se encontra no mundo das ideias. Nosso mundo 
não passaria de uma imitação desse mundo , sendo, 
portanto, imperfeito. A arte, segundo o pensamento de 
, estaria ainda mais afastada da perfeição, pois 
estaria mais distante do mundo das ideias, já que não é a 
este que imita, e sim àquele que é já simulacro. 
 (384 a.C. 322 a.C.), partindo das idéias 
de , opõe-se a este, recusando sua hierarquia 'das 
três espécies' de obra, valorizando, assim, o trabalho 
poético. Suas preocupações eram de ordem estética, o 
que explica a diferença de posicionamento em relação a 
. Suas ideias a esse respeito, e sua percepção do 
processo de mimesis artística são apresentadas na 
Poética. Para o autor, a mimese poética não é uma literal 
e passiva cópia da realidade, nas palavras de 
, “uma vez que apreende o geral 
presente nos seres e nos eventos particulares [...], incide 
sobre os ‘homens em ação’, sobre os seus caracteres, as 
7suas paixões, e as suas ações [...]” . É Aristóteles o 
primeiro a propor uma teoria sobre a origem dos gêneros 
literários, “o primeiro a insinuar uma distinção entre os 
modos literários e as diferentes formas de representação 
textual que resultam do processo mimético artístico (os 
8diferentes gêneros)” . 
Segundo ,
 
Platão
Platão
Platão
Aristóteles
 Platão
Platão
Vitor 
Manuel de Aguiar e Silva
Carlos Ceia
ideal O Platonismo é a doutrina 
filosófica relacionada ao 
pensamento de Platão. O 
princípio fundamental 
dessa doutrina consiste, 
basicamente, em acreditar 
que as experiências 
vivenciadas ou construídas 
no mundo (ou plano) das 
ideias são perfeitas, 
superiores às experiências 
vivenciadas ou construídas 
no mundo material.
7. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. Teoria da 
Literatura. 8ª ed. Coimbra: 
Almedina, 1994, p. 342.
8. CEIA, Carlos. Verbete 
'Gêneros literários. In.: CEIA, 
Carlos. e-dicionário de termos 
literários, disponíivel em: 
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl
/verbetes/G/generos_literari
os.htm
[...] para a arte da poesia se concretiza em diferentes 
modalidades (gêneros) a partir de um modo único de realização: a 
mimesis. Toda a poesia é imitação, reclama , que encontra 
nas diferentes 'espécies' ou gêneros literários como a epopeia, a 
tragédia ou a poesia ditirâmbica a mesma matriz de interpretação da 
realidade. Os gêneros literários só são, portanto, distinguíveis pelos 
Aristóteles 
Aristóteles
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Esta distinção entre (narrativo e 
dramático) é a primeira feita de forma sistemática. 
Destaque-se que, para , o termo “poesia” 
abrange toda a produção literária. Já o que o autor 
denomina 'poesia lírica', corresponde ao que hoje 
chamamos, simplesmente, de Lírica. Tomado e retomado, 
ou seja, 'interpretado' de muitas formas e por vezes à 
conveniência daqueles que pretendem dar uma base 
sólida e 'fundamental' à sua teoria, , em parte, 
sofre as consequências do quão pouco explícito foi em 
seus escritos, que são poucos, é verdade, já que boa 
parte de sua obra não chegou a nossos dias. Esses dois 
fatores contribuem para que muitas de suas ideias fiquem 
sujeitas à interpretação que delas é feita, embora em 
inúmeros aspectos haja consenso, mercê dos estudos 
com o decorrer do tempo cada vez menos 'parciais' que se 
fizeram. 
Outro importante pensador desses primeiros 
tempos na história dos gêneros literários foi o romano 
(65 a.C. 8a.C.). Em sua arte poética, a Epistulæ 
ad Pisones (Carta aos Pisões), estão algumas reflexões 
sobre os gêneros literários. E, se a reflexão levada a cabo 
pelos gregos destaca-se por ser eminentemente teórica, a 
disposição romana destaca-se por seu pragmatismo. De 
acordo com , “enquanto em e em 
 a distinção dos gêneros era feita levando em 
conta a caracterização da linguagem poética, entre os 
alexandrinos e os romanos o problema teórico é abafado 
e, em seu lugar, é posta a preocupação de diferençar para 
10bem legislar.” Ainda segundo o autor, “o decoro se 
11torna o princípio do poeta e do homem culto em geral” , 
por esse motivo a literatura assume um caráter, ou uma 
função, moral e didática. Se para a literatura, e a 
arte de maneira abrangente, era prejudicial ao bem-estar 
dois gêneros
 Aristóteles
Aristóteles
Horácio 
Luiz Costa Lima Platão 
Aristóteles
Platão
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 9. CEIA, Carlos. Op. cit.
meios da imitação (ritmo, canto e verso), pelos objetos 
que imitam (pelas personagens que são superiores ao 
próprio homem, como na epopeia e na tragédia; ou 
pelas personagens que lhe são inferiores, como na 
paródia e na comédia) e pelos modos de imitação 
(narrativo, como na epopeia, e dramático, como na 
9tragédia e na comédia).
A poesia lírica não é 
considerada, aqui, já que 
esta não pertence ao 
domínio da poiesis (ou 
“acção”) e também 
porque Aristóteles não 
considera a poesia lírica 
uma forma de imitação 
narrativa ou dramática. 
Apud. Carlos Ceia, op. Cit.
 10. IMA, Luiz Costa. (org) 
Teoria da literatura em suas 
fontes. Vol. 1. 3ª ed. Rio de 
Janeiro: Civilização brasileira, 
2002, p. 259.
 11. LIMA, Luiz Costa. (org). 
op. cit., p. 259.
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social, nociva, portanto, se para a mímese 
artística, além de fonte de conhecimento, era também 
catarse, para a poesia integrava prazer e 
educação.
Para , o gênero é definido pelo metro e por 
um conteúdo específico, é caracterizado por um 
determinado tom. Para ele, o poeta, para que possa assim 
ser chamado, é aquele que respeita o domínio e o tom de 
cada gênero literário. 
Em relação a esse aspecto do pensamento 
horaciano, assim afirma :
As reflexões de sobre gêneros literários vão 
exercer grande influência na poética e na retórica dos 
séculos XVI, XVII e XVIII, quando a tradição clássica será 
retomada.
Na Idade Média o que se percebe é um rompimento 
com a tradição clássica dos gêneros literários, a partir de 
novos conteúdos que são agregados a estes. Sabe-se que 
a Idade Média caracteriza-se por um olhar voltado às 
questões que dizem respeito à religião, à alma, ao não-
racional, portanto, embora o caráter extremamente 
moralista, e mesmo sensor da época. A rigidez das 
normas vigentes se faz valer também quando se trata da 
reflexão sobre a arte, aí inclusa a Literatura, 
Aristóteles
Horácio 
Horácio
Vitor Manuel de Aguiar e Silva
Horácio
Idade Média
12. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. Teoria da 
literatura. 1ª ed. Brasileira. 
São Paulo: Martins Fontes, 
1976. 
[...] O poeta deve portanto escolher, conforme os assuntos tratados, 
as convenientes modalidades métricas ou estilísticas, de maneira a 
não exprimir um tema cômico num metro próprio da tragédia ou, 
pelo contrário, um tema trágico num estilo pertencente à comédia. 
[...] foi deste modo conduzido a conceber os gêneros como 
entidades perfeitamente distintas, correspondendo a distintos 
movimentos psicológicos, pelo que o poeta deve mantê-los 
rigorosamente separados, de modo a evitar, por exemplo, qualquer 
hibridismo entre o gênero cômico e o gênero trágico. [...] 
Assim se fixava a famosa regra da unidade de tom, de 
tão larga aceitação no classicismo francês e na estética 
neoclássica, que prescreve a separação absoluta 
12dos diversos gêneros. 
 Horácio
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evidentemente. É o auge da poesia trovadoresca, do 
ideal cavalheiresco. As sistematizações são rigorosas, 
mas algumas referências aos gêneros são feitas, uma 
delas, pelo menos, bastante importante, segundo 
, aquela que é feita por , o 
qual, na Epístola a Can Grande Della Scala, “classifica o 
estilo em nobre, médio e humilde, situando-se no 
primeiro a epopeia e a tragédia, no segundo a 
comédia (também diferenciada da tragédia pelo seu 
13final feliz) e no último a elegia.” 
