Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Problema 5M3 – O Dilema Do Baixo Peso Joana levou o seu filho pré-escolar para consulta com pediatra. Na sala de espera encontrou com outra mãe Eliza, a qual estava aguardando a consulta do seu filho. Ao conversarem sobre as preocupações referentes às crianças, Eliza mencionou que o seu filho apresentava baixo peso, entre outros problemas no crescimento e desenvolvimento, era emocionalmente privado, apresentava enurese, encoprese, insônia, crises de choro e acessos de raiva. Além disso, era portador de Hidrocefalia devido a Toxoplasmose Congênita. Eliza entrou no consultório médico com o seu filho, muito ansiosa e questionando à médica se a criança era anã. EF: mais de 4 desvio-padrão para peso e altura, adiposidade em tronco e o exame da genitália evidenciou micropênis. A mãe disse ainda que tinha medo de não ter tratamento com hormônios. Instrução: Compreender crescimento e desenvolvimento e seus desvios. Entender hidrocefalia e nanismo. Termos desconhecido: o Enurese: é definida como um vazamento involuntário de urina que ocorre durante o sono, mas que também pode ocorrer em momentos e locais inapropriados. Condição fisiológica até 6 anos nas meninas e 7 nos meninos. o Encoprese: é caracterizada pela exoneração intestinal em locais inadequados (roupas ou chão). o Hidrocefalia: (hidro = água + céfalo = cabeça) é uma condição que se caracteriza pelo acúmulo do líquido cefalorraquidiano (LCR) nos ventrículos cerebrais (cavidades intercomunicantes localizadas em áreas do encéfalo) e no espaço subaracnoide entre as membranas aracnoide e pia-mater das meninges. o Toxoplasmose congênita: A toxoplasmose congênita é causada pela aquisição transplacentária do Toxoplasma gondii. As manifestações, quando presentes, são prematuridade, retardo de crescimento intrauterino, icterícia, hepatoesplenomegalia, miocardite, pneumonite, exantema, coriorretinite, hidrocefalia, calcificações intracranianas, microcefalia e convulsões. o Anã: Que ou quem tem uma anomalia de crescimento que se caracteriza pelo tamanho inferior à média dos indivíduos do mesmo sexo e idade. o Micropênis: corresponde a um pénis estruturalmente normal, com um tamanho em extensão inferior a 2.5 desvios padrão da média para a idade. No recém-nascido de termo, um pénis estirado < 2- 2,5 cm é considerado micropénis e necessita avaliação. Definição do problema: Reconhecer o crescimento e desenvolvimento normal de uma criança e identificar as suas alterações. Chuva de ideias: Consultas de acompanhamento CD: 7 dias, 1 mês, 2 meses, 4 meses, 6, 8 e nove meses. Acompanhar o vínculo, o coto umbilical. Uso do score Z – de 0 a 10 anos. Objetivos: O1. Descrever como é realizada a avaliação de crescimento e desenvolvimento da criança. “Curvas de crescimento, reflexos... escalas de avaliação neurológica” O2. Identificar os principais fatores que alteram a evolução normal da criança. (Desenvolvimento) O3. Definir conceito, causas e clínica da Hidrocefalia na criança. O4. Conceituar nanismo e identificar suas causas. O1. Descrever como é real izada a aval iação de crescimento e desenvolv imento da cr iança. O termo “desenvolvimento” tem sido o mais utilizado para abranger os vários aspectos interligados que caracterizam a evolução dinâmica do ser humano a partir de sua concepção. Outros termos, como “maturação”, por exemplo, também concorrem para definir o significado desse processo de construção que resulta da interação entre a influência biológica da própria espécie e do próprio indivíduo e a sua história e seu contexto sociocultural. É importante enfatizar que, embora a carga genética seja fator determinante, o desenvolvimento humano emerge a partir da interação com os fatores ambientais, portanto, é fundamental que ocorra uma ampla e adequada variação de estímulos e experiências, para favorecer todo o seu potencial. Do ponto de vista biológico, o sucesso do desenvolvimento depende da integridade dos vários órgãos e sistemas que concorrem para lhe condicionar, principalmente o sistema nervoso, que participa de toda ordenação funcional que o indivíduo irá experimentar. Neste aspecto, é importante salientar que o tecido nervoso cresce e amadurece sobretudo nos primeiros anos de vida, portanto, nesse período, é mais vulnerável aos agravos de natureza diversa e às adversidades das condições ambientais que podem ocasionar prejuízos relacionados aos processos em desenvolvimento. Por outro lado, por sua grande plasticidade, é também nessa época que a criança melhor responde aos estímulos que recebe e às intervenções, quando necessárias. 2 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA O estudo do desenvolvimento compreende alguns domínios de função interligados, quais sejam: • sensorial, • motor (geralmente subdividido em habilidades motoras grosseiras e habilidades motoras finas), • da linguagem, • social, • adaptativo, • emocional e • cognitivo. Esses domínios influenciam-se entre si e têm como eixo integrador a subjetividade, função de dimensão psíquica que se particulariza e possibilita a singularidade de cada um dos seres humanos. Aval iação: A avaliação do desenvolvimento deve ser um processo contínuo de acompanhamento das atividades relativas ao potencial de cada criança, com vistas à detecção precoce de desvios ou atrasos. Essa verificação pode ser realizada de forma sistematizada por meio de alguns testes e/ou escalas elaboradas para tal finalidade. Como exemplos, citam-se o teste de Gesell, o teste de triagem Denver II, a escala de desenvolvimento infantil de Bayley, o Albert Infant Motor Scale,7 entre vários outros. No Brasil, a Caderneta de Saúde da Criança, utilizada para o registro dos atendimentos nos serviços de saúde, disponibiliza uma sistematização para a vigilância do desenvolvimento infantil até os 3 anos de idade. Essa ferramenta permite acompanhar a aquisição dos principais marcos do desenvolvimento. Além disso, com base na presença ou ausência de alguns fatores de risco e de alterações fenotípicas, a caderneta orienta para tomadas de decisão. Sendo um processo dinâmico, as avaliações do desenvolvimento devem acontecer em todas as visitas de puericultura, de forma individualizada e compartilhada com a família. o É fundamental o conhecimento do contexto familiar e social no qual a criança está inserida: desde quando foi gerada, se planejada ou não; as fantasias da mãe durante a gestação; quem é o responsável pelos seus cuidados; como é a rotina da criança; e quais mudanças ocorreram nas relações familiares após o seu nascimento. o Além disso, é importante obter dados relacionados a possíveis fatores de risco para distúrbios