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AULA 8: MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL SISTEMAS DE TRANSPORTES MARINGÁ 2020 PROFESSOR ME. THIAGO BOTION NERI; PROFESSORA DRA. ALINE COLARES DO VALE DOMINGUES; PROFESSORA ME. CAROLINA GARCIA 1 ESTRUTURA DA AULA Objetivo Introdução Força motriz/ de propulsão Esforço trator Aderência Resistência ao movimento Velocidade de equilíbrio Frenagem Estabilidade lateral em curvas horizontais Exercícios 2 OBJETIVO DA AULA Apresentar a mecânica de locomoção dos veículos rodoviários e as forças atuantes no movimento. O foco de interesse será os caminhões por serem veículos críticos no que diz respeito ao desempenho em rampas, frenagem e sobrelargura em curvas. 3 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS INTRODUÇÃO O desempenho de um caminhão, em termos de velocidades e consumo de combustível, é estimado considerando o esforço trator gerado pelo motor de combustão interna e a resistência ao movimento oriunda do próprio veículo. 4 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA MOTRIZ A transmissão de veículos rodoviários localiza-se na parte traseira. Onde a potência¹ gerada por um motor de combustão interna é transformada em torque por um volante conectado ao virabrequim ou árvore de manivelas; torque este que é transmitido à árvore de transmissão ou eixo cardan através da caixa de câmbio. 5¹Potência: energia gerada após determinado tempo de trabalho. Trata-se da multiplicação do torque pela rotação do motor ao longo de determinado período. Potência máxima surge em rotações mais altas que o torque máximo. O motorista sente a potencia quando ele estica a marcha (motor trabalhando a altos giros). MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA MOTRIZ O torque¹ transmitido através da árvore de transmissão é conduzido aos semi- eixos motores pelo diferencial, onde existe um conjunto de coroa e pinhão. O diferencial aplica uma redução adicional ao torque que geralmente é variável em alguns modelos de caminhões e veículos fora-de-estrada. 6 Vídeo: funcionamento transmissão motores a diesel ¹Torque é um conceito físico, relativo ao movimento de rotação de um corpo após a aplicação de determinada força sobre ele. Num veículo se trata da força que o motor consegue gerar (produzida pelo sobe e desce dos pistões). O movimento desses componentes gira o virabrequim (eixo interligado às rodas motrizes). Assim o veículo ganha impulso. Torque é importante para veículos de carga. https://www.youtube.com/watch?v=FJ_U7nc9i5M&ab_channel=canalpellegrino https://www.youtube.com/watch?v=FJ_U7nc9i5M&ab_channel=canalpellegrino MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA MOTRIZ A redução do diferencial é aplicada ao eixo cardan. Portanto, se a redução do diferencial é de 5,9:1, significa que os semi-eixos motores dão uma volta de 5,9 revoluções do eixo cardan. Sendo as reduções em série é possível determinar quantas revoluções do virabrequim são necessárias para produzir uma revolução das rodas motrizes. Supondo que a redução na caixa de câmbio é 4:1, uma volta completa dos semi-eixos motores requer 23,6 revoluções do eixo motor, pois 4 x 5,9 = 23,6. 7 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA MOTRIZ A velocidade de um veículo pode ser calculada a partir do número de rotações da árvore de manivelas do seu motor. 8 𝑽 = 𝟔𝟎 .𝑵. 𝝅.𝑫 𝟏𝟎𝟎𝟎. 𝒈𝒕. 𝒈𝒅 Onde: V : velocidade do veículo (km/h); N : número de rotações por minuto do virabrequim (rpm); D : diâmetro do pneu (m); gt : fator de redução na caixa de câmbio; gd : fator de redução no diferencial. O numerador calcula a distância percorrida (metros)/hora, a uma velocidade do motor de N rotações/min, encontrando o número de revoluções/hora e multiplicando este valor pelo diâmetro do pneu. O denominador converte distância percorrida para km e converte as rotações do motor em rotações dos semi-eixos motores.. