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Seção 2 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CIVIL 2 Olá, aluno! O momento agora é de responder à ação proposta por Quinzinho Machado de Assis, cabendo lembrar que a inversão dos papéis foi por questões meramente didáticas, para garantir a visão jurídica de todos os lados e possíveis direitos a serem alegados (o que, na prática, seria vedado pelo Estatuto de Ética e Disciplina, conforme art. 20 do Código de Ética e Disciplina da OAB). Fácil notar que a peça processual adequada é a contestação. Primeiramente, observe que, com relação ao endereçamento da peça processual, o texto descreve exatamente a vara em que tramita a ação, razão pela qual o endereçamento deve levar em conta essa informação. Em se tratando da qualificação das partes, é importante notar que, diferente do exercício anterior, desta vez temos o nome completo de Capitu e seu estado civil, dados estes indispensáveis na contestação. Antes de adentrar ao mérito da demanda, primordial a observação do art. 337 do CPC quanto à existência de matérias preliminares a serem arguidas. No caso sob análise, resta cristalina a existência de nulidade da citação realizada (inciso I do art. 337 do CPC), posto que esta não foi realizada pessoalmente (art. 242 do CPC), e ainda a ausência de citação de Bento Santiago, esposo de Capitu (vide §1º do inciso I do art. 73 do CPC). Tratando-se do mérito da demanda, o fundamento primordial a ser considerado quando da elaboração da peça processual é a citada existência de comodato e contrato de parceria agrícola, o que obsta a existência do animus domini (intenção de agir como dono) por parte do autor. No que concerne aos pedidos realizados, deve-se levar em conta a existência de matéria preliminar, requerendo, desta forma, o seu acolhimento. Após, requer-se o não provimento da ação e a condenação do autor ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, nos termos do art. 85 do Código de Processo Civil. E quanto à estrutura da peça, atenção para: endereçamento e nomes das partes (sempre em caixa alta); pule sempre uma linha entre os parágrafos; sinalize com reticências as informações e qualificações essenciais não informadas; nos fatos, prefira parafrasear a transcrever, mas não invente informação; no fechamento da petição, apenas escreva valor da causa, local, data, nome assinatura e inscrição OAB. Lembre-se de que você tem 150 linhas (treine sempre escrevendo, nunca no computador). Seção 2 DIREITO CIVIL Na prática! 3 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 3ª VARA DE REGISTRO PÚBLICO DA COMARCA DO RIO DE JANEIRO/RJ Processo n° ..... MARIA CAPITOLINA SANTIAGO, já qualificada nos autos em epígrafe, casada em regime de ...... com BENTO SANTIAGO, por seu advogado (...), OAB (...), procuração anexa, com escritório estabelecido na Rua ..... (local onde receberá as intimações), vêm, respeitosamente, perante o(a) Exmo.(a.), apresentar CONTESTAÇÃO ao pedido inicial contra ela ajuizado por QUINZINHO MACHADO DE ASSIS e sua esposa CAROLINA ..., também qualificados nestes autos. Argumentam os autores, em síntese, que, desde o mês de novembro do ano de 2005, mantêm a posse mansa, pacífica e ininterrupta de um imóvel de propriedade dos réus, localizado na zona rural do Rio de Janeiro, onde alegam terem construído uma pequena casa de três cômodos e tornado a terra produtiva, para garantir sua subsistência. Pelo que foi exposto, pretendem os autores, também, o julgamento procedente da ação de usucapião, para que lhes seja declarado o domínio sobre o imóvel usucapiendo, com a transcrição da sentença no Registro de Imóveis. Assim, a ora contestante busca o judiciário, a fim de fazer valer o seu direito à manutenção da posse e propriedade de seu imóvel. I – Preliminar a) Da nulidade e inexistência de citação O art. 238 do Código de Processo Civil é cristalino ao definir o conceito de citação, sendo que, não sendo esta efetivada, a relação processual não se aperfeiçoa. A fim de garantir a efetiva abertura do contraditório e da ampla defesa no curso da relação processual, é indispensável a realização de citação válida, nos exatos termos do art. 239 do citado códex. E como se pode extrair do teor dos Questão de ordem! 