Com o retorno a uma maior racionalidade, que se 
experimenta no período renascentista, é natural que se vá 
buscar na Antiguidade, considerada perfeita naquilo que 
tange à arte, os códigose pressupostos que nortearão a 
reflexão sobre os gêneros literários e a arte literária em 
geral. Os humanistas do Renascimento retomam os 
clássicos, sobretudo . Florescem e proliferam as 
‘artes poéticas’. 
Segundo , 
Para os renascentistas, quanto mais perfeita a 
imitação, maior o valor da obra, ou seja, trata-se da 
leitura distorcida da mimesis aristolética, mímese como 
“imitação da natureza e não como um processo de 
recriação. [...] Desse modo, o que se tem é uma 
concepção imutável dos gêneros, em perfeito acordo com 
a defesa da universalidade da arte, da sua essência 
15supra-histórica” . Os pressupostos que norteavam os 
estudos à época eram essencialmente normativos, e 
assim continuariam a ser mesmo depois, já no 
Angélica Soares Dante Alighieri
Horácio
Carlos Ceia
Os Renascentistas
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pg
18
13. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 12.
A questão dos gêneros literários concorre, curiosamente, com a 
questão do decorum ou conformidade do estilo com o assunto, uma 
convenção ética de sabor clássico que é, afinal, uma das 
grandes motivações de quem procura agradar a um 
público letrado exigente pela boa concordância com o 
cânone de escrita estabelecido, que o homem do 
14renascimento não pretende ainda discutir livremente.
14. CEIA, Carlos. op. cit.
 
 15. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 12.
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19
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Neoclassicismo. É também nesse período que a Lírica 
começa a fazer parte, de forma mais destacada, do 
sistema dos gêneros literários, quebrando a hegemonia 
da épica e do drama. 
O Neoclassicismo consolida essa distinção entre os 
gêneros, pregando também a permanência dessa 
distinção, a qual para os estudiosos da época, era 
necessária. Segundo , o Neoclassicismo foi 
uma mistura de autoritarismo e racionalismo e agiu de 
forma conservadora. De acordo com o autor “a teoria 
neoclássica não explana, não expõe nem defende a 
doutrina das espécies ou a base de diferenciação. 
Em certa medida, atende a certos tópicos, tais como 
pureza da espécie, hierarquia das espécies, duração das 
16espécies, acréscimo de novas espécies” , razão pela qual 
os estudos do período são bastante vagos em relação a 
esses aspectos. Isso ocorre devido ao fato de que o 
Neoclassicismo “parte do pressuposto de que a teoria 
dos gêneros tradicionais da literatura é uma evidência em 
si mesma, por isso não necessita de explicitação ou de 
17uma nova sistematização. Porém, é no período que 
corresponde ao Renascimento tardio e o Neoclassicismo 
que os estudos sobre os gêneros literários alcançaram o 
maior desenvolvimento, agregando a eles 
sistematicidade e minúcia. De acordo com 
, é nesse período, também, que começa 
a ser refletida, pregada e difundida a noção até hoje 
bastante conhecida, e inadvertidamente empregada, de 
pureza dos gêneros, a qual consiste em um repúdio à 
mistura de vários estilos, temas ou emoções em um 
mesmo texto. Esse é o motivo pelo qual a tragicomédia é 
relegada a um plano tão inferior que praticamente 
desaparece.
Paralelamente à questão da pureza dos gêneros, o 
Neoclassicismo refletiu, também, sobre duas outras 
questões: a hierarquia e a invenção de novos gêneros 
literários, e a sociologia dos gêneros literários. A 
primeira trata da distinção entre gêneros maiores e 
O Neoclassicismo
René Wellek
Vitor Manuel 
de Aguiar e Silva
16. WELLECK, René ; WARREN, 
Austin. op. cit. p. 287.
17. CEIA, Carlos. op. Cit.
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menores, ou seja, mais, ou menos valorizados; a 
segunda, diz respeito à correspondência de cada gênero 
a uma determinada classe social. Naturalmente, os 
gêneros considerados maiores (a epopeia e a tragédia) 
eram associados à classe de maior projeção social: a 
nobreza; por conseguinte, os gêneros considerados 
“baixos”, ou menos nobres (a sátira, a comédia, a farsa, a 
pastoral), eram consagrados às classes mais populares, 
na cidade ou no campo. 
Há, inclusive, ‘receitas’ para a composição de obras 
literárias como aquela que oferece , o 
qual se dedica a expor, em sete itens, o que deve ser 
considerado quando da produção de um bom exemplar 
da espécie literária mais valorizada, o poema épico: 
Portanto, para o Neoclassicismo, todo valor da arte 
está diretamente relacionado à razão, fonte de equilíbrio, 
bom senso e clareza. Este é o ideal de uma época, em 
todos os campos da existência humana, não excluindo, 
obviamente, a arte. 
Fiel a esses preceitos, destaca-se um dos teóricos 
mais representativos do período: 
 (1636-1711), o qual produziu um importante 
documento do racionalismo francês do século XVII, 
intitulado, como outros homônimos, Arte poética. E aqui, 
um outro ponto importante deve ser destacado: essas 
normas não eram unanimidade entre os pensadores do 
Neoclassicismo. As polêmicas multiplicaram-se, a partir 
Thomas Hobbes
Nicolas Boileau-
Despréaux
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20
18. CEIA, Carlos. op. Cit.
1) vocabulário vernáculo, sem estrangeirismos nem termos 
técnicos, porque o público leitor deve poder entender o vocabulário 
do poema e as mulheres têm tanto direito de compreender e ter 
acesso à leitura de um poema épico como os homens, já que elas 
não são supostas ter a mesma competência linguística; 2) o estilo 
deve ser natural, sem estar preso a regras de rima e metro; 3) o 
modo de apresentação formal do poema narração do poeta ou das 
personagens e a sequência temporal dos fatos narrados devem ser 
adequadamente medidos; 5) toda a inspiração poética deve ser 
moderada pela razão e pelo juízo, anulando toda a 
possibilidade de validar criações fantásticas e 
maravilhosas; 6) originalidade e correção no uso 
de imagens; 7) respeito pelas figuras históricas e 
188) variedade de apresentação formal.
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da , a tal ponto que provocaram reações bastante 
apaixonadas, sendo a de maior repercussão (entre o final 
do século XVII e o início do século XVIII, na ), a 
querela dos antigos e modernos. Os ‘modernos’, 
chamados posteriormente de maneiristas, pré-barrocos e 
barrocos, “posicionavam-se a favor das formas literárias 
inovadoras, que melhor representariam as mudanças de 
cada época, contrariamente aos ‘antigos’, que ainda 
19defendiam a imutabilidade das regras greco-romanas” . 
De acordo com Vitor Manuel de Aguiar e Silva, 
A contenda, além de enriquecer o debate sobre os 
gêneros, prepara o terreno para o período imediatamente 
posterior, o período romântico, no qual a concepção de 
gênero pregada pelos ‘modernos’ alcançará não apenas 
desenvolvimento, mas uma exacerbação.
Embora o século XVIII, sobretudo na primeira 
metade, ainda convivesse com a doutrina classicista, a 
partir do que pregavam algumas correntes, modificações 
Itália
França
Pré-Romantismo e Romantismo
 19. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 13 
[...] A poética do maneirismo e, sobretudo, a poética do barroco, 
entendiam o gênero literário como uma entidade histórica, 
admitindo a possibilidade da criação de gêneros novos e do 
desenvolvimento inédito de gêneros já existentes, advogando a 
legitimidade e o valor intrínseco dos gêneros mistos ou híbridos. [...] 
Iniciava-se, assim, o tempestuoso e multiforme debate entre os 
antigos e modernos: os antigos consideravam as obras literárias 
greco-latinas como modelos ideais e inultrapassáveis e negavam a 
possibilidade de criar novos gêneros literários ou de estabelecer 
novas regras para os gêneros tradicionais; os modernos, 
reconhecendo a existência de uma evolução nos costumes, nas 
crenças religiosas, na organização social, etc., defendiam a 
legitimidade de novas formas literárias, diferentes das dos gregos e 
latinos, admitiam que os gêneros canônicos, como o poema épico, 
pudessem assumir características novas e chegaram mesmo a 
afirmar a superioridade das literaturas modernas em relação às 
letras greco-latinas. Para os modernos, as regras formuladas por 
 e por não representavam preceitosválidos 
intemporalmente, pois constituíam um corpo de normas 
indissoluvelmente ligado a uma determinada época 
histórica e a uma concreta experiência literária. Nos 
modernos, com efeito, era muito vigoroso o sentido da 
20historicidade do homem e dos seus valores [...]
