Prévia do material em texto
LOUREIRO, Maria Rita; OLIVEIRA, Cecília; MARTES, Cecília. Burocratas, partidos e grupos de interesse: o debate sobre política e burocracia no Brasil. In: LOUREIRO, Maria Rita; ABRÚCIO, Luiz Fernando; PACHECO, Regina Sílvia. Burocracia e política no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2010. Cap. 2. ''Os burocratas têm participado ativamente dos processos decisórios nas democracias contemporâneas'' (p.76). A política como um todo torna-se cada vez mais burocrática e os processos decisórios acerca da implementação de políticas públicas, cada vez mais voltado para um Estado fortemente institucionalizado. O poder dado a um burocrata só existe porque há respaldo político de atores políticos que o sustentam, assim como a existência de recursos para execução de suas atividades e o conhecimento técnico que for adquirido. Assim, há uma forte interdependência entre burocratas, instituições e atores políticos. A análise feita sobre a atuação dos burocratas, num primeiro momento, leva em conta que o Estado não possui autonomia plena em relação às classes sociais que se mostram heterogêneas, e nem as forças políticas, isso faz com que os interesses também se façam heterogêneos e, assim, as forças de influência se façam brandas e dissipadas, havendo uma forte necessidade de uma institucionalização para que a burguesia possa expressar seus interesses diante do governo federal aparentando políticas de interesse e cunho social. O fortalecimento de tais órgãos da administração pública, como o aumento da sua capacidade de intervenção e regulação administrativa aumentam a autonomia da atuação do Estado. Já num segundo momento da história do Brasil, o poder do Estado passa a derivar das decisões estratégicas dos atores políticos que ocupam cargos de confiança e se baseiam nas decisões tomadas pelos chefes do Poder Executivo, garantindo que sua influência esteja assegurada. As características que moldam o sistema brasileiro, como o presidencialismo, o federalismo, assim como o multipartidarismo configuram o chamado presidencialismo de coalizão, o que exige de um presidente diversas alianças (coalizões) com outros partidos para que possa, assim, governar e impor seus interesses. Tal necessidade de negociação entre o poder Executivo e o Congresso para que haja um nível mínimo de governabilidade nos faz entender como o papel da burocracia molda os processos decisórios dentro da política brasileira, não só porque é a base do exercício governativo e de execução e formulação de políticas públicas, mas também é como moeda de troca entre as coalizões e os partidos. No texto, os autores associam tal processo ao clientelismo, por se tratar de uma lógica de nomeação de cargos públicos administrativos em troca de influências, poder e apoio. Dessa maneira, o presidente deve encontrar estratégias de negociação com os partidos para que não haja defesa somente dos interesses dos burocratas frente a administração, posto que isso anularia a governabilidade do presidente, assim como a falta de apoio por parte destes. Assim, depreende-se que o poder dos burocratas foi concedido por atores políticos para que reforcem suas decisões nas instituições burocráticas específicas e, a partir da unificação dos grupos políticos, sejam eles partidos ou grupos de interesses, todos os atores sejam indissociáveis e dependam dessa dinamicidade de influências e cooperação para que não haja uma fraqueza governamental, seja na formulação e implementação de políticas públicas, seja na atuação política como um todo.