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CF 54 - ALEM DO APARENTE - Olinda Guedes

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Olinda Guedes 
 
 
 
 
 
 
 
 
ALÉM DO APARENTE 
- um livro sobre Constelações Familiares - 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Curitiba - PR 
2015 
Editora Appris Ltda. 
1a Edição - Copyright© 2015 dos autores 
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. 
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei 
n" 9.610/98. 
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. 
Foi feito o Depósito Ilegal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis n°s 
10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. 
FICHA TÉCNICA 
EDITORIAL Sara C. de Andrade Coelho 
Augusto V. de A. Coelho 
ASSESSORIA EDITORIAL Camila Dias Manoel 
COMITÊ EDITORIAL Edmeire C. Pereira - Ad hoc. 
Iraneide da Silva - Ad hoc. 
Jacques de Lima Ferreira - Ad hoc. 
Marli Caetano - Análise Editorial 
DIREÇÃO - ARTE E PRODUÇÃO Adriana Polyanna V. R. da Cruz 
DIAGRAMAÇÃO Adriana Polyanna V. R. da Cruz 
WEBDESIGN Carlos Eduardo H. Pereira 
GERENTE COMERCIAL Eliane de Andrade 
LIVRARIAS E EVENTOS Dayane Carneiró | Estevão Misael 
ADMINISTRATIVO Selma Maria Fernandes do Valle 
Autora: Olinda Roseli Pereira Guedes 
Fotografia: Eduarda Albuquerque c Olinda Guedes 
Caligrafia capa (modelo): Noili Grigoletu 
Revisão, organização de texto, correção ortográfica e palpites: Susy Guedes 
Tradução: Agnes Vercauteren, Lorena Kim Richter c Renate Christina Becker 
Studio: Chácara Colibri — Serra da Graciosa - Piraquara - PR 
Retaguarda: Cizinho Pereira Guedes 
Capa: Juliane Turcovic Guedes 
Textos dos ditados e transcrições de áudios c vídeos: 
Alaídes Tortato Zanoni 
Jania Salvadore Jucicne de Souza 
Keila Tavares Okuda Marinez da Silva Amatti 
Regina Almeida 
Sandra de Fátima Brantes 
Zulmira Theis Martins 
Contribuições (capítulos adicionais): Regis Teixeira Coelho c Ruud Knaapen 
Filmagens: Elmo Macedo Brugnolo, Jeffcrson Luiz Barbosa, Marinez da Silva Amatti, Sandra 
Regina Zawadzki 
Depoimentos: alunos do curso de Formação em Constelações Familiares 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Elaborado por Sônia Magalhães 
Bibliotecária CRB9/1191 
Guedes, Olinda 
G924 Além do aparente : um livro sobre constelações familiares / Olinda Guedes. 
2015 - 1. ed. - Curitiba, 2015. 
249 p.; 21 cm 
Inclui bibliografias ISBN 978-85-8192-650-6 
1. Psicologia. 2. Relações humanas. I. Título. 
CDD 20. ed. - 150 
Editora e Livraria Appris Ltda. Rua General Aristides Athayde Jr., 1027 - Bigorrilho 
Curitiba/PR - CEP: 80710-520 Tel: (41) 3156-4731 - (41) 3030-4570 
http://www.editoraappris.com.br/ 
Printed in Brazil 
Impresso no Brasil 
http://www.editoraappris.com.br/
IMAGEM DA CAPA: 
Tela: "Primeiros Passos" - 1890 
Vincent Willem van Gogh 
30 de Março de 1853 - 29 de julho de 1890 
Vincent van Gogh fez 21 cópias deste desenho originalmente produzido por Jean-François Millet 
(1814 — 1875), pintor francês da escola realista. Encontrava-se internado voluntariamente em um 
manicômio e resolveu “treinar" uma interpretação, ou melhor, “uma improvisação” da obra do artista 
que tanto admirava, da mesma forma - dizia numa carta a seu irmão Theodore van Gogh - que os 
músicos eruditos desenvolviam uma execução própria de uma composição clássica.1 
Porque Van Gogh representa o amor dos sistemas. O quanto as crianças amam os 
seus pais, seus irmãos. O amor dos irmãos. O quanto as crianças amam. 
Vincent, sua vida não foi em vão; o amor nunca é em vão. 
 
 
O TÍTULO 
Inspirado na obra de Nilton Bonder — “O Segredo Judaico da Resolução de 
Problemas”, Imago, 1995. 
Ao longo da história, o povo judeu experimentou inúmeras situações de ameaça à 
sobrevivência, tanto do ponto de vista 
individual como coletivo. 
A soma das experiências acumuladas em séculos de ensinamentos, resultou em uma 
visão única do mundo, batizada de ídiche Kop, ou “cabeça de judeu”. 
De acordo com essa tradição, em que a pergunta é tão importante quanto a resposta, 
pensar é preciso. As reviravoltas da realidade dependem do raciocínio e da percepção 
acurada, não apenas da fé. 
Por meio de parábolas e pequenos contos, o rabino Nilton Bonder decodifica a 
perspicácia do povo judeu em quatro 
diferentes dimensões: 
“o aparente do aparente”, 
o “oculto do aparente”, 
“o aparente de oculto” e 
“o oculto do oculto”. 
 
1 Fonte: http://blog.humanarte.net/2014/10/arte-inconscicnte-5-van-gogh.html. Acesso: 10/03/2015. 
http://blog.humanarte.net/2014/10/arte-inconscicnte-5-van-gogh.html
Há alguns anos... Quantos mesmo? 
Bem! Estes foram responsáveis por muitas mudanças que nunca pensei 
possíveis; pelo menos nesta existência. No início, a Programação 
Neurolinguística. Abria-se uma série de possibilidades num cenário simples. A 
iluminação, por conta de Olinda Guedes, através das mais variadas oscilações 
de luminosidade e cores sempre fizeram com que nas almofadas o conforto 
estivesse presente. No papel de professora, psicóloga e todo o conteúdo de um 
currículo voltado para o pensamento sistêmico e a comunicação como 
terapêutica constante nos relacionamentos, sempre encontramos os melhores 
acalantos, e aí, pude sentir os efeitos da presença, como condição primeira para 
a cura a partir da atenção cuidadosa. 
Quando tomei contato com as constelações familiares em uma palestra, senti 
que os caminhos eram mais claros, limpos e então possíveis de uma caminhada 
consciente. Nesse dia, já pude transmitir o que o “campo” informava, e 
contemplar o quanto para o paciente que levou sua questão foi transformador 
simplesmente olhar para seu sistema assim. 
É bom estar perto de alguém que nos traz sempre em seus pensamentos, suas 
palavras e atitudes um padrão de não julgamento e a singela ideia de que a 
felicidade pode ser aprendida. 
Então, sempre na fila dos agradecidos, desejo a você Olinda Guedes, o melhor, 
em medida tal, que as pessoas possam sentir e perceber a cura que sua presença 
nos oferece. 
Marlos Knopk 
 
Olinda Guedes 
 
Bacharel em psicologia, terapeuta de vanguarda, palestrante, professora de 
Constelações Familiares, Programação Neurolinguística e Renascimento, 
dentre outros. 
Autora. Sua obra, inspirada no pensamento sistêmico, contribui para a 
educação, gestão, liderança e desenvolvimento humano. Conduz, no Instituto 
Anauê-Teiño, a Escola de Saberes Úteis. Uma iniciativa cuja objetivo é trocar 
saberes das diversas ciências com o propósito de uma vida mais feliz, 
próspera e saudável. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Estes temas se cruzam e mantém um equilíbrio controverso: 
O tolo prevalece sobre o sábio, e o silêncio sobre a resposta. 
Marcada pelo otimismo, a obra surpreende pela fluidez com que maneja temas 
complexos, tomando-os acessíveis ao 
grande público sem, no entanto, perder em profundidade. 
Pode parecer indecifrável, mas são apenas os diferentes graus 
de apresentação de um problema. 
Assim nasce: “Além do Aparente” — um livro sobre 
Constelações Familiares 
“Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem.” 
João 13:17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para aqueles que oram. Para todos aqueles que nos abençoam com milagres 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A alegria é um pássaro que só vem quando quer. Ela é livre. O máximo que 
podemos fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança 
de que ela nos ouça. Oração é o nome que se dá a esta canção para invocar a 
alegria.” 
Rubem Alves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Die Früchte können wir nur genießen ,wenn es die Baumé gibt. 
Bert Hellinger, wegen Ihrer Arbeit, Ihrem Mut, Ihrer Achtung und Prãsenz, wegen 
Ihrem Ja-sagen , wegen ali dem ist dieses Werk. 
Sophie Hellinger, Ihre Präzens bereichert uns. 
In Dankbarkeit! 
 
 
Só podemos saborear os frutos se existirem as árvores. 
Bert Hellinger, por causa de seu trabalho, coragem, atenção e presença, por dizer 
sim, por
tudo, esta obra é. 
Sophie Hellinger, por mais. 
Gratidão! 
 
GRATITUDE 
Ao lidar com o sofrimento causado por um elemento estranho dentro da sua 
concha, a ostra produz uma substância que envolve esse elemento e o 
transforma numa pérola. Bonita metáfora a indicar as possíveis escolhas que 
podemos fazer pela vida afora. 
Este livro é fruto do cultivo dedicado e persistente, das horas de estudos, 
observações e pesquisas em uma jornada de três décadas de leituras e escutas 
atentas das histórias de vida que me contam — conchas que se abrem para 
mostrar suas pérolas. 
DEDICO esta obra aos meus queridos alunos, estudantes e apaixonados pela 
vida. Já sabem que o conhecimento liberta e que, com sabedoria, é possível ser 
mais feliz e usufruir da liberdade suficiente que o destino nos reserva. 
Com vocês construímos outro recorde, um milagre: antes mesmo de este livro 
existir, vocês já haviam adquirido mil exemplares. Ah! Orgulho do meu 
coração. 
As turmas cheias, vocês chegando, todas as almofadas ocupadas, é o presente 
que sempre pedi a Deus: que eu pudesse sempre honrar o talento que dEle 
recebi, colocando-o a serviço da humanidade, a serviço da vida. Para Ele, meu 
coração inteiramente grato! 
De vocês recebo tantos presentes. Este livro também é um presente. 
De você, Keila Okuda Tavares, recebi um e-mail no mês de julho de 2013, onde 
estavam todos os “ditados” da exposição oral dialogada, reflexões feitas 
durante a Formação em Constelações Familiares que realizou. Por isto sou tão 
orgulhosa de vocês, estudantes amados. Sempre sou surpreendida com tantos 
presentes. Por sua causa, Keila, esta obra veio mais rápido. Gratidão! 
A você, Noili Grigoletti, porque disse sim, sua bela arte em caligrafia deixou a 
capa deste livro muito mais bonita. Gratidão! 
A você, minha especial Lorena - Juliane Turcovic Guedes, seu sim, seu talento 
e serenidade sempre me encantam. A capa deste livro é fruto de sua habilidade 
maravilhosa em criar, em tornar realidade o que está no campo dos 
pensamentos. Quando vejo, eu sinto um tantinho do que os pais sentem: 
orgulho de ver que aqueles a quem entregamos a vida, são nós melhores. Como 
um artista, a cada pincelada sua obra fica mais extraordinária. Assim Ele nos 
faz. Gratidão aos seus pais, João e Sueli, por terem dito sim e t ê-las trazido 
para nós: a você e a Kuka, nossa primogênita amada, que nos fez tios, avós, 
bisavós, pais! 
Para vocês, pelas preciosas atitudes, agradeço também. Este livro é mais, por 
causa de cada um, e vocês sabem bem o porquê: 
Alice Mesquita, André Ribeiro, Antônio Manuel Vicente Inácio Duarte, 
Antônio Onofre Neves, Bernhard Joseph Lenz, Diego Baliero, Eugenia Tuczek 
Romaiv, Jair Santos, João Alberto Costenaro Juarez Mocelin, Larry Carlos 
Marchioro, Leilane Tobar Galan, Lorena Kim Richter, LUÍS Henrique de 
Oliveira, Marinez Amatti, Marisa de Souza, Marli Caetano, Renate Christina 
Becker, Rose Mari Silva, Sizumi Claudia Sato Suzuki, Vera Lúcia Mendes de 
Oliveira 
Gratidão a todos que contribuíram! 
 