4 autos, Maria Capitolina Santiago tomou conhecimento da ação porque a citação foi enviada erroneamente para a casa de sua mãe, Dona Fortunata, a qual foi citada em seu nome. O Código de Processo Civil é taxativo ao impor, em seu art. 242, que a citação será pessoal, o que, obviamente, não ocorreu na instrução processual, sendo, portanto, nula de pleno direito, ferindo o direito ao contraditório, o qual é constitucionalmente garantido. Não obstante, a contestante é casada com Bento Santiago no regime de ..., e juntos detêm a titularidade do bem, porém este não foi citado para responder à ação, em que pese constar seu nome na matrícula. Tratando-se de bem imóvel, o litisconsórcio passivo se faz obrigatório (vide §1º do inciso I do art. 73 do CPC). II – Do mérito a) Da inexistência de animus domini O pedido de usucapião demonstra-se descabido por se tratar de mera detenção. O art. 1.239 do Código Civil impõe que, aquele que não é proprietário de imóvel rural ou urbano e possua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela fixado moradia, adquirir-lhe-á propriedade. Para a ocorrência da usucapião rural, dentre outros requisitos, o possuidor deve fixar moradia em imóvel rural, por cinco anos ininterruptos, o que não ocorreu neste processo, pois os autores não possuíam o imóvel como se donos fossem, ou seja, não gozavam de animus domini, mas apenas ali residiam por meio de parceria agrícola e comodato e, mesmo assim, de área menor que a disposta na matrícula. À luz do art. 579 do Código Civil, o comodato é o empréstimo gratuito, sendo que, em tal hipótese, há o dever de restituição da coisa. Desta forma, não se caracteriza o animus domini, requisito indispensável ao efetivo reconhecimento da usucapião. Conforme a doutrina prevalente, aquele que possui sem intenção de ter a coisa como se fosse o dono, ou seja, desprovido de animus domini, tal como o exemplo, não pode exercer sobre a res pretensão de usucapião. Nesse sentido: (...) A intenção de possuir o imóvel como um proprietário (animus domini) é (...) requisito indispensável à configuração da posse ad usucapionem. Por ele objetiva a lei (...) descartar a hipótese de usucapião pelo detentor (empregado ou preposto do possuidor) ou por quem tem o uso ou a fruição do imóvel em razão de negócio jurídico celebrado com o proprietário (locatário, usufrutuário, comodatário, etc.) (...) O possuidor desprovido de animus domini, que não age como dono da coisa, está 5 disposto a entregá-la ao proprietário tão logo instado a fazê-lo. A situação de fato em que se encontra não se incompatibiliza com o exercício, pelo titular de domínio, do direito de propriedade. (...) (COELHO, 2012, p. 194-195, grifo nosso) Essa posição também é aplicável para aquele que possui o bem em decorrência de parceria agrícola, como é o caso vertente, o que inviabiliza o reconhecimento da usucapião. III – Dos pedidos Ante o exposto, requer o recebimento da presente contestação para acolher a preliminar aventada, declarando-se a nulidade da citação da ré e a inexistência de citação de seu esposo, procedendo a anulação de todos os atos subsequentes. No mérito, caso hipotético de não acolhimento da preliminar, sejam os autos julgados improcedentes ante a ausência de animus domini por parte do autor, requisito indispensável do art. 1.239 do Código Civil, condenando-o ao pagamento de custas processuais e honorários advocatícios, à razão de ...% do valor da ação.Protesta por todos os meios de direito admitidos para comprovar os fatos alegados. Nestes termos, pede deferimento. Rio de Janeiro, data. Nome, assinatura, advogado e nº da OAB. 1. Quais são os requisitos para a usucapião rural? 2. Quais são as defesas processuais? 3. Como funciona uma preliminar de defesa? 4. O que é uma defesa de mérito? 5. Qual é a diferença entre contestação e reconvenção? OBS.: todas as respostas estão dispostas no checklist. Resolução comentada 6 Referências BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, DF: Presidência da República, [2021]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1º jun. 2021. COELHO, F. U. Curso de direito civil, volume 3: direito das coisas, direito autoral. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm
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