REVISAR DOENÇA DE CHAGAS A Doença de Chagas (Tripanossomíase Americana) é uma doença infecciosa causa pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Após a entrada do parasito no organismo, basicamente ocorrem duas etapas fundamentais na infecção humana pelo T. cruzi: Fase aguda (inicial): predomina o parasito circulante na corrente sangüínea, em quantidades expressivas. As manifestações de doença febril podem persistir por até 12 semanas. Nessa fase os sinais e sintomas podem desaparecer espontaneamente, evoluindo para a fase crônica, ou progredir para formas agudas graves, que podem levar ao óbito. Fase crônica: existem raros parasitos circulantes na corrente sangüínea. Inicialmente, essa fase é assintomática e sem sinais de comprometimento cardíaco e/ou digestivo. Pode apresentar-se como uma das seguintes formas: o Forma indeterminada: paciente assintomático e sem sinais de comprometimento do aparelho circulatório e do aparelho digestivo. Esse quadro poderá perdurar por toda a vida da pessoa infectada ou pode evoluir tardiamente para uma das formas a seguir; o Forma cardíaca: evidências de acometimento cardíaco que, freqüentemente, evolui para quadros de miocardiopatia dilatada e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Essa forma ocorre em cerca de 30% dos casos crônicos e é a maior responsável pela mortalidade na doença de Chagas crônica; o Forma digestiva: evidências de acometimento do aparelho digestivo que, freqüentemente, evolui para megacólon ou megaesôfago. Ocorre em cerca de 10% dos casos; o Forma associada (cardiodigestiva): ocorrência concomitante de lesões compatíveis com as formas cardíacas e digestivas. A fase crônica da doença de Chagas (DCC) evolui para óbito em cerca de 1% a 10% dos casos estudados e não tratados, especialmente em crianças. Cardiopatia chagásica Apenas 10% a 30% das pessoas infectadas cronicamente pelo T. cruzi manifesta clinicamente a doença, o que muitas vezes envolve distúrbios do ritmo ou cardiomiopatia. Os sintomas da forma cardíaca da doença de Chagas podem se desenvolver insidiosamente ao longo de anos, ou mesmo décadas, após a infecção inicial. Os achados clínicos incluem distúrbios do ritmo, insuficiência cardíaca congestiva e tromboembolismo que caracterizam a doença. Tonturas, síncope e até mesmo convulsões podem resultar de uma grande variedade de arritmias. A cardiomiopatia frequentemente leva à falência biventricular e a insuficiência cardíaca do lado direito pode predominar em pacientes com a doença avançada. A doença de Chagas crônica é um fator de risco independente para o acidente vascular cerebral. Megaesôfago O megaesôfago é ocasionado pela obstrução da passagem do bolo alimentar que faz com que o esôfago retenha material não digerido, provocando dilatação. O esôfago e o cólon são os segmentos do trato gastrintestinal mais comumente afetados em pessoas com infecção crônica por T. cruzi. A desnervação intrínseca do esôfago que ocorre na Doença de Chagas ocasiona perda do peristaltismo no corpo do esôfago (aperistalse) e falta de relaxamento do esfíncter esofagiano inferior às deglutições (acalasia). A desnervação intrínseca torna a musculatura da parede esofagiana hiper- reativa aos estímulos físicos e farmacológicos. A retenção de alimentos na luz do órgão determina o aparecimento de contrações incoordenadas, não propulsivas, chamadas ondas terciárias. Com sua progressiva dilatação, o esôfago torna-se hipotônico e reduz-se a atividade motora incoordenada Nos pacientes com megaesôfago, os sintomas são semelhantes aos da acalasia idiopática e podem incluir tosse, disfagia, odinofagia e regurgitação. A hipersalivação e a consequente hipertrofia da glândula salivar se desenvolvem em alguns pacientes com disfunção avançada do esôfago. A aspiração pode ocorrer especialmente durante o sono e, em pacientes não tratados, são comuns os episódios repetidos de pneumonia por aspiração. A perda de peso e mesmo a caquexia (perda de peso marcante e perda de massa muscular). Os pacientes com megacólon chagásico sofrem de dor abdominal intermitente e constipação crônica, e nos casos avançados podem se passar várias semanas entre os movimentos intestinais. Megacólon O megacolo pode ser encontrado como visceromegalia isolada ou, o que é mais comum, em associação com o megaesôfago. O megacólon, por sua vez, cursa com constipação crônica na qual a pressão das fezes desidratadas e endurecida que ficaram retidas produz ulcerações extensas na mucosa colônica. Fibrose, hiperplasia da mucosa e inflamação com predomínio de células linfomononucleares também são frequentemente encontradas. De modo geral, os pacientes buscam atendimento para o megacolo mais tardiamente do que para o megaesôfago em razão da maior tolerância à obstipação intestinal em relação à disfagia. Muitos pacientes só procuram tratamento quando surgem complicações como fecaloma e volvo. São descritos no Megacólon chagásico alterações da motilidade basal, incoordenação motora retossigmoidiana, acalasia do esfíncter interno do ânus, hiper-reatividade aos agentes colinérgicos como a metacolina, betanecol ou prostigmina, e hiporreatividade à pentagastrina, colecistocinina e outros peptídios duodenais. A sensibilidade da ampola retal encontra-se diminuída, sendo necessário maior estímulo mecânico para despertar o desejo de defecação. RELAÇÃO DO CÂNCER ESOFÁGICO COM A ESTASE ESOFÁGICA Os portadores de megaesôfago apresentam maior propensão para o desenvolvimento de carcinoma espinocelular de esôfago. Sugere-se que a relação do câncer esofágico é com o megaesôfago, e não com a doença de Chagas. Este achado pode ser explicado pela estase alimentar consequente à dilatação do órgão, levando à esofagite crônica, deficiências vitamínicas associadas à subnutrição e contato prolongado entre os agentes carcinogênicos da dieta e a mucosa A esofagite de estase prolongada é a explicação provável da associação entre acalasia e carcinoma de células escamosas do esôfago isso porque ocorre irritação pela decomposição de alimentos no esôfago. Tumores desenvolvem-se nas áreas de acalasia existentes há muitos anos, geralmente nos casos de dilatação esofágica extrema, nos quais o risco global de desenvolver carcinoma de células escamosas é cerca de 17 vezes maior em comparação com os controles. A exposição à substâncias com potenciais mutagênicos, principalmente tabaco, álcool, nitrosaminas, bem como estresses físicos e químicos como a esofagite por estase que ocorre nos pacientes com megaesôfago e consumo de bebidas demasiadamente quentes, induz um processo de perda de genes, principalmente a perda do p53 e p16/INK4a que são genes supressores de tumor. Com a perda da ação desses genes, ocorre desregulação do processo de multiplicação celular, reparo de defeitos no genoma e indução de apoptose, o que acaba resultado na multiplicação desregulada de células que não obedecem ao ciclo celular normal e somam diversas mutações e heterogeneidade entre elas, caracterizando o câncer. ETIOPATOGENIA DAS NEOPLASIAS ESOFÁGICAS O carcinoma de esôfago representa 1% de todos os cânceres diagnosticados. Esse tipo de câncer é mais comum nos adultos com mais de 65 anos e é três vezes mais frequente nos homens que nas mulheres Neoplasias benignas Tumores esofágicos benignos são raros, sendo leiomioma e papiloma escamoso os menos raros. Em geral, tais tumores têm crescimento intramural ou intraluminal e somente pequeno número apresenta crescimento extramural. O LEIOMIOMA é mais comum entre a terceira e a quinta décadas, sem predomínio