AGRADEÇO À MINHA FAMÍLIA por todo apoio, gentileza, carinho e 
cuidado para comigo. Fazer nascer uma obra não é um passe de mágica. Exige 
dedicação, trabalho árduo e paciência. Tantas vezes nos retiramos para poder 
criar e compor cada parágrafo. 
Especialmente à minha mana Susy, apoio, mais que intelectual, fraterno e 
espiritual. Meu porto seguro nesta terra! Cuida e zela por mim, mesmo quando 
eu só estou um pouco cansada. 
Ao meu pai, Cizinho Pereira Guedes, pelas flores, frutos e até borboleta. Como 
haveria de não gostar de escrever em seu lar? Com suas bênçãos a vida flui com 
tanto sabor. 
A minha mãe, Carmelita Neves Guedes que, lá no céu, sorri para tudo isto e se 
alegra com minhas tranças e andanças. 
Para Emma Pereira Guedes, minha 5.a sobrinha, que nasceu no lar de sua 
família enquanto estas páginas também tomavam forma, meu amor especial. 
Em vocês, Josiane (Kuka), Juliane (Lorena), Elliot, Elli e Emma, vemos 
alegremente a vida seguir adiante. 
O amor desta família nos aquece o coração: Alonso, o bebê amado que eu 
desejei para nossa casa, hoje com sua esposa Kim e seus lindos filhos, tem sido 
inspiração e alegria para todos nós, sobre a gostosura de ser o lar que desejamos 
ter. 
Por fim, agradeço a Antônio Renato Margaridi Júnior. Juntos temos construído 
nossa canção. Com você experimento novamente a oportunidade de conviver 
com a grandeza da vida que se mostra por meio do amor conjugal, da infância 
e da pureza do coração das crianças. Constato mais uma vez o quanto os filhos 
amam seus pais. Grata por me permitir fazer parte, gratidão por tudo! 
 
Em memórias póstumas, para: 
Francisca Barth - seu cobertor continua conosco, seu sorriso e vontade de 
partilhar sempre. Agora você está no céu, certamente cultivando e saboreando 
morangos. 
Denise-Marie Villiger — lembro-me que, algumas vezes, você disse: “As 
misericórdias se renovam a cada manhã.” Sua alegria e ternura continuam 
conosco. A doçura do seu coração ilumina nossa memória. 
Lenir Luft Scheerem - com sua alegria, sua capacidade de amar e de compor 
novas equações, você se despede enquanto este livro é editado. Para você , para 
seus olhos tão felizes, nosso amor e gratidão por tantos momentos 
compartilhados. Também sabemos que nossos corações continuam unidos e 
sua luz, agora, é nossa luz. 
Porque sabemos que somos eternos e acomodamos em saudades a vontade de 
nos abraçarmos. Até hora destas! 
Agora é nossa alegria celebrando. Vocês aí e nós aqui, no paraíso do céu e do 
céu na terra. 
Se não falas, vou encher o meu coração 
com o teu silêncio, e aguentá-lo. 
Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília 
estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada. 
A manhã certamente virá, a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em 
torrentes douradas por todo o céu. 
Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as 
tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta. 
Rabindranath Tagore 
Alguém perguntou a um velho mestre: 
- Como você consegue ajudar outras pessoas? Elas frequentemente o procuram 
e lhe pedem conselho em assuntos que você mal conhece. Apesar disso, 
sentem-se melhor depois. 
O mestre lhe respondeu: 
- Quando alguém para no caminho e não quer prosseguir, isso não depende do 
saber. Ele busca segurança onde é preciso coragem, e quer liberdade onde o 
certo não lhe deixa escolha. E com isso fica dando voltas. O mestre, porém, 
não cede ao pretexto e à aparência. Busca o centro e, recolhido nele, aguarda 
que uma palavra eficaz o alcance, como o navegador que abre suas velas ao 
vento. Quando alguém o procura, encontra-o no mesmo lugar aonde ele 
próprio precisa chegar, e a resposta vale para os dois. Pois ambos são ouvintes. 
E o mestre acrescentou: “No centro sentimos leveza.” (HELLINGER, 1996, 
p. 15.) 
APRESENTAÇÃO 
Além do Aparente - um livro sobre Constelações Familiares 
Susy Guedes 
Bert Hellinger, ao desenvolver o método das Constelações Familiares, 
despertou para uma visão inédita da realidade humana, enquanto indivíduo e 
enquanto coletividade. Ao mesmo tempo, esta metodologia impressiona e 
surpreende pelas soluções alcançadas: a depressão que cede lugar à alegria, a 
confiança no lugar da hiperatividade (TDHA — Transtorno de Déficit de 
Atenção e Hiperatividade), a remissão espontânea das doenças, a prosperidade 
finalmente possível e simples, a justiça, o amor fluindo entre casais, entre a 
criança e seus pais. 
Ao escrever este livro, Olinda Guedes nos presenteia com reflexões profundas 
e esclarecedoras sobre os princípios sistêmicos — pertencimento, 
compensação e ordem, e sobre como a vida retribui com soluções quando se 
faz o que é necessário. 
Resultado de anos de estudo sobre Constelações Familiares, as reflexões aqui 
apresentadas são consequências da interação entre a autora e seus alunos para 
compreensão e aprendizagem desta metodologia e do pensamento sistêmico
para lidar com os principais sofrimentos da humanidade: pobreza, infelicidade 
e doença. 
Além do Aparente é um livro intrigante e esclarecedor, pode-se lê-lo como uma 
prosa, como um poema ou simplesmente percebê-lo como uma melodia que 
desperta o coração para as dinâmicas simples e reais que trazem o amor de 
volta. Porque a felicidade pode ser aprendida e, segundo Hellinger, ela se 
aprende por meio do amor. 
 
PREFÁCIO OU ALGO SOBRE OS DITADOS 
A vista do meu ponto: 
Por favor, leia esta obra somente se tiver a intenção de ampliar sua 
consciência e percepção da realidade. O tempo é precioso 
demais para defender premissas. 
Este livro é resultado de tantos encontros, módulos da Formação em 
Constelações Familiares, dos “ditados” — momentos em que os estudantes, 
com dedicação e atenção, ouvem a professora, com seus lápis e cadernos 
anotam linha por linha, 
palavra por palavra. Às vezes, dizem: “me perdi; o que foi dito mesmo?” E 
com atenção renovada, continuam. Ao final de cada trecho, de cada texto, de 
tantos ditados, brincamos: quantas linhas foram? Caíram fichas? 
E assim, vêm os insights. Insights são cliques que nos levam para diante, como 
bem disse um dos alunos. 
Somos todos alunos, na vida, encontrando mais e mais a luz do 
conhecimento. A intenção é que possa servir como inspiração para a jornada 
de muitos, como fonte de entendimento para as diversas situações da vida, 
como oportunidade de elevar a percepção uma oitava acima, onde possamos 
assumir a nossa vida como protagonistas, compreendendo e integrando o 
“perpetrador e a vítima” que mora em todos nós. 
A felicidade tem um custo. Os infelizes não precisam fazer nada. 
Talvez você possa, ao ler este livro, imaginar-se sentado sobre confortáveis 
almofadas, ao lado de colegas, com seu caderno e lápis, anotando tudo sobre 
felicidade e compreendendo as bênçãos e a perfeição da Existência. Gostaria 
também que lesse este livro do jeito que quiser e apreciar. Leia capítulos, 
partes, frase, palavras. Saboreie. Nem pense que tem a obrigação de começar 
e concluir. Porque, afinal, a vida é 
uma deliciosa aventura e cada um está autorizado a criar a sua canção. 
Sugiro que este livro seja saboreado, porque um livro é como 
um alimento. Se não for saboreado, não cumpre integralmente o seu 
propósito. 
Saciar fomes! Sim. O conhecimento sacia a fome da alma. Porque a alma sabe 
que: sem conhecimento, sem liberdade. Apreciarei receber sua cartinha 
contando suas percepções e entendimentos. Será que poderá fazer isto? 
As trocas tanto nos enriquecem. Até a próxima edição, até breve! 
Abraços felizes, 
Olinda Roseli Soares Camargo de Godoy de Campos 
Penteado Dourado de Santana Francisco Neves e 
Pereira da Silva e Pereira Guedes 
autora@anaueteino.com.br 
https://www.facebook.com/OlindaGuedes 
https://www.facebook.com/pages/Alem-do-Aparente/796956470392949 
 
mailto:autora@anaueteino.com.br
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http://www.facebook.com/pages
Sumário 
 