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA MOTRIZ O veículo se movimenta em função do atrito entre pneus das rodas motrizes e a superfície da rodovia. Como os semi-eixos motores estão conectados às rodas do veículo, o esforço trator desenvolvido pelo motor é transmitido à interface entre pneus e o pavimento. O esforço trator disponível é dependente da aderência entre pneu-pavimento. 9 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FORÇA DE PROPULSÃO / MOTRIZ O esforço trator desenvolvido por um veículo é dado pela equação: 10 𝐹𝑡(𝑁) = η . 3600 𝑃 ( 𝑘𝑊) 𝑉 (𝑘𝑚/ℎ) Onde: Ft = Força motriz ou de propulsão (N) P = Potência (kW) V = Velocidade (km/h) η = 0,81 𝐹𝑡(𝑁) = 2916 𝑃 ( 𝑘𝑊) 𝑉 (𝑘𝑚/ℎ) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS 11 FORÇA DE PROPULSÃO / MOTRIZ Como a potência de locomotivas é normalmente expressa em hp (horse-power), E sendo: 1 hp = 745,7 W 1 m/s = 3,6 km/h η = 0,81 𝐹𝑡(𝑁) = 2685 × η × 𝑃(hp) 𝑉(km/h) 𝐹𝑡(𝑁) = 2175 × 𝑃(hp) 𝑉(km/h) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Curva característica de desempenho de um motor O gráfico mostra um conjunto de funções que exprimem a variação do torque, potência e consumo de combustível de um motor diesel típico de acordo com a velocidade de rotação do virabrequim. O motor a diesel deve atuar dentro de uma faixa de rotação ótima. 12 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Um motor de combustão interna só funciona adequadamente após alcançar uma velocidade mínima de rotação (marcha lenta). A potência, o torque e o consumo de combustível de um motor diesel típico variam com a velocidade de rotação do motor. Se a velocidade de rotação do motor continuar crescendo, a pressão média efetiva na câmara de combustão se reduz, causando uma diminuição do torque. 13 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Caminhões e automóveis: a velocidade mínima de rotação do motor é muito alta, inviabilizando o uso de redução fixa (como acontece nos veículos ferroviários). Para compatibilizar a velocidade de rotação do motor com a velocidade do veículo na via usa-se uma transmissão que permite a utilização de potência elevada (motor trabalhando em alta rotação) com velocidade baixa (roda motriz girando em baixa rotação). 14 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR A força motriz pode ser determinada se a potência do motor e a velocidade em que o veículo trafega forem conhecidos. Sendo a potência do motor e velocidade do veículo dependentes da rotação do motor, é preciso determinar como esses 2 parâmetros variam em função da velocidade do motor, para que seja possível estabelecer a força motriz que propele o caminhão A partir de um gráfico que mostre a variação da potência em função da rotação do motor, pode-se determinar um conjunto de pares ordenados (rpm, potência) dentro da faixa ótima de operação. 15 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Curva característica de desempenho de um motor Usando as equações da potência (slide 10) e da velocidade (slide 8) obtém-se a função que representa a variação do esforço trator em relação a velocidade, a partir dos pares ordenados: “rpm” e “potência”. 16 TDP: tomada de potência MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Nota-se que o procedimento é um pouco mais complexo do que o usado para determinar a curva de força motriz de veículos ferroviários. Porque em um caminhão a potência do motor a diesel varia com a velocidade do veículo, ao passo que na locomotiva o motor a diesel opera com potência constante. 17 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Exemplo 1: Seja um caminhão de peso bruto total de 6.300kg (1.700kg no eixo dianteiro e 4.600kg no eixo traseiro, que é o motriz), equipado com um motor a diesel de potência máxima de 110kW (a 2.800 rpm), cuja curva característica está na figura ao lado. Seu câmbiodispõem de 5 marchas, cujas reduções são 6,36:1, 3,31:1, 2,14:1, 1,41:1, 1:1, respectivamente. Os pneus têm diâmetro de 0,73m (caminhão carregado) e a redução do diferencial é 3,9:1. Deseja-se obter a curva de esforço trator vs velocidade para esse caminhão. 