Aristóteles Horácio
20. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p. 355-
356.
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ocorriam não apenas no âmbito do literário. Modificações 
profundas, em um século de crise de valores nos mais 
diversos planos, valores esses que acabam por sofrer um 
processo de relativização, decorrente de fatores como “a 
crença no progresso contínuo da civilização, da 
sociedade e das suas instituições, das ciências e das 
letras, e do espírito modernista e antitradicional daí 
21decorrente.”
Nesse contexto, surge, na , o movimento 
pré-romântico conhecido por , o qual 
contestava a teoria fixa dos gêneros literários. Segundo
, “o movimento quis destacar a autonomia da 
obra de arte literária em relação a quaisquer convenções 
22impostas previamente para a sua criação e recepção” . 
 vai ainda mais longe e o 
classifica como rebelião total contra a teoria clássica dos 
gêneros e das regras, o qual põe em evidência “a 
individualidade absoluta e a autonomia radical de cada 
obra literária, sublinhando o absurdo de estabelecer 
23partições no seio de uma atividade criadora única.” 
Portanto, a existência dos gêneros, nesse cenário, estava 
condenada. 
Com o Romantismo há uma valorização ainda maior 
da liberdade de criação e da individualidade do poeta, 
sendo este considerado um gênio inspirado pela Musa. É 
dele que brota e irrompe a poesia. Essa concepção, nas 
palavras de , leva também “à valorização 
da individualidade e da autonomia de cada obra, com o 
que se vê condenado todo tipo de classificação da 
24literatura.” Contraditória e multiforme, a teoria 
romântica dos gêneros não foi totalmente aceita ou 
adotada sem reservas pelos autores românticos. Dentre 
estes, encontra-se , o qual observa, em 
sua obra Diálogo sobre a poesia, que a fantasia do poeta 
não deve desintegrar-se em obras caóticas, mas cada 
uma delas deve “construir-se de acordo com o gênero a 
que pertencem, embora mantendo características 
25peculiares. O autor é responsável, ainda, por uma 
classificação que aproxima, dialeticamente os gêneros 
literários: a épica à tese; a lírica à antítese; e o drama à 
síntese das manifestações poéticas do espírito humano. 
Alemanha
 
Carlos Ceia
Vitor Manuel de Aguiar e Silva
Angélica Soares
Friedrich Schlegel
Sturm und Drang
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22
22. CEIA, Carlos. op. Cit.
 
23.AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p.359.
 
24.SOARES, Angélica. op. cit., 
p.13.
 
25. Apud Angélica Soares. op. 
cit., p.14.
Expressão que significa, 
literalmente, “tempestade 
e impulso”.
 21. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit. p. 359.
 
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Já , outro autor romântico de destaque, 
apregoa, veementemente, por sinal, no bastante 
conhecido “Prefácio” do Cromwell, de 1827, o hibridismo 
dos gêneros, posto que, segundo ele, não apenas o belo 
e o feio, o riso e a dor, o grotesco e o sublime, fazem 
parte da existência humana, como se misturam, sendo 
indissociáveis. Na mesma obra, o autor ataca a noção de 
pureza dos gêneros. Quanto ao alemão , trata-se 
de outro autor importante do Romantismo, autor de uma 
Poética, em que a questão dos gêneros desempenha 
papel relevante. Porém é que produz a mais 
importante reflexão sobre os gêneros literários no 
período romântico, por sua coerência e profundidade, 
bem como por seu caráter sistemático. 
A segunda metade do século XIX é caracterizada 
pelo domínio das ciências naturais e do Positivismo, nos 
moldes de , e pelo Evolucionismo de e de
. É também nesse cenário que surgem os estudos 
do francês e do italiano . 
, nas palavras de , 
Ou seja, o gênero literário é como um organismo 
vivo que nasce, vive e desenvolve-se, e morre. Já 
 vai opor-se a . Seu ponto de 
vista a respeito da questão dos gêneros literários 
aproxima o autor de certas formas atuais de pensamento 
no campo da Teoria da literatura, por combater o conceito 
de imitação, de gênero e de historiografia literária. Para
, o crítico/leitor de literatura deve estar mais 
preocupado com o que o texto significa ou exprime, do 
que em saber a que gênero esse texto pertence e se está 
Victor Hugo
Goethe
Hegel
Taine Spencer 
Darwin
Brunetière Benedetto Croce
Brunetière Angélica Soares
Benedetto Croce Brunetière
 
Croce
defende a idéia de que uma diferenciação e uma evolução dos 
gêneros literários se dão historicamente, como nas espécies 
naturais, sendo também determinadas por fatores como a raça ou a 
herança, as condições geográficas, sociais, históricas e a 
individualidade. Assim, por exemplo, o romance teria nascido da 
epopeia ou da canção de gesta e, por sua vez, se transformaria em 
várias espécies (de aventura, épicos, de costumes...), que também 
se sucederiam temporalmente. Pela lei de permanência 
do mais forte, a tragédia clássica teria desaparecido 
ante o drama romântico. Como as substâncias vivas, 
o gênero nasceria, cresceria, alcançaria sua perfeição 
26e declinaria para, em seguida, morrer. 26. SOARES, Angélica. op. cit. 
p.15.
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perfeitamente adequado às convenções que regem esse 
gênero. Embora admita a utilidade dos gêneros literários 
“na sistematização da história literária, desde que não 
sirvam para abstrações e generalizações que acabam 
27sempre por sacrificar os melhores autores da literatura” , 
 não admitia a criação poética sujeita à realidade, 
pois para ele “todo conhecimento ou é intuitivo ou lógico, 
28produzindo respectivamente imagens ou conceitos” . 
Para o autor a obra literária era uma individualidade, e os 
gêneros, formas a serem atualizadas a partir de novos 
pressupostos: valorativos e qualificativos. As ideias de
 iriam influenciar significativamente a investigação 
literária que terá lugar na primeira metade do século XX.
A moderna teoria dos gêneros literários opõe-se à 
teoria clássica na medida em que deixa de ser normativa, 
prescritiva e dogmática, para se tornar essencialmente 
descritiva. Essa nova época dos estudos de literatura é 
marcada pelo aproveitamento de ideias e noções que se 
foram construindo ao longo dos tempos, bem como dos 
novos estudos que se foram fazendo. Dentre estes 
últimos cabe ressaltar aquele empreendido por 
 um dos mais influentes, constituindo-se em 
marco e referência para a investigação que se irá fazer a 
partir deles. Na obra, Teoria da literatura, de 1942, 
publicada por ambos, encontra-se o capítulo referente ao 
estudo dos gêneros literários, já citado anteriormente, de 
autoria de , estudo de capital importância para a 
compreensão do fenômeno. Nele, o autor discute o 
percurso histórico da noção, além de refletir sobre a 
validade de sua permanência. 
A obra do autor é citada pela grande maioria dos 
estudiosos que se dedicaram à questão dos gêneros, dos 
dias que se seguiram a sua publicação, até nossos dias. 
, por exemplo, a propósito do tema cita o 
estudo de . Afirma o autor que 
Croce
 
Croce
Welleck e 
Warren,
Welleck
Carlos Ceia
Welleck
A moderna teoria dos 
gêneros
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pg
24
27. CEIA, Carlos. op. Cit.
28. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 15.
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25
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O aproveitamento, pela moderna teoria dos 
gêneros, de noções dos mais relevantes estudos do 
passado, permite que se afirme que e 
continuam sendo atuais, por exemplo, pois que as três 
principais espécies já lá se encontram. Muito foi 
acrescentado, algumas mudanças aconteceram, 
sobretudo no que diz respeito à Épica, que sofreu a maior 
transformação, atualizada e englobada pela forma mais 
abrangente da Narrativa. Embora muito tenha sido 
atualizado, talvez seja essa a mudança mais significativaem relação às formas, pelo menos no aspecto de sua 
constituição, pois que uma outra mudança, igualmente 
significativa se deu no aspecto posição/relevância/ 
disseminação das formas. Hoje diríamos que há uma 
predominância da narrativa sobre as outras formas, 
quando em diferentes épocas predominaram o Drama, a 
Épica ou a Lírica. 