AS LEIS DO AMOR E OS MOVIMENTOS QUE CURAM.............................................. 20 
LEALDADES OU O AMOR QUE NUNCA SE CANSA ................................................... 25 
QUEM PERTENCE? ................................................................................................. 28 
MOVIMENTOS QUE CURAM: BENEVOLÊNCIA RETIDÃO COMPAIXÃO ..................... 30 
RELAÇÕES CONJUGAIS - RELACIONAMENTOS ENTRE PAIS E FILHOS ...................... 35 
O QUE É NECESSÁRIO PARA QUE O RELACIONAMENTO CONJUGAL EXISTA E TENHA 
FUTURO ................................................................................................................. 38 
COM QUEM A CRIANÇA DEVE FICAR OU ALGO SOBRE ALIENAÇÃO PARENTAL ...... 42 
O RELACIONAMENTO CONJUGAL INFLUENCIANDO O RELACIONAMENTO COM OS 
FILHOS ................................................................................................................... 44 
SINTOMAS E DOENÇAS - O QUE CURA E O QUE FAZ ADOECER ............................. 47 
O QUE VOCÊ PRECISA? .......................................................................................... 51 
AS DINÂMICAS QUE FAZEM ADOECER ................................................................... 55 
CONSTELAÇÕES ORGANIZACIONAIS ....................................................................... 57 
O ÊXITO ESSENCIAL ................................................................................................ 59 
OS DOIS SUCESSOS ................................................................................................ 63 
O QUE ESTÁ A SERVIÇO DA VIDA ........................................................................... 67 
TEM UMA ESCOLA NO MEIO DO CAMINHO (PARA O SUCESSO) ............................ 69 
O ÊXITO NA ROTINA ............................................................................................... 70 
POR QUE ISSO ACONTECE COMIGO? - TEMAS EXISTENCIAIS ................................. 72 
BÊNÇÃOS INESPERADAS ......................................................................................... 74 
NOITES ESCURAS DA ALMA .................................................................................... 78 
ORDENS DA AJUDA ................................................................................................ 85 
AS ORDENS DA AJUDA ........................................................................................... 87 
AS DIVERSAS DINÂMICAS QUE ATUAM NA ALMA .................................................. 91 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 92 
CONTRIBUIÇÕES .................................................................................................... 94 
COMPARTILHANDO... ........................................................................................... 106 
INDICADOR PROFISSIONAL .................................................................................. 110 
 
 
CAPÍTULO I 
AS LEIS DO AMOR E OS MOVIMENTOS QUE CURAM 
 
PERTENCIMENTO 
COMPENSAÇÃO 
ORDEM 
CONCORDAR 
AGRADECER 
PEDIR 
REPARAR DANOS CAUSADOS 
 
Fazemos tudo para pertencer, inclusive permanecemos 
infelizes, pobres ou doentes. 
 
Bert Hellinger2 organizou, de maneira ímpar, todo o conhecimento sistêmico e 
o tornou disponível para o caminho da cura, do bem estar e do 
desenvolvimento humano. A técnica das Constelações pode ser compreendida 
por meio dos conhecimentos da Biologia, pesquisados por Maturana 3, Varela4 
e Rupert Sheldrake5, notáveis cientistas contemporâneos. É deste último o 
conceito do “campo ciente”, ou seja, eu posso não saber, você pode não saber, 
mas nós sabemos. O “nós” é o campo, um campo invisível. Sheldrake diz que 
a informação se encontra presente sempre no agora, não tem passado, os 
indivíduos acessam essas informações com um único propósito, o da 
sobrevivência, para assegurar a permanência da vida. 
Hellinger percebeu que cada pessoa está comprometida com o destino do 
grupo; todo indivíduo está, acima de tudo, muito mais a serviço do seu sistema, 
do que a serviço do seu próprio querer. Ele constata que nós temos uma 
pequena liberdade diante do destino, pequeníssima liberdade, que consiste 
 
2 Bert Hellinger, terapeuta alemão idealizador/criador da terapia sistêmica denominada Constelação 
Sistêmica Familiar. 
3 Humberto Maturana, biólogo chileno, crítico do Realismo Matemático e criador da teoria da Autopoiese 
e da Biologia do Conhecer, junto com Francisco Varela. Um dos propositores do pensamento sistêmico 
e do construtivismo radical. 
4 Francisco Varela, biólogo chileno, escreveu sobre sistemas vivos e cognição, autonomia e modelos 
lógicos. Escreveu “Princípios de Autonomia Biológica”, um dos textos básicos da Autopoiese, teoria que 
desenvolveu com Humberto Maturana. 
5 Rupert Sheldrake, biólogo inglês. Pesquisador do conhecimento que está além da mente
racional, do 
conhecimento disponível em todos os sistemas, que chamou de “campo ciente” ou campos 
morfogenéticos. 
apenas em concordar ou discordar. É importante compreender aqui o 
significado de concordar: aceitar o dado como verdadeiro, real, existente. Não 
significa atribuir ao mesmo um juízo de valor, de certo ou errado. A negação 
do destino nos coloca em conflito (falta de sintonia) com ele, o que inviabiliza 
o caminho da cura, da reconciliação e da felicidade. Só quem concorda com o 
seu destino pode se reconciliar; por meio desse movimento é possível tomar 
do destino apenas aquilo que fortalece e, assim, curar, transformar o que 
enfraquece. Quem discorda permanece pequeno e infeliz. 
Hellinger também percebeu: quando atuamos em sintonia com o sistema ao 
qual pertencemos, nossa consciência fica tranquila. Por isso, muitas vezes 
fazemos algo que perante os outros parece totalmente mau, totalmente errado. 
Entretanto, isso foi feito de “consciência tranquila”, porque quando agimos 
“igual”, tendo as mesmas atitudes, vivenciando os mesmos valores, nos 
sentimos pertencentes e seguros. 
Deste modo, Pertencimento é o primeiro princípio sistêmico observado, dentro 
de um conjunto que Hellinger nominou de Leis do Amor. Outros chamam de 
Leis da Vida ou Princípios da Vida, Princípios Sistêmicos ou, simplesmente, 
Princípios. 
Fazemos tudo para pertencer, inclusive permanecemos infelizes, pobres ou 
doentes. Não nos curamos, não prosperamos e não nos tornamos felizes para 
dizer aos nossos antepassados, à nossa família de origem e família atual: “eu 
sou um de vocês, eu sou leal”. 
Compõem nossa família de origem todos os que vieram antes de nós. Todos 
que conduziram a vida, geração após geração até chegar ao agora. 
Por família atual compreendemos o cônjuge, os filhos, netos, bisnetos. Os pais 
e seus descendentes. 
Observamos o quanto essa fome de pertencimento é real, por exemplo, quando 
uma pessoa diz “eu já fiz de tudo, mas não consigo me livrar desta enxaqueca, 
ou: desta falta de dinheiro, ou: desta falta de amor...”. No nível aparente do 
aparente o indivíduo quer ser mesmo feliz, próspero e saudável. Contudo, além 
do aparente, não podemos tomar nada que nos faça sentirmos melhores do que 
os outros, porque sentir-se melhor é o mesmo que ser diferente. O que é 
diferente não pertence; a alma faz de tudo para pertencer, a qualquer preço, 
porque somente pertencendo é que se experimenta segurança, e, assim, tem-se 
a percepção de que poderá manter-se vivo. Mesmo se destruindo, mesmo 
sofrendo. O preço pode ser uma depressão profunda, ou uma doença 
gravíssima, ou uma falta de dinheiro inexplicável. 
Ama sobre nós, também, o Princípio da Compensação ou Princípio do 
Equilíbrio, que é a segunda Lei do Amor. Sempre a alma deseja retribuir o que 
recebeu. O desejo de retribuir o que recebeu é uma constante em nossa alma. 
Portanto, sentir-se endividado ou sentir-se credor são movimentos naturais da 
nossa alma; é o que nos mantém vinculados ao sistema. É o que faz com que a 
vida seja passada adiante. Os pais são credores e os filhos, devedores; os filhos 
reparam suas dívidas para com os pais passando a vida adiante. 
Os filhos só conseguem agradecer aos pais quando fazem algo extraordinário 
com suas vidas, sem desejar nenhuma recompensa; a maneira mais grandiosa 
para fazer isso é passar a vida adiante. Quem tem filhos honra seus pais e pode 
finalmente tomar a vida em toda a sua plenitude. Quando essa oportunidade 
não é concedida, eles também podem ser honrados quando os filhos escolhem 
fazer algo extraordinário para o mundo, sem esperar recompensa. Algo que se 
aproxime do amor gratuito dos pais, dessa condição infinita, imensurável de 
passar a vida adiante, é a prática do amor incondicional. 
Mas quem diz “eu não quero ter filhos” só pode tomar da vida um pouco 
menos, esse é o preço. Ao decidir por isso, uma pessoa deixa de ter créditos 
perante a vida, pois quem não toma integralmente o amor dos pais, não pode 
tomar integralmente as outras bênçãos da vida. 
Se um dia, os pais tivessem tido essa mesma atitude, a vida não chegaria até 
este filho. Eles se submeteram a tudo, colocaram em risco suas vidas, sua 
segurança, suas carreiras profissionais para nos entregar a vida. Enfrentaram o 
mistério, o desconhecido, lidaram com seus medos e apreensões, suportaram a 
culpa de oferecer um mundo ainda com tanto a ser feito, suportaram a culpa 
de ver os filhos lidarem com a vida exatamente como ela é. Como agradecer a 
tudo isso? Somente dizendo: “Sim, eu também! Sim, eu também concordo e 
passo a vida adiante.” O amor dos pais é de graça. 
Quando recebemos algo bom, retribuímos com um pouco mais e quando 
causamos um dano devemos proceder à reparação, a fim de que o equilíbrio se 
restabeleça. 
Para permanecer vivo, o sistema precisa estar organizado. Organização tem a 
ver com ordem, com hierarquia, ou seja, cada um deve ocupar o seu lugar. 
Ordem: esta é a terceira Lei do Amor. Quando alguém, por algum motivo, não 
puder ocupar o seu lugar, outro alguém fará isso. 
PARA ENTENDER 
Uma mulher morre jovem, deixando órfã uma pequena criança. 
Posteriormente, uma bisneta dessa mulher que morrera jovem, poderá, desde 
muito pequena, muito cedo, querer cuidar e zelar de sua mãe que, pessoalmente, 
não passou pela orfandade. Pois bem, essa bisneta, hoje, assume o lugar de sua 
bisavó, que não pôde experimentar a maternidade, é projeta em sua mãe a 
imagem da avó, que vivenciou a experiência da criança que não pôde usufruir 
os cuidados maternos. 
No aparente, essa história nem é comentada, tão distante, está esquecida... e 
essa bisneta, hoje adolescente/jovem/adulta (não importa), experimenta uma 
sensação inexplicável de medo de separação, sendo vista pelas pessoas como 
alguém carente, dependente, apegada. E, pelo que ela aparenta, lhe é aplicado 
um “rótulo”. 
“Rótulos”, geralmente, revelam o quanto tantas pessoas estão solitárias e 
incompreendidas perante aqueles que serão beneficiados diretamente porque 
alguém está fazendo as “tarefas” mais difíceis. 
Chamamos de “tarefas” tudo aquilo que deveria ser vivenciado para que o 
pertencimento, a compensação e a ordem não fossem princípios violados; 
entretanto, devido a fatos, acontecimentos, essas “tarefas” não puderam ser 
completas. Por exemplo: o amor e o cuidado entre pais e filhos, o respeito e a 
ética entre os sócios de uma empresa, a solidariedade entre irmãos, a compaixão 
para com aqueles que sofrem, a gratidão para com aqueles que muito fizeram, 
etc. 
No aparente, a violência dos pais para com um filho fica no passado, mas no 
além do aparente, este desamor permanece e pode se mostrar, no agora, por 
meio de uma ansiedade profunda em um dos integrantes desses sistemas. 
Sabemos que uma das “dinâmicas” que sustenta a ansiedade é papai, sem você ... 
eu tenho que ir rápido demais para o futuro. Sozinho eu tenho medo do 
amanhã!” 
Tarefas desafiantes são cumpridas, independente da vontade do indivíduo, para 
a finalidade de tornar algo completo dentro do destino, assegurando assim, a 
perpetuação da vida. 
Portanto, para que possamos assumir o nosso lugar no sistema ao qual 
pertencemos, todos aqueles que vieram antes de nós precisam ter o seu bom 
lugar. Todos, todos! 
Faz parte também da ordem, o sistema maior ao qual pertencemos. A sociedade 
humana é formada pela união homem e mulher, os quais somente estão em 
harmonia e reconciliados quando reconhecem mutuamente o lugar de cada um 
e assumem, respectivamente, suas funções. 
 
