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Caso clínico 1 Paciente, sexo masculino, 26 anos, deu entrada no hospital com quadro inicial de diarréia que evoluiu para desinteria grave, com presença de sangue e muco purulento, com o odor fétido. Relata que retornou de viagem há 2 dias, de férias em Salvador onde consumiu comida local, principalmente de ambulantes ao redor da zona litorânea. O médico iniciou o tratamento empírico com sulfametoxazol + trimetoprima (Bactrim) - 2 cp (12/12h) durante 7 dias. Foi realizada coprocultura em meio de cultura SS (Salmonella / Shigella), que cresceu formando colônias transparentes, catalase positiva, com bacilos gram negativos. Testes moleculares confirmaram a presença da bactéria Shigella. Após 10 dias o paciente retornou ao PS com relato de retorno dos sintomas. O médico então prescreveu ciprofloxacino (500 mg - 1cp, 12/12h) por 5 dias, com melhora dos sintomas. Antimetabólitos - sulfonamidas Sulfametoxazol, Sulfadiazina, Sulfadoxina, sulfacetamida o Prontosil®: primeiro quimioterápico eficaz (sulfonamidas) na década de 1930 o Mecanismo de ação: Inibem a síntese de folato no interior da bactéria - Podem ser definidos como falsos-substratos - Sulfonamidas são análogos do PABA que inibem competitivamente a di-hidropteroato sintase, impedindo, assim, a síntese de ácido fólico em bactérias. Por sua vez, a ausência de ácido fólico impede a síntese bacteriana de purinas, pirimidinas e alguns aminoácidos, resultando finalmente na interrupção do crescimento bacteriano. o São bacteriostáticos, ou seja, impedem o crescimento bacteriano, mas não matam bactérias. o Ácidos fracos, com hidrossolubilidade limitada; problema para excreção em urina ácida; o Amplo espectro - contra Gram-positivas e negativas; protozoários e fungos – uso reduzido devido à resistência o Sulfonamidas são fármacos seletivos, visto que o crescimento das bactérias exige a atividade da enzima que é inibida pelas sulfonamidas, enquanto as células dos mamíferos não expressam essa enzima o A redução de seu uso foi decorrente do desenvolvimento de resistência a esses fármacos O folato é necessário para síntese de DNA, RNA e proteínas, porém a via biossintética dos folatos é encontrada nas bactérias, mas não em seres humanos, onde é obtido pela dieta e transportado para as células. As sulfonamidas competem com o PABA e assim diminuem o crescimento bacteriano sem comprometer a função dos mamíferos o A trimetoprima tem umas toxicidade seletiva maior do que as sulfonamidas o As sulfonamidas tem uma maior toxocidade seletiva ao crescimento bacteriano o O metotrexato é usado com antineoplásico Dada a elevada incidência de resistência a sulfonamida na população bacteriana, esses fármacos têm sido utilizados em associação com a trimetoprima Sulfametoxazol + trimetoprima (cotrimoxazol) o Ocasionando bloqueio sequencial da mesma via biossintética e levando aos seguintes aspectos: - Amplia o espectro de ação - Reduz a concentração necessária - Gera ação bactericida Di-hidrofolato redutase (DHFR) é a enzima que reduz di- hidrofolato (DHF) a tetraidrofolato (THF). Diversos fármacos, incluindo trimetoprima e metotrexato, são análogos de folato que inibem competitivamente DHFR e impedem a regeneração de THF a partir de DHF. Esses fármacos são utilizados tanto no tratamento de infecções quanto na quimioterapia do câncer. Isabelle Maia Teixeira Antibióticos II o Como a ligação é reversível, o aumento do precursor (PABA), como ocorre em locais com pus, podem antagonizar o efeito antibacteriano; o Alguns anestésicos locais (ex: procaina) - biotransformados em PABA também podem ter efeito antagônico. o Amplamente ligada às proteínas plasmáticas – interação com varfarina, AINEs e sulfonilureias H. Influenza e bronquite, sinusite, otite media em crianças Urinário – cistites agudas e crônicas, pielonefrites, uretrites, prostatites, uretrite gonococica Pele – piodermite, furunculos, abcessos e feridas infectadas Usos clínicos o Sulfadiazina - Toxoplasmose (+pirimetamina) - v.o; - Feridas infectadas ou queimaduras (sulfadiazina de prata) - tópica o Sulfadoxina + pirimetamina (v.o.) - Malária o Sulfacetamida (tópica) – Queimaduras, feridas ou infecções na pele e mucosas; conjuntivites