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CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Planejamento e Controle da Produção II PROFESSOR: Igor Leão dos Santos Aula 1 Sistemas de Produção e o Planejamento e Controle da Produção (PCP) Meta Apresentar o conceito de Planejamento e Controle da Produção (PCP), enfatizando os sistemas de administração da produção. Objetivos Espera-se que, ao final desta aula, você seja capaz de: 1) Conhecer os conceitos envolvidos no planejamento e controle da produção 2) Identificar a importância estratégica dos Sistemas de Administração da Produção Pré-requisitos Não há pré-requisitos para esta aula 1. Introdução Para começar a entender o tema dessa aula, é primeiro necessário entender o conceito de “sistema”. Um sistema pode ser compreendido, de forma bem simples e sucinta, como um conjunto de partes que interagem para formar um “todo” coordenado. Um sistema é caracterizado por um conjunto de entradas (inputs) um conjunto de saídas (outputs) e um determinado processo de transformação, que transforma as entradas nas saídas esperadas do sistema. Existem vários tipos de sistemas, como os sistemas de informação, os sistemas de equações, os sistemas biológicos, os sistemas econômicos e, como principal tema de estudo desta aula, os sistemas de produção. Um “sistema de produção” é justamente um sistema formado por elementos de produção, com o objetivo de produzir determinados bens e/ou serviços, dado um conjunto de matérias-primas e recursos produtivos como entrada. Dentre os elementos que formam um sistema de produção, podemos citar pessoas, máquinas, processos, instalações, e quaisquer outros elementos que contribuam de alguma forma para a atividade de produção. Agora se imagine como um gerente de produção, responsável por um sistema de produção. Você é o responsável por coordenar todas as partes desse sistema, desde a sua concepção, até a operação, passando pela aquisição e recepção de matérias primas, gestão dos seus processos, até a entrega do produto final ao cliente. Você pode imaginar um sistema de produção simples como, por exemplo, o que existe na cozinha da sua casa. Imagine então todos os elementos envolvidos na produção de um bolo, por exemplo. Como gerente desse sistema de produção, você pode se questionar quanto a que tipos de matérias-primas irá usar para fazer o bolo, o que influenciará certamente o sabor do bolo. Ou ainda, se questionar quanto à quantidade de cada matéria- prima que irá comprar, incluindo pensar se você irá estocar matérias-primas na dispensa para fazer outros bolos no futuro, ou se irá adquirir só o necessário para saciar sua vontade no momento. Você poderá se questionar quanto a que ferramentas irá utilizar para fazer o bolo, se utilizará uma forma ou outra dentre as que estão disponíveis. Se você irá seguir uma receita ou outra dentre as disponíveis em livros de receitas ou na Internet. Se o bolo será produzido próximo ao horário em que será servido, ou se será produzido antecipadamente, para que a cozinha possa ser utilizada para produção de outros pratos no mesmo dia. Enfim, como você pode perceber, há uma série de pequenas decisões que são tomadas, por vezes inconscientemente e baseadas em um bom senso do gestor, que podem impactar todo o sistema de produção. Normalmente, não há somente uma decisão correta, mas cada decisão implica sempre em um ganho junto a uma perda, o que chamamos de “trade-off”. Por exemplo, imagine que você decide por produzir o bolo antecipadamente, para liberar a cozinha para produção de outro prato no mesmo dia. Como consequência, o bolo será servido frio. Há, portanto, a necessidade de se avaliar os trade-offs relativos a cada decisão. E estamos falando de um sistema de produção simples aqui. Agora imagine que você é o responsável por gerir um sistema de produção de uma grande montadora de automóveis, capaz de produzir até seis mil carros por dia, cada um composto por milhares de peças. Esse é o caso da fábrica da Hyundai em Ulsan, na Coréia do Sul, considerada uma das maiores fábricas do planeta em 2015. Você consegue se imaginar tomando decisões capazes de influenciar um sistema de produção dessa magnitude? Por conta desse tipo de questionamento, acerca dos mais diversos tipos de sistemas de produção existentes, e que evoluíram muito rapidamente ao longo do último século, é que se originou a área de Planejamento e Controle da Produção (PCP) nas empresas. Nesta aula, vamos entender os principais conceitos envolvidos no PCP, e conhecer os Sistemas de Administração da Produção (SAP), que, de forma breve, são sistemas que auxiliam nas tomadas de decisão do PCP. É importante mencionar que, nesse curso de Planejamento e Controle da Produção II, as demais aulas apresentarão tecnologias, métodos, sistemas de administração da produção, e ferramentas conceituais que se aplicam ao PCP. Portanto, essa aula é fundamental para contextualizar o restante do curso. 