18 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Da curva de potência têm-se: 19 Rpm 1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200 2400 2600 2800 Potência (kW) 35 53 66 78 87 95 101 105 108 110 Para cada nível de rotação do motor deve-se determinar a velocidade correspondente, em cada marcha. Usando essa velocidade e a potência do motor, pode-se então determinar o esforço trator desenvolvido em cada nível de rotação do motor, para cada uma das marchas. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Resolução: 1) Cálculo das velocidades para cada marcha, em função da rotação do motor e da redução da transmissão e do diferencial. Temos 20 𝑉 = 60 . 𝑁. 𝜋. 𝐷 1000. 𝑔𝑡. 𝑔𝑑 = 60 × 1000 × 𝜋 × 0,73 1000 × 6,36 × 3,9 = 5,5𝑘𝑚/ℎ MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Resolução: 2) Cálculo do esforço trator desenvolvido pelo caminhão em cada uma das velocidades determinadas 21 𝐹𝑡 𝑁 = η . 3600 𝑃 𝑘𝑊 𝑉 𝑘𝑚/ℎ = 0,81 × 3600 × 35 5,5 = 18560 𝑁 = 18,56 kN MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Resolução: 3) Curva Esforço trator vs Velocidade 22 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ESFORÇO TRATOR Observa-se no gráfico que a função força motriz nos caminhões não é contínua como no caso das locomotivas diesel-elétricas; Cada marcha deve ser utilizada para certo intervalo de velocidades, que é determinado pela faixa de rotação do motor; As combinações possíveis de velocidade e força motriz que podem ser obtidas numa dada marcha estão contidas na área delimitada pela função esforço trator de cada marcha. Variando-se a pressão no pedal do acelerador, pode-se aumentar ou reduzir a quantidade de combustível queimada no motor, o que determina a potência produzida. 23 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ADERÊNCIA O esforço trator máximo que pode ser desenvolvido por um caminhão ou carro depende do coeficiente de atrito entre o pneu e a superfície do pavimento e do peso que atua no eixo trator. O esforço trator máximo que pode ser transmitido à uma roda sem que ela “patine”, é dado por: Onde f é o coeficiente de aderência (ou atrito estático) e Td é o peso do eixo motriz, também chamado de peso aderente. 24 𝐹𝑡𝑚𝑎𝑥 = 𝑓 × 𝑇𝑑 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ADERÊNCIA O coeficiente de aderência (f) (ou atrito estático), depende de quatro fatores básicos: O tipo de superfície sobre o qual passa o pneu; Do estado das superfícies de contato; Das características do pneu; Da velocidade 25 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ADERÊNCIA 26 Valores típicos do coeficiente de aderência MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ADERÊNCIA Sendo assim é possível calcular a força máxima que o caminhão pode desenvolver do Exemplo 1 sem que as rodas motrizes derrapem. Tem-se que o peso máximo do eixo traseiro (eixo motriz), determinado pelo fabricante é de 4.600kg, então o peso aderente máximo desse caminhão é de 45.126N (4.600 kg x 9,81m/s²). Considerando uma pista com asfalto molhado, esse caminhão pode desenvolver uma força motriz máxima de: 27 𝐹𝑡𝑚𝑎𝑥 = 𝑓 × 𝑇𝑑 = 0,45 × 45.126𝑁 = 20.306,7𝑁 Se o caminhão não estiver carregado totalmente, o peso no eixo traseiro será menor, causando redução na força motriz máxima que pode ser desenvolvida pelo veículo. A aplicação de uma força motriz de magnitude superior a este valor fará com que as rodas motrizes do caminhão derrapem. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS ADERÊNCIA No gráfico do Exemplo 1, tem-se que a Força motriz máxima está delimitada à 1° marcha. 