Ao tratar da reformulação do conceito de gênero na 
teoria da literatura contemporânea, em sua obra, Teoria 
da literatura, afirma que 
durante a primeira metade do século XX, ainda sob a 
influência de , imperou “o descrédito em 
relação ao conceito de gênero”, reforçado por correntes 
crítico-teóricas essencialmente idealistas. Seu 
Platão Aristóteles 
Vitor Manuel de Aguiar e Silva
 Benedetto Croce
Os gêneros em algumas teorias 
literárias do século XX
29. CEIA, Carlos. op. Cit.
[...] a dificuldade histórica da teoria dos gêneros literários é comum a 
qualquer tentativa de encontrar uma tabela de valores referenciais 
para uma ciência. A partir do momento em que a criação literária não 
pode estar presa a nenhuma lei discursiva implacável, nunca será 
possível alcançar uma tipologia universal, irrefutável e imutável. 
e observaram que os critérios para definir os gêneros 
sempre foram subjetivos, podendo incluir a atitude do artista perante 
o mundo, as temáticas sociais, as modalizações linguísticas, etc. 
Todo o ato artístico que envolve a criatividade não é, 
de fato, suscetível de ser guardado numa categoria 
intemporal. O universo de discursos que podemos 
estar sempre a (re)descobrir e a (re)inventar obrigar-
nos-á a rever constantemente a teoria dos gêneros 
29Literários.
Wellek Warren 
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pensamento vai repercutir, por exemplo, “em , um 
dos fundadores da estilística moderna; nas proposições 
do New Criticism de ; e no período inicial do 
Formalismo Russo, com a teoria do estranhamento de 
30.”
Afirma que, do Formalismo russo, 
passando por “outras orientações da teoria e crítica 
literárias contemporâneas [...] tem-se reconhecido e 
atribuído ao conceito de gênero uma função relevante 
31[...]” . É certo, e sobre essas correntes ou, mais 
especificamente, de que forma trataram a questão dos 
gêneros literários, poderíamos falar brevemente, a fim de 
reconstituir o caminho percorrido pela noção ao longo do 
século XX. 
O Formalismo Russo considerava relevante o estudo 
dos gêneros literários. , por exemplo, reintroduz 
a ideia de gênero 
Já , cuja investigação começa ainda sob a 
influência do Formalismo russo, e do qual começa a se 
distanciar, após, se voltaria, nas palavras de 
, para outro fator na concepção do gênero: a 
percepção, pois que já levava em conta não apenas o 
receptor da obra literária, como também a forma como a 
essa obra capta a realidade, além, obviamente, dos 
traços de linguagem. Para , os gêneros seriam 
uma espécie de filtros, colocados entre a obra e a 
realidade, 
Vossler
Allan Tate
Chklovski
Aguiar e Silva
Tynianov
Bakhtin
Angélica 
Soares
Bakhtin
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pg
26
 30. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 16-17.
 
31. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p.370.
 
32. SOARES, Angélica. op. 
cit., p. 17.
[...] como um fenômeno dinâmico, em incessante mudança. Já outro 
formalista, , consideraria como traços dos gêneros um 
grupamento em torno de procedimentos perceptíveis. Esses traços 
seriam dominantes na obra, embora houvesse outros procedimentos 
necessários à criação do conjunto artístico. Ressalta que é impossível 
estabelecer classificação lógica ou fechada dos gêneros, porque sua 
dimensão é sempre histórica. Assim, os mesmos procedimentos 
podem levar a diferentes resultados, em cada época.
, como , ainda limitava o 
dinamismo dos gêneros na produção da obra às 
propriedades que, segundo eles, transformavam um 
32texto em obra literária. 
Tomachevski
 
Tomachevski Tynianov
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27
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A proposta formalista para o problema dos gêneros, 
embora tenha influenciado o pensamento imanentista de 
, por exemplo, com sua teoria da 
hierarquização das funções da linguagem no texto 
literário, vai repercutir realmente apenas nos anos 60, 
reelaborada a partir da retomada de uma visada formal 
nos estudos teóricos do fenômeno literário. Ainda em 
meados dos anos 40, é que acrescenta 
contribuição significativa à teoria dos gêneros, ao 
retomar a tradicional tripartição dos gêneros, 
reformulando-a profundamente, ao substituir “estas 
formas substantivas e substancialistas pelas 
designações adjetivais e pelos conceitos estilísticos de 
34lírico, épico e dramático.” resume bem 
aquilo que é básico na teoria do autor alemão:
Concebendo a literatura como “uma complexa e 
coerente organização de modos, de categorias e de 
36gêneros” , e tomando por modelo , o 
Roman Jakobson
Emil Staiger 
Angélica Soares
Aristóteles
33. SOARES, Angélica. op. cit., 
p. 17.
34. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p 381.
[...] selecionando-a de diferentes formas. Esses ‘filtros’ não só 
permitiam distinguir o literário do não-literário, mas também 
apontariam tratamentos específicos para cada gênero. [...] Assim, os 
gêneros apresentariam mudanças, em sintonia com o sistema da 
literatura, a conjuntura social e os valores de cada cultura. Ao propor 
que a noção de gênero inclui um conjunto de expectativas 
e de seleção de elementos da realidade, deixa 
de opor o social ao formal. Com isso, abandona as 
propostas imanentistas, caracterizadoras do literário 
33apenas em suas diferenças linguísticas.
Bakhtin
Emil Staiger
Staiger
, em sua obra [...] afasta-nos das classificações fechadas 
e substantivas de herança clássica, que sempre procuraram localizar 
as obras literárias na lírica, na épica ou na dramática. O aspecto da 
teoria staigeriana, que convém ressaltar, é a proposta de que traços 
estilísticos líricos, épicos ou dramáticos podem ou não estar 
presentes em um texto, independentemente do gênero. Em caso 
afirmativo, é possível que aqueles traços [...] apareçam em 
diferentes combinações, sendo por estas ressaltados ou diluídos, 
podendo-se mesmo percebê-los como tênues nuanças. 
analisa os traços dos gêneros em suas mais fortes presenças, mas 
sempre lembrando que nenhuma obra é totalmente lírica, 
Épica ou dramática, não só por não apresentar apenas 
características de um único gênero, mas também 
porque essas características não se projetam, na 
35constituição da linguagem, sempre da mesma maneira. 35. SOARES, Angélica. op. cit., 
p. 18-19.
36. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p. 376.
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estudioso canadense contribui de maneira 
decisiva com a teoria dos gêneros, sobretudo por 
recolocar essa questão, acrescentando à tradicional 
tripartição dos gêneros um quarto gênero: a ficção, forma 
narrativa em que tende a dominar a prosa, diferente da 
epopeia que é episódica e não contínua, além desta se 
apresentar predominantemente em versos. 
No que diz respeito às teorias de orientação 
marxista, podemos dizer que estas também dedicaram 
especial atenção à problemática dos gêneros, em 
especial . Já a partir de meados dos anos 70, 
são as chamadas Estéticas da Recepção e do Efeito que 
irão acrescentar sua contribuição a esses estudos. Seus 
principais representantes são, respectivamente, 
 e . Nessa perspectiva, “o 
gênero literário constitui um fator relevante da 
problemática da comunicação literária considerada sob o 
ponto de vista do leitor receptor, pois este encontra no 
gênero um conjunto de normas e de convenções, de 
'regras do jogo', que contribui para configurar o seu 
'horizonte de expectativas' e que o orienta na leitura e na 
compreensão do texto, desde as estruturas retórico-
estilísticas às estruturas semânticas e aos componentes 
37pragmáticos.” 
Estando ou não firmemente vinculados a uma 
determinada corrente teórico-crítica, podemos afirmar 
que os estudos que se fazem hoje tendo por objeto os 
gênerosliterários, além de levarem em conta todo o seu 
percurso histórico, procuram aprofundar a investigação, 
atualizando-a sempre, acrescentando à mesma, atentos 
às contribuições que se estão constantemente fazendo a 
esses estudos.