2. Planejamento e Controle da Produção (PCP) A coordenação das várias atividades que uma empresa precisa realizar para atingir os seus objetivos de produção normalmente requer um direcionamento único e plenamente conhecido pela organização. Sobre esse aspecto, a área de Planejamento e Controle da Produção (PCP) desempenha papel fundamental nas empresas, estabelecendo esse direcionamento. As atividades de PCP conectam duas entidades. Por um lado, os recursos disponíveis para a operação, com capacidade de atender a demanda, mas sem a orientação para isso. Por outro lado, um conjunto de demandas dos consumidores, atuais e potenciais. As atividades de PCP estão dirigidas para a conciliação das capacidades de fornecimento de um sistema de produção com as demandas dirigidas para ele. Nesse sentido, o PCP é responsável por tomar decisões referentes às seguintes questões básicas: O que produzir e comprar Quanto produzir e comprar Quando produzir e comprar Com que recursos produzir Como sistemas de informação para apoio à tomada dessas decisões, o PCP conta com diversos Sistemas de Administração da Produção (SAP). Os SAP dão suporte fornecendo informações para que os operadores desses sistemas (administradores da produção) tomem decisões relativas ao fluxo de materiais, execução de processos, utilização de máquinas e mão de obra, dentre outros. Como um exemplo de SAP, os sistemas Enterprise Resource Planning (ERP) atuam apoiando e integrando funções em todos os níveis da empresa. Existem ainda três diferentes hierarquias de planejamento no escopo do PCP, cada uma referente a um horizonte de planejamento (curto, médio e longo prazo), onde atuam SAPs com funções mais específicas. O planejamento hierárquico da produção propõe decompor o problema do PCP em subproblemas menores, resolvidos sequencialmente do maior horizonte de tempo para o menor. Cada horizonte implica em diferentes períodos de replanejamento (de curto, médio e longo prazo), bem como consideram diferentes níveis de agregação da informação. A ideia fundamental aqui é começar por tomar decisões macroscópicas, que serão redirecionadas aos demais níveis de decisão, onde decisões mais específicas (que desagregam as decisões tomadas em nível mais alto) são tomadas. Essa relação entre horizonte de planejamento e grau de agregação está explicitada na Figura 1. E a Figura 2 aponta em quais níveis atuam alguns SAPs. Figura 1. Características do planejamento hierárquico da produção (horizonte de planejamento e grau de agregação dos produtos Figura 2. Nível de atuação de alguns SAPs Com horizonte de planejamento de longo prazo, considerando decisões de planejamento tomadas para meses ou anos, e para grupos/famílias de produtos em alto nível de agregação, atuam os sistemas de planejamento de vendas e operações, do inglês sales and operation planning (S&OP). Por exemplo, nesse mais alto nível estamos falandode decisões do tipo “quantas centenas ou milhares de componentes da família X serão produzidos no mês 1, 2, 3... 12?”. O resultado do sistema S&OP, o plano de vendas e operações, alimentará o sistema de planejamento mestre de produção (PMP), que por sua vez gera o plano mestre de produção. Com horizonte de planejamento de médio prazo, considerando decisões de planejamento tomadas para semanas ou meses, e para subfamílias de produtos em médio nível de agregação, atuam os sistemas de planejamento das necessidades de materiais, do inglês Materials Requirement Planning (MRP) e planejamento dos recursos de manufatura, do inglês Manufacturing Resource Planning (MRPII). Estes usam o plano mestre de produção como entrada, e retornam decisões de aquisição de materiais e alocação da capacidade produtiva com maior nível de detalhe que os sistemas de S&OP e PMP. Por exemplo, nesse nível médio de decisão, estamos falando de decisões do tipo “dada a quantidade estabelecida a ser produzida para a família X no mês 1 pelo PMP, quantos componentes de cada subfamília X.1, X.2, X.3, etc. serão produzidos em cada semana 1, 2, 3, 4 do mês 1?”. Com horizonte de planejamento de curto prazo, considerando decisões de planejamento tomadas para dias ou semanas, e para componentes individuais em baixo nível de agregação atuam os sistemas de sequenciamento, programação e controle da produção. Por exemplo, nesse nível baixo de decisão, estamos falando de decisões do tipo “dada a quantidade estabelecida a ser produzida para a subfamília X.1 na semana 1 do mês 1 pelos sistemas MRP/MRPII, quantos componentes X.1.1, X.1.2, etc. serão produzidos em cada dia 1, 2, 3...7 da semana 1 do mês 1?”