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2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 01 3 O pensamento filosóficoAutor: Richard Garcia Amorim 02 15 A origem da FilosofiaAutor: Richard Garcia Amorim FI LO SO FI A 11Editora Bernoulli Ao contrário, o filósofo acredita que não sabe nada, isto é, reconhece que tudo o que sabe pode ser transitório; que as verdades alcançadas não são últimas e que seu conhecimento é ínfimo diante de tudo o que há para conhecer. Por isso, sua postura é de abertura, de investigação, de busca constante da verdade, mesmo que não a encontre nunca. Isto é ser filósofo: reconhecer sua própria limitação, sua ignorância frente a tudo o que há para ser conhecido e buscar incessantemente o conhecimento da verdade. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Redija um texto justificando a seguinte afirmação: “Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do mundo.” MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes. 1999. p. 608. 02. A partir de seus conhecimentos, explique a seguinte afirmação: o homem é o único ser que vive em um mundo aberto. 03. “[...] a filosofia não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão à força da razão e não à razão da força.” SAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Tradução de Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 2. A partir desse trecho, justifique por que a Filosofia se baseia na “força da razão e não na razão da força”. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. o homem não passa de um caniço, o mais frágil da natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para esmagá-lo; um vapor, uma gota d’água é suficiente para matá-lo. Mas quando o universo o esmagar, o homem será ainda mais nobre do que aquele que o mata, porque ele sabe que morre e o universo não tem nenhum conhecimento da vantagem que leva sobre ele. Toda a nossa dignidade consiste, pois, no pensamento. É nele que devemos nos revelar e não no espaço e no tempo que não sabemos como ocupar. Trabalhemos para bem pensar [...] PASCAL, Blaise. Pensamentos. Tradução de Sérgio Millet. São Paulo: Abril Cultural, 1979. A partir do trecho, Redija um texto respondendo à seguinte pergunta: o que é o homem? 02. explique por que, no caso das meninas-lobo, elas, mesmo que de forma parcial, foram capazes de se adaptar ao mundo humano. Algum outro animal teria a mesma capacidade? justifique sua resposta. 03. [...] o homem não aperfeiçoou seu equipamento hereditário através de modificações corporais perceptíveis em seu esqueleto. Não obstante, pôde ajustar-se a um número maior de ambientes do que qualquer outra criatura [...] Nos trens e carros que constrói, pode superar a mais rápida lebre ou avestruz. Nos aviões, pode subir mais alto que a águia, e, com os telescópios, ver mais longe que o gavião. Com armas de fogo, pode derrubar animais que nem o tigre ousa atacar. CHILDE, V. Gordon. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966. p. 40-41. De acordo com o fragmento do texto, explique as diferenças fundamentais entre os homens e os animais e como os homens podem superar suas determinações físicas naturais. 04. explique a seguinte citação de Freud: “[...] Mas o natural instinto agressivo do homem, a hostilidade de cada um contra todos e a de todos contra cada um, se opõe a esse programa da civilização.” 05. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho, obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. MARX, Karl. O Capital. São Paulo: Nova Cultural, 1985, V. I, p. 149-150. De acordo com o texto de Marx, explique por que somente o homem pode trabalhar. 06. explique, com suas palavras, os vários significados da palavra filosofia e justifique por que somente um deles se enquadra no conceito de filosofia tal como a estudamos. O pensamento filosófico 12 Coleção Estudo 07. (UFMG / Adaptado) Leia o texto. Dos deuses nenhum filosofa, nem deseja tornar-se sábio, pois o é; nem se algum outro é sábio, não filosofa. Nem, por sua vez, os ignorantes filosofam ou desejam tornar-se sábios. Pois é isto mesmo que é difícil com relação à ignorância: aquele que não é nem belo nem bom nem sábio considera sê-lo o suficiente. Aquele que não se considera ser desprovido de algo não deseja aquilo de que não acredita precisar. PLATÃO. Banquete, 204A1-7. identifique e explique as duas atitudes em relação à sabedoria descritas nesse texto. 08. A citação socrática “Só sei que nada sei” representa a verdadeira atitude filosófica. explique, de acordo com o estudado, por que o princípio da verdadeira filosofia é o reconhecimento da própria ignorância. SEÇÃO ENEM 01. Leia o texto a seguir: Em seu pequeno e brilhante livro Introdução à Filosofia, Jaspers insiste na idéia de que a essência da filosofia é a procura do saber e não a sua posse. Todavia, ela ‘se trai a si mesma quando degenera em dogmatismo, isto é, num saber posto em fórmula, definitivo, completo. Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas, e cada resposta transforma-se numa nova pergunta’. Há, então, na pesquisa filosófica uma humildade autêntica que se opõe ao orgulhoso dogmatismo do fanático: o fanático está certo de possuir a verdade. Assim sendo, ele não tem mais necessidade de pesquisar e sucumbe à tentação de impor sua verdade a outrem. Acreditando estar com a verdade, ele não tem mais o cuidado de se tornar verdadeiro; a verdade é seu bem, sua propriedade, enquanto para o filósofo é uma exigência. No caso do fanático, a busca da verdade degradou-se na ilusão da posse de uma certeza. Ele se acredita o proprietário da certeza, ao passo que o filósofo esforça-se por ser peregrino da verdade. A humildade filosófica consiste em dizer que a verdade não pertence mais a mim que a ti, mas que ela está diante de nós. Assim, a consciência filosófica não é uma consciência GAbARITO Fixação 01. O homem é resultado de uma junção de características herdadas biologicamente de sua espécie e de características adquiridas através da cultura. Dessa forma, ao contrário dos animais que nascem somente no mundo, e por isso são determinados por sua herança biológica inalterável, o homem, ao nascer do mundo, não é mais determinado exclusivamente pelos limites biológicos. Assim, o homem se autoconstrói, uma vez que será fruto daquilo que aprender de sua cultura de forma passiva e também ativa. Por isso, os homens seguem padrões morais distintos e são tão diferentes entre si no modo de falar, agir, sentir, etc. feliz, satisfeita com a posse de um saber absoluto, nem uma consciência infeliz, presa das torturas de um ceticismo irremediável. Ela é uma consciência inquieta, insatisfeita com o que possui, mas à procura de uma verdade para a qual se sente talhada. HUISMAN, Denis; VERGEZ, A. Ação. 2. ed. São Paulo: Freitas Bastos, 1966, v. 1, p. 24. A palavra filosofia é resultado da composição, em grego, de duas outras: philo e sophia. A partir do sentido dessa composição e das características históricas que tornaram seu uso possível, tal palavra indica A) que o homem não possui um saber, mas o deseja, procurando a verdade por meio da observação das coisas, da natureza e do homem.B) que qualquer homem pode ser incluído na lista dos filósofos, pois todos são dotados de um saber prático, o que lhe concede sabedoria para agir de forma correta. C) a posse de um saber divino e pleno, tornando os homens portadores de um conhecimento quase divino. D) que Filosofia é um saber técnico, possibilitando, pela posse ou não de uma habilidade, tornar alguns homens melhores do que outros. E) que a Filosofia, em sua essência, significa a atitude daquele que tem consciência de que sabe pouco e acredita que suas investigações o levarão à verdade completa sobre as causas e origem de todas as coisas. Frente A Módulo 01 FI LO SO FI A 13Editora Bernoulli 02. Viver em um mundo aberto, segundo o estudo sobre antropologia filosófica, significa dizer que o homem é o único “ser de possibilidades” e que é indeterminado. Os animais irracionais são seres que vivem em um mundo fechado, pois não têm outras possibilidades na medida em que são resultado única e exclusivamente das determinações da natureza. Não podem alterar um modo de viver nem tão pouco mudar os instintos e comportamentos de sua espécie. Por isso, vivem em um mundo fechado. O homem, ao contrário, pode superar suas determinações naturais utilizando sua inteligência, construindo para si aquilo que lhe falta naturalmente. Assim, viver em um mundo aberto significa viver de forma a poder se autodeterminar, o que em Filosofia representa a verdadeira liberdade. O homem adapta a natureza a si enquanto os animais irracionais simplesmente se adaptam à natureza. 03. O discurso filosófico se caracteriza fundamentalmente pela argumentação lógica e coerente. O que se pretende na discussão filosófica é que o argumento, a racionalidade, supere a força física ou da autoridade. Dessa forma, se em outras dimensões da vida humana o poder, a hierarquia, o autoritarismo e a força de quem manda ou exerce poder superam o pensamento, a razoabilidade, na Filosofia o que vale, o que vence é o poder, a força, a autoridade do argumento bem elaborado e inteligivelmente possível e entendido por todos. A razão é que exerce seu poder, fazendo dos homens iguais enquanto seres inteligentes e dispostos a discutirem para que a própria razão opere e estabeleça a verdade. A razão da força, enquanto representante da lógica da autoridade e do mando, não serve absolutamente nada à Filosofia. Propostos 01. Segundo Pascal, o homem pode ser compreendido em duas perspectivas: se por um lado é um dos mais frágeis seres da natureza, uma vez que uma simples gota-d’água é suficiente para matá-lo, ou seja, diante dos fenômenos naturais ele pouco ou nada pode fazer, por outro lado é um ser pensante, o que lhe dá toda dignidade e o eleva ao patamar de um ser superior. O pensamento, a razão é a característica humana mais elevada, que torna possível superar toda sua limitação e ter consciência do que faz, de planejar o futuro a partir do que foi vivido no passado. Então, apesar de ser um caniço, o homem é um caniço pensante. E por mais que tenha limitações e fragilidades que o fazem pequeno diante das forças da natureza, ele sabe que é fraco, o que torna possível, inclusive, pensar e criar alternativas e instrumentos que possam torná-lo maior e mais forte do que praticamente todos os outros seres da natureza. 02. O caso das meninas-lobo é curioso e emblemático, demonstrando com clareza as características que fazem dos seres humanos seres únicos e excepcionais. Qualquer outro animal, se levado ainda nos primeiros dias de vida para junto de outros animais que não sejam de sua espécie, não se adaptariam ao seu modo de viver. Se um cachorro crescesse junto a gatos, não significa, absolutamente, que ele adotaria os hábitos e instintos próprios dos gatos. No caso do ser humano é diferente. As meninas, criadas no meio de lobos, tomaram para si os hábitos e maneiras próprias desses seres. Uivavam, comiam carne crua, andavam sobre pés e mãos. Somente o homem, por sua capacidade de se adaptar advinda de seu pensamento, enfim, por ser também fruto da cultura, pode adquirir tais hábitos. As meninas somente se tornaram semelhantes aos lobos e depois puderam passar por um processo de humanização graças à capacidade única do ser humano de pensar e adquirir novos hábitos. Isso significa, claramente, que nós não somos determinados por nossa natureza, apesar de a termos como os outros animais. 03. O texto de Gordon Childe trata, especificamente, da diferença fundamental entre homens e animais: a capacidade elaborada de pensamento, exclusiva dos homens. Se os animais, condicionados por seus instintos já nascem prontos para a vida na natureza, possuindo garras, penas, pelo, força, etc., o homem, apesar de não possuir nenhuma dessas características naturais, pode superar suas limitações criando, pela adaptação da natureza às suas necessidades, objetos e instrumentos que atendam às suas demandas. Se não temos pelos suficientes que nos protejam do frio, podemos criar roupas que nos aquecem ainda mais que os pelos dos animais. Se o homem não tem a força do touro para realizar seus trabalhos, pode construir máquinas e outras ferramentas que substituam a força bruta do animal. Dessa forma, ao adaptar a natureza às suas necessidades, o homem torna-se criador e criatura, superando suas limitações e transformando o mundo natural segundo suas necessidades. O pensamento filosófico 14 Coleção Estudo 04. O que Freud constata é que o homem é formado por características naturais e culturais que interagem entre si, e muitas vezes essas características naturais não são facilmente controláveis. Segundo Freud, o id representa as forças primitivas e mais íntimas do homem em busca do prazer e da satisfação dos instintos e deveria ser adequadamente administrado pelo ego, representante do eu, da consciência psíquica. Porém, o id não se apresenta como algo facilmente controlado. Pelo contrário, esses instintos, parte integrante da natureza humana, protestam contra o “programa de civilização”. Assim, a tentativa de controle, por meio da razão, da natureza humana e de adequação desta àquilo que se pretende correto e justo é tarefa demasiado difícil e em alguns casos mesmo impossível. 05. Os animais, por mais que realizem tarefas, algumas consideradas obras incríveis, devido a sua beleza e minúcia, não trabalham. Isso porque, por mais perfeito que seja um ninho de pássaro ou uma colmeia de abelhas, tais objetos não são pensados antes de serem executados, ou seja, os animais os constroem seguindo seus instintos e sem nenhuma consciência de finalidade. Eles não trabalham, mas somente realizam tarefas de antemão determinadas pela sua natureza. O homem trabalha, considerando que possui a capacidade de planejar o que será realizado e por ter consciência do porquê está fazendo determinada atividade, de qual a finalidade do feito. O trabalho é caracterizado, dessa forma, pela interferência do homem na natureza com o objetivo de construir alguma coisa que o auxiliará no desafio da própria existência. Assim, compreendemos a afirmação feita por Max de que o pior arquiteto é ainda superior à melhor abelha, pois esta não sabe por que faz, simplesmente obedece cegamente a seus instintos, aquele, por pior que faça, constrói o que de antemão já existia em sua mente. 06. A filosofia pode ser entendida como modo de viver ou sabedoria de vida, assumindo um caráter pessoal. É a maneira que um indivíduo particular tem de ver o mundo e de se portar diante das situações. Também se pode compreendê-la como pensamento ou origem das ideias, o que significa que a filosofia é vista como o simples ato de pensar, o que se percebe quando alguém afirma “estar filosofando”. Porém, o modo que corresponde ao conceito de filosofiatal como estamos estudando se refere à busca da verdade e fundamentação teórica sobre o homem e o mundo. O que significa que a filosofia busca através da análise, da crítica, do questionamento, da reflexão, a própria verdade sobre o homem, sobre a sociedade, sobre o pensamento, enfim, sobre tudo o que pode ser pensado e que diz respeito à vida humana. 07. atitude 1: A atitude dos deuses que não filosofam, pois já são sábios e por isso não necessitam buscar o conhecimento. Se entendemos a filosofia como caminho para o conhecimento, aqueles que já o possuem não necessitam da filosofia, uma vez que não têm o que buscar. atitude 2: A atitude dos ignorantes que não filosofam, pois acreditam já possuir o conhecimento sem o tê-lo de fato. Tal como os deuses, os ignorantes não buscam o conhecimento. Porém, diferente dos deuses, os ignorantes acreditam ter o conhecimento, mas não o possuem. Segundo Platão, esse é o pior estado em que o homem pode se encontrar: acreditar ser sábio, sendo tão somente um ignorante, e por isso não se dedicar à Filosofia por achar que não lhe falta nada. 08. A Filosofia é antes de mais nada uma atitude. Atitude daquele que reconhece que não sabe e por isso se põe a investigar, criticar, questionar todas as coisas em busca de respostas que se apresentem ao homem coerentes e inteligíveis. Entendida dessa maneira, a Filosofia exige do filósofo a atitude de abertura, de busca, de reconhecimento de que o conhecimento é inesgotável e por mais que se tenha algum saber, esse saber é pouco em relação a tudo o que há para se conhecer. Podemos dizer que a afirmação “só sei que nada sei” de Sócrates é a encarnação da própria Filosofia: ao reconhecer que não sabe nada, o filósofo se dedica ao exercício do saber, busca conhecer. Se ao contrário, o sujeito acredita saber tudo, ele se fecha à possibilidade do conhecimento e não pode conhecer mais nada. Seção Enem 01. A Frente A Módulo 01 FI LO SO FI A 25Editora Bernoulli não divisível, a menor parte das coisas que não se pode dividir em outras partes. Os átomos são partículas infi nitas e invisíveis que compõem os objetos materiais e dão origem aos fenômenos observados e ao movimento de transformação dos seres. eMpÉdOCles (cerca de 490-435 a.C.) A um dado momento, do Uno saiu o Múltiplo. Por divisão – fogo, água, terra e ar altaneiros; e o Uno se formou do Múltiplo. Ódio, temível, de peso igual a cada um, e o Amor entre eles. SIMPLÍCIO. Física, 157. Natural de Agrigento, na Sicília, Empédocles é conhecido por ser um político, poeta, dramaturgo, homem de ciência, médico e cosmólogo, místico e inventor da eloquência. Por combater a tirania em Agrigento, foi expulso da cidade e perambulou errante por toda a Grécia. Parece que morreu na guerra de Peloponeso (Atenas contra Esparta), mesmo que a lenda diga que morreu ao se atirar no vulcão Etna para provar que era imortal ou um deus. Escreveu dois poemas: Sobre a Natureza e Purifi cações. Sua fi losofi a: ao contrário de alguns pré-socráticos que buscavam um único princípio das coisas, Empédocles defenderá que são os quatro elementos, fogo, terra, água e ar que constituem o universo, ou seja, que a Arché da natureza são os quatro elementos que se unem e se separam, formando os diversos seres da natureza, porém em proporções diferentes em cada ser. Esses quatro elementos são separados e unidos pelo ódio, que busca a diferença, e pelo amor, que faz reunir as semelhanças, ou seja, pelo amor os elementos se unem e pelo ódio os seres se separam. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. explique, com suas palavras, a seguinte afi rmação: a Filosofi a é fi lha da Pólis. 02. O logos, sendo uma argumentação, pretende convencer. O logos é verdadeiro, no caso de ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla secreta (sofi sma). [...] O mito, assim, atrai em torno de si toda parcela do irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é aparentado à arte, em todas as suas criações GRIMAL, Pierre. A mitologia grega. 3ª edição. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 8-9. Redija um texto diferenciando a racionalidade do logos e a irracionalidade do mito de acordo com o trecho anterior. 03. De acordo com o estudado, faça um quadro comparativo diferenciando as características do mito das características da Filosofi a. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. explique as hipóteses do “Milagre grego” e do orientalismo para o nascimento da Filosofi a e justifique por que ambas não são corretas. 02. Entre as transformações históricas ocorridas na Grécia dos séculos VII e VI a.C., uma das principais está relacionada às navegações marítimas. explique sua importância para o nascimento da fi losofi a. 03. O mito é o nada que é tudo. O mesmo sol que abre os céus É um mito brilhante e mudo. Fernando Pessoa Durante muitos anos, os mitos marcaram a vida dos gregos e seus modos de ver e interagir com o mundo ou a physis. Redija um texto explicando o que representavam os mitos para a cultura grega e suas diferenças em relação à Filosofi a. 04. O mito é uma forma autônoma de pensamento e de vida. Nesse sentido, a validade e a função do mito não são secundárias e subordinadas em relação ao conhecimento racional, mas originárias e primárias, situando-se num plano diferente do plano do intelecto, porém dotado de igual dignidade [...] MITO. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. De acordo com a defi nição anterior, explique por que o conhecimento mítico tem a mesma dignidade do conhecimento fi losófi co. 05. Na Antigüidade clássica, o mito é considerado um produto inferior ou deformado da atividade intelectual. A ele era atribuída, no máximo, “verossimilhança”, enquanto a ‘verdade’ pertencia aos produtos genuínos do intelecto. Esse foi o ponto de vista de Platão e de Aristóteles. Platão contrapõe o mito à verdade ou à narrativa verdadeira (Górg., 523 a), mas ao mesmo tempo atribui-lhe verossimilhança, o que, em certos campos, é a única validade a que o discurso humano pode aspirar (Tini., 29 d) e, em outros, expressa o que de melhor e mais verdadeiro se pode encontrar (Górg., 527 a). Também para Platão o M. constitui a “via humana mais curta” para a persuasão [...] MITO. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. explique por que, segundo essa defi nição, o mito é considerado mentira para pensadores como Platão e Aristóteles. Você concorda com esta posição? justifique sua resposta. A origem da Filosofia 26 Coleção Estudo 06. Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade. OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24. A partir do trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, Redija um texto explicando a “guinada de atitude” representada pelos pré-socráticos. 07. “Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser. E nada não é”. Sobre a Natureza, vv. 3; 6. “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio não é mais o mesmo”. PLUTARCO. Coriolano, 18 p. 392 B. Os fragmentos anteriores se referem ao pensamento dos dois mais importantes pré-socráticos, Parmênides e Heráclito. De acordo com o estudado, faça uma relação entre a filosofia desses dois pensadores da physis, estabelecendo as semelhanças e as diferenças entre eles. 08. Redija um texto explicando o objetivo da filosofia pré- socrática e o que buscava encontrar para explicar a origem do universo. SEÇÃO ENEM 01. (Enem–2010) QuandoÉdipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evitá-la, ordenaram a um criado que matasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses que morava longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto. Saiu então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da Grécia, encontrou-se com Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada. Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro pai. Continuou a viagem até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia. Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em: 28 ago. 2010 (Adaptação). No mito Édipo Rei, são dignos de destaque os temas do destino e do determinismo. Ambos são características do mito grego e abordam a relação entre liberdade humana e providência divina. A expressão filosófica que toma como pressuposta a tese do determinismo é: A) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.” Jean Paul Sartre B) “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.” Santo Agostinho C) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Arthur Schopenhauer D) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo”. Michel Foucault E) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança” Friedrich Nietzsche GAbARITO Fixação 1. A Filosofia, entendida como uma atitude e um tipo de conhecimento caracterizado pela busca do saber por meio da razão, surgiu como consequência das transformações históricas ocorridas na Grécia dos séculos VII e VI a.C. Pode-se dizer que a Filosofia foi fruto das condições históricas, políticas e sociais da Grécia desse tempo, opondo-se às teses do orientalismo e do “milagre Grego”, que diziam, respectivamente, que a Filosofia surgiu por influências dos povos orientais, anteriores aos gregos, ou que a Filosofia surgiu como um fato inesperado e miraculoso. As viagens marítimas, a criação do calendário, o surgimento da vida urbana, a criação da escrita alfabética, o surgimento da política com a formação da Pólis, governada democraticamente pelos cidadãos e guiada pela vontade dos homens e não pela vontade dos deuses entre outras condições contribuíram decisivamente para o aparecimento da Filosofia. Sem tais condições, poderíamos afirmar que seria impossível que este modo de investigar o mundo e os homens viesse a existir. Dessa forma, a Filosofia é filha da Pólis, pois foi na cidade, incluindo nela todos esses avanços e mudanças, que a Filosofia surge como forma sublime de busca do conhecimento. 2. O logos filosófico é caracterizado por sua ligação intrínseca com a coerência do pensamento e a rigidez dos argumentos. Dentro da Filosofia não há espaço, em sua argumentação, para o erro lógico e a contradição. Pelo contrário, um Frente A Módulo 02 FI LO SO FI A 27Editora Bernoulli discurso contraditório e que não siga as regras básicas do pensamento lógico é repreendido ou rejeitado, pois não atende aos requisitos básicos da racionalidade filosófica. A falsidade do discurso é verificada quando, por meio de argumentos aparentemente verdadeiros, mas falsos em sua essência, se pretende enganar o outro ou burlar a verdade, fazendo uma mentira passar por algo verdadeiro. Ao afirmar que o mito traz para si toda parcela do irracional existente, o autor afirma que o mito foge à racionalidade do logos filosófico, que exige coerência e não admite contradições. Entendido dessa forma, o mito é irracional, pois não tem compromisso com a coerência do discurso e dos argumentos lógicos. Mas há de se dizer que o mito tem sim uma racionalidade que se manifesta nas próprias histórias contadas, uma vez que são histórias pensadas e, não raras vezes, magnificamente escritas. Tal racionalidade mítica é diferente da racionalidade filosófica, mas também é uma forma racional de manifestação da criatividade e imaginação dos homens. 3. MitO filOsOfia Tem como fundamento a imaginação manifestada em discursos religiosos. Tem como fundamento a razão. Fictício, imaginário, histórias sem comprovação e que não se preocupam com uma lógica metodológica do discurso. Busca a formulação de explicações que seguem um rigor argumentativo lógico. Se não houver coerência, o discurso e o argumento são rejeitados. Baseia-se na fé / confiança daqueles que o recebem como discurso inquestionável, pois confiam em quem diz; pressupõe uma aceitação e adesão daqueles que o recebem. Baseia-se em formulações racionais e não é aceito pela autoridade de quem diz, mas sim na realidade do que é dito, ou seja, do argumento. Voltado para os sentimentos humanos. Voltada para a construção de argumentos lógico-científicos. Nasce da intuição do homem ou da sociedade que o constrói, é acrítico e muitas vezes se manifesta como forma ingênua de ver a realidade. Nasce da atitude crítica do homem diante da natureza e de si mesmo. Procura explicar a origem de todas as coisas e seu funcionamento por meio de explicações que tendem à totalidade. Procura explicações mais pro- fundas e pormenorizadas sobre o mundo e o homem, de forma a obter respostas provadas ou argumentativa- mente sustentadas. Aceita contradições em suas narrativas. Não aceita contradições em seus argumentos. Propostos 1. A hipótese do “milagre grego” diz que a Filosofia surgiu como algo inesperado e miraculoso, sem qualquer precedente na cultura de qualquer outro povo, inclusive dos gregos. Surgiu de forma absolutamente inexplicável. O orientalismo diz que a Filosofia só pôde nascer na Grécia devido às contribuições que os povos orientais deram aos gregos que, transformando-as, criaram a Filosofia. Apesar de reconhecermos que algumas contribuições dos povos orientais foram de fato utilizadas pelos gregos, estes deram um caráter qualitativo aos conhecimentos que antes eram somente quantitativos e práticos. Ambas as teorias, “milagre grego” e orientalismo não são corretas, uma vez que o que está na raiz da Filosofia, como fatores que possibilitaram seu nascimento, são as condições históricas, econômicas, sociais e culturais da Grécia dos séculos VII e VI a.C. que prepararam o “terreno fértil” para que surgisse essa atitude investigativa e crítica sobre o cosmos. 2. As navegações marítimas foram fundamentais para o nascimento da Filosofia, uma vez que por meio delas os gregos puderam verificar empiricamente que os mitos marítimos, sobre a existência de monstros que povoariam o mar, terras habitadas por deuses, abismos no horizonte não eram verdadeiros. Tais histórias, presentes no imaginário dos gregos, foram gradativamente perdendo sua força, e um dos principais motivos dessa transformação foram as viagens. Além disso, as viagens marítimas tiveram um papel importantíssimo no desenvolvimento do comércio entre os povos, o que contribuiu decisivamente para que houvesse uma troca de informações de povos diferentes, consequentemente levando à constatação de que as histórias míticas são muitas e variadas, levando também à constatação de que tais narrativas poderiam não ser verdades incontestáveis e absolutas. 3. A tradição mitológica diz respeito à tradição grega anterior aos séculos VII e VI a.C., quando nasce o pensamento filosófico. Esse modo de explicar o cosmos se caracteriza pela crença na divindade, aquela que rege e faz que tudo aconteça. As narrativas míticas representavam para os gregos a única verdade possível, tanto que eram indiscutíveis, como eram inquestionáveis também aqueles que os transmitiam, denominadospoetas rapsodos. O mito se baseia na fé / confiança daqueles que o recebem, uma vez que é a própria revelação dos deuses ao homem. O mito não necessita ser explicado à razão, ele encontra eco no imaginário de um povo, onde se fundam sua eficácia e força. Por outro lado, a Filosofia caracteriza-se pela racionalidade e necessidade de compreensão do que é dito. Não há mais a força da crença e da autoridade de quem diz, mas a força se estabelece naquilo que se diz, pois a ideia precisa ser clara à razão de todos. Um discurso racional, inteligível e não contraditório, baseado na reflexão, investigação e crítica. A origem da Filosofia 28 Coleção Estudo 4. Quando se fala de tipos ou modos de conhecimento não é possível apontar aqueles que são melhores e aqueles que ocupam a segunda ou terceira posição em relação à sua importância. Se a Filosofia se baseia na razão como forma de compreensão do mundo, o mito se funda na imaginação com os mesmos propósitos. Com isso, não é correto afirmar que a razão é mais importante que a imaginação, portanto, que a Filosofia é mais “correta” ou “verdadeira” que a mitologia. Trata-se de tipos ou modos de conhecimento distintos. Ambos têm igual dignidade e ocupam a mesma posição em relação à necessidade de conhecer do homem, diferenciando-se tão somente quanto à sua origem, método e características. 5. Para Platão e Aristóteles, o mito pode ser considerado um modo inferior de conhecimento. Dessa forma, ele é tido como uma narrativa que não está preocupada com a verdade em si, com o conhecimento verdadeiro da realidade e do homem, mas está comprometido com um discurso explicativo que busca a satisfação do desejo de conhecer ou explicar, sem se importar com a verdade última das coisas que Platão julga estar no inteligível e Aristóteles no sensível. A posição assumida pelo aluno precisa estar bem fundamentada. Dessa forma, pode-se argumentar: posição favorável: O mito, baseando-se na imaginação e não estando comprometido com o conhecimento das essências ou natureza última dos seres, não pode ser considerado um conhecimento verdadeiro. Não passa de narrativas que tentam convencer, persuadir a partir de fantasias que não servem para dizer a realidade dos seres. Segundo Platão, o mito encontraria respaldo como forma de explicação quando a razão se torna insuficiente para explicar a realidade. posição contrária: O mito é uma forma particular de explicar o mundo e os seres. Dessa forma, não há de se questionar se é válido ou inválido, verdade ou mentira, mas há de se considerar somente que é uma forma diferente de outras, como a Filosofia, de explicar o real. Dessa forma, discorda-se de Platão e Aristóteles, uma vez que defendem a inferioridade do mito, não levando em consideração as diferenças inerentes que constituem essa forma distinta de explicação da realidade. 6. Os pré-socráticos foram os primeiros filósofos da história. Sua atitude diante do cosmos lança as raízes daquilo que se conhecerá a partir de então por Filosofia. A guinada de atitude que eles representam se constitui exatamente na não aceitação de respostas fictícias e imaginárias sobre a origem do universo e seu funcionamento. Tais respostas míticas representavam a autoridade da religião e da tradição, não sendo, por si mesmas, racionais e inteligíveis, mas misteriosas e acríticas. Tal guinada representa a busca por respostas racionais, baseadas no próprio homem, em sua observação e estudos da natureza. A partir dos pré-socráticos, temos o início da Filosofia que, mais do que um conjunto de saberes, é antes de tudo uma atitude crítica e investigativa em busca de respostas racionalmente justificáveis. 7. Podemos afirmar que o objetivo do pensamento de Heráclito e Parmênides é o mesmo, encontrar a verdade sobre os seres. Porém, as posições defendidas por eles são fundamentalmente distintas. Parmênides defenderá o imobilismo. Considerado como um monista, afirma que os seres possuem uma aparência e uma essência, sendo que esta é imutável, e aquela está em constante mudança. Por isso, afirma que o ser é, ou seja, o que existe é somente a essência, que será conhecida pela razão e não pelos sentidos. O Não Ser seria o nada, e por isso não é, ou seja, como a aparência está em constante transformação, ela não é nada, uma vez que aquilo que é em um instante deixa de ser no instante posterior. Já Heráclito defenderá que não existe uma diferença entre essência e aparência, mas que todas as coisas são somente aparência e que mudam o tempo todo. Dessa forma, é um mobilista, pois afirma que tudo está em movimento e se altera. O conhecimento dos seres é somente o conhecimento obtido pelos sentidos. Para além da aparência dos seres, existe o Logos, que é aquele que dá a unidade em meio à pluralidade das transformações e dos opostos. O Logos, entendido como razão, pensamento, dá a lógica ao movimento e à luta dos contrários, fazendo com que as coisas sejam compreendidas mesmo na multiplicidade. 8. Os pensadores pré-socráticos, chamados por Aristóteles de physiólogos ou pensadores da natureza, foram os primeiros homens da história a se dedicarem a encontrar uma explicação puramente racional para a origem do universo. Rompendo com a tradição mítica, eles queriam explicar a origem do universo de forma não fantasiosa, por meio de pensamentos próprios e não por revelações de seres sobrenaturais. Acreditando que tudo o que existe na natureza é resultado de uma relação de causa e efeito, acreditavam que, se encontrassem a primeira causa de todas as coisas, encontrariam a resposta para a origem do cosmos. A essa causa primeira deram o nome de arché, que seria uma espécie de matéria-prima inicial da qual todas as coisas teriam surgido. Por exemplo, Tales acreditava que a arché do universo era a água. Dessa forma, via na água o princípio de todas as coisas existentes. Seção Enem 01. B Frente A Módulo 02 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 03 3 Sócrates e os sofistas: o homem como centro do problema filosófico Autor: Richard Garcia Amorim 04 19 Platão e Aristóteles: os mestres do pensamento antigoAutor: Richard Garcia Amorim 17Editora Bernoulli FI LO SO FI A O julgamento e a morte de Sócrates Sócrates foi levado ao tribunal como réu pela primeira vez e dali saiu direto para a prisão para aguardar o dia de sua morte. Suas acusações: corromper a juventude e impiedade. Impiedade significa que ele fora acusado de introduzir novas crenças e de ensinar novos deuses para os cidadãos. Um dos argumentos que sustentam essa tese é o de que Sócrates dizia escutar uma voz interior, o daímon, acreditando que este seria como deus que lhe indicava o que não deveria fazer. Ao ser acusado de corromper os jovens, é acusado de perverter os filhos dos aristocratas com seus ensinamentos, levando-os a duvidarem dos valores tradicionais atenienses. Ao que tudo indica, o julgamento foi manipulado. Sócrates não se defendeu e aceitou sua condenação. Mesmo no período em que esteve preso, esperando o dia de sua morte, tendo possibilidade de fugir, ele não aceitou tal proposta em fidelidade às leis da cidade. Ja cq u es -L o u is D av id Sócrates no leito de morte, 1787. A verdadeira injustiça do julgamento está no fato de que os juízes não aceitaram o ensinamento socrático mais importante: o de que, para passar da doxa, dos preconceitos, à ciência, à verdade, é necessário não aceitar passivamente o que está posto e cristalizado como verdade incontestável. Para saber o que é a virtude, a coragem, a justiça, a piedade, etc., valores caros aos cidadãos e à polis, é necessário, antes de tudo, saber de fato o que são esses valores e não simplesmente aceitar o que eles parecem ser, as opiniões sobre eles. No fundo, a cidade tinha medo de Sócrates. Seus questionamentos, seus diálogos e sua eloquência ameaçavam os mais poderosos,que temiam que o pensamento levasse à dúvida, ao desrespeito às leis e, ainda mais grave, que mostrasse aos homens que os que em primeiro lugar e antes de todos deveriam respeitar e serem fieis às leis não o faziam. EXERCÍOS DE FIXAÇÃO 01. Atenas, pelo papel de liderança na guerra contra os persas, pela prosperidade econômica crescente e pelos poetas que haviam elevado sua vida intelectual a alturas jamais alcançadas antes, tornou-se o centro intelectual da Grécia. Quem quisesse ganhar reputação como pensador tinha que passar por Atenas. Os produtos do mundo inteiro estavam à disposição do cidadão de Atenas. Novas estátuas dos deuses erguiam-se com esplendor, no imortal trabalho dos mais finos artistas. O povo ouvia, nos festivais de Dionisos, as palavras e cantos da tragédia e deliciava-se com a engenhosidade flamejante e barulhenta da comédia. Multidões se acotovelavam nas salas de conferência dos sofistas, com sua nova sabedoria vestida no manto belo e sedutor da linguagem, convidando os jovens a serem seus alunos. O demos aquecia-se ao sol, na serena consciência do poder, quando se sentava no Pnyx nos tribunais. ZELLER, E. Outlines of the history of Greek Philosophy. Kegan Paul: Londres, 1931. p. 95. A partir do texto e daquilo que foi estudado sobre o contexto histórico de Atenas, EXPLIQUE por que foi necessária uma nova educação ou Areté na cidade. 