do desenvolvimento, como ausência de pré-natal, dificuldades no nascimento, baixo peso ao nascer, prematuridade, intercorrências neonatais, uso de drogas ou álcool, infecções e depressão durante a gestação. Também é fundamental indagar sobre a opinião da mãe em relação ao processo de desenvolvimento de seu filho. A análise processa-se por toda a duração do atendimento, observando o comportamento da família e da criança: quem traz a criança, como ela é carregada, sua postura, o seu interesse pelo ambiente e a interação com as pessoas. Além disso, como um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento da criança é a reciprocidade estabelecida na relação com sua mãe ou substituta, é interessante observar o vínculo entre ambas. Quanto às aquisições motoras, reconhece-se no recém-nascido um padrão motor muito imaturo, com a presença do reflexo tônico cervical assimétrico, que lhe confere uma postura assimétrica, com predomínio do tônus flexor nos membros e intensa hipotonia na musculatura paravertebral. o Seus movimentos são, geralmente, reflexos, controlados por partes primitivas do cérebro. Assim, reflexos como sucção, preensão palmar, plantar e da marcha passarãoem poucos meses a ser atividades voluntárias. Outros, como o de Moro e o tônico cervical assimétrico, desaparecerão em breve, sendo que, dentro do padrão de desenvolvimento normal, não devem persistir no 2° semestre de vida. o Continuando a evolução do sistema motor, durante os primeiros meses, há uma diminuição progressiva do tônus flexor e substituição pelo padrão extensor. Esse amadurecimento se faz na direção craniocaudal, sendo o quadril e os membros inferiores os últimos a adquiri-lo. o A partir do 2° semestre, não ocorre mais predomínio de padrão flexor ou extensor, e assim, a criança, por meio de alternância entre os tônus, consegue, primeiramente, rolar e, posteriormente, já tendo dissociado os movimentos entre as cinturas escapular e pélvica, consegue mudar da posição deitada para sentada. o A regra do desenvolvimento motor é que ocorra no sentido craniocaudal e proximodistal e, por meio de aquisições mais simples para mais complexas. o Assim, a primeira musculatura a ser controlada é a ocular. o Depois, há o controle progressivo da musculatura para a sustentação da cabeça e depois do tronco. o Finalmente, durante o 3° trimestre, a criança adquire a posição ortostática. O o apoio progressivo na musculatura dos braços permite o apoio nos antebraços e as primeiras tentativas de engatinhar. No entanto, algumas crianças andam sem ter engatinhado, sem que isso indique algum tipo de anormalidade. o O desenvolvimento motor fino se dá no sentido próximo-distal. o Ao nascimento, a criança fica com as mãos fechadas na maior parte do tempo. Por volta do 3° mês, em decorrência da redução do tônus flexor, as mãos ficam abertas por período maior de tempo, e as crianças conseguem agarrar os objetos, embora ainda sejam incapazes de soltá- los. o Entre o 5° e o 6° mês, conseguem apreender um objeto voluntariamente e iniciam o movimento de pinça, que será aprimorado progressivamente até se tornar completo, polpa com polpa. 3 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA A Tabela 1 apresenta alguns marcos característicos do desenvolvimento até os 2 anos de idade. A partir dessa idade, o contexto cultural em que a criança se insere passa a ter uma influência maior e, consequentemente, também há maior variação entre os marcos. A avaliação do sistema sensorial, principalmente da audição e da visão, deve ser feita desde os primeiros atendimentos. É importante indagar os familiares se a criança focaliza objetos e os segue com o olhar, e também se prefere o rosto materno. Isto porque, desde os primeiros dias de vida, o recém-nascido é capaz de focalizar um objeto a poucos centímetros de seu campo visual e detém nítida preferência pelo rosto humano. o No exame dos olhos, deve-se estar atento ao tamanho das pupilas, pesquisar o reflexo fotomotor bilateralmente, assim como o reflexo vermelho que avalia a transparência dos meios e, no caso da suspeita de opacidades, encaminhar para um exame oftalmológico minucioso. o A audição inicia-se por volta do 5° mês de gestação, portanto, ao nascimento, a criança já está familiarizada com os ruídos do organismo materno e com as vozes de seus familiares. o Deve-se perguntar se o bebê se assusta, chora ou acorda com sons intensos e repentinos, se é capaz de reconhecer e se acalmar com a voz materna e se procura a origem dos sons. o A avaliação objetiva da audição pode ser feita com várias frequências de estímulos sonoros, mas no Brasil, desde 2010, tornou-se obrigatória a realização da triagem auditiva neonatal, para todos os recém-nascidos, por meio de emissões otoacústicas evocadas, comumente denominado “teste da orelhinha”. o Quanto à interação social, o olhar e o sorriso, presentes desde o nascimento, representam formas de comunicação, mas, entre a 4ª e a 6ª semana de vida surge o “sorriso social” desencadeado por estímulo, principalmente pela face humana. o Já no 2° semestre de vida, a criança não responde mais com um sorriso a qualquer adulto, pois passa a distinguir o familiar do estranho. Assim, a criança pode manifestar um amplo espectro de comportamentos que expressam o medo e a recusa de entrar em contato com o estranho. Relativo à linguagem, durante os primeiros meses de vida, o bebê expressa-se por meio de sua mímica facial e, principalmente, pelo choro. o Entre o 2° e o 3° mês, a criança inicia a emissão de arrulhos e, por volta do 6° mês, de balbucio ou sons bilabiais, cujas repetições são realizadas pelo simples prazer de se escutar. o Entre 09 e 10 meses, emite balbucios com padrão de entonação semelhantes à linguagem de seu meio cultural. o A primeira palavra, na maioria dos idiomas, corresponde a um encontro silábico reconhecido que se inicia com sons de m, n, p, d ou t, como “mama”, “papa” e “dada”. o A linguagem gestual também aparece no 2° semestre de vida e é fruto da significação dada pelos adultos do seu meio. Nessa fase, é comum a criança apontar e obedecer aos comandos verbais como bater palmas, acenar e jogar beijinhos. o Por volta dos 12 meses de idade, surgem as primeiras palavras denominadas palavras-frase. o Aos 18 meses, a criança inicia frases simples e, a partir daí, ocorre um grande aumento em seu repertório de palavras. Nessa fase, também começa o diálogo com troca de turnos, isto é, a criança fala e depois aguarda a resposta do outro para nova interferência. Diante do exposto, constata-se a complexidade das múltiplas funções a serem avaliadas, e pode-se deduzir que, ao abordar uma criança com suspeita de problema no seu desenvolvimento, mesmo o pediatra experiente pode precisar de mais de um atendimento para concluir sobre sua condição. Frequentemente, é necessária uma equipe multidisciplinar com competência para esse enfrentamento, não se esquecendo do apoio psicossocial aos familiares. 