SOBRE SERVIR E SER SERVIDO 
NA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ, o maior serve o menor - e aqui o sentido 
de servir é exatamente o que Jesus Cristo fez na última ceia, conforme o relato 
em João 13:4-14. Assim, o homem serve e a mulher é servida. O homem vem 
em primeiro lugar, depois a mulher e depois os filhos. Portanto, quando a mãe 
está amparada pelo seu marido, pelo pai, então ela pode amparar e cuidar dos 
filhos. Porém, um homem só pode assumir o seu
lugar, andar, zelar e prover se 
ele estiver reconciliado com a sua mãe. E uma mulher só poderá aceitar ser 
cuidada, protegida e amada se ela estiver reconciliada com o seu pai; isso é a 
ordem. 
Faz parte também da ordem, que os pais não sejam “amigos” dos filhos, ou 
seja, que preservem sua intimidade, medos, preocupações e segredos. Quando 
os filhos se tornam confidentes dos pais, estes se enfraquecem. E, quando os 
filhos querem consertar os pais, aqueles também se enfraquecem. A hierarquia 
mostra que os pais são os grandes e os filhos, os pequenos. Pais são pais, filhos 
são filhos. Só assim o sistema se fortalece e entra em equilíbrio. 
 
CAPÍTULO II 
LEALDADES OU O AMOR QUE NUNCA SE CANSA 
 
Hellinger trouxe à luz uma percepção fundamental para a cura: ele observou 
que quando existe um sofrimento, quando existe um desequilíbrio, é apenas a 
voz do sistema pedindo inclusão, compensação ou ordem. 
Todos os desequilíbrios, todos os sintomas, todas as dores que são 
inexplicáveis, persistentes e repetitivas têm a função de manter o 
pertencimento, “olham para uma vinculação com o sistema”. Não sou “eu” e 
não é “você”, é o “nós”, o grande “nós” fluindo por meio do indivíduo. 
Normalmente pensamos como “eu” e desejamos, a partir do ego, do intelecto 
e da razão, combater aquele sintoma, resolver a situação ou buscar o equilíbrio. 
O intelecto, a mente, a razão servem apenas para resolver situações 
corriqueiras, tarefas cotidianas. 
O que é do sistema permanece e a pessoa chega à conclusão “sou assim 
mesmo”, “para mim não adianta, as coisas não dão certo”. E, novamente, a 
partir do ego, ela diz “mas eu vou tentar de novo, quero ver, eu não desisto”, 
e assim segue e os emaranhamentos permanecem. Pode até ganhar dinheiro, 
porém, não se sentir próspera, pode até não ter doença, mas mesmo assim não 
se sentir saudável. Pode não ter depressão, mas não sente a bênção da vida. 
Durante todo o tempo permanecemos vinculados ao sistema; ou nos 
vinculamos pela felicidade ou pela dor, que também é amor. 
Para um sistema só existe um tempo: o agora. Nem passado, nem futuro. Somos 
nossos pais, avós, bisavós, trisavós e todas as gerações antes. Todos eles estão 
em mim e eu estarei em todos os meus descendentes. A dor de um indivíduo 
reflete a dor de todos, e a cura de um indivíduo contribuirá para a cura de 
todos. Muitas vezes experimentamos sensações inexplicáveis de angústia, ou de 
temor, ou de irritação, sensações que não correspondem à nossa vida atual, 
porém ela está ali, sendo quase possível segurar, fotografar, medir, pesar, tão 
real se apresenta. E quando perguntamos “a quem isso pertence?”, talvez 
imediatamente, surja a imagem de um homem ou de uma mulher dentro de nós, 
ou até mesmo de um povo. 
Às vezes a angústia é o choro da mãe que não pôde prantear a perda do seu 
filho, a dor no coração do pai que teve que ir para a batalha, mas outras vezes 
pode ser também a dor da criança que nunca foi incluída. 
Quando nos abrimos para essa compreensão, os vínculos interrompidos do 
amor são refeitos e, finalmente, esses sentimentos inexplicáveis cedem lugar 
para uma sensação de presença e de paz, indescritíveis, porque mesmo que, no 
aparente do aparente, tudo esteja um rebuliço, além do aparente, internamente, 
a sensação é de totalidade, de empoderamento, de amor, de capacidade, de 
confiança, de entrega. E, se fecharmos nossos olhos e olharmos para nossa 
família de origem e para a nossa atual, eles estarão sorrindo para nós. 
Entretanto, como tudo é movimento, talvez imediatamente percebamos que, 
no rosto de algum desses integrantes, em algum rosto dos nossos, surja um 
pedido, uma dor, uma necessidade. E como estamos abertos, fazemos isso 
imediatamente: “Olá, você é um de nós, você também pertence, eu sinto muito 
e agora podemos dizer sim para a vida, sim, nós servimos”. 
Quando, no sistema, algo ou alguém foi excluído, quer seja por ter cometido 
um erro ou simplesmente porque foi abortado (não importa o modo), ou 
assassinado, esquecido, isso permanece no sistema “pedindo” inclusão, 
esperando seu bom lugar. Quando uma injustiça acontece e não ocorre uma 
reparação, isso também permanece. Quando alguém não tem um bom lugar, 
quando a ordem é violada, isso também gera emaranhamentos. O que gera 
emaranhamentos é sempre a violação desses princípios sistêmicos: exclusão, 
injustiça, desrespeito, desonra. 
Portanto, emaranhamentos são consequências da violação dos princípios do 
pertencimento, compensação e ordem. 
SOBRE AQUELES QUE FORAM IMPEDIDOS DE ENTRAR. 
POR EXEMPLO: aconteceu um aborto na família. 
Os pais colocam isso no esquecimento e realmente, quando pensam nos seus 
filhos, contam somente os vivos e dizem: “nós temos três filhos”, porém, eles 
tiveram mais quatro filhos abortados. Quantos filhos eles têm? Três ou sete? 
Geralmente, um desses filhos se torna hiperativo. Crianças hiperativas estão 
sempre procurando por algo importantíssimo. Quando algo vital precisa ser 
encontrado, reconhecido, ter ou encontrar o seu lugar, temos muita pressa. 
Temos toda pressa do mundo e nada mais importa tanto do que encontrar o 
que se está a procurar. Lembra-se de quando você esqueceu onde colocou a 
chave do carro ou não sabe onde foi parar aquele documento importante? Você 
conseguia se concentrar em outra coisa? Conseguia ficar sentado, parado, 
esperando? 
Além do aparente, a criança, por meio da velocidade, dos movimentos rápidos, 
está procurando seus irmãos, na maioria das vezes, ou os irmãos de algum 
antepassado. Deste ponto de vista, não existe pessoa desatenta. Existe apen as 
a atenção sendo dedicada ao que é essencial para que seu sistema se equilibre. 
Não existem crianças distraídas, existem crianças ocupadíssimas, trabalhando 
para os seus pais. 
Antes do sucesso, o amor aos pais. 
A COMPREENSÃO DESCORTINA HORIZONTES DE CURA 
Quando vivemos conscientes e temos a compreensão destes princípios, 
podemos nos deixar conduzir, curar os emaranhamentos, prevenir que outros 
emaranhamentos aconteçam e assegurar um futuro de felicidade, a saúde e a 
prosperidade para todos. 
Só assim podemos amar. E quando o amor não flui por meio da alegria, ele 
assegura sua existência por meio da dor, angústia, tristeza, autodestruição. 
Somos, em primeiro lugar, a consciência coletiva. Sim, todos nós somos, em 
primeiro lugar, essa consciência que chamamos de arcaica, que podemos 
traduzir por “meu amor por todos é sempre maior que meu amor por mim, porque sem 
vocês a vida não chegaria até mim”. Por isso permanecemos pobres, doentes e 
infelizes. Por meio dos nossos limites permanecemos leais, iguais, pertencentes. 
É possível curar quando e se for dito: “eu não serei melhor que você se me 
tornar feliz, próspero e saudável porque, querido avô, querida avó, queridos 
pais, aqui em mim, finalmente nós podemos. Vejam como é bom ser feliz, 
próspero e saudável, como é bom que agora nós podemos, finalmente, 
experimentar alegria de viver”. Uma mulher poderá resolver suas questões 
afetivas se disser/vivenciar: “Querida bisavó, podemos ter alegria, sim, alegria 
de amar os homens, podemos finalmente experimentar a vida boa e feliz que 
sempre desejou”. 
 
CAPÍTULO III 
QUEM PERTENCE? 
 
Todos pertencem, os bons e os maus, todos. 
 
Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, 
e odiarás ao teu inimigo. 
Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, 
e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos 
do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer 
o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. 
Mateus 5:43-45 
 
O nosso sistema familiar ou, simplesmente, o nosso sistema, é composto pela 
família atual, pela família de origem, pela pátria atual, pela pátria de nossos 
antepassados e por todos aqueles que, sem eles, a vida não teria sido possível; 
por exemplo, um doador, um sócio da empresa da família que “carregou” essa 
empresa quando o outro estava doente; todos fazem parte do sistema.
Também 
fazem parte aqueles que atuaram como obstáculo à vida, como os assassinos. 
Às vezes, também fazem parte os animais da família: um cachorro que salvou 
uma criança da morte. Então, nosso sistema é composto por todos e p or tudo 
que fez com que nossa vida chegasse até aqui. 
Todos pertencem, os bons e os maus, todos6. O pertencimento é 
experimentado profundamente nos emaranhamentos. Não depende da nossa 
vontade, ele é uma força que atua em nós. Uma criança pode, por exemplo , 
ficar profundamente irritada porque seu pai não é mais respeitado, mas é 
considerado mau e errado e, nesse sentido o “bando” quer bani -lo, a sociedade 
julga e abandona. As crianças sempre se colocam ao lado dos excluídos, 
daqueles que não foram honrados, dos injustiçados e assim, colocam seus 
pequenos ombros sob o fardo que eles estão a carregar. Porque criança não 
exerce julgamento, seu coração é totalmente livre para amar todos e as 
primeiras pessoas a quem devotam esse amor são seus pais. Toda criança ama 
os seus pais. 
TODA CRIANÇA AMA OS SEUS PAIS 
Entretanto, é cada vez mais comum ouvir os pais dizerem: “não sei por que 
essa criança não gosta de mim”. A criança talvez carregue a memória da 
 
6 Pertencer ao sistema não resulta de merecimento, mas da participação do indivíduo no fluxo da vida 
desse sistema mediante suas ações, quaisquer que sejam elas. 
injustiça, da exclusão, do desrespeito cometido contra um ex-cônjuge, mesmo 
que ninguém conte para ela, isso acontece com muita frequência. 
Não é que a criança não gosta dos pais. Além do aparente ela está conectada e 
profundamente identificada com aquele ex-cônjuge que é rejeitado, 
desqualificado, excluído. A alma dessa criança está lá junto dele, amando-o, 
incluindo-o, fazendo por ele o que o sistema necessita para permanecer vivo. 
Lembre-se: um sistema jamais deixará que uma parte sua seja excluída - a vida 
do sistema é a inclusão de todas as suas partes. Então, a partir de quando os 
pais se respeitarem, sem julgamento, concordando com os seus destinos, com 
aquele que foi excluído, dando aquele que é “mau, errado e leviano” um bom 
lugar em seu coração7, esta criança não mais precisará estar ocupada em ficar junto 
desse indivíduo e estará livre para a reciprocidade do amor entre ela e seus pais 
(pai, mãe). 
O movimento do amor é, acima de tudo e sempre, em direção a assegurar a 
permanência da vida. Já sabemos que os três princípios sistêmicos asseguram 
isso: pertencimento, compensação e ordem. É natural para o espírito buscar a 
inclusão, o equilíbrio entre o dar e o receber e o respeito ao lugar de cada um. 
A violação de quaisquer das Leis do Amor exige reparação dos danos causados, 
para que a harmonia retorne ao sistema. Temos aí a oportunidade para a prática 
das virtudes do coração: gratidão, generosidade, benevolência, compaixão e 
honra. 
Desse modo, a Lei do Pertencimento é atendida por meio da inclusão, o que 
exige de nosso coração a prática da generosidade e da benevolência. Se o 
Princípio da Compensação foi violado, o restabelecimento do equilíbrio se dará 
mediante o exercício da compaixão. 
O terceiro princípio da Ordem - convida a honrar e respeitar o próprio lugar e 
o lugar do outro. Inclui também disciplina, perseverança, método, bem como 
se deixar conduzir por algo já estabelecido. Orienta sobre o que é ser pai, mãe, 
filho, como se comporta quem é servido e sobre quem serve. 
O princípio da Ordem nos deixa livres para sermos criativos, dentro da 
segurança do que já é estabelecido. Estabelece parâmetros e limites, por 
exemplo, se sou pai/mãe, isso já está pronto. Então fico livre para agir do jeito 
que quiser desde que eu permaneça grande e sirva aos filhos. Poderíamos 
chamar esse princípio de “princípio da liberdade”. 
 
 
7 Um bom lugar no coração: significa admitir, serenamente, sem julgamentos, o indivíduo presente no sistema. 
O movimento é o do “sim, você faz parte, você é um de nós”. 
CAPÍTULO IV 
MOVIMENTOS QUE CURAM: BENEVOLÊNCIA RETIDÃO 
COMPAIXÃO 
 
8Benevolência sf (lat benevolentia) 
Que expressa a qualidade de alguém que é benevolente, ou seja demonstra 
afeto e estima em relação a alguém. 
Retidão sf (lat rectitudine) 
Característica, condição ou qualidade do que é reto. Conformação demonstrada 
por um senso de integridade, de justiça, de quem possui um caráter integro e 
se comporta a favor da razão, da lei, do dever: retidão de proceder. 
Característica daquele que segue os preceitos da lei, da legalidade. 
COMPAIXÃO sf (lat compassione) 
Sentimento de pesar que nos causam os males alheios, bem como uma vontade 
de ajudar o próximo. Sentimento de simpatia ou de piedade para com o 
sofrimento alheio, associado a vontade ou ao desejo de aux iliar de alguma 
forma: doar dinheiro para campanhas humanitárias é uma atitude que envolve 
muita compaixão. 
Dicionários são excelentes fontes de consulta não apenas para se procurar o 
significado de termos desconhecidos, mas também para aprofundar o 
conhecimento de palavras que costumamos usar ou ouvir com frequência, sem 
refletir no seu significado. É enriquecedor este exercício. 
Amor é o movimento, o fluxo de energia entre os elementos conectados no 
sistema. Tal conexão é experimentada por nós, pela primeira vez, no primeiro 
local onde nos tornamos presente/presença no sistema. Que lugar é esse? É na 
nossa mãe. Fomos colocados lá por um sentimento entre nosso pai e nossa 
mãe, pela força da vida, que é maior que qualquer ser humano. 
Talvez, do ponto de vista aparente, alguém possa dizer “não, não foi um ato 
de amor de meus pais que me gerou; na verdade, foi um acidente, eles nem 
queriam que seu ato sexual resultasse em um filho...” Isso é o aparente, 
representa apenas fatos visíveis, contingências e circunstâncias mediante as 
quais o princípio gerador da vida foi acionado. O princípio que gera vida é o 
Amor, o movimento que aproxima e une duas células prontas, plenas de todos 
os recursos, preparadas pela Inteligência Divina, que se fundem para gerar um 
ser humano completo. 
A violação das Leis do Amor interrompe seu movimento. O que cura o 
movimento interrompido do amor é o mundo bom e belo. É essa fome natural 
de todos nós, esquecida às vezes, corrompida outras tantas. Esquecemo-nos 
 
8 Fonte: http://www.significados.com.br/. Acesso em 08/03/2015. 
http://www.significados.com.br/
dela. Então, de algum modo ela será “lembrada”: por meio dos excessos de 
comer, beber, trabalhar, falar, comprar, querer, etc. O mundo bom e belo só 
pode ser tomado por meio do olhar da mãe. A criança procura o olhar da mãe, 
a voz da mãe, o coração da mãe, o acalanto da mãe. E ela procura na mãe 
também o pai, no olhar a permissão para tomar as bênçãos da vida, como bem 
disse Rubem Alves: 
“Van Gogh tem uma delicada tela que representa esta cena: o pai, jardineiro, 
interrompeu seu trabalho, está ajoelhado no chão, com os braços estendidos 
para a criança que chega, conduzida pela mãe. O rosto do pai não pode ser 
visto. Mas é certo que ele está sorrindo. O rosto-olhar do pai está dizendo para 
o filhinho: “Eu quero que você ande”. É o desejo de que a criança ande, desejo 
que assume forma sensível no rosto da mãe ou do pai, que incita a criança à 
aprendizagem dessa coisa que não pode ser ensinada nem por exemplo e nem 
por palavras”.9 
O movimento que cura o vínculo interrompido do amor é sempre na direção 
da benevolência e da compaixão. Quatro movimentos, atitudes, sustentam esse 
processo. 
EU SOU GRATO. 
O PRIMEIRO MOVIMENTO é o Movimento da Gratidão, o ato de 
agradecer, pois somente quem agradece pode tomar a grandeza da vida e 
usufruir a bênção do que lhe foi ofertado. A ausência da gratidão consiste no 
não reconhecimento daquilo que se recebeu e, consequentemente, o sentimento 
é de que há uma falta, um débito, uma carência, o que leva ao movimento da 
queixa,
da murmuração. 
A postura de ingratidão perante a vida faz “perecer no deserto”. Quem conhece 
a trajetória do povo hebreu mediante o relato bíblico, especialmente nos livros 
de Êxodo e Números, sabe a consequência das repetidas queixas do povo 
contra Deus que, realizando grandes milagres, os guiava para a terra de 
abundância: toda a geração que saiu do Egito, menos dois homens (Josué e 
Calebe) não chegou à Terra Prometida - morreu no deserto. Os que entraram 
em Canaã foram os gerados durante a peregrinação que durou quarenta anos e 
que podia ser feita em algumas semanas, segundo afirmam estudiosos de 
geografia bíblica. 
Aquele que exige, interrompe o movimento em direção ao amor, em direção à 
vida; quem exige já perdeu. É a gratidão, e não a exigência, que abre as portas 
da abundância. O fruto de um coração grato é a generosidade, ao passo que um 
coração exigente se torna ganancioso e avarento. Este, ainda que possuindo 
muito, “perece agarrado ao saco de dinheiro”. 
EU PRECISO, POR ISSO PEÇO. 
O SEGUNDO MOVIMENTO é o de reconhecer aquilo que se precisa, o 
 
