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- -1 ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA UNIDADE 3 - O QUE NOS TORNA BRASILEIROS? Autoria: Dra. Marcelle Schimitt - Revisão técnica: Dr. Marcelo Flório - -2 Introdução Como de simpleseampla,oquenos seumadas quenosdefineé,emsi,conceituar, maneira tornabrasileiros, premissas aimensa donosso A de podemospensaraidentidadediversidade povo? partir diferentesexpressõesculturais, brasileirac um que aimensidãoea de queonosso No daomo mosaicocolorido reflete complexidade culturas paísapresenta. estudo A é não denos dados queauxiliemnamelhorntropologia, sempremuitoimportante esquecer voltarmospara históricos co denosso — sociedade—e,a desses umolharsituadompreensão passado enquanto partir conhecimentos,construir acer do das e aoquenosca presente, atuaiscircunstânciaspolíticas,econômicas relativas constituienquantobrasileiros. Assi quepossamos um é que um na m,para desenvolver entendimento, necessário voltemos pouco história, como fa em alguns ao é já queesseremos momentos longodeste capítulo.Inicialmente,porém, importante destacarmos mo que aidentidade é em da (séculoXVI)edassaico caracteriza brasileira fruto, primeirainstância, colonização posterioresi osséculosXVIIIeXIX). alguns deque a easmigrações(entre Ditoisso,surgem questionamentos: forma colonização im oque,hoje, identidadeigraçõescontribuírampara entendemoscomo brasileira? Quepeculiaridadesdessesgrupospoderíamos maisoumenos nomodo os seapontarcomo centrais como brasileiros ident ificam? Éde sublinharmosa dos edos na denossaidentidade.extremaimportância centralidade indígenas negros construção Este últimos, apesarda quenos aindahoje umgrupos inclusive, riquezacultural presentearam, sofremcomo marginalizado emnossasociedade.Em a é nos a da edarelação isso, indispensável questionarmoscomo história escravização exploraçã desses adesigualdadesocial, denossaidentidade.o povoscontribuiu,também,para característicatãomarcante Parainiciarmosasdiscussões é que em queser nosdiasdehoje,destecapítulo, importante tenhamos mente brasileiro, trat dese a da da e, dadesigualdade.Apesardamultiplicidadedea-se constituir partir diversidade, diferença infelizmente, con que o nossa aindaé pela dessastribuiçõesculturais caracterizam país, realidade marcada hierarquização diferenças, oquenosimpõe desafiosnoque a em aessainúmeros tange desenvolverreflexõescríticas relação temática. Sendoassim, nessas e podemosiniciaruma nãoaumcombase reflexões questionamentos, caminhadarumo, entendimen e oqueéser masem a afimdequepossamosnostofechado conclusivosobre brasileiro, direção interrogações, desacomo e um de edar,desestabilizarverdadesprontas construirmos conhecimento caráterreflexivo socialmenteresponsável. Bons estudos! : 60 minutos.Tempo estimado de leitura - -3 3.1 O mito da democracia racial Aideia de que o a de uma — é,de que emnosso asBrasil opera partir democracia racial isto país relaçõesentrebr e são pelaigualdadede no no —ancos negros pautadas tratamento,tanto âmbitopúblico quanto privado nadamaisédoqueuma quenão a Oquepodemos dasalegoria representa realidade. observar,diante práticascotidianas, éum quese namaioriadas em de e piadas,bem se na racismovelado apresenta, vezes, forma brincadeiras como reflete deoportunidadesena social.distribuição hierarquia ConformePereira(2010),afimdeamainaruma de em da algumas realidade exclusão, meados RepúblicaVelha, estraté a sercriadas o de aideiadequenão violênciase nogias começam com intuito solidificar haveria preconceitos Brasil, oque, a dá à dequeno uma Nesse nasegundo autora, origem crença Brasilhaveria democraciaracial. sentido, década de1930,o a dequeo seriaum de quesociólogoGilbertoFreyredefendeu tese Brasil exemplo democraciaracial,posto br e de esem de1950,noancos negrosconviveriam maneiraequilibrada maioresadversidades.Porvolta entanto,estudioso e Ianni por aideiadequeessa sescomoFlorestanFernandes Octavio ficaramconhecidos difundirem democracia tratava deum a de ea por da domito,visto realidade pobreza descriminaçãoenfrentada boaparte populaçãonegra país. Oliveirae (2013, 281-282),porsua mencionamque:Costa p. vez, Influenciadapela de (1971),a deu àapologiadaobra GilbertoFreyre mestiçagem lugar miscigenação,enaltecendo aideiada O por queo possuidemocraciaracialbrasileira. sociólogoFlorestanFernandes, outrolado,defendia brasileiro p de ouseja,a deum deque no umareconceito terpreconceitos, partir entendimento haveria Brasil democraciaracial,como na por aindanão sociedade, umaidentidade queteseapresentada Freyre, conseguimos,enquanto enxergar racial destoe da demodoque,senãohá nãoeuropeia, diferença,também haveriapreconceitoracial. Ao essa de mais quepossamosnoslongodestetópico,iremosexplorar questão maneira aprofundada,justamentepara a das o da eanossaidentidadequestionar respeito possíveisrelaçõesentre mito democraciaracial enquantobrasileiros. 3.1.1 Escravização e o mito da democracia racial Quando foi publicado o livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933, ocorreu uma mudança no pensamento sobre o caráter das relações raciais existentes no Brasil. Freyre, a partir da década de 1930, estudou o desenvolvimento da temática de um novo mundo nos trópicos, construindo a visão do Brasil como um país quase “livre de preconceito racial”, servindo de espelho para o restante do mundo resolver seus problemas raciais — que se viram ainda mais destacados a partir da ascensão do fascismo e do nazismo na Europa. Com isso, ao longo do século XX, ganha força a teoria da mestiçagem. - -4 O é pelos nomundo um por Brasil entendidotanto brasileirosquanto aforacomo paísmestiço, composto inúmeras r e A nãoé nem deuma Ouseja,aças etnias. miscigenação brasileira,contudo, causa consequência democraciaracial. em o seja pela deseu nembora Brasil reconhecido diversidade povo, todos osindivíduospossuemasmesmasoportunidadeseomesmo sejapor dosdemaiscidadãos,sejaportratamento, parte parte das Nossasmúltiplas — —,instituições. origens indígena,africana,europeiaetc. infelizmente, nãosãosinônimodeigualdadede apesarde assimsedireitos, constitucionalmente estabelecerem. Emboraa de1988 emseu 3º, umdos