4 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Pediatria, S.B. (2017), Tratado de Pediatria, Volume 1, 4th edição, Editora Manole, [Inserir cidade de publicação]. Disponível em: Minha Biblioteca. Monitor ização Do Crescimento: o O crescimento é um processo dinâmico e contínuo, expresso pelo aumento do tamanho corporal. o Constitui um dos indicadores de saúde da criança. o O processo de crescimento é influenciado por fatores intrínsecos (Genéticos) e extrínsecos (ambientais), entre os quais se destacam a alimentação, a saúde, a higiene, a habitação e os cuidados gerais com a criança, que atuam acelerando ou restringindo tal processo. o Deve-se valorizar também o crescimento intrauterino, pois diversos estudos atestam que alterações no crescimento fetal e infantil podem ter efeitos permanentes na saúde do adulto. o O acompanhamento sistemático do crescimento e do ganho de peso permite a identificação de crianças com maior risco de morbimortalidade (BRASIL, 2001) por meio da sinalização precoce da subnutrição e da obesidade. Monitorização e avaliação do crescimento: A vigilância nutricional e o monitoramento do crescimento objetivam promover e proteger a saúde da criança e, quando necessário, por meio de diagnóstico e tratamento precoce para sub ou sobrealimentação, evitar que desvios do crescimento possam comprometer sua saúde atual e sua qualidade de vida futura. Estudos sobre a epidemiologia do estado nutricional têm dado mais atenção ao peso e ao índice de massa corpórea do que à altura, mas a altura tem sido a associada também a desfechos e causas de mortalidade. O déficit estatural representa atualmente a característica antropométrica mais representativa do quadro epidemiológico da desnutrição no Brasil. O melhor método de acompanhamento do crescimento infantil é o registro periódico do peso, da estatura e do IMC da criança na Caderneta da Saúde da Criança. Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam a utilização dos valores de referência para o acompanhamento do crescimento e do ganhode peso das curvas da OMS de 2006 (para crianças menores de 5 anos) e 2007 (para a faixa etária dos 5 aos 19 anos). As curvas de crescimento infantil representam o crescimento infantil sob condições ambientais adequadas. O padrão da OMS deve ser usado para avaliar crianças de qualquer país, independentemente de etnia, condição socioeconômica e tipo de alimentação (BRASIL, 2008). No entanto, para que uma criança seja efetivamente classificada dentro de um desses grupos de “desvio nutricional”, é necessária a avaliação das características individuais e do meio onde ela vive, para que possamos atribuir as causas para ela estar fora da curva e agir sobre elas, quando possível. A Caderneta de Saúde da Criança utiliza como parâmetros para avaliação do crescimento de crianças (menores de 10 anos) os seguintes gráficos: o perímetro cefálico (de zero a 2 anos), o peso para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), o comprimento/estatura para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos), o índice de massa corporal (IMC) para a idade (de zero a 2 anos, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos). A inclusão do IMC como parâmetro de avaliação permite que a criança seja mais bem avaliada na sua relação peso vs. comprimento (para menores de 2 anos) ou peso vs. altura (para maiores de 2 anos). Tal parâmetro auxilia na classificação de crianças que em um determinado período estiveram desnutridas e tiveram o comprometimento de sua estatura, possibilitando uma melhor identificação de crianças com excesso de peso e baixa estatura. Já o peso por idade limita-se a mostrar se a criança está com peso abaixo do recomendado para a sua idade, mas não mostra se a sua estatura já foi comprometida. O IMC já foi validado em crianças como bom marcador de adiposidade e sobrepeso, apresentando estreita correlação com outros parâmetros que avaliam a porcentagem de gordura corpórea, como as pregas cutâneas, a densitometria e a bioimpedância eletromagnética. Além da validação do IMC como bom marcador de adiposidade em crianças, o interesse pelo seu uso 5 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA cresceu à medida que se notou que o IMC mensurado na infância pode ser preditivo em relação ao IMC na idade adulta. O cálculo do IMC deverá ser realizado a partir da aplicação da fórmula a seguir, após realizada a mensuração de peso e altura ou de comprimento da criança. As crianças menores de 2 anos deverão ser mensuradas deitadas em superfície lisa (comprimento) e as crianças maiores de 2 anos deverão ser mensuradas em pé (altura). A Caderneta de Saúde da Criança apresenta as tabelas de IMC calculadas e orienta as pessoas sobre o seu uso. As tabelas a seguir apresentam os pontos de corte para a avaliação do crescimento da criança que podem ser avaliados a partir do registro dos dados antropométricos nas curvas disponíveis na Caderneta de Saúde da Criança e pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do MS. A vigilância alimentar e nutricional pressupõe o monitoramento contínuo do estado nutricional e do consumo alimentar da população. Neste sentido, o Ministério da Saúde adota o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), destinado a atender todas as fases da vida dos indivíduos, sejam crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes. Condutas recomendadas para algumas situações de desvio no crescimento: Sobrepeso ou obesidade • Verifique a existência de erros alimentares, identifique a dieta da família e oriente a mãe ou o cuidador a administrar à criança uma alimentação mais adequada, de acordo com as recomendações para uma alimentação saudável para a criança (veja as orientações no capítulo 9, referente à alimentação saudável). Magreza ou peso baixo para a idade Para crianças menores de 2 anos: • Investigue possíveis causas, com atenção especial para o desmame. • Oriente a mãe sobre a alimentação complementar adequada para a idade (veja o capítulo 9, referente à alimentação saudável). • Se a criança não ganhar peso, solicite seu acompanhamento no Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Oriente o retorno da criança no intervalo máximo de 15 dias. Para crianças maiores de 2 anos: • Investigue possíveis causas, com atenção especial para a alimentação, para as intercorrências infecciosas, os cuidados