02. Não se faz democracia, nos moldes atenienses, sem que os homens tenham a capacidade e habilidade de falarem, de exporem suas ideias, de manifestarem seus argumentos. A partir do trecho anterior, EXPLIQUE o papel dos sofistas para a vida política da cidade. 03. Perguntando sempre “o que é ...?”, Sócrates se põe a serviço da verdade em busca de definições claras e únicas sobre aquilo que determina as ações humanas. De acordo com o estudado, EXPLIQUE a atitude de Sócrates expressa no trecho anterior e sua importância para a filosofia. Sócrates e os sofistas: o homem como centro do problema filosófico 18 Coleção Estudo 05. A filosofia socrática se baseia, fundamentalmente, nas ideias do “Conhece-te a ti mesmo” e do “Só sei que nada sei”. EXPLIQUE, a partir do estudado sobre Sócrates, o significado dessas frases. 06. [...] E tais conhecimentos foram despertados nele como de um sono; e creio que se alguém lhe fizer repetidas vezes e de várias maneiras perguntas a propósito de determinados assuntos, ele acabará tendo uma ciência tão exata como qualquer pessoa da tua sociedade [...] Ele acabará sabendo, sem ter possuído mestre, graças a simples interrogações, extraindo o conhecimento de seu próprio íntimo [...] PLATÃO. Ménon. 85a-86e. RELACIONE a citação anterior com a maiêutica socrática. 07. A retórica ensina, em primeiro lugar, que o que conta não é o fato em si, mas o que dele aparece, aquilo que pode persuadir os homens. É a arte do logos que não é somente discurso e raciocínio, mas também aparência e opinião, na medida em que estas se opõem aos fatos, e sua finalidade é a persuasão. Em honra dos sofistas, deve ser dito que a persuasão é preferível à força e à violência e que a retórica é, por excelência, uma arte democrática que não pode florescer numa tirania. Por isso, Aristóteles lembra que o nascimento da retórica em Siracusa coincidiu com a derrubada do tirano. GUTHRIE. W. K. C. The Sophists. Cambridge University Press: Londres, 1971. p. 188. A partir do texto anterior, EXPLIQUE por que a visão de que todos os sofistas eram enganadores e inescrupulosos, defendida por alguns autores, nem sempre é precisa. 08. Ficai certos de uma coisa: se me condenares por ser eu como digo, causareis a vós mesmos maior prejuízo que a mim. [...] Neste momento, atenienses, longe de atuar em minha defesa, como poderiam acreditar, atuo na vossa, evitando que, com a minha condenação, cometais uma falta para com a dádiva que recebestes do deus. Se me matardes, não vos será fácil encontrar outro igual, outro que, embora seja engraçado dizê-lo, por ordem divina se agarre inteiramente à cidade, como a um cavalo grande e de raça, mas um tanto lerdo por causa do tamanho e precisado de uma mosca-de-madeira que o estimule [...] PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores. p. 81. A citação anterior foi retirada da obra Apologia de Sócrates, em que o filósofo se defende diante do tribunal devido às acusações que recebeu de corromper a juventude e impiedade. De acordo com o texto, JUSTIFIQUE a posição de Sócrates ao dizer que a cidade seria mais prejudicada com sua morte do que ele próprio. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. Registra-se também que Protágoras ensinava “a tornar mais forte o argumento mais fraco”. O que não quer dizer que Protágoras ensinasse a injustiça e a iniqüidade contra a justiça e a retidão, mas, simplesmente, que ele ensinava os modos como, técnica e metodologicamente, era possível sustentar e levar à vitória o argumento que, em determinadas circunstâncias, podia ser o mais fraco na discussão (qualquer que fosse o conteúdo em exame). REALIE, Giovanni. História da filosofia: filosofia pagã antiga. v. 1. São Paulo: Paulus, 2003. p. 77. A partir de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto relacionando o trecho anterior com o relativismo sofista. 02. A verdade, porém, é outra, ó atenienses: quem sabe é apenas o deus, e ele quer dizer, por intermédio de seu oráculo, que muito pouco ou nada vale a sabedoria do homem, e, ao afirmar que Sócrates é sábio, não se refere propriamente a mim, Sócrates, mas só usa meu nome como exemplo, como se tivesse dito: “Ó homens, é muito sábio entre vós aquele que, igualmente a Sócrates, tenha admitido que sua sabedoria não possui valor algum”. PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores. p. 73. REDIJA um texto explicando qual é a verdadeira educação segundo Sócrates e como o conhecimento pode ser alcançado. 03. […] enquanto tiver ânimo e puder fazê-lo, jamais deixarei de filosofar, de vos advertir, de ensinar em toda ocasião àquele de vós que eu encontrar, dizendo-lhe o que costumo: “Meu caro, tu, um ateniense, da cidade mais importante e mais reputada por sua sabedoria, não te envergonhas de cuidares de adquirir o máximo de riquezas, fama e honrarias, e de não te importares nem pensares na razão, na verdade e em melhorar tua alma?” E se algum de vós responder que se importa, não irei embora, mas hei de o interrogar, examinar e refutar e, se me parecer que afirma ter adquirido a virtude sem a ter, hei de repreendê-lo por estimar menos o que vale mais e mais o que vale menos […]. PLATÃO. Apologia de Sócrates, 29 d-e. De acordo com o texto e com o estudado sobre Sócrates, EXPLIQUE o que o filósofo quer dizer ao afirmar que os homens deveriam “melhorar sua alma”. 04. O homem é a medida de todas as coisas; das que são por aquilo que são e das que não são por aquilo que não são. EXPLIQUE, de acordo com o estudado, a citação do sofista Protágoras. Frente A Módulo 03 19Editora Bernoulli FI LO SO FI A GABARITO Fixação 01. Com as transformações históricas, econômicas e políticas ocorridas em Atenas, a antiga educação dos jovens, que se voltava quase que exclusivamente para a aristocracia ateniense, se preocupando com a formação do guerreiro bom e belo, não atendia mais à realidade da cidade. Diante das transformações, marcadas pelas exigências de uma nova classe social formada pelos comerciantes, pela presença das artes e do artesanato e, principalmente, da democracia, foi necessário uma nova Areté, agora voltada para a política, para a formação do cidadão que buscava a excelência, a perfeição moral, enfim, as virtudes cívicas. Para isso, era necessário educar o jovem para que este pudesse participar ativamente da vida pública da cidade. 02. Os sofistaseram mestres de retórica. Eles constituíam um grupo de professores, conhecidos como sábios em sua época, que se dedicavam a ensinar a arte da retórica e da oratória. Diante das mudanças ocorridas na Grécia, as cidades agora são governadas pelos homens que, em praça pública, discutem política. Nesse contexto, era fundamental que os cidadãos pudessem apresentar com eficiência e clareza suas ideias, uma vez que, em uma democracia participativa, todos os cidadãos têm o direito de falar e de apresentar seus argumentos e ideias. Dessa forma, os jovens eram educados na arte da sofística, que consiste em apresentar de forma convincente e sedutora os argumentos a fim de vencer uma discussão. 03. Sócrates é tido por alguns como o verdadeiro fundador da Filosofia. Tal importância se deve ao fato de que Sócrates, diferentemente dos pensadores anteriores, os pré-socráticos, se preocupou com o homem e com sua vida em sociedade. O fundamento de sua filosofia encontra-se exatamente no fato de buscar verdades que deveriam orientar a vida dos homens em sociedade. Ao perguntar “o que é...?”, Sócrates pretende encontrar as verdades ou conceitos únicos que deveriam ser o fundamento de todos os atos humanos. Uma de suas contribuições definitivas à Filosofia foi orientar a investigação das ideias para a busca da verdade única, seu objeto por excelência. SEÇÃO ENEM 01. Um de vós poderia intervir: “Afinal, Sócrates, qual é a tua ocupação? Donde procedem as calúnias a teu respeito? Naturalmente, se não tivesses uma ocupação muito fora do comum, não haveria esse falatório, a menos que praticasses alguma extravagância. Dize-nos, pois, qual é ela, para que não façamos nós um juízo precipitado.” Teria razão quem assim falasse; tentarei explicar-vos a procedência dessa reputação caluniosa. Ouvi, pois. Alguns de vós achareis, talvez, que estou gracejando, mas não tenhais dúvida: eu vos contarei toda a verdade. Pois eu, Atenienses, devo essa reputação exclusivamente a uma ciência. Qual vem a ser a ciência? A que é, talvez, a ciência humana. É provável que eu a possua realmente, os mestres mencionados há pouco possuem, quiçá, uma sobre-humana, ou não sei que diga, porque essa eu não aprendi, e quem disser o contrário me estará caluniando. Por favor, Atenienses, não vos amotineis, mesmo que eu vos pareça dizer uma enormidade; a alegação que vou apresentar nem é minha; citarei o autor, que considerais idôneo. Para testemunhar a minha ciência, se é uma ciência, e qual é ela, vos trarei o deus de Delfos. PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores. p. 65. Sócrates concebe a vida política como o meio legítimo de as pessoas encontrarem o melhor caminho para a vida em sociedade. Essa verdade deve, no entanto, ser a mesma para todos, uma vez que o conhecimento verdadeiro o é para todos. Segundo Sócrates, o melhor caminho seria aquele que A) é decidido pela sociedade na praça pública ou em assembleia política, uma vez que todos têm os mesmos direitos na polis. B) busca a justiça entendida como essência ou verdade única, pois esta seria a verdadeira guia das ações humanas. C) fosse decidido pelo melhor discurso proferido pelo político e que conseguisse, pela retórica, convencer a maior parte da população. D) é resultado do “parto das ideias”, que é o modo pelo qual as pessoas decidem, por meio do diálogo, qual a melhor maneira de se viver em sociedade. E) está contido nas leis da cidade, uma vez que, para ser justo, é necessário que se viva segundo as leis. Sócrates e os sofistas: o homem como centro do problema filosófico 20 Coleção Estudo Propostos 01. Os sofistas eram relativistas, pois, ao contrário de Sócrates, não acreditavam que havia uma só verdade sobre as coisas, ou seja, cada pessoa, de acordo com suas experiências e ideias, poderia ter sua própria “verdade”, que são relativas a cada homem. Dessa forma, a ideia ou “verdade” que sobressairia, por exemplo, nas discussões políticas na Ágora seria aquela melhor argumentada. Dessa maneira, Protágoras, um dos mais importantes sofistas, ensinava às pessoas que a ele recorriam, e que pagavam por isso, as técnicas de argumentação para tornar a ideia, mesmo que fraca, mais “forte” que a dos demais e para convencer a todos de que tal ideia seria a melhor. Vale ressaltar que, como dito anteriormente, aos sofistas não importa o conteúdo da ideia, mas tão somente como ela é transmitida e argumentada. 02. Segundo Sócrates, o conhecimento não é propriedade de ninguém, pois somente o deus sabe tudo, ou seja, somente o deus é sábio. Uma vez dito isso, podemos compreender que os mortais, dentre eles o próprio Sócrates, devem reconhecer que aquilo que eles possuem como conhecimento é nada, ou é ínfimo, diante de tudo o que há para se conhecer. Portanto, sábio não é quem sabe todas as coisas, mas, ao contrário, é sábio aquele que sabe que não sabe tudo e, por isso, em uma atitude humilde, reconhece sua ignorância. Só a partir do reconhecimento da própria ignorância é possível alcançar o conhecimento, pois se o homem acredita possuir todo o conhecimento, ele se fecha, não podendo conhecer mais nada. 03. Para Sócrates, os bens materiais, a fama, a glória, as riquezas não podem trazer a verdadeira felicidade e realização ao homem. Somente o conhecimento verdadeiro, manifestado nas ações dos homens, pode fazê-los melhores. Quando Sócrates se refere a melhorar a alma ele está afirmando que as preocupações dos homens devem superar as preocupações materiais e passageiras, o que só é possível pela dialética, entendida como verdadeiro remédio da alma. Pelo diálogo e pela busca sincera do saber, o homem se torna melhor. Somente o conhecimento da verdade pode dar sentido à vida humana. 04. Protágoras é um dos mais importantes sofistas. Seu pensamento está na base da paidéia sofística, uma vez que seus pensamentos darão sentido à prática à qual os sofistas se dedicavam. Ao dizer que o homem é a medida de todas as coisas, Protágoras defende que as verdades são variáveis. Isto significa que cada homem pode ter suas próprias verdades, pois não existiria uma única verdade sobre as coisas. Cada um avalia as coisas segundo seus próprios critérios, sendo que a verdade que prevalecerá será a daquele que melhor apresentar seus argumentos e convencer os demais. 05. Essas afirmações emblemáticas resumem, de certa forma, todo o pensamento de Sócrates. A primeira frase, “Conhece-te a ti mesmo”, escrita no frontispício do Oráculo de Delfos, revela a verdade mais clara e evidente defendida pelo filósofo, a de que as verdades estão dentro do próprio homem. Ao buscar a verdade por meio de um exercício de reflexão, o homem encontra dentro de si a fonte do conhecimento que poderá torná-lo justo e virtuoso. A segunda frase, “só sei que nada sei”, revela a crença de Sócrates de que o conhecimento é uma busca constante e que o sábio verdadeiro, ao reconhecer sua própria ignorância, se abre à possibilidade do conhecimento que nunca será saciada. Ao contrário, segundo Sócrates, aquele que acredita saber tudo, ao se fechar ao conhecimento, torna-se ignorante. 06. Segundo a filosofia de Sócrates, o conhecimento encontra-se dentro do próprio homem. Adormecido, esse conhecimento precisa ser despertado. Para o filósofo, a filosofia não teria outra função a não ser levar os homens a despertarem em si aquilo que está adormecido, ou seja, as verdades. Pelo diálogo, o homem faria o “parto das ideias”. Essa imagem do conhecimento como um parto é retirada da atividade da mãe de Sócrates, que era parteira. Tal como uma parteira ajuda a mulher a dar à luz, o filósofo ajuda os homens a fazerem o parto da ideia. Isto é a maiêutica socrática. Pelo diálogo, o filósofo levava seus interlocutores a encontrarem o conhecimento que existe dentro deles mesmos. 07. A sofísticaocupou papel de destaque na democracia grega. Lembremos que a característica da democracia participativa é exatamente a possibilidade de todos discutirem, expor seus argumentos, pensando no que seria melhor para a cidade. Dessa forma, a única instância legítima na qual as decisões pudessem ser tomadas era a praça pública ou Ágora. Se não fosse a discussão livre, proporcionando a efetivação da igualdade dos cidadãos, a cidade poderia retroceder a um regime tirânico, em que somente um tem razão e os demais devem obedecê-lo cegamente. 08. Sócrates acreditava ter recebido dos deuses uma missão, a de levar os homens da ignorância ao conhecimento verdadeiro. Para isso, utilizava da ironia e da maiêutica em seus diálogos, com a intenção de fazer o parto da ideias, mostrando para os homens que o conhecimento que eles possuíam não passava de uma opinião sobre o assunto tratado. Devido à sua atividade na cidade, Sócrates incomodou profundamente muitos poderosos, que se sentiam ameaçados por sua atividade e o acusaram por crimes falsos. Diante do tribunal, Sócrates afirma que ele era um dom para a cidade, ou seja, que ele era necessário exatamente por levar os homens da ignorância ao conhecimento. Desse forma, sua morte seria um prejuízo para a própria Atenas, uma vez que dificilmente surgiria outro ‘Sócrates’ capaz de levar os homens ao conhecimento verdadeiro e livrá-los da ignorância. Seção Enem 01. B Frente A Módulo 03 36 Coleção Estudo Segundo Aristóteles, o homem é um “animal político”. Isto significa que o homem nasceu para viver na cidade, em comunidade e não pode se realizar, encontrar a felicidade, sem que conviva com os demais homens. Aristóteles dirá que o homem político, o cidadão da polis, é aquele que participa da vida política da cidade, que ocupa cargos na administração pública. Os escravos e estrangeiros, assim como os homens livres que não tinham tempo para se dedicar à política, acabavam sendo meios para atingir a felicidade dos verdadeiros cidadãos. O pensamento aristotélico traz o preconceito claro da cultura grega de seu tempo: aqueles que não são cidadãos, os escravos (bárbaros presos de guerra) e estrangeiros têm uma natureza inferior à do homem grego. Estela funerária de Mnesarete. Um jovem escravo encara sua falecida patroa. 380 a.C.. Glyptothek, Munique, Alemanha. De acordo com o filósofo, o Estado pode ter diferentes formas de governo, ou seja, diferentes estruturas ou constituições. Assim, Aristóteles dirá que o Estado pode se organizar a partir do governo de um só homem, de vários homens ou de todos os homens. Porém, seja qual for sua organização, o governo do Estado deve sempre garantir o bem comum. Se assim não for, ele se torna corrupto, pois somente considera os anseios de alguns e não de todos. Aristóteles assim classifica os modos de governo possíveis: Governo a favor de todos – Formas corretas – Governo a favor de poucos – Formas corruptas – Monarquia Despotismo ou tirania Aristocracia Oligarquia Politía Democracia ou demagogia* Para o estagirita, as melhores formas de governo, em abstrato, seriam a monarquia e a aristocracia. Porém, na prática, a politía seria a mais adequada porque valorizaria o segmento médio. * Democracia seria um governo que se tornaria alheio ao bem comum e favoreceria de maneira desproporcional os interesses dos mais pobres. Segundo o filósofo, se todos os homens são iguais na liberdade, não necessariamente o seriam em outros aspectos da vida. EXERCÍOS DE FIXAÇÃO 01. É neste contexto que Platão fala do Demiurgo, uma espécie de deus-artífice que criou todas as coisas do mundo sensível tendo como base as ideias ou formas do mundo inteligível. De acordo com o estudado, EXPLIQUE com suas palavras a relação existente entre sensível e inteligível para Platão. 02. Você está acompanhando, Sofia? E agora vem Platão. Ele se interessava tanto pelo que é eterno e imutável na natureza quanto pelo que é eterno e imutável na moral e na sociedade. Sim... para Platão tratava-se, em ambos os casos, de uma mesma coisa. Ele tentava entender uma “realidade” que fosse eterna e imutável. E, para ser franco, é para isto que os filósofos existem. Eles não estão preocupados em eleger a mulher mais bonita do ano, ou os tomates mais baratos da feira. (E exatamente por isso nem sempre são vistos com bons olhos). Os filósofos não se interessam muito por essas coisas efêmeras e cotidianas. Eles tentam mostrar o que é “eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom”. GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Tradução de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 98. De acordo com o estudado sobre Platão, EXPLIQUE o que querem dizer as referências feitas àquilo que é “eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” e por que tais termos são importantes para a filosofia platônica. 03. Porém, a diferença mais importante entre os mestres da filosofia antiga e ocidental é a rejeição de Aristóteles ao dualismo platônico expresso nas duas realidades, o sensível, mundo real e imperfeito, e o inteligível, mundo ideal, das formas perfeitas. EXPLIQUE, segundo o estudado sobre Aristóteles, por que o filósofo rejeita o dualismo platônico e onde ele acredita poder encontrar a verdade. Frente A Módulo 04 FI LO SO FI A 37Editora Bernoulli EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. (UFMG) Leia este trecho: A educação, disse eu, seria uma arte da reviravolta, uma arte que sabe como fazer o olho mudar de orientação do modo mais fácil e mais eficaz possível; não a arte de produzir nele o poder de ver, pois ele já o possui, sem ser corretamente orientado e sem olhar na direção que deveria, mas a arte de encontrar o meio para reorientá-lo. PLATÃO. República. VII 518D. Na imagem proposta por Platão, sair da caverna representa a educação como uma reviravolta. Com base na leitura desse trecho e em outras informações presentes nessa obra, REDIJA um texto explicando o que significa essa reviravolta. 02. Como a temperança, também a justiça é uma virtude comum a toda a cidade. Quando cada uma das classes exerce a sua função própria, “aquela para a qual a sua natureza é a mais adequada”, a cidade é justa. Esta distribuição de tarefas e competências resulta do fato de que cada um de nós não nasceu igual ao outro e, assim, cada um contribui com a sua parte para a satisfação das necessidades da vida individual e coletiva. [...] Justiça é, portanto, no indivíduo, a harmonia das partes da alma sob o domínio superior da razão; no estado, é a harmonia e a concórdia das classes da cidade. PIRES, Celestino. Convivência política e noção tradicional de justiça. In: BRITO, Adriano N. de; HECK, José N. (Org.). Ética e política. Goiânia: Editora da UFG, 1997. p. 23. REDIJA um texto explicando o conceito de justiça para Platão e como essa ideia é essencial para a felicidade da cidade. 03. Conhecer é relembrar. De acordo com o estudado sobre a teoria de Platão acerca da reminiscência da alma, EXPLIQUE a citação anterior. 04. Sócrates – Tomemos como princípio que todos os poetas, a começar por Homero, são simples imitadores das aparências da virtude e dos outros assuntos de que tratam, mas que não atingem a verdade. São semelhantes nisso ao pintor de que falávamos há instantes, que desenhará uma aparência de sapateiro, sem nada entender de sapataria, para pessoas que, não percebendo mais do que ele, julgam as coisas segundo a aparência? Glauco – Sim. PLATÃO. A República. Tradução de Enrico Corvisieri. São Paulo: Nova Cultural, 1997. p. 328. De acordo com o estudado sobre Platão, REDIJA um texto explicando qual é a sua crítica às artes e FUNDAMENTE o texto com argumentos da teoria do conhecimento de Platão. 05. Todos os homens, por natureza, desejam conhecer. Sinal disso é o prazer que nos proporcionam os nossos sentidos; pois, ainda que não levemos em conta a suautilidade, são estimados por si mesmos; e, acima de todos os outros, o sentido da visão. [...] Por outro lado, não identificamos nenhum dos sentidos com a sabedoria, se bem que eles nos proporcionem o conhecimento mais fidedigno do particular. Não nos dizem, contudo, o porquê de coisa alguma. ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 36 e 38. REDIJA um texto caracterizando e explicando o tipo de conhecimento expresso no trecho anterior. 06. (UFMG) Leia este trecho: [...] aquele que não faz parte de cidade alguma [ápolis], por natureza e não por acaso, é inferior ou superior a um homem. ARISTÓTELES. Política. 1253a. Com base na leitura desse trecho e em outras informações presentes nessa obra de Aristóteles, REDIJA um texto justificando, do ponto de vista do autor, essa afirmação. 07. (UFMG–2006) Leia este trecho: Voltemos novamente ao bem que estamos procurando e indaguemos o que ele é, pois não se afigura igual nas distintas ações e artes; é diferente na medicina, na estratégia e em todas as demais artes do mesmo modo. Que é, pois, o bem de cada uma delas? Evidentemente, aquilo em cujo interesse se fazem todas as outras coisas. Na medicina é a saúde, na estratégia a vitória, na arquitetura uma casa, em qualquer outra esfera uma coisa diferente, e em todas as ações e propósitos é ele a finalidade; pois é tendo-o em vista que os homens realizam o resto. Por conseguinte, se existe uma finalidade para tudo que fazemos, essa será o bem realizável mediante a ação [...] Mas procuremos expressar isto com mais clareza ainda. Já que, evidentemente, os fins são vários e nós escolhemos alguns entre eles [...], segue-se que nem todos os fins são absolutos; mas o sumo bem é claramente algo de absoluto. Portanto, se só existe um fim absoluto, será o que estamos procurando [...] Ora, nós chamamos aquilo que merece ser buscado por si mesmo mais absoluto do que aquilo que merece ser buscado com vistas em outra coisa [...] Ora, esse é o conceito que preeminentemente fazemos da felicidade. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco (Livro I, 1097 a . 1097 b). Tradução de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 54-55. Com base na leitura desse trecho e considerando outras ideias presentes nessa obra de Aristóteles, JUSTIFIQUE esta afirmativa: É absurdo perguntar para que queremos ser felizes. Platão e Aristóteles: os mestres do pensamento antigo 38 Coleção Estudo 08. (UFMG–2008) Leia este trecho: Com efeito, ter a noção de que a Cálias, atingido de tal doença, tal remédio deu alívio, e a Sócrates também, e, da mesma maneira, a outros tomados singularmente, é da experiência; mas julgar que tenha aliviado a todos os semelhantes, determinados segundo uma única espécie, atingidos de tal doença, como os fleumáticos, os biliosos ou os incomodados por febre ardente, isso é da arte. ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I, cap. I. Tradução de Vinzenzo Cocco. São Paulo: Abril Cultural, 1979. Com base na leitura desse trecho e considerando outras informações presentes nessa obra de Aristóteles, REDIJA um texto, explicando, do ponto de vista do autor, a diferença entre arte (conhecimento técnico) e experiência. SEÇÃO ENEM 01. Logo, desde o nascimento, tanto os homens como os animais têm o poder de captar as impressões que atingem a alma por intermédio do corpo. Porém relacioná-las com a essência e considerar a sua utilidade, é o que só com tempo, trabalho e estudo conseguem os raros a quem é dada semelhante faculdade. Naquelas impressões, por conseguinte, não é que reside o conhecimento, mas no raciocínio a seu respeito; é o único caminho, ao que parece, para atingir a essência e a verdade; de outra forma é impossível. PLATÃO. Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 80. Platão acredita que o conhecimento verdadeiro é possível de ser alcançado pelo homem. A parte da filosofia que trata da possibilidade do conhecimento é denominada epistemologia. De acordo com a epistemologia de Platão, para chegar ao conhecimento seguro, seria necessário que A) os homens confiassem nas impressões que recebem do mundo sensível, pois estas levam à formação de ideias por meio da repetição das experiências. B) as impressões fossem comuns a todos os homens, uma vez que todos possuem as mesmas capacidades sensitivas que permitem o conhecimento do mundo. C) os homens desconfiassem dos sentidos, pois suas variações entre os indivíduos podem levar à imprecisão sobre os objetos, fonte do conhecimento. D) o raciocínio humano a respeito das impressões fosse analisado em seus pormenores, uma vez que o conhecimento verdadeiro não pode admitir falhas ou erros. E) os homens se dedicassem ao exercício da razão, uma vez que os sentidos, sendo imprecisos e variando em seus dados de homem para homem, podem levar ao engano. GABARITO Fixação 01. Platão separa a realidade em duas dimensões. A realidade imaterial ou inteligível é a realidade do mundo superior, em que existem as ideias perfeitas e imutáveis. A realidade material ou sensível é a realidade do mundo real que pode ser percebida pelos sentidos. Esta realidade sensível é a cópia da realidade inteligível. Lá estão as formas, os modelos ideais que foram utilizados pelo Demiurgo, espécie de semideus, para criar todas as coisas do sensível. O que há no inteligível só pode ser conhecido por meio da razão, enquanto o sensível pode ser conhecido pela experiência. 02. O “eternamente verdadeiro”, “eternamente belo” e “eternamente bom” referem-se às ideias do inteligível, ou ideias perfeitas, que são a origem e a essência do mundo sensível. A preocupação central da filosofia platônica é com o conhecimento verdadeiro, aquele que não é adquirido pela impressão das coisas no sensível, mas que é adquirido pelos homens na realidade superior, que é a realidade inteligível. Os termos se referem exatamente às ideias que são a perfeitas e imutáveis, por isso eternamente verdadeiras, eternamente belas e eternamente boas. 03. Aristóteles, apesar de ser discípulo de Platão, discorda de seu mestre em relação ao caminho para o conhecimento, o que é chamado na filosofia de epistemologia. Segundo Aristóteles, não haveria dois mundos, como Platão afirmara, diferenciando um como perfeito e imutável e outro como imperfeito e mutável. Para Aristóteles, existe uma única realidade, e é nela que os homens devem encontrar as verdades. Desse modo, sua metafísica não busca o que está fora dos seres, mas busca nos próprios seres sua substância ou essência, que são encontradas pelo método indutivo, partindo da experiência sensível dos seres. Propostos 01. Para Platão, o significado dessa reviravolta seria a introdução de uma ciência numa alma que redirecionasse o olhar que estaria atrelado ao conhecimento sensível, este preso às crenças e opiniões (doxa), no qual poderíamos afirmar que não havia a “luz da verdade”. Esta passagem (poreia) ao conhecimento inteligível, este representado pela saída do “homem” da caverna (filósofo), se daria a partir do processo educacional (paideia) no qual homem seria corretamente orientado. Assim, após inúmeras ciências trabalhadas, o homem estaria apto a maior de todas as ciências, a dialética. Esta faria a conversão da alma, da noite para o dia, das trevas para a luz, e afastaria o “olhar” da alma da lama grosseira para elevá-la para a região superior (topos). Frente A Módulo 04 FI LO SO FI A 39Editora Bernoulli 02. Segundo Platão, justiça é a ordem determinada pela própria natureza última dos seres. Dessa forma, ser justo, seria obedecer tal ordem, pois esta faz com que as coisas estejam de acordo com sua própria finalidade. Na citação anterior, Platão trata de sua teoria política, da ordem natural da cidade, formando então a cidade justa. Nesta, os melhores em inteligência,educados adequadamente na dialética pelos filósofos, seriam os responsáveis pelo governo, os chamados reis-filósofos. Abaixo destes, estaria a classe dos guerreiros ou soldados que, fiéis aos governantes, fariam com que as leis determinadas por estes fossem cumpridas pelo povo, que ocuparia o último estamento dessa pirâmide hierárquica. Dessa maneira, cumpriria-se a justiça na cidade, uma vez que cada homem ocuparia seu lugar e realizaria suas atividades segundo sua própria natureza. Só assim, segundo o filósofo, a cidade poderia ser feliz, ou seja, cada homem seria feliz quando ocupasse seu lugar devido, de acordo com sua natureza, e a própria cidade, governada dessa forma, proporcionaria a todos as condições para a felicidade. 03. De acordo com a teoria do conhecimento de Platão, o conhecimento é resultado de um processo de lembrança de reminiscência. As ideias ou o conhecimento verdadeiro já estão no homem, que, uma vez no mundo inteligível, contemplava as ideias, como narra o mito de Er. Porém, a alma que um dia esteve na verdade perdeu suas asas e bebeu da água do rio do esquecimento, ao encarnar-se num corpo material. A partir desse momento, a alma daqueles que querem conhecer está em um contínuo processo de recordação, tentando, impulsionada pelo amor, recordar das ideias que um dia contemplou. Desse modo, o conhecimento é somente lembrança da verdade, que consiste nas ideias inteligíveis. 04. Segundo Platão, há duas realidades que são essencialmente diferentes. A realidade inteligível é perfeita e fonte de tudo o que existe na realidade sensível. Ou seja, o que há na realidade sensível é cópia imperfeita das ideias do inteligível. Uma vez que o homem busca o conhecimento, este deve ser daquilo que é verdadeiro em si, ou seja, das ideias e não das cópias. As obras de arte são as representações do que já é representação, é a cópia da cópia. Dessa forma, as obras de arte não aproximam o homem da verdade, mas o colocam mais preso às coisas materiais, não libertando a alma para que encontre o verdadeiro conhecimento. 05. O tipo de conhecimento da citação anterior é o conhecimento empírico ou sensível. Aristóteles acredita que o único caminho até o conhecimento verdadeiro é o uso da experiência, dos cinco sentidos. Dessa forma, a verdade é resultado das experiências do homem, quando este apreende, pelos sentidos, principalmente pela visão, os dados empíricos, sensíveis dos seres, que levam à ideia do ser, à sua essência ou substância. Tal processo lógico é conhecido como indução, pois parte das experiências particulares de seres da mesma espécie para se alcançar uma ideia geral sobre o ser. 06. Sabemos que Aristóteles coloca o homem como um “homem político”, “um ser social” dotado de um “instinto social”. Assim, o filósofo trabalha, nesse fragmento, a posição do homem perante a cidade a partir de dois pontos: 1º O homem poderia ser superior se pudesse subsistir somente com ele próprio, sem a necessidade do outro. Este homem seria, acima de qualquer outro homem, “normal”, uma vez que esse homem “normal” necessariamente precisaria de uma sociedade para viver. 2º O homem seria inferior, pois estaria fora da necessidade do homem da polis. Estaria em um estado de “condição natural”, ou seja, não estaria como homem, mas como um animal que não é político e subsiste de forma independente. 07. Ao analisarmos a obra de Aristóteles, Ética a Nicômaco, nos deparamos com o fato de que sermos felizes constitui uma atividade, e esta felicidade é realizada a partir de ações. Em cada ação, o homem busca um bem que é um bem si mesmo, um bem absoluto, e este bem se chama felicidade (eudaimonia). Ressaltamos que a busca da felicidade se dá a partir de ações que são realizadas no decorrer da vida, não somente restrita a um único momento. Dessa forma, seria absurdo perguntarmos para que queremos ser felizes, uma vez que a felicidade se constitui em cada ação realizada pelo homem, na busca do sumo bem (bem supremo) mediante a sua razão (atividade da alma segundo a razão). O homem deverá buscar o bem supremo, a felicidade, numa atividade constante, tendo assim o hábito para que atinja constantemente este bem maior no final de cada ação e no decorrer de sua vida, como ressaltado por Aristóteles. Para o filósofo, a felicidade plena é alcançada quando o homem exerce aquilo que o diferencia dos outros seres, a racionalidade, e esta, encontrando as virtudes entendidas com o justo meio entre os excessos e extremos, diz o que o homem deve fazer para se tornar um bom cidadão. 08. Para Aristóteles, a primeira forma de conhecimento que adquirimos se faz a partir da experiência. Esta é formada a partir das sensações, arquivadas na memória e que, com a repetição, funda uma experiência única. A experiência é um conhecimento singular, particular, no qual o homem que a executa sabe como fazer, porém não conhece as razões, nem os porquês, mas sabe que resultará em uma ação efetiva, por exemplo, o remédio que deu alívio a Cálias e, logo após, a Sócrates. No momento em que o homem consegue unir várias experiências e colocá-las a partir de princípios universais, de juízos universais, cria-se a arte, por exemplo, saber que todos os doentes atingidos por tal doença serão aliviados. Arte é o conhecimento dos homens teóricos, que dominam os conhecimentos técnicos e que, por sua vez, sabem fazer e sabem “os porquês”. Portanto, Aristóteles julga que há mais saber e conhecimento na arte do que na experiência, que os homens de arte são mais sábios que os homens de experiência. No entanto, a arte ainda não é o conhecimento por excelência, obtido somente com a teoria ou ciência (metafísica) Seção Enem 01. E Platão e Aristóteles: os mestres do pensamento antigo 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 05 3 Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade Autor: Richard Garcia Amorim 06 17 Filosofia cristã: a relação entre fé e razãoAutor: Richard Garcia Amorim 12 Coleção Estudo Pi er re P u je t Alexandre visita Diógenes. O rei admirava tanto o “cão” que disse: “Na verdade, se eu não fosse Alexandre, gostaria de ser Diógenes”. O encontro de Alexandre com Diógenes de Sinope. Pierre Pujet, 1680. Museu do Louvre. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Intelectual e espiritualmente, de fato, a época de Alexandre assinala na Grécia uma mudança decisiva, que afetou especialmente as minorias cultas. No novo mundo dos grandes impérios, quando a civilização grega já tinha se espalhado por todo o Oriente próximo, [...] os horizontes do indivíduo grego viam-se consideravelmente alargados, mas ao mesmo tempo este havia perdido o sentimento de segurança que a vida da antiga cidade podia lhe dar. Segundo o texto, no Período Helenístico, “os horizontes do indivíduo grego viam-se consideravelmente alargados, mas ao mesmo tempo este havia perdido o sentimento de segurança que a vida da antiga cidade podia lhe dar”. REDIJA um texto explicando o que isso representou para os gregos dessa época. 02. EXPLIQUE por que a ideia de cosmopolitismo foi importante para o Período Helenístico. 03. No Período Helenístico “a sensação de isolamento, desenraizamento e insegurança era, de fato, forte o bastante para estimular muitos homens a buscar uma forma de vida que lhes proporcionasse uma íntima sensação de segurança e estabilidade. Isto foi o que as novas filosofias do Período Helenístico se puseram a proclamar.” A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando a importância das escolas filosóficas para o Período Helenístico. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. (UFMG) Leia este trecho: Dependendo das condições anteriores, o mesmo vinho parece azedo para aqueles que acabaram de comer tâmaras ou figos, mas parece ser doce para aqueles que consumiram nozes ou grão-de-bico. E o vestíbulo da casa de banhos esquenta os que entram, mas esfria os quesaem, se ficam esperando nele. Dependendo de se estar com medo ou confiante, o mesmo objeto parece temível ou terrível ao covarde, mas de forma alguma a alguém mais corajoso. Dependendo de se estar em sofrimento ou em situação agradável, as mesmas coisas são irritantes para os que sofrem, e agradáveis para os que estão bem. .......................................................................... .......................................................................... Se, então, não se pode preferir uma aparência à outra, com ou sem uma demonstração ou um critério, as diferentes aparências que ocorrerem, em diferentes condições, serão indecidíveis. De modo que a suspensão do juízo com relação à natureza dos existentes externos é introduzida também desse modo. SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas I, 110-117. Com base na leitura desse trecho, REDIJA um texto caracterizando a corrente filosófica que defende as afirmações nele contidas. 02. Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte. EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41. REDIJA um texto respondendo à seguinte pergunta: simplicidade é sinônimo de felicidade? Frente A Módulo 05 FI LO SO FI A 13Editora Bernoulli 03. Leia o trecho a seguir. Mas acontecem muitos sobressaltos tristes, horríveis, duros de se agüentar. Como não podia afastar-vos deles, armei vossos espíritos contra todos: suportai bravamente. Nisto vós estais à frente de um deus: ele está à margem do sofrimento dos males, vós, acima do sofrimento. Desprezai a pobreza: ninguém vive tão pobre quanto nasceu. Desprezai a dor: ou ela terá um fim ou vos dará um. Desprezai a morte: a qual vos finda ou vos transfere. Desprezai o destino: não dei a ele nenhuma lança com que ferisse o espírito. Antes de tudo, tomei precauções para que ninguém vos retivesse contra a vontade; a porta está aberta: se não quiserdes lutar, é lícito fugir. Por isso, de todas as coisas que desejei que fossem inevitáveis para vós, nenhuma fiz mais fácil do que morrer. Coloquei a vida num declive: basta um empurrãozinho. Prestai um pouco de atenção e vereis como é breve e ligeiro o caminho que leva à liberdade [...] A isso que se chama morrer, esse instante em que a alma se separa do corpo é breve demais para que se possa perceber tão grande velocidade: ou o nó apertou a garganta, ou a água impediu a respiração, ou a dureza do chão arrebentou os que caíram de cabeça, ou a sucção de fogo interrompeu o respirar; seja o que for, voa. Por acaso enrubesceis? Passa rápido o que temestes tanto tempo! SÊNECA. Carta sobre a Providência Divina. A partir da leitura do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto caracterizando e explicando a corrente filosófica expressa por ele. 04. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total [...] A partir do trecho anterior, retirado do livro A cartomante, de Machado de Assis, REDIJA um texto identificando a corrente filosófica presente no trecho e explicando sua premissa fundamental. 05. É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. EPICURO. Carta sobre a felicidade (a Meneceu). Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: Editora UNESP, 2002. p. 41. A partir do texto e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto se posicionando a favor de ou contra a seguinte afirmação: o homem feliz é aquele que busca o prazer e se afasta da dor em todas as ocasiões. 06. A filosofia se preocupa com muitas questões teóricas, como, por exemplo: o que é a verdade? O que é o conhecimento? O que distingue uma boa ação de uma má ação? O que é justiça? Ou, ainda, o que dá legitimidade a um governo? Para essas questões, a filosofia oferece muitas respostas. SMITH, Plínio. O que é ceticismo? São Paulo: Brasiliense, 1992. p. 07. Coleção Primeiros Passos, 262. A partir dessa citação, REDIJA um texto considerando a seguinte afirmativa: se a filosofia responde várias coisas sobre as mesmas questões, podemos considerar alguma delas realmente verdadeira? 07. Aprovo os sentimentos fortes e generosos dos estóicos, que dizem que as coisas externas não são impedimento para a felicidade, mas que o sábio é feliz, mesmo que o toro de Falárides o esteja queimando. Os idiotas não participam de nenhum bem, pois o bem é virtude ou aquilo que participa as virtudes; as coisas que provêm dos bens, que são aquelas das quais se tem necessidade, sendo vantajosas, cabem apenas aos sábios, assim como as coisas que provêm dos males, que são aquelas das quais não se tem necessidade, cabem apenas aos viciosos. São, com efeito, coisas nocivas. E por isso todos os sábios são estranhos ao dano em ambos os sentidos; não são capazes de causar dano, nem de sofrer dano, enquanto os idiotas estão em situação contrária. CRISIPO. Fr. 586. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 300. No texto anterior, Crisipo defende uma postura estoica diante das adversidades do mundo. REDIJA um texto definindo quais os princípios defendidos pelo estoicismo que levariam o homem a tal postura. Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade 14 Coleção Estudo 08. Sustentava por isso que nada se pode obter na vida sem exercícios, aliás, o exercício é o artífice de qualquer sucesso. Eliminados, portanto, os esforços inúteis, o homem que escolhe as fadigas requeridas pela natureza vive feliz; a ininteligência dos esforços necessários é a causa da infelicidade humana. O próprio desprezo pelo prazer para quem esteja a isso habituado é algo dulcíssimo. E assim como os que estão habituados a viver nos prazeres passam de má vontade para um teor de vida contrário, também aqueles que se exercitam de modo contrário, com maior desenvoltura desprezam os mesmos prazeres. Estes eram seus preceitos e a eles conformou sua vida. Falsificou realmente a moeda corrente, porque dava menor valor às prescrições das leis do que às da natureza. Modelo de sua vida, dizia, foi Héracles, que nada antepôs à liberdade. DIÓGENES, Laércio. Vida dos filósofos. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia: filosofia pagã antiga. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2003. p. 257-258. REDIJA um texto relacionando a citação anterior com a ideia de “cão” trazida por Diógenes de Sinope, a qual caracteriza a escola do cinismo. SEÇÃO ENEM 01. Dizemos que a finalidade do cético é a tranqüilidade nas matérias de opinião. Pois, tendo começado a filosofar para julgar as representações e apreender quais são verdadeiras e quais são falsas, de modo a obter a tranqüilidade, deparou com uma discordância de igual força; e, não podendo decidi-la, suspendeu seu juízo sobre ela. Estando em suspensão de juízo, ocorreu-lhe casualmente a tranqüilidade nas matérias de opinião. SEXTO EMPÍRICO. Hipotiposes pirrônicas. Em virtude dessa descoberta do céticopirrônico, para que o homem se mantivesse no estado de tranquilidade, ele deveria A) afirmar que as coisas são como aparecem. B) negar que as coisas são como aparecem. C) opor a todo argumento um argumento igual. D) abster-se do julgamento e não emitir opinião. E) recusar-se a reconhecer os dados sensíveis. GABARITO Fixação 01. No Período Helenístico, os gregos, por terem tido suas terras invadidas pelos exércitos macedônicos, perderam sua liberdade política e, como consequência, perderam a segurança que a cidade, sua cultura e os valores cívicos representavam para eles. Dessa forma, os gregos, em particular os atenienses, se viram na situação de povo dominado, o que retirou deles a possibilidade de se autodeterminarem e decidirem conjuntamente o seu futuro e o da polis. Por outro lado, seus horizontes se alargaram, uma vez que o mundo se tornou um único território, havendo um sincretismo de culturas, o que fez com que os gregos pensassem em si mesmos, individualmente, sem se preocuparem com a cidade, estando exatamente nesse fato a origem das escolas filosóficas do Período Helenístico. 02. Com as invasões macedônicas, os gregos, por não mais se identificarem exclusivamente com sua cidade e seus valores, se viram pertencendo a um mundo muito maior. Dessa forma, não mais se definiam como cidadãos desta ou daquela cidade, mas agora se sentiam cidadãos do mundo ou cosmopolitas. Essa possibilidade permitiu que eles se desprendessem de sua origem, fazendo-os pensar no mundo todo como um único lugar, não havendo mais a ideia de estrangeiro ou cidadão. Sendo assim, independentemente da cidade que habitavam, a vida deveria ser vivida na busca da felicidade própria e particular. 03. Com as conquistas de Alexandre, os homens gregos viram-se sem uma cidade e sem um ideal de vida cívica a seguir. Aquilo que lhes garantia a felicidade, que era justamente o poder de se reunirem na praça pública e juntos, como cidadãos, decidirem o futuro da polis, lhes foi retirado. Desse modo, um novo modo de vida deveria servir como caminho para que os homens pudessem novamente ser felizes, e foi isso que as escolas filosóficas do Período Helenístico se propuseram a fazer. Cada uma delas trazia uma maneira de ser e viver com a qual o homem poderia alcançar a paz interior e, consequentemente, a felicidade. Frente A Módulo 05 FI LO SO FI A 15Editora Bernoulli Propostos 01. A corrente tratada é o ceticismo. Essa corrente de pensamento defende a tese de que é impossível encontrar o conhecimento verdadeiro. Além disso, para o ceticismo, ou pirronismo, o homem deveria suspender os juízos, pois ele não tem condições de saber emitir opiniões sobre os seres ou o mundo. 02. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de se posicionar argumentativamente a favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação). A favor: Sim, simplicidade é sinônimo de felicidade. Acompanhando o argumento de Epicuro, podemos perceber que a posse de bens vários e abundantes não é garantia de uma vida feliz e realizada. Existem muitos exemplos e testemunhos de pessoas que, apesar de terem uma vida luxuosa proporcionada pela riqueza, não são felizes ou realizadas, mas sofrem demasiadamente pela falta de algo que preencha seu vazio existencial. Dessa forma, uma vida mais simples, menos apegada aos bens materiais, embora estes sejam fundamentais para a manutenção do mínimo de conforto para a vida do homem, pode ser o caminho mais viável para a felicidade. Contra: Não, simplicidade não é sinônimo de felicidade. Ser simples não significa ser feliz, pois, se assim o fosse, teríamos de concordar que todas as pessoas que possuem uma vida mais luxuosa, mais rica, seriam necessariamente infelizes, e isso não se comprova. O que faz ou não uma existência feliz é a atitude interna do homem diante das situações. Dessa maneira, é totalmente possível e plausível que existam homens que gozem de luxos e sejam felizes, e homens que tenham uma vida simples, com poucos bens, e sejam profundamente infelizes. O que importa é a atitude interna do indivíduo, não o que ele possui, seja muito ou pouco. 03. A corrente filosófica expressa no trecho em questão é o estoicismo. Sêneca foi um dos principais filósofos estoicos do período do Império Romano e suas influências foram sentidas, inclusive, no cristianismo. Essa corrente filosófica se caracteriza pela busca da apatheia, ou seja, a perfeita indiferença a todos os acontecimentos externos à vida humana, sejam eles bons ou maus. Assim, o estoicismo defenderá que o homem construa uma fortaleza interior que seja inabalável e que garanta a ataraxia ou paz interior. Nada pode tirar a paz do homem, nada pode retirar o homem de seu estado de autocontrole e concentração para a busca da sabedoria pelo estudo da Filosofia. Essa ideia de indiferença se manifesta no desprezo à dor, à morte, ao destino e à pobreza presente no texto. 04. O texto representa a corrente filosófica do ceticismo antigo ou pirronismo. Segundo tal corrente, o homem deve duvidar de tudo, pois não existem verdades absolutas sobre nada. Aquilo que se tem como verdade são ideias particulares dos indivíduos que, não raras as vezes, são contrárias às ideias dos demais, o que leva à conclusão que nenhuma dessas ideias é, em si, a correta. Tal corrente tem seu início com Pirro, soldado do Império Macedônico que, em suas batalhas ao lado de Alexandre, percebeu que em cada localidade, em cada povo, em cada cultura, as verdades sobre os mesmos temas variavam. A partir disso, concluiu que não existem verdades absolutas sobre qualquer assunto. Tal ideia se manifesta na dúvida constante sobre todas as coisas, atitude própria do cético. 05. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de se posicionar argumentativamente a favor de ou contra essa ideia. É muito útil, quando possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação). A favor: O princípio de toda escolha humana é, de fato, a busca pela felicidade e a recusa da dor. Tal atitude é plenamente humana, uma vez que ninguém pode, por natureza, desejar a dor como causa de possibilidade da felicidade. Os animais agem dessa forma, buscando o prazer que, no caso, é a satisfação de seus instintos. Por que o homem seria diferente, se ele também goza de uma natureza instintiva? Tal princípio da satisfação do prazer e fuga da dor encontra-se vastamente defendido na história da Filosofia, Helenismo: a difusão da cultura grega e a busca pela felicidade 16 Coleção Estudo começando com Epicuro, passando por Stuart Mill e chegando a Nietzsche e Freud. Tomando como exemplo, para corroborar o argumento, Nietzsche dirá que a escolha daquilo que nega o prazer e busca deliberadamente a dor é próprio dos seres inferiores, da “moral de rebanho”, apregoada pela moral cristã ocidental, representando, segundo o filósofo, a decadência humana. Quem, em sã consciência, escolheria deliberadamente o sofrimento e rejeitaria o prazer? Não há justificativa razoável para tal atitude. Seria a própria desnaturalização do homem. Contra: A felicidade não pode ser consequência somente das ações que trazem prazer ao homem. Se assim fosse, teríamos de afirmar que todos aqueles que lutam e, devido à sua luta, sofreram ou ainda sofrem por uma causa maior, moralmente justificável, como a democracia em regimes totalitários, não são felizes. Ao contrário, percebe-se que, apesar da dor, que nesse caso é o contrário do prazer, essas pessoas são sim felizes, pois seu sofrimento tem como justificativa uma causa maior. Como exemplo, temos Santo Agostinho, quando este fala sobre a distinção entre a cidade dos homens e a cidade de Deus. Segundo ele, vivemosna cidade dos homens e, para sermos fiéis a Deus, devemos deixar todos os prazeres dessa cidade terrena e, assumindo a dor e o sofrimento, esperarmos o momento em que possamos ir à cidade de Deus. Nesse caso, podemos dizer que a felicidade na Terra não é trazida pelo prazer, mas a dor seria o caminho para a felicidade perfeita e plena. 06. O argumento mais legítimo para defender o ceticismo é justamente o de que o conhecimento verdadeiro não é possível, pois muitas são as respostas para as mesmas questões. Se muitas são as respostas, e várias são plausíveis e sustentadas pela razão, qual delas seria verdadeira? Como exemplo dessa tese, temos Descartes, que rejeita as bases filosóficas que sustentavam as ciências justamente porque poderiam ser colocadas em dúvida. Se algo é realmente verdadeiro, tal verdade deve se legitimar por argumentos irrefutáveis. Não é possível pensar em uma ciência, por exemplo, a Física Moderna, em que os resultados dos cálculos podem ser superados, encontrando-se outros resultados para o mesmo movimento dos corpos. Porém, a realidade das ciências humanas é outra, diferentemente das ciências exatas. Se, nestas, a verdade deve permanecer sempre a mesma, naquelas, pelo fato de terem como objeto o homem, e sendo este essencialmente indeterminado, poderíamos pensar que as verdades dessas ciências podem ser aprimoradas ou, mesmo, totalmente refeitas com o passar do tempo. 07. O estoicismo é a corrente filosófica do Período Helenístico que prega a total resignação do homem diante dos acontecimentos da vida para se atingir a felicidade. Nesse caso, o homem deveria construir uma fortaleza interior de modo que as vicissitudes da vida, ou seja, os acontecimentos, bons ou maus, não lhe tirassem do estado de paz interior ou ataraxia. Para o estoico, o ideal seria atingir a apatheia, que é exatamente a indiferença diante de todas as coisas, pois só por meio dessa indiferença é possível alcançar a felicidade. Essa ideia é clara no texto de Crisipo quando ele fala sobre o sábio, que suporta o fogo, ou seja, as adversidades e acontecimentos externos, sem perder contudo a paz, não sendo tais coisas impedimento à sua felicidade. 08. Representante mais importante da escola cínica, Diógenes de Sinope demonstrou o total desprezo pelas coisas do mundo, sejam materiais ou não, em vista de uma vida simples e feliz. Para ele, o ideal de felicidade estaria no total desapego de todas as coisas, a exemplo do cão, que não tem nada como seu e vive inteiramente de acordo com sua natureza. Para os cínicos, a vida natural é a que deve fazer sentido para o homem, pois nada que não seja parte da natureza deve ser considerado para a busca da felicidade. O cão vive totalmente entregue à sua natureza e, por isso, vive feliz. Seção Enem 01. D Frente A Módulo 05 FI LO SO FI A 23Editora Bernoulli “Eu não estou só, somos eu e aquele que me enviou” (S. João, VIII, 13, 16), apoiando assim o valor da sua doutrina no testemunho do Pai. A religião parece, portanto, nos seus próprios princípios, excluir a investigação e consiste antes numa atitude oposta, a da aceitação de uma verdade testemunhada do alto, independentemente de qualquer investigação. Todavia, logo que o homem se interroga quanto ao significado da verdade revelada e tenta saber por que caminho pode realmente compreendê-la e fazer dela carne da sua carne e sangue do seu sangue, renasce a exigência da investigação. Reconhecida a verdade no seu valor absoluto, tal como é revelada e testemunhada por um poder transcendente, imediatamente se impõe a cada homem a exigência de se aproximar dela e de a compreender no seu significado autêntico para com ela e dela viver verdadeiramente. Esta exigência só pode ser satisfeita pela investigação filosófica. A investigação renasce, pois, da própria religiosidade, pela necessidade que o homem religioso tem de se aproximar, tanto quanto lhe for possível, da verdade revelada. Renasce com uma tarefa específica, que lhe é imposta pela natureza de tal verdade e pelas possibilidades que pode oferecer à sua efetiva compreensão pelo homem; mas renasce com todas as características, próprias da sua natureza, e com força tanto maior quanto maior for o valor que se atribui à verdade em que se acredita e se pretende fazer sua. Da religião cristã nasceu assim a filosofia cristã. Esta tomou também como objetivo conduzir o homem à compreensão da verdade revelada por Cristo, de modo a que ele possa realizar o seu autêntico significado. Os instrumentos indispensáveis para este fim encontrou-os a filosofia cristã, prontos a servirem, na filosofia grega. As doutrinas da especulação helênica do último período, essencialmente religioso, prestavam-se a exprimir, de modo acessível ao homem, o significado da revelação cristã; e com esta finalidade foram, efectivamente, utilizadas da maneira mais ampla. ABBAGNANO, Nicola. História da filosofia. Vol. II. Tradução de Antônio Borges Coelho. Lisboa: Editorial Presença, 1969. p. 108-109. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Era extremamente necessário munir o cristianismo de explicações lógicas e coerentes que se fizessem compreender tanto pelos críticos da nova religião quanto pelos intelectuais neoconvertidos. REDIJA um texto explicando o que significa dizer que era necessário “munir a fé de explicações lógicas”. 02. É claro que a fé ocupa lugar primordial e precedente à razão, mas, justamente pela necessidade de munir a fé de argumentos racionais, a filosofia grega se torna imprescindível para este processo. No entanto, não é qualquer filosofia que pode ser aceita, sendo os textos, as ideias, os pensadores gregos cuidadosamente selecionados. REDIJA um texto explicando o posicionamento dos pensadores cristãos em relação à filosofia, com base na citação anterior. 03. O estoicismo ensina ao homem a enfrentar as vicissitudes da vida de forma calma, resignada, tranquila e, sobretudo, digna. Este estado é alcançado por meio do autocontrole e da austeridade própria de uma vida disciplinada e construída somente com o que é estritamente necessário à sobrevivência, sem nada de luxos ou o culto às coisas supérfluas. REDIJA um texto explicando como o estoicismo auxiliou o cristianismo na formulação de sua ética. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. REDIJA um texto explicando a impropriedade de se utilizar o termo “Idade das Trevas” ou “Noite dos Mil Anos” para se referir à Idade Média. 02. REDIJA um texto explicando a importância do Helenismo como possibilitador da aproximação entre religião e filosofia. 03. REDIJA um texto explicando o papel de Fílon, o Judeu, para o nascimento da filosofia cristã. Filosofia cristã: a relação entre fé e razão 24 Coleção Estudo 04. O crescimento do cristianismo foi um processo longo e gradativo, estendendo-se de seu nascimento, com a morte de Cristo e a formação das primeiras comunidades cristãs, até sua consolidação, com a conversão e o batismo do imperador romano Constantino, no ano de 337, e a consequente institucionalização da religião cristã, mais especificamente do catolicismo, como religião oficial do Império Romano no ano 391. REDIJA um texto explicando por que, principalmente com a institucionalização do cristianismo como religião oficial do Império Romano, se tornou urgente sua explicação de forma racional. 05. Eu sou cristão, glorio-me disso e, confesso, desejo fazer-me conhecer como tal. A doutrina de Platão não é incompatível com a de Cristo, mas não se casa perfeitamente com ela [...] MÁRTIR, Justino. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia: Patrística e Escolástica. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2007. p. 39. A partir da citação anterior, REDIJA um texto explicando o posicionamento de Justino Mártir em relação à filosofia e à religião. 06. Alguns conceitos utilizadosna filosofia cristã foram claramente retirados da filosofia clássica, principalmente de Platão e Aristóteles, e foram utilizados como base para defender as verdades da fé. Dentre esses conceitos, são importantes os de essência e alma / corpo retirados de Platão. REDIJA um texto explicando a relação entre a filosofia de Platão e o cristianismo a partir desses conceitos. 07. A aproximação entre fé e razão, entre religião e filosofia / ciência, sempre foi um desafio, principalmente para a Igreja Católica. Na reportagem intitulada “Vaticano considera não haver contraposição entre fé e evolução”, o repórter Juan Lara cita uma frase do papa João Paulo II que diz “não basta a evolução das espécies para explicar a origem do gênero humano, como não basta a casualidade biológica para explicar por si só o nascimento de uma criança”. REDIJA um texto explicando o posicionamento da Igreja a partir da citação anterior. 08. Todavia, logo que o homem se interroga quanto ao significado da verdade revelada e tenta saber por que caminho pode realmente compreendê-la e fazer dela carne da sua carne e sangue do seu sangue, renasce a exigência da investigação. ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. V. II. Tradução de Antônio Borges Coelho. Lisboa: Editorial Presença, 1969. p. 108-109. No trecho anterior, vemos a necessidade da religião de se aproximar da filosofia. REDIJA um texto explicando a tese defendida pelo autor Nicola Abbagnano acerca de tal aproximação. SEÇÃO ENEM 01. (Enem–2001) O texto a seguir reproduz parte de um diálogo entre dois personagens de um romance. – Quer dizer que a Idade Média durou dez horas? – Perguntou Sofia. – Se cada hora valer cem anos, então sua conta está certa. Podemos imaginar que Jesus nasceu à meia-noite, que Paulo saiu em peregrinação missionária pouco antes da meia noite e meia e morreu quinze minutos depois, em Roma. Até as três da manhã a fé cristã foi mais ou menos proibida. [...] Até as dez horas as escolas dos mosteiros detiveram o monopólio da educação. Entre dez e onze horas são fundadas as primeiras universidades. GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia, Romance da História da Filosofia. São Paulo: Cia das Letras, 1997 (Adaptação). O ano de 476 d.C., época da queda do Império Romano do Ocidente, tem sido usado como marco para o início da Idade Média. De acordo com a escala de tempo apresentada no texto, que considera como ponto de partida o início da Era Cristã, pode-se afirmar que A) as Grandes Navegações tiveram início por volta das quinze horas. B) a Idade Moderna teve início um pouco antes das dez horas. C) o cristianismo começou a ser propagado na Europa no início da Idade Média. D) as peregrinações do apóstolo Paulo ocorreram após os primeiros 150 anos da Era Cristã. E) os mosteiros perderam o monopólio da educação no final da Idade Média. Frente A Módulo 06 FI LO SO FI A 25Editora Bernoulli GABARITO Fixação 01. Quando o cristianismo foi reconhecido como religião oficial do Império Romano, tornou-se necessário que suas verdades e crenças fossem explicadas para o povo, que acabava de se converter juntamente com o imperador, e para os homens cultos do Império Romano, que necessitavam de explicações coerentes sobre a nova fé, de forma que pudessem se defender dos ataques daqueles que não aceitavam o cristianismo e que criticavam suas crenças e doutrinas. Dessa forma, principalmente no período da Patrística, o cristianismo se uniu à filosofia para buscar nela argumentos que justificassem a si mesmo, construindo, então, argumentos próprios, de fundo filosófico, que pudessem servir às suas necessidades de explicação e defesa da fé. Não bastava acreditar somente nas verdades do cristianismo, tornou-se necessário compreender tais verdades, embora muitas fossem impossíveis de ser explicadas. 02. Para os pensadores ou filósofos cristãos, é evidente que a filosofia antiga, principalmente dos gregos Platão e Aristóteles, vem em segundo plano, ou seja, é um simples complemento das verdades religiosas. Por isso se utiliza a ideia de que a ‘razão é escrava da fé’. A filosofia é vista como um caminho para a explicação das verdades religiosas, tendo seu valor reconhecido pelos filósofos cristãos à medida que serve de argumento para explicar o que a fé diz. Desse modo, os textos e pensadores da filosofia são cuidadosamente selecionados para que sirvam a esse propósito. O que pode parecer contrário à fé, aquilo que pode gerar alguma dúvida e levar ao questionamento da verdade revelada, é imediatamente eliminado. 03. A ética estoica privilegia uma vida simples e desapegada dos bens materiais, sendo que a felicidade somente será atingida quando o homem se tornar indiferente a tudo o que é externo. Da mesma maneira, o cristianismo acredita que o caminho para a salvação, para uma vida correta segundo os mandamentos cristãos, seria exatamente uma vida simples e desapegada, uma vez que as coisas deste mundo, os bens materiais, não levariam o homem para perto de Deus, pelo contrário, afastariam o homem do caminho correto, levando-o a se apegar às coisas passageiras e terrenas. Dessa maneira, podemos dizer que tais ideias de desapego, resignação, abnegação, vida simples e pobre, voltada para dentro de si e não para o mundo exterior, são heranças da escola estoica para o cristianismo. Propostos 01. Os termos “Idade das Trevas” e “Noite dos Mil Anos” trazem consigo a ideia de estagnação e atraso, como se na Idade Média nada de bom tivesse acontecido, como se tudo o que ocorreu não tivesse nenhum valor para a história da humanidade e para o pensamento filosófico. Tal ideia não corresponde à realidade histórica. É possível identificarmos inúmeros progressos ocorridos durante a Idade Média, como a fundação das universidades, o desenvolvimento da arte gótica e o aparecimento de filósofos importantíssimos para a história do pensamento ocidental, como Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, entre outros. Dessa forma, a ideia de que a Idade Média consistiu somente em um período sem qualquer importância, intermediário entre o Renascimento e a Antiguidade, é imprópria e incorreta. 02. Foi no Helenismo que se observou a primeira aproximação entre fé e razão, ou seja, entre religião e filosofia. Sua contribuição se deu a partir da convivência de vários povos e culturas no mesmo território, nas mesmas cidades, aproximando definitivamente homens que até então se identificavam unicamente com sua própria cultura e se restringiam à convivência somente com aqueles que pertenciam ao seu povo. Com essa aproximação, houve inevitavelmente um diálogo, o que tornou possível uma espécie de sistematização ou síntese entre religião e filosofia, uma vez que os representantes desses pensamentos puderam interagir formal ou informalmente. Filosofia cristã: a relação entre fé e razão 26 Coleção Estudo 03. Fílon de Alexandria foi o primeiro religioso a realizar uma aproximação sistemática entre religião e filosofia. Conhecedor principalmente das ideias de Platão, ele pôde criar uma síntese entre a religião judaica, mais especificamente entre o Pentateuco, e a filosofia clássica, a partir da ideia da criação do mundo. Para Platão, no livro Timeu, quem criou todas as coisas do mundo foi um semideus chamado Demiurgo, que o fez a partir de ideias previamente existentes (as formas ou ideias inteligíveis). Porém, segundo a religião, Deus também criou todas as coisas a partir de ideias, no entanto, tais ideias não são entidades autônomas como concebia Platão, mas sim ideias provenientes do próprio Deus. A partir desse argumento de Fílon, torna-se clara a aproximação de vários pontos da religião com a filosofia antiga. 04. Foi necessário tornar claras e inteligíveis as verdades pregadas e defendidas pelo cristianismopara que as pessoas pudessem compreender e aceitar essa nova fé, não somente por obrigação, afinal, o próprio imperador havia se convertido e todos estavam acompanhando-o. Além dessa necessidade de explicação, era urgente a necessidade de se construir uma unidade doutrinária no cristianismo, pois até então havia divergências quanto à sua interpretação e aos modos de viver. Diante disso, a única forma de criar tal unidade e de se fazer compreender em seus fundamentos foi buscar na filosofia os argumentos lógicos e racionais que dessem à nova religião sustentação diante dos desafios que esta vivenciava, criando então uma filosofia cristã. 05. Justino é um dos principais representantes da Escola Apologética, que antecedeu a Patrística, no século II. Como o próprio nome diz, os Padres Apologistas defendem a fé cristã e, para isso, constroem argumentos para que a fé não seja contrariada. No texto em questão, é clara a preferência de Justino pela religião, contrapondo-a, em muitos aspectos, à filosofia clássica, especificamente à filosofia platônica, dando um caráter de superioridade à religião e às verdades reveladas em relação à filosofia grega pagã. 06. Platão, como o filósofo que sistematizou a metafísica, buscava a verdade última das coisas, chamada de essência. O cristianismo se apropriou de tal conceito ao dizer que a essência do homem é, por exemplo, a alma. Dessa forma, a religião cristã defenderá que existe algo que está para além da aparência dos seres, sendo o fundamento da realidade, e esse ser seria o próprio Deus. Também os conceitos de alma e corpo, tratados por Platão, serão utilizados pelos filósofos cristãos. O homem tem, portanto, duas realidades em si: a alma, que seria sua essência e por isso é imutável e perfeita, e o corpo, material e imperfeito. Segundo Platão, só pela alma se conhece a verdade. Para o cristianismo, a alma seria a habitação de Deus no homem, sendo o corpo, segundo Santo Agostinho, a parte imperfeita e ruim do homem, fonte do pecado e da concupiscência. 07. Para a religião, a ciência ou a filosofia não são capazes de explicar como as coisas acontecem, principalmente no que se refere à vida humana. Se, pela teoria da evolução, sabe-se que a vida se deu de forma natural, ou seja, sem necessitar de algo extraordinário e transcendental para que ela acontecesse, a Igreja se pronunciará dizendo que não basta a hipótese científica para explicar a vida, mas que há uma vontade externa e perfeita que quis que a vida existisse. Dessa forma, segundo o texto, não haveria uma clara contraposição entre ciência e fé, mas uma complementaria a outra no momento em que se reconhecesse que a natureza pode ter seu funcionamento iniciado ou promovido por uma vontade divina. 08. Para Nicola Abbagnano, a religião deve ser compreendida pela filosofia justamente porque faz parte da natureza do homem a necessidade de conhecer o que as coisas são e como são. Assim, ele defenderá que, quando o homem se interroga sobre o significado da verdade, sendo essa verdade religiosa, revelada, surge consequentemente a necessidade de compreendê-la, de forma que ela possa ter um sentido pessoal para o próprio crente. Não basta simplesmente saber que as verdades existem, é preciso, para satisfazer a necessidade de conhecer, compreendê-las de forma inteligível. Só dessa forma seria possível viver essa verdade de maneira coerente e pessoal. Nesse sentido, religião e razão devem caminhar juntas. Seção Enem 01. A Frente A Módulo 06 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 07 3 A Patrística e Santo AgostinhoAuor: Richard Garcia Amorim 08 19 A Escolástica e Santo Tomás de Aquino Autor: Richard Garcia Amorim 14 Coleção Estudo O tempo, criação de Deus, é abordado de maneira singular por Santo Agostinho, pois, segundo ele, é muito comum que os homens compreendam o tempo dividido em passado, presente e futuro. Para ele, essas três dimensões fazem parte de nosso cotidiano e, costumeiramente, pensamos o dia, o mês, o ano, enfim, a vida, sob esta perspectiva: Passado: sucessão de fatos que já aconteceram. Presente: sucessão de fatos que estão acontecendo. Futuro: sucessão de fatos que ainda irão acontecer. Porém, essa forma de entender o tempo não é precisa. Dessa forma, Agostinho afirma: Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem, e que não é exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez justo dizer que o tempo são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. Estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera. AGOSTINHO. Confissões. 11, 20, 26. Agostinho admite a existência somente do tempo presente, pois este é o agora, o momento, aquilo que acontece no instante. O passado nada mais é do que a memória dos fatos já ocorridos e relembrados no agora, no presente, por isso ele se refere ao passado como “o presente dos fatos passados”. E o presente, o que é? O presente é o momento, o instante. Agora, neste instante, ele é, no instante seguinte, já não é mais, tornou-se passado. É um tempo tão imediato que não pode sequer ser medido, o tempo presente não tem nenhum espaço, é o presente das coisas presentes. E o que é o futuro? Se não existe passado, existindo somente as lembranças dos fatos já ocorridos, trazidos ao presente pela memória, o futuro não pode ser ao menos trazido à memória no presente, uma vez que ele sequer aconteceu. Do futuro só temos a expectativa de sua chegada. Por isso, Agostinho se refere ao futuro como “presente das coisas futuras”, isto é, expectativa, espera por aquilo que virá. Assim, Agostinho, no livro Confissões, conclui a análise do tempo propondo uma nova terminologia: O que agora claramente transparece é que nem há tempos futuros nem pretéritos. É impróprio afirmar que os tempos são três: pretérito, presente e futuro. Mas talvez fosse próprio dizer que os tempos são três: presente das coisas passadas, presente das presentes e presente das futuras. Existem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte; lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e esperança presente das coisas futuras. Se me é lícito empregar tais expressões, vejo então três tempos e confesso que são três. AGOSTINHO. Confissões. 