daConstituiçãoDemocrática apresente, artigo como objetivosfundamentais Re do “[...] obemde sem depública Federativa Brasil promover todos, preconceitos origem,raça,sexo,cor, idadeequaisquer ormasdedescrimina ã ,asci cun ânciasnãosãoe ti amen eessas.Ouseja,outrasf ç o” r st fe v t apesardealeimáximaprimarpelaigualdade podemosobservarumabismo asentretodos, entre condiçõesvivenciadas por ehomens,ou mulheres entrepessoas brancasenegras;tantonoquedizrespeitoacondiçõesmínimasdesobrevivê ncia—comomoradia,alimentaçãoesaúde—quantonoqueérelativoaoportunidadesdeascensãosocial. Figura 1 - O mito da democracia racial é uma realidade de preconceito e discriminação Fonte: Sangoiri, Shutterstock, 2021. : #PraCegoVer na figura, temos o desenho de uma bola grande em um fundo branco e preto com vários bonecos preto e branco desenhados nessa bola e o desenho de uma pessoa branca empurrando a bola. A bola está como se fosse em cima de uma gangorra, do lado há o desenho de uma menina na cor preta em cima da gangorra com o fundo branco. Na representação, a bola está fazendo peso, deixando ela e a pessoa que está empurrando para baixo, enquanto a menina está para cima. Paraquepossamos melhora da do é que um nacompreender realidade questãoracial Brasil, necessário voltemos pouco h Noperíodo a da das osportuguesestinhamistória. colonial, partir exploração riquezasnaturaisbrasileiras, comoobjetivo bens no demãodeproduzir paraseremcomercializados continenteeuropeu.Paratanto,necessitavam obra.Inicialmen osíndios nesse mas, depois, porte, nativoseramutilizadoscomoescravos processo, poucotempo foramsubstituídos neg rosafricanos. - -5 A esocialda tinha a demandadapelológicaeconômica época comoobjetivoassegurar altaprodução mercadoeuropeu, eamãode se omodomais de elanãoobraescrava constituíacomo rentável exploração.Contudo, eralucrativa apenasnesse uma queoaltíssimos assentido, vez tráficonegreirotambémproporcionava ganhospara metrópoles, demodoquea do se os 2007).escravização povonegro tornavaduplamentevantajosapara europeus(MATTOS, A no séculosde Aindahoje,escravidão Brasilpercorreuquatro história,deixandomarcasprofundas. háquemduvidedacrueldade os por queaempregadacontra africanosescravizados, isso,torna-seimportanteenfatizar e no porum de e de Alémscravidão Brasilfoicaracterizada cotidiano torturasfísicas inúmerasviolações direitos. disso, nãopodemosnos deque,mesmoapósaleique a da de13demaiode1888),esquecer institui abolição escravidão(LeiÁrea, a do pelamisériaepelaspéssimas devida.Mesmo nãorealidade negrocontinuoumarcada condições libertos, gozavam dasmesmasoportunidadesqueo da amaiorianãopossuía qualquertipode eorestante população: moradia, assistência, de devidoao ssi viviamuma de edesempregoeraalarmante preconceito.A m, realidade discriminação condiçõesmateriais extremamenteprecárias. Asmarcasdessa na É o dequeosescravidãocontinuamvisíveis realidadebrasileiraatualmente. bastanteevidente fato ne ainda as do Apesarde um individuale a dessagros sofrem consequências passado. todo esforço coletivopara modificação desigual,as sociaiseum por do darealidade estruturas racismopersistente parte restante populaçãocausamentravespara a deuma igualdade e no ssi da deuma noconquista real entrenegros brancos país.A m,falar existência democraciaracial Br não qualquerasil faz sentido. Istoé,apesardo da sua na enas maiormito democraciaracialter gênese colonização imigraçõeseuropeias,ganhou expre emum e peculiarda assão momentohistórico políticobastante históriabrasileira: ditaduramilitar. Nos anos da ditadura militar, entre 1968 e 1978, a democracia racial passou a ser um dogma, uma espécie de ideologia do estado brasileiro. Ora a redução do anti-racismo ao anti-racialismo, e sua utilização para negar os fatos de discriminação e as desigualdades raciais, crescentes no país, acabaram por formar uma ideologia racista, ou seja, uma justificativa da ordem discriminatória e das desigualdades raciais realmente existentes. (GUIMARÃES, 2005, p. 66) - -6 Figura 2 - No Brasil, infelizmente, ainda nos deparamos com uma profunda desigualdade social, especialmente entre pessoas brancas e negras Fonte: stefanolunardi, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: na imagem, há a fotografia de três crianças, uma menina branca, um menino branco e um menino negro. Na imagem, as crianças estão correndo e sorrindo atrás de uma bola de praia de cor amarela, azul e vermelha. As crianças estão em um local aberto com grama e árvores. A menina está de cabelo preso com uma camiseta de manga curta de cor verde claro e um short de cor azul escuro. O menino branco está de camiseta de manga curta de cor azul claro e de bermuda jeans. O menino negro está de camiseta de manga curta de cor vermelha e de bermuda jeans. Algunsdadossão dequea é,na um De aexemplificativos proclamadademocraciaracial verdade, mito. acordocom Pe Nacionalpor deDomicíliosContínua(PNADContínua)do de esquisa Amostra InstitutoBrasileiro Geografia Estatíst (IBGE),o tinha13milhõesde sem no de2017.ica Brasil pessoas ocupação(desempregadas) terceirotrimestre Entre elas,63,7%(8,3milhões)são ou 2017).Já odeclaradamentepretos pardos(BRASIL, conforme Atlas daViolênciade2017, pelo de (IPEA,2017)epelo dedivulgado Instituto PesquisaEconômicaAplicada FórumBrasileiro de do vítimasSegurançaPública,jovensnegros baixaescolaridade, sexomasculino,caracterizam-secomo predominan de notes mortesviolentas Brasil.Ainda segundoosdadosapresentadospelapesquisa,71%daspessoasassassinadasno Brasilsãonegras,demodoqueumindivíduodessapopulaçãotemumaprobabilidade23,5%maiordeserassassinadoem relaçãoàsdemaispessoas. Os não porsisóadesigualdade que o masnúmerosapresentadosprecedentemente explicam racial afeta país, demonstra de nítidaqueainda deuma socialemquem maneira estamosdemasiadamenteafastados realidade diversos indivíduosusufruamdeum e Osdados daspesquisas,apesardenão osviverjusto pleno. provenientes desvendarem porqu dessas podems i de oiníciodeumadiscussão do da deês mazelas, erv r basepara acercatanto mito democraciaracialquanto quepodemos cidadãos,rumoaumamaiorequidadede epossíveisestratégias adotarenquanto direitos acesso aoportunidades. 