com a criança, o afeto e a higiene. • Trate as intercorrências clínicas, se houver. • Solicite o acompanhamento da criança no Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Encaminhe a criança para o serviço social, se isso for necessário. • Oriente a família para que a criança realize nova consulta com intervalo máximo de 15 dias. • Verifique as atividades de lazer das crianças, como o tempo em frente à televisão e ao videogame, estimulando-as a realizar passeios, caminhadas, andar de bicicleta, praticar jogos com bola e outras brincadeiras que aumentem a atividade física. • Encaminhe a criança para o Nasf, se tal possibilidade estiver disponível. • Realize a avaliação clínica da criança. Magreza acentuada ou peso muito baixo para a idade • Investigue possíveis causas, com atenção especial para o desmame (especialmente para os menores de 2 anos), a alimentação, as intercorrências infecciosas, os cuidados com a criança, o afeto e a higiene. • Trate as intercorrências clínicas, se houver. • Encaminhe a criança para atendimento no Nasf. • Encaminhe a criança para o serviço social, se este estiver disponível. • Oriente a família para que a criança realize nova consulta com intervalo máximo de 15 dias. Acompanhamento do desenvolv imento: O conceito de desenvolvimento é amplo e refere-se a uma transformação complexa, contínua, dinâmica e progressiva, que inclui, além do crescimento, maturação, aprendizagem e aspectos psíquicos e sociais. Costuma-se falar em desenvolvimento de forma distinta entre desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial, como uma forma de facilitar o estudo do desenvolvimento humano. Mas cabe apontar que tais aspectos estão interligados e influenciam-se mutuamente durante a vida do indivíduo. Na estrutura fisiológica humana, o que é inato não é suficiente para produzir um indivíduo sem a participação do meio ambiente. Tudo em um ser 6 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA humano (suas características, seus modos de agir, pensar, sentir, seus valores, etc.) depende da sua interação com o meio social em que vive. Portanto, o desenvolvimento da criança será sempre mediado por outras pessoas, pelas famílias, pelos profissionais de saúde, da educação, entre outros, que delimitam e atribuem significados à sua realidade. Acompanhamento e avaliação do desenvolvimento infantil: O acompanhamento do desenvolvimento da criança na atenção básica objetiva sua promoção, proteção e a detecção precoce de alterações passíveis de modificação que possam repercutir em sua vida futura. Isso ocorre principalmente por meio de ações educativas e de acompanhamento integral da saúde da criança. A criança deve atravessar cada estádio segundo uma sequência regular, ou seja, os estádios de desenvolvimento cognitivo são sequenciais. Se a criança não for estimulada ou motivada no devido momento, ela não conseguirá superar o atraso do seu desenvolvimento. Afinal, o desenvolvimento infantil se dá à medida que a criança vai crescendo e vai se desenvolvendo de acordo com os meios onde vive e os estímulos deles recebido. A identificação de problemas (tais como: atraso no desenvolvimento da fala, alterações relacionais, tendência ao isolamento social, dificuldade no aprendizado, agressividade, entre outros) é fundamental para o desenvolvimento e a intervenção precoce para o prognóstico dessas crianças. Portanto, são de relevância o diagnóstico e o acompanhamento do desenvolvimento das crianças, sendo que os principais protocolos preconizam a avaliação objetiva de habilidades motoras,de comunicação, de interação social e cognitivas nas consultas de supervisão de saúde. As avaliações do desenvolvimento infantil devem sempre levar em consideração as informações e opiniões dos pais e da escola sobre a criança (FLAVELL, 1996; OPAS, 2005) [D]. Recomenda-se procurar ouvir, informar e discutir assuntos que dizem respeito às habilidades desenvolvidas e à maneira como a criança as explora, relacionando-as aos riscos de lesões não intencionais e às medidas para a sua prevenção. O quadro, a seguir, descreve aspectos do desenvolvimento das crianças menores de 10 anos. 7 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Orientações aos pais: Orientar em relação ao desenvolvimento das funções fisiológicas e comportamentais da criança, tais como: o choro o padrão de sono o controle de esfíncteres o sexualidade o disciplina O controle de esfíncteres: O controle esfincteriano é reconhecido como um marco do desenvolvimento infantil. Os métodos utilizados e a época do início do treinamento são variáveis, dependendo de cada cultura. No entanto, constata-se que o controle vem sendo postergado na maioria dos países. Observa-se também que o início precoce, sem respeitar a maturação da criança, aumenta o risco para o aparecimento de disfunções, como enurese, encoprese, constipação e recusa em ir ao banheiro. A maioria dos pais apresenta expectativas irreais relacionadas à idade ideal para treinamento, não levando em consideração o estágio do desenvolvimento e as habilidades necessárias para o controle dos esfíncteres. A idade ideal para iniciar o processo educativo varia de criança para criança: algumas entre 18 e 24 meses já mostram sinais de que estão prontas; outras não se mostram prontas antes dos dois anos e meio. Considera-se um início precoce o processo educativo realizado a partir de idade em torno dos 18 meses. Por sua vez, é tido como um treinamento tardio o processo realizado após os 36 meses. O importante é identificar quando a criança está pronta para esta etapa e, então, auxiliá-la sem cobrança de resultados, isto é, sem estresse. O treinamento vai exigir muita paciência e determinação dos pais e de quem mais cuidar da criança. Para as crianças que estão na escola, é importante orientar os pais para que repitam em casa a mesma rotina escolar. Padrão de sono e dificuldades para dormir: Os recém-nascidos dormem tanto durante o dia quanto à noite, mas, depois de algumas semanas, o sono diurno começa a diminuir. Em torno dos 6 meses de vida, os bebês começam a ter padrões de sono, embora isso varie muito entre eles. A quantidade total de horas de sono de que os bebês precisam e o número de sonecas diurnas diminuem ao longo dos primeiros anos de vida, tendo uma média de 13 horas de sono por dia aos 2 anos de idade, com variações individuais. Bebês que não desenvolvem uma regularidade evidente de sono e vigília podem estar demonstrando algum problema, como uso de droga pela mãe durante a gravidez ou dano cerebral. As crianças que apresentam problemas de sono necessitam de uma história focalizada em comportamentos durante o sono e a