. Exemplos de SAPs atuando nesse nível incluem os sistemas ora denominados por Advanced Planning and Scheduling (APS), Manufacturing Execution Systems (MES) e Shop Floor Control (SFC). Sequenciamento, programação e controle da produção e operações estão no coração desses SAPs. Sequenciamento das operações refere-se a definir as prioridades com as quais cada atividade, derivada de uma ordem de produção, deve entrar em produção no sistema de operações, com vista a atingir um conjunto de objetivos de desempenho. Programação das operações refere-se a alocar tempo de duração e instantes de início e fim de processamento obedecendo à sequência definida e o conjunto de restrições considerado. Isso normalmente é feito com detalhe, consistindo na informação com precisão de horas, minutos e segundos. Controle de operações refere-se a controlar a execução das operações programadas, com vista a realimentar o sistema de sequenciamento e programação. A partir da coleta de dados e análise das informações da execução do plano de produção, ações podem ser tomadas para melhorar o desempenho do sistema no próximo ciclo de sequenciamento e programação. Alguns sistemas, como por exemplo os sistemas MES, possuem ainda várias outras funções, como a alocação e acompanhamento de recursos, o despacho de unidades produzidas, o controle de documentação, a aquisição de dados, a gestão de mão de obra, da qualidade, de manutenção e de processos, além da rastreabilidade de produtos e análise de desempenho. 3. Planejamento de Vendas e Operações (S&OP) Mais do que prevista, a demanda das organizações deve ser gerenciada, originando o conceito de gestão da demanda, que vai além e inclui o conceito de previsão de vendas. Dentre as motivações para a gestão da demanda aponta-se: Baixa flexibilidade de produção, dificuldade para alterar os volumes de produção de um período para o outro. Exigência de coordenação de demanda, quando ela é interna à empresa, ou quando há parcerias com os clientes. Possibilidade de criação e modificação (sensibilidade) de demanda por esforços de marketing, promoções e outros. A gestão de demanda inclui esforços em 5 áreas principais: Previsão de demanda: Consiste em antecipar a demanda futura. Inclui a manutenção de uma base de dados históricos de vendas e elaboração de modelos matemáticos de previsão. Comunicação com o mercado: Além do contato de venda, é importante trazer informações dos clientes, obtidas nessa fase de venda, para alimentar as bases de dados da empresa, de forma contínua e permanente. Influência sobre a demanda: Possibilidades de influência são o parcelamento de entregas de demandas já manifestas, ou a oferta de determinado mix de produtos ao mercado que se encaixa melhor na capacidade produtiva da empresa. Promessa de prazos de entrega: Garante desempenho em confiabilidade de entregas. Priorização e alocação de clientes: Consiste em decidir quais clientes serão atendidos total ou parcialmente. O processo de previsão de vendas é possivelmente um dos mais importantes dentro da função de gestão de demanda. Uma série de aspectos organizacionais influencia a tomada de decisão em processos de previsão de vendas. Como primeiro aspecto, a previsão de vendas tem impacto estratégico para o desempenho operacional e financeiro das organizações. Os recursos de uma organização possuem inércia decisória, isto é, decisões necessitam de diferentes períodos de tempo para serem propagadas por todos os recursos da organização e tomarem efeito. Decisões de expansão de capacidade, por exemplo, levam muito tempo para saírem da inércia e, portanto, para suportar essas decisões o processo de previsão é um dos maiores candidatos a exercer influência. Para bem apoiar as decisões as previsões devem se voltar a horizontes diferentes de tempo. Por isso classificam-se as previsões como de curto, médio e longo prazo. Outro aspecto é que nunca conseguimos chegar a uma previsão 100% correta. As incertezas das previsões provêm de duas fontes distintas. Uma é o próprio mercado, que, dada sua natureza, pode ser bastante instável e de baixa previsibilidade. Essa fonte é inevitável e normalmente responsável por boa parte dos erros de previsão. Outra é o sistema de previsão, que pode conter incertezas em virtude de sua própria eficácia. Essa sim pode ser evitada, e merece preocupação, dizendo respeito à qualidade do sistema