28 Ftmax (limite de aderência) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO A resistência ao movimento de veículos rodoviários pode ser estimada de maneira muito semelhante aos veículos ferroviários. Tem-se, então que a resistência ao movimento irá incluir a parcela da resistência ao rolamento, uma parcela de resistência aerodinâmica, e uma parcela de resistência de curva. 29 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 + 𝑅𝑔 Onde: Rt : resistência total (N) Rr : resistência de rolamento (N); Ra : resistência de arrasto aerodinâmica (N); Rg : resitência de rampa (N). MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Sendo a soma das duas primeiras parcelas de resistência (Rr + Ra) comumente chamado de resistência básica ou resistência inerente ao movimento. Pois não existe situação em que não atuem sobre o veículo em movimento. A resistência de rampa, que é a componente do peso que atua na direção do movimento, só existe se o caminhão descolar-se numa rampa. Num aclive, a componente de peso atua no sentido contrário ao movimento, comportando-se como resistência. Num declive, essa força atua no sentido do movimento, contrapondo-se ao efeito da resistência básica. 30 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Resistência de Rolamento Num caminhão, a resistência de rolamento é devido a quatro fatores: (i) Deformação da roda e da via; (ii) Efeito de sucção causado pela subpressão na área de separação da roda da superfície de rolamento; (iii) Escorregamento da roda em relação ao pavimento; A magnitude desta resistência depende da dureza e da rugosidade da roda e do pavimento. 31 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Resistência de Rolamento A resistência de rolamento para caminhões pode ser estimada pela expressão: 32 𝑅𝑟 = (𝑐1+𝑐2 × 𝑉) × 𝐺 Onde: Rr : resistência de rolamento (N); c1 : constante que reflete o efeito da deformação do pneu e da via; c2 : constante que reflete o efeito dos outros fatores na resistência de rolamento; V: velocidade (km/h); G : peso do veículo (kN) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Resistência de Rolamento A resistência de rolamento para caminhões pode ser estimada pela expressão: 33 𝑅𝑟 = (𝑐1+𝑐2 × 𝑉) × 𝐺 Um valor comumente adotado para o coeficiente c2 é de 0,056. Essa parcela da resistência, que é a menor que a causada pela deformação do pneu e do pavimento cresce com o aumento da velocidade do veículo. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Resistência Aerodinâmica A resistência do ar pode ser estimada pela equação usada para o cálculo do arrasto: 34 𝑅𝑎 = 𝑐𝑎 × 𝐴 × 𝑉 2 Onde: Ra : resistência aerodinâmica (N); ca : coeficiente de penetração aerodinâmica; A : área frontal do veículo (m²); V: velocidade (km/h) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS RESISTÊNCIA AO MOVIMENTO Resistência de Rampa A resistência de rampa pode ser calcula pela equação: 35 𝑅𝑔 = 10 × 𝐺 × 𝑖 Onde: Rg : resistência de rampa (N); G : peso do veículo (kN) i ou m: declividade da rampa (%) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO A velocidade de equilíbrio de um caminhão ou automóvel é aquela em que o esforço trator é igual à resistência ao movimento (Ft = Rt) Se a velocidade for menor que a velocidade de equilíbrio, o esforço trator é maior que a resistência ao movimento, e o caminhão é submetido a uma aceleração (Ft > Rt). Essa aceleração aumenta a velocidade do caminhão, causando redução do esforço trator e um aumento nas forças que resistem ao movimento, o que provoca uma redução na aceleração. O processo continua até que esse esforço trator se iguale à resistência. Se a resistência for maior que o esforço trator (Ft < Rt), o veículo desacelera, reduzindo a resistência e aumentando o esforço trator, até essas duas forças se igualarem. 