vigília. Avaliam- se questões como a idade de início do problema, em que circunstâncias ele ocorre, o prejuízo que causa à criança e a seus cuidadores, a persistência do problema e os fatores associados com a melhora e a piora dos sintomas. Também é útil avaliar as expectativas da família relacionadas com o sono, a história familiar de transtorno de sono e a descrição das práticas habituais de sono da família. Realiza-se um diário do sono, ou seja, uma descrição temporal do sono da criança em 24 horas, durante uma ou duas semanas, e compara-se o resultado com o esperado para a sua idade. É importante discutir com os pais as condutas e os manejos gerais diante desses transtornos: em primeiro lugar, ambos os pais devem estar de comum acordo em relação à rotina para a hora de dormir; caso contrário, a criança percebe a ambivalência. Uma rotina coerente é importante e permite o estabelecimento de um ciclo sono-vigília adequado. A rotina para um sono tranquilo deve ser estabelecida para as crianças o mais cedo possível. É importante que, ao anoitecer, o movimento da casa seja modificado. Menos barulho e menos iluminação são fundamentais para manter um ambiente mais sereno. Pode-se introduzir também o que chamamos de “ritual para uma boa noite de sono”, que deve ser ocorrer diariamente. Primeiro, a criança deve ser alimentada; em seguida, deve tomar um banho (esta ordem pode ser alterada de acordo com a própria rotina da família). Depois, ela é encaminhada para a sua cama. Neste momento, é importante que os pais expliquem para a criança (sem pressão, porém, às vezes, com firmeza) que chegou a hora de dormir. Os hábitos de contar uma história, ouvir uma música de suave melodia ou fazer uma massagem podem ajudar a criança a dormir mais relaxada. Devem ser evitados estímulos com televisão, computador ou luz acesa, o que pode reduzir a qualidade do sono da criança. Comportamento: A partir dos 2 anos, a criança desenvolve seu senso de identidade, reconhecendo-se como uma pessoa, atribuindo conceitos a si mesma. 8 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA É um momento em que a criança começa a reivindicar maior autonomia, quando os pais devem ajudá-la a fixar os limites e, ao mesmo tempo, encontrar sua autonomia e ter maior independência. Ao encararem as expressões de vontade própria da criança como um esforço normal e saudável por independência, e não como teimosia, os pais e cuidadores podem ajudá-la a adquirir o autocontrole, contribuir para seu senso de competência e evitar conflitos excessivos. É importante apontar também que nessa idade as crianças aprendem muito pela observação, de forma que o exemplo dos pais torna-se uma fonte importante para a criança identificar comportamentos aceitáveis e inaceitáveis. Este é um momento em que a equipe de saúde pode contribuir, ajudando os pais a encontrar o equilíbrio entre a flexibilidade necessária para a exploração da autonomia e a colocação de limites claros e consistentes, também necessários para que a criança aprenda a se autocontrolar. Cadernos de atenção básica – saúde da criança: crescimento e desenvolvimento n°33. Aval iar o desenvolv imento da cr iança: Na primeira consulta de avaliação do desenvolvimento de uma criança de até 6 anos, é importante perguntar para a mãe ou para o acompanhante (cuidador primário) sobre fatos associados ao desenvolvimento, além de observar a criança na realização de comportamentos esperados para a sua faixa etária. Aproveite para observar a mãe e sua interação com a criança (vínculo mãe-criança), visto ser esta relação um importante fator de proteção para o desenvolvimento humano. Veja ainda os movimentos espontâneos da criança, se ela apresenta interesse por objetos próximos a ela, pelo ambiente em que se encontra. É importante também verificar os cuidados da mãe e/ou do pai ou do cuidador com a criança, considerando o estado de higiene e a atenção deles ao que ela está fazendo, para onde olha, e para o que deseja naquele momento. Serão observações prévias que podem auxiliar na avaliação. Faça perguntas associadas ao desenvolvimento da criança. Pergunte à mãe: o Quantas vezes você engravidou antes da gestação de sua criança? Todos seus filhos estão vivos? Caso contrário, o que aconteceu? o Que idade você tinha quando engravidou de sua criança? Como foi sua gestação? Quanto tempo durou? Você é portadora de alguma doença crônica (ex.: lupus)? o Como foi o parto da sua criança? o Quanto pesou sua criança ao nascer? o Ela apresentou algum problema logo após o nascimento? o Pergunte sobre os antecedentes da criança até o momento da consulta. o Você e o pai da criança tem laços consanguíneos? o Existe alguma pessoa com problema mental ou físico na família de vocês?o Sua criança mama ao seio? Até que idade mamou? o Como e com quem sua criança costuma brincar? o Onde e com quem ela fica a maior parte do dia? o Escolaridade materna, convivência familiar, adensamento familiar, violência doméstica, existência de usuários de drogas ou de álcool em convivência com criança. O QUE A SENHORA ACHA DO DESENVOLVIMENTO DA SUA CRIANÇA? A mãe é quem mais convive com a criança, portanto, é quem mais a observa. Comparando-a com outras crianças, na maioria das vezes, é ela quem primeiro percebe que seu filho ou filha não vai bem. Valorize a sua opinião e quando esta achar que a criança não vai bem, redobre sua atenção sobre os aspectos biológico e socioambientais que impactam no desenvolvimento da criança. Feita as perguntas para investigar os fatores de risco e a opinião da mãe e/ou do pai sobre o desenvolvimento do seu filho, verifique e observe a criança. Verifique o perímetro cefálico da criança (circunferência occiptofrontal): O perímetro cefálico deve ser medido independentemente da idade da criança. Verifique também se existem alterações fenotípicas, tais como: o Fenda palpebral oblíqua o Olhos afastados o Implantação baixa de orelhas o Lábio leporino o Fenda palatina o Pescoço curto e/ou largo o Prega palmar única o Quinto dedo da mão curto e recurvado Observar o desenvolvimento da criança: 9 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Pag 178 manual AIDPI criança Crescimento: VERIFICAR o crescimento da criança. O estado nutricional é um excelente indicador da saúde global da criança. O acompanhamento de seu crescimento e do ganho de peso permite avaliar se a criança está se desenvolvendo plenamente. Portanto, monitorar o crescimento de uma criança significa promover e proteger sua saúde. O propósito é determinar se uma criança está crescendo adequadamente ou se tem um problema de crescimento, ou se apresenta tendência a um problema de crescimento e como abordá-lo. Cada vez que uma criança visita uma unidade de saúde deve ser pesada, ter seu comprimento ou altura avaliada e as medidas devem ser registradas na Caderneta de Saúde da Criança. AVALIAR O CRESCIMENTO IMPLICA: 1) Calcular a idade da criança em meses. 