Resistência às sulfonamidas: o Produção excessiva de PABA para competir com as sulfonamidas na síntese de ácido fólico. o Desenvolvimento de uma via metabólica alternativa para a síntese de ácido fólico. o Redução da captação bacteriana desses fármacos (diminuição de porinas). Efeitos colaterais Sulfonamidas competem com bilirrubina pelos sítios de ligação na albumina sérica e podem causar kernicterus em recém-nascidos. Kernicterus é caracterizado por acentuada elevação nas concentrações de bilirrubina não conjugada no sangue de recém-nascidos, podendo resultar em lesão cerebral grave. Fluorquinolonas 1ª geração: ácido nalidíxico (v.o.) – apenas para ITU 2ª geração: ciprofloxacino (v.o., i.v., intra-ocular), norfloxacino (v.o.) e ofloxacino (intra-ocular) 3ª geração: levofloxacino (v.o., i.v.), moxifloxacino (v.o., i.v.) 4ª geração: gemifloxacino (v.o): cerca de 32 vezes mais potente que levofloxacino contra pneumococo. o Amplo espectro de ação o As quinolonas de 3ª geração são conhecidas como quinolonas respiratórias: boas opções de tratamento para infecções respiratórias altas e pneumonias adquiridas na comunidade (PAC) Ciprofloxacinas são os mais usados, possuem predominantemente ação contra microrganismos gram- negativos como as Enterobacteriáceas, Pseudomonas aeruginosa, H. influenzae e M. catarrhalis e foram utilizadas primariamente para o tratamento de infecções do trato urinário 3 e 4ª geração gram-positivos, tais como Streptococcus e bactérias atípicas como Mycoplasma pneumoniae, Chlamidia pneumoniae e Legionelle pneumoniae. Como resultado de sua ampla cobertura, as novas fluoroquinolonas também podem ser utilizadas no tratamento de infecções respiratórias Mecanismo de ação: o Inibem a topoisomerase bacteriana II e/ou IV e DNA girase. - As quinolonas inibem primariamente DNA girase em microrganismos gram-negativos e topoisomerase IV em microrganismos gram-positivos, como Staphylococcus aureus - Topoisomerase II (DNA girase) – responsável pelo relaxamento do DNA superenovelado - Topoisomerase IV – responsável pela separação das duas moléculas de DNA (cromossomos) antes da divisão celular o Resultado: inibição da síntese de ácidos nucléicos = ação bactericida o As enzimas semelhantes dos mamíferos são várias centenas de vezes menos sensíveis a essas drogas. Bactérias costumam desenvolver resistências às quinolonas por meio de mutações cromossômicas nos genes que codificam topoisomerases tipo II ou de alterações na expressão de porinas e bombas de efluxo das membranas que determinam a concentração de fármaco no interior das bactérias. Durante a replicação a dupla fita de DNA devem se abrir para iniciar a replicação. Helicase quebra as pontes de hidrogênio e cria a forquilha de replicação. As enzimas DNA polimerase move-se ao longo de cada fita de DNA, sintetizando uma nova fita. Cria um superespiralamento que impede o DNA de continuar abrindo, isso precisa ser removido e a enzima DNA girase (topoisomerase II) faz isso. Para permitir que os 2 cromossomos interconectados se separem uma outra enzima, a topoisomerase IV, entra em ação. As fluorquinolonas tem como alvo as topoisomerases, desestabilizando o complexo DNA e enzima. A quebra do DNA é fatal para bactéria A inibição das topoisomerases II e IV age na maioria das gram-negativas e da topoisomerase IV como alvo primário nas gram-positivas Usos clínicos: o Trato geniturinário – ITU, prostatite o Trato gastrintestinal – diarréia do viajante, H. pylori (levofloxacino) o Trato respiratório – H. influenza, S. pneumoniae eatípicas: Mycoplasma, Legionella, Chlamydophila o Osteomielites o Infecções oculares - ofloxacino o Gonorréia – norfloxacino o Pseudomonas aeruginosa – ciprofloxacino é o mais potente Efeitos colaterais o Gastrintestinais: anorexia, náuseas, vômitos e diarréia. o SNC: cefaléia, tontura, insônia e alterações do humor. Alucinações, delírios e convulsões são raras (idosos) o Convulsões: por associação de fluorquinolonas e teofilina ou AINEs. (Inibidor da CYP) o Alergias e reações cutâneas: Reações fototóxicas (evitar exposição excessiva ao sol) o Artropatias e erosões de cartilagem: tendinite, mialgia, dores articulares e ruptura de tendão. o Prolongamento do intervalo QT (moxifloxacino) CONTRA-INDICADAS em gravidez, lactação, insuficiência renal e hepática e em menores de 17 anos (artropatia) Alerta para fluorquinolonas FDA-2016: “quinolonas podem estar associadas a eventos adversos sérios (injúrias em tendões, músculos, articulações, nervos e no sistema nervoso central) e que o risco suplanta o benefício em pacientes com sinusite aguda, exacerbação aguda de bronquite crônica, PAC (Pneumonia Adquirida na Comunidade) e infecções urinárias não complicadas, onde outras opções terapêuticas, como os antibióticos betalactâmicos, estão disponíveis” Mecanismos de resistência: o Alteração na enzima DNA girase o Mutação nos genes que são responsáveis pelas enzimas alvo (DNA girase e topoisomerase IV) o Alteração da permeabilidade à droga pela membrana celular bacteriana (diminuição de porinas). o Bomba de efluxo. Rifamicina Mecanismo de ação: liga-se e inibe a enzima RNA- polimerase DNA dependente dos procariotos = inibe a síntese de RNA (transcrição) = efeito bactericida o Tratamento da tuberculose associada a outros antibióticos o Quimioprofilaxia de meningite por N. meningitidis e H. influenzae o Tratamento da osteomielite o Urina, suor e lágrimas ficam alaranjadas o Uso restrito nas demais infecções por conta de rápida resistência. o Disponível solução, comprimido e cápsula Macrolídeos Claritromicina e Azitromicina - mais usadas; Eritromicina Mecanismo de ação: inibem a síntese das proteínas bacterianas impedindo a translocação ribossômica (50 S) São de amplo espectro e bacteriostáticos ou bactericidas (depende da dose) Mecanismos de resistência: o Diminuição da permeabilidade da célula ao antimicrobiano o Alteração no sítio receptor da porção 50S do ribossomo (metilação) o Inativação enzimática (eritromicina esterase em Gram -) o Bomba de efluxo Usos clínicos o Alternativa terapêutica em alérgicos à penicilina o Pneumonia adquirida na comunidade o Tratamento da H. pylori (claritromicina + amoxicilina + IBP) o Prevenção de endocardite após procedimento odontológico o Infecções superficiais de pele (Streptococcus pyogenes), o Profilaxia da febre reumática (faringite estreptocócica) o São considerados primeira escolha no tratamento de pneumonias por bactérias atípicas (Mycoplasma pneumoniae, Legionella pneumophila, Chlamydia spp.) o Tratamento de gonorréia – azitromicina (v.o) + ceftriaxona (i.m.) Efeitos colaterais o Mais comuns: cólicas abdominais, náuseas, vômitos e diarreia (em até 1/3 dos pacientes). o Icterícia colestática o Prolongamento do intervalo QT (arritmias) – eritromicina e claritromicina o Ototoxicidade (surdez transitória) o Raramente ocorrem reações alérgicas graves. o Com azitromicina e claritromicina as alterações são bem mais discretas e em menor frequência. Tetraciclinas Tetraciclina, doxiciclina, limeciclina, minociclina (v.o.) Tigeciclina - i.v. Mecanismo de ação: o As tetraciclinas ligam-se, de maneira reversível, à porção 30S do ribossomo, bloqueando a ligação do RNA transportador e impedindo a síntese protéica. o São Bacteriostáticas Mecanismo de resistência: o Reduz o acúmulo da droga no interior da célula usando bomba de efluxo o Alteração nas proteínas da membrana externa dificultam penetração Farmacocinética: o São quelantes de cátions divalentes (Ca2+, Mg2+): menor absorção quando administradas com leite, antiácidos contendo alumínio, sais de ferro. (Evitar o uso concomitante com alimentos, antiácidos, preparações com ferro) o Sofre deposição em tecidos em calcificação (dentes e ossos). o Atravessam a barreira transplacentária e são excretadas no leite materno. o Pacientes renais: prefere-se a doxiciclina, que é eliminada preferencialmente pela bile nas fezes. Demais sofrem eliminação renal Usos clínicos o Amplo espectro - bactérias gram-positivas, gram- negativas aeróbias e anaeróbias, espiroquetas, riquétsias, micoplasma, clamídias e alguns protozoários. o Alternativas no tratamento de infecções causadas por Mycoplasma pneumoniae, N. gonorrhea, Treponema pallidum e em pacientes com traqueobronquites e sinusites. o Doxiciclina – alternativa para MRSA e Treponema pallidum o Contra-indicações: gestantes, lactantes e menores de 8 anos Efeitos colaterais o Efeitos gastrintestinais: náuseas, vômitos, diarréia; colite