11, 20, 26. Dessa forma, podemos concluir que, segundo Agostinho, não há três tempos, mas sim três dimensões do presente. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Para os filósofos da Idade Média, o fato de o cristianismo significar a verdade era um dado praticamente irrefutável. A questão era saber se tínhamos que simplesmente acreditar na revelação cristã, ou se também podíamos nos aproximar das verdades cristãs com a ajuda de nossa razão. Qual era a relação entre os filósofos gregos e as doutrinas da Bíblia? Havia uma contradição entre a Bíblia e a razão, ou será que a fé e o conhecimento podiam conviver em harmonia? Quase toda a filosofia da Idade Média gira em torno dessas questões. GAARDER, Jostein. O mundo de Sofia. Tradução de João Azenha Jr. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 193-194. REDIJA um texto explicando a relação entre fé e razão durante a Idade Média. 02. Apesar do grande trabalho pastoral, Agostinho ainda encontrava tempo para se dedicar ao trabalho intelectual. Sua missão: defender a fé. REDIJA um texto explicando a missão agostiniana em relação ao seu momento histórico. 03. O homem não tem razão para filosofar, exceto para atingir a felicidade. REDIJA um texto explicando essa citação e a importância da obra de Cícero para a filosofia agostiniana. Frente A Módulo 07 15Editora BernoulliFI LO SO FI A EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém me chamastes com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós. Eu Vos saboreei, e agora tenho fome e sede de Vós. Vós me tocastes e ardi no desejo da Vossa paz. AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de Maria Luiza J. Amarante. São Paulo: Paulus, 1984, Livro X, 27, p. 277. A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a seguinte afirmação de Santo Agostinho: “Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos!” 02. Não eram pessoas mais velhas que me ensinavam as palavras, com métodos, como pouco depois o fizeram para as letras. Graças à inteligência que Vós, Senhor, me destes, eu mesmo aprendi, quando procurava exprimir os sentimentos do meu coração por gemidos, gritos e movimentos diversos dos membros, para que obedecessem à minha vontade. AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 15. A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a visão maniqueísta de Agostinho quanto à relação entre corpo e alma. 03. Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Liberdade>. Acesso em: 3 jun. 2010. REDIJA um texto explicando por que Santo Agostinho não concordaria com o conceito de liberdade expresso na citação anterior. 04. Diz o profeta: “Se não credes, não entendereis”; certamente não diria isto se não julgasse necessário pôr uma diferença entre as duas coisas. Portanto, creio tudo o que entendo, mas nem tudo que creio também entendo. AGOSTINHO, Santo. De Magistro. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 96. A partir da tese defendida nesse trecho de Agostinho, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: o que é verdade de fato? 05. A filosofia não teria o papel de colocar em xeque as verdades cristãs reveladas. De maneira alguma! Na relação fé e razão, Agostinho reconhece claramente o papel da razão, que sempre e em todas as ocasiões é simplesmente “escrava” da fé. A partir do trecho anterior e do que foi estudado sobre a filosofia agostiniana, REDIJA um texto explicando a relação entre fé e razão durante a Idade Média. 06. Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. São Paulo: Nova Cultural, 2000. Livro XII, 14, 17. Com base na leitura desse trecho e considerando outras informações contidas na obra Confissões, REDIJA um texto, explicando por que para Agostinho é impossível definir o que é o tempo em si mesmo e qual é a resposta dada por ele à questão “O que é o tempo?” 07. [...] a vontade não pode ser autônoma, isto é, a vontade humana não pode decidir por si mesma, pois, desta maneira, inevitavelmente, o homem se afastaria do bem [...]. De acordo com o trecho anterior, REDIJA um texto explicando a concepção antropológica agostiniana. 08. REDIJA um texto contrapondo a Teoria da Predestinação Divina de Santo Agostinho ao Pelagianismo. A Patrística e Santo Agostinho 16 Coleção Estudo SEÇÃO ENEM 01. A luz comum, à medida que pode, nos indica como é aquela Luz. Pois há alguns olhos tão sãos e vivos que, ao se abrirem, fixam-se no próprio Sol sem nenhuma perturbação. Para estes, a própria luz é, de algum modo, saúde, sem necessidade de alguém que lhes ensine, senão talvez apenas de alguma exortação. Para eles é suficiente crer, esperar, amar. AGOSTINHO. Solilóquio e vida feliz. São Paulo: Paulus, 1998. p. 23. Em conformidade com a Teoria da Iluminação de Santo Agostinho, podemos afirmar que a luz à qual o filósofo se refere é A) o conhecimento humano, obtido por intermédio das demonstrações da lógica e da matemática, porém, ainda resta saber como tal conhecimento é possível. B) o intelecto humano, que, servindo-se unicamente de si mesmo, encontra toda a certeza e o fundamento da verdade. C) o próprio Deus, uma vez que o intelecto humano, que, por sua natureza, é perecível, não pode se colocar como certeza do conhecimento, pois a verdade é eterna. D) a saúde do espírito, que é alcançada por todos, uma vez que a salvação e a felicidade são unicamente o resultado do esforço do homem na vida terrena. E) a atividade intelectiva humana, que pode, através de suas capacidades, encontrar a verdade única e imutável que levaria à plena felicidade. necessidade de também compreendê-las, com fins de defender o cristianismo contra as heresias, criar uma unidade doutrinária da nova religião e convencer os neoconvertidos. Para tanto, os Padres da Igreja, principalmente Agostinho, utilizam-se da filosofia pagã grega para, por meio dela, explicar o cristianismo, ocorrendo, assim, a aproximação entre fé e razão. No entanto, é necessário ressaltar que a razão é um meio e não um fim em si mesma, pois a fé nas revelações das Escrituras, verdades irrefutáveis, sobrepõe-se à razão, à filosofia. Podemos dizer que essa relação, ao longo da Idade Média, sofre uma mudança, na terceira fase da escolástica, rompendo-se quase por completo, pois pensadores como Guilherme de Ockam dirão que fé e razão tratam de coisas distintas e não podem se submeter uma à outra. 02. Após se converter ao cristianismo, Agostinho trouxe para a religião todo o seu potencial como pensador, como filósofo. Em seu contexto histórico, era fundamental munir a fé cristã de argumentos racionais que pudessem defendê- la contra as heresias e ataques daqueles que não acreditavam nessa manifestação religiosa. Também era necessário que o cristianismo se justificasse enquanto teologia e ainda que fosse construída uma unidade religiosa que mantivesse unidas doutrinariamente todas as comunidades cristãs. Dessa forma, ao elaborar uma teologia, Agostinho se preocupa em defender a fé contra seus inimigos e contra a própria ignorância, que poderia ser a pedra de tropeço dos próprios cristãos. 03. Em sua obra intitulada Hortêncio, Cícero, com clara influência helenística, aponta a filosofia como o único caminho para que o homem encontre a verdadeira felicidade. Na história de sua vida, foi por meio da leitura da obra de Cícero que Agostinho se aproxima da filosofia de modo a compreendê-la como caminho que leva o homem à vida feliz. Dessa forma, ao elaborar sua filosofia cristã, pode-se afirmar que Agostinho tinha em mente um único objetivo, o de se encontrar com a Verdade, entendida como o próprio Deus e, consequentemente, com a verdadeira felicidade. Vê-se que felicidade e verdade são uma única e mesma coisa, tendo uma única e mesma fonte, o próprio Deus. GABARITO Fixação 01.O problema central da filosofia medieval é justamente o da relação entre fé e razão, religião e filosofia. Para compreender melhor tal problema, deve-se esclarecer que, quando falamos em filosofia medieval, estamos falando não de verdades construídas pelo homem, mas de verdades reveladas por Deus, portanto, irrefutáveis. Tais verdades são incontestáveis, cabendo ao homem acreditar nelas de forma dogmática. Porém, na Patrística (século III ao VIII), surge a Frente A Módulo 07 17Editora Bernoulli FI LO SO FI A Propostos 01. A vida de Santo Agostinho é marcada definitivamente pela busca. Por isso, a palavra- chave que resume seu itinerário espiritual e intelectual é inquietude. Uma inquietude nascida pela falta de sentido, de razão, de algo que pudesse trazer paz e felicidade à sua vida. Em busca desse algo, Agostinho, antes de sua conversão aos 32 anos, buscou em vários lugares esse sentido. Participou do maniqueísmo, do ceticismo e do neoplatonismo, não encontrando em nenhuma dessas correntes de pensamento aquilo que buscava, ou seja, o verdadeiro sentido de sua existência, que lhe traria a verdadeira felicidade. Porém, ao se converter, pôde compreender que aquilo que buscava fora de si estava todo o tempo dentro de si mesmo. A verdade que traria sentido para sua vida e, consequentemente, a plena felicidade, habitava o seu interior, estava na sua alma, e tal verdade era o próprio Deus. Por isso, ele afirma que procura fora de si aquilo que estava, na verdade, em seu interior. 02. A tese central do maniqueísmo, corrente filosófica fundada pelo persa Mani (século III), era de que o universo e o próprio homem são formados por duas forças antagônicas, o bem e o mal, a luz e as trevas, radicalizando uma visão dualista do cosmos grego. Participante durante alguns anos dessa corrente filosófica, Agostinho, depois de sua conversão, apesar de combater o maniqueísmo, trouxe para sua filosofia cristã tal ideia, porém aplicada, evidentemente, à realidade do cristianismo. Tal ideia se manifesta na concepção dualista de Agostinho em relação à separação do homem em corpo e alma. A alma seria a luz, a própria habitação de Deus no homem, que o levaria ao caminho do bem. Por outro lado, o corpo seria mau por natureza, consequência do pecado original, e levaria o homem à prática do mal, portanto, para o caminho do pecado. Tais forças, o bem e o mal, a luz e as trevas, o corpo e a alma estariam em constante luta para se sobressair uma à outra. Essa luta de forças opostas seria manifestada na própria vida humana, em que o cristão encontra- se em constante conflito consigo mesmo para superar o seu mal natural e fazer prevalecer o bem ou a alma. 03. Segundo a filosofia agostiniana, há claramente uma diferença entre liberdade e livre-arbítrio. Livre-arbítrio é o conceito descrito na citação anterior, em que o homem tem total controle sobre si mesmo, sobre suas ações e seus pensamentos, fazendo o que acredita ser melhor, podendo, portanto, se autodeterminar da maneira que lhe aprouver. Ao contrário, liberdade seria a submissão do homem às vontades divinas, uma vez que Deus não poderia querer o mal do homem. Este, seguindo então as determinações e mandamentos divinos, fará sempre o que for melhor para si mesmo. Segundo Agostinho, o homem que se guia pelo seu livre-arbítrio, acreditando ser livre, é escravo de seu corpo e de suas vontades momentâneas. Portanto, Agostinho não concordaria com o conceito de liberdade da citação anterior, que representa exatamente o contrário do que ele acredita ser a verdadeira liberdade. Entende-se, por conseguinte, o porquê de o homem não poder ser autônomo, dono de si mesmo, na visão do filósofo. 04. Segundo o pensamento medieval, principalmente o de Santo Agostinho, verdade de fato é aquela que é dada ao homem por meio da revelação. Não importa seu conteúdo e sua inteligibilidade, mas tão somente sua origem, no caso, divina. Essas verdades reveladas são dadas ao homem e a este cabe aceitá-las de forma passiva. Não há espaço para a dúvida, para o questionamento, para a investigação crítica, pois são verdades irrefutáveis. Porém, se pensarmos nas verdades modernas, estas são alcançadas pelo labor humano de investigar, questionar, criticar o que está posto, procurando esclarecer tudo. O que não tiver uma justificativa racional será rejeitado, pois não encontra legitimidade na razão humana, única juíza das verdades de fato. A Patrística e Santo Agostinho 18 Coleção Estudo 05. O principal problema de toda a Idade Média se constitui exatamente na relação entre fé e razão. A fé é a essência da religião, que se baseia nas verdades reveladas por Deus aos homens por meio das Sagradas Escrituras, da tradição e do Magistério da Igreja. Dessa forma, tais verdades são irrefutáveis e inquestionáveis para aqueles que têm fé. Desse modo, a função da filosofia não é criticar a fé nem tão pouco colocá-la em xeque, mas servir somente como instrumento de explicação da fé. É nesse contexto que entendemos porque a filosofia é considerada «escrava» da fé, uma vez que esta não tem a função de criticar ou purificar o que a religião afirma, mas sim fornecer argumentos explicativos da mesma. 06. O tempo não pode ser conhecido em si mesmo, ontologicamente, porque o tempo não existe por si mesmo, e é impossível definir o que não existe. O passado não existe, pois já não é, já passou, e o que passou não existe mais. O futuro não existe porque ainda não é, ele não está presente e, por isso, não pode existir por si mesmo. O presente constitui o instante, portanto, impossível de ser compreendido, pois o agora, o momento, passa instantaneamente para o passado. Agostinho responde a essa questão invertendo o raciocínio. Não busca compreender o tempo em si, mas o tempo para o homem, ou seja, a percepção humana do tempo, por isso sua reflexão sobre o tempo é psicológica. Os homens só podem conhecer o tempo pela lembrança, pois ele só existe na mente como memória dos fatos passados e expectativa dos acontecimentos futuros trazidos para o agora pela atenção, que sintetiza o passado e o futuro, tornando-os presentes. 07. Segundo Agostinho, o homem é mau por natureza. Essa maldade não se deve totalmente à sua vontade e seu desejo de tornar-se assim, mas a um mal natural que está nele desde o seu nascimento e que constitui uma espécie de tendência que o leva a realizar o que é considerado pecado para o cristianismo. Porém, apesar de mau, o homem também é o único capaz de superar essa força negativa por meio da ajuda e da intervenção divina, pois Deus habita a sua alma e o ajuda por meio de sua graça. Segundo Agostinho, é exatamente porque o homem tende ao mal que ele não pode ser livre para decidir, por si próprio, os caminhos que trilhará, devendo, ao contrário, obedecer a Deus de forma total e irrestrita. 08. O Pelagianismo, pensamento considerado uma heresia pela Igreja Católica no século V, defendia que o homem poderia alcançar a salvação somente por meio de seu esforço pessoal e sua determinação, sem a ajuda e a intervenção divina. Tal doutrina foi veementemente condenada pela Igreja, uma vez que dispensaria a ajuda e o auxílio de Deus, tornando o homem autônomo, inclusive em relação à sua salvação. Dessa forma, a Igreja se posicionou a favor da Teoria da Predestinação Divina de Agostinho, que afirmava que a salvação do homem só seria possível se este fosse um eleito, ou seja, se tivesse recebido de Deus a graça divina, um dom dado a alguns homens, sem o qual não existiria a possibilidade de salvação. Seção Enem 01. C Frente A Módulo 07 31Editora Bernoulli FI LO SO FI A A essa altura, os homens da razão aprendem dos árabes que há um antigo mestre (um grego) que poderia forneceruma chave para unificar esses membros esparsos da cultura: Aristóteles. Aristóteles sabia falar de Deus, mas classificava os animais e as pedras, e se ocupava com o movimento dos astros. Aristóteles sabia lógica, preo cupava-se com psicologia, falava de física, classificava os sistemas políticos. Mas Aristóteles, sobretudo, oferecia as chaves (e Tomás nisso saberá tirar dele o máxi mo) para inverter a relação entre a essência das coisas (e isso significa aquela por ção das coisas que pode ser entendida e dita, mesmo quando as coisas não estão ali debaixo dos nossos olhos) e a matéria de que as coisas são feitas. [...] Tomás não era nem herege nem revolucionário. Tem sido chamado de “concordista”. Para ele, tratava-se de afinar aquela que era a nova ciência com a ciência da revelação, e de mudar tudo para que nada mudasse. Mas, nesse plano, ele aplica um extraordinário bom-senso e (mestre em sutilezas teológicas) uma grande aderência à realidade natural e ao equilíbrio terreno. Fique claro que Tomás não aristoteliza o cristianismo, mas cristianiza Aristóteles. Fique claro que nunca pensou que com a razão se pudesse enten der tudo, mas que tudo se compreende pela fé: só quis dizer que a fé não estava em desacordo com a razão, e que, portanto, era até possível dar-se ao luxo de raciocinar, saindo do universo da alucinação. E assim compreende-se por que na arquitetura de suas obras os capítulos principais falam apenas de Deus, dos anjos, da alma, da virtude, da vida eterna: mas no interior desses capítulos tudo encontra um lugar, mais que racional, “razoável”. [...] Não se esqueça de que antes dele, quando se estudava o texto de um autor antigo, o comentador ou o copista, quando encontrava algo que não concordava com a religião revelada, ou apagava as frases “errôneas” ou as assinalava em senti do dubitativo, para pôr em guarda o leitor, ou as deslocavam para a margem. O que faz Tomás, por sua vez? Alinha as opiniões divergentes, esclarece o sentido de cada uma, questiona tudo, até o dado da revelação, enumera as objeções pos síveis, tenta a mediação final. Tudo deve ser feito em público, como pública era justamente a disputatio na sua época: entra em função o tribunal da razão. Que depois, lendo com atenção, se descubra que em cada caso o dado de fé aca bava prevalecendo sobre qualquer outra coisa e guiava o deslindar da questão, ou seja, que Deus e a verdade revelada precediam e guiavam o movimento da razão laica, isso foi esclarecido pelos mais agudos e aficionados estudiosos tomistas, como Gilson. Nunca ninguém disse que Tomás era um Galileu. Tomás simplesmente fornece à Igreja um sistema doutrinário que a concilia com o mun do natural. ECO, Umberto. Elogio de Santo Tomás de Aquino. In: Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 335-336 e 339-340. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. REDIJA um texto explicando a importância da Renascença Carolíngia para o ensino formal durante a Idade Média. 02. O problema central da Escolástica era o mesmo da Patrística: compreender racionalmente o que dizia a fé, a revelação. REDIJA um texto explicando o que há de comum entre a Patrística e a Escolástica. 03. Se é verdade que a verdade da fé cristã ultrapassa as capacidades da razão humana, nem por isso os princípios inatos naturalmente à razão podem estar em contradição com esta verdade sobrenatural. AQUINO, São Tomás de. Suma contra os Gentios. In: Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, v. VIII, 1973, p. 70. De acordo com a citação anterior e com base em outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a relação entre esforço humano e revelação divina para São Tomás de Aquino. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. REDIJA um texto explicando a diferença entre os argumentos a posteriori e os argumentos a priori, elaborados por Anselmo de Cantuária para provar a existência de Deus. 02. REDIJA um texto explicando a importância das universidades para o pensamento medieval no período da Escolástica. 03. REDIJA um texto explicando a importância dos pensadores árabes Avicena e Averróis para a constituição do pensamento escolástico, principalmente em sua terceira fase. 04. REDIJA um texto explicando a intenção essencial de Tomás de Aquino, ao elaborar os argumentos sobre a existência de Deus, e como estes argumentos funcionam como instrumento de legitimação da fé cristã. A Escolástica e Santo Tomás de Aquino 32 Coleção Estudo 05. Tomás não era nem herege nem revolucionário. Tem sido chamado de “concordista”. Para ele, tratava-se de afinar aquela que era a nova ciência com a ciência da revelação, e de mudar tudo para que nada mudasse. [...] Que depois, lendo com atenção, se descubra que, em cada caso, o dado de fé aca bava prevalecendo sobre qualquer outra coisa e guiava o deslindar da questão, ou seja, que Deus e a verdade revelada precediam e guiavam o movimento da razão laica, isso foi esclarecido pelos mais agudos e aficionados estudiosos tomistas, como Gilson. Nunca ninguém disse que Tomás era um Galileu. Tomás simplesmente fornece à Igreja um sistema doutrinário que a concilia com o mun do natural. ECO, Umberto. Elogio de Santo Tomás de Aquino. In: Viagem na irrealidade cotidiana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 335-336 e 339-340. REDIJA um texto explicando a seguinte afirmação: “Nunca ninguém disse que Tomás era um Galileu”. 06. Em sua teoria do conhecimento, Tomás de Aquino substitui a doutrina da iluminação divina pela da abstração, de raízes aristotélicas: a única fonte de conhecimento humano seria a realidade sensível, pois os objetos naturais encerrariam uma forma inteligível em potência, que se revela, porém, não aos sentidos que só podem captá-la individualmente, mas ao intelecto. INÁCIO, Inês C.; LUCA, Tânia Regina de. O pensamento medieval. São Paulo: Ática, 1988. p. 74. REDIJA um texto explicando a novidade trazida pela epistemologia tomista. 07. Tampouco é inevitável que, se afirmarmos que Deus é exclusivamente ser ou existência, caiamos no erro daqueles que disseram que Deus é aquele ser universal, em virtude do qual todas as coisas existem formalmente. Com efeito, este ser que é Deus é de tal condição, que nada se lhe pode adicionar. [...] Por este motivo afirma-se no comentário à nona proposição do livro Sobre as Causas, que a individuação da causa primeira, a qual é puro ser, ocorre por causa da sua bondade. Assim como o ser comum em seu intelecto não inclui nenhuma adição, da mesma forma não inclui no seu intelecto qualquer precisão de adição, pois, se isto acontecesse, nada poderia ser compreendido como ser, se nele algo pudesse ser acrescentado. AQUINO, Tomás de. O ente e a essência. In: BARAÚNA, Luiz João (trad.). Coleção Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 15. Com base na leitura do trecho anterior e em outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando por que, segundo Tomás de Aquino, Deus é Ato Puro. 08. REDIJA um texto estabelecendo as relações hierárquicas existentes entre a lei eterna, a lei natural, a lei humana e a lei divina. SEÇÃO ENEM 01. Embora a supracitada verdade da fé cristã exceda a capacidade da razão humana, os princípios que a razão tem postos em si pela natureza não podem ser contrários àquela verdade. AQUINO, Tomás de. Suma ontra os Gentios. Tradução D. Odilão Moura e Ludgero Jaspers. Rev. Luis A. de Boni. Porto Alegre: EDPUCRS, 1996. I, VII, 1 (42). Tomás de Aquino não via contradição entre fé e razão, pois se a ideia é realmente verdade, ela não pode estar contra a revelação nem a razão humana, já que esta também foi dada por Deus. Desse modo, o homem, conhecedor da verdade, é entendido como A) passivo diante da revelação dada por Deus e pela Igreja, uma vez que, como as verdades são eternas e imutáveis, estassó podem ser conhecidas pela concessão divina e nada mais. B) pecador e, desse modo, por causa de sua natureza má, ele não pode alcançar as verdades divinas, pois estas estão além de sua capacidade. C) pecador, porém com a capacidade de entender racionalmente as verdades divinas, desde que a razão não contrarie a fé. D) filho de Deus, portanto capaz de alcançar as verdades sobre o mundo e da fé somente pela racionalidade, não necessitando, para isso, do auxílio divino. E) capaz de, pela ciência, alcançar um conhecimento do mundo que exceda a própria revelação, uma vez que as essências ou verdades estão nas coisas e são compreendidas pela investigação científica. Frente A Módulo 08 33Editora Bernoulli FI LO SO FI A GABARITO Fixação 01. A Renascença Carolíngia, um movimento iniciado por Carlos Magno, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, teve como foco a questão da educação e do ensino durante a Idade Média. No início do século IX, Carlos Magno, com a ajuda do monge Alcuíno, fundou as escolas Palatinas, com o intuito de formar pessoas intelectualmente preparadas para assumirem cargos na administração pública. Dessa forma, juntamente à fundação das escolas, houve a organização do ensino, dividido em trivium e quadrivium. Esses fatores foram essenciais para que o conhecimento, mantido, até aquele momento, exclusivamente dentro dos mosteiros, pudesse ser difundido de forma mais ampla no mundo europeu. 02. O grande e fundamental problema tratado na Idade Média diz respeito à relação entre fé e razão. Dessa forma, tanto no período da Patrística (séculos III a VIII) quanto no período da Escolástica (séculos IX a XV), a relação entre religião e filosofia foi a questão a ser respondida. Nesses dois momentos, observa-se a clara sobreposição da fé à razão, que servia somente como instrumento de explicação da fé. Se na Patrística o instrumento principal de explicação da fé foi o pensamento de Platão, na Escolástica, tal instrumento foi o pensamento de Aristóteles. De uma forma ou de outra, em ambas, buscou-se uma aproximação entre filosofia e religião com o intuito de que aquela oferecesse a esta instrumentos que pudessem garantir sua legitimidade também em relação à racionalidade filosófica. 03. Santo Tomás de Aquino é o principal representante da Escolástica e o principal filósofo medieval. Inspirado em Aristóteles e contrário a Santo Agostinho, Tomás de Aquino acredita que o homem é dotado de uma inteligência natural que pode levá-lo ao conhecimento do mundo pela experiência e pela razão. No entanto, por ser um cristão coerente, não pode prescindir da verdade revelada. Assim, pode-se dizer que Tomás de Aquino faz concordar a filosofia aristotélica com a revelação divina. Se o homem tem uma inteligência, esta foi dada por Deus. Utilizando-se dela, não é possível ao homem encontrar verdades que estejam em contradição com aquilo que o próprio Deus determinou. Desse modo, o homem, esforçando-se para conhecer o mundo natural, alcançaria, em última instância, as próprias verdades divinas, pois estas não podem se contradizer. Propostos 01. Anselmo, um dos mais importantes pensadores da Escolástica, dedicou-se a elaborar argumentos que provassem, de forma lógica e racional, a existência de Deus. Com esse intuito, elaborou os argumentos a posteriori, que partem da existência de algo na realidade para se chegar à ideia da existência de Deus. Um exemplo é o quarto argumento que está relacionado aos graus de perfeição dos seres. Se os seres têm graus diversos de perfeição, ou seja, há aqueles que são mais ou menos justos ou belos, há de se considerar que existe um ser com o máximo de perfeição, e esse ser é Deus. Já o argumento ontológico, o mais importante de Anselmo, embora duramente criticado por outros pensadores, é uma prova a priori, ou seja, tem a intenção de provar que Deus existe por si mesmo, sem a necessidade de que algo garanta, pelo menos argumentativamente, sua existência. Esse argumento atesta que, para pensar em Deus, é necessária sua existência, pois se assim não fosse, ou seja, se ele não existisse, não seria possível nem mesmo pensá-lo. No entanto, já que é possível pensá-lo, necessariamente, Ele existe. 02. As universidades tiveram um papel essencial na formação do pensamento escolástico. Se as escolas fundadas por Carlos Magno já representaram um avanço significativo em favor da cultura intelectual, as universidades, por gozarem de mais liberdade de pensamento, sobretudo pela presença do novo poder intelectual que surge representado pelos mestres, destacam-se como o grande feito do início do século XI. Uma contribuição importante das universidades foi o fato de terem proporcionado, pelo menos em seu início, aos jovens mais pobres, filhos de artesãos e de camponeses, a chance de estudar, o que representou um avanço social ímpar na história do pensamento ocidental. Porém, acima de todas essas contribuições, a grande novidade trazida pelas universidades foi o desenvolvimento do pensamento escolástico, que representou a tentativa, sempre crescente e cada vez mais apurada, de buscar o conhecimento pelo exercício da razão, mesmo que esta ainda estivesse presa às amarras da fé. 03. Avicena e Averróis são os pensadores árabes de maior influência sobre o pensamento filosófico do Ocidente. Sabe-se que, devido aos acontecimentos A Escolástica e Santo Tomás de Aquino 34 Coleção Estudo históricos ao longo dos primeiros séculos da Idade Média, a filosofia latina teve pouco contato com as obras de Platão e de Aristóteles. Ao contrário, o Oriente pôde se aprofundar nos estudos desses pensadores, em especial de Aristóteles. Dessa forma, com as invasões islâmicas no Ocidente, tais estudos e obras, já traduzidos para as línguas árabes, foram trazidos para as línguas do Ocidente pelas mãos dos orientais, dentre os mais importantes, Avicena e Averróis. Certamente, eles foram os principais responsáveis pela re-introdução do pensamento aristotélico no Ocidente, o que permitiu o desenvolvimento do chamado aristotelismo cristão, principalmente pelo trabalho espetacular de síntese entre cristianismo e aristotelismo realizado por Tomás de Aquino. 04. Tomás de Aquino, o principal pensador medieval, tem, como função principal em sua filosofia, garantir que as verdades da fé se mantenham inabaláveis. Porém, para que isso aconteça, é necessário buscar na razão, atributo comum a todos os homens, a ferramenta adequada para alcançar seu objetivo. Ao elaborar as cinco provas da existência de Deus, ele parte da existência real dos seres para, por meio desta, chegar à existência divina, utilizando um argumento lógico irrefutável. Assim, nos cinco argumentos, Tomás atesta a necessidade da existência de Deus como fundamento da realidade da razão, a qual sem ele não existiria. 05. Tomás de Aquino elaborou uma síntese entre o pensamento de Aristóteles, chamado de nova ciência, com a religião ou a ciência da revelação. Ao conciliar filosofia e cristianismo, a intenção de Tomás de Aquino era clara: fazer com que as verdades da fé continuassem irrefutáveis. Por esse motivo, não se pode dizer que Tomás foi um Galileu, pois ele não revolucionou o conhecimento tal como Galileu o fez ao corroborar o geocentrismo de Copérnico e propor um novo método científico para superar o método aristotélico, utilizado até então pelas ciências. Tomás de Aquino tão somente encontrou um caminho novo para deixar tudo continuar como estava, ou seja, para que todos os dados da fé continuassem incontestáveis, legitimando e justificando a religião cristã como verdade superior. Esse caminho novo foi justamente explicar a fé cristã por meio da filosofia aristotélica. 06. Santo Tomás de Aquino, inspirado na filosofiaaristotélica, inova ao defender a capacidade humana para encontrar as verdades sobre o mundo. Ao contrário de Santo Agostinho, que defenderá que só é possível conhecer por meio da iluminação divina, uma vez que o homem tem o mal em si e é incapaz de alcançar qualquer verdade por seus próprios méritos e esforços, Tomás de Aquino dirá que a mente humana pode sim, pela abstração nascida do processo indutivo, levar o homem às verdades sobre o mundo natural. Assim, conhecer os seres significa alcançar sua essência pela abstração. Tal visão representa também um olhar mais otimista sobre o homem, o qual, se na filosofia agostiniana é vil e somente pecador, na filosofia tomista, apesar de pecador, é capaz de algo bom, no caso, alcançar o conhecimento verdadeiro sobre o mundo natural e mesmo algumas verdades sobre Deus. 07. Em Deus não pode haver mudança, uma vez que o que muda é imperfeito. A mutabilidade ocorre quando da transformação da potência em ato. Portanto, para que haja mudança, é necessário que o ser tenha a potência de se transformar, o que não é, absolutamente, o caso de Deus. A mutabilidade é característica dos seres imperfeitos, pois tudo o que se transforma é imperfeito. Assim, Deus não pode se transformar, pois seria imperfeito. Logo, Ele não possui potência, característica dos seres que podem se transformar, pois potência é justamente o conjunto de transformações possíveis ao ser. Conclui-se, portanto, que Deus é Ato Puro, uma vez que é impossível que se transforme ou mude. 08. Segundo Tomás de Aquino, as leis são necessárias à vida humana em sociedade. A mais importante delas leis é a lei eterna, que representa a própria racionalidade divina em si mesma e que é parcialmente acessível a todos os homens. Abaixo dela, temos a lei divina, expressão da vontade de Deus por meio das Sagradas Escrituras, caminho que leva à salvação. Em seguida, encontra-se a lei natural, reflexo das anteriores, a qual está inscrita na natureza humana e dos outros seres, ditando o que estes devem fazer, como devem se comportar, segundo a natureza própria de cada um. Em última instância, está a lei humana, que constitui o direito positivo, criado pelo homem. Essa lei deve refletir a lei natural, que, por sua vez, reflete a lei divina e a lei eterna. Seção Enem 01. C Frente A Módulo 08 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 11 3 Epistemologia Moderna Autor: Richard Garcia Amorim 12 27 Kant Autor: Richard Garcia Amorim 22 Coleção Estudo Hábito e crença Hume defende, então, que o costume e o hábito é que levam o homem a acreditar nas relações de causa e efeito, e não algo real e verificável na realidade. Esse costume leva o homem à crença de que tais fenômenos sempre ocorrerão. Essa crença nos dá a ilusão de que estamos diante de um fenômeno determinado por causa e efeito, ilusão esta que nos leva à convicção de que, uma vez ocorrida a causa, o efeito inevitavelmente a sucederá. Ao fim de sua reflexão, Hume afirma que aquilo que possibilita a relação de causa e efeito não são proposições ou princípios racionais, mas somente um sentimento afetivo-irracional, que é a crença. O ceticismo de Hume Hume afirma que todo o conhecimento humano nasce de impressões sensíveis da realidade e da reflexão das ideias que surgem na mente do homem. Porém, essas ideias são sempre variáveis, uma vez que nascem das experiências particulares dos homens, e as relações entre tais ideias são frutos das relações de causalidade, as quais não passam de crenças ilusórias provenientes do hábito. Desse modo, para Hume, nenhum conhecimento é certo e seguro. Toda a Ciência é resultado de induções que não garantem certeza alguma, já que essas induções são generalizações estéreis, sem grau de certeza ou verdade. Portanto, o único conhecimento que o homem pode obter da realidade são probabilidades. A Ciência, que acreditava poder permitir o conhecimento do mundo tal como ele é, que acreditava ser possível encontrar certezas e verdades claras e distintas sobre as coisas, precisa agora contentar-se com hipóteses prováveis, que nunca poderão ser confirmadas como certeza científica. É nesse sentido e por esses motivos que Hume é considerado um cético. Nosso conhecimento, nossas pretensões à ciência, em última análise, não podem ser fundamentadas, justificadas ou legitimadas por nenhum princípio ou argumento racional. A maneira pela qual conhecemos e pela qual agimos no real depende apenas de nossa natureza, de nossos costumes e de nossos hábitos. [...] Alguns o consideram [Hume] um cético, na medida em que nega a possibilidade de um conhecimento certo, definitivo e justificado. Outros o consideram um naturalista, na medida em que o ceticismo dá lugar ao naturalismo, isto é, à posição segundo a qual é nossa natureza que nos impulsiona a julgar e a agir. MARCONDES. Danilo. Iniciação à história da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1997. p. 185. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Tomemos [...] este pedaço de cera que acaba de ser tirado da colméia: ele não perdeu ainda a doçura do mel que continha, retém ainda algo do odor das flores de que foi recolhido; sua cor, sua figura, sua grandeza, são patentes; é duro, é frio, tocamo-lo e, se nele batermos, produzirá algum som. Enfim, todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo encontram-se neste. Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo: o que nele restava de sabor exala-se, o odor se esvai, sua cor se modifica, sua figura se altera, sua grandeza aumenta, ele torna-se líquido, esquenta-se, mal o podemos tocar e, embora nele batamos, nenhum som produzirá. A mesma cera permanece após essa modificação? Cumpre confessar que permanece: e ninguém o pode negar. O que é, pois, que se conhecia deste pedaço de cera com tanta distinção? DESCARTES, René. Meditações. Tradução de Jacó Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1996. p. 272. A partir desse trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a tese defendida por Descartes e explicitando a importância desse problema para a Filosofia. 