9 Fonte: http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/63-rubem-alves. Acesso em 08/03/2015. 
http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/63-rubem-alves
Movimento do Pedir; pedir ao outro, que tem a liberdade de conceder ou 
não. Pedir é uma atitude, acima de tudo, de humildade, que leva a reconhecer 
o valor do outro e o valor do que se precisa. Um pedido não existe para ser 
atendido, mas para que um importante aspecto do sistema seja reconhecido: a 
interdependência, fundamental para que seja atendida a Lei do Pertencimento. 
Quando peço ao outro algo que não posso obter por mim mesmo, reconheço 
que necessito do outro. O estado de pleno pertencimento ao sistema, tanto 
meu, quanto do outro, se verifica quando estou aberto tanto a dar quanto a 
receber. Este é o exercício necessário de humildade, porque só com a 
humildade se dá o pertencimento, se reconhece que o outro não é maior, nem 
menor, ele apenas pode me ajudar, apoiar. Ele apenas é diferente, é o outro. 
Na visão sistêmica, ser diferente não é ser desigual, ou seja, cada um é visto na 
sua singularidade, e por isso, não há maiores ou menores (desigualdade), todos 
somos iguais, porque somos diferentes (singulares). Logo, ser humilde, no 
ponto de vista sistêmico, nada mais é do que estar exatamente no seu lugar, no 
mesmo nível em que o outro se encontra, não acima dele como ser superior, 
nem abaixo, como inferior. Mas não é suficiente saber que cada um está no seu 
lugar; é também necessário saber que cada um está no seu lugar em conexão 
com o outro, em interconexão com todo o sistema. 
EU DIGO “SIM” 
O TERCEIRO MOVIMENTO é o Movimento de Concordar e concordar 
significa dizer “sim”, concordar atende ao Princípio da Ordem, para o que está 
posto, para o que é e evita pensamentos, julgamentos com relação a situações, 
fatos, acontecimentos sobre os quais não é possível nenhuma intervenção 
pessoal para mudança. Concordar fortalece e poupa energia para ser dedicada 
ao que é essencial, concordar é um movimento de profunda paz e de reverência 
pela vida. Concordar sustenta os estados de paz, serenidade, assertividade e 
sucesso; só tem sucesso quem concorda. Quem concorda age, produz. Quem 
discorda, neste contexto permanece infantilizado. Muitas vezes, o protestar, o 
criticar apenas esconde uma conduta passiva esperando que outros façam. 
Byron Katie (2009), uma autora americana, diz “Ame a realidade e sua vida se 
transformará.” Talvez possamos compreender estes conceitos lembrando a não 
reatividade, a assertividade, o não ficar remoendo pensamentos, sentimentos, 
conversas que não fortalecem a ninguém. Apenas trazem um sentimento 
temporário de ter razão por ser vítima, perpetrador ou salvador. 
Concordar, dentro da abordagem sistêmica, não significa “achar certo” ou 
“achar errado”, pois isto é julgamento. Dentro de um sistema, um fato não 
precisa da nossa opinião pessoal, individual, para ser o que é. O fato 
simplesmente é. Julgamentos sempre remetem ao “que poderia ter sido e que 
não foi”, o que impede os movimentos que podem ser realizados em direção à 
cura e apenas contribui para manter os emaranhamentos ou até mesmo 
intensificá-los. Evidentemente que, na vida, há contextos onde é necessário e 
de bom senso utilizar a noção de certo/errado, porém não quando se está a 
buscar a cura profunda, para situações que se apresentam com suas raízes “além 
do aparente”. Aqui, a sabedoria do discernimento, como sempre, é valiosa. 
É comum ouvir a frase “pare de falar e faça alguma coisa”. Esta fala comum, 
de pessoas comuns, revela um saber inerente sobre o grande potencial que 
temos para criar um mundo melhor. Este desejo, natural em muitas pessoas, é 
apenas a conexão, a consciência do profundo movimento do espírito em sua 
essência. Toda fala precisa ser seguida de espaços de silêncio. Silêncio para 
sentir não apenas o que foi dito, mas o que não foi dito, o que ficou para além 
das palavras proferidas. 
EU SINTO MUITO. 
O QUARTO E ÚLTIMO MOVIMENTO é o de reparar os danos causados. É 
o Movimento de Lamentar, de modificar, de arrepender-se, de pedir e 
também dar uma nova chance, assim, “setenta vezes sete”. É o movimento que 
dá acesso ao perdão. Perceba: como se fosse uma porta, a chave para abri -la é 
a atitude do arrependimento, que significa disposição sincera em mudar de 
direção. E, pela interdependência, na qual se assenta o princípio do dar e 
receber, a atitude do coração, neste movimento do perdão é: “eu sinto muito e 
eu concordo que o perdão seja para mim e para você e para todos os 
envolvidos”. 
É o movimento do profundo relacionamento com Deus, onde deixamos com 
Ele o incompreensível, o irreparável e o irrecuperável. Só perdoa quem é maior 
e só Deus é maior, porque apenas Ele tem toda condição de assumir a 
magnitude de uma dívida humanamente impossível de ser paga. Assim, o 
perdão destina-se aos danos causados que não podem ser reparados pela 
condição humana, portanto o perdão é reservado a situações restritas da 
existência. As mortes, suicídios, homicídios, crimes de guerra, pouquíssimas 
situações. Todas as outras situações precisam ainda, neste movimento do 
perdão, ter uma dedicação suficiente para reparar os danos causados. 
Na tradição cristã temos na oração modelo, ensinada por Jesus, o trecho que 
trata do perdão: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos 
devedores.” (Mateus 6:12). Encontramos aqui o perdão de Deus, cuja 
concessão está condicionada à disposição humana de também perdoar. O 
incompreensível, o irreparável, o irrecuperável, o “humanamente impossível” 
fica para Deus. E o possível fica para o ser humano. 
A desculpa não pode ser “de graça”, ela precisa ser conquistada por meio de 
atitudes; ela pode ser concedida por meio da compreensão do todo, do não 
julgamento e do entendimento da corresponsabilidade: se alguém errou, onde 
eu colaborei ou deixei de colaborar para que isto ocorresse? O que eu fiz ou 
deixei de fazer para que isso não ocorresse? O lamentar é acima de tudo um 
movimento consciente, de ampliação da consciência: ninguém acerta e erra 
sozinho. Conceder e conquistar uma compreensão, uma oportunidade de 
reparação pelos danos causados é sempre uma oportunidade e sinal de evolução 
de nosso nível de consciência. 
SOBRE A JUSTIÇA E APLICAÇÃO DE PENALIDADES 
EM UMA SOCIEDADE REALMENTE EVOLUÍDA, alguém que cometeu 
um crime talvez fosse “condenado” a cultivar hortaliças, a reformar escolas, 
aprenderia a cantar ou tocar, faria coisas para doentes ou idosos, por muitos e 
muitos anos. Talvez vivesse como um monge e aprenderia a meditar e respirar 
para poder voltar à vida, servindo à vida. E disso que fala o quarto movimento. 
Em tudo o que for possível, deve haver reparação/restituição, quer de maneira 
direta ou indireta. Vide a história de Zaqueu, relatada em Lucas 19:2-10. Tomar 
com responsabilidade
a consequência das nossas ações e que todo dano 
causado pode ser reparado se não por nós, por Deus. Assim, tudo pode ser 
reparado por nós e por Deus10. 
 
 
10 Salmos 86:5 “Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com 
todos os que te invocam.” 
CAPÍTULO V 
RELAÇÕES CONJUGAIS 
RELACIONAMENTOS ENTRE PAIS E FILHOS 
 
Sentir-se certo, exatamente como se é, 
é uma das fomes da alma. 
 
“Honra a teu pai e a tua mãe, 
para que te vá bem, e sejas de longa vida 
sobre a terra.” - Efésios 6:2a,3. 
 
Existe uma ordem entre a criança e seus pais e a ordem é: primeiro os filhos 
recebem e depois eles passam adiante. O amor da criança em direção aos pais 
é sempre na direção do futuro, é sempre para frente. Quando a criança está 
ferida, quando o vínculo desse amor foi interrompido, a vida não vai para 
frente, a criança adoece, não aprende, não floresce. Porém, isso não acontece 
só com uma criança, isso acontece com todo o filho, todas as pes soas, 
independentemente da idade. 
Quando a vida vai para frente é porque estamos reconciliados com os nossos 
pais. Quando adoecemos, fracassamos ou ficamos infelizes precisamos 
recuperar o vínculo do amor que um dia foi interrompido entre nós e nossos 
pais. Ou entre os nossos pais e os pais deles. Quando algo não aconteceu 
diretamente conosco, mas aconteceu com nossos pais, avós, bisavós e outros 
pertencentes ao sistema, e nós carregamos isso, chamamos de comportamentos 
ou sentimentos adotados. 
Hellinger, no livro Ordens do Amor (2003, p. 398), comenta sobre a Análise 
do Script, uma ferramenta da Análise Transacional, uma teoria de 
personalidade, desenvolvida por Eric Berne. Ele diz que por meio da 
identificação de quais filmes, histórias, músicas que comovem uma pessoa, é 
possível perceber claramente quais são suas histórias sistêmicas, verdades, 
experiências não comentadas pelos integrantes daqueles sistemas, entretanto, 
que marcam profundamente criando padrões, scripts. Gerando lealdades e 
emaranhamentos. 
Um exemplo é quando uma pessoa se sente tão triste e tão só, revelando com 
isso a memória de uma orfandade no sistema. Contudo, é a bisavó que foi órfã. 
Os sentimentos adotados são sentimentos que não correspondem aos estímulos 
do agora, pois eles apontam para emaranhamentos, para situações que estão 
ainda à espera de se completarem. São sentimentos exagerados de tristeza, 
raiva, medo, desproporcionais aos estímulos, ao momento presente, gerando, 
muitas vezes, expressões assim: “mas, que exagero!” “Não era para tanto!” 
“Fulano é desequilibrado, qualquer coisa o tira do sério, é pavio curto, não leva 
desaforo para casa!” 
Eckhart Tolle (2007, p.116) nominou estas reações de “Corpo de Dor”. Uma 
reação que é consequência de uma emoção experimentada por si mesmo ou por 
outros integrantes do sistema, seja nesta geração, na infância, por exemplo, ou 
em outras gerações. 
Esse corpo de dor se torna maior que o próprio indivíduo; é constituído de 
grandes sofrimentos que todos carregam: crianças, homens, mulheres, nações . 
A ordem sempre é: o amor dos pais flui de graça para os filhos. Quando essa 
ordem é violada, os filhos não podem crescer, é como se já estivessem 
endividados. Só pode crescer quem tem créditos. E o amor de graça dos pais é 
essencial para crescer, é este amor que gera créditos. Alguns permanecem 
crianças, esperando o amor de graça chegar. Perante o sofrimento podemos 
perguntar: “que idade eu/nós temos aqui?”. Imediatamente surge uma imagem 
de quem é e a idade que se tem ali. 
O princípio da Compensação diz aqui que o pai e a mãe são sempre certos um 
para o outro, porque foi por meio deles que a vida foi possível. Não existe 
outra hipótese e é este o movimento que fortalece. Porque o filho é o pai e a 
mãe juntos. Lembre-se sempre: “sem meu pai e minha mãe, eu não existiria. A 
vida fluiu para mim por meio deles dois. Se a vida tivesse fluido por meio de 
um deles com outro cônjuge, outro filho ou filha teria sido gerado e não eu”. 
Se o pai e 
a mãe são certos um para o outro, logo o filho também o é. Sentir -se certo, 
exatamente como se é, é uma das fomes da alma. Quando a criança sente-se 
certa como é, pode experienciar, criar, alegrar-se, descobrir-se no mundo. Só 
assim é possível o pertencimento, porque se essa fome — sentir-se certa 
exatamente como é — não for saciada, o indivíduo vai experimentar o 
pertencimento adoecendo, entristecendo ou empobrecendo. 
Uma das ideias sistêmicas é de que “o todo é mais do que a simples soma das 
partes”. Assim, quando olhamos para uma criança, temos diante de nós o pai e 
a mãe dessa pessoa e algo mais. Por isso, os pais que estão ligados à vida se 
sentem tão felizes diante de seus filhos, por conta do algo mais. Esse algo mais 
tem a força e o potencial para a cura dos emaranhamentos. Por isso, os pais 
ficam tão felizes quando percebem a singularidade dos filhos. 
Podemos, então, dizer aos nossos pais, aos nossos avós, a todos os nossos 
antepassados: “a vida é maior”. E, ao dizer isso, podemos perceber como todos 
e tudo se acalma; pertencimento, reconhecimento, reverência. Este é o lugar 
certo, onde a vida é maior, onde ela vem primeiro. Só quando este princípio é 
violado é que a morte se faz presente. Portanto, o que é certo é sempre a vida 
e quando estamos a serviço da vida, ela permanece. Por isto, é tão natural o 
homem sentir falta da mulher e a mulher sentir falta do homem. A vida é 
masculino e feminino juntos. Sem essas duas energias, a vida não consegue 
seguir adiante. Uma mulher é sempre mais com um homem e um homem é 
sempre mais com uma mulher. E eles são mais juntos, porque somente assim é 
possível passar a vida adiante. 
 
