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Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica Whalen, Karen. Farmacologia ilustrada. 6. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2016. Considerações iniciais: A maioria dos fármacos exerce seus efeitos, desejados ou indesejados, interagindo com receptores (macromoléculas alvo especializadas) presentes na superfície ou no interior da célula. Transdução de sinal Os fármacos atuam como sinais, e seus receptores atuam como detectores de sinais. Os receptores transduzem o reconhecimento de um agonista ligado iniciando uma série de reações que resultam em uma resposta intracelular específica. Nota: o termo “agonista” se refere a uma molécula pequena de ocorrência natural ou a um fármaco que se fixa a um local em uma proteína receptora, ativando-a. *Segundos mensageiros ou moléculas efetoras são parte da cascata de eventos que traduz a ligação do agonista em uma resposta celular. O complexo fármaco receptor As células têm muitos tipos de receptores diferentes, cada qual específico para um agonista particular e produzindo uma resposta única. ! A intensidade da resposta é proporcional ao número de complexos fármaco-receptores. ! Especificidade do receptor por um determinado agonista é alta. Estados receptores Os receptores existem em pelo menos dois estados: inativo R e ativo R+. A ligação dos agonistas desloca o equilíbrio de R para R*, produzindo o efeito biológico. Os antagonistas ocupam o receptor, mas não aumentam a fração R* e podem estabilizar o receptor no estado inativo. Agonistas, antagonistas e agonistas parciais são exemplos de ligantes ou moléculas que se ligam ao centro de ativação no receptor. Principais famílias de receptores Receptor: qualquer molécula biológica à qual um fármaco se fixa e produz uma resposta. Proteínas são a fonte mais rica de receptores farmacológicos (sinais extracelulares > respostas intracelulares). Famílias de receptores: canais iônicos disparados por ligantes; receptores acoplados à proteína G, receptores ligados a enzimas, receptores intracelulares. VetBi� Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica O tipo de receptor com o qual o ligante interage depende da natureza química do ligante. Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes A porção extracelular dos canais iônicos disparados por ligantes em geral contém o local de ligação. Esses locais regulam o formato do poro através do qual os íons fluem através da membrana celular. Em geral, o canal está fechado até que o receptor seja ativado por um agonista que abre o canal brevemente, por poucos milissegundos. Dependendo do íon conduzido através desses canais, os receptores medeiam diversas funções, incluindo neurotransmissão e contração cardíaca ou muscular. Receptores transmembrana acoplados à proteína G O domínio extracelular deste receptor contém a área de fixação do ligante, e o domínio intracelular interage (quando ativado) com a proteína G ou com a molécula efetora. Há vários tipos de proteínas G (p. ex., Gs, Gi e Gq), mas todas são compostas de três subunidades de proteínas. A subunidade α liga trifosfato de guanosina, e as subunidades β e γ ancoram a proteína G na membrana celular. A ligação de um agonista ao receptor aumenta a ligação de GTP na subunidade α, causando a dissociação do complexo α-GTP do complexo βγ. Então, esses dois complexos podem interagir com outros efetores celulares. Algumas vezes, os efetores ativados produzem segundos mensageiros que ativam outros efetores adicionais na célula, causando um efeito cascata. Um efetor comum, ativado por Gs e inibido por Gi , é a adenililciclase, que produz o segundo mensageiro monofosfato de adenosina cíclico (AMPc). VetBi� Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica Receptores ligados a enzimas Quando ativados, esses receptores sofrem alterações conformacionais, resultando em aumento da atividade enzimática no citosol, dependendo de sua estrutura e função. Receptores intracelulares: O ligante precisa difundir-se para dentro da célula para interagir com o receptor. Deve ser suficientemente lipossolúvel. O complexo ligante-receptor ativado se desloca até o núcleo, onde se dimeriza, em geral, antes de ligar-se aos fatores de transcrição que regulam a expressão gênica. A ativação ou inativação desses fatores causa a transcrição do DNA em RNA e a translação do RNA em uma série de proteínas. O curso temporal da ativação e da resposta desses receptores é da ordem de horas ou dias. Por exemplo, os hormônios esteróides exercem suas ações em células-alvo por meio de receptores intracelulares. Algumas características da transdução de sinais: Amplificação de sinais A característica dos receptores ligados à proteína G e a enzimas é sua propriedade de amplificar a intensidade e a duração do sinal. Por exemplo, um único complexo agonista-receptor pode interagir com várias proteínas G, multiplicando, assim, várias vezes o sinal original. Além disso, a proteína G ativada persiste por mais tempo VetBi� Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica do que o complexo ligante-receptor original. Dessensibilização de receptores A administração repetida ou contínua de um agonista (ou um antagonista) pode causar alterações na responsividade do receptor. Para evitar possíveis lesões às células (p. ex., altas concentrações de cálcio iniciando morte celular), vários mecanismos se desenvolveram, buscando proteger a célula da estimulação excessiva. Quando um receptor é exposto a administrações repetidas de um agonista, o receptor se torna dessensibilizado, resultando em diminuição do efeito. Esses