de previsão. Ainda sobre as incertezas nas previsões, quanto maior o horizonte de previsão, maiores elas tendem a ser. Porém, se no longo prazo for feita uma previsão para o total de vendas (previsão agregada), o erro de previsão será bem menor. Isso ocorre porque em previsões desagregadas, alguns erros são devidos a superestimativas e outros a subestimativas. Quando realizada a previsão de longo prazo sobre os dados agregados (soma), alguns erros tendem a compensar outros. Logo, deve-se buscar sempre realizar a previsão sobre os dados agregados ao maior nível possível, que seja permitido pelo horizonte de previsão. Outro aspecto está relacionado a erros cometidos frequentemente pelas empresas nos processos de previsão. Eles incluem: Confundir previsões com metas e, subsequentemente, metas com previsões. Como no caso de departamentos financeiros que estabelecem uma meta de vendas e, a partir disso, calculam uma demanda desejada para atingi-la, mas esse dado termina sendo divulgado e é interpretado como uma previsão, e não como uma meta. Discutir se o modelo erra ou acerta, gastando tempo e esforço, quando é mais relevante discutir o quanto se está errando e as maneiras de agir para reduzir estes erros. Considerar a previsão formada por um único número para apoiar decisões em operações, quando deve ser considerada a previsão e uma estimativa do erro de previsão. Desistir de melhorar continuamente a previsão de vendas por não conseguir acertar as previsões quando, em operações, não importa ter previsões perfeitas, mas apenas consistentemente melhores que as da concorrência. Outro aspecto consiste na concepção de um processo de previsão de vendas. Este é o conjunto de procedimentos de coleta,tratamento e análise de informações que visa gerar uma estimativa das vendas futuras. Um processo de previsão de vendas contém geralmente as seguintes etapas: Coleta de informações relevantes; Tratamento das informações; Aplicação de métodos quantitativos ou qualitativos; Se utilizados métodos quantitativos, consideração de fatores qualitativos relevantes; Projeção de padrões de comportamento; Estimativa de erros de previsão. Sendo assim, outro aspecto importante diz respeito à necessidade de uma estratégia de armazenamento estruturado de dados para alimentar o processo de previsão. As informações que devem ser consideradas pelo sistema de previsão são: Dados históricos de vendas, período a período. Informações que expliquem comportamentos atípicos das vendas passadas. Dados, situação atual, e previsões de variáveis correlacionadas às vendas, que ajudem a explicar o comportamento das vendas passadas, e podem afetar o comportamento das vendas no futuro. Conhecimento sobre a conjuntura econômica atual e previsão da conjuntura econômica no futuro. Informações de clientes que possam indicar seu comportamento de compra no futuro. Informações relevantes sobre a atuação de concorrentes que influenciam no processo de vendas. Informações sobre decisões da área comercial que podem influenciar no comportamento de vendas. Por fim, a escolha do método de previsão deve ser adequada à realidade da organização e do horizonte de previsão em consideração. Os métodos de previsão geralmente dividem-se em dois tipos principais. Os Métodos qualitativos, que dependem exclusivamente da expertise dos previsores. Eles são ideais para situações onde não há séries históricas disponíveis e/ou o julgamento humano é necessário. Os métodos qualitativos incorporam mais fatores de julgamento e intuição, em geral mais subjetivos, nas análises dos dados disponíveis. Opiniões de especialistas, experiências e julgamentos individuais e outros fatores não quantitativos podem ser levados em conta. São especialmente úteis quando se espera que esses fatores mais subjetivos possam ter mais capacidade de explicar o futuro, ou quando dados quantitativos precisos e completos são muito mais caros ou difíceis de serem obtidos. O método Delphi é interativo e permite que especialistas às vezes localizados distantes uns dos outros incorporem o consenso de suas opiniões subjetivas ao processo de previsão. Comumente se envolvem de 6 a 12 especialistas no processo. O processo Delphi destina-se a evitar que uma ou poucas opiniões do grupo consultado predominem por fatores exógenos ao objetivo de gerar boas previsões, como, por exemplo, o fato de um participante ser mais extrovertido que outro, ou o fato de que um participante tenha mais alto escalão hierárquico que outro. Os Métodos quantitativos, que dividem-se em dois subgrupos. Um contendo os métodos baseados em séries temporais, que utilizam dados históricos de vendas