Poderíamos dizer, grosso modo, que gêneros 
literários são uma forma de classificação, utilizada para 
os textos literários, os quais são agrupados “por 
qualidades formais e conceptuais em categorias fixadas e 
Northrop Frye
Georg Lukács
Hans 
Robert Jauss Wolfgang Iser
Gêneros literários x Modos 
do discurso
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28
37. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p. 384.
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38descritas por códigos estéticos” . Trata-se de uma 
definição satisfatória, pelo menos desde que se começou 
a tratar do tema até princípios do século XX, quando a 
noção vai ser questionada de forma mais 'veemente'. O 
fato é que sempre foi utilizada a nomenclatura gêneros 
tanto para os modos de produção dos textos literários 
(lírico, épico, dramático, narrativo), quanto para suas 
formas (romance, conto, poema, ensaio, etc.). A questão 
relacionada à nomenclatura, embora a princípio pareça 
pouco relevante, é outro ponto em que as opiniões 
divergem nos estudos focados sobre a questão dos 
gêneros literários. 
, no seu já citado estudo sobre os 
gêneros literários, aborda a questão, chegando mesmo a 
sugerir uma distinção entre as categorias históricas e as 
meta-históricas. O autor admite a dificuldade de se 
arranjar uma designação, além de julgá-la 
frequentemente desnecessária. De qualquer forma, 
 utiliza frequentemente o termo 'espécies' para 
fazer referência tanto a uma forma, quanto à outra. 
No que diz respeito à nomenclatura, poderíamos 
ainda citar o interessante estudo de 
sobre o Teatro épico, mais especificamente o primeiro 
momento desse estudo, em que o autor trata de gêneros 
e traços estilísticos. Afirma que
Ou seja, em sua acepção substantiva, temos ‘A 
lírica’, ‘A Épica’, ‘A Dramática’ (ou ‘O Drama’). As obras, 
do ponto de vista estrutural, pertenceriam ao domínio de 
cada uma delas. Já em sua acepção adjetiva, estamos 
falando de traços estilísticos característicos. Portanto há 
uma maior flexibilidade nessa acepção, já que podemos 
falar em uma narrativa lírica, um poema dramático, etc. A 
René Welleck
Welleck
Anatol Rosenfeld 
Rosenfeld
a teoria dos gêneros é complicada pelo fato de os termos ‘lírico’, 
‘épico’ e ‘dramático’ serem empregados em duas acepções diversas. 
A primeira acepção mais de perto associada à estrutura dos gêneros 
poderia ser chamada de ‘substantiva’ [...]. A segunda acepção dos 
termos lírico, épico, dramático, seria de cunho ‘adjetivo’ 
e refere-se a traços estilísticos de que uma obra pode ser 
imbuída em grau maior ou menor, qualquer que seja o 
39 seu gênero (no sentido substantivo).
39. ROSENFELD, Anatol. “A 
teoria dos gêneros”. In: O 
teatro épico. São Paulo: 
Perspectiva, 1997, p. 17-19
38. CEIA, Carlos. op. cit.
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concepção de é bastante esclarecedora, 
pensamos.
Segundo , “as mais recentes propostas 
no campo da teoria da literatura, recomendam a distinção 
clara entre gêneros literários (categorias históricas do 
texto literário) e modos literários (formas meta-históricas 
40ou arquitextuais de concretização do literário)” . 
, ao final de um longo capítulo de 
sua Teoria Literária, dedicado à problemática dos 
gêneros, intitulado, justamente, ‘Gêneros Literários’, 
afirma que, embora até aquele momento tenha 
propositalmente utilizado a nomenclatura ‘gênero’, 
deseja, a partir de então, discutir essa questão por julgar 
que o termo tem “caráter multívoco e até equívoco”, pois 
ora designam categorias acrônicas e universais (lírica, 
narrativa, etc.); ora categorias históricas e socioculturais 
(o romance, o romance histórico, a ode, etc.). Ressaltando 
que não é o único a pensar dessa forma, o autor propõe o 
termo e o conceito de ‘modo literário’ para designar 
categorias meta-históricas (modo lírico, modo narrativo, 
modo dramático); e ‘gênero literário’ para as categorias 
históricas (a tragédia, a comédia, o poema épico, o 
romance, etc.)
O autor propõe, ainda, a nomenclatura 
‘subgêneros’, a fim de designar as variedades dentro dos 
gêneros. Por exemplo, dentro do gênero romance 
encontramos subgêneros tais como o romance de 
aventuras, o romance de aprendizagem, o romance 
Anatol Rosenfeld 
Carlos Ceia
Vitor 
Manuel de Aguiar e Silva
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30
 40. CEIA, Carlos. op. Cit.
A distinção entre modos literários, entendidos como 
categorias meta-históricas, e os gêneros literários, concebidos como 
categorias históricas, parece-nos lógica e semioticamente 
fundamentada e necessária. [...] Os modos literários representam, 
por um lado, o nível da forma de expressão, possibilidades ou 
virtualidades transtemporais da enunciação e do discurso uma longa 
tradição teorética, de aos nossos dias, tem caracterizado 
assim, embora com variações conceptuais e terminológicas, o modo 
narrativo, o modo lírico e o modo dramático e, por outra 
parte, a nível da forma do conteúdo, representam 
configurações semântico-pragmáticas constantes que 
promanam e atitudes substancialmente invariáveis do 
homem perante o universo, perante a vida e perante 
41si próprio.
Platão
41. AGUIAR E SILVA, Vitor 
Manuel de. op. cit., p. 389.
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epistolar, etc. Porém, essa forma de tratamento para as 
formas históricas e meta-históricas, bem como para as 
‘ramificações das espécies históricas’, não se constituem 
em novidade, pois já são encontradas nos estudos de 
. Assim como , o teórico 
russo postula uma nomenclatura distintiva para essas 
formas. Em seu estudo ‘Gêneros do discurso’, datado de 
1952-1953, e compilado em Estética da criação verbal, 
, por paradoxal que possa parecer, recua e amplia 
essa classificação, ao incluir nela não apenas o discurso 
literário, mas toda forma relativamente estável de 
enunciado. Para o teórico russo, estudam-se 
prioritariamente os gêneros literários, pois que devido a 
sua diversidade funcional, os traços comuns a todos os 
gêneros do discurso tornam-se abstratos e inoperantes. 
Para , primeiramente, 
Resumidamente, podemos dizer que, segundo a 
teoria de os gêneros do discurso se dividem em 
primários (simples) e secundários (complexos). Os 
gêneros do discurso primários (orais ou escritos) 
correspondem às formas menos elaboradas de discurso, 
como a curta réplica do diálogo cotidiano; o relato 
familiar; a carta; todo o repertório dos documentos 
oficiais e das declarações públicas, etc.; já aos gêneros 
secundários correspondem todas as formas complexas, 
mais elaboradas, de discurso, notadamente o discurso 
científico e ideológico, mas, sobretudo, o discurso 
literário (o romance, o teatro, etc.), o qual se subdivide, 
Mikhail Bakhtin Aguiar e Silva
Bakhtin
Bakhtin
Bakhtin
42. BAKHTIN, Mikhail. “Os 
gêneros do discurso”. In.: 
Estética da criação verbal. 3ª 
ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2000. p. 279.
Todas as esferas da atividade humana, por mais variadas 
que sejam estão relacionadas à utilização da língua, [...] A utilização 
da língua efetua-se sob forma de enunciados (orais e escritos) 
concretos e únicos que emanam dos integrantes duma ou doutra 
esfera da atividade humana. O enunciado reflete as condições 
específicas e as finalidades de cada uma dessas esferas, não só, por 
seu conteúdo (temático) e por seu estilo verbal [...] mas também, e 
sobretudo, por sua construção composicional. Estes três elementos 
(conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se 
indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados 
pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qualquer 
enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, 
mas cada esfera de utilização da língua elabora seus 
tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso42que denominamos gêneros do discurso. 