3.1.2 Preconceito racial: um problema individual e coletivo Você quer ver? O filme , de Sérgio Bianchi, apresenta um paralelo entre a Quanto Vale ou é por Quilo? realidade atual e o passado escravocrata do Brasil, evidenciando um histórico de desigualdades que perdura até hoje, apesar de se esconder em uma nova roupagem. A película aborda o local do negro na sociedade brasileira, desmistificando um discurso ingênuo acerca de uma possível democracia racial. - -7 Apesarda de e que onosso nem osgrupos odevidodiversidade cores texturas formam país, todos étnicosrecebem respei sejapela dapele,sejaem de ou Oto, cor decorrência aspectosculturais,comoreligião hábitoscotidianos. preconceitor podese desde e o de de ouacial manifestar comentáriosgrosseiros desrespeitososaté preterimento vagas emprego ab por de ou de essas —éordagensdesnecessárias parte agentespúblicos privados segurança.Todas manifestações import sublinhar—apesarde porindivíduos,possuemsuas emumaante serempraticadas raízes estrutura socialqueavaliza aquelesquecometematosracistas.Ouseja,essaéumaquestãoquesebaseianahistóriaescravagistaedeproduçãodeinjus tiçascontragruposétnicos,especialmentenegroseindígenas. Paraentendermosmelhor a um aquanto isso,analisaremos caso seguir. Apesardenão háuma socialquenosensina, enascermospreconceituosos, configuração comexemplospráticos discur a e as de de suasivos, compreendermos tratarmos pessoas maneiradiferenciada, acordocom core/ousituaçãofinanceira. Dessa apesardenãosermos dessesforma, naturalmenteperpetradores preconceitos,muitasvezes,acabamosreforçand essa de pormeiode ouseja, que semqualquero realidade exclusão atitudesnaturalizadas, atitudes empregamos pensame Estudo de Caso Joana é uma menina negra que mora na periferia de uma grande cidade. Ao ir para a escola todos os dias, depara-se com inúmeras dificuldades, como a longa distância entre a escola e sua casa, o trânsito no deslocamento e a falta de materiais escolares. Contudo, a maior dificuldade que encontra ao frequentar a escola são as piadas e os deboches que ouve todos os dias. A maioria deles não dizem respeito a sua condição social, já que boa parte dos alunos também sofre com dificuldades financeiras; mas relativas à sua aparência. Joana sempre soube que o volume de seu cabelo crespo não agradava o olhar da maioria dos colegas, e, por isso, normalmente o usa preso. Será que os colegas de Joana realmente se incomodam por seu cabelo ter um volume maior do que o de outras meninas? Será que outras garotas, que também possuem um cabelo comprido, porém liso, são alvo de piadas? O que poderia ser feito a respeito da situação? Para questões que envolvem preconceito — ou seja, falta de conhecimento crítico e informado acerca de determinada realidade —, é importante que haja iniciativas que envolvam a conscientização daqueles que agem de modo preconceituoso e racista. Tendo em vista as reiteradas situações de preconceito sofridas por Joana e que, não raramente, repetiam-se, tendo como vítimas outros jovens da escola, uma das professoras desenvolveu um projeto de conscientização envolvendo toda a comunidade escolar. A proposta teve como objetivo conscientizar e despertar um olhar crítico dos alunos em relação às causas e consequências do preconceito e do racismo. - -8 em de debochee que umnto crítico,como comentários tom expressões corroborampara entendimento socialdessesgruposcomoinferiores. Com base na segregação e discriminação racial que nosso país sofreu — e ainda sofre —, as compreensões sociais que temos sobre o que é belo e esteticamente aceitável também estão relacionadas a esse histórico. Nossas concepções de beleza são construídas tantoindividual quanto coletivamente, e é importante que tenhamos um olhar crítico a respeito do que compreendemos enquanto belo ou não. Assim, devemos incentivar a inclusão de pessoas negras nos meios de comunicação. Dessa forma, ao se verem enquanto pessoas representadas nesses locais de destaque, há uma construção de percepções diferentes e mais positivas acerca de si mesmos, além de auxiliar na quebra de estereótipos que a sociedade mantém. Na sequência, iremos compreender de forma mais detalhada quanto a importância da representação do negro na mídia. 3.1.3 Representação do negro nos meios de comunicação É afirmarqueosmeiosde são de da emque Apesarde,possível comunicação representativos parte realidade vivemos. não fiéisdo de dosmuitasvezes, retrataremcenas cotidiano boaparte brasileiros,programastelevisivosexpressam peculiaridadesdenossasociedade. ssim a doqueé nasmídias,é umaA , partir veiculado possívelconstruirmos —mesmoque —da socialemque inseridos.Um dissoéoqueinterpretação parcialmente estrutura estamos exemplo a de em filmese de em São asocorrecom representação pessoasnegras novelas, programas entretenimento geral. raras emque de oudesempenham maisocasiões afrodescendentesocupampapéis protagonistas funçõeshierárquicas nesseselevadas espaços. Apesarde,namaioriadas emumnúcleodemenorpoder evezes,ficaremconcentrados aquisitivo posiçõeshierárquicas os Lima(2001),desdeosanosde1970, sido nasinferiores, personagensnegros,segundo têm retratados telenovelas te em ndo, algumamedida,projeçãosocial.Contudo,elesparecemnãopossuirumahistóriaprópria,demodoqueaautora oschamade“personagenssoltos”.Ouseja,nãose explorademaneiramaisaprofundadaquestõesrelativasàssubjet ividadeserelaçõesafetivasdessespersonagens,relegandoaelesposiçõessecundáriasedemenorimportâncianatrama. - -9 Ainda a da“mulher sensual”oudo sãoumaconforme autora,estereótiposcomo negra “fielempregadonegro” constante nas de que da social,telenovelasbrasileiras, maneira reforçamcertaspercepçõesestereotipadas realidade enfatizando uma ouumaobediências ilextremasexualização erv . Em medida,osmeiosde já ado quegrande comunicaçãoacabamreforçandopreconceitos existentes,como negro mora apenasna àcriminalidadeeàviolênciaou de e Com éfavela,estáligado ocupacargoscomo diarista,gari motorista. isso, im uma apenasessas emnossaportantedesenvolvermos reflexão:pessoasnegrasocupam posições sociedade? Apesardea menos à socialemnosso em de sociaisepopulaçãonegrater acesso ascensão país, decorrência