02. Para Bacon, o método científico é um conjunto de regras para observar fenômenos e inferir conclusões a partir de tais observações. O método de Bacon é, pois, indutivo. As regras de Bacon eram simples, a tal ponto que qualquer pessoa [...] poderia apreendê-las e aplicá-las. Eram também infalíveis: bastava aplicá-las para fazer a ciência avançar. Naturalmente, nem Bacon nem qualquer outro lograram jamais contribuir para a ciência usando os cânones indutivos – nem os de Bacon, nem os de Mill, nem os de qualquer outro. Porém, a idéia de que existe tal método e de que a sua aplicação não requer talento, e tão-pouco uma extensa preparação prévia, é tão atrativa que ainda existem os que acreditam na sua eficácia. [...] Descartes, que, ao contrário de Bacon, era um matemático e cientista de primeira linha, não acreditava na indução, mas na análise e na dedução. Enquanto Bacon exagerava a importância da experiência comum e ignorava a experimentação e a existência de teorias, particularmente teorias matemáticas, Descartes menosprezava a experiência. Com efeito, deveria partir-se de princípios supremos, de natureza metafísica e mesmo teológica, para deles obter verdades matemáticas e verdades acerca da natureza do homem. [...] A Ciência Natural moderna nasce à margem dessas fantasias filosóficas. Galileu não se conforma com a observação pura (teoricamente neutra) e tão-pouco com a conjectura arbitrária. Galileu propõe hipóteses e submete-as à prova experimental. Funda assim a dinâmica moderna, primeira fase da Ciência Moderna. BUNGE, Mario. A Epistemologia. Tradução de Cláudio Navarra. São Paulo: 1980. A partir desse trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto,REDIJA um texto explicando a importância do método científico para a Ciência Moderna. Frente A Módulo 11 23Editora Bernoulli FI LO SO FI A 03. Se um objeto nos fosse apresentado e fôssemos solicitados a nos pronunciar, sem consulta à observação passada, sobre o efeito que dele resultará, de que maneira, eu pergunto, deveria a mente proceder nessa operação? Ela deve inventar ou imaginar algum resultado para atribuir ao objeto como seu efeito, e é óbvio que essa invenção terá de ser inteiramente arbitrária. O mais atento exame e escrutínio não permite à mente encontrar o efeito na suposta causa, pois o efeito é totalmente diferente da causa e não pode, conseqüentemente, revelar-se nela. HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Tradução de José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p. 57-58. Exemplo de causalidade: ciclones tropicais formam-se quando a energia liberada pela condensação da umidade em correntes de ar ascendentes causa uma retroalimentação positiva sobre as águas mornas dos oceanos. EMANUEL, Kerry. Anthropogenic Effects on Tropical Cyclone Activity. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Causalidade#cite_note-0. Acesso em: 23 nov. 2010. De acordo com a filosofia de Hume, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: toda causa tem um efeito? EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. [a razão] é naturalmente igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. DESCARTES, René. Discurso do método, para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 29. A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Descartes. 02. O exercício da dúvida é o procedimento identificado com o ceticismo. Descartes, no entanto, utilizou do expediente da dúvida com outro propósito. A respeito de sua conduta e do comportamento dos céticos, Descartes manifestou-se na terceira parte do Discurso do Método: Não que imitasse, para tanto, os céticos, que duvidam apenas por duvidar e afetam ser sempre irresolutos: pois, ao contrário, todo o meu intuito tendia tão-somente a me certificar e remover a terra movediça e a areia, para encontrar a rocha ou a argila. DESCARTES, René. Discurso do método. São Paulo: Nova Cultural, 1979. p. 44. Coleção Os Pensadores. REDIJA um texto explicando que outros propósitos levaram Descartes a utilizar o caminho dos céticos. 03. (UFMG–2006) Leia este trecho: Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é a soberana fonte da verdade, mas certo gênio maligno, não menos ardiloso e enganador do que poderoso, que empregou toda a sua indústria em enganar-me. Pensarei que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas exteriores que vemos são apenas ilusões e enganos de que ele se serve para surpreender minha credulidade. Considerar-me-ei a mim mesmo absolutamente desprovido de mãos, de olhos, de carne, de sangue, desprovido de quaisquer sentidos, mas dotado da falsa crença de ter todas essas coisas. Permanecerei obstinadamente apegado a esse pensamento; e se, por esse meio, não está em meu poder chegar ao conhecimento de qualquer verdade, ao menos está ao meu alcance suspender meu juízo. Eis por que cuidarei zelosamente de não receber em minha crença nenhuma falsidade, e prepararei tão bem meu espírito a todos os ardis desse grande enganador que, por poderoso e ardiloso que seja, nunca poderá impor-me algo. DESCARTES, René. Meditações. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 88-89. Com base na leitura desse trecho e considerando outras ideias contidas nessa obra de Descartes, REDIJA um texto explicando como o filósofo se mostra capaz de vencer o gênio maligno. 04. Senhora, Algumas vezes eu coloquei a mim mesmo uma dúvida: saber se é melhor estar alegre e contente, imaginando que os bens que possuímos são maiores e mais estimáveis do que eles são e ignorando os que nos faltam, ou não parando para considerá-los, ou se é melhor ter mais consideração e saber, para conhecer o justo valor de uns e de outros, e com isto tornar-se mais triste. Se eu pensasse que o soberano bem fosse a alegria, eu nunca duvidaria de que deveríamos dedicar-nos a tornarmo-nos alegres a qualquer preço, e eu aprovaria a brutalidade daqueles que afogam suas mágoas no vinho ou as atordoam com o fumo. Mas eu distingo entre o soberano bem, que consiste no exercício da virtude [...] e a satisfação do espírito que acompanha esta posse. É por isto que é uma maior perfeição conhecer a verdade, mesmo que desvantajosa a nós, que ignorá- la, e eu confesso que é melhor estar menos alegre e ter mais conhecimento. DESCARTES, R. Carta a Elizabeth, de 6 de outubro de 1645. IDENTIFIQUE a tese defendida por Descartes nesta passagem e, em seguida, REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor dessa tese. Epistemologia moderna 24 Coleção Estudo 05. Que ninguém espere um grande progresso nas ciências, especialmente no seu lado prático, até que a filosofia natural seja levada às ciências particulares e as ciências particulares sejam incorporadas à filosofia natural. [...] De fato, desde que as ciências particulares se constituíram e se dispersaram, não mais se alimentaram da filosofia natural, que lhes poderia ter transmitido as fontes e o verdadeiro conhecimento dos movimentos, dos raios, dos sons, da estrutura e do esquematismo dos corpos, das afecções e das percepções intelectuais, o que lhes teria infundido novas forças para novos progressos. BACON, Francis. Novum Organum. Tradução de José Aluysio Reis de Andrade. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988 p. 48. REDIJA um texto explicando as condições de possibilidade do progresso da Ciência, segundo o trecho anterior. 06. As idéias, especialmente as pertencentes aos princípios, não nascem com as crianças. Se consideramos cuidadosamente as crianças recém-nascidas, teremos bem poucos motivos para crer que elas trazem consigo a este mundo muitas idéias. Excetuando, talvez, algumas pálidas idéias de fome, sede e calor, e certas dores, que sentiram talvez no ventre, não há a menor manifestação de idéias estabelecidas nelas, especialmente das idéias que respondem aos termos que formam proposições universais que são consideradas princípios inatos. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 51. De acordo com esse trecho e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando qual é a origem das ideias para Locke. 07. [...] embora nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificamos, através de um exame mais minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1989. p. 70. Coleção Os Pensadores. A partir do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Hume. 08. (UFMG–2007) Leia estes trechos: Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos fortes e menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou idéias. A outra espécie não possui um nome em nosso idioma e na maioria dos outros, porque, suponho, somentecom fins filosóficos era necessário compreendê-las sob um termo ou nomenclatura geral. Deixe-nos, portanto, usar um pouco de liberdade de denominá-las impressões, empregando essa palavra num sentido de algum modo diferente do usual. Pelo termo impressão, entendo, pois, todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. [...] todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas. HUME, David. Investigação acerca do entendimento humano. 5. ed. Tradução de Anoar Alex. São Paulo: Abril Cultural, 1992. p. 69-70. (Os Pensadores). Com base na leitura desses trechos e considerando outras informações presentes na obra citada, EXPLIQUE, segundo Hume, a origem da ideia de Deus. SEÇÃO ENEM 01. É de grande utilidade para o marinheiro saber a extensão de sua linha, embora não possa com ela sondar toda a profundidade do oceano. É conveniente que saiba que ela é suficientemente longa para alcançar o fundo dos lugares necessários para orientar sua viagem, e preveni-lo de esbarrar contra escolhos que podem destruí-lo. LOCKE, John. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 32. John Locke é um dos grandes pensadores da Modernidade, fazendo parte de um seleto grupo de filósofos que receberam o nome de empiristas ingleses. Sua teoria busca responder a um dos problemas filosóficos mais importantes, tanto para a Filosofia quanto para todas as outras ciências: como o homem pode conhecer? Na citação anterior, ele expressa essa questão utilizando uma metáfora. Por meio dessa metáfora, é possível dizer que Locke acredita que o pensamento humano pode A) conhecer toda a realidade, independentemente de qual ela seja, pois ele é o único ser racional e sua racionalidade constitui exatamente nessa capacidade. B) conhecer somente algumas coisas que estão à sua volta, pois a liberdade de conhecimento é limitada pela capacidade de pensar do homem. C) conhecer somente as realidades materiais, de forma que as realidades abstratas, como os sentimentos, não podem ser conhecidos. D) conhecer somente aquilo que é experimentável, e o que inclui tanto as coisas materiais do mundo como os sentimentos, como tristeza, alegria, dentre outros. E) conhecer somente os objetos e de forma precária, pois o conhecimento é sempre passageiro e incerto, uma vez que muda de pessoa para pessoa. Frente A Módulo 11 25Editora Bernoulli FI LO SO FI A GABARITO Fixação 01. Descartes defende que o conhecimento dos seres não se dá através dos sentidos. Ao contrário, como demonstra no argumento citado, os dados observados por meio da experiência são fugidios, ou seja, não são estáveis, e, portanto, não podem ser a fonte do conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Se a cera aparece aos sentidos com algumas características sensíveis próprias, tais características se alteram à medida que é aproximada do fogo. Dessa forma, o conhecimento que se obteve da cera, baseado nos dados empíricos, não pode ser o único, uma vez que os dados empíricos sofreram alterações. Conclui-se, portanto, que a fonte do conhecimento verdadeiro não pode ser a experiência, mas sim a razão. O problema representado pela citação cartesiana diz respeito ao método científico que permite o conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Empirismo e racionalismo se confrontam, cada um com seus argumentos, para ver qual deles prevalece como caminho seguro para o conhecimento de fato. Esta é a grande questão da Filosofia Moderna e, para alguns filósofos, o problema mais sério de toda a história da Filosofia, começando pelos pré-socráticos, passando por Platão e Aristóteles e chegando até os modernos Descartes, Locke e Hume. 02. Na Modernidade, a natureza passou por um processo de desencantamento, ou seja, foi possível, a partir daquele momento, conhecer o funcionamento da natureza e do Universo por meio da razão investigativa, inclusive com fins de dominação e de modificação da natureza, que deve estar a serviço do homem e não o contrário. O mundo desencantado é um mundo passível de ser conhecido pelo homem e por isso se fala na formação de um mundo antropocêntrico. Porém, isso não significa que tudo o que o homem diz sobre a natureza e seu funcionamento seja verdade, já que a única coisa que garante a verdade é o método. Por método, entende-se o caminho que leva à verdade. Só o método científico garante que aquilo que se afirma é correto ou incorreto, verdadeiro ou falso. A verdade não é fruto mais da autoridade, mas das razões racionalmente expostas e que são inteligíveis e provadas, principalmente, pela Matemática. 03. Para Hume, a relação causa e efeito é uma ilusão, uma crença nascida do hábito de se ver sempre uma experiência acompanhada de outra, como o fogo acompanhado da fumaça. Porém, tal relação não se justifica, uma vez que, se ela existisse, todas as vezes que se observasse um fenômeno natural acontecido, ele deveria, sem exceção, vir acompanhado de sua causa; por exemplo, em toda combustão, deveria haver a liberação de fumaça, o que não acontece. Outro argumento utilizado pelo filósofo para contestar a relação causa-efeito é que, se tal relação fosse verdadeira, os homens deveriam ser capazes de determinar os efeitos das causas sem antes tê-las observado em nenhuma outra ocasião, pois se trataria, como no exemplo do ciclone do segundo trecho, de uma lei natural que, por si mesma, não poderia admitir nenhum outro resultado. Propostos 01. A tese defendida por Descartes é a de que todos os homens possuem as mesmas capacidades e condições racionais ou de pensamento para encontrar as verdades. Se as condições são as mesmas em todos, o que difere entre eles é a aplicação correta dessas condições, ou, dito de outra forma, alguns homens não aplicam sua razão de maneira adequada, resultando, então, em um conhecimento falso do mundo. Observa-se a ênfase que o pensador dá ao método científico como caminho adequado que levará o homem ao encontro da verdade. Sendo um racionalista, Descartes defende que só por meio da razão, e não da experiência, é possível encontrar conhecimentos verdadeiros sobre o mundo, desenvolvendo o seu método cartesiano, que se resume em: regra da evidência, regra da análise, regra da síntese e regra da enumeração. 02. Ao contrário do ceticismo (em um sentido geral), que se caracteriza por duvidar de tudo acreditando não existirem verdades absolutas sobre nada, Descartes utiliza-se do caminho dos céticos, ou seja, da dúvida, para encontrar uma verdade que seja irrefutável. O caminho é o mesmo, mas os objetivos são completamente distintos. A dúvida cartesiana tem como objetivo a purificação para, a partir dela, buscar encontrar uma verdade clara e distinta que possa servir como a base para o seu novo edifício do saber. Como o fogo que retira as impurezas do ouro, deixando somente o metal puro, a dúvida tem o objetivo de purificar as ideias ou verdades, deixando somente resistir a ideia pura, ou seja, irrefutável e sem sombras de dúvida. Esse é o propósito da dúvida na filosofia cartesiana, manifestada especialmente no processo denominado de “dúvida metódica”, o qual levará à verdade ou certeza do Cogito. Epistemologia moderna 26 Coleção Estudo Desse modo, não é possível à Ciência progredir se ela não se voltar para a experiência, e essa experiência, que ele denomina filosofia natural, não se dedicar ao conhecimento empírico do mundo. A partir da experiência é possível formar ideias, o que Bacon chama de afecções e percepções intelectuais. 06. Locke defende a tese da tábula rasa. Segundo ele, não há na mente humana absolutamente nenhuma ideia inata que nasceu com ele. Desse modo, todas as ideias que temos são provenientes das experiênciasque fazemos, sejam elas externas, no mundo exterior, sejam internas, como sentimentos de angústia, sofrimento, alegria, etc. Assim, a origem da ideias está sempre nas experiências e em nada mais. Se existissem ideias inatas, todos os homens, independentemente de sua cultura, localidade e tempo, deveriam alcançar as mesmas ideias sobre todos as coisas, e isso não ocorre na realidade. 07. A tese defendida por Hume no trecho da questão refere-se à origem das ideias. Segundo o filósofo, todas as ideias presentes na mente humana nascem das impressões ou experiências que temos dos seres sensíveis na realidade. Essas experiências nos fornecem a matéria-prima das ideias, que são cópias das impressões que temos em nossa mente. Portanto, por mais ideias que o homem possa elaborar, elas sempre serão produtos de nossa capacidade de combinar, transpor, aumentar ou diminuir os dados que foram formados e adquiridos a partir de nossas experiências no mundo sensível. 08. Na visão de David Hume, sempre que analisamos nossos pensamentos ou ideias, verificamos que eles podem se decompor em ideias simples, que são cópias de sensações ou experiências realizadas. Assim, a fim de exemplificar sua tese, Hume expõe o seguinte argumento, que legitima que as ideias são cópias das impressões: “se evantássemos a ideia de Deus, no sentido de um ser infinitamente inteligente, sábio e bondoso notaríamos que esta ideia é fruto da imaginação ou fantasia humana que, por meio de associações de ideias, toma como fundamento todas as experiências de qualidades positivas e as eleva ao infinito, dando a um ser a característica de possuir todas eles. Portanto, Deus seria fruto da imaginação humana e não um ser em si mesmo.” Seção Enem 01. D 03. René Descartes parte da ideia de que há um gênio maligno, um Deus enganador, que emprega toda a sua indústria em enganá-lo. Porém, ainda que exista tal gênio maligno, Descartes descobre em si uma única certeza: a de que ele, enquanto coloca todas as coisas em dúvida, para isso tem que pensar, ou seja, duvidar, e, enquanto ser que duvida, afirma a sua existência, não restando nenhuma dúvida de que ele próprio é algo, se esse gênio o engana; e, por mais que o engane, não poderá jamais fazer com que ele próprio (Descartes) nada seja, enquanto pensar ser alguma coisa. Assim, Descartes, a partir de uma intuição pura e primeira, chega à conclusão de que, enquanto pensar, ele é, e, se é, logo ele existe, e esta afirmação seria verdadeira todas as vezes que a enunciasse em seu pensamento. Descartes então chega à seguinte posição: Cogito, Ergo Sum! (Penso, logo existo!). 04. Tese: é melhor ser feliz e ignorar a verdade, ou é melhor ser menos feliz, porém conhecer a verdade. Em outras palavras, essa tese ressalta a dúvida de se é melhor ser feliz na mentira ou, ao contrário, ser infeliz na verdade. A segunda parte da resposta é subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posicionar-se argumentativamente contra ou a favor dessa ideia.) Em questões neste modelo, não existe resposta certa ou errada. A favor: sou favorável à ideia cartesiana, uma vez que a verdade é um valor soberano e, sem ela, por mais que se queira, o homem não pode ser feliz de fato, mas terá tão somente uma ilusão de felicidade, pois viverá no engano e na ignorância, o que pode levar a uma felicidade ilusória, mas não à verdadeira felicidade nascida do conhecimento verdadeiro sobre si mesmo e sobre o mundo. Contra: sou contrário à tese cartesiana, pois quem determina a felicidade ou a infelicidade do homem não é a posse da verdade em si, mas a atitude do homem diante da vida. Pode- se pensar, facilmente, em alguém que viva na ignorância de uma traição ou de algo parecido e que seja feliz de fato, não necessitando de conhecimento, uma vez que tal homem ignora inclusive sua própria ignorância. Conhecimento e ignorância dizem respeito a campos diversos daquele que determina ou não a felicidade de um homem. 05. Bacon, faz uma defesa da necessidade da experiência, do empirismo, para o progresso da Ciência. Ao se referir à filosofia natural, o filósofo fala sobre o papel dos sentidos para o conhecimento seguro. Tal corrente epistemológica defende que não é possível o conhecimento verdadeiro de todas as coisas se tal conhecimento não tenha como fundamento os sentidos, as percepções das coisas sensíveis. Frente A Módulo 11 34 Coleção Estudo Há uma diferença fundamental entre ação por dever e ação correta. O homem pode agir corretamente, sem, no entanto, a ação ser por dever. Se a ação correta é realizada porque o sujeito tem interesses próprios, ele então ganhará alguma vantagem, será bem visto pelos outros homens, tendo agido corretamente, mas não por dever. A ação por dever é totalmente desinteressada, não havendo nela qualquer influência a não ser a da simples racionalidade, a qual determina que o sujeito deva agir de determinada maneira. É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele, além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso a um do que outro. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112. Para Kant, a ação digna é apenas aquela que ocorre por dever. Veja o fragmento a seguir, em que o filósofo discorre acerca desse caráter digno da ação. No Reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no jogo livre e sem finalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço de afeição ou de sentimento; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77. Para Kant, o homem só é realmente feliz e livre quando segue sua razão e, por conseguinte, a lei moral determinada pelo imperativo categórico. A razão é o que separa o homem do mundo natural e é o que nos diferencia dos animais, os quais seguem determinações naturais. Se a razão determina um princípio moral, o homem deve segui-lo. Se, pelo contrário, o homem nega esse princípio racional e decide agir de acordo com seus desejos e necessidades particulares, ele está abandonando aquilo que o diferencia dos outros seres, perdendo, assim, sua própria dignidade. Túmulo de Kant, onde estão escritas as seguintes palavras: “Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim e a leimoral dentro de mim.” EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Ser caritativo quando se pode sê-lo é um dever, e há além disso muitas almas de disposição tão compassivas que, mesmo sem nenhum outro motivo de vaidade ou interesse, acham íntimo prazer em espalhar alegria à sua volta, e se podem alegrar com o contentamento dos outros, enquanto este é obra sua. Eu afirmo, porém, que, neste caso, uma tal ação, por conforme ao dever, por amável que ela seja, não tem contudo nenhum verdadeiro valor moral, mas vai emparelhar com outras inclinações, por exemplo o amor das honras que, quando por feliz acaso, topa aquilo que efetivamente é de interesse geral e conforme ao dever, é conseqüentemente honroso e merece louvor e estímulo, mas não estima; pois à sua máxima falta o conteúdo moral que manda que tais ações se pratiquem não por inclinação, mas por dever. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 113. De acordo com a moral kantiana, REDIJA um texto explicando por que uma ação por dever não pode ter qualquer influência que não seja a da razão. Frente A Módulo 12 35Editora Bernoulli FI LO SO FI A 02. É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza. Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso é bem mais possível e, mais, se é deixado em liberdade, então é quase inevitável. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é esclarecimento? In: Textos Seletos. 2. ed. Tradução de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985. REDIJA um texto explicando por que, segundo Kant, o esclarecimento é consequência da liberdade. 03. É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao comprador inexperiente, e quando o movimento do negócio é grande, o comerciante esperto também não faz semelhante coisa, mas mantém um preço fixo geral para toda a gente, de forma que uma criança pode comprar em sua casa tão bem como qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isto ainda não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia; mas não é de aceitar que ele, além disso, tenha tido uma inclinação imediata para os seus fregueses, de maneira a não fazer, por amor deles, preço mais vantajoso a um do que outro. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 112. De acordo com o trecho anterior e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando por que uma ação por dever deve prescindir de interesses pessoais. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. No Reino dos fins, tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço, e portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade. O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal; aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a uma satisfação no jogo livre e sem finalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço de afeição ou de sentimento; aquilo porém que constitui a condição só graças à qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade. Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo, pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto a moralidade e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 77. De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto diferenciando a noção de preço e de dignidade das ações que tendem a um fim. 02. (UFMG–2008) Leia estes quadrinhos: WATTERSON, Bill. A vingança da babá. Editora Best News, 1997. v. I. p. 78. Kant estabelece que as ações das pessoas, para serem realmente éticas, devem pautar-se no seguinte princípio, denominado imperativo categórico: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 224. REDIJA um texto relacionando as declarações do garoto Calvin ao imperativo categórico kantiano. JUSTIFIQUE sua resposta. Kant 36 Coleção Estudo 03. O imperativo categórico é portanto só um único, que é este: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 59. REDIJA um texto explicando a relação entre dever e razão, segundo Kant. 04. Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem uma vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária a razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática. Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que a razão independentemente da inclinação, reconhece como praticamente necessário, quer dizer bom. KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 1995. p. 47. A partir do trecho anterior, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: a razão realmente determina infalivelmente a vontade? 05. De acordo com Kant, o ato de conhecer é efetuado por meio da relação entre sujeito e objeto, em que se fixam dois pressupostos fundamentais. Por um lado, objetos que possam ser percebidos; por outro, o sujeito que assimila a representação dos objetos. De acordo com a epistemologia kantiana, REDIJA um texto explicando a Nova Revolução do Pensamento operada por Kant. 06. (UFMG–2004) Leia estes trechos: É, pois, difícil para cada homem em particular conseguir livrar-se desta menoridade tornada quase uma natureza. Mas que um público se esclareça a si mesmo, isso é bem mais possível e, mais, se é deixado em liberdade, então é quase inevitável. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: que é ilustração? In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. A partir da leitura desses trechos e de outras ideias presentes nessa obra de Kant, REDIJA um texto justificando por que, para o autor, a saída da menoridade é difícil para os homens na esfera privada e bem mais possível para os homens como membros de uma comunidade total. 07. Um rapaz de 23 anos, cozinheiro de uma empresa terceirizada do restaurante da Infraero em São Paulo, havia sido preso por “roubar” três coxas de frango do restaurante onde trabalhava. Detalhe: o alimento iria para o lixo, e o rapaz, que tem em sua ficha bons antecedentes, foi preso acusado de furto. Agora me respondam: neste país então é permitido fraudar a previdência, como a tal Georgina fez, praticar as falcatruas como faz o Renan Calheiros, superfaturar obras como o Maluf, assassinar covardemente como fez o Pimenta Neves. Como tantos Lalaus, Suzanes, universitárias “filhinhas de papai” que participam de roubos e sequestros ficam impunes? Dá pra ver que neste país quem rouba um pote de manteiga, uma coxinha, um leite para dar ao filho comete crime inafiançável. Agora, quem sangra os cofres públicos goza de um bem-estar enorme. O que acham disto? Disponível em: <http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070821105600AATLjr3>. Acesso em: 15 maio 2010 (Adaptação). O texto anterior parece justificar as ações humanas pela sua gravidade ou potencialidade de lesar mais. De acordo com o estudado sobre a ética kantiana como o trecho anterior, REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor do conceito de dever para Kant. 08. A razão humana, num determinado domínio dos seus conhecimentos, possui o singular destino de se ver atormentada por questões, que não pode evitar, pois lhe são impostas pela sua natureza, mas às quais também não pode dar respostas por ultrapassarem completamente as suas possibilidades. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura (Prefácio da primeira edição, 1781). Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 3. Segundo a teoria do conhecimento de Kant, quais as questões impostas pela natureza humana que não podem ser respondidas? JUSTIFIQUE sua resposta. Frente A Módulo 12 37Editora Bernoulli FI LO SO FI A SEÇÃO ENEM 01. Esclarecimento (Aufklãrung) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! (Ousa pensar!) Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?. In: Textos Seletos. Tradução de Floriano de S. Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1974. p. 103. Em seu texto “Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?”, Kant utiliza o termo “menoridade” para se referir à condição daqueles que se submetem ao poder de outros. Nesse sentido, podemos compreender essa menoridade como A) a falta de coragem dos homens que se acostumam à vida e não buscam melhorar de condição. B) a atitude do indivíduo que tenta tornar-se diretor e guia de outros indivíduos que a ele recorrem. C) a situação daqueles que se deixam guiar por outras pessoas e abrem mão de ter ideias próprias. D) a coragem do homem de ousar pensar sem a direção de ninguém, desprezando as outras pessoas. E) o desprezo pela ajuda de outras pessoas na direção da própria vida, pois estas sempre atrapalharão. 02. Por esclarecimento, entende-se a atitude humana de sair da menoridade da razão e ir para a maioridade da razão, processo pelo qual o homem pode pensar por si mesmo, sem tutela de outrem, para alcançar a autonomia sobre suas ações e pensamentos. De forma mais simples: seria a saída do senso comum rumo ao pensamento crítico e individual sobre as ideias e atitudes humanas. Kant afirma, em seu texto “Resposta à pergunta: o que é esclarecimento?”, que, para o homem sair de sua condição de tutelado, de menoridade da razão, uma única coisa é necessária: a liberdade. Ele afirma também que tal libertação do senso comum é quase inevitável se um povo é livre, pois a liberdade do pensamento se manifesta na possibilidade da crítica e, consequentemente, na reavaliação daquilo que até então constituía os valores e ideias dos homens particulares. 03. A ação por dever é aquela que não tem nenhuma outra fonte a não ser a razão humana. O imperativo categórico determina o que é certo, e tal determinação tem força de lei, sendo, portanto, uma ação por dever. Dois homens podem agir exatamente da mesma forma, sendo que um age por dever e outro não. As motivações internas, os desejos e os interesses desfiguram a ação por dever, pois, segundo Kant, quando se age, deve-se agir tão-somente a partir das premissas determinadas pela razão. Dessa forma, os interesses pessoais não podem influenciar na decisão humana de agir conforme o dever, pois, mesmo que o merceeiro da citação da questão vendesse para todos as mesmas mercadorias pelo mesmo preço, se o faz com interesses pessoais de ser considerado, por exemplo, honesto, tal motivação desfigura a ação por dever. GABARITO Fixação 01. Kant propõe em sua filosofia um princípio moral denominado imperativo categórico. Por esse princípio, o homem racional pode encontrar princípios morais a priori, que devem, em toda ocasião e independentemente das circunstâncias, guiar as ações humanas. Dessa forma, a ação por dever não pode ser influenciada por nenhum interesse particular, por menor que seja, pois perderia, então, a sua dignidade. A ação correta é aquela que obedece exclusivamente à razão que alcançou o princípio, a lei moral, fazendo dela o princípio absoluto de toda e qualquer ação. Kant 38 Coleção Estudo Propostos 01. O argumento kantiano considera o valor das coisas e a dignidade delas. Se, quando uma ação é realizada, ela puder ser avaliada quanto ao seu valor, essa ação não é digna, já que, para o filósofo, ação digna é aquela que dispensa qualquer avaliação externa para ser cumprida. Portanto, uma ação que pode ser valorada o é a partir de seu resultado. Ao contrário, uma ação digna o é por si mesma, pois não espera absolutamente nenhuma valoração de quem quer que seja. As ações humanas devem estar no reino da dignidade e não no do valor. Se estiverem no reino da valoração, elas serão realizadas ou não com fins a uma avaliação externa interessada. Ao contrário, se estiverem no reino da dignidade, elas não necessitarão de qualquer valoração, mas serão realizadas por si mesmas, de forma completamente desinteressada, constituindo, portanto, ações por dever. 02. Segundo a posição kantiana, toda ação se faz a partir do imperativo categórico, que consiste na máxima de que o indivíduo age para toda a humanidade em todo o tempo, tendo como base que a sua ação se torne lei universal. Ao analisarmos as declarações do garoto Calvin, notamos que elas vão contra a posição defendida por Kant, pois partem de uma ação de característica individual para o universal: “Então eu vou fazer o que eu tiver de fazer, e deixar os outros discutirem se é certo ou não”. De acordo com Kant, o imperativo categórico funda-se no momento em que a ação não é voltada ao indivíduo, consistindo na máxima de que uma ação particular possa servir de espelho para toda a humanidade. Logo, aquele que realiza a ação deve querer que essa ação sirva para o outro a todo o momento. 03. Segundo Kant, a ação por dever é essencialmente racional. Toda ação baseia-se em valores ou máximas que a fundamentam. Tais máximas devem ser racionais e deduzidas a partir do imperativo categórico. Esse imperativo funcionaria tal como uma fórmula para que o homem pudesse, pela razão, determinar o que é certo ou errado. Diante de uma situação específica, a razão humana diria o que deve ou não ser realizado a partir de máximas que determinarão a ação. Portanto, a ação por dever, que deve ser totalmente desinteressada e livre de fatores externos à própria razão, só é de fato por dever se for produto da razão livre que pensa a partir do imperativo categórico. 04. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posicionar-se argumentativamente contra ou a favor dessa ideia.) Segundo Kant, a razão tem o poder de determinar, pelo imperativo categórico, o que deve ser feito. Para o filósofo, as ações humanas devem refletir a racionalidade, uma vez que correto é tudo aquilo que corresponde à capacidade racional humana, e não aos apetites ou inclinações. A favor: Concordo com o pensamento kantiano e argumento a favor de que a razão deve ser, por si, a legisladora da moral humana. Se o que nos diferencia fundamentalmente dos animais irracionais é a nossa capacidade de nos autodeterminarmos com o uso da razão, seria um retrocesso admitirmosque a razão não deve preceder as ações, uma vez que o homem pode controlar seus desejos e impulsos imediatos por sua capacidade racional. Ser dono de si mesmo significa, em última instância, não ser escravo dos instintos ou pulsões e poder controlar tais desejos, tornando-se verdadeiramente autônomo. Contra: Dizer que a razão é importante para a determinação das ações humanas é um dado irrefutável, mas dizer que ela determina infalivelmente as ações humanas é uma ilusão. O homem não é constituído somente de racionalidade, mas também de paixões, vontades, sentimentos, afetos, etc. Sendo uma síntese entre paixões e razão, a racionalidade não é capaz de determinar todas as ações humanas. Santo Agostinho dizia que a razão é incapaz de comandar a vida humana, uma vez que o homem é mau e sua maldade determina muitas de suas ações. Freud dirá que a maior parte das ações humanas é fruto de nosso inconsciente e, por isso, fazemos coisas que não estão sob as rédeas de nossa racionalidade, mas as quais são frutos da busca pelo prazer. Frente A Módulo 12 39Editora Bernoulli FI LO SO FI A 05. Kant apresenta em sua teoria do conhecimento uma síntese entre racionalismo e empirismo. Segundo o filósofo, tanto a experiência quanto a razão são responsáveis pelo conhecimento verdadeiro sobre o mundo. Porém, o homem deve, antes de se colocar a conhecer o mundo, pensar sobre as suas possibilidades de conhecê-lo. É nesse contexto que se insere sua Nova Revolução Copernicana do Pensamento, em que a atenção se volta antes para o sujeito conhecedor que deve investigar quais são as suas possibilidades de conhecer, aquilo que ele tem a priori que o capacita a conhecer o mundo. É nesse contexto que Kant vai falar das formas da sensibilidade, que permitem ao homem experimentar o mundo e as formas do entendimento, que permitem que o homem pense e forme ideias a partir dos dados fornecidos pelos sentidos. 