como base para determinação de padrões que podem se repetir no futuro. Os métodos quantitativos baseados em séries temporais baseiam-se em séries históricas da variável a ser prevista (vendas). Uma série histórica de dados é uma sequência de dados sobre determinada variável espaçada igualmente no tempo (ex. dados de vendas diárias, semanais, quinzenais, mensais). Hipótese de uso: a previsão do futuro é baseada apenas nos dados do passado, isto é, padrões identificados no passado permanecerão no futuro. O outro subgrupo contém os métodos econométricos, que buscam relacionar as vendas (variável dependente) com outros fatores como PIB, inflação, tempo, população, etc. (variáveis independentes). Em previsões de vendas de curto prazo (até três meses), se aceita a hipótese de que o futuro seja uma continuação do passado, ao menos do passado recente, em termos de tendência e ciclicidade. Por isso, adotam-se métodos quantitativos baseados em séries temporais. Em previsões de vendas de médio prazo (até doze meses), a hipótese de que o futuro repetirá o passado recente se torna mais fraca. Nesse caso, adotam-se modelos causais, ou econométricos, que assumem a hipótese que as relações entre as vendas e demais variáveis econômicas do modelo podem se repetir no futuro. Em previsões de vendas de longo prazo (vários anos), a hipótese dos modelos econométricos deixa gradativamente de ser válida devido a mudanças tecnológicas, de legislação e de conjuntura do mercado, dentre outras. Por isso, adotam-se com mais relevância os métodos qualitativos, baseados na opinião de especialistas, pois se torna cada vez mais difícil tratar objetivamente as variáveis e dados disponíveis a partir de modelos matemáticos. Figura 3. Um exemplo de um plano de vendas e operações. Fonte: Corrêa e Corrêa (2009) Na Figura 3 é apresentado um exemplo de um plano de vendas e operações. Em uma coluna são apresentadas as estimativas de vendas feitas para um mês passado. Esse valor pode ser utilizado para guiar a produção no mês. Em outra coluna os valores de vendas que ocorreram de fato no mês em questão são apresentados, possibilitando a comparação e cálculo dos erros de previsão em outra coluna. 4. Planejamento Mestre de Produção A função do Planejamento Mestre de Produção (PMP) é coordenar/balancear a demanda do mercado por produtos acabados com a produção da empresa, período a período. No processo anterior, de S&OP, o planejamento ocorre sobre volumes de produtos agregados (em famílias), visando sincroniza-los com a demanda do mercado. O planejador-mestre deve desagregar os produtos do plano de vendas e operações, e gerar programas detalhados para cada produto acabado individual, com horizonte mais curto que o S&OP. Por exemplo, enquanto é interessante para o setor de vendas pedir 1200 unidades de um produto por ano, ou 100 por mês em média, a fábrica será acionada para entregar quantidade mais específicas mês a mês, como 110 nesse mês, 90 no próximo mês e etc. Para atingir essa desagregação, o planejador-mestre enfrenta o desafio de manter suas taxas de produção o mais estáveis o possível, com mínima formação de estoques, considerando para isso os custos de produzir e estocar. A questão fundamental do PMP é, portanto, como suavizar os picos e vales de demanda e produção? Há vários formatos de registro básico do PMP, cada um com suas particularidades, porém essencialmente todos serão similares ao mostrado na Figura 4. Figura 4. Exemplo de PMP O cabeçalho indica o nome do produto e o horizonte de planejamento, em períodos numerados sequencialmente, além de demandas não atendidas em períodos anteriores (atraso). A Previsão de demanda corresponde às quantidades necessárias do item para atender ao mercado. Na linha do programa mestre de produção, são preenchidas ordens de suprimento para que a demanda de cada período seja adequadamente satisfeita. Estoque projetado disponível corresponde às respectivas quantidades em estoque que estarão disponíveis no fim do período respectivo. Em geral, é calculado como sendo igual ao estoque do período anterior, subtraindo-se a demanda total do período atual e somando-se a quantidade do programa mestre. O algoritmo usado para cálculo das quantidades do PMP (automaticamente por um sistema de informação ou manualmente pelo planejador mestre) deve considerar a política de estoques da empresa. Podendo esta adotar modelos baseados em revisão periódica ou ponto de pedido, por exemplo, que serão discutidos na próxima aula. Ademais, o algoritmo pode buscar o balanço perfeito com estoque zero para todos os itens e períodos. Entretanto, se a empresa estabelecer um estoque