pseudomembranosa o Alterações na cor dos dentes em crianças, hipoplasia do esmalte dentário e crescimento ósseo anormal, principalmente se utilizadas durante a gestação; o Reações alérgicas: urticárias, exantemas, edema periorbital, reações anafiláticas; fotossensibilidade o Cefaléia, Vertigem, incapacidade de concentração e, em raros casos, hipertensão intracraniana. Aminoglicosídeos Estreptomicina, Gentamicina, Neomicina, Amicacina, Tobramicina Mecanismo de ação: o Ligam-se à subunidade 30S dos ribossomos inibindo a síntese protéica ou produzindo proteínas defeituosas. o O transporte do fármaco pela membrana plasmática bacteriana depende de oxigênio – ineficazes contra anaeróbios ou em condições de anaerobiose o Bactericidas o A estreptomicina foi o primeiro aminoglicosídeo obtido a partir do fungo Streptomyces griseus em 1944. o Cátions polares; baixa absorção por v.o. (uso parenteral, oftálmico ou tópico); não atravessa BHE o Administração 1x/dia; efeito pós-antibiótico Mecanismos de resistência (raros) o Alteração dos sítios de ligação no ribossomo; o Alteração na permeabilidade da droga (bombas de efluxo ou redução da captação); o Modificação enzimática da droga. Usos clínicos: Preparações - parenteral (i.m. e i.v), oftálmica e tópica o Amicacina: maior espectro de ação. Tratamento de cistite e prostatite hospitalar o Comumente associados a betalactâmicos ou glicopeptídeos (efeito sinérgico) o Grande atividade contra bacilos e cocos gram- negativos Klebsiella spp., Serratia spp., Enterobacter spp., Haemophilus spp. e cepas de Pseudomonas aeruginosa o Bactérias gram-positivas, entre elas: S. aureus, S. epidermidis, L. monocytogenes, Enterococcus faecalis (associados à penicilinas), além de serem ativas contra micobactérias (estreptomicina). Efeitos colaterais o Acumulam-se no ouvido interno e no córtex renal: - Ototoxicidade vestibular a auditiva - Nefrotoxicidade o Bloqueio Neuromuscular: doses altas infundidas em período curto. Mais frequente em pacientes curarizados com succinilcolina ou com miastenia. Revertido com sais de cálcio (gliconato de cálcio) ou neostigmina Anfenicóis Cloranfenicol - v.o., tópico, i.v. Mecanismos de ação: inibe a peptidil-transferase (50S) o Bacteriostáticos de amplo espectro - Gram positivas e negativas o Usos terapêutico: conjuntivites e otites bacterianas; feridas ou queimaduras na pele (tópico); epiglotite aguda em crianças; febre tifóide (v.o.); bacteremias e infecções graves no SNC (i.v.). Efeitos adversos: o Alterações hematológicas: pancitopenia; anemia o Síndrome do bebê cinzento: distensão abdominal, emêse ocasional, progressiva palidez cianótica, colapso vasomotor e respiratório e morte.Interações: inibe oxidases hepáticas de função mista: bloqueia biotransformação de varfarina e fenitoína, potencializando seus efeitos Lincofaminas Clindamicina - vo, gel, creme, iv, im-, lincomicina -iv, im- Mecanismos de ação semelhante aos macrolídeos o Bacteriostáticos ou bactericidas o Espectro semelhante a penicilinas, mas também atinge S. aureus e outras produtoras de penicilinases o Boa penetração em abscessos, porém baixa no SNC Efeitos adversos: o Distúrbios gastrointestinais – diarréia, colite pseudomembranosa (por C. difficile) Clindamicina - v.o., gel, creme, i.v, i.m - Indicações principais: o Infecções causadas por anaeróbios gram-positivos e negativos, incluindo produtores de penicilinases (v.o, parenteral) o Infecções de ossos, articulações e tecidos moles por S. aureus (v.o, parenteral) o Síndrome compartimental por S. pyogenes (v.o, parenteral) o Tratamento de acne (gel) o Vaginose bacteriana (creme vaginal) Linezolida, tedizolida – v.o/i.v Mecanismos de ação: inibe o ribossomo 70S (RNAt) o Espectro: Grande variedade de gram +: MRSA e VRSA; pneumococo resistente à penicilina; enterococos resistente à vancomicina, C. difficile. o Gram negativos mais comuns não são suscetíveis o Bacteriostática contra enterococos e estafilococos, bactericida contra estreptococos. Indicações principais: pneumonia, sepse, infecções de pele e tecidos moles para organismos multirresistentes Efeitos adversos: Trombocitopenia, diarreia, náuseas, raramente eritema e tonturas
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