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por sua vez, em subgêneros (romance epistolar, romance 
de aprendizagem, romance de cavalaria, tragédia, 
comédia, tragicomédia, etc.). Portanto, dentro do gênero 
do discurso do tipo secundário, do tipo literário, estão os 
modos (lírico, narrativo, dramático) do discurso e seus 
respectivos gêneros (o gênero literário romance, o gênero 
literário soneto, etc.), subdivididos em subgêneros, 
conforme dito anteriormente. Os pressupostos 
bakhtinianos vão ao encontro da concepção de gêneros 
de considerado o pai da Narratotogia, 
cujos pressupostos norteiam, predominantemente, os 
estudos que se fazem na atualidade tendo por objeto o 
texto literário.
 afirma que “os autores pretendem não 
deixar cair as suas narrativas em modelos pré-concebidos 
que facilmente o leitor codificaria por um simples 
exercício de analogia”. Parece ser esta a voz corrente. 
Afirma, ainda, que a definição de gênero é necessária 
para os estudos que têm por objeto o texto literário, a fim 
de que encontremos a identidade de cada texto.
Cremos que as palavras do autor sintetizam o 
pensamento contemporâneo acerca dos gêneros 
literários, o qual não é, por sua vez, definitivo, como nada 
o é no que tange ao fenômeno do literário. 
Gérard Genette,
Carlos Ceia
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 43. CEIA, Carlos. op. Cit.
O que se pretende concluir é que um texto literário não pode 
escapar à lógica do gênero a que pertence, mas pode desafiar a 
lógica da contextualização que o aprisiona. Essa lógica caracteriza-se 
por uma total abertura à definição do seu mecanismo. [...] Aceite a 
necessidade de definição do gênero, deve notar-se ainda que o texto 
de ficção também não fica prisioneiro da classificação que lhe é 
atribuída nem nos casos em que o próprio autor a consagra nem nos 
casos em que os críticos literários e os historiadores a 
determinam. Os romances pós-modernos jogam 
precisamente com os limites da definição do gênero 
literário a que as suas obras devem pertencer. Mas é 
preciso ter em atenção que neste campo de 
43investigação nada é definitivo.
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unidade 01Quadros síntese
sobre Gêneros literários | Os textos literários guardam 
características que os distinguem entre si, ao mesmo 
tempo em que os aproximam daqueles que se lhes 
assemelham. Gêneros literários são, grosso modo, 
uma forma de classificação, utilizada para os textos 
literários, os quais são agrupados “por qualidades 
formais e conceptuais em categorias fixadas e 
descritas por códigos estéticos. Estudar os gêneros 
nos permite um olhar abrangente que abarca a gênese 
e o desenvolvimento das espécies literárias e, mesmo, 
da própria literatura. 
sobre Teoria dos gêneros | Princípio ordenador, que 
“classifica a literatura e a história literária, não em 
função da época ou lugar, mas sim de tipos 
especificamente literários de organização ou estrutura. 
Todo e qualquer estudo crítico e valorativo (em 
contraposição aos históricos) acarreta, de alguma 
maneira, o apelo a essas estruturas.” De certa forma 
 as obras pertenceriam a uma espécie, mas 
devemos considerar que há formas de transição e, 
ainda, formas híbridas. Talvez possamos falar em 
predominância de um determinado gênero, a partir da 
análise da cada obra individualmente ou, de 
pertencimento predominantemente a um gênero, com 
eventual ocorrência de outro (ou de outros) gênero, 
disseminado(s) pela obra em análise. 
todas
sobre As formas clássicas | Percurso histórico pela 
noção de gêneros literários estudos, desde Platão e 
Aristóteles (a quem devemos a distinção clássica e 
fundamental de gêneros, norteadora de todas as 
discussões que se fazem, mesmo hoje) passando, 
entre outros momentos, pelo Neoclassicismo e 
Romantismo, até o início do século XX. 
A Escola de Atenas, Rafael Sanzio
A Leitora, Jean-Honoré Fragonard
Newton, Willian Blake
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unidade 01
sobre A moderna teoria dos gêneros | A moderna teoria 
dos gêneros literários opõe-se à teoria clássica na 
medida em que deixa de ser normativa, prescritiva e 
dogmática, para se tornar essencialmente descritiva. 
A Épica sofreu a maior transformação, atualizada e 
englobada pela forma mais abrangente da Narrativa. 
sobre Gêneros literários x Modos do discurso | A questão 
relacionada à nomenclatura é outro ponto em que as 
opiniões divergem nos estudos focados sobre a questão 
dos gêneros literários. Gêneros, modos, espécies? O que 
seria mais adequado, sobretudo na atualidade? 
Chapéuzinho Vermelho, Gustave Doré
Crak, Roy Lichtenstein
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O Drama
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UNIDADE II
O Drama
Profª Cláudia Lorena Fonseca
O primeiro estágio desse distanciamento do teatro 
em relação às formas primitivas de contar (-se) é quando 
este adquire um caráter ritualístico, associado às danças 
e rituais primitivos que imitavam fatos e fenômenos 
naturais. Na sequência, o teatro adquire uma outra 
função, ao se associar às narrativas de fundação: mitos, 
lendas e histórias de heróis e deuses. São bastante 
conhecidos os festivais em honra dos deuses, sobretudo 
na antiga, quando começam a se delinear os 
contornos da forma seus principais traços, tal como a 
concebemos hoje. É nesse tempo e espaço, nesse 
contexto, que surgem, por volta do século VI a.C., as duas 
principais, e as mais valorizadas, formas de 
representação teatral: a tragédia e a comédia. 
 e , são os principais autores. À 
época, encenava-se ao ar livre, sem palco, com o público 
Grécia
Ésquilo, 
Sófocles Aristófanes
Teatro: O primeiro cânone 
As origens da representação teatral remontam aos 
primórdios da existência humana. A necessidade de 
representar a si e ao mundo acompanha a história do homem. 
Podemos dizer que a representação teatral supre essa neces-
sidade, assumindo uma dupla função, pois serve a essas duas 
causas. Esse movimento de contar contando-se, em seus 
primórdios, não se distinguia sobremaneira da dança, das 
pinturas, dos desenhos, porém, no decorrer de sua evolução, o 
teatro vai se configurando como forma independente, 
associado ainda às formas primitivas da dança, porém, cada 
vez mais próximo da narrativa, o que persiste nos dias de 
hoje, muito embora as formas se interpenetrem, característica 
observada na contemporaneidade, quando temos em mente e 
consideramos a forma teatral. 
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unidade 02
em semicírculo, em degraus, ao redor da cena e dos 
atores. Os primeiros palcos, ainda um rudimento de palco 
sob tendas, só vão surgir em . 
No teatro romano surgem, também, as conhecidas 
máscaras teatrais (personas), da tragédia e da comédia, 
as quais acrescentam à forma de representação, na 
medida em que propiciam que um único ator represente, 
ou ‘ ’ vários em uma peça: trágico, cômico, 
tragicômico.
O teatro em , acredita-se, não teve uma 
origem única, embora a tragédia tenha se inspirado no 
modelo grego. Como autores, destacam-se e 
, além de , renomado autor de tragédias, 
as quais chegaram aos nossos dias, sendo ainda muito 
encenadas. No entanto, os teatros grego e romano 
tratavam de maneira distinta tragédia e comédia, do 
ponto de vista de valor, pois enquanto para os gregos a 
tragédia ocupava uma posição de maior relevância, sendo 
considerada mais nobre que a comédia, os romanos, ao 
contrário, tinham a comédia como a forma mais 
valorizada.
A época medieval foi marcante em termos de 
mudanças na forma de pensar e ver o mundo. Com o foco 
na religiosidade, a Idade Média, recusa qualquer 
manifestação artística que não esteja vinculada à 
espiritualidade ou, mais precisamente, com a fé cristã e a 
Igreja. Por esse motivo, muitas dessas formas de 
manifestação foram banidas, o que quase ocorre com o 
teatro, o qual, após um longo período, em que esteve 
ligado aos rituais religiosos dos povosda antiguidade, 
assume um caráter profano, manifestação pagã. Ao 
apropriar-se da forma, a Igreja acaba por 'salvá-la', 
transformando-a em veículo eficiente de propagação do 
Cristianismo.
Muitas são as formas surgidas no período, as quais 
se disseminaram, permanecendo ao longo dos tempos, 
algumas delas chegando até nós, sendo ainda utilizadas. 