processos his em poder eque são tóricosdiversos,existemafrodescendentes posições superiores, com alto aquisitivo referências em seus de Nesse é queessa sejalocais atuação. sentido, fundamental realidadetambém expressa emretratações,afim dequenãoapenasaspessoasnegraspossamsereconhecernessesexemplos—sentirem-serepresentadas—,masqueore stodapopulaçãotambémpossareverseuspreconceitoseestereótiposnoquetangeaquestãoracial. ConsoanteLima(2001),apesardea dospopulaçãonegrarepresentargrandeparcela brasileiros, elaaindanãoéevidenciadade em àsdemais nosmeiosde emmaneiraigualitária, relação etnias, comunicação geral. Comessa uma apenasem de — é,umamaior de nas problemática, mudança termos numéricos isto proporção negros tele por —nãoseriaa alémdeuma em é umanovelas exemplo solução.Para modificação termosquantitativos, necessária refl deque as sido equaisexãoacerca forma pessoasnegrastêm representadas mudançasentendemosseremnecessárias nessesentido. Você quer ver? O documentário , produzido e A Negação do Brasil: o Negro na Telenovela Brasileira dirigido por Joel Zito Araújo, lança um olhar crítico acerca do papel de pessoas negras na teledramaturgia brasileira. Ao representar papéis que, na grande maioria das vezes, reforça estereótipos negativos, os atores são colocados em um local de menor prestígio, em um âmbito que ainda prevalece uma estética predominantemente branca. Você o conhece? Conceição Evaristo é escritora e intelectual negra, considerada uma das principais expoentes da literatura brasileira. A autora, mestre e doutora em Literatura, brinda seus leitores com reflexões a respeito da descriminação racial, de gênero e de classe, tendo como intuito recuperar a história e a memória dos afrodescendentes brasileiros. - -10 A a de e quese àseguir,continuaremos tratar aspectoshistóricos antropológicos relacionam construção deumaidentidade mas, pormeiodo da nobrasileira, agora, estudo imigraçãoeuropeia Brasil. 3.2 Um país de imigrantes: Europa Se, da da de cuja éantes,tratávamos porção populaçãobrasileiradescendente negros, história marcadaespecialmente pela epelavinda aonosso a de naquelesque onossoescravização forçada país, partir agorairemosfocar colonizaram país: os imigranteseuropeus. Desdea dos portugueses—por de1530— a de dechegada primeiros volta até chegada colonosprovenientes outraspartes da noiníciodoséculoXIX, a de devida,aidentidade seEuropa, com promessa melhorescondições brasileirafoi constitu a da de e Os por alemãeseindo partir diversidade culturas costumes. colonos,especialmenterepresentados italianos, suíç ao a àpecuáriae um nessasos; chegarem terrasbrasileiras,dedicaram-se,sobretudo, agricultura,estabelecendo legado á de Dessa ainfluênciada emnosso éreas produção. forma, culturaeuropeia país bastantecontundente epodeserobservadade no dosmaneiramuitoexpressiva cotidiano brasileiros. 3.2.1 Imigração europeia e o processo civilizatório É a da a desuas e na sociedadeindispensávelrefletirmos questão imigraçãoeuropeia partir contribuições efeitos atual br Avindade do mundopodeser a deumasileira. colonosprovenientes velho compreendida,também, partir projetopolític ouseja, um A deum deque àsdemais,o, enquanto processocivilizatório. partir ideal pessoasbrancaseramsuperiores justi omodelode no Nãopodemos da dasficou-se colonizaçãoocorrida Brasil. esquecer,também, centralidade religiõeseuro no de ena deumaidentidadenacional. os — quepeias processo colonização construção Especialmente jesuítas com a no — influêncianoque ao aandavam educação país tiveramgrande tange desenvolvimentointelectual,trazendo per da edafilosofiaspectiva escolástica universalista. A das oensino aqui um nosdespeito contribuições educacionais, religioso, entendido como sistemacultural termos deGeertz(2014), à da de de suprimiu aconjuntamente exploração força trabalho indígenas, progressivamente cultura dos ssi o porum de deuma nativosbrasileiros.A m, paíspassou processo implantação culturareligiosa fundamentada emprincípios que o mundo e nãouniversais, intentavamexplicar comverdadesenglobantes simplificadoras, levando em e Isso o deumaíndoledeconsideraçãoparticularidades divergênciasculturais. contribuiupara desenvolvimento dist socialemqueas dosdemais, dosinção camadascultaserammarcadamenteseparadas especialmente escravos.Lament pode,aindahoje,serobservadade nasdesigualdadesavelmente,taldemarcação maneiracontundente cotidianas quepermeiamasociedadebrasileira. Você sabia? - -11 Apesardas a é o dequeavindadeváriascontribuiçõeseuropeiaspara culturabrasileira, importanteatentarmospara fato c se deuma de da ssi oolonoseuropeus tratou,principalmente, política branqueamento populaçãobrasileira.A m,com alto de no —e oum uma quenúmero africanosescravizadosresidindo Brasil tendo país populaçãonativa eraindígena,tamb não — a de que o da Desse éém branca ponderar instituição iniciativas objetivassem branqueamento população. modo, po a nãoapenasa da da mas umssívelcompreendermos miscigenaçãobrasileira partir beleza diversidade, como processo perversode deum mais emenos econstrução paíscadavez branco pardo negro. ParaSchwarcze (2015),a de índiose daqualé aStarling miscigenaçãoforçada brancos, negros, consequência diversidad quenos no um deviolência porambiguidades.ecultural deparamos Brasil,foitanto processo quantomarcado Valeenfatizarmos,ainda,o das alémdeumaoportunidade quealgunscaráterpolítico imigrações,para para colonos uma e ermos.A doeuropeusdesenvolvessem agriculturaprópria habitassemlocaisatéentãoabertura Brasilparareceber de da podeser um quepessoas diferentespartes Europa compreendidacomo empreendimento teveobjetivosbastante de o uma que a queaquise —em quantidade —nãoevidentes reabitar país, vez população encontrava grande negra à que oagradava elite comandava país. Nasequência,nos àsdemais ea elasaprofundaremosquanto contribuiçõeseuropeias formacomo afetam nossaidentidadeenquantobrasileiros. 3.2.2 Um pedaço da Europa no Brasil Nossos alínguaportuguesa,nossa e ahábitosalimentares, organizaçãoeconômica política, organizaçãourbana enossosmeiosde possuem nomodode Écomunicação raízes vivereuropeu-ocidental. importante sublinharqueessasinfluênciasnão da mas deumadecorremsomente colonizaçãoterritorial, também colonizaçãosimb quesedánoplanoda dosindivíduos,na dasidentidades.