06. Ao trabalharmos o texto de Kant, não podemos nos esquecer de que, para que ocorra a ilustração, é necessário o uso da razão em condições públicas. Assim, para o homem sair do princípio da menoridade, ele terá que ter contato com novas ideias, as quais serão expostas para o público por pessoas letradas, que necessitam usar sua razão na esfera pública. Dessa forma, o homem teria contato com inúmeras formas de pensamento que iriam levá-lo a uma possibilidade para ir à maioridade. Se tais fundamentos se dão na esfera particular, o processo da ilustração se dará de forma lenta. 07. Resposta subjetiva (espera-se que o aluno seja capaz de posiciona-se argumentativamente contra ou a favor desta ideia.) Segundo Kant, a ação por dever é uma ação deliberadamente racional, isto é, uma ação cujo fundamento encontra-se na racionalidade humana ao aplicar o imperativo categórico. Dessa forma, não interessa à ação por dever as consequências da ação, se estas serão mais graves ou menos graves. O que é correto é correto em toda e qualquer circunstância, e o que é errado, ou contra o dever, o é em toda e qualquer circunstância. Desse modo, tomando como exemplo a citação da questão, não importa, para terceiros, a gravidade da ação do rapaz que furtou a comida ou a da ação dos políticos que sangram os cofres públicos, ambas as ações são contra o dever e, portanto, não devem ser realizadas. A favor: Concordo com a ética kantiana, uma vez que o homem deve agir guiado pela razão e esta é capaz de determinar o que é correto e o que não é. Se assim não fosse, cairíamos no total subjetivismo das circunstâncias, uma vez que cada homem agiria levado por aquilo que acha mais certo ou conveniente para si. A ação por dever, correspondendo à razão, determina as máximas pelas quais as ações devem ser erigidas, impedindo o consequencialismo das ações e levando os homens a uma maior harmonia, pois todos, sendo igualmente racionais, deveriam agir de acordo com essa razão universal. Contra: Não concordo absolutamente com a ética kantiana. Sua ética do dever não considera as situações particulares dos homens. Dessa forma, torna-se necessário pensar que todos os homens são iguais e vivem nas mesmas circunstâncias. Como não acreditar que é legítimo que um pai em situação de extrema pobreza furte do quintal vizinho frutas ou qualquer outra coisa com o objetivo de alimentar seu filho? Nivelar o homem a partir da razão parece fácil para aqueles que têm um mínimo de conforto e não estão em nenhuma situação conflitiva. Ao contrário, para aqueles que sofrem, que se encontram sob uma série de dificuldades, esta pretensa ação por dever não passa de uma abstração que não corresponde à realidade humana. 08. Segundo a filosofia kantiana, o conhecimento é fruto do trabalho conjunto da experiência e da razão. Desse modo, os juízos sobre o mundo são resultados daquilo que se experimentou e que servirá de matéria-prima para o pensamento. Nada que não possa ser experimentado pode ser conhecido. Algumas questões, como a existência de Deus, a liberdade humana e a imortalidade da alma, são dúvidas que se colocam ao homem e que a própria natureza humana busca responder. Porém, um conhecimento verdadeiro sobre essas questões é impossível uma vez que elas não podem ser experimentadas pelos sentidos, mas somente pensadas pela razão. Seção Enem 01. C Kant 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 13 3 Os gênios da filosofia alemã: Hegel, Marx e Nietzsche Autor: Richard Garcia Amorim 14 27 O positivismo: a divinização da ciência Autor: Richard Garcia Amorim 22 Coleção Estudo Frente A Módulo 13 Chegando ao deserto, o camelo se transforma em leão, animal forte e vigoroso que, por sua força e capacidade de luta, rompe com os valores que lhe eram impostos e considerados até então como única e correta forma de vida. O leão luta para se tornar senhor de si mesmo, sem entraves e correntes morais que o impeçam de viver sua natureza íntima e instintiva. Dessa forma, o homem que se torna leão reconhece os valores que oprimiam a sua vida e luta para romper com esses valores previamente instituídos, buscando o seu direito de criar novos valores. A última metamorfose representa o estado da criança. Somente nessa transformação, do leão em criança, o homem é capaz de adquirir um olhar diferente e inocente sobre o mundo. A criança traz em si a capacidade de viver pela natureza, de deixar vir à tona seu espírito dionisíaco, de se deixar encantar pela vida e vivenciá-la de forma leve e natural. Nessa terceira fase, o homem, por ter um olhar diferenciado sobre a sua existência, pode pensar a vida sem considerar princípios finalistas e / ou utilitários. Nesse estado, o homem rompe com a inércia e parte para a construção de si mesmo, tendo como base uma nova ordem de valores que priorizam a vida e a natureza humana. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Na história universal só se pode falar dos povos que formam um Estado. É preciso saber que tal Estado é a realização da liberdade, isto é, da finalidade absoluta, que ele existe por si mesmo; além disso, deve-se saber que todo valor que o homem possui, toda realidade espiritual, ele só o tem mediante o Estado. HEGEL. Filosofia da História. 2. ed. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 39-40. A partir do trecho anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto relacionando liberdade e Estado, segundo Hegel. 02. Observe a charge e a citação a seguir. NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. Cidadania para principiantes. A história dos direitos humanos do homem. São Paulo: Ática, 2003. p. 203. A ideologia é o conjunto de representações e idéias, bem como de normas de conduta, por meio das quais o indivíduo é levado a pensar, sentir e agir da maneira que convém à classe que detém o poder. Essa consciência da realidadeé uma falsa consciência, porque camufla a divisão existente dentro da sociedade, apresentando-a como una e harmônica, como se todos partilhassem dos mesmos objetivos e ideais . ARANHA, Maria Lúcia; MARTINS, Maria Helena. Temas de Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1998, p. 72. REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre a charge e a citação. 03. O super-homem é o sentido da terra. Eu vos conjuro, irmãos meus, a que permaneçais fiéis ao sentido da terra e não presteis fé aos que falam de esperanças supraterrenas. NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. 7. ed. Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro: Bertrand,1994. p.30. Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. Tradução de Paulo Cesar de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p.147 REDIJA um texto relacionando os conceitos de super-homem e de morte de Deus segundo a filosofia de Nietzsche. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. A razão traz esperança: a razão possui força para não se destruir a si mesma em suas contradições internas; ao contrário, supera cada uma delas e chega a uma síntese harmoniosa de todos os momentos que constituíram a sua história. HEGEL. Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/53212934/A- Crise-da-Razao. Acesso em: 08 jun. 2011 A partir do trecho anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando o processo dialético para Hegel e sua importância para a construção da História. C és ar L o b o 23Editora Bernoulli FI LO SO FI A Os gênios da filosofia alemã: Hegel, Marx e Nietzsche 02. Leia o fragmento a seguir: A finalidade do espírito universal é encontrar-se, voltar-se para si mesmo e encarar-se como realidade. Porém, o que poderia ser questionado é se essa vitalidade dos indivíduos e dos povos, quando buscam os seus interesses e os satisfazem, é também meio e instrumento de algo mais sublime e abrangente – a respeito do que eles nada sabem, e que realizam sem consciência. HEGEL. Filosofia da História. Tradução de Maria Rodrigues. 2. ed. Brasília: Editora da UnB, 1998. p. 45. IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Hegel nesse trecho. 03. Leia o seguinte texto e observe a figura. A visão é macroscópica, uma vez que o que interessa é o grande organismo, como trabalham suas partes no funcionamento do todo. Assim, o Estado representa a idéia; é a substância da qual os cidadãos não são senão acidente; é quem confere os direitos aos indivíduos, mas não para eles, mas para chegar com mais segurança à realização da sua ideia. As lutas entre os povos são procedimentos para a realização da ideia suprema que é o Estado . ANDRADE, Marcelo Lasperg de. Disponível em: http://200.142.144.130/revistas/direito/atual_marcelo.htm. Acesso em 20 out. 2010. REDIJA um texto relacionando a figura à citação. 04. Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. [...] Em lugar das antigas necessidades satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material como à produção intelectual. [...] Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Global, 1981. p. 24-25. De acordo com o trecho anterior e com seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: a globalização iniciou-se na época de Marx? 05. Leia os textos que seguem. O primeiro é de autoria do pensador alemão Karl Marx (1818-1883) e foi publicado pela primeira vez em 1867. O segundo integra um caderno especial sobre trabalho infantil, do jornal Folha de S. Paulo, publicado em 1997. [...] Tornando supérflua a força muscular, a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros mais flexíveis. Por isso, a primeira preocupação do capitalista, ao empregar a maquinaria, foi a de utilizar o trabalho das mulheres e das crianças. [...] [Entretanto,] a queda surpreendente e vertical no número de meninos [empregados nas fábricas] com menos de 13 anos [de idade], que freqüentemente aparece nas estatísticas inglesas dos últimos 20 anos, foi, em grande parte, segundo o depoimento dos inspetores de fábrica, resultante de atestados médicos que aumentavam a idade das crianças para satisfazer a ânsia de exploração do capitalista e a necessidade de traficância dos pais. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 19. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. Livro I, v. 1. p. 451 e 454. A Constituição brasileira de 1988 proíbe qualquer tipo de trabalho para menores de 14 anos. [...] Apesar da proibição constitucional, não existe até hoje uma punição criminal para quem desobedece à legislação. O empregador que contrata menores de 14 anos está sujeito apenas a multas. “As multas são, na maioria das vezes, irrisórias, permanecendo na casa dos R$ 500”, afirmou o Procurador do Trabalho Lélio Bentes Corrêa. Além de não sofrer sanção penal, os empregadores muitas vezes se livram das multas trabalhistas devido a uma brecha da própria Constituição. O artigo 7º, inciso XXXIII, proíbe “qualquer trabalho” a menores de 14 anos, mas abre uma exceção – “salvo na condição de aprendiz”. FOLHA DE S. PAULO, 1 maio 1997. Caderno Especial Infância Roubada – Trabalho Infantil. De acordo com os trechos anteriores e com seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando por que, para Marx, a política e, consequentemente, as leis não mudam com o passar do tempo. Leve em conta que já se passou mais de um século entre a morte de Marx e a publicação do artigo na Folha de S. Paulo. 24 Coleção Estudo Frente A Módulo 13 06. Nietzsche, o filósofo-artista, um poeta que só acreditava numa filosofia que fosse expressão das vivências genuínas e pessoais, vendo na experiência estética uma espécie de êxtase e redenção, é, por isso mesmo, um precursor da crítica a um tipo de racionalidade meramente técnica, fria e planificadora. A despeito da profundidade e da gravidade das questões com que se ocupa, sempre as tratou em estilo artístico, poeticamente sugestivo; só acreditava na autenticidade de um pensamento que nos motivasse a “dançar”. Ele mesmo imagina sobre sua porta a inscrição: “Moro em minha própria casa Nada imitei de ninguém E ainda ri de todo mestre Que não riu de si também.” NIETZSCHE. Epígrafe de A Gaia ência. Obras incompletas. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 187. REDIJA um texto explicando por que Nietzsche só acreditava na autenticidade de um pensamento que nos motivassea “dançar”. 07. E sabeis... o que é pra mim o mundo?... Este mundo: uma monstruosidade de força, sem princípio, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força... uma economia sem despesas e perdas, mas também sem acréscimos, ou rendimento,... mas antes como força ao mesmo tempo um e múltiplo,... eternamente mudando, eternamente recorrentes... partindo do mais simples ao mais múltiplo, do quieto, mais rígido, mais frio, ao mais ardente, mais selvagem, mais contraditório consigo mesmo, e depois outra vez... esse meu mundo dionisíaco do eternamente-criar-a-si-próprio, do eternamente-destruir- a-si-próprio, sem alvo, sem vontade... Esse mundo é a vontade de potência — e nada além disso! E também vós próprios sois essa vontade de potência — e nada além disso! NIETZSCHE, F. Assim falou Zaratustra. São Paulo: Martin Claret, 2002. p. 96. A partir da citação anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a seguinte afirmação: “Esse mundo é a vontade de potência – e nada além disso!” 08. Leia atentamente o texto retirado da obra Assim falava Zaratustra, de Nietzsche: [...] Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, respeitável. A força deste espírito está bradando por coisas pesadas, e das mais pesadas. Há o quer que seja pesado? — pergunta o espírito sólido. E ajoelha-se como camelo e quer que o carreguem bem. Que há mais pesado, heróis — pergunta o espírito sólido — a fim de eu o deitar sobre mim, para que a minha força se recreie? [...] O espírito sólido sobrecarrega-se de todas estas coisas pesadíssimas; e à semelhança do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto. No deserto mais solitário, porém, se efetua a segunda transformação: o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade e ser senhor no seu próprio deserto. Procura então o seu último senhor, quer ser seu inimigo e de seus dias; quer lutar pela vitória com o grande dragão. [...] Meus irmãos, que falta faz o leão no espírito? Não bastará a besta de carga que abdica e venera? Criar valores novos é coisa que o leão ainda não pode; mas criar uma liberdade para a nova criação, isso pode-o o poder do leão. Para criar a liberdade e um santo não, mesmo perante o dever; para isso, meus irmãos, é preciso o leão. Conquistar o direito de criar novos valores é a mais terrível apropriação aos olhos de um espírito sólido e respeitoso. Para ele isto é uma verdadeira rapina e coisa própria de um animal rapace. [...] Dizei-me, porém, irmãos: que poderá a criança fazer que não haja podido fazer o leão? Para que será preciso que o altivo leão se mude em criança? A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação. Sim; para o jogo da criação, meus irmãos, é preciso uma santa afirmação: o espírito quer agora a sua vontade, o que perdeu o mundo quer alcançar o seu mundo. [...] NIETZSCHE, F. Assim Falou Zaratustra. 7. ed. Tradução de Mário da Silva. Rio de Janeiro: Bertrand,1994. p.26. REDIJA um texto explicando, a partir da metáfora anterior, a seguinte afirmação: “o espírito quer agora a sua vontade”. SEÇÃO ENEM 01. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, político e espiritual. MARX, Karl. Para a crítica da economia política, Salário, preço e lucro. O rendimento e suas fontes. São Paulo: Abril Cultural, “Os economistas”, 1982. p. 25-26. De acordo com a citação de Marx, filósofo alemão do século XIX, a realidade é resultado A) do trabalho humano nas fábricas e oficinas que produzem os bens necessários à vida. B) das relações de trabalho entre patrões e empregados que seguem padrões da justiça distributiva. C) das condições materiais de produção e de distribuição de bens a que um povo está submetido. D) das decisões políticas tomadas pelos governantes, que têm a função de governar o povo. E) das determinações espirituais e divinas que traçam os destinos de todos os homens. 25Editora Bernoulli FI LO SO FI A Os gênios da filosofia alemã: Hegel, Marx e Nietzsche GABARITO Fixação 01. Para Hegel, só há liberdade dentro do Estado. O Estado é a realização plena da ideia ou do espírito do mundo por meio do processo dialético, sendo, então, a reunião de todas as consciências, mas estando acima de todos os indivíduos. No terceiro momento de desenvolvimento do espírito do mundo, todos os indivíduos tomariam consciência do todo, na figura do Estado. Assim, considerando-se que o Estado é a união de todos, só nele poderia haver liberdade, uma vez que a realização pessoal cederia lugar à realização e ao desenvolvimento do todo. Nesse sentido, as ações do Estado não fazem distinção entre interesses individuais, atendendo, ao mesmo tempo, aos interesses de todos os homens. Dessa forma, somente no Estado o homem poderia ser realmente livre e realizado. 02. Ideologia, na concepção marxiana, é um dos instrumentos mais perversos utilizados pelos dominadores a fim de perpetuar a situação de exploração dos dominados, que se sentem, então, culpados pela situação em que se encontram. A ideologia anestesia a mente, não permitindo que os dominados vejam a realidade de fato, ou seja, eles não veem que a realidade não é fruto de uma força sobrenatural ou da incompetência e da acomodação deles mesmos, mas que é, na verdade, tal como se apresenta, uma construção humana, podendo, por isso, ser modificada por vontade dos próprios homens. É interessante para os dominadores que os dominados permaneçam em estado de passividade, pois assim não ocorrerão revoltas e lutas por melhorias. Na figura da questão, verifica-se com clareza um exemplo tácito de ideologia. Enquanto alguns indivíduos estão nas ruas, em uma situação de mendicância, outro passa de seu carro, lança uma moeda e cita a Constituição, dizendo que todos são iguais perante a lei. Trata-se de um pensamento ideológico, visto que a igualdade não passa de uma ideia abstrata, já que não é verificável na realidade de todos os homens. Se os pobres, despossuídos e desvalidos acreditarem nesta mentira, eles pensarão que de fato são iguais a todos, não enxergando, assim, que a realidade não corresponde a tal ideia. 03. A morte de Deus, segundo a filosofia nietzscheana, não significa absolutamente que o Deus supremo do cristianismo morreu. Apesar de ateu, Nietzsche preocupou-se com a moral cristã ocidental, a qual impedia que o homem se desenvolvesse devido a um conjunto de normas impostas pela religião. Essas normas impediam o desenvolvimento da vontade de poder e priorizavam, ao contrário, as características dos fracos, incompetentes e humildes, representando, segundo Nietzsche, a decadência do homem. Para que o homem pudesse se desenvolver por completo, era necessário que ele superasse os valores morais tradicionais, revoltando-se contra eles, e construísse uma nova ordem de valores, baseados em sua vontade de poder, isto é, em suas características mais elementares, como a coragem, o destemor e a ousadia. Dessa forma, quando o homem alcançasse tal estágio de desenvolvimento de suas potencialidades, ele chegaria ao estágio do super-homem, aquele que superou todas as limitações impostas pela cultura cristã ocidental e que, por isso, pode se reconstruir de forma a não mais eliminar seu orgulho, sua paixão, sua força vital. Propostos 01. Segundo Hegel, o processo dialético é o mecanismo de desenvolvimento do espírito do mundo na História, ou seja, a consciência coletiva, que faz surgir no contexto histórico suas próprias contradições, permite que a História se desenvolva em momentos melhores que os anteriores, rumo ao pleno desenvolvimento. Esse processo acontece por meio da dialética (tese + antítese = síntese), que, em um primeiromomento, traz à tona as contradições ideológicas, para, em seguida, como consequência dessa contradição, construir um novo pensamento. Ou seja, inicialmente, tem-se a tese, em seguida, contra ela, surge uma antítese, e, pela contradição das duas, tem-se a formação de uma síntese, que será, por sua vez, a próxima tese. 02. A tese defendida por Hegel é a de que as ações humanas, mesmo inconscientemente, podem representar a manifestação de algo que está acima delas mesmas. A ideia sublime ou espírito do mundo age de forma abstrata, no entanto, o percurso da História, que pode à primeira vista parecer irracional, tem intrinsecamente uma racionalidade que o compõe. Dessa forma, o deslindar da História é o próprio desenvolvimento dessa consciência que ultrapassa as individualidades e que muitas vezes não é compreensível no momento de sua realização pelos homens. 26 Coleção Estudo Frente A Módulo 13 03. Segundo a filosofia hegeliana, o Estado é soberano e está, portanto, acima de todos os indivíduos. Ele é o grande organismo que submete todas as partes aos seus interesses maiores e é nele que se encontra o pleno desenvolvimento de uma nação, pois dentro do Estado todos os homens estão seguros e fora dele o indivíduo não é nada. O Estado constrói as leis em vista de todos os homens e de si mesmo, pois, em última instância, as leis são a garantia de sua própria permanência de desenvolvimento e, para alcançar seus ideais de desenvolvimento, tudo é possível e qualquer caminho é válido. Na figura da questão, tem-se como exemplo o Estado nazista. O nazismo, assim como defendido por Hegel e por qualquer regime totalitário, acredita que os interesses do Estado estão acima dos próprios indivíduos. Estes são, ao mesmo tempo, constituintes e acessórios dentro do Estado. 04. A globalização, fenômeno mundial de intercâmbio de mercadorias, capitais e informações, teve seu auge de desenvolvimento e concretização com a formação da chamada Nova Ordem Econômica Mundial, que se deu a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim. Pode-se, porém, observar que as raízes da globalização já haviam sido lançadas há mais tempo. O contexto ao qual Marx se refere na citação aponta para a existência desse mecanismo de desenvolvimento do capitalismo, uma vez que se observa o caráter cosmopolita da produção e do consumo. É incorreto dizer, no entanto, que a globalização tenha se iniciado no século XIX, mas não deixa de ser correto afirmar que, em menor proporção, esse fenômeno já podia ser verificado nessa época, tendo encontrado, já nos fins do século XX, seu pleno desenvolvimento. 05. Segundo Marx, a política, único instrumento de transformação da sociedade, está nas mãos dos burgueses, e estes, por sua vez, não desejam mudanças que façam com que a situação de exploração, a qual lhes traz benefícios, se altere. Portanto, a situação observada no enunciado da questão, em que há a perpetuação da exploração do trabalho infantil, permanece ainda nos dias atuais, uma vez que, tanto no século XIX quanto no tempo presente, tal situação é verificável na realidade e, pior, é legitimada por leis. Para Marx, a única maneira de alterar essa situação seria através da revolução do proletariado, pois, com ela, a política, instrumento de mudanças, passaria às mãos do povo, que poderia modificar a situação posta. 06. Ao se referir à dança, Nietzsche está dizendo que só é válido e legítimo um pensamento que priorize o prazer, a alegria, a natureza do homem. O contrário dessa dança seria a tristeza, a fraqueza, a mansidão e a passividade de uma vida voltada ao sofrimento e à melancolia, vida característica dos seres inferiores que não conseguiram romper com o estilo antigo e permanecem presos aos valores decadentes de uma sociedade também em declínio. A dança representa, assim, a libertação do homem das amarras da moral de rebanho, libertação essa que demonstra a força natural que levaria o homem ao pleno desenvolvimento de suas potencialidades e de sua força vital. 07. Na citação da questão, Nietzsche procura definir a realidade humana a partir de uma nova concepção de homem e de mundo. Não mais o mundo do medo, da penitência, da mansidão, do sofrimento, na esperança de uma recompensa final em outra vida. Nessa nova realidade, o homem deve se desenvolver, deve se encontrar em suas próprias contradições, buscando ser coerente com a vontade de poder, a qual é a mais profunda e fiel natureza humana e que quer se desenvolver em suas múltiplas potencialidades que estão vinculadas à natureza e sua busca pelo prazer, mas até então era impedida pela moral ocidental que condenava, de alguma maneira, tudo o que era natural. Dessa forma, o filósofo dizia que o mundo é construção humana e deve ser construído apenas de acordo com essa vontade de potência. O próprio homem é fruto de sua construção e, tal como o mundo, deve ser a personificação da vontade de poder. 08. Segundo Nietzsche, o homem moderno precisa passar por um processo de transformação, o qual requer estágios diferentes que culminarão na libertação do homem dos valores tradicionais, ou seja, valores próprios dos espíritos fracos que formam a chamada “moral de rebanho”. Para alcançar esse estágio de libertação, é necessário deixar de ser camelo, tornar-se leão e, enfim, criança, ou seja, deixar de aceitar os valores passivamente, revoltar-se contra eles e reavaliar o mundo, enxergando-o como se fosse a primeira vez. É nesse último estágio que se justifica a explicação de que “o espírito quer agora a sua vontade”. Somente quando se estabelece esse terceiro estágio do desenvolvimento humano é que se cria uma nova moral a partir do que Nietzsche chama de vontade de poder, a qual consiste no pleno desenvolvimento da humanidade em busca de sua perfeita realização que significa o estabelecimento de uma nova ordem de valores fundamentada no espírito dionisíaco. Seção Enem 01. C 33Editora Bernoulli FI LO SO FI A 02. O caráter fundamental da Filosofia é tomar todos os fenômenos como sujeitos a leis naturais invariáveis cuja descoberta precisa e cuja redução ao menor número possível constituem o objetivo de todos os nossos esforços, considerando como absolutamente inacessível e vazia de sentido para nós a investigação das chamadas causas, sejam as primeiras sejam as finais. COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 7. Coleção Os Pensadores. De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, EXPLIQUE o que Comte chama de “causas primeiras” e “causas finais”. 03. Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência em suas diversas esferas de atividades, desde seu primeiro vôo mais simples até os nossos dias, creio ter descoberto uma grande lei fundamental, a que se sujeita por uma necessidade invariável, e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base de provas racionais fornecidas pelo conhecimento de nossa organização, quer na base de verificações resultantes dum exame atento do passado. Essa lei em que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de nosso conhecimento, passa sucessivamente por três estados históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico ou abstrato, estado científico ou positivo. COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 18. Coleção Os Pensadores. IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Comte na citação anterior. 04. Nós reconhecemos que a verdadeira ciência [...] consiste essencialmente de leis e não mais de fatos, embora estes sejam indispensáveis para o seu estabelecimento e sua sanção. COMTE, Auguste. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p.35. Coleção Os pensadores. A partir da citação anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto,REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre leis e fatos e tendo como base o positivismo de Comte. 05. As idéias governam e subvertem o mundo, em outros termos, todo o mecanismo social repousa finalmente sobre opiniões [...] A grande crise política e moral das sociedades atuais está ligada, em última analise, à anarquia intelectual. COMTE, Augusto. Curso de Filosofia Positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 17. Coleção Os pensadores. EXPLIQUE o que é, para Comte, a “anarquia intelectual”. 06. No positivismo, a Teologia e a Metafísica foram substituídas pelo culto à Ciência, considerada a única capaz de compreender o mundo. O mundo espiritual foi, assim, substituído pelo mundo humano, e as ideias de espírito ou essência foram substituídas pela ideia de matéria. A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando por que, na filosofia positiva, o espírito ou essência é substituído pela matéria. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Leia os trechos a seguir: Ciência, logo previsão; previsão, logo ação: tal é a fórmula simplicíssima que expressa de modo exato a relação geral entre a ciência e a arte, tomando estes dois termos em sua acepção total. Auguste Comte A ciência, e apenas a ciência, pode tornar a humanidade aquilo sem o que ela não pode viver, um símbolo e uma lei. Ernest Renan A evolução pode terminar apenas com o estabelecimento da maior perfeição e da mais completa felicidade. Herbert Spencer REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7 v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume V. p. 285. A partir das citações anteriores e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a importância da Ciência para o positivismo. 02. A Ciência é o único conhecimento possível e seu método é o único válido para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Logo, a busca por causas ou princípios que não sejam acessíveis ao método científico não leva, absolutamente, ao conhecimento. A investigação metafísica, ou seja, a busca por verdades que ultrapassam a matéria, não tem nenhum valor. De acordo com o texto e com outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a crítica do positivismo ao conhecimento metafísico. 03. [deve-se] pedir desculpas aos opositores do utilitarismo por confundi-los, mesmo que por um momento sequer, com os que são capazes de um equívoco tão absurdo. O equívoco parece ainda mais extraordinário quando se considera que, entre as acusações correntes contra o utilitarismo, figura a acusação contrária de remeter tudo ao prazer, e mesmo ao prazer inferior. MILL, John Stuart. A Liberdade / Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 185. A partir do texto e de outros conhecimentos sobre o utilitarismo de Stuart Mill, REDIJA um texto explicando por que o utilitarismo de Mill não prega a busca de qualquer forma de prazer. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. [...] o positivismo baseia-se na identificação das leis causais e no domínio sobre os fatos. O método descritivo pode ser aplicado tanto no estudo da natureza quanto no estudo da sociedade. De acordo com a citação e com outros conhecimentos relacionados ao positivismo, EXPLIQUE por que as leis causais permitem o domínio dos fatos. O positivismo: a divinização da ciência 34 Coleção Estudo 07. Stuart Mill defendia que toda inferência é feita “do particular para o particular”, ou seja, em todos os casos, o conhecimento obtido por meio de um raciocínio lógico é proveniente de experiências anteriores do mesmo caso. A partir do trecho anterior, EXPLIQUE a crítica de Stuart Mill ao raciocínio silogístico. 08. [...] a utilidade ou o princípio da maior felicidade como a fundação da moral sustenta que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade e erradas conforme tendam a produzir o contrário da felicidade. Por felicidade se entende prazer e ausência de dor; por infelicidade, dor e privação de prazer [...] o prazer e a imunidade à dor são as únicas coisas desejáveis como fins, e que todas as coisas desejáveis [...] são desejáveis quer pelo prazer inerente a elas mesmas, quer como meios para alcançar o prazer e evitar a dor. MILL, John Stuart. A Liberdade / Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 187. EXPLIQUE, de acordo com o pensamento utilitarista, a importância do prazer para o princípio da maior felicidade. SEÇÃO ENEM 01. Leia com atenção o texto a seguir, em que Augusto Comte se propõe a criar uma nova religião, denominada religião da humanidade: É assim que o positivismo dissipa naturalmente o antagonismo mútuo das diferentes religiões anteriores, formando seu domínio próprio do fundo comum a que todas se reportaram de modo instintivo. A sua doutrina não poderia tornar-se universal, se, apesar de seus princípios antiteológicos, o seu espírito relativo não lhe ministrasse necessariamente af inidades essenciais com cada crença capaz de dirigir passageiramente uma porção qualquer da Humanidade. COMTE, Augusto. Curso de filosofia positiva. 2. ed. São Paulo: Abril cultural, 1983. p. 139. Coleção Os Pensadores. A intenção de Comte ao criar essa nova religião era A) agregar todos os homens em um culto ao Deus cristão. B) levar os homens ao arrependimento por terem se desviado das verdades metafísicas. C) promover uma harmonia entre os homens para a construção de uma sociedade melhor. D) criar uma legislação única a que todos se submetessem de forma irrestrita. E) incentivar uma visão organicista da sociedade a partir de concepções religiosas. GABARITO Fixação 01. A ideia central do positivismo é a crença na força poderosa e transformadora da Ciência. Segundo essa corrente filosófica, política e sociológica, somente através do desenvolvimento científico os homens poderiam construir um mundo melhor. O positivismo tem como premissa fundamental de que é possível decifrar a natureza e a sociedade por meio de relações de causa e efeito. Encontrando tal relação, fundamento de toda e qualquer lei natural, os homens dispensariam qualquer preconceito ou pensamento metafísico e transformariam o mundo de forma a construí-lo com bases puramente racionais, o que garantiria o desenvolvimento do mundo e, consequentemente, o desenvolvimento e a realização de todos os homens. 02. Uma das premissas mais importantes do positivismo é de que só é possível alcançar o conhecimento verdadeiro a partir das experiências. Dessa forma, o conhecimento busca seu fundamento na realidade, uma vez que é a partir das relações entre causa e efeito dos fenômenos naturais que se pode encontrar e determinar as leis que regem a sociedade e a natureza. Assim, qualquer forma de conhecimento que busque ideias ou conceitos que estejam além do mundo material é inválida e falsa, pois procura conhecer aquilo que não é experimentável. A metafísica, sendo a busca pelo conhecimento daquilo que está além do mundo material, físico, é um conhecimento impossível e inválido para o positivismo. 03. Acompanhando Jeremy Bentham, sistematizador do utilitarismo, Mill acredita que o critério da maior felicidade deve ser empregado para decidir as ações boas e más, corretas e incorretas. Para ele, as ações corretas ou boas são aquelas que trazem o prazer e, consequentemente, a felicidade para um número maior de pessoas. Porém, não é qualquer prazer que é buscado por Mill. Para ele, há uma clara classificação entre os prazeres de acordo com sua qualidade. Assim, há prazeres que estão ligados somente à satisfação das necessidades e há prazeres superiores, ligados ao intelecto. Estes devem ser buscados em primeiro lugar e são eles que devem ser utilizados como critério da avaliação das ações. Propostos 01. O conhecimento científico, segundo o positivismo, baseia-se exclusivamente nas relações de causa e efeito presentes na natureza e na sociedade. Assim, por meio da identificação dessas causas e efeitos é possível alcançar as leis que traduzema regularidade presente na natureza. Uma vez que se tem o conhecimento dessas leis, é possível prever, pelos fatos, aquilo que acontecerá e se antecipar dominando o que irá acontecer. Frente A Módulo 14 35Editora Bernoulli FI LO SO FI A 05. Para Comte, o conhecimento verdadeiro parte de experiências ordenadas para alcançar uma relação de causa e efeito presente na sociedade e na natureza. Essa ordem é fundamental para que o homem alcance as verdades pela Ciência, que segue, por sua natureza, um método. Outras ideias que se pretendem verdades, mas que não sejam realizadas a partir desse método, não passam de falsidades e opiniões, sendo passageiras e instáveis. Comte afirma, portanto, que a grande crise política e moral da sociedade de seu tempo se deve exatamente à tentativa de conhecer o mundo a partir dessas falsas opiniões, elaboradas por homens que se apoiam na teoria puramente racional e não em conhecimentos verdadeiros obtidos pelo empirismo, o que Comte chama de anarquia ou desordem intelectual. 06. Ao positivismo não interessa nada que não seja experimentável. Assim, a verdade é obtida pela experimentação dos fenômenos naturais e sociais a fim de encontrar sua regularidade e, portanto, suas leis de causa e efeito. Esse é o único conhecimento legítimo da ciência. Assim, o cientista não deve buscar a essência ou o espírito das coisas, pois esses são conceitos abstratos e imateriais que não são possíveis de serem conhecidos, uma vez que não existem. O cientista deve se deter na coisa material, no fenômeno, buscando nele o conhecimento. Por isso a essência é substituída pela matéria, a única capaz de levar o homem à verdade científica. 