Dentre as formas mais conhecidas e valorizadas surgidas 
no medievo estão os Mistérios (ou ), os Milagres, as 
Moralidades e as Farsas, essa última, a forma mais 
preservada, embora atualizada. Os mistérios vão buscar 
Roma
Roma
Plauto
Terêncio Sêneca
finja papéis
Autos
O verbo “fingir”, na 
origem, significava apenas 
“interpretar”. Portanto, os 
atores ‘fingiam’ uma 
personagem. A conotação 
pejorativa se estabeleceu, 
por analogia, com o 
tempo. 
Ver > “Autopsicografia”, de 
. “O poeta 
é um fingidor/ finge tão 
completamente/ que 
chega a fingir que é dor/ a 
dor que deveras sente”;
“Persona”, em sua 
origem, significava 
“máscara” > Para pensar a 
respeito...
Fernando Pessoa
Essa forma é denominada 
“Pantomima”, hoje 
designando “teatro de 
gestos” ou “Mímica”.
As moralidades 
confundem-se com outras 
formas dependendo do 
país, em , por 
exemplo, é englobada pela 
denominação mais 
genérica de 'autos', talvez 
por isso, no , 
colonizado pelos 
portugueses, também seja 
essa a nomenclatura mais 
genérica aquela adotada. 
, o maior nome 
do período em , 
'pai' do teatro português, é 
autor de mistérios (Auto 
da História de Deus), 
milagres (Auto de S. 
Martinho) e moralidades 
(Auto da Alma).
Portugal
Brasil
Gil Vicente
Portugal
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nas sagradas escrituras seus temas e histórias, 
representando-as, a fim de transmitir ao povo, 
impregnado pela oralidade, o ideário cristão, propagando 
essa fé. São encenados por ocasião de datas religiosas, 
como a Páscoa e o Natal, sobretudo, e são espetáculos de 
longa duração. Do mistério, mais especificamente do 
auto como forma abrangente, bem como da farsa, iremos 
tratar no item dedicado às formas teatrais mais 
relevantes. Já os milagres guardam alguma semelhança 
com os mistérios por sua temática e 'objetivos', porém é 
um espetáculo de duração mais reduzida e, embora 
muitos tratem da vida de santos (encenados no dia 
consagrado a cada um deles), poderíamos dizer que os 
milagres, ao contrário dos mistérios, se aproximam mais 
do sujeito terreno, do homem comum, personagens do 
dia-a-dia, os quais experimentam situações-limite, sendo 
modificados pela fé, ou pela intervenção dos santos e da 
Virgem Maria. Já as moralidades, outra forma de 
representação surgida na Idade Média, dão sequência 
aos mistérios, retratando o homem em conflito entre o 
44Bem e o Mal. Segundo , as moralidades 
baseiam-se 
A autora afirma, ainda, que a moralidade incorpora 
elementos profanos e cômicos, o que, nesse sentido, a 
afasta do teatro religioso. Porém, é o mistério a forma 
considerada a mais importante do teatro religioso 
medieval, tendo se difundido por conta da 'itinerância', o 
que dá origem àquilo que viríamos a conhecer por 
Companhias teatrais, na época , 
que se apresentavam em diversas cidades, seja 
individualmente ou em festivais, estes cada vez mais 
populares. Percorrendo aldeias e cidades, em carroças, 
Lígia Vassalo
troupes de saltimbancos
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[...] no princípio universal decorrente da Queda e da Redenção da 
humanidade: o homem é destinado a morrer em pecado, a menos 
que seja salvo pela intervenção divina. Este tema é informado em 
estrutura alegórica, uma das grandes linhas que perpassa a arte 
medieval. Seus personagens encarnam abstrações e valores morais 
[...]. Por meio destas personificações e de outros 
recursos formais, a moralidade visa à edificação do 
ser humano. Dentre todos os tipos de peças medievais, 
é a que mais se aproxima da tragédia. [...] É, de certo 
modo, o intermediário entre o auto e a farsa.
44. VASSALO, Lígia. “O teatro 
Medieval”. In.: VASSALO, 
Lígia. Revista Tempo 
brasileiro : Teatro Sempre. v. 
72, jan-mar/1983, Rio de 
Janeiro, p. 41-46.
Sugestão para assistir: “A 
viagem do Capitão 
Tornado”, belíssimo filme 
franco-italiano, dirigido 
por , 1990, o 
qual narra as experiências 
de uma troupe, em seus 
deslocamentos, no 
período medieval. 
Ettore Scola
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levando sua arte à população destes lugares, as troupes, 
ao incorporar temas do cotidiano às peças encenadas, 
dão origem ao teatro popular, perpetuando a herança 
medieval. Mais adiante, nobres viriam a patrocinar as 
companhias de teatro, que a eles serviam, constituindo-
se no que passou a ser chamado, mais tarde, de teatro 
elizabetano, do qual é o maior 
representante. 
O teatro atinge reconhecimento em toda a , 
tanto entre as classes mais favorecidas, quanto entre a 
população em . Mas é na renascentista que a 
forma do teatro, ao atingir um de seus períodos de maior 
projeção, se encaminha para fixar de maneira definitiva 
seus traços, aqueles que, continuamente atualizados, 
chegariam à contemporaneidade: desenvolve-se a 
Commedia Dell'Arte. Forma teatral sem similar no mundo, 
tratava-se de espetáculo baseado na improvisação, em 
personagens estereotipados e no uso de máscaras. A 
Commedia Dell'Arte era também conhecida, em seu país 
de origem, por Comédia . De acordo com 
45, é a partir desse período que ator/atriz 
passa a ser uma profissão pois, até aquele momento, e 
principalmente na antiguidade greco-romana, aqueles 
que atuavam no teatro eram geralmente escravos ou 
pessoas pertencentes às classes sociais inferiores. 
Tratava-se de um espetáculo auditivo e visual, 
construído com rigor, no qual a expressão corporal dos 
atores desempenhava papel não apenas relevante, mas 
essencial, já que estes, com o rosto encoberto pelas 
máscaras, não podiam se valer de sua expressão facial. 
Essas máscaras eram utilizadas exclusivamente pelos 
Shakespeare 
Europa
Itália
Maria 
 Lúcia de Aragão
geral
buffonesca
45. ARAGÃO, Maria Lúcia de. 
“A Commedia Dell'Arte”. In: 
VASSALO, Lígia. Revista 
Tempo brasileiro : Teatro 
Sempre. v. 72, jan-mar/1983, 
Rio de Janeiro, p. 57-59.
46. ARAGÃO, Maria Lúcia. op. 
cit, p. 57-59.
[...] as companhias de cômicos dell'arte eram constituídas por 
artistas profissionais, enquanto que, durante as fases anteriores, 
os intérpretes, tanto do teatro medieval religioso, quanto do teatro 
erudito do cinquecento, não se haviam ainda organizado 
profissionalmente. [...] Com a comédia dell'arte, os 
atores passaram a se especializar através de um 
apurado adestramento técnico, mímico, vocal, 
acrobático e cultural, necessário para um 
aprimoramento cada vez maior da representação 
46Improvisada.
Na Espanha, na França, 
Inglaterra e na Itália foi a 
forma mais difundida e 
apreciada de 
representação do mundo, 
a mais democrática 
também, em uma época 
em que praticamente toda 
forma de transmissão e 
memória era oral. A 
oralidade é marca 
distintiva do teatro e, até a 
conquista do letramento 
por uma parcela realmente 
significativa da população 
em todas as camadas, foi, 
ao lado do conto, também 
de transmissão oral, 
importante forma de 
representação literária do 
mundo. PEREIRA, Beatriz; 
FONSECA, Cláudia L. & 
REQUIÂO, Renata. In.: 
Manual Ielit I. (no prelo)
Termo difundido e 
incorporado ao 
vocabulário, não apenas 
teatral, mas também 
cotidiano. O termo “bufão” 
dele se origina. 
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homens. O ator era ‘polivalente’', deveria não apenas 
interpretar o texto, mas também improvisar, cantar, 
dançar e ser malabarista, além de mímico, pois para se 
fazer entender em meio à profusão de dialetos utilizados 
na no período, era necessária a utilização da 
mímica, que viria se tornar uma das marcas mais fortes da 
Commedia Dell’Arte. Era bastante comum o ator se 
especializar em um papel específico e interpretá-lo até o 
fim da vida. Personagens como Arlequim, Colombina,Pantaleão e o Doutor, por exemplo, são eternizados.