ólica,algo subjetividade constituição Desdeos de aonosso e tudoisso depadrões belezadominantes paladar preferênciasculturais, vemcarregado teorcolo é, seus emummodode e a queétido maisnizador.Isto tem fundamentos viver interpretar realidade como hegemônico. Para o antropólogo estadunidense Cliord Geertz, as religiões podem ser compreendidas enquanto sistemas culturais, um sistema de símbolos que atua no sentido de instaurar disposições contínuas nas pessoas por meio do desenvolvimento de ideias relativas à existência geral. Essas concepções teriam capacidade de incorporação nas pessoas, que seriam compreendidas e vividas enquanto totalmente realistas e fatuais (GEERTZ, 2014). - -12 Com nos de quemodonossas são aisso,devemos perguntar preferências condicionadas partir dessasinfluênciasedequemodoelasnos indivíduos.Um éaconstituemenquanto exemplo maneiracomointerpretamos e a sejaem sejanas ouna Essas aoenxergamos beleza, pessoas, artes arquitetura. construçõessimbólicasreforçadas dec da nossos e orrer históriadirecionam gostos preferências, constituindo-nos subjetivamente. É que, se de essesnecessárioressaltar,contudo, embora tratem construções, hábito—mododesereinterpretararealidade quenoscerca—necessitamdeumesforçodereflexãoeproblematizaçãocontínua,afimdequepossamosrespeitare,defa to,apreciarasdiversasformasdesereestarnomundo.OqueéapresentadoporLaraia(2000,p.105),antropólogobrasilei ro,nosajudaaentenderessadinâmica: Devemos,então, ter em quenossas nãose apenas ummente concepções etnocêntricas voltam para “outro”distante, mas aquiloque e emnosso Sejam declassessociais, outambémpara difere estápresente cotidiano. pessoas raças credos a se a o enãoapenasem quediversos, diferença apresenta todo momento, ocasiões compreendemosenquantoextraordiná A da por nos odesafiode sociedade, arias. questão imigração, exemplo, coloca conviver,enquanto com diversidade nasmais dodiaadia,assim nos a ediferentessituações como leva repensarhábitos costumes. Nãoé queos dos doque identidadenovidade legados imigranteseuropeusfazemparte compreendemoscomo brasileira, há grupode que,apesardeser nãoé quandose acontudo, outro imigrantes expressivo, tão comumenteabordado discute denosso osjaponeses.história país: 3.3 Um país de imigrantes: Ásia Você sabia? A cidade de São Leopoldo, no estado do Rio Grande do Sul, é tida como berço da colonização alemã no Brasil. Com o intuito da criação de uma nova classe média que se dedicasse especialmente à agricultura, os alemães foram incentivados a virem para terras brasileiras, especialmente aquelas que se localizassem em uma região de fronteira, como o sul do país. [...] cada sistema cultural está sempre em mudança. Entender esta dinâmica é importante para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre povos de culturas diferentes, é necessário saber entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema. Este é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este constante e admirável mundo que está por vir. - -13 A que suamaior avindadejaponesesnoanode1908, queo nãoimigraçãoasiática, tem expressãocom lembra-nos Brasil fo apenaspor e mas a deumaiconstruído africanos,indígenas europeus, contou,também,com participação culturaocident queaindaé emalguns do A de algumasdas desseal viva locais país. partir agora,abordaremos contribuições povo, afimdemelhor deque a se aoquehoje sercompreendermos forma culturaasiática relaciona entendemoscomo brasileiro. 3.3.1 Japoneses no Brasil Os japonesesvindosao no deSão no dacidadede Comoosprimeiros Brasildesembarcaram estado Paulo, porto Santos. c da ao os queaqui emsuamaioria,ustos viagematé Brasileramaltos, imigrantes chegarameram, advindosdeumaclassemédia rurale,emboamedida,correspondiaaosinteressesdogovernobrasileiro. No haviauma demandade as de e, nessamesma opaís, grande trabalharespara lavouras café consequentemente, época, umacrise, nomeio por do de eJapãovivenciava especialmente rural, motivo processo modernização industrialização. ConformeKehdye (2010),a japonesapodeser a deSilva imigração entendida partir cincofasesdistintas. Veja a seguir. De 1908 a 19211, imigração subsidiada pelo governo de São Paulo. De 1925 a 1941, vinda de imigrantes por meio de subsídios do governo japonês. De 1942 a 1952, período marcado pela suspensão do fluxo migratório. De 1953 a 1962, imigração apoiada do governo japonês. De 1962 a 1970, período relacionado à chegada de mão de obra técnica. Veja na imagem a seguir, o local onde há maior concentração de descendentes de japoneses da cidade de São Paulo. Você quer ler? O livro , de Jhony de Arai e Cesar Hirasaki, 100 Anos da Imigração Japonesa no Brasil trata da chegada dos japoneses ao Brasil, a partir do ano de 1908, e do sonho que traziam consigo de conquistar melhores condições de vida. Além disso, a obra aborda como a imigração auxiliou no estreitamento de laços políticos e econômicos entre Japão e Brasil. - -14 Figura 3 - Avenida do bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo Fonte: Diego Grandi, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: na figura, temos a fotografia da avenida do bairro Liberdade, na cidade de São Paulo. Na imagem, há a circulação de carros e pessoas, há bancos no meio da calçada da avenida com pessoas sentadas, também há postes de luz no estilo da cultura japonesa na cor vermelha, há algumas árvores dos dois lados da avenida, além de prédios. Apósmaisde100anosde japonesano já habituadosaalgunsdos e,imigração Brasil, estamos costumes atémesmo,com algumas de japonesa, “ am ,“ a ao , sh ,“ ofu , shi su ,ent e an asout as.palavras origem como tat e” k r kê” “ oyo” t ” “ at ” r t t r Das aos osjaponesesnos umasériede que, aos sendo comidas origamis, brindaramcom tradições poucos,foram incorp aomodode vida eque,hoje, denosso Alémdealguns queoradas brasileiro fazemparte cotidiano. alimentos foramintro emnosso — opepinoeaberinjela—,osjaponeses ao o deduzidos cardápio como trouxeram país conceito cooperativismo e no da noquediz ao detiverampapelcentral aprimoramento