07. Para Stuart Mill, filósofo influenciado pelo positivismo, as únicas fontes do conhecimento são as experiências realizadas pelos sentidos humanos. Assim, o silogismo, ao sair de premissas gerais para atingir uma verdade, não torna o homem livre dessas experiências. As proposições gerais do silogismo não nascem de outro lugar senão das experiências particulares que foram generalizadas em um princípio. Assim, ao dizer que todos os homens são mortais, essa verdade geral nasceu da observação dos homens de fato, ou seja, tal proposição nasce de experiências. Dessa forma, é possível compreender por que todas as inferências são feitas de experiências particulares para experiências particulares. 08. Para a teoria utilitarista da moral, o critério de avaliação de uma ação em boa ou má, correta ou incorreta, é o princípio da maior felicidade. Desse modo, bom é aquilo que traz a felicidade e mau é aquilo que causa a infelicidade para o maior número de pessoas. Segundo esse princípio, felicidade e infelicidade consistem em ausência de dor e presença de prazer e ausência de prazer e presença de dor, respectivamente. Para Mill, seguindo o pensamento de seu mestre Jeremy Bentham, o prazer é o princípio natural que guia as ações humanas. Buscar o prazer e fugir da dor é natural em todos os animais, sejam irracionais ou racionais. É nesse raciocínio que se encontra o fundamento da moral utilitarista e, consequentemente, o fundamento do prazer para a avaliação das ações. Seção Enem 01. C Por exemplo: pela Ciência, é possível prever que o consumo de substâncias tóxicas, como o álcool, afetará o funcionamento do fígado daquela pessoa que as consome. O conhecimento das leis do funcionamento permite que sejam tomadas providências para que alguma doença seja evitada ou para antecipar alguns efeitos que decorrerão dessa doença. Assim, as leis permitem o domínio dos fatos futuros. 02. Comte acredita que o conhecimento verdadeiro e legítimo nasce das experiências das coisas reais e não de conceitos abstratos ou de algo que não seja fisicamente experimentável. Ao se referir a causas, o filósofo está falando de essências ou substâncias que determinam a ação ou a existência de um ser qualquer. Para Comte, esse tipo de conhecimento é impossível e os esforços para encontrar tais causas são totalmente inúteis e vazios. Segundo o filósofo, não existe nada que esteja além da matéria, e é ela que nos dá o conhecimento sobre as coisas. 03. Segundo Comte, a humanidade está em um caminho de desenvolvimento rumo à plena realização. Em um processo ascendente, os homens saíram de uma concepção primitiva de mundo, que o filósofo denomina de fase teológica, em que a ideia da divindade era necessária para a compreensão do mundo. Superada essa fase, tem-se a fase ou estágio metafísico, pois, nessa etapa, o homem, apesar de não estar preso à ideia de divindade, passa a almejar conhecer as essências ou causas primeiras das coisas, numa concepção metafísica do mundo. Superada essa fase, os homens são levados ao desenvolvimento de concepções puramente racionais sobre o mundo através da Ciência. Nessa terceira e última fase, toda e qualquer explicação não científica e racional do mundo é negada. A primeira e a segunda fases, apesar de necessárias ao desenvolvimento da humanidade, foram superadas, e, a partir de então, o homem deverá conhecer o mundo pela razão científica, confiando exclusivamente em si mesmo, em sua racionalidade, alcançando a terceira fase ou estágio denominado positivo. 04. A terceira fase ou estágio do desenvolvimento da humanidade, segundo Comte, seria a fase positiva, em que toda busca por algo divino e metafísico da realidade seria superada. Ao alcançar tal estágio, não interessaria mais saber o porquê das coisas, interessando ao conhecimento científico da realidade tão-somente saber o como as coisas, a natureza, funcionam. Buscando esse modelo de conhecimento, os fatos não são em si a finalidade, pois eles dizem respeito à natureza particularmente, sendo que ao positivismo interessa alcançar as leis gerais de funcionamento dessa natureza. O positivismo não nega a importância dos fatos, mas considera que esses fatos são importantes enquanto constituintes da matéria-prima necessária para alcançar, por meio das generalizações, as leis, as quais seriam a abstração máxima da Ciência compreendendo o mundo posto. O positivismo: a divinização da ciência 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 15 3 Existencialismo: Heidegger e Sartre Autor: Richard Garcia Amorim 16 17 A Escola de Frankfurt e o Pós-Modernismo Autor: Richard Garcia Amorim 13Editora Bernoulli FI LO SO FI A Existencialismo: Heidegger e Sartre Sartre acreditava que os intelectuais deveriam desempenhar um papel ativo na sociedade. Foi um artista militante e apoiou com a sua vida e a sua obra causas políticas de esquerda. Por esses e outros motivos, recusou-se a receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1964. O existencialismo não é tanto um ateísmo no sentido em que se esforçaria por demonstrar que Deus não existe. Ele declara, mais exatamente: mesmo que Deus existisse, nada mudaria, eis nosso ponto de vista. Não que acreditamos que Deus exista, mas pensamos que o problema não é de sua existência, é preciso que o homem se reencontre e se convença de que nada pode salvá-lo dele próprio, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 22. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. Para a corrente existencialista, oposta à positivista, que acreditava que todas as coisas poderiam ser apreendidas pelas experiências, o homem não é um ser determinado por nada. REDIJA um texto explicando a contraposição entre positivismo e existencialismo a partir da frase anterior. 02. O projeto fenomenológico se define como uma “volta às coisas mesmas’’, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência que se dá como seu objeto intencional. Fenomenologia. In: JAPIASSÚ,Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. Com base na citação anterior, REDIJA um texto explicando as bases do método fenomenológico. 03. O nada, impensado para Parmênides, encontrou em Sartre valor ontológico, pois é o ponto de partida da existência humana, uma vez que não há coisa alguma anterior à existência. Essa tese foi amplamente defendida por esse filósofo, principalmente em sua obra O ser e o nada. REDIJA um texto explicando, de acordo com a filosofia existencialista, o título da obra de Sartre. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. Buscando responder o que é o homem, o sentido do ser que procura respostas sobre o mundo, Heidegger afirma que o homem é um dasein, um ser-aí. De acordo com o trecho anterior e com outros conhecimentos sobre o pensamento de Heidegger, REDIJA um texto explicando o sentido do termo dasein. 02. A pre-sença é sempre sua possibilidade. Ela não tem a possibilidade apenas como uma propriedade simplesmente dada. E é porque a pre-sença é sempre essencialmente sua possibilidade que ela pode, em seu ser, isto é, sendo, escolher-se, ganhar-se ou perder-se ou ainda nunca ganhar-se ou só ganhar-se aparentemente. HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes, 1993. p. 78. Para Heidegger, a pre-sença ou o ser-aí é sempre possibilidade, o que significa que o homem tem liberdade, a qual se manifesta em suas decisões, podendo levá-lo a uma vida autêntica ou a uma vida inautêntica. REDIJA um texto explicando a diferença entre autenticidade e inautenticidade para Heidegger. 03. O ser em relação aos outros não é apenas uma relação de ser autônomo e irredutível: enquanto ‘ser-com’ ele é uma relação que, como o ser do ser-aí, já está aí. É indiscutível que um intenso conhecimento pessoal mútuo, fundado no ser-com, depende freqüentemente de até onde cada ser-aí conhece-se a si mesmo na ocasião; mas isto quer dizer que esse conhecimento depende apenas de até onde o essencial ser-com-os-outros de alguém o tem tornado transparente e não o tem disfarçado. Isso é possível somente se o ser-aí, enquanto sendo-no-mundo, já é com os outros. A ”empatia” não é o constitutivo primeiro do ser-com; unicamente enquanto fundada no ser-com a empatia pode tornar-se possível. Ela recebe sua motivação da insociabilidade dos modos dominantes de ser-com. HEIDEGGER, Martin. Todos nós... ninguém. Um enfoque fenomenológico do social. São Paulo: Moraes, 1981. p. 46. A partir das informações do trecho anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando por que só é possível ao homem encontrar-se existencialmente se ele se tornar ser-com-os-outros. 14 Coleção Estudo Frente A Módulo 15 04. O homem é antes de mais nada um projeto que vive subjetivamente, em vez de ser um creme, qualquer coisa podre ou uma couve-flor. Nada existe anteriormente a esse projeto; nada há no céu inteligível, e o homem, diz Sartre, será antes de mais nada o que tiver projetado ser. Se no homem a existência precede a essência, ele será aquilo que fizer de sua vida, não havendo nada, além dele mesmo, de sua vontade, que determine o seu destino. PENHA, J. O que é existencialismo. São Paulo: Brasiliense, 2004. p. 45. REDIJA um texto explicando por que, para o existencialismo, não basta ao homem simplesmente ser. 05. A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 17. Tendo como base a citação anterior, REDIJA um texto explicando a seguinte frase: “Somente a liberdade é determinante”. 06. [...] não encontramos, já prontos, valores ou ordens que possam legitimar a nossa conduta. Assim, não teremos nem atrás de nós, nem na nossa frente, no reino luminoso dos valores, nenhuma justificativa e nenhuma desculpa. Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Tradução de Rita Correira Guedes. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 9. REDIJA um texto posicionando-se contra ou a favor da seguinte afirmação: “Estamos sós, sem desculpas.” 07. A má-fé é evidentemente uma mentira, pois dissimula a total liberdade do engajamento. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 19. De acordo com a citação anterior, EXPLIQUE o conceito de má-fé na filosofia sartreana. 08. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe; fica o homem, por conseguinte, abandonado, já que não encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não há determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não temos nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1978. De acordo com o trecho e com outros conhecimentos, REDIJA um texto explicando por que o homem está abandonado no mundo. SEÇÃO ENEM 01. Leia com atenção a citação do filósofo existencialista Jean-Paul Sartre: [...] o existencialismo afirma é que o covarde se faz covarde, que o herói se faz herói; existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não mais ser covarde, e para o herói, de deixar de o ser. SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. A imaginação: Questão de método. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. Tradução de Rita Correira Guedes, Luiz Roberto Salinas Forte, Bento Prado Júnior. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 14. De acordo com o texto anterior, o homem é A) fruto da sociedade e não pode fugir das limitações naturais dadas por ela, uma vez que é político por natureza. B) livre de qualquer determinação, seja de ordem natural ou cultural, pois, apesar de existirem forças contrárias, o homem é capaz de superar tais limites em um movimento de autoconstrução. C) relat ivamente l ivre, uma vez que existem determinações de ordem natural que impedem que o homem faça o que quiser de si. D) absolutamente livre, uma vez que ele é o único responsável pelo que faz de si mesmo, tendo em mente que sua vida é resultado de fatores externos e internos. E) totalmente livre na medida em que segue seus instintos, sendo que liberdade é possibilidade de escolha de acordo com a natureza própria e anterior que constitui o que o sujeito é. 15Editora Bernoulli FI LO SO FI A Existencialismo: Heidegger e Sartre GABARITO Fixação 01. Segundo o positivismo, todas as coisas do mundo podem ser compreendidas por relações de causa e efeito encontradas por meio da experiência. Desse modo, a natureza e a sociedade funcionam a partir de uma lógica determinista, uma vez que, se há causa, sempre haverá um efeito certo. As leis da natureza são, assim, manifestações inteligíveis dessas normas da natureza. O existencialismo, indo em direção contrária a essa tese, defendeque nada determina a vida e os comportamentos humanos. Segundo essa corrente, ao nascer plenamente livre, a essência, que para pensadores como Sócrates constitui a parte inata ao homem e a qual determina sua vida, é construída após a existência, não havendo nada previamente estabelecido. Por essa razão, para o existencialismo, o homem é o que ele fizer de si mesmo, sem qualquer determinação anterior às suas escolhas. 02. Desde a Antiguidade Grega até o Período Moderno com pensadores como Descartes e Locke, acreditava-se que seria possível conhecer os seres do mundo de forma real e em si mesmos. Ao contrário dessa posição filosófica, a fenomenologia, corrente filosófica fundada por Husserl, defende que o conhecimento só é possível por meio de um processo intencional do homem que busca no objeto os seus fenômenos. Para a fenomenologia, o conhecimento é somente conhecimento do fenômeno, ou seja, daquilo que o homem percebe do ser, não sendo conhecimento do ser em si mesmo. Por isso o homem não deve buscar o objeto em si, pois esse não pode ser alcançado, nem mesmo é possível provar a sua existência. Para conhecer o mundo, o sujeito deve ater-se unicamente na consciência do objeto que está representado na sua mente. Desse modo, entende-se que a frase “voltar às coisas mesmas’’ significa voltar a atenção para os fenômenos sem se preocupar em buscar uma realidade dos seres impossível de ser conhecida. 03. De acordo com a filosofia de Sartre, o homem é, ou seja, é ser. Nada existe anteriormente ao homem que possa lhe conferir uma essência prévia e que o determine substancialmente de uma forma ou de outra. Portanto, o ser simplesmente existe, é ser. A ideia de nada refere-se à afirmação de que não existe absolutamente nenhum ser que esteja além do homem, mas tão somente o vazio. Por isso, afirmar o nada é afirmar que só existe o ser e não existe uma essência humana previamente determinada. Porém, após constatar que o homem existe e é ser, esse homem deve sair da simples existência através da transcendência existencial, que consiste em encontrar um sentido pessoal para sua vida. Cabe ao homem, portanto, construir para si, por sua própria conta, sua essência a partir de suas próprias experiências. Propostos 01. O termo dasein, segundo o pensamento de Heidegger, significa, numa tradução pouco precisa do alemão para o português, ser-aí. Com essa ideia, o filósofo quer chamar a atenção para o fato de que o homem é um ser que simplesmente está lançado no mundo, mantendo uma relação íntima com a realidade na qual se encontra. O homem está sempre em uma situação real e determinada no mundo, e tal situação não foi objeto de sua escolha, pois ele não escolheu o tempo, o lugar, a família, a aparência, ou seja, ele não escolheu nada daquilo que ele é. Assim, o homem é simplesmente um ser-aí que, além de buscar o sentido do ser, ele é um ser que deve responder sobre o sentido dele mesmo, refletindo sobre sua existência. 02. Para Heidegger, a vida inautêntica é aquela em que o sujeito resume sua vida ao apego às coisas em si mesmas, sem utilizá-las como instrumentos que poderiam levá-lo a um projeto maior. A inautenticidade caracteriza uma existência anônima, que o filósofo chama de dejeção, consistindo na queda do homem no plano das coisas do mundo, o que faz de sua existência algo vazio e sem sentido, sendo que, dessa forma, o homem vive cada dia preso às coisas e busca nelas algo que o satisfaça. A vida autêntica, por outro lado, é aquela em que o sujeito compreende que as coisas não podem ser vistas em si mesmas, devendo ser utilizadas como instrumentos que levam o homem além da simples materialidade das coisas. Para Heidegger, a vida autêntica só é possível quando o homem aceita a ideia de que ele é um ser-para-a-morte, sendo que essa consciência da finitude o impede de se fixar nos fatos, mostrando a nulidade do projeto de sua vida, que é em si passageira. A autenticidade da vida consiste, portanto, em reconhecer que qualquer projeto ou plano é em vão, pois tudo vai acabar com a morte, a impossibilidade da possibilidade. 03. O existencialismo considera que os homens devem buscar um sentido pessoal para a sua existência, podendo levar erroneamente a uma concepção pessoal e individualista de existência humana. Contudo, o existencialismo não prescinde, em absoluto, dos outros homens na busca pela essência pessoal a ser construída. Pelo contrário, 16 Coleção Estudo Frente A Módulo 15 A favor: Acredito que o homem é o único responsável por si mesmo e, dessa forma, a sua liberdade torna-se, ao mesmo tempo, graça e fardo, pois, se o homem escolhe errado diante das possibilidades da vida, ele será o único responsável por suas escolhas. Por outro lado, se escolhe adequadamente, sua vida será fruto de suas boas escolhas. A racionalidade capacita o homem a pesar e medir o que ele é e o que quer ser, e a liberdade permite a ele transformar sua realidade pessoal e superar suas limitações. Contra: Não acredito que o homem está só e nem que ele é totalmente livre nas escolhas que faz, já que os condicionantes materiais, sociais, biológicos e culturais influenciam em suas escolhas, determinando, em alguma medida, sua liberdade e, consequentemente, aquilo que ele se torna. Apesar de o homem trazer consigo a sua liberdade, esta sempre é condicionada e restrita, pois não há como superar algumas determinações exteriores, o que torna o homem, necessariamente, fruto de seu meio. Portanto, não estamos sós, nem somos totalmente determinados. 07. Para Sartre, o conceito de má-fé refere-se ao homem consigo mesmo, ou seja, é uma atitude em que o sujeito se esconde de si próprio, tentando se enganar diante da vida e da responsabilidade de dar um sentido para sua existência. Sartre afirma que a má-fé é a atitude daquele que mente para si tentando justificar ou fundamentar suas ações ou omissões a partir de essências preestabelecidas que existiram em sua vida. Agindo desse modo, o homem abre mão de sua responsabilidade por si mesmo, e se esconde, dissimulando que seus atos são escolhas próprias, colocando na sociedade, em outro ser ou em Deus as responsabilidades por seu fracasso. O filósofo afirma que a má-fé é a atitude do homem que tem medo da vida e prefere se esconder a assumir sua responsabilidade diante de sua própria existência. 08. Segundo o existencialismo sartreano, não há uma razão para a existência humana, uma espécie de plano, destino ou missão pela qual o homem veio ao mundo e a qual ele precisa cumprir. Dessa maneira, o homem simplesmente existe, sem justificativas ou motivos. Porém, o que aparentemente representaria um problema torna-se a força que conduz o homem à busca de um verdadeiro sentido para sua vida. Estar abandonado, significa, então, não ter qualquer determinação prévia para a vida e, assim, o ser humano será aquilo que fizer de si mesmo. Seção Enem 01. B. a ideia existencialista é a de que os homens são fundamentais para a construção do sentido pessoal da própria existência, uma vez que esse sentido pessoal só pode acontecer a partir da coexistência. Desse modo, a ideia de ser-com-os-outros se torna fundamental para a existência humana, pois, segundo a corrente existencialista, todos os homens vivem juntos e o outro é, em si, causa de possibilidade da realização de cada homem. 04. A premissa principal do existencialismo é a de que cada homem existe e deve, saindo da simples existência, transcender-se existencialmente. Tal transcendência existencial acontece quando o homem é capaz de definir a si próprio, construindo, na autonomia, uma essência que possa trazer um sentido individual à sua vida. Por isso, não basta existir, pois a simples existência é uma característica trivial dos objetosinanimados, como fica claro na citação da questão, que se refere a um creme ou a uma couve-flor. É necessário ao homem ir além dessa simples existência e construir a si próprio pela transcendência. 05. Segundo o existencialismo de Sartre, o homem é absolutamente livre. Isso significa que, independentemente de qualquer condicionamento, o homem permanece livre e por isso é o único responsável por si mesmo. Não há determinismos de ordem natural ou divina que guiem a vida e direcionem as ações humanas, pelo contrário, o homem pode fazer de si o que quiser e escolher. Nesse sentido, apenas uma coisa não pode ser escolhida, ou seja, o homem possui somente uma determinação da qual ele não pode se libertar, que é o fato de ser livre. Assim, justifica-se a famosa frase de Sartre que diz que o homem está condenado a ser livre. 06. A resposta para essa questão é subjetiva. Espera-se que o aluno seja capaz de se posicionar argumentativamente contra ou a favor da ideia proposta. Em questões desse modelo, não existe resposta certa ou errada, mas espera-se que o candidato, posicionando-se de um lado ou de outro, argumente adequadamente sua questão. É muito útil, quando for possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação. Estar só e sem desculpas significa afirmar que o homem é o único responsável por si mesmo. Segundo o existencialismo, somos totalmente livres e essa liberdade traz como consequência a responsabilidade por aquilo que somos ou que escolhemos ser. Dessa maneira, por sermos absolutamente livres, não há desculpas para nossos erros e insucessos, pois eles são tão-somente consequências de nossas escolhas. 27Editora Bernoulli FI LO SO FI A As estruturas epistêmicas Uma das principais ideias de Foucault consiste em sua teoria sobre as estruturas epistêmicas da História. De acordo com essa teoria, Foucault critica a ideia de progresso. Para ele, a ideia de um glorioso desenvolvimento do homem ocidental não passa de uma ilusão, já que a História não é progressiva e, por essa razão, não há nenhum tipo de continuidade nela. Para Foucault, a História, sendo descontínua, é governada por estruturas epistêmicas, denominadas por ele de epistemas, as quais agem no inconsciente dos homens. Quando falo de epistemas, entendo todas as relações que existiram em certa época entre os vários campos da Ciência. Penso, por exemplo, no fato de que, a certo ponto, a Matemática foi utilizada para pesquisas no campo da Física; de que a Lingüística, ou melhor [...], a Semiologia, a Ciência dos Sinais, foi utilizada pela Biologia (para as mensagens genéticas); de que a Teoria da Evolução pôde ser utilizada ou servir de modelo para os historiadores, os psicólogos e os sociólogos do século XIX. Todos estes são fenômenos de relações entre as Ciências ou entre os vários ”discursos” nos vários setores científicos que constituem o que eu chamo “epistema de uma época”. FOUCAULT. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume VII. p. 87. Foucault, ao denominar sua filosofia de “arqueologia do saber”, buscava compreender os “epistemas” por meio dos quais a História se apresenta. O filósofo concluiu, em seus estudos, que não existia qualquer tipo de progresso histórico no desenvolvimento da civilização, e que a História, ao contrário, era constituída de uma sucessão de epistemas descontínuos, que não possuíam ligação entre si. Foucault distinguiu três estruturas epistêmicas ou epistemas que se sucederam sem nenhuma continuidade na História ocidental. A primeira, que se conservou até a Renascença, era aquela em que as ideias estavam unidas às coisas a que se referiam, ou seja, a palavra tinha a mesma realidade daquilo que ela significava. A segunda estrutura, que vai dos fins do século XVI ao princípio do século XVII, consistia naquela em que as palavras se desvencilharam das coisas e passaram a ser encaradas como referentes, mas não como as coisas em si mesmas. Por fim, a terceira estrutura, que se inicia no século XVIII, é aquela que rege os discursos e considera que as palavras estão cada vez mais distantes da realidade, não se referindo a ela, mas buscando, por detrás dessa realidade, um saber que está nas estruturas ocultas do real. Para se ter um exemplo dessa estrutura, basta pensar na estrutura da linguagem que dá sentido às palavras, não tendo as palavras sentido por elas mesmas. Nessa terceira estrutura, o pensamento e o saber se retraem no âmbito da representação visível para sondar o âmbito das estruturas ocultas. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 01. O saber que é poder não conhece nenhuma barreira, nem na escravização da criatura, nem na complacência em face dos senhores do mundo. Do mesmo modo que está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha, assim também está à disposição dos empresários, não importa sua origem. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1991. p. 20. IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Adorno e Horkheimer na citação anterior. 02. A existência da inclinação para a agressão, que podemos detectar em nós mesmos e supor com justiça que ela está presente nos outros, constitui o fator que perturba nossos relacionamentos com o nosso próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio [de energia]. Em conseqüência dessa mútua hostilidade primária dos seres humanos, a sociedade civilizada se vê permanentemente ameaçada de desintegração. O interesse pelo trabalho em comum não a manteria unida; as paixões instintivas são mais fortes que os interesses razoáveis. A civilização tem de utilizar esforços supremos a fim de estabelecer limites para os instintos agressivos do homem e manter suas manifestações sob o controle por formações psíquicas reativas. Daí, portanto, o emprego de métodos destinados a incitar as pessoas à identificação e relacionamentos amorosos inibidos em sua finalidade, daí a restrição à vida sexual e daí, também, o mandamento ideal de amar ao próximo como a si mesmo, mandamento que é realmente justificado pelo fato de nada mais ir tão fortemente contra a natureza original do homem. A despeito de todos os esforços, esses empenhos da civilização até hoje não conseguiram muito. FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. In: Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, [1930] 1974. p. 134. IDENTIFIQUE e EXPLIQUE a tese defendida por Freud na citação anterior. 03. Quando falo de epistemas, entendo todas as relações que existiram em certa época entre os vários campos da Ciência. Penso, por exemplo, no fato de que, a certo ponto, a Matemática foi utilizada para pesquisas no campo da Física; de que a Lingüística, ou melhor [...], a Semiologia, a Ciência dos Sinais, foi utilizada pela Biologia (para as mensagens genéticas); de que a Teoria da Evolução pôde ser utilizada ou servir de modelo para os historiadores, os psicólogos e os sociólogos do século XIX. Todos estes são fenômenos de relações entre as Ciências ou entre os vários ”discursos” nos vários setores científicos que constituem o que eu chamo “epistema” de uma época. FOUCAULT. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. I. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume VII. p. 87. De acordo com a citação anterior, REDIJA um texto explicando o significado das estruturas epistêmicas para Foucault. A Escola de Frankfurt e o Pós-Modernismo 28 Coleção Estudo EXERCÍCIOS PROPOSTOS 01. Segundo Adorno e Horkheimer, “a indústria cultural” pode se ufanar de ter levado a cabo com energia e de ter erigido em princípio a transferência muitas vezes desejada da arte para a esfera do consumo, de ter despido a diversão de suas ingenuidades inoportunas e de ter aperfeiçoado o feitio das mercadorias. ADORNO, T.;HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. p. 126. De acordo com a citação e com seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando o conceito de indústria cultural. 02. Se as duas esferas da música se movem na unidade da sua contradição recíproca, a linha de demarcação que as separa é variável. A produção musical avançada se independentizou do consumo. O resto da música séria é submetido à lei do consumo, pelo preço de seu conteúdo. Ouve-se tal música séria como se consome uma mercadoria adquirida no mercado. Carecem totalmente de significado real as distinções entre a audição da música “clássica” oficial e da música ligeira. ADORNO, T. W. O fetichismo na música e a regressão da audição. In: BENJAMIN, W. et al. Textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1987. p. 84. A partir da leitura do trecho e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto argumentando contra ou a favor da seguinte afirmação: “gosto não se discute, cada um tem o seu”. 03. [...] as pessoas consomem e aceitam o que a indústria cultural propõe, mas como uma espécie de reserva [...] os interesses reais do indivíduo conservam o poder suficiente para resistir dentro de certos limites a seu total cativeiro. ADORNO. T. “Progreso, tiempo libre e notas marginales sobre la teoria y praxis”. In: Consignas. Buenos Aires, Amorrortu, 1973. p. 63. REDIJA um texto explicando a ideia à qual Adorno se refere na citação anterior e RESPONDA: para esse filósofo, há alguma esperança de mudança na forma de pensar dos homens? 04. Observe a tira e leia o texto a seguir. QUINO. Toda Mafalda: da primeira à última tira. Tradução de Andréa Stahel M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2008. p. 8. Quando se concebeu a idéia de razão, o que se pretendia alcançar era mais que a simples regulação da relação entre meios e fins: pensava-se nela como o instrumento para compreender os fins, para determiná-los. Segundo a filosofia do intelectual médio moderno, só existe uma autoridade, a saber, a ciência, concebida como classificação de fatos e cálculo de probabilidades. HORKHEIMER, M. Eclipse da Razão. São Paulo: Labor, 1973. p.18 e 31-32. REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre a charge e a citação de Horkheimer. Frente A Módulo 16 29Editora Bernoulli FI LO SO FI A 05. Por isso, os discursos de fundamentação e de aplicação precisam abrir-se também para o uso pragmático e, especialmente, para o uso ético-político da razão prática. Tão logo uma fundamentação racional coletiva da vontade passa a visar programas jurídicos concretos, ela precisa ultrapassar as fronteiras dos discursos da justiça e incluir problemas do auto-entendimento e da compensação de interesses. HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol. 1. 2. ed. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003. p. 194. Um das questões mais importantes da obra de Habermas diz respeito à validade do argumento, tratado por ele em sua Teoria da Ação Comunicativa. REDIJA um texto explicando o modelo proposto pelo filósofo para possibilitar a interação entre os homens por meio da linguagem. 06. [...] eu mostrarei que a mudança de paradigma para o da teoria da comunicação tornará possível um retorno à tarefa que foi interrompida com a crítica da razão instrumental. Esta mudança de paradigma nos permite retomar as tarefas, desde então negligenciadas, de uma teoria crítica da sociedade. HABERMAS, Jürgen. Théoriede l’agir communicationnel. Tome 1. Paris: Fayard, 1987. p. 390. EXPLIQUE a defesa que Habermas faz da razão, tendo como base a crítica do filósofo às ideias de Horkheimer e de Adorno. 07. [O inconsciente] é a parte obscura, inacessível, de nossa personalidade; o pouco que dela sabemos, nós o aprendemos pelo estudo do trabalho onírico e pela formação dos sintomas neuróticos [...] Do id nós nos aproximamos com comparações: nós o chamamos de caos, um caldeirão de excitações ferventes [...] Impulsos de desejos que jamais transpuseram o id, mas também impressões que foram mergulhadas no id pela repressão, são virtualmente imortais, se comportam depois de decênios como se tivessem apenas acontecido. Somente quando se tornaram conscientes por meio do trabalho analítico eles podem ser reconhecidos como passado, ser desvalorizados e privados de sua carga energética, e sobre isso se funda, e não em mínima parte, o efeito terapêutico do tratamento analítico. Freud. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7 v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume VII. p. 65. Com base no trecho anterior e em seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando o papel do id para a vida humana. 08. Qual podia ser a razão por que os pacientes haviam esquecido tantos fatos de sua vida interior e exterior, mas podiam recordá-los, quando se lhe aplicava a técnica [da hipnose]? [...] Todas as coisas esquecidas, por algum motivo, tinham caráter penoso para o sujeito, enquanto haviam sido consideradas temíveis, dolorosas e vergonhosas para as aspirações de sua personalidade. [...] FREUD, Sigmund. Estudos sobre a histeria. In: REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. 2. ed. 7v. São Paulo: Loyola, 2001. Volume VII. p. 64. Com base no pensamento freudiano, REDIJA um texto justificando o erro da expressão popular “o que passou, passou.” SEÇÃO ENEM 01. (Enem–2010) A lei não nasce da natureza, junto das fontes freqüentadas pelos primeiros pastores; a lei nasce das batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo. FOUCAULT, M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In: Em defesa da sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999. O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na organização das sociedades modernas é A) combater ações violentas na guerra entre as nações. B) coagir e servir para refrear a agressividade humana. C) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os indivíduos de uma mesma nação. D) estabelecer princípios éticos que regulamentam as ações bélicas entre países inimigos. E) organizar as relações de poder na sociedade e entre os Estados. GABARITO Fixação 01. Adorno e Horkheimer, dois dos principais representantes da Escola de Frankfurt, elaboraram uma crítica à razão iluminista, que, se em sua origem, tendia à libertação do homem, acabou por levá-lo ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia utilizadas não como mecanismos emancipatórios, mas tão-somente como meio de dominação capitalista através da formação da sociedade de consumo. Por isso, esses filósofos afirmam, na citação da questão, que o saber que é poder não conhece nenhuma barreira, ou seja, não conhece nenhum limite. O problema consiste na razão controladora e instrumental, que busca sempre a dominação, tanto da natureza quanto do ser humano. Por meio dessa dominação, ocorre a deturpação das consciências individuais, A Escola de Frankfurt e o Pós-Modernismo 30 Coleção Estudo assimilando os indivíduos ao sistema social dominante, tornando-os reféns de um modo de vida superficial e consumista que atende apenas aos interesses da economia burguesa. 02. Freud defende a tese de que os homens possuem, em sua própria natureza, um instinto ou pulsão que os leva a querer satisfazer seus prazeres sob quaisquer circunstâncias. Tal natureza é agressiva e, em muitos casos, incontrolável. Por mais que a humanidade estabeleça um conjunto de normas e leis a fim de controlar essa natureza, a qual tende ao aniquilamento do outro em vista dos prazeres próprios,muitas vezes esses esforços são em vão, pois é necessária uma força quase que sobrenatural para coibir a manifestação dessa força impulsiva. Segundo Freud, é essa força que faz com que os relacionamentos humanos sejam tão conflituosos e é ela que ameaça a existência da civilização humana. Tal força é representada, nos estágios psíquicos, pela energia sexual presente no id, que tende à realização e busca dos prazeres próprios em todas as situações. 03. As estruturas epistêmicas são os paradigmas que prevaleceram durante algum tempo na História da humanidade. Tais paradigmas se sucederam no tempo, mas não guardaram qualquer ligação de dependência um com o outro, de forma que essas estruturas sempre cedem lugar a outras. Foucault critica duramente o mito do progresso, segundo o qual a humanidade está em progresso e, por isso, os tempos históricos e as ideias vão melhorando progressivamente. Para o filósofo, não existe qualquer tipo de progresso histórico no desenvolvimento da civilização, ao contrário, a História é constituída de uma sucessão de epistemas que são descontínuas entre si e que fazem da História algo sem um sentido que lhe dê ordem. Propostos 01. Indústria cultural foi um termo difundido por Adorno e Horkheimer para designar a indústria da diversão vulgar, veiculada por meios midiáticos como televisão, rádio, revistas, jornais, músicas, propagandas, etc. Através da indústria cultural e da diversão, seria possível obter a homogeneização dos comportamentos e a massificação das pessoas, que passariam a pensar e a consumir de acordo com os interesses das classes burguesas, que promoveriam uma alienação dos homens e de suas consciências. 