A Commedia Dell’Arte era essencialmente popular, 
e reproduzia os valores e comportamento do sujeito de 
sua época, satirizando-os, razão pela qual o conteúdo 
não era o aspecto mais relevante na sua constituição. 
Mais importantes eram os aspectos funcionais, sua 
clareza, a comicidade, a abertura à improvisação e à 
inserção de danças e canções. Tradicionalmente, o 
espetáculo contava com um prólogo e três atos, ligados 
entre si por pequenos sketchs de dança, canto ou farsa 
conhecidos por lazzis.
Com relação ao teatro elizabetano, podemos dizer 
que este tem seu período de florescimento e apogeu, na 
, entre os anos de 1562 a 1642. Suas principais 
características são a variedade de temas, inspirados na 
mitologia, na história, nas literaturas medieval e 
renascentista e pela mistura: do sério e do popular (ou 
cômico); do verso e da prosa. É essencialmente 
‘localista’: refere-se à obra produzida por autores 
ingleses do período, levada ao palco em terras inglesas. 
Seu público era variado e reunia tanto a nobreza quanto a 
intelectualidade e a população em geral, inclusive 
crianças. As companhias teatrais também 
experimentaram um desenvolvimento considerável. Além 
disso, as apresentações começam a ser realizadas em 
local específico, o teatro, o qual tinha por característica 
principal o fato de ter o palco circundado pela audiência, 
com os atores no meio da plateia, pois se tratava de uma 
construção de formato circular (ou hexagonal), em três 
níveis. Outro detalhe interessante: a plateia era 
extremamente ativa, e participava da encenação. 
Mulheres ainda não eram aceitas como atrizes no teatro 
elizabetano. 
Itália
Inglaterra
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O maior nome do período é o de 
 (1564-1616), inglês nascido em
, local em que chega a exercer a atividade de 
professor. Já casado, deixa sua cidade natal, em 1585, 
para se estabelecer em , a fim de se dedicar ao 
teatro. Depois de algum tempo como ator, dedica-se à 
. Considerado o maior dramaturgo da 
história, a autoria de suas peças é contestada, pois 
muitos historiadores as consideram por demais cultas 
para serem creditadas a alguém não pertencente à 
nobreza. O fato é que o autor tem realmente uma 
biografia um tanto quanto vaga sob alguns aspectos. 
47Segundo , o fato de pouco gostar de falar e 
escrever sobre si mesmo, deu motivo à lenda de sua não 
existência, corroborado pelo fato de sua obra não ter sido 
publicada à época, o que em si não causa estranhamento, 
pois pouco era publicado até então em uma sociedade em 
que ainda predominava a cultura oral. 
Em sua obra, na qual se pode perceber uma 
profunda visão do mundo, detectamos três fases, a 
primeira delas que vai de 1593 a meados de 1600, 
representada por Romeu e Julieta, Tito Andrônico e 
Hamlet; aquela que vai de 1601 a 1607, aproximadamente, 
representada pelos dramas históricos; e a terceira fase, 
da maturidade, compreendida pelo período que vai de 
1607 a meados de 1612, período em que produziu suas 
grandes tragédias, Otelo, Rei Lear e Macbeth.
No século XVI, ainda vemos surgir a Ópera e, 
com ela, os teatros, bastante próximos dos que 
conhecemos hoje, com todos os elementos que os 
caracterizam: palco, cortina, plateia, camarotes, cenários 
cuidados, luzes apagadas durante a encenação, entre 
outros. Na mesma época, floresce o teatro clássico 
francês, um outro marco na história da dramaturgia. É o 
auge da Commedie Française, que tanta influência 
exerceu sobre o teatro moderno.
Em contraposição ao ideal barroco, no teatro 
clássico do século XVII, a verossimilhança é o ideal a ser 
alcançado pelos autores. Busca-se o universal e o 
intemporal em todas as esferas da atividade humana. 
Conforme já destacado, na Unidade I, no momento do 
texto dedicado ao percurso histórico dos gêneros
William 
Shakespeare Stratford-
upon-Avon
Londres
Luíza Lobo
dramaturgia
Dramaturgia, em si, seria 
por definição particular a 
“arte ou a técnica da 
composição dramática”. 
Porém, aquilo que outrora 
seria a “arte da 
composição de textos 
teatrais”, em tempos 
modernos se expande 
para arte da composição 
de um espetáculo ou de 
um ato cênico. 
De maneira geral, 
empregamos o termo 
dramaturgia para nos 
referirmos à produção de 
um autor teatral. 
TORRES NETO, Walter Lima. 
“Dramaturgia” In.: CEIA, 
Carlos. e-dicionário de 
termos literários. 
Disponível em: 
http://www2.fcsh.unl.pt/e
dtl/verbetes/D/dramaturgi
a.htm
47. LOBO, Luíza. “O teatro 
elizabetano”. In: VASSALO, 
Lígia. Revista Tempo 
brasileiro : Teatro Sempre. v. 
72, jan-mar/1983, Rio de 
Janeiro, p. 71-73.
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literários, arazão norteia todos os passos e pensamentos 
do homem do período. A fantasia está (temporariamente) 
banida a fim de que o homem alcance o equilíbrio e o 
conhecimento. O Neoclassicismo, na arte, respeita as 
conveniências, “evitando chocar a sensibilidade, 
48costumes e preceitos morais do público a que se dirige.” 
O teatro nos moldes do período, sob a égide da 
monarquia, vai surgir na , e é lá que atinge seu 
auge, também, para depois se disseminar pela Europa e, 
aos poucos, pelo mundo. A literatura clássica e o teatro 
trágico, nos moldes de e , além da 
comédia como a concebeu . O período áureo do 
classicismo francês chega ao fim com a eclosão da 
‘querela dos antigos e modernos’, embora sua herança, 
pelo menos no que diz respeito ao teatro, perdure. 
Na virada do século XVII para o século XVIII, o 
movimento Sturm und Drang, o qual eclode na , 
vai marcar a transição entre o ideário racionalista do 
iluminismo e o ideário romântico. No teatro do 
romantismo, a obra considerada séria não deriva da 
tragédia, mas sim da comédia do classicismo, pois prega 
a verossimilhança, com personagens e situações reais e 
cotidianas, apesar do predomínio da emoção sobre a 
razão. O teatro nos moldes como o concebeu 
volta a ser valorizado, pois a estrutura, nas peças do 
dramaturgo inglês, é mais livre. Alguns dos nomes mais 
representativos do Romantismo são os de , 
, , , e o francês , 
o qual escreve o célebre prefácio ao texto teatral Cromwell 
(1827), onde são expostos os novos princípios estéticos, 
entre eles aquele que maior impacto causaria: a 
legitimação do grotesco, negando as regras “do bom 
gosto”, que imperavam no período neoclássico e 
propondo a Poética da totalidade, a qual apregoa a 
harmonia dos contrários, na qual reside a verdadeira 
poesia. 
 
 França
Corneille Racine
Molière
Alemanha
Shakespeare
Goethe Alfred 
de Musset Vigny Byron Shelley Victor Hugo
48. RODRIGUES, Cleone 
Augusto. “O teatro clássico 
francês”. In: VASSALO, Lígia. 
Revista Tempo brasileiro : 
Teatro Sempre. v. 72, jan-
mar/1983, Rio de Janeiro, p. 
93-94. 
[...] a musa moderna verá as coisas com um olhar mais elevado e mais 
amplo. Sentirá que tudo na criação não é humanamente belo, que o 
feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco 
no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz [...]. É 
da fecunda união do tipo grotesco com o tipo sublime que nasce o 
gênio moderno, tão complexo, tão variado nas suas formas, 
tão inesgotável nas suas criações, e nisto bem oposto à 
49uniforme simplicidade do gênio antigo [...]. �
49. HUGO, Victor. Do grotesco 
e do sublime tradução do 
“Prefácio de Cronwell”. São 
Paulo: Perspectiva, 1988, p. 
25 e 27.
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Segundo “o Drama Romântico e 
a produção artística do final do século XVIII e primórdios 
do XIX terão o mérito de legitimar o Grotesco como 
categoria estética, em convivência com o Sublime da Arte 
50Clássica” . O , ainda nas palavras da autora, 
Dalma Nascimento
Grotesco
Porém, o idealismo romântico começa a ceder 
espaço para o ideário do Realismo, no qual se destacam 
obras que põem em cena histórias

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