agriculturabrasileira,sobretudo respeito cultivo grãosc milhoesoja.omo 3.3.2 Japoneses no Brasil e a questão da identidade Apósuma a da japonesaesuas onosso ébreveapresentaçãosobre história imigração contribuiçõespara país, importante as dissoede já oquerefletirmossobre consequências outrosmovimentosmigratórios, antesabordados,para compreend sendoumaidentidadeemoscomo brasileira. Você sabia? Nikkei é a palavra japonesa utilizada para designar os descendentes de japoneses que nasceram fora do Japão ou que vivem já há algum tempo fora do país. Assim, os imigrantes ou filhos de imigrantes japoneses que residem no Brasil são conhecidos entre si como .Nikkeis - -15 Vocêjáse por porqueosdemais de sãochamadosdeperguntou, exemplo, descendentes imigrantes brasileiros,enquanto queos dejaponesesaindasãodenominadosa desua Em porqueédescendentes partir origemasiática? outraspalavras, pou p á elquechamemosumdes enden edei alianode“i alian ,aomesmo empo emqueé a an eplausíco rov v c t t t o” t b st t v eldenominarumdes endenedejaponêsde“japonê , apesardeambos nascidono No dosc t s” terem Brasil? caso descende dejaponeses,apesarde às denosso umntes estaremprofundamenteintegrados dinâmicas país,parecehaver distanciame quandoo se a deidentidade.nto foco torna questão Figura 4 - A identidade brasileira não é algo coeso e bem definido, mas, sim, um composto de múltiplas origens e culturas Fonte: PRILL, Shutterstock, 2021. : #PraCegoVer na figura, temos o desenho de uma digital de um dedo humano de cor preta em um fundo de cor branca. Outroquestionamentopossívelseriaa de se umamaior derespeito comotaisquestões relacionamcom preservação cos origináriosdesses queo dealguns permanecido osjaponesestumes imigrantes.Será fato terem entre torna aidentidadejaponesamais no queisso isso um forte Brasil?Por ocorre?Certamente, temrelaçãocom esforçodosdesce ndentesnosentidodeconservarhábitosepráticasculturais,mastambémpossuiligaçãocommomentoshistóricoseafor macomochegaramaonossopaís. - -16 Figura 5 - Apesar de já estarem há muito tempo inseridos à realidade brasileira, descendentes de japoneses conservam hábitos e costumes característicos de seu país de origem Fonte: vepar5, Shutterstock, 2021. : #PraCegoVer na figura, temos a bandeira japonesa de fundo com as cores branca e vermelha e uma mão fazendo um sinal como se fosse de "ok" na frente da bandeira. Diferentementedos que,emsuamaioria, no os deafrodescendentes, aportaram Brasilenquantoescravos, imigrantes or japonesa ao emuma de a deseigem vieram país condição pessoaslivres.Por isso,detinham liberdade expressaremcultu de mais doqueos Aliás,é que esseralmente maneiramuito livre negrosescravizados. importante façamos movimentohis afimdeumamelhor donossotórico, compreensãoacerca presenteenquantobrasileiros. 3.4 Etnocentrismo e relativismo cultural Aori em timológi ado tno entrismop émda alav ag a ,utili ada a adesignar tni ,“p ”ou“g e c e c rov p r reg “ethnos” z p r “e a” ovo a ,demodoquealudeao ode omarasua a daqual grupossãor ça” fat t etniacomoeixocentral, partir diferentes compreendid os. Assi o se deum emnossa emque s dem, etnocentrismo trata julgamentocombase própriacultura, esta erve parâmetropara a de Nesse o de é,ocompreensãopoucocrítica realidadesdiferentes. contexto,cabe exercício estranhamento,isto movim de nossoolhare oqueé,pornós, ou,ainda, aento desacomodar estranhar compreendidocomocomum, empreender tentati dese no do e mais deva colocar lugar outro desenvolverinterpretaçõespossivelmente livres julgamentos.Isso,inclusive, a orelaciona-se outroconceito: relativismocultural. Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medi, hostilidade etc. (ROCHA, 2017, p. 7) - -17 Voltandoao poderíamos, uma de social.Apesardeaetnocentrismo, também,compreendê-locomo forma egocentrismo ser ela o ea — individual —comparação complexa, aponta comportamentoautocentrado cegueira tanto quantocoletiva queo pode ssim é o deum deetnocentrismo causar.A , necessário empreendimento exercícioconstante deslocamento denossas afimdenão a demodosdevidae social,premissasculturais, ignorar diversidade organização estandosempre a dosmalesqueum ou depensar podevigilantes respeito comportamento maneira etnocêntrico causar. 3.4.1 Implicações do etnocentrismo Aolera social deuma —aqui a eos —,nãoapenasrealidade somenteatravés lente compreendidacomo cultura hábitos me as de nomundoque ou, são àsnossas,masnosprezamos diversasformas existir diferem atémesmo, opostas tambémde ixamos deconhecer—demaneiraprofundaelivredepreconceitos— a pluralidadedemodosdeexistência.Paraalém disso,oetnocentrismopodeseragênesedemalesseverosedeconsequênciastrágicas. ConformeRocha(2017),o se emum daidentidadedo eu .Nasociedadeociden alemetnocentrismo ancora reforço “ ” t p articula ,elepossuialiadosmui o or es,demodo quese a deuma de desejoder t f t constitui,também, partir lógica progresso, r eânsiapor suprimindoeeliminandoaiqueza conquista, diferença. Figura 6 - O etnocentrismo traz a dificuldade ou incapacidade de ver a realidade através de outras perspectivas Fonte: lolloj, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: na figura, temos o desenho de figuras geométricas na cor laranja em um fundo de cor grafite como se tivesse imitando uma pedra. Os desenhos geométricos estão representando a cabeça de duas pessoas se olhando. Os demais desenhos são apenas quadrados e círculos. A os a o a ea sãointolerânciareligiosa, preconceitosraciais, xenofobia, machismo, homofobia transfobia maneiras dasquaisse o ssim se uma a deum deque através expressam etnocentrismo.A , tenho atitude partir entendimento apenasa formacomo vivo eme expressoé a corretae maisadequada, semconsiderarqueháumadiversidadedemaneirasdeser - -18 —apesardetalveznãomeidentificarcomelas—,estouagindodemodoetnocêntrico.Todosnós,emdiferentesmomento sdavida,jápensamoseagimosdessaforma.Alémdisso,muitopossivelmente,voltaremosanoscomportareapensar dessamaneiraemcertasocasiõesouépocasdenossasvidas,maséexatamenteporissoquedevemosexercitarnossa capacidadereflexiva,nointuitoderevernossosconceitos,nossasaçõeseexpressõesemrelaçãoadeterminadapessoaou ideia. Em o nos que,ao osindivíduos,criando e deoutraspalavras, autor sugere diferenciarmos hierarquizações juízos valor, nos aquiloquep endemosnosdi ancia ,i oé,o“ ár a ”ou sel a e ,que,acabamos tornandoexatamente ret st r st b b ro “ v g m” emnossas o ouumahumanidadedemenor ssiconcepçõesdistorcidas,representa caos valor.A m,tendoatitudesetnocên criandouma da alidadedoout ,assim omonos ornandomenoshumanosemais“tricas,estamos imagemdeturpada re ro c t b ár a o .b r s” Isso,no não que a ounossas deentanto, significa precisamosmodificar formacomovivemos concepçõesacerca deter apenas,que a o que,apesardominadosassuntos.Significa, estamosdispostos convivercom diferente,compreendendo o se de sua deserepensaré aminha.Esseutro expressar maneiradiferente, forma tãolegítimaquanto exercíciofazparte doquepodemoschamarderelativismocultural. 