de segurança para um item, ele deve ser respeitado no cálculo. O algoritmo ainda deve levar em consideração parâmetros como o tamanho do lote de ressuprimento (lote econômico), e os leadtimes de produção/ressuprimento. Por fim, a linha do programa mestre dá origem às necessidades brutas dos itens filhos dos respectivos produtos acabados. Dessa forma, o PMP alimenta o MRP/MRP II. 5. Uma introdução ao MRP, MRPII e ERP Nos sistemas Materials Requirements Planning (MRP), o cálculo da necessidade de materiais é realizado, tratando-se de um conceito bem simples. Dados os componentes de um produto (vindos da estrutura do produto/árvore de materiais), e os tempos de obtenção de cada um desses componentes (lead times), e dadas as necessidades de disponibilidade do produto (providas pelo PMP), é possível calcular os momentos e as quantidades que devem ser obtidas de cada um dos componentes do produto, para que não haja falta nem sobra de nenhum desses componentes. Esse procedimento responde “o que”, “quanto” e “quando” produzir. Enquanto os sistemas do tipo MRP respondem às questões “o que”, “quanto” e “quando” produzir, os sistemas Manufacturing Resource Planning (MRP II) tem como objetivo responder também à questão de “como” produzir, evidenciando a capacidade dos recursos produtivos. Ao módulo MRP foram agregados novos módulos, como o PMP, capacity requirements planning (CRP), SFC e S&OP, dando origem ao MRP II, que passou a atender às necessidades de informação para a tomada de decisão gerencial sobre todos os recursos de manufatura. No CRP constrói-se os típicos gráficos de carga- máquina, onde rebate-se a carga gerada pelo MRP aos limites de capacidade disponíveis nos centros produtivos. Cadastros típicos do MRP II incluem itens, estruturas de produtos, locais de estoques, centros produtivos, calendários e roteiros. O MRP II abrange, portanto, o auxílio a todo o ciclo de planejamento, programação e controle da produção. Sua evolução, incorporando diversas funções externas à produção, gerou os sistemas Enterprise Resource Planning (ERP), percorrendo toda a empresa. Um ERP é basicamente um sistema integrado de gestão, composto de vários módulos, que possibilita um fluxo de informações único, contínuo e consistente por toda a empresa. Sua arquitetura consiste tipicamente de vários módulos interligados entre si e com os módulos de manufatura, através de uma base de dados única e não redundante. Seus módulos operam em uma plataforma comum, consolidando todas as operações do negócio em um ambiente computacional integrado. Essa arquitetura facilita o fluxo de informações entre todas as atividades da empresa. Cada módulo possui funções que podem atender às necessidades de informação para apoio à tomada de decisões sobre uma determinada área da empresa, bem como podem executar as diversas tarefas relacionadas com o planejamento em si, de forma automatizada. Os módulos tipicamente disponíveis em sistemas ERP atuam em setores outros que não apenas aqueles ligados à manufatura, divididos em três grandes grupos: (i) Operações e supply chain management (incluindo previsões/análise de vendas, planejamento de materiais e capacidade, compras, controle de fabricação e estoques, engenharia, etc); (ii) Gestão financeira, contábil e fiscal (incluindo Contabilidade geral, Custos, Faturamento, Recebimento fiscal, Contabilidade fiscal e Gestão de caixa, ativos e pedidos, etc); (iii) Gestão de recursos humanos (incluindo Pessoal, Folha de pagamentos, Recursos Humanos). 6. A importância estratégica dos Sistemas de Administração da Produção Os SAPs são atualmente o “coração” dos sistemas de produção. O planejamento e controle de vários aspectos dos sistemas de produção (materiais, equipamentos, pessoas, fornecedores) estão dentre as atribuições dos SAPs. Através deles, a organização garante que suas decisões estratégicas (sobre o que, quando, quanto e com o que produzir e comprar) sejam tomadas corretamente e a tempo, para altos volumes de informação e redes de operações complexas de larga escala. Os SAPs podem ter papel fundamental no atingimento de alto desempenho nos cinco critérios básicos de competitividade (custos, qualidade, velocidade de entrega, confiabilidade de entregas e flexibilidade). Atividades gerenciais típicas a serem suportadas por SAPs, e com claras implicações estratégicas, incluem: Planejamento de necessidades futuras de capacidade produtiva Planejamento de aquisição de matérias-primas Planejamento de níveis de estoques apropriados Sequenciamento e Programação de atividades produtivas Obtenção de ciência sobre a situação corrente/estado atual do sistema