receptores podem ser reciclados para a superfície celular, restabelecendo a sensibilidade; ou, de modo alternativo, podem ser processados e degradados, diminuindo o número total de receptores. De modo similar, a exposição repetida do receptor a antagonistas pode resultar em sensibilização (up-regulation), na qual receptores de reserva são inseridos na membrana, aumentando o número total de receptores disponíveis. A sensibilização de receptores torna a célula mais sensível aos agonistas e mais resistente ao efeito dos antagonistas. Relações dose-resposta Os fármacos mimetizam a ação de um ligante endógeno original no seu receptor. A intensidade do efeito depende da sua concentração no local receptor, o que, por sua vez, é determinado pela dose administrada e pelo perfil farmacocinético do fármaco, como velocidades de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. Relações dose-resposta graduais Conforme a concentração do fármaco aumenta, seu efeito farmacológico também aumenta gradualmente até que todos os receptores estejam ocupados (efeito máximo). Potência Medida da quantidade de fármaco necessária para produzir um efeito de determinada intensidade. Eficácia Tamanho da resposta que o fármaco causa quando interage com um receptor. A eficácia depende do número de complexos fármacos receptores formados e da atividade intrínseca do fármaco (sua capacidade de ativar o receptor e causar a resposta celular). A eficácia máxima de um fármaco (Emáx) considera que todos os receptores estão ocupados pelo fármaco, e não se VetBi� Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica obterá aumento na resposta com maior concentração do fármaco. A eficácia é uma característica clinicamente mais útil do que a potência, pois um fármaco com maior eficácia é mais benéfico terapeuticamente do que um que seja mais potente. Efeito da concentração do fármaco nas ligações com o receptor A relação quantitativa entre a concentração do fármaco e a ocupação dos receptores aplica a lei de ação das massas à cinética de ligação do fármaco com as moléculas receptoras: Relações da ligação do fármaco com o efeito farmacológico Uma população de receptores específicos é vital na mediação de um efeito fisiológico, a afinidade de um agonista para ligar-se nesses receptores deve estar relacionada com a potência desse fármaco em causar o efeito biológico. Atividade intrínseca Agonistas totais Se um fármaco se liga a um receptor e produz a respostabiológica máxima que mimetiza a resposta do ligante endógeno, ele é um agonista total. Agonistas parciais Os agonistas parciais não conseguem produzir o mesmo Emáx que o agonista total, mesmo ocupando todos os receptores. Entretanto, o agonista parcial pode ter uma afinidade que é maior ou menor que a do agonista total, ou equivalente a ela. Quando o receptor é exposto ao agonista parcial e ao total simultaneamente, o agonista parcial pode atuar como antagonista do agonista total. Agonistas inversos Comumente, os receptores livres são inativos e precisam da interação com um agonista para assumir uma conformação ativa. Contudo, alguns receptores apresentam conversão espontânea de R para R* na ausência de agonista. Agonistas inversos, ao contrário de agonistas totais, estabilizam a forma R (inativa) e convertem R* em R. Isso diminui o número de receptores ativados para menos do que observado na ausência do fármaco Assim, os agonistas inversos têm atividade intrínseca de receptores e exercem efeito farmacológico oposto ao dos agonistas. Antagonistas Os antagonistas ligam-se ao receptor com alta afinidade, mas têm atividade intrínseca nula. Um antagonista não tem efeito na ausência de agonistas, mas pode diminuir o efeito do agonista quando estiver presente. Pode ocorrer antagonismo pelo bloqueio da ligação do fármaco ao receptor ou da capacidade de ativar o receptor. Antagonistas competitivos Se ambos, antagonista e agonista, se ligam ao mesmo local receptor de modo reversível, eles são denominados “competitivos”. O antagonista competitivo impede que o agonista se ligue ao seu receptor e mantém esse receptor no estado inativo. Antagonistas irreversíveis Antagonistas irreversíveis se fixam de modo covalente ao local ativo do receptor, reduzindo, assim, o número de receptores VetBi� Interações fármaco-receptor e farmacodinâmica disponíveis para o agonista. Em contraste com os antagonistas competitivos, o efeito dos antagonistas irreversíveis não consegue ser superado pela adição de mais agonista. Assim, antagonistas irreversíveis e antagonistas alostéricos são considerados antagonistas não competitivos. Uma diferença fundamental entre antagonistas competitivos e não competitivos é que os competitivos diminuem a potência do agonista (aumentam a CE50), e os não competitivos diminuem a eficácia do agonista (diminuem o Emáx) Antagonistas alostéricos Esse tipo de antagonista se fixa em um local (local alostérico) diferente do local de ligação do agonista e evita que o receptor seja ativado pelo agonista. Antagonismo funcional Um antagonista pode atuar em um receptor completamente separado, iniciando eventos que são funcionalmente opostos aos do agonista. O exemplo clássico é o antagonismo funcional pela epinefrina da broncoconstrição induzida por histamina. A histamina se liga aos receptores H1 histamínicos na musculatura lisa bronquial, causando broncoconstrição da árvore brônquica. A epinefrina é um agonista nos adrenoceptores β2 na musculatura lisa bronquial, que causa o relaxamento do músculo. O antagonismo funcional também é conhecido como “antagonismo fisiológico”. VetBi�
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