2) Coletar medidas antropométricas com metodologia padronizada. 3) Marcar essas medidas nas curvas de crescimento. 4) Verificar se os valores encontrados estão dentro dos limites (pontos de corte – linhas vermelhas, na Caderneta de Saúde da Criança) estabelecidos como adequados. Os pontos de corte correspondem aos limites que separam as crianças que estão saudáveis daquelas que não estão. 5) Unir o ponto encontrado ao ponto anteriormente registrado com uma linha contínua. A união de vários pontos forma a linha de crescimento, também chamada CURVA de CRESCIMENTO, que sinaliza se a criança está crescendo adequadamente ou não. Dar o diagnóstico antropométrico, que consiste em: „ „ Interpretar os pontos registrados para os indicadores de crescimento, e identificar um crescimento adequado e problemas de crescimento, comparando essas medidas com curvas de referência apropriadas. „ „ Interpretar a tendência das curvas e determinar se a criança: • Está crescendo adequadamente. • Tem um problema de crescimento. • Está em risco de ter um problema de crescimento. 10 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Manual AIDPI criança O2. Identif icar os pr incipais fatores que alteram a evolução normal da cr iança. (desenvolv imento) A interação da criança com os membros de sua família e com a sua rede social de proteção assegura a sua sobrevivência e a sua relação com o mundo, contribuindo para o seu desenvolvimento psicossocial. Na sua relação com os adultos, ela assimila habilidades que foram construídas pela história social ao longo do tempo, tais como as habilidades de sentar, andar, falar, controlar os esfíncteres etc. Durante os dois primeiros anos, um aspecto importantíssimo do seu desenvolvimento é o desenvolvimento afetivo, caracterizado no apego, que é o vínculo afetivo básico. A criança estabelece o vínculo com as pessoas que interagem com ela de forma privilegiada, com características de condutas, representações mentais e sentimentos. Nos anos pré-escolares, diferentes dimensões e estilos paternos têm efeitos sobre diferentes aspectos do desenvolvimento social e das personalidades das crianças: autoestima, desenvolvimento moral, conduta pró-social, autocontrole etc. Além da família, não podemos nos esquecer da escola, que se transforma rapidamente em um importante contexto de socialização, que se encarrega, principalmente, da transmissão do saber organizado, que é o produto do desenvolvimento cultural. DISTÚRBIOS NO DESENVOLVIMENTO: Os fatores de risco para problemas de desenvolvimento podem ser classificados em genéticos (por exemplo: síndrome de Down), biológicos (por exemplo: prematuridade, hipóxia neonatal, meningites) e/ou ambientais (fatores familiares, de ambiente físico, fatores sociais). No entanto, a maior parte dos traços de desenvolvimento da criança é de origem multifatorial e representa a interação entre a herança genética e os fatores ambientais. O baixo peso ao nascer e a prematuridade são eventos que aumentam o risco da criança para alterações globais em seu desenvolvimento (tais como: distúrbios de linguagem, de motricidade, de aprendizagem e atraso neuropsicomotor), podendo, contudo, evoluir durante os primeiros dois anos de vida para padrões de normalidade na maioria dos casos. No entanto, as maiores taxas de deficiência ocorrem nas menores faixas de peso e idade gestacional, tendo correlação com a incidência de complicações no período neonatal. A manifestação de dificuldades no desenvolvimento é muito variável e pode ser de ordem mental, física, auditiva, visual ou relacional. O déficit mental caracteriza-se por um estado de redução notável do funcionamento intelectual significativamente inferior à média, que se inicia durante o período de desenvolvimento da criança e está associado a limitações em pelo menos dois aspectos do funcionamento adaptativo: comunicação, cuidados pessoais, atividades de vida diária, habilidades sociais, utilização dos recursos comunitários, autonomia, aptidões escolares, lazer e trabalho. A hipóxia perinatal e as infecções congênitas são as condições mais prevalentes que levam as crianças a apresentar déficit mental. Os distúrbios com predomínio motor (como, por exemplo, a paralisia cerebral) costumam ser diagnosticados mais facilmente do que os de linguagem ou os cognitivos. No entanto, estes últimos têm maior correlação com o progresso do desenvolvimento do que as alterações na evolução do comportamento motor. Embora as deficiências graves possam ser reconhecidas ainda na infância, distúrbios de linguagem, hiperatividade e transtornos emocionais não são facilmente diagnosticados antes dos três ou quatro anos de idade. Da mesma forma, distúrbios de aprendizagem raramente são identificados antes do ingresso da criança na escola. Os distúrbios do desenvolvimento de predomínio relacional caracterizam-se por distúrbios na interação social e na comunicação. Uma parte de tais crianças apresenta déficits cognitivos, sendo o autismo a doença mais grave deste amplo espectro de entidades. O tratamento de uma criança com distúrbio do desenvolvimento poderá ser individualizado ou ser feito em grupo e depende muito de sua complexidade. O adequado manejo poderá variar, podendo ser feito mediante orientações aos pais sobre a importância da relação entre o desenvolvimento da criança e a maneira como eles lidam com isso. De igual forma, pode ocorrer por intermédio da interação dos pais com a criança nos casos de falta de estímulo. Também pode haver a necessidade de exames complementares e tratamento imediato de doenças associadas, como a toxoplasmose ou o hipotireoidismocongênito. O tratamento funcional deve ser instituído a todos os casos independentemente da etiologia. Inúmeras experiências demonstram que a estimulação nos primeiros anos de vida, para crianças com atraso no desenvolvimento já estabelecido ou naquelas com risco de atraso, melhora seu desempenho, devendo, portanto, seu início ser incentivado o mais precocemente possível. Cadernos de atenção básica – saúde da criança: crescimento e desenvolvimento n°33. O3. Definir conceito, causas e clín ica da hidrocefal ia na cr iança. Hidrocefal ia: A hidrocefalia é um acúmulo de líquido excedente nos espaços normais dentro do cérebro (ventrículos) e/ou entre as camadas de tecido interna e média que recobrem o cérebro (o espaço subaracnóideo). Esse 11 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA líquido excedente normalmente causa um aumento do crânio e problemas de desenvolvimento. • A hidrocefalia ocorre quando o líquido dos espaços normais do cérebro (ventrículos) não pode ser drenado. • O líquido pode se acumular por muitos motivos, como um defeito congênito, hemorragia no cérebro ou tumores cerebrais. • Os sintomas típicos incluem cabeça excepcionalmente grande e desenvolvimento anormal. • O diagnóstico toma por base o resultado de uma tomografia computadorizada (TC), uma ultrassonografia ou ressonância magnética (RM). • É necessário realizar uma cirurgia para inserir um dreno (derivação) no cérebro ou criar uma abertura que permita a drenagem do líquido. O líquido que envolve o cérebro (líquido cefalorraquidiano) é produzido nos espaços existentes dentro do cérebro chamados ventrículos. O líquido é continuamente produzido e precisa ser drenado para uma área diferente, onde é absorvido pelo sangue. Quando o líquido não consegue ser drenado, ele se acumula nos ventrículos e/ou no espaço subaracnóideo, causando a hidrocefalia (água no cérebro). A pressão nos ventrículos e dentro do cérebro costuma aumentar, o que comprime o tecido cerebral. Existem muitos quadros clínicos, como um defeito congênito, hemorragia no cérebro (que costuma estar associada à prematuridade) ou tumores cerebrais, que podem bloquear a drenagem e causar a hidrocefalia. Hidrocefalia também pode ser causada por certos defeitos gênicos. O bebê pode nascer com hidrocefalia ou ela pode ocorrer durante o parto ou após o nascimento. Sintomas: Uma cabeça excepcionalmente grande pode ser um sintoma de hidrocefalia. Quando ocorre um aumento da pressão no cérebro, o bebê apresenta irritabilidade e letargia, tem um choro agudo e vômitos e pode ter convulsões. Além disso, as áreas moles entre os ossos do crânio (chamadas de fontanelas ou moleiras) podem ficar salientes, o que causa uma protuberância macia na cabeça. É possível que o movimento dos olhos não seja sincronizado, o que às vezes pode dar a impressão de que os olhos da criança são vesgos (um quadro clínico denominado estrabismo). As crianças mais velhas podem ter dor de cabeça, problemas de visão, ou ambos. O bebê não se desenvolve normalmente se a hidrocefalia não for tratada. Algumas crianças, especialmente aquelas que desenvolvem a hidrocefalia no início da gestação, apresentam deficiência intelectual ou têm dificuldades de aprendizagem. Algumas crianças apresentam perda da visão. Outras crianças desenvolvem uma inteligência normal. Diagnóstico: • Antes do nascimento, ultrassonografia pré-natal • Após o nascimento, uma tomografia computadorizada, ressonância magnética ou ultrassonografia do crânio Antes do nascimento, a hidrocefalia costuma ser detectada durante uma ultrassonografia pré-natal de rotina. Após o nascimento, os médicos suspeitam do diagnóstico no recém-nascido tomando por base os sintomas observados durante um exame físico de rotina. Depois disso, o médico realiza uma ultrassonografia do crânio para confirmar o diagnóstico de hidrocefalia. Para confirmar o diagnóstico em bebês mais velhos e crianças, o médico realiza uma tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética (RM) ou ultrassonografia do crânio. Assim que o diagnóstico tiver sido feito, todas as crianças realizam uma TC ou uma ultrassonografia para monitorar a hidrocefalia e determinar se ela está piorando. https://www.msdmanuals.com/pt- br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde- infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do- c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia Quais as causas e sintomas da hidrocefal ia? O cérebro produz constantemente um líquido (mais precisamente líquido cefalorraquidiano, ou líquor), que tem a função de proteger o encéfalo e a medula de danos, remover resíduos do metabolismo cerebral e fornecer ao cérebro hormônios necessários para seu funcionamento adequado. A hidrocefalia é uma doença na qual ocorre um aumento da quantidade de líquor no cérebro, que, quando em excesso, aumenta a pressão dentro do crânio, podendo causar danos importantes ao órgão. O líquor é produzido no interior do cérebro e circula por uma série de “espaços” chamados ventrículos, até ser reabsorvido na sua parte mais externa. Pode ocorrer o surgimento da hidrocefalia se: • o líquor for produzido em excesso; • existir um bloqueio no caminho do líquor até o local onde ele será reabsorvido na parte mais externa do cérebro, ou; • se existir algum problema na reabsorção do líquor; Existem três tipos principais de hidrocefalia: 1 – Hidrocefalia congênita: está presente no nascimento. Estima-se que cerca de 1 a cada 1000 bebês nascem com este problema. Pode estar associada a outros problemas congênitos, como a espinha bífida ou pode resultar de uma infecção materna durante a gestação, como rubéola, sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose, entre outros. A causa mais comum é um bloqueio na circulação do líquor. Os bebês que nascem com hidrocefalia freqüentemente têm características físicas peculiares, como por exemplo: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/problemas-de-sa%C3%BAde-infantil/defeitos-cong%C3%AAnitos-do-c%C3%A9rebro-e-da-medula-espinhal/hidrocefalia 12 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA • a cabeça pode parecer maior que o normal • a pele da cabeça pode parecer mais “fina” e brilhante que o normal, com veias bem aparentes. • as fontanelas ( ou “moleiras”) podem estar mais tensas. • o bebê pode parecer que está sempre olhando para baixo (o chamado “olhar de sol poente”) Além dos sinais físicos, a criança também pode apresentar alguns sintomas, como: • dificuldade de alimentação • irritabilidade • sonolência • vômitos Também podem ocorrer atrasos em algumas fases do desenvolvimento do bebê (ex: engatinhar, sentar). 