36 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOSRODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO A determinação analítica da velocidade de equilíbrio é complexa porque as reduções no câmbio fazem com que a função que representa a força motriz seja descontínua. A determinação gráfica da velocidade de equilíbrio, por outro lado, é muito simples e pode ser feita rapidamente com o auxílio de uma planilha. 37 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Para determinar graficamente a velocidade de equilíbrio num certo trecho, deve-se, inicialmente, determinar a curva de esforço trator para o veículo. Em seguida, determina-se a curva de resistência básica para o caminhão. Um caminhão que trafega em um trecho reto e plano está sujeito apenas à resistência básica; se o caminhão trafegar em um aclive ou declive, uma parcela adicional de resistência (resistência de rampa) passa a atuar sobre ele. A velocidade de equilíbrio é aquela em que a aceleração é nula (Ft = Rt). Essa situação é representada graficamente pela interseção entre a curva de resistência e a curva de esforço trator. 38 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Exemplo 2: Seja o caminhão do Exemplo 1, cujo peso bruto é de 6.300kg (G = 61,803kN). Área frontal de 7,32m² e o seu coeficiente de penetração aerodinâmica de ca = 0,040. Deseja-se determinar a velocidade de equilíbrio para esse caminhão num trecho reto e plano e num aclive de 5%. 39 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: 1) Calcula-se a resistência total ao movimento para o trecho plano e reto. 2) Usando a equação acima, pode-se estabelecer valores para a velocidade V (km/h) e determinar a curva de resistência básica. O ponto em que as duas curvas interceptarem-se corresponde à velocidade de equilíbrio (Veq). 40 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 = (𝑐1+𝑐2 × 𝑉) × 𝐺 + 𝑐𝑎 × 𝐴 × 𝑉 2 = 7,6 + 0,056 × 𝑉 × 61,803 + 0,040 × 7,32 × 𝑉2 → 𝑅𝑡 = 469,7 + 3,46 × 𝑉 + 0,29 × 𝑉 2 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: O ponto em que as duas curvas interceptam-se corresponde à velocidade de equilíbrio Veq que, no caso é aproximadamente 94km/h Do gráfico, pode-se notar que a marcha usada é a quinta. 41 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: 3) A rotação do motor pode ser calculada pela fórmula: 42 𝑁 = 1000 × 𝑉 × 𝑔𝑡 × 𝑔𝑑 60 × 𝜋 × 𝐷 = 1000 × 94 × 1,0 × 3,9 60 × 𝜋 × 0,73 = 2.664𝑟𝑝𝑚 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: Agora supondo o caminhão trafegando em um aclive de 5%, neste caso irá atuar sobre ele a resistência de rampa, que é a componente do peso na direção do movimento e que não varia com a velocidade. A resistência total: 43 𝑅𝑔 = 10 × 𝐺 × 𝑖 = 10 × 61,803 × 5 = 3.090,15𝑁 𝑅𝑡 = 𝑅𝑟 + 𝑅𝑎 + 𝑅𝑔 = (𝑐1+𝑐2 × 𝑉) × 𝐺 + 𝑐𝑎 × 𝐴 × 𝑉 2 + 10 × 𝐺 × 𝑖 = 7,6 + 0,056 × 𝑉 × 61,803 + 0,040 × 7,32 × 𝑉2 + 10 × 61,803 × 5 → 𝑅𝑡 = 3.559,85 + 3,46 × 𝑉 + 0,29 × 𝑉 2 𝑁 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: Plotando essa equação no gráfico em função da velocidade, obtém-se a nova Veq, de aproximadamente 63km/h, em quarta marcha. Já que a quinta marcha não produz uma força suficiente para contrabalancear a resistência ao movimento. Nessa velocidade, o motor trabalha a 2.518rpm 44 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Resolução: A rotação do motor no trecho em aclive de 5%, na 4° marcha, pode ser calculada pela fórmula: 45 𝑁 = 1000 × 𝑉 × 𝑔𝑡 × 𝑔𝑑 60 × 𝜋 × 𝐷 = 1000 × 63 × 1,41 × 3,9 60 × 𝜋 × 0,73 = 2.517,67𝑟𝑝𝑚 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Como já discutido as curvas de força motriz mostradas no gráfico do exemplo 1 representam o esforço trator obtido com o motor funcionando na sua potência máxima, isto é, com o pedal do acelerador pressionado ao máximo. No entanto, o caminhão pode operar usando uma potência menor que a máxima, como visto na Figura ao lado. 46 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Supondo que o caminhão do Exemplo 2 esteja trafegando em um aclive de 8%. A nova curva de resistência total ao movimento (Rt = Rbásica+Rg) é mostrada no gráfico ao lado. Nem a quarta, nem a quinta marcha podem ser usadas, pois as curvas de força motriz correspondentes não cruzam a curva de resistência. O motorista deve usar uma das outras marchas nessa rampa. 