3.4.2 Relativismo cultural e alteridade De (2017),a do quenos a queas se maisdeacordocomRocha partir momento propomos entender verdades tratam posiçõe dasquais nosso da equeelas de assacerca construímos entendimento realidade, variam acordocom contingênciashistór o que nomundoeuma de a icas, lugar habitamos diversidade outrosfatores,estamos exercendo relativização.Relativiza Você quer ler? O livro , de Everardo Rocha, é uma fonte didática bastante O Que é Etnocentrismo completa acerca do termo. A obra, apesar de datar os anos 1980, apresenta de forma sucinta e pedagógica algumas nuances sobre o etnocentrismo, o relativismo cultural e suas relações com a Antropologia. É uma bibliografia indispensável para uma pesquisa inicial! [...] é na própria medida em que pretendemos estabelecer uma discriminação entre as culturas e os costumes, que nos identificamos mais completamente com aqueles que tentamos negar. Recusando a humanidade àqueles que surgem como os mais ‘selvagens’ ou ‘bárbaros’ dos seus representantes, mas não fazemos que copiar-lhes as suas atitudes típicas. O bárbaro é em primeiro lugar o homem que crê na barbárie. (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 4) - -19 é, a deseu enão uma da ssir portanto,entender algo partir contexto, enquanto expressão absoluta realidade. A m, quando a de o a deseusempreendemos tentativa compreender outro partir própriosvalores,desprendendo-nos dosnossos,estamosrelativizando. Nesse o se pelo de de modosde a desentido, relativismocultural caracteriza exercício compreensão outros viver, partir menos emais a de e da Ou,novosolhares, autocentrados abertos diferenteslógicas organização interpretação realidade. de “O éo do à deque as emaneirasimplificada, relativismocultural oposto etnocentrismo.Refere-se crençatodas culturas as omesmo (BRYM .,2008, 88).todas práticasculturaistêm valor” alet p. Tambémpodemos o a de deumindivíduoem a entender relativismo cultural como postura compreensão relação outro deuma por Aose despindo-sedeculturadiferente, exemplo. mostrarabertoparaentender, julgamentosanteriores, aquiloque desua uma odifere realidade, pessoaestáexercendo relativismocultural. A Antropologia se caracteriza por se dedicar ao estudo do outro e, assim, da diferença. Contudo, ela também foi, em seus primórdios, um empreendimento etnocêntrico, que, gradativamente, traduziu-se em um exercício de alteridade. A alteridade, por sua vez, se caracteriza pela interação com o outro. Isto é, parte-se da compreensão de que eu só sou quem sou em relação ao “outro”. Resumindo, somos todos interdependentes, de maneira que nos constituímos por meio da diferença. Conforme o antropólogo Velho (2008), o que entendemos como “outro” sublinha a diferença que compõe o social, de maneira que ela se traduz, ao mesmo tempo, em ponto de tensão e fundamento da vida social. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua dimensão de riqueza por ser diferença. (ROCHA, 2017, p. 20) - -20 Figura 7 - Na alteridade, o outro nos ajuda a entender quem somos Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer: na figura, temos a fotografia de sete pessoas brancas e negras, sentadas a frente de uma mesa, elas estão sorrindo e mexendo em celulares e tabletes. O cenário da imagem é como se as pessoas estivessem em um escritório. É que essas e o eo doquenecessárioapontar,portanto, todas diferenças contrastesentre “eu” “outro”fazemparte compõe nossasidentidades indivíduosegrupos.Nesse oenquanto sentido,torna-seimpossível entendimento doindivíduosenãoa da da edas do Além esse opartir compreensão existência particularidades outro. disso, contatocom di evidenciae nosso denós ferente reforça entendimentoacerca mesmose,porisso,torna-setãoimportante.Assim,o contatodoVelhoMundo(Europa,ÁfricaeÁsia)comasAméricasfoitãocentralparaoquehojeconhecemoscomoA ntropologiae,comoconsequência,paraasnoçõesderelativismoculturalealteridade.Seantes,paraoseuropeus,o mundocompreendiaapenastrêscontinentes,apartirdoséculoXVoshorizontessão expandidos,tantoterritorialmente quantoculturalmente.Comisso,asnavegaçõespossibilitaramumainteraçãocomooutroqueatéentãonãohaviaexistido . A da de e dosdescoberta existência populaçõesinteirascomhábitos costumesextremamentediferentes conhecidos alémde um choquede oiníciodeum de dasviabilizou,para mero culturas, movimento compreensão diferenças.Certa issonãosedeusem uma quepodemos edesigualdadesmente conflito, vez apontarinúmerasinjustiças provenientes desses nemporisso demencionarsua acontatosentreculturas.Contudo, devemosdeixar importânciahistóricapara re quehoje no noalidadediversa avistamostanto Brasilquanto mundo. Em esse a oportunidadeque dese umcertosentido, deslocamentofoi primeira muitostiveram depararcom contrastetãop de oque nãosó demedoe mas decuriosidadeerofundo culturas, despertou sentimentos estranhamento, também encanto. Ao a oque umasériede e aosteracesso costumesextraordinariamentedistintos, provocou conflitos embates,passou-se, p ase um advindodas Dessa há um no daoucos, produzir conhecimento diferenças. forma, todo movimento contexto Antro nosentidode rumoa do equese aos modospologia, caminhar superação etnocentrismo relaciona,também, diferentes c essadisciplina a que desde mais maisomo tementendido cultura, vai formas etnocêntricasatéconcepções relativizador O nessa nãoé no no da mas serumas. esforço perspectiva somente contextoacadêmico, caso Antropologia, deve exercício individuale de noque à eaosmodos nos ela.coletivo constantereflexão tange diferença como relacionamoscom - -21 3.4.