2- Hidrocefalia adquirida: ocorre após o nascimento. Geralmente se desenvolve após um grande trauma na cabeça ou como conseqüência de uma doença subjacente, como acidente vascular cerebral (AVC, “derrame”) ou tumor cerebral. Os sintomas incluem: • dor de cabeça • náuseas e vômitos • perda do apetite • irritabilidade • sonolência • alterações de personalidade • desorientação • problemas visuais, como visão borrada • convulsões • dificuldade para caminhar • incontinência (geralmente urinária) 3 – Hidrocefalia de pressão normal: geralmente só ocorre em pessoas de mais idade, acima dos 50 anos. É uma doença mais rara e pouco compreendida. Pode ocorrer após um traumatismo craniano, infecção ou AVC, mas na maior parte dos casos a causa é desconhecida. Diferentemente dos outros tipos de hidrocefalia, neste caso os sintomas se desenvolvem lentamente, ao longode muitos meses ou anos. Geralmente o primeiro sintoma de hidrocefalia de pressão normal é uma dificuldade progressiva para caminhar, especialmente para dar o primeiro passo. A seguir podem ocorrer crises de incontinência urinária e uma progressiva lentidão do pensamento (lentidão para responder a perguntas, reagir a determinadas situações ou processar informações). https://aps.bvs.br/aps/quais-as-causas-e-sintomas- da-hidrocefalia/ O4. Conceituar nanismo e identif icar suas causas. Nanismo: Nanismo é um transtorno que se caracteriza pela deficiência no crescimento, resultando numa pessoa com baixa estatura, se comparada com a média da população de mesma idade e sexo. Manifesta-se, principalmente, a partir dos dois anos de idade, impedindo o crescimento e o desenvolvimento durante a infância e a adolescência. Causas: Mais de 200 condições diferentes podem causar alterações no ritmo do crescimento. Uma das mais frequentes é o nanismo, que pode ser classificado em duas categorias distintas: – Nanismo hipofisário ou pituitário: causado por distúrbios metabólicos e hormonais, em especial pela deficiência na produção do hormônio do crescimento ou por resistência do organismo à ação desse hormônio. É conhecido, também, por nanismo proporcional, porque o tamanho dos órgãos mantém a proporcionalidade entre si e com a altura do indivíduo. – Acondroplasia: considerada uma doença rara, o tipo mais comum de nanismo desproporcional é uma síndrome genética que impede o crescimento normal dos ossos longos (fêmur e úmero, especialmente), porque acelera o processo de ossificação das cartilagens formadoras de ossos. Isso faz com que as diferentes partes do corpo cresçam de maneira desigual. Características: Baixa estatura e algum atraso no desenvolvimento sexual são dos poucos sinais que as pessoas afetadas pelo nanismo hipofisário proporcional costumam apresentar. Nos indivíduos com acondroplasia, os sintomas típicos são: – baixa estatura; – pernas e braços curtos, especialmente se comparados com o tamanho normal do tronco; – cabeça grande (macrocefalia), com testa proeminente e achatamento na parte de cima do nariz; – dedos curtos e grossos; – mãos pequenas; – pés planos, pequenos e largos; – arqueamento das pernas; – mobilidade comprometida na articulação do cotovelo; – cifose e lordose (problemas de curvatura na coluna vertebral) acentuadas; – deslocamento da mandíbula para a frente; – desalinhamento dos dentes; – demora para começar a caminhar, o que pode ocorrer entre os 18 e os 24 meses de idade. Os homens adultos chegam a uma altura máxima de 1,45 metro e as mulheres não alcançam 1,40 metro, em média. Pessoas com algum tipo de nanismo podem ter uma ligeira redução na esperança média de vida, em comparação com a população geral, potencialmente devido a doenças cardiovasculares. Esses sinais podem aparecer em níveis e graus diferentes nas pessoas que têm o transtorno. https://bvsms.saude.gov.br/nanismo/ https://aps.bvs.br/aps/quais-as-causas-e-sintomas-da-hidrocefalia/ https://aps.bvs.br/aps/quais-as-causas-e-sintomas-da-hidrocefalia/ https://bvsms.saude.gov.br/nanismo/ 13 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA Crescimento alterado: O crescimento de uma criança depende de fatores intrínsecos e extrínsecos e pode ser dividido em duas fases distintas: a pré-natal e a pós-natal. Durante o crescimento pré-natal, fatores associados à saúde materna e à placenta constituem os fatores extrínsecos ao feto. A carga genética e a integridade do sistema endócrino são os fatores intrínsecos. No período pós-natal, os fatores extrínsecos são: o acesso a nutrientes, o ambiente psicossocial e o acesso a medidas preventivas de saúde. Os aspectos intrínsecos são semelhantes aos do período pré-natal, sendo que, nessa fase, o crescimento depende do hormônio do crescimento (GH). Condições intrínsecas à criança necessárias para o crescimento A carga genética individual de cada criança tem dois aspectos importantes. O primeiro é que não haja anomalias estruturais ou numéricas ou mutações capazes de influenciar a integridade dos sistemas necessários para um crescimento normal. O segundo aspecto genético importante é o histórico familiar, que pode ser avaliado pela simples observação da altura dos pais e dos avós. Por meio da altura dos pais, sendo eles não portadores de doenças que tenham afetado o seu crescimento, é possível calcular o “alvo genético” (Tabela 1). Por ser um cálculo estatístico, o objetivo é orientar sobre o potencial de estatura adulta, mas não representa uma previsão de estatura a ser alcançada individualmente. É sempre importante lembrar que 10% dos filhos saudáveis de um casal podem apresentar uma altura adulta acima ou abaixo do alvo genético. Hormônios e fatores necessários para o crescimento O principal fator de crescimento, tanto no período pré-natal como no período pós-natal, é a IGF-I, que age na epífise de crescimento. No período pós-natal, a IGF-I, sob a regulação direta do GH, é produzida no fígado e liberada na circulação e também produzida diretamente na epífise óssea. O GH, que é produzido na hipófise, também tem ação direta na placa de crescimento. Enquanto a IGF-I estimula expansão e a hipertrofia, o GH estimula a diferenciação celular. Os hormônios tireoidianos estimulam a produção e a secreção de GH e estimulam a síntese de IGF-I GH- dependente. Além disso, os hormônios tireoidianos têm um efeito direto na placa de crescimento, estimulando a diferenciação terminal dos condrócitos e a atividade dos osteoclastos. Os glicocorticoides apresentam um efeito agudo de estimu-ar o crescimento, mas uma exposição crônica a níveis elevados de glicocorticoides causa uma diminuição da síntese e da sensibilidade ao GH e, consequentemente, diminui a síntese de IGF-I e a proliferação celular, comprometendo o crescimento. Os esteroides sexuais (androgênios e estrogênios) apresentam receptores específicos na placa de crescimento, além de estimularem a síntese de GH. O fechamento das epífises de crescimento é um efeito direto dos estrogênios. Baixa estatura A grande maioria das causas de baixa estatura durante o crescimento é de origem familiar. A fisiopatologia da baixa estatura pode envolver diversos mecanismos isolados (Tabela 5) ou a associação entre eles. A divisão de causas de baixa estatura entre baixa estatura idiopática, com suas variantes da normalidade, e causas patológicas parece bastante didática (Tabela 6). Pag 628 Pediatria, S.B. (2017), Tratado de Pediatria, Volume 1, 4th edição, Editora Manole, [Inserir cidade de publicação]. Disponível em: Minha Biblioteca.
Compartilhar