CAPÍTULO VI 
O QUE É NECESSÁRIO PARA QUE O RELACIONAMENTO 
CONJUGAL EXISTA E TENHA FUTURO 
 
Amor do coração 
Amor da Sexualidade 
Amor à vida 
 
“Te amo sem saber como, 
nem quando, nem onde, 
te amo diretamente 
sem problemas nem orgulho: assim te amo 
porque não sei amar de outra maneira.” 
Pablo Neruda11 
 
O AMOR DO CORAÇÃO é querer bem ao outro, é querer fazer o outro feliz, 
essa é a ordem. Quem procura outro para se fazer feliz tem menos para 
oferecer, portanto não pode tomar o amor para entregá-lo, servi-lo ao outro; 
pois nesse “estado de necessidade de ser feliz”, precisa, antes, servir -se do 
amor. Além do aparente, está pronto para receber e não pronto para dar. Só 
pode dar aquele que tem em abundância. E qual é a medida da abundância? É 
quando se tem o suficiente para si e para o outro. 
Os insatisfeitos permanecem infantilizados; para os infelizes, nada basta. Eles 
ainda estão esperando algo de seus pais. Se se tornarem completos e felizes, o 
que farão com sua lealdade e emaranhamento? Se aprovarem os seus cônjuges, 
o que fazer com a mamãe que sempre dizia que a vida conjugal é um 
sofrimento? Se estiverem felizes, o que fazer com um ditado na família: “Ruim 
com ele, pior sem ele!”? 
O sucesso no relacionamento conjugal é “eu tomei e recebi o suficiente da vida, 
portanto eu posso servir”. A ordem aqui também é “eu me proporciono alegria 
verdadeira, por isso eu posso alegrar-me com o outro, posso ajudar o outro a 
viver a sua felicidade”. Isso vale para todos os relacionamentos. Quem espera 
do outro está impedido de tomar. O que conduz ao fracasso é a carência. O 
 
11 Poema recitado por Patch Adams, no filme “O Amor é Contagioso” 
que conduz ao sucesso é a plenitude e esse amor precisa ser tomado dos pais. 
Todo o amor em nós vem dos pais, vem dos antepassados e parte de nós para 
todos os outros relacionamentos - conjugal, profissional, fraternal. Observa-se 
que, quem não está reconciliado com os seus pais, está impedido de amar, busca 
no amor do cônjuge o amor dos pais. Um relacionamento fracassa quando 
negamos que o amor dos pais está nos pais. Os relacionamentos só podem ser 
bem sucedidos quando estamos
plenos do amor dos pais. Isso vale para todos 
os relacionamentos, não somente o conjugal. 
Muito bem: esse “rio do Amor” que fluiu, desde nossas remotas origens 
familiares até nós, tem seu leito no curso da história, com todos os fatos, todos 
os acontecimentos; eventos que se completaram e outros que ficaram 
incompletos, realizados por todos os que vieram antes, os quais ficam no 
registro dessa memória coletiva, nesse “campo ciente”, onde o “eu” pode não 
saber de modo consciente, mas “nós” sabemos. 
O AMOR SEXUAL caracteriza e define que o relacionamento é conjugal. Sem 
o vínculo da sexualidade, o relacionamento conjugal se desfaz. Quando um 
cônjuge deseja o outro, diz: “eu quero me unir a você” e quando o outro 
retribui com o seu “sim”, equilibra o relacionamento. E então eles podem 
realizar o terceiro movimento, que é ter algo em comum, e essa aliança são os 
filhos. Por meio da sexualidade, um homem e uma mulher declaram que eles 
são certos um para o outro e só assim a vida pode seguir adiante. Quem tem 
prazer na sexualidade, internamente diz “sim” para a vida. A sexualidade é a 
força maior a serviço da vida; por isso um homem, quando está junto a uma 
mulher e uma mulher está junto a um homem, eles desejam um ao outro e 
desejam ter filhos. Um filho é a expressão tangível da aliança entre o homem e 
a mulher, indissolúvel — um filho é para sempre: “O que Deus uniu o homem 
não separa!” (Mc, 10:9). 
AS DIFICULDADES DA SEXUALIDADE são dificuldades em tomar a vida. 
Para o exercício pleno da sexualidade é preciso tornar-se adulto e, ao mesmo 
tempo, ter vivenciado uma infância feliz. Só a partir dessas duas condições é 
possível desejar ao outro e concordar em ser desejado. Quando um cônjuge 
deseja o outro muito mais e é rejeitado, o princípio da compensação é violado. 
Cria-se um desequilíbrio porque aquele que mais desejou fica devedor, aquele 
que rejeitou, tem créditos em excesso; isso interrompe o fluxo de amor entre o 
casal. 
O que mais abençoa uma criança é quando internamente ela sabe “que foi com 
prazer”, nem que seja no momento de sua concepção, aquele homem e aquela 
mulher, masculino e feminino, vivenciaram o prazer, a alegria da vida. Nem 
que seja somente na concepção. A criança se fortalece quando ela percebe que 
aquela aliança foi desejada. 
Portanto, para ser um casal, precisam estar unidos por meio do amor do 
coração, do amor sexual e de um amor maior, os filhos. Quando estes não 
existem por uma impossibilidade, quando essa bênção não é concedida , o casal 
pode permanecer unido se encontra uma causa, um propósito onde eles possam 
fazer algo parecido com o que os pais fazem para os filhos: a prática do amor 
incondicional, da gratuidade e da generosidade. 
O QUE ABENÇOA os filhos é a alegria da mãe ser mulher e a alegria do pai 
ser homem. Desta forma o masculino e o feminino estão em harmonia naquele 
ser porque, às vezes, quando o pai e a mãe não tomaram a si próprios e nem 
um ao outro, isso pode sustentar as dinâmicas da homossexualidade: “eu vou 
buscar o igual perfeito” - a mulher ou o homem - para os pais do sexo oposto. 
A mulher busca outra mulher para completar, na alma da mãe, o equilíbrio do 
feminino a fim de presentear o pai. O mesmo acontece na homossexualidade 
masculina: busca-se o homem perfeito para presentear a mãe. Evidentemente 
que existem também tantas outras dinâmicas, tantas outras. 
O relacionamento entre os pais tem precedência sobre o relacionamento com 
os filhos. Antes os pais se respeitam e se cuidam, para que assim o respeito e o 
cuidado com os filhos possam realmente fazer efeito. Muitas vezes o vínculo 
do amor entre a criança e seus pais é interrompido pelo fato dos pais viverem 
em conflito. A paz entre os pais fortalece o vínculo entre eles e também com a 
criança, porque uma criança é os seus pais. “os filhos não somente tem os seus 
pais, como são os seus pais” (HELLINGER, 2008, p. 33). 
Por isso o relacionamento dos pais tem precedência. Quando a mãe diz “eu 
cuido dos meus filhos”, se isso é real nós ouviremos “eu respeito e honro , eu 
cuido, eu zelo do meu relacionamento com o pai dessa criança”. E quando o 
pai diz “eu cuido dos meus filhos”, nós ouviremos o mesmo “eu honro, eu 
zelo, eu respeito o meu relacionamento com a mãe deles”. E isso não tem nada 
a ver com o estado civil deles. Uma criança cujos pais não mais vivem juntos 
conjugalmente, porém se respeitam e estão em paz, experimentará um “estado 
de alma” diferente daquela cujos pais estão em conflito. 
O QUE SENTEM OS FILHOS? 
PARA COMPREENDERMOS melhor, imaginemos e façamos um paralelo: o 
que sente um filho que percebe que entre seu pai e sua mãe há honra e respeito 
e o que sente outro filho diante de uma briga real entre seus pais - ele irá 
procurar fazer alguma coisa, qualquer coisa, gritar com seus pais pedindo que 
parem, chamar o vizinho, chorar, ficar desesperado... o que mais? Qual é seu 
“estado de alma”? 
Sem chance para a serenidade e toda condição necessária para tocar a vida de 
modo normal, estudando, vivendo de modo saudável, etc. No aparente pode 
estar tudo bem, porém , além do aparente, há um “estado de guerra”, um 
conflito sério. No coração do pai, a mãe não tem um bom lugar e vice -versa. 
No aparente, “um não quer enxergar o outro nem pintado de ouro”, porém no 
filho, estão juntos. 
E o filho fará tudo para que a paz se faça, porém, como é um processo além 
do aparente, o “trabalho” do filho pelos pais se manifesta em atitudes deste 
que trarão mais infelicidade, sofrimento, dor. Um filho com problemas está 
trabalhando para seus pais, para seu sistema. Enquanto não houver a 
reabilitação da honra e do respeito, isto é, a reconciliação, não haverá paz. 
 
CAPÍTULO VII 
COM QUEM A CRIANÇA DEVE FICAR OU ALGO SOBRE 
ALIENAÇÃO PARENTAL 
 
Quem critica o pai, ofende a criança; 
quem desqualifica a mãe, fere o filho. 
 