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e o cotidiano das interações sociais Comojámencionado nossas são na sejamelasmaisoumenosanteriormente, relações todasbaseadas diferença, prof de quenosguiamna ena denossasidentidadesindividuaise Éundas, maneira construção compreensão coletivas. import nos o dealgunstiposde mais e doqueante interrogarmos,então, motivo diferençasserem aceitos respeitados outros, bem as disso como possíveisimplicações noconvíviocotidiano.Umaformapossíveldeiniciarmosessadiscussãoéapa rtirdaseguintereflexão:porquenosafetamaisprofundamenteaformacomogruposindígenasbrasileiros se organizam socialmente do que o modo comoos ingleses ouosnorte-americanosofazem? A éque,apesarde assim nós,os possuem que,porverdade serembrasileiros, como indígenas hábitoscoletivos, vezes, da nós, a deuma mais edistanciam-se lógicacomo socializados partir racionalidade urbana ocidental,vivemos. essa que ànossaEvidentemente, questãoperpassaaspectoshistóricos remetem colonização. Precisamossublinhar,então,queessenosso nãoé mas suas emestranhamento algonatural, tem raízes concepçõeshistor e ao do nos maisdeumaicamenteconstruídas reforçadas longo tempo.Muitoprovavelmente aproximamos lógica inglesae doque mesmo sendo denossaidentidade.norte-americana indígena, esta partefundante Poderíamosdeslocar esse demodoque quea nãoéexemploparainúmerasoutrassituações, constataríamos proximidadegeográfica proporcio à dos e Esse nos a donal aproximação hábitosculturais cotidianos. ponto remetenovamente questão etnocentrismo enosajudaa que nãose de quepodemos apenasem ao masemperceber este tratasomente atitudes ter relação outro, relação aum muitíssimo eque, de apesarde emoutro próximo atémesmo,compartilha semelhanças, diferir outrosaspectos. Por vezes, torna-se menos complicado exercemos um relativismo cultural em relação a estrangeiros do que em relação a nossos compatriotas, no caso de os primeiros compartilharem conosco, por exemplo, uma mesma classe social, gênero ou religião. É importante, nesse sentido, refletirmos a partir de quais lógicas somos mais ou menos sensíveis à realidade alheia, e como isso repercute em nosso cotidiano. Obviamente, também há momentos em que o etnocentrismo é voltado para aqueles os quais não compartilhamos um mesmo idioma e que são, para nós, de fato, estrangeiros. Mas esse ponto possivelmente é mais inteligível para nós e, em alguma medida, afeta menos o nosso cotiado do que os exemplos relados anteriormente. O fato de sermos intolerantes com aqueles que nos rodeiam diariamente não só se trata de desrespeito e dificulta as relações interpessoais, mas também têm consequências profundas na forma como aqueles que são alvo do preconceito ou etnocentrismo se relacionam socialmente. Ao se depararem com pessoas que desacreditam que sua forma de viver possa ser, assim como outras, legítima e merecedora de respeito, acabam sendo alvo de nossas crenças etnocêntricas, cada vez mais empurrados para as margens do convívio social, causando sentimentos de não pertencimento, solidão e abandono. - -22 Por todas essas razões, e por tantas outras que poderíamos elencar, torna-se incontestável a importância de discutirmos essas questões. O etnocentrismo e o relativismo cultural estão imiscuídos em nossos cotidianos das mais diversas formas, sendo sua reflexão de suma importância nos mais diferentes âmbitos, sejam familiares, acadêmicos, profissionais ou de lazer. Ainda, em um quadro mais amplo, essas questões estão profundamente imbricadas em âmbitos político, econômico e histórico, de modo que devem ser pensadas não somente através de um viés individualista e centrado no presente, mas levando em consideração uma abordagem social e abrangente, para que possamos visualizar e repensar suas consequências mais amplas e atemporais. - -23 Conclusão Finalizamosa unidade disciplina.Ao denossos pudemos a da eterceira desta longo estudos, refletir,partir Antropologia na oque denós Apesardenãoancorados História,sobre faz brasileiros. concluirmoscomrespostasfechadas, jáqueessenemmesmo nosso nos da e alguns queera objetivo, aproximamos temática aprendemossobre aspectos contr a daidentidadeibuempara formação brasileira. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender sobre o mito da democracia racial; • compreender a escravização e o preconceito racial enquanto problemas individuais e coletivos; • analisar a representação do negro nos meios de comunicação; entender a imigração europeia e o processo civilizatório; • compreender as contribuições das imigrações europeias e japonesas na identidade brasileira; • aprender conceitos como etnocentrismo e relativismo cultural, bem como suas relações no cotidiano. • • • • • - -24 Referências ARAI, C. São J.; HIRASAKI, 100 da japonesa no anos imigração Brasil. Paulo:ImprensaOficialdeSãoPaulo, 2008. ARAÚJO,J.Z. o na São SenacS ,2000.A donegação Brasil: negro telenovelabrasileira. Paulo: P BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios : terceiro trimestre de 2017. 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VELHO,G. uma dasociedadeIndividualismoecultura:notaspara antropologia contemporânea.RiodeJaneiro:Zaha 2008.r, http://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/33192) Introdução 3.1 O mito da democracia racial 3.1.1 Escravização e o mito da democracia racial 3.1.2 Preconceito racial: um problema individual e coletivo 3.1.3 Representação do negro nos meios de comunicação 3.2 Um país de imigrantes: Europa 3.2.1 Imigração europeia e o processo civilizatório 3.2.2 Um pedaço da Europa no Brasil 3.3 Um país de imigrantes: Ásia 3.3.1 Japoneses no Brasil 3.3.2 Japoneses no Brasil e a questão da identidade 3.4 Etnocentrismo e relativismo cultural 3.4.1 Implicações do etnocentrismo 3.4.2 Relativismo cultural e alteridade 3.4.3 Etnocentrismo, relativismo cultural e o cotidiano das interações sociais Conclusão Referências
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