de produção Reação rápida e eficaz a imprevistos Provisão de informações de suporte à decisão a outras funções Promessa de prazos factíveis a clientes Essas atividades gerenciais típicas podem claramente impactar na forma como a empresa compete e é vista pelo mercado. Os custos dos sistemas de produção são afetados pelos SAPs, pois estes são responsáveis por decidir pela intensidade de uso de máquinas, equipamentos e mão-de-obra. Os algoritmos por trás dos SAPs também são responsáveis por decidir tamanhos de lotes de produção e aquisição de materiais, bem como os momentos no tempo, que ao longo dos quais os custos de aquisição e produção oscilam. A qualidade, por sua vez, é impactada pela capacidade dos SAPs de registrar a ocorrência de falhas no sistema e permitir rápida reação para responder a essas falhas. É possível monitorar taxas de não-conformidade de itens produzidos, perda de prazos de entrega e nível de satisfação dos clientes. Quanto à velocidade de entrega, os SAPs contribuem com a rápida movimentação de informações e materiais ao longo do sistema de produção, tanto para a realização de um planejamento mais rápido, quanto para a execução do planejamento. Os computadores contribuem para a realização de cálculos e rastreamento de itens e pedidos de produção, contribuindo para o atendimento mais veloz ao cliente. Quanto à confiabilidade de entregas, os SAP contribuem reduzindo o impacto da ocorrência de problemas imprevistos na produção, que tipicamente atrasam os pedidos (quebra de máquinas, geração de defeitos de produção, etc). Eles permitem um planejamento antecipado, permitindo se antecipar à ocorrência de imprevistos que impactam na instabilidade do sistema. Também permitem controlar a ocupação de recursos e monitorar de perto o progresso das operações. Finalmente, quanto à flexibilidade, os SAPs contribuem através de habilidades específicas. Por exemplo, a habilidade de reprogramação rápida da produção, para incluir novos itens ou recursos na programação. Outra habilidade que impacta a flexibilidade de sistemas de produção, e é típica dos SAPs é a habilidade de monitorar e dimensionar estoques dinamicamente, bem como re-rotear o fluxo de produção. Nesse sentido, fica muito clara a influência que os SAP possuem para aumento da flexibilidade, principalmente de resposta dos sistemas de produção. Tanto para responder às solicitações de mudanças na demanda por parte dos clientes, como para responder melhor a mudanças não esperadas, relativas ao processo de fornecimento de insumos. Os SAPs também são fundamentais para quebrar barreiras organizacionais. Eles possuem uma natureza integradora, pois fazem interface com praticamente todas as áreas e setores de dentro de uma organização. Assim, eles permeiam a organização realizando a tarefa importantíssima de comunicar setores diferentes, assim quebrando barreiras organizacionais. Um SAP é, também um formidável facilitador no processo de negociação entre diferentes setores organizacionais, e inclusive entre distintas organizações. Principalmente pela forma como esses sistemas padronizam e favorecem o uso de uma linguagem comum para que as diferentes partes se comuniquem e atinjam seus distintos objetivos estratégicos. Os SAPs contribuem por facilitar a obtenção, pelos diversos setores comunicantes, de atuações pautadas por coerênciae foco nos objetivos estratégicos, priorizados de maneira negociada. Finalmente, os SAPs são fundamentais para gerir uma complexa rede de suprimentos. A ideia básica por trás da gestão da rede de suprimentos é compreender que as contribuições que cada setor/elo da rede de suprimentos pode dar para atingir os objetivos estratégicos da organização não se restringem aos limites da organização. Essas contribuições se estendem para além das fronteiras da organização, passando a considerar também toda a rede de fornecimento (fornecedores, fornecedores de fornecedores, e assim por diante) e distribuição. A abordagem da rede de suprimentos é importante porque o cliente valoriza critérios competitivos que são influenciados por partes da rede de suprimentos que se encontram fora das fronteiras da organização. Os SAP são a interface logística entre os setores/elos da rede de suprimentos, dentro e fora da empresa. Eles possuem papel decisivo no apoio à gestão a rede de suprimentos, e auxiliam cada elo da rede de suprimentos a focalizar seus esforços e potencializar suas contribuições para o resultado final da rede, que é observado pelo cliente. Atividade Para fixação do conteúdo predominantemente teórico/conceitual desta aula, responda às questões abaixo: 1) O que é e para que serve o Planejamento e Controle da Produção (PCP)? 