47 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO A zona sombreada mostra a região em que a terceira marcha pode ser usada, com velocidades entre 16,5 e 46,2 km/h. Pode-se também perceber que a curva de resistência total não cruza a curva de força motriz relativa à terceira marcha. Isso significa que se o motorista usar toda a potência do motor o caminhão irá acelerar (Ft > R). 48 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Alternativamente, o motorista pode aliviar o acelerador e, usando uma potência menor que a máxima, ajustar a força motriz produzida pelo motor à resistência ao movimento. Isto é mostrado na Figura ao lado. Onde a curva tracejada mostra a força produzida usando-se apenas 77% da potência disponível da 3° marcha. 49 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS DETERMINAÇÃO DA VELOCIDADE DE EQUILÍBRIO Como essa nova curva de força motriz intercepta a curva de resistência com aclive de 8% em 2 pontos, existem duas velocidades de equilíbrio: uma a 18km/h e outra a 40 km/h. A de 18km/h, o motor estará trabalhando a 1.092rpm, enquanto a de 40km/h, o motor estará trabalhando em 2.426rpm. 50 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM Do ponto de vista do engenheiro de transportes, a frenagem é um dos aspectos mais importantes do desempenho veicular. O comportamento dos veículos durante a frenagem é crítico para a determinação de diversos parâmetros do projeto de rodovias, tais como: Distância de visibilidade de parada (usada em curvas verticais); Escolha dos materiais mais adequados para a superfície do pavimento; Projeto de interseções, etc. 51 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM No projeto de rodovias, usa-se tradicionalmente um modelo simplificado de frenagem, que é também adotado pela AASHTO (Norma Americana) para a elaboração de normas de projetos de rodovias. A Figura a abaixo mostra as forças atuando sobre um veículo em um trecho em nível (a), declive (b) e aclive (c). 52 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Na Figura (a) mostra as forças que atuam sobre o veículo cujos os freios estão sendo acionados num trecho em nível. Supondo que o veículo esteja trafegando a uma velocidade V0 quando os freios são acionados, pode-se determinar a distância de frenagem, d, a partir das forças que atuam sobre o veículo na horizontal: 53 𝑀 × 𝑎 − 𝐹𝑏 = 0 Onde: M: massa do veículo (kg); a: desaceleração de frenagem (m/s²); Fb: força de frenagem(N). MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Supondo que todas as forças atuam sobre o centro de gravidade do veículo, tem-se que: 54 𝐹𝑏 = 𝐹𝑏𝑓 + 𝐹𝑏𝑡 Onde: Fb: força de frenagem(N); Fbf: força de frenagem do eixo dianteiro (N); Fbt: força de frenagem do eixo traseiro (N); MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM A força de frenagem máxima (Fbmax) é limitada pelo coeficiente de aderência existente na superfície de contato do pneu-pavimento e é o produto entre o peso do veículo (G) e o fator de aderência (f). A desaceleração máxima de frenagem (amax)podeser obtida utilizando-se a Equação: 55 𝐹𝑏𝑚𝑎𝑥 = 𝐺 × 𝑓 𝑎𝑚𝑎𝑥 = 𝐹𝑏𝑚𝑎𝑥 𝑀 = 𝐺 × 𝑓 𝑀 = 𝑀 × 𝑔 × 𝑓 𝑀 = 𝑔 × 𝑓 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM A distância mínima de frenagem (dmin) pode ser calculada conhecendo-se a velocidade inicial do veículo V0 e a desaceleração máxima de frenagem amax: 56 𝑑𝑚𝑖𝑛 = 1 2 × 𝑎 × 𝑉0 2 = 𝑉0 2 2 × 𝑔 × 𝑓 Onde: dmin: distância mínima de frenagem (m); V0: velocidade inicial do veículo (m/s²); g: aceleração da gravidade (m/s²); f: coeficiente de aderência na interface pneu-pavimento. Esta formulação ignora o efeito de resistência de rolamento e da resistência do ar, já que são forças que produzem desacelerações muito menores que a gerada pelos freios. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Considerando a velocidade dada em km/h e sendo dmin substituído por Distância de Frenagem (D) (m), tem-se: 57 𝐷 = ൗ𝑉0 3,6 2 2×𝑔×𝑓 = ൗ𝑉0 3,6 2 2×9,81×𝑓 = 𝑉2 254×𝑓 Onde: D: distância de frenagem (m); V: velocidade inicial do veículo (km/h); f: coeficiente de aderência na interface pneu-pavimento. Esta formulação ignora o efeito de resistência de rolamento e da resistência do ar, já que são forças que produzem desacelerações muito menores que a gerada pelos freios. MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Se o veículo trafega em um trecho de declive (b) ou aclive (c). 58 A componente peso (G) passa a atuar na direção do movimento, e tem-se que: 𝑀 × 𝑎 + 𝐺 × 𝑠𝑒𝑛𝛼 − 𝐹𝑏 = 0 • Declive: 𝑀 × 𝑎 − 𝐺 × 𝑠𝑒𝑛𝛼 − 𝐹𝑏 = 0 • Aclive: MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Sendo a força de frenagem: A desaceleração resulta: 59 𝑎 = 1 𝑀 × (𝐺 × 𝑓 × 𝑐𝑜𝑠𝛼 ± 𝐺 × 𝑠𝑒𝑛𝛼) = 𝑔 × (𝑓 × 𝑐𝑜𝑠𝛼 ± 𝑠𝑒𝑛𝛼) 𝐹𝑏 = 𝐺 × 𝑐𝑜𝑠𝛼 × 𝑓 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Como os ângulos das rampas das rodovias com a horizontal são muito pequenos, pode-se considerar que cosα=1 e que senα=tanα. Como têm-se que tanα = 0,01 x m. Em que m é a inclinação da rampa expressa em [m/1000m] ou [%]. Então resulta: 60 𝑎 = g × (𝑓 − 0,01 × 𝑚) • Declive: 𝑎 = g × (𝑓 + 0,01 × 𝑚) • Aclive: MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM A fórmula para o cálculo da Distância de Frenagem pode então ser expandida para os casos de trechos em aclive ou declive. Sendo: 61 Esta formulação é usada no processo proposto pela AASHTO para determinação da distância mínima de visibilidade. Um parâmetro importante no projeto geométrico de rodovias, pois assegura segurança aos motoristas quando acionarem os freios ao ver um obstáculo a frente. 𝐷(𝑚) = 𝑉2( Τ𝑘𝑚 ℎ) 254 × (𝑓 ± 0,01 × 𝑚) MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Na norma da AASHTO os valores de f para utilização na equação (slide anterior) foram determinados experimentalmente. Levando em consideração os efeitos: Resistência aerodinâmica; Resistência ao rolamento; Coeficiente de aderência (com rodas travadas); Inércia (transferência de peso do eixo traseiro para o eixo dianteiro durante a frenagem). 62 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM MODELO SIMPLIFICADO DE FRENAGEM Os valores de f são revisados periodicamente e são baseados em estimativas conservadoras, que são baseadas na suposição de que é grande a possibilidade de ocorrer uma combinação de motorista pouco habilidoso com via, pneus e veículo em mau estado de conservação. Por outro lado, a utilização de valores baixos para o coeficiente de aderência (f) fazem com que a distância de frenagem calculada seja maior, reduzindo os efeitos negativos que poderiam ser causados pelas simplificações do modelo 63 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS 64 MECÂNICA DA LOCOMOÇÃO DE VEÍCULOS RODOVIÁRIOS FRENAGEM EXEMPLO 3: Suponha que um caminhão esteja a 105km/h. Determine a distância de Frenagem para este veículo num trecho plano e num declive de 3% 65 𝐷(𝑚) = 𝑉2( Τ𝑘𝑚 ℎ) 254 × (𝑓 ± 0,01 × 𝑚) 𝐷 𝑚 = 1052 Τ𝑘𝑚 ℎ 254 × 0,29 = 150𝑚 𝐷 𝑚 = 1052 Τ𝑘𝑚 ℎ 254 × 0,29 − 0,01 × 3 = 167𝑚 A distância de frenagem em um declive de 3%, seria 17 m mais longa. Trecho plano REFERÊNCIAS SETTI, José Reynaldo; WIDMER, João Alexandre. Tecnologia de Transportes. 2 ed. Reimpressão. Universidade de São Paulo. Escola de Engenharia de São Carlos. São Carlos: 1998. Vídeos https://www.youtube.com/watch?v=FJ_U7nc9i5M&ab_channel=canalpellegrino 66 https://www.youtube.com/watch?v=FJ_U7nc9i5M&ab_channel=canalpellegrino
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