“Pai 
Me perdoa essa insegurança 
É que eu não sou mais aquela criança 
Que um dia morrendo de medo 
Nos seus braços você fez segredo 
Nos seus passos você foi mais eu 
Pai 
Eu cresci e não houve outro jeito 
(...) 
Longos anos em busca de paz” 
Fábio Júnior, “Pai” 
 
Se uma criança convive com pais que se criticam enquanto pessoas, sua energia 
é destinada para se proteger, comprometendo seu desenvolvimento, seu 
sucesso, felicidade e saúde. 
Quem não respeita o destino do outro, não é reconhecido como alguém que 
inspire confiança o suficiente para ser um aliado. 
Portanto, a criança deve permanecer próxima à figura parental que honra o 
relacionamento e respeita a outra figura parental. 
Em um tribunal seria perguntado à criança: “quem respeita mais um ao outro?”. 
Seria observado quem honra mais, quem está menos ressentido, mais 
reconciliado e esta criança seria orientada a permanecer mais próxima a esse 
pai/mãe. Aqui não nos referimos à “guarda” no sentido jurídico, mas aquele 
que tem mais condições de ser o “guardião” do bom desenvolvimento da 
criança. 
Um relacionamento só pode dar certo quando um cônjuge diz ao outro “eu 
tomo você e tudo o que une a mim e a você, inclusive seus pais e sua família 
de origem, eu concordo com isso, eu te tomo”. As maiores bênçãos fluem dos 
pais para os filhos, quando cada um dos cônjuges: 
1. Concorda com o seu destino — seja o filho inteligente, bem humorado, 
irritado ou desinteressado. 
2. Respeita mãe e pai do jeito que são. Por meio de sua vida, este cônjuge 
também honra seus pais e mantém-se pertencente ao seu sistema. 
3. Sabe que o filho não é seu, que o filho é “o pai e a mãe”. Coisas nos 
pertencem, pessoas não. 
4. Cuida da própria felicidade. Os filhos sentem que têm permissão para a 
alegria, a saúde e a prosperidade quando os pais são bem sucedidos, saudáveis 
e felizes. 
MEU FILHO OU NOSSO FILHO? 
UM PRINCÍPIO importantíssimo dentro de um sistema é o da alteridade. O 
que é alteridade? Alteridade é um substantivo feminino que expressa a 
qualidade ou o estado do que é outro ou do que é diferente.
É antônimo de 
identidade (do que é idêntico). Em Filosofia tem o sentido de circunstância, 
condição ou característica que se desenvolve por relações de diferença, de 
contraste. 
Assim, a alteridade fala da necessária presença do outro para a construção do 
“eu”, ou seja, o “eu”, na sua forma individual, só pode existir por meio de um 
contato com o “outro”; o indivíduo é resultado de suas relações com o outro e 
das interações sociais, ou seja, as relações sociais produzem em cada indivíduo, 
alterações que o caracterizam como pertencente a determinado sistema, a 
determinada cultura. 
Neste sentido, a alteridade no sistema prevê que nenhum elemento se sobrepõe 
ao outro, porque cada indivíduo se reconhece como tal por causa desse 
“outro”. E a interdependência prevê que uma mudança ocorr ida em um 
elemento, afeta todo o sistema e, portanto, todos os demais elementos. 
Por isso que não faz sentido os pais dizerem “meu filho”, pois esse filho só foi 
possível por causa do outro. O adequado é dizer “nosso filho”, pois assim o 
outro é reconhecido e o princípio da honra é atendido. 
 
CAPÍTULO VIII 
O RELACIONAMENTO CONJUGAL INFLUENCIANDO O 
RELACIONAMENTO COM OS FILHOS 
 
- Uma criança é seu pai e sua mãe e algo mais. - 
 
Um cônjuge não deveria ter a pretensão de mudar o outro; isso é o que o faz 
ruir qualquer relacionamento. 
Quando queremos mudar alguém, significa que pensamos que esta pessoa é 
errada. Entretanto, isso desonra a família a que pertence. Ao criticar, ao querer 
mudar, desonra a família de origem de seu parceiro. O cônjuge jamais pode 
mudar, porque mudar significaria perder a dignidade, significaria separar -se de 
sua família de origem, significa deixar de ser, de fazer a tarefa que lhe é 
designada para que pertença (pobre, doente ou infeliz). Nunca deixamos de ser 
leais, porque lealdade significa pertencimento. 
Não existe exercício espiritual maior do que casar-se e ter os seus filhos. Quem 
tem um relacionamento conjugal, tem mais. Mais desafios, mais aprendizados, 
mais oportunidades, mais. Um solteiro tem sempre menos, menos um pouco. 
E um casal que tem filhos, tem ainda muito mais, muito mais força. Uma pessoa 
que tem filhos é mais, serve mais, oferece mais e então recebe mais. Uma cliente 
disse certa vez: “meu orçamento era tão apertado, eu nunca imaginava que seria 
suficiente para mais nada. Entretanto, quando nosso filho nasceu, o milagre 
veio: o dinheiro era mais que suficiente para mim, era suficiente para nós dois. 
Parece existir um tipo de providência divina que vem junto com nossos filhos 
que provê a nós, pais, do que é necessário para ampará-los e servi-los.” 
OS SINTOMAS, os sofrimentos pedem sempre uma reconciliação, uma 
reconciliação com os pais e tudo o que isso significa. 
Então quando um cônjuge toma o outro, ele precisa estar reconciliado com os 
próprios pais para tomar as bênçãos deles e tomar o outro com os seus próprios 
pais. Por isso está escrito “deixará o homem seu pai e sua mãe e unir -se-á à sua 
mulher” (Mc 10:7). Aqui sabemos que deixar significa liberar -se dos 
julgamentos, significa crescer, significa parar de implicar, significa esperar, 
significa criar o novo. Porque só quem deixa pode tomar. 
Deixar não quer dizer abandonar os pais - uma atitude de profunda desonra - 
ou libertar-se deles - um ato impossível, pois um filho só existe por causa de 
seus pais. Deixar pai e mãe significa simplesmente considerar um ciclo 
relacional completo - o período vivido na família de origem - para iniciar outro 
- a própria família. Este ato altera todo o sistema, pois novas conexões serão 
formadas. O novo casal conectará dois sistemas familiares diferentes que 
partilharão os destinos, que influenciarão as histórias que começam a ser 
escritas a partir de então. Por isso, em certo sentido está certo quando se diz: 
“você não se casa apenas com seu cônjuge, mas com toda a família”. 
O sucesso em um relacionamento conjugal depende exclusivamente de tomar 
os próprios pais, ou seja, tomar o essencial deles - a vida que fluiu deles para 
formar você. Depende de crescer, tornar-se adulto, assumir a condição de 
responsabilizar-se pela própria vida: “Se algo me faltou, agora eu faço.” 
Compreender que os pais, antes de tudo são humanos e estão, assim como os 
filhos, a serviço do destino de seus sistemas. 
Geralmente é o inverso disso que acontece: “Eles não me deram amor, atenção, 
tempo e segurança, então agora você me dá.” Ninguém pode dar a alguém o 
que os pais deveriam dar, a não ser a própria pessoa. Só ela tem acesso aos seus 
pais. Quando ouvimos “você tem que se libertar dos seus pais”, deveríamos 
apagar a frase. Dizer isto é o mesmo que dizer: “arranque o seu braço que este 
reumatismo não vai mais lhe incomodar.” Todo o nosso ser reage de modo 
rápido e preciso perante uma incoerência desta. Por mais que se reclame dos 
pais, os filhos amam os seus pais e precisam deles. 
Naturalmente percebemos na alma uma sensação de culpa, necessidade de nos 
afastarmos de quem os critica e, se temos alguma liberdade com essa pessoa, 
entramos em conflito com ela. Por isso, muitos cônjuges têm conflito, porque 
um diz ao outro: “Faça melhor, capriche. Como você é descuidado! Nossa... 
você é igualzinho seu pai!” Deste modo, nem um e nem outro ficam livres para 
ser o algo mais. Somos o pai, a mãe e algo mais, nesta ordem. Enquanto não 
tomamos o pai e a mãe, enquanto não os honramos, não podemos ser o algo 
mais. A depressão é um vazio, vazio do pai ou da mãe e do algo mais. 
Um relacionamento conjugal proporciona a oportunidade do exercício do amor 
do coração, do querer bem ao outro, incondicionalmente, pelo que é e dedicar -
se à felicidade do outro porque se é feliz. Hellinger disse certa vez: anote vinte 
pecados que você desculparia, multiplique por três e aumente mais alguns. 
Assim, irá verdadeiramente usufruir e ter felicidade em seu relacionamento. 
O maior espelho é o outro: o que admiramos ou o que não gostamos mostra 
muito mais quem somos do que aquilo que o outro é. Oportunidades de 
crescimento. Decidir por conhecer-se, cuidar do outro, realizar um propósito, 
caminhar lado a lado, só é possível para adultos. Numa sociedade infantilizada, 
onde o prazer está em primeiro lugar e a cultura do descarte rápido cada vez 
mais vigente, as pessoas são privadas desta oportunidade maravilhosa de uma 
vida de companheirismo, de prazer, de crescimento, respeito e maturidade. 
Jirina Prekov também nos convidou, em um seminário, a refletir sobre este 
tema: qual a maior fome de um ser humano? E nos fez perceber que nossa 
maior fome é a de sermos aceitos exatamente pelo que somos. Que somos 
suficientes, que não seremos abandonados apesar de não sermos perfeitos. 
Em uma cerimônia de casamento, digo sempre, a única exigência deveria ser: 
todos descalços. Principalmente os noivos. Porque, para uma vida conjugal 
suficientemente feliz, se faz necessário considerar que o destino do outro é 
sagrado. Que uma relação pressupõe cuidado, sensibilidade, ternura, rigor. A 
história, a vida de uma pessoa é construída a um preço que não é possível 
descrever. Por isto, diante do outro, reverência. Sem julgamento, sem orgulho, 
sem salto alto. Humildade. Assim é possível prosseguir. 
O amor não é romântico. 
O amor é exigente. 
As frases numa cerimônia seriam: 
“Eu tomo a você e tudo o que une a mim a você.” 
“Concordo com seus pais, seus hábitos, características, comportamentos, 
destino, antepassados, futuro. Concordo e honro.” 
E o relacionamento só será bem sucedido se estas frases puderem ser ditas com 
toda verdade, de todo o coração. As separações tantas vezes vivenciadas com 
tanta dor, aconteceram e acontecem pela ausência do compromisso mútuo com 
a verdade destas declarações, as quais, ainda que não tenham sido proferidas, 
são princípios que sustentam qualquer relacionamento conjugal. 
 
CAPÍTULO IX 
SINTOMAS E DOENÇAS - O QUE CURA E O QUE FAZ 
ADOECER 
 
Um sintoma é um caminho.

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