2) O que são e para que servem os Sistemas de Administração da Produção (SAPs)? Cite exemplos de SAPs. 3) Em quais níveis do planejamento hierárquico da produção atuam cada um dos SAPs mencionados nessa aula? 4) Quais atividades gerenciais são em geral suportadas pelos SAP? 5) Qual é a importância estratégica dos SAP? Conclusão Realizar o Planejamento e Controle da Produção (PCP) é de fundamental importância para os sistemas de produção. No planejamento hierárquico da produção, em diversos níveis atuam Sistemas de Administração da Produção (SAPs). Esses sistemas auxiliam a tomada de decisão acerca de diversos aspectos do sistema de produção, incluindo planejamento de materiais, vendas, produção, dentre outros. Conceitos envolvidos no PCP e implementados através dos SAPs são de fundamental importância estratégica para os sistemas de produção. Os SAPs impactam nos cinco critérios básicos de competitividade: custos, qualidade, velocidade de entrega, confiabilidade de entregas, e flexibilidade. Sistemas de Planejamento de Vendas e Operações (S&OP), Planejamento Mestre de Produção (PMP), Planejamento das Necessidades de Materiais (MRP), Planejamento dos Recursos de Manufatura (MRP II) e Planejamento dos Recursos da Empresa (ERP) foram discutidos com maior ênfase nessa aula. Logo, o conhecimento acerca do PCP e dos SAPs não pode faltar na formação do gestor da produção, pois o correto entendimento e utilização dos conceitos desses SAPs, assegurando a tomada de decisões com precisão, é que vai garantir a continuidade de existência das empresas. Resumo Nos sistemas de produção, o Planejamento e Controle da Produção (PCP) é responsável por tomar decisões sobre o que, quanto e quando produzir e comprar, e também com que recursos produzir, unindo o mundo dos recursos de produção e das demandas dos clientes. Para tomar essas decisões, os administradores da produção possuem suporte dos Sistemas de Administração da Produção (SAP). O planejamento hierárquico da produção propõe decompor o problema do PCP em subproblemas menores, resolvidos sequencialmente do maior horizonte de tempo para o menor. Cada horizonte implica em diferentes períodos de replanejamento (de curto, médio e longo prazo), bem como consideram diferentes níveis de agregação da informação. Com horizonte de planejamento de longo prazo atuam os sistemas de planejamento de vendas e operações, do inglês sales and operation planning (S&OP). O resultado do sistema S&OP, o plano de vendas e operações, alimentará o sistema de planejamento mestre de produção (PMP), que por sua vez gera o plano mestre de produção. Com horizonte de planejamento de médio prazo, atuam os sistemas de planejamento das necessidades de materiais, do inglês Materials Requirement Planning (MRP) e planejamento dos recursos de manufatura, do inglês Manufacturing Resource Planning (MRPII). Estes usam o plano mestre de produção como entrada, e retornam decisões de aquisição de materiais e alocação da capacidade produtiva com maior nível de detalhe que os sistemas de S&OP e PMP. Com horizonte de planejamento de curto prazo atuam os sistemas de sequenciamento, programação e controle da produção. Exemplos de SAPs atuando nesse nível incluem os sistemas ora denominados por Advanced Planning and Scheduling (APS), Manufacturing Execution Systems (MES) e Shop Floor Control (SFC). Os SAPs podem ter papel fundamental no atingimento de alto desempenho nos cinco critérios básicos de competitividade (custos, qualidade, velocidade de entrega, confiabilidade de entregas e flexibilidade). Os SAPs são ainda fundamentais para quebrar barreiras organizacionais. E por fim, desempenham papel fundamental para gerir uma complexa rede de suprimentos. Informações sobre a próxima aula Na próxima aula, você aprenderá conceitos básicos de gestão de estoques. Até breve! Leitura Recomendada Reportagem: “Maior fábrica do mundo faz um carro a cada 10 s; conheça o Top 10”, link: https://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/05/maior-fabrica- do-mundo-faz-um-carro-a-cada-10-s-conheca-o-top-10.htm Referências Bibliográficas CORRÊA, H.L. e CORRÊA, C.A. Administração de Produção e Operações. São Paulo: Atlas, 2ª ed, 2009 CHAPMAN, S. N. The Fundamentals of Production Planning and Control. Upper Saddle River, New Jersey: Pearson Education, Inc., 2006. https://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/05/maior-fabrica-do-mundo-faz-um-carro-a-cada-10-s-conheca-o-top-10.htm https://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/05/maior-fabrica-do-mundo-faz-um-carro-a-cada-10-s-conheca-o-top-10.htm