02. A resposta para essa questão é subjetiva. Espera-se que o aluno seja capaz de se posicionar argumentativamente contra ou a favor da ideia proposta. Em questões neste modelo, não existe resposta certa ou errada, mas espera-se que o aluno, posicionando-se de um lado ou de outro, argumente adequadamente sua questão. É muito útil, quando possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação. A crítica realizada na citação da questão diz respeito à indústria cultural que fez com que a arte séria e avançada se tornasse também refém da indústria do consumo. Nesse sentido, o que representaria a verdadeira música, a arte desinteressada, para que pudesse sobreviver, teve que ceder à lógica do mercado, tornando-se também dependente do consumo. A favor: Acredito, acompanhando o raciocínio de Adorno, que a arte não deve ceder à lógica do mercado. Infelizmente, a massa é controlada pelos modismos e, muitas vezes, é desprovida de senso crítico para distinguir o que é verdadeira arte do que é lixo comercial. Dessa forma, não se pode falar de gosto popular, uma vez que quem determina tal gosto é a própria indústria cultural, que o controla de acordo com interesses econômicos. Os pensadores da Escola de Frankfurt se referiam a esse modismo como manifestação somente da alienação do homem, sendo que a massa não sabe nem sequer do que gosta ou do que não gosta, já que suas preferências são determinadas por aqueles que detêm o poder. Contra: Discordo de Adorno, uma vez que o filósofo demonstra um preconceito próprio dos intelectuais, que acreditam poder determinar o que é certo ou errado, mesmo no campo da arte. Se a massa gosta e se aproxima de músicas e de manifestações artísticas não eruditas, é porque se identifica com tais manifestações. Sendo a arte a manifestação dos sentimentos mais profundos e espontâneos dos homens, não há de se falar em arte boa ou arte ruim. Cada indivíduo se aproxima e consome aquela arte com a qual se identifica e que representa seu estado de espírito e situação social. Não há de se permitir que a arte seja também burocratizada. 03. Na citação da questão, Adorno faz referência à cultura de massa, produto da indústria cultural que submete o gosto do homem à lógica do mercado presente nos meios de comunicação. Frente A Módulo 16 31Editora Bernoulli FI LO SO FI A Para o filósofo, essa cultura de massa não está preocupada com o ideal de libertação do homem ou com sua melhoria por meio das manifestações culturais, pelo contrário, a cultura de massa leva a uma alienação cada vez maior do homem, que consome um tipo de cultura construída na ideologia e que escraviza o espírito ao capitalismo e àquilo que o mercado quer vender. Apesar dessa situação, Adorno acredita que é possível haver uma libertação da humanidade que, vendo-se aprisionada, pode vir a se libertar de tal cativeiro, buscando alternativas para se ver fora da cultura de massa e da ideologia que a permeia. 04. A Ciência, conforme demonstrado na charge, é utilizada como meio de crescimento econômico. Sua utilidade, nesse sentido, seria produzir objetos e conhecimentos que tenham como objetivo último o retorno financeiro daqueles que dela se aproveitam e a desenvolvem. Segundo Horkheimer, a razão, em sua origem, não deveria se guiar por tais princípios, devendo ser utilizada como meio de desenvolvimento do próprio homem e de construção de uma vida melhor. A Ciência que visa somente ao lucro é criticada pelo filósofo, uma vez que ela atende não ao bem social, mas tão-somente aos interesses de grupos econômicos que a financiam e dela esperam retorno. 05. Habermas propõe um modelo ideal de ação comunicativa em que as pessoas possam interagir por meio da utilização da linguagem, podendo, como consequência, organizar-se socialmente, buscando o consenso de uma forma livre de toda coação externa e interna. O processo de comunicação que visa ao entendimento mútuo está na base de toda a interação, pois somente uma argumentação em forma de discurso permite o acordo de indivíduos quanto à validade das proposições ou à legitimidade das normas. Por outro lado, o discurso pressupõe a interação, isto é, a participação de atores que se comunicam livremente e em situação de simetria, permitindo que as igualdades nos instrumentos do discurso se reflitam na igualdade entre os homens e na legitimidade das conclusões. 06. Habermas, em sua filosofia, buscou superar o pessimismo dos fundadores da Escola de Frankfurt, Adorno e Horkheimer, que viam na razão instrumental uma perversão do ideal de razão iluminista. Para eles, essa razão, em vez de buscar a emancipação do homem, passou a ter como objetivo tão-somente dominar a natureza com fins práticos e de acordo com os interesses econômicos. Com a finalidade de recuperar o potencial emancipatório da razão, Habermas adotou o paradigma comunicacional, acreditando que este poderia superar as aspirações ideológicas da razão instrumental e levar o homem novamente à libertação da ignorância e das ideologias. Desse modo, Habermas busca compreender a razão comunicativa como a maneira de restabelecer a comunicação livre, racional e crítica entre os homens e as sociedades, buscando elaborar novas premissas e valores morais que servissem a todos e que fossem legítimos pela participação de todos no exercício do diálogo. 07. O id, segundo a filosofia freudiana, é o reservatório primitivo da energia psíquica. Seu conteúdo é inconsciente, sendo algumas de suas ideias inatas e outras recalcadas pelo superego. É no id que se encontra a busca incessante pelo prazer em todas as circunstâncias da vida humana, ou seja, é nele que está a energia vital que faz o homem encontrar, ou pelo menos buscar, o prazer em suas atividades, como também rejeitar a dor potencial nos acontecimentos de sua vida. Segundo Freud, o id faz parte daquilo mais natural que o homem tem e busca, nele se encontrando o desejo sexual, através do qual todas as coisas deveriam possuir sentido para o homem individual. 08. De acordo com Freud, as experiências humanas, principalmenteas mais dolorosas, temíveis e vergonhosas, são depositadas no inconsciente, que é constituído, também, por tudo aquilo que fez com que o homem, em alguma situação, tivesse experiências traumáticas ou dolorosas. No inconsciente, tais experiências e ideias são guardadas, mas não esquecidas. De alguma forma, elas se manifestam ao longo da vida do sujeito, seja através de atitudes, falas, comportamentos sociais ou doenças psíquicas. Por isso, o que se pensa que passou, na realidade, não passou. Portanto, de acordo com a posição freudiana, o dito popular corresponde tão-somente ao senso comum e não pode ser aplicado à vida psíquica humana. Seção Enem 01. E. A Escola de Frankfurt e o Pós-Modernismo 2 Coleção Estudo Su m ár io - F ilo so fia Frente A 17 3 Núcleos Temáticos Autor: Richard Garcia Amorim 64 Coleção Estudo A arte, sendo manifestação dos sentimentos humanos, também se altera à medida que os homens progridem na História, acompanhando a evolução espiritual do homem, que tende sempre à melhoria. Se a capacidade de julgamento estético é algo subjetivo, essa capacidade tem em si uma parcialidade, uma vez que ela é construída a partir do momento histórico e dos valores vigentes naquele momento. Cultura de massa e indústria cultural Theodor Adorno e Max Horkheimer, na obra Dialética do esclarecimento, cunharam o conceito de indústria cultural, muito relevante para a Filosofia da arte. Com o fim das amarras religiosas, acreditou-se, por um momento, que as artes seriam democratizadas, dando a todos os homens a possibilidade de se aproximarem das obras de arte e de usufruírem-nas. Acreditava-se que a beleza da arte faria dos homens seres melhores. Porém, o que se verificou foi uma inversão dos rumos da arte, que se massificou em produtos que servem ao entretenimento superficial e à diversão irreflexiva dos homens em seus momentos de ócio. Assim, a arte, sendo libertada no período renascentista das amarras da religião e da ideologia, se tornou refém de uma nova forma de escravidão, o capitalismo. Com isso, as artes, ao invés de libertarem o homem e o levarem a um patamar espiritual mais elevado, o submetem à lógica do mercado, fazendo da arte mero produto de consumo, de forma que aquilo que deveria servir ao homem como instrumento de libertação, o faz refém do mercado e da indústria cultural. Nesse sentido, Adorno afirma que a indústria cultural opera como uma poderosa máquina em favor do mercado. A sociedade tecnológica contemporânea utiliza a mídia (cinema, televisão, rádio, música, publicidade, etc.), incluindo a Internet (apesar de esta não existir na época de Adorno), como mecanismos de dominação por meio da divulgação das ideologias de consumo que levariam à ‘felicidade’ própria dos dominadores, convertendo em necessidade aquilo que é supérfluo. A classe dominadora utiliza a mídia para impor modelos que se conformam com seus interesses. Essa imposição de modelos de comportamento, consumo e valores não acrescenta nada à racionalidade dos dominados, impedindo o desenvolvimento do senso crítico dos indivíduos levando-os à aceitação e passividade diante daquilo que lhes é imposto, gerando indivíduos alienados culturalmente, que fazem uso do divertimento não como forma de crescimento e expressão da criatividade, mas apenas como absorção passiva de determinados padrões de comportamento. A cultura de massas O advento de novas formas de comunicação influenciou a cultura de massa, que cresceu tanto que absorveu grande parte da cultura anterior a ela. O ponto central da ideia de cultura de massa, é a submissão implícita de padrões homogêneos de comportamento e de consumo relacionados diretamente ao poder econômico do capital industrial e financeiro. Devido à excessiva divulgação da cultura de massa, a cultura alternativa sofreu grande depreciação. Como consequência desse fato, as formas e valores apreciados pela população tornaram-se quase exclusivamente os valores compartilhados pela massa. Segundo Adorno, a indústria cultural ignora as contradições existentes na sociedade, que são absorvidas pela cultura de massa. Com essa absorção, desaparece a necessidade de combater ideias ou valores que representem ameaças ao bom andamento da indústria cultural. EXERCÍCIOS PROPOSTOS 1. Antropologia 1.1 Natureza, cultura e linguagem 01. Leia o trecho a seguir: Aqui se vive de carne humana; lá é dever de piedade matar o pai em uma certa idade; alhures os pais determinam, das crianças ainda no ventre das mães, quais eles querem que sejam conservadas e criadas e quais querem que sejam abandonadas e mortas; alhures os maridos velhos emprestam as mulheres aos jovens para que se sirvam delas [...]. Além disso, o costume não fez uma república só de mulheres? Não lhes colocou armas nas mãos? [...] em que crianças de sete anos suportavam ser açoitadas até a morte, sem mudar de expressão? [...] Em suma, na minha opinião não há coisa alguma que ele (o costume) não faça ou não possa; e, com razão, Píndaro, pelo que me disseram, chama-o de rei e imperador do mundo (nómos basileus). [...] Na verdade, porque ingerimos o costume com o leite do nosso nascimento [...] parece que nascemos para seguir este procedimento. MONTAIGNE. Ensaios I, 23. A partir da leitura do trecho do filósofo Montaigne, REDIJA um texto posicionando-se argumentativamente a favor de ou contra a ideia de que todos os atos humanos são justificáveis a partir de sua cultura. Frente A Módulo 17 65Editora Bernoulli FI LO SO FI A 02. Não é mais natural ou menos convencional gritar quando se tem raiva ou beijar quando se sente amor do que chamar uma mesa de “mesa”. Os sentimentos e as condutas passionais são tão inventadas quanto as palavras. Mesmo aqueles comportamentos que, como a paternidade, parecem inscritos no corpo humano são, na realidade, instituições. É impossível sobrepor no homem uma primeira camada de comportamentos que chamaríamos de “naturais” e um mundo cultural ou espiritual fabricado. Tudo é fabricado e tudo é natural no homem, assim como diríamos, nesse sentido, que não há uma só palavra, uma só conduta que não deva algo ao ser simplesmente biológico, e que, ao mesmo tempo, não escape da simplicidade da vida animal [...]. Os comportamentos criam significações que transcendem o dispositivo anatômico, mas que, no entanto, são imanentes ao comportamento enquanto tal, uma vez que ele é aprendido e compreendido. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção, p. 220-221. De acordo com o trecho anterior, REDIJA um texto justificando a seguinte proposição: “Tudo é fabricado e tudo é natural no homem”. 03. [...] esses povos que consideramos estarem totalmente dominados pela necessidade de não morrerem de fome, de se manterem num nível mínimo de subsistência, em condições materiais muito duras, são perfeitamente capazes de pensamento desinteressado; ou seja, são movidos por uma necessidade ou um desejo de compreender o mundo que os envolve, a sua natureza e a sociedade em que vivem. Por outro lado, para atingirem este objetivo, agem por meios intelectuais, exatamente como faz um filósofo ou até, em certa medida, como pode fazer e fará um cientista. Esta é minha hipótese de base. LÉVI-STRAUSS. Mito e significado, p. 30-31. IDENTIFIQUE a temática filosófica expressa no texto anterior e, em seguida, REDIJA um parágrafo estabelecendo uma relação entre necessidade material e pensamento filosófico. 1.2 Corpo e mente 04. REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre a reprodução do quadro Painted Plaster Mask de René Magritte e o problema filosófico da relação corpo e alma. 05. Sócrates: Admitamos, portanto, que há duas espécies de seres: uma visível, outra invisível. Cebes: Admitamos. Sócrates: Admitamos, ainda, que os invisíveis conservam sempre sua identidade, enquanto que com osvisíveis tal não se dá. Cebes: Admitamos também isso. Sócrates: Bem, prossigamos. Não é verdade que nós somos constituídos de duas coisas, uma das quais é o corpo e a outra a alma? Cebes: Nada mais verdadeiro. Sócrates: Com qual destas duas espécies de seres podemos dizer, pois, que o corpo tem mais semelhança e parentesco? Cebes: Eis uma coisa que é clara para toda gente: com a espécie visível. Sócrates: Por outro lado, o que é a alma? Coisa visível ou invisível? Cebes: Não é visível, ao menos aos homens, Sócrates! [...] Sócrates: Logo, a alma tem com a espécie invisível mais semelhança do que com o corpo, mas este tem, com a espécie visível, mais semelhança do que a alma? Cebes: Necessariamente, Sócrates. Sócrates: Não dizíamos, ainda, há pouco, que a alma utiliza às vezes o corpo para observar alguma coisa por intermédio da vista, ou do ouvido, ou de outro sentido? Assim, o corpo é um instrumento, quando é por intermédio de algum sentido que se faz o exame da coisa. Então a alma, dizíamos, é arrastada pelo corpo na direção daquilo que jamais guarda a mesma forma, ela mesma se torna inconstante, agitada, e titubeia como se estivesse embriagada: isso, por estar em contato com coisas deste gênero. Cebes: Realmente. Sócrates: Mas, quando, pelo contrário, ela examina as coisas por si mesmas, quando se lança na direção do que é puro, do que sempre existe, do que nunca morre, do que se comporta sempre do mesmo modo [...] – ela cessa de vaguear e, na vizinhança dos seres de que falamos, passa ela também a conservar sua identidade e seu mesmo modo de ser: é que está em contato com coisas daquele gênero. Ora, este estado da alma, não é o que chamamos pensamento? Cebes: Muito bem dito, Sócrates, e muito verdadeiro. [...] Sócrates: Tomemos agora outro ponto de vista. Quanto estão juntos a alma e o corpo, a este a natureza consigna servidão e obediência, e à primeira comando e senhorio. Sob este novo aspecto, qual dos dois, no teu modo de pensar, se assemelha ao que é divino, e qual o que se assemelha ao que é mortal? [...] Núcleos Temáticos 66 Coleção Estudo Cebes: Nada mais claro, Sócrates. A alma, com o divino, o corpo, com o mortal. Sócrates: Bem, examina agora, Cebes, se tudo o que foi dito nos conduz efetivamente às seguintes conclusões: a alma se assemelha ao que é divino, imortal, dotado da capacidade de pensar, ao que tem uma forma única, ao que é indissolúvel e possui sempre do mesmo modo a identidade: o corpo, pelo contrário, equipara-se ao que é humano, mortal, multiforme, desprovido de inteligência, ao que está sujeito a decompor-se, ao que jamais permanece idêntico. Contra isto, meu caro Cebes, estaremos em condições de opor uma outra concepção, e provar que as coisas não se passam assim? Cebes: Não, Sócrates. Sócrates: Que se segue daí? Uma vez que as coisas são assim, não é acaso uma pronta dissolução o que convém ao corpo, e à alma, ao contrário, uma absoluta indissolubilidade, ou pelo menos qualquer estado que disso se aproxime? PLATÃO. Fédon 79a-80b. Tradução de Jorge Paleikat e João Cruz Costa. (Os Pensadores). A partir da citação anterior e de seus conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto explicando a posição de Sócrates em relação à constituição do homem e, em seguida, ARGUMENTE a favor de ou contra a posição do filósofo. 06. Que seria necessário a Canus Julius, a Sêneca ou a Petrônio para mudar sua intrepidez em covardia ou fraqueza? Uma obstrução no baço, no fígado ou na veia porta. Por quê? Porque a imaginação se obstrui junto com as vísceras e daí nascem todos os fenômenos singulares de afecção histérica e hipocondríaca. [...] Sem os alimentos, a alma enlanguesce, entra em furor e morre abatida. [...] Mas alimente o corpo, verta em seus tubos sucos vigorosos, líquidos fortes: então a alma, vigorosa como eles, se arma de coragem. [...] A bela alma e a potente vontade só podem agir enquanto as disposições do corpo lhes, e seus gostos mudam com a idade e a febre! Devemos então nos admirar se os filósofos sempre tiveram em vista a saúde do corpo, para preservar a saúde da alma? Com efeito, se o que pensa em meu cérebro não é uma parte desta víscera, e logo do corpo, por que, quando tranqüilo em meu leito eu concebo o plano de uma obra, ou sigo um raciocínio abstrato, meu sangue se aquece? Por que a febre de meu espírito se passa para minhas veias? LA METTRIE, J. O. L’homme machine. Éditions Bossard, 1921. IDENTIFIQUE e CARACTERIZE, no que diz respeito à relação entre corpo e alma, a posição filosófica expressa no trecho anterior. 2. Ética e política 2.1 Valores e normas 07. País tem 39 mil adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, nascidos geralmente em bairros da periferia. [...] São jovens pobres da periferia de São Paulo, de bairros onde drogas, armas e mortes violentas são parte do cotidiano desde a infância. Têm em comum o passado de envolvimento com o crime – para eles, o único caminho para dinheiro, visibilidade, status, inclusão em um grupo. Como traficantes e assaltantes, tiveram tudo isso. Mas, quando surgiu a chance, decidiram mudar de vida. Um chegou à universidade e hoje sustenta casa [...]. CARRANCA, Adriana. País tem 39 mil adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, nascidos geralmente em bairros da periferia. O Estado de S. Paulo. São Paulo, 11 jun. 2006. A partir da leitura do texto, REDIJA um texto respondendo à seguinte questão: somos realmente livres? 08. O fato mais marcante da vida humana é que temos valores. Pensamos em modos pelos quais as coisas poderiam ser melhores e mais perfeitas e, portanto, diferentes do que são e também em modos como nós mesmos poderíamos ser melhores, e, portanto, diferentes do que somos. Por que é assim? De onde tiramos estas idéias que vão além do mundo que experimentamos e parecem colocá-lo em questão, julgando-o, dizendo que ele não é satisfatório, que ele não é o que deveria ser? KORSGAARD, Christine. The Sources of normativity. Tradução de Telma Birchal. Cambridge University Press, 1996. p. 1. REDIJA um texto explicando o que são os valores e a sua importância para a vida e a felicidade humanas. 09. Neste mundo, e até também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade. Discernimento, argúcia de espírito, capacidade de julgar e como quer que possamos chamar os talentos do espírito, ou ainda coragem, decisão, constância de propósito, como qualidades do temperamento, são sem dúvida a muitos respeitos coisas boas e desejáveis; mas também podem tornar-se extremamente prejudiciais se a vontade, que haja de fazer uso destes dons naturais e cuja constituição particular por isso se chama caráter, não for boa. O mesmo acontece com os dons da fortuna. Poder, riqueza, honra, fortuna, mesmo a saúde, e todo o bem-estar e contentamento com a sua sorte, sob o nome felicidade, dão ânimo que muitas vezes por isto mesmo desanda em soberba, se não existir também a boa vontade que corrija a sua influência sobre a alma [...]. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. São Paulo: Abril Cultural, 1974. Primeira Seção. REDIJA um texto explicando o que Kant chama de “boa vontade” e qual o papel dela na construção da felicidade humana. Frente A Módulo 17 67Editora Bernoulli FI LO SO FI A 2.2 Liberdade e determinismo 10. A grandeza e o milagre do homem estão no fato de ele ser o artífice de si mesmo, autoconstrutor. Pico della Mirandola A partir dessa citação, REDIJA um texto problematizando a relação entre liberdade e determinismo. 11. Os homens se consideram livres porque são conscientes das suas ações e ignorantes das causas pelas quais são determinados; e além disso que as decisões da alma nada mais são que os próprios apetites, e,por conseguinte, variam segundo as variáveis disposições do corpo. ESPINOSA. Ética. Livro 3, escólio da proposição 2. Tradução de Joaquim Ferreira Gomes. São Paulo: Abril Cultural, 1974. REDIJA um texto explicando a ideia de Espinosa presente no fragmento anterior e, em seguida, ARGUMENTE a favor de ou contra essa ideia. 12. O que é então a liberdade? Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do mundo. O mundo está já constituído, mas também não está nunca completamente constituído. Sob o primeiro aspecto, somos solicitados, sob o segundo somos abertos a uma infinidade de possíveis. Mas esta análise ainda é abstrata, pois existimos sob os dois aspectos ao mesmo tempo. Portanto, nunca há determinismo e nunca há escolha absoluta, nunca sou coisa e nunca sou consciência nua. [...] A generalidade do “pape”’ e da situação vem em auxílio da decisão e, nesta troca entre a situação e aquele que a assume, é impossível delimitar a “parte da situação” e a “parte da liberdade”. [...] Sou uma estrutura psicológica e histórica. Com a existência, recebi uma maneira de existir, um estilo. Todos os meus pensamentos e minhas ações estão em relação com esta estrutura. [...] E, todavia, sou livre, não a despeito ou aquém dessas motivações, mas por seu meio. MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 608-611. REDIJA um texto explicando a questão proposta por Merleau-Ponty de que “Nascer é ao mesmo tempo nascer no mundo e nascer do mundo”. 2.3 Poder e conflito 13. O poder não necessita de justificação, sendo inerente à própria existência de comunidades políticas; o que realmente necessita é legitimidade. O emprego das duas palavras como sinônimos é tão enganoso e confuso quanto a comum identificação entre obediência e apoio. O poder brota onde quer que as pessoas se unam e atuem de comum acordo, mas obtém sua legitimidade mais do ato inicial de unir-se do que de outras ações que se possam seguir. ARENDT, Hannah. Da violência. Tradução de José Volkmann. REDIJA um texto identificando a temática central do trecho anterior e explicando a importância da legitimidade para as democracias modernas. 14. Resta agora ver como o príncipe deve tratar seus súditos e seus amigos. Como sei que muitos escreveram sobre isso, temo, escrevendo eu também, ser considerado presunçoso, porque eu me distancio, sobretudo na discussão dessa questão, do caminho seguido pelos outros. Mas minha intenção sendo a de escrever alguma coisa útil para meus leitores, pareceu-me mais pertinente me conformar com a verdade efetiva das coisas do que à imaginação que delas temos. Muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca existiram. De fato, há uma tal distância entre a maneira como vivemos e aquela como deveríamos viver, que aquele que deixa o que se faz pelo que se deveria fazer, aprende muito mais a se destruir do que a se preservar. MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Cap. XV. REDIJA um texto explicando a problemática levantada por Maquiavel no texto anterior e qual a solução do pensador florentino para essa questão. 15. A legitimidade do poder funda-se sobre o povo; mas à imagem da soberania popular se junta a de um lugar vazio, impossível de ser ocupado, de tal modo que os que exercem a autoridade pública não poderiam pretender apropriar-se dela. A democracia alia estes dois princípios aparentemente contraditórios: um, que o poder emana do povo; outro que esse poder não é de ninguém. Ora, ela vive dessa contradição. Por pouco que esta se arrisque a ser resolvida ou o seja, eis a democracia prestes a se desfazer ou já destruída. Se o lugar do poder aparece, não mais como simbolicamente mas realmente vazio, então os que o exercem não são mais percebidos senão como indivíduos quaisquer, como compondo uma facção a serviço de interesses privados e, simultaneamente, a legitimidade sucumbe em toda a extensão do social; a privatização dos agrupamentos, dos indivíduos, de cada setor de atividade aumenta: cada um quer fazer prevalecer seu interesse individual ou corporativo. LEFORT, Claude. A invenção democrática. Tradução de Isabel Marva Loureiro. A partir da leitura do texto anterior, REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre poder e democracia. 2.4 Indivíduo e comunidade 16. – E o homem justo não será então em nada diferente da cidade justa, no que respeita à noção de justiça, mas será semelhante a ela? – Semelhante, disse ele.– Mas uma cidade justa pareceria ser precisamente justa quando os três grupos naturais presentes nela exercessem cada um sua tarefa própria e ela nos pareceria moderada, ou ainda corajosa e sábia, em razão das afecções e disposições particulares desses mesmos grupos. Núcleos Temáticos 68 Coleção Estudo – É verdade, disse ele. – Logo, meu amigo, entendemos que o indivíduo, que tiver na sua alma estas mesmas classes, merece bem, devido a estas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes [os das virtudes referidas acima: moderação, coragem e sabedoria] que a cidade. – É absolutamente forçoso, disse ele. PLATÃO. República, 435 b- c. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001. p. 189. REDIJA um texto identificando a questão filosófica expressa no trecho anterior e, em seguida, EXPLIQUE a posição de Platão em relação a ela. 17. Assim alguém domina o outro como livre, quando o dirige, para o próprio bem daquele que é dirigido, ou para o bem comum. E haveria tal domínio do homem sobre o homem no estado de inocência [ou seja, o estado anterior ao pecado original] por dois motivos. Primeiro, porque o homem é naturalmente um animal social: portanto, os homens vivem socialmente no estado de inocência. Não poderia haver uma vida social de muitos a não ser que alguém presidisse, tendo a intenção do bem comum [...] Segundo, porque se o homem ultrapassasse outro em conhecimento e justiça, isso seria inconveniente a não ser que esses dons conduzissem ao benefício dos outros. TOMÁS DE AQUINO, São. Suma teológica, Parte I, Questão 96, artigo 4. São Paulo: Loyola, 2002. p. 668-669. A partir do trecho anterior, REDIJA um texto explicando a necessidade, segundo Tomás de Aquino, de um poder soberano. Em seguida, posicione-se argumentativamente sobre a questão. 18. A sociedade pode executar, e executa, seus próprios mandatos; e se expede mandatos equivocados no lugar dos corretos, ou quaisquer mandatos a respeito de coisas nas quais não deveria interferir, pratica uma tirania social mais terrível do que muitas espécies de opressão política, uma vez que [...] penetra mais profundamente nos detalhes da vida, escraviza a própria alma, deixando poucas vias de fuga. Não basta, portanto, a proteção contra a tirania do magistrado; é necessária também a proteção contra a tirania da opinião e do sentimento dominantes, contra a tendência da sociedade a impor, por outros meios além da penalidade civil, as próprias idéias e práticas como regras de conduta aos que dela dissentem; aguilhoar o desenvolvimento e, se possível, a impedir a formação de qualquer individualidade que não esteja em harmonia com seus costumes, e a compelir a todos os tipos humanos a se conformar a seu próprio modelo. MILL, John Stuart. Da liberdade. Tradução de Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 10-11. REDIJA um texto identificando o problema filosófico apontado por John Stuart Mill e responda por que, na concepção do autor, é necessário uma “proteção contra a tirania da sociedade”. 3. Lógica e teoria do conhecimento 3.1 Verdade e validade 19. Verifique a validade dos argumentos a seguir: A) Todo A é B. C é A. Logo, C é B. B) Todo A é B. C é B. Logo, C é A. C) Todo mineiro é brasileiro. Aécio Neves é mineiro. Logo, Aécio Neves é brasileiro. D) Todo mineiro é corintiano. Zidane é mineiro. Logo, Zidane é corintiano.E) Todo mineiro é brasileiro. Zico é mineiro. Logo, Zico é brasileiro. F) Todo mineiro é brasileiro. Aécio Neves é brasileiro. Logo, Aécio Neves é mineiro. G) Todo corintiano é paulista. Lula é paulista. Logo, Lula é corintiano. H) Todo mineiro é brasileiro. Lula é brasileiro. Logo, Lula é mineiro. I) Todo A é B. Todo B é C. Logo, todo A é C. J) Algum A é B. Todo B é C. Logo, algum A é C. K) Algum A é B. Algum B é C. Logo, algum A é C. L) Todo A é B. Algum B é C. Logo, algum A é C. M) Algum flamenguista é mineiro. Todo mineiro é brasileiro. Logo, algum flamenguista é brasileiro. Frente A Módulo 17 69Editora Bernoulli FI LO SO FI A N) Nenhum grego é filósofo. Nenhum filósofo é imortal. Logo, nenhum grego é imortal. O) Todos os filósofos são bons matemáticos. Alguns filósofos são gregos. Logo, alguns bons matemáticos são gregos. P) Todo filósofo é bom matemático. Alguns bons matemáticos são gregos. Logo, alguns filósofos são gregos. 20. CLASSIFIQUE os argumentos como dedutivos e indutivos. A) A grande maioria dos entrevistados declarou que não votará no candidato da oposição. Logo, a oposição não irá ganhar as eleições. B) Os países subdesenvolvidos se caracterizam principalmente por: insuficiência alimentar, baixa renda per capita e estrutura sanitária deficiente. O Brasil apresenta essas características. Logo, é o Brasil um país subdesenvolvido. C) Todo aborto é um assassinato. Todo assassinato deve ser condenado. Logo, todo aborto deve ser condenado. D) Na África Negra, 76% da mão de obra estão voltados para a agricultura. O mesmo ocorre com 55% da mão de obra da América do Sul e com 62% da América Central. Por conseguinte, os países subdesenvolvidos se caracterizam pela grande proporção da população empregada na agricultura. E) João tem direito à concordata porque é comerciante, e todos os comerciantes têm direito à concordata. F) Todas as esmeraldas até agora observadas são verdes. Logo, toda esmeralda é verde. G) Todas as esmeraldas até agora observadas são verdes. Logo, a próxima esmeralda observada será verde. H) Este paciente deve ter AIDS, não apenas porque apresenta alguns sintomas da doença, mas também porque admitiu que teve relações sexuais com uma pessoa contaminada. I) Ou uma obra é religiosa, ou é científica, sendo que é impossível que uma obra seja simultaneamente religiosa e científica. A Bíblia é uma obra religiosa. Logo, não é uma obra científica. J) A Organização Mundial de Saúde anunciou que a circuncisão deverá ser incluída nos programas de prevenção à infecção pelo HIV, sobretudo em países africanos. Estudos recentes revelaram que a intervenção para a retirada do prepúcio reduz em até 60% o risco de contrair Aids. Os três grandes estudos sobre o tema – realizados na África do Sul, Uganda e Quênia – foram interrompidos antes do tempo previsto devido à queda dramática dos índices de infecção. Segundo o comunicado, o acesso ao procedimento na África deve ser ampliado com urgência. (O Globo 09 mar. 2007) 21. AVALIE se o argumento utilizado no texto a seguir é válido. JUSTIFIQUE sua resposta. As mulheres e os homens são física e emocionalmente diferentes. Estatisticamente, constata-se que as mulheres são melhores com as palavras, mas os homens as superam no raciocínio matemático e espacial. O fato é que os sexos não são iguais. Ora, daí se segue que mulheres e homens não devem ter os mesmos direitos e oportunidades perante a lei. WESTON, A. A arte de argumentar, p. 29 (Adaptação). 3.2 Tipos de conhecimento 22. A experiência negativa pode dar-se num comportamento de passividade existencial, na qual o sentido da realidade se esvai como que a despeito do homem, independentemente de seu querer: ele sofre a perda do mundo. Verifica-se uma espécie de passio (submissão), na qual o indivíduo torna- se apático e até mesmo abúlico (sem vontade) com uma intensidade maior ou menor. Todo o comportamento do homem tende a perder a sua razão de ser, e a sua atividade torna-se absurda na medida em que a realidade perde sentido. [...] Se através da experiência negativa se verifica uma perda do mundo, esta mesma experiência possibilita a abertura do horizonte para uma reconquista do mundo. Tal reconquista, por sua vez, só é possível na medida em que se ultrapassar a experiência da negatividade. [...] Se isto assim é, podemos compreender o comportamento inicial do filosofar dentro de uma perspectiva dialética. Sua primeira etapa consistiria na afirmação dogmática da realidade; em um segundo momento, encontramos a negação da afirmação primeira, retraindo-se o homem pela experiência negativa; e, finalmente, o processo de negação da negação, isto é, a mudança reafirmadora da realidade. [...] Dentro dessa problemática, o paradoxo da situação humana reside no fato de que o homem, para poder entrar realmente no mundo, precisa primeiro sair dele. BORNHEIM, Gerd. Introdução ao filosofar. Tendo como base o texto anterior, REDIJA um texto explicando a atividade filosófica como atividade dialética. 23. Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer: uma prova disso é o prazer das sensações, pois, fora até da sua utilidade, elas nos agradam por si mesmas e, mais que todas as outras, as visuais. Com efeito, não só para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, preferimos, por assim dizer, a vista às demais. A razão é que ela é, de todos os sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos descobre. [...] Os outros [animais] vivem, portanto, de imagens e recordações, e de experiência pouco possuem. Mas a espécie humana [vive] também de técnica e de raciocínios. Núcleos Temáticos 70 Coleção Estudo É da memória que deriva aos homens a experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito duma única experiência, e a experiência quase se parece com a ciência e a técnica. Na realidade, porém, a ciência e a técnica vêm aos homens por intermédio da experiência, porque a experiência, como afirma Pólos, e bem, criou a técnica, e a inexperiência, o acaso. E a técnica aparece quando, de um complexo de noções experimentadas, se exprime um único juízo universal dos [casos] semelhantes. Com efeito, ter a noção de que a Cálias, atingido de tal doença, tal remédio deu alívio, e a Sócrates também, e, da mesma maneira, a outros tomados singularmente, é [próprio] da experiência; mas julgar que tenha aliviado a todos os semelhantes, determinados segundo uma única espécie, atingidos de tal doença, como os fleumáticos, os biliosos ou os incomodados por febre ardente, isso é [próprio] da técnica. ARISTÓTELES. Metafísica A, I. REDIJA um texto identificando a corrente epistemológica expressa na citação anterior e explicando qual é a relação existente entre conhecimento científico e percepção sensível. 24. O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos.” (Galileu. Il Saggiatore / Experimentador, 1623). [...] Onde se encontram os caracteres matemáticos a que Galileu se refere? Podemos dizer com toda certeza: não é a observação que os oferece. De fato, não foi pela observação que a visão matemática da natureza surgiu. Ao contrário, foi da interioridade da razão que surgiu a suspeita de que, talvez, a matemática fosse a chave para decifrar o enigma e fazer a natureza falar. A natureza sentida e observada pelo corpo tem de ser colocada em segundo plano, como texto enigmático. O que este texto enigmático realmente diz deverá ser encontrado numa linguagem que só a razão conhece. E sob a imensa variedade da natureza, tal como percebida pelo corpo, a matemática nos revela uma paisagem lunar em que cores, sons, gostos, sensações táteis se vão, permitindo, entretanto, o aparecimento de leis eternas, objetivo da busca científica. Liquidado o corpo como meio para a compreensãoda natureza, impõe-se a razão matemática – sem sangue e sem corpo, é bem verdade – mas universal e eterna. ALVES, Rubens. Introdução à Filosofia da ciência. REDIJA um texto explicando a dicotomia apontada por Rubem Alves em seu texto. 3.3 A racionalidade científica 25. Verdade, a qualidade daquelas proposições que estão de acordo com a realidade, especificando aquilo de que realmente se trata. Enquanto o objetivo de uma ciência é o de descobrir mais das proposições que dentro do seu domínio são verdadeiras, isto é, quais proposições possuem a propriedade de verdade, a principal preocupação filosófica com a verdade é a de descobrir a natureza desta propriedade. Assim, a pergunta filosófica não é: o que é verdadeiro? mas, antes: o que é a verdade? O que está alguém dizendo a respeito de uma proposição ao dizer que ela é verdadeira? A importância desta questão tem sua origem na variedade e profundidade dos princípios nos quais o conceito de verdade está distribuído. Somos tentados a dizer, por exemplo, que verdade é o objetivo adequado e o resultado natural da investigação científica, que as crenças verdadeiras são úteis, que o sentido de uma sentença é dado pelas condições que a tornam verdadeira, e que o raciocínio válido preserva a verdade. AUDI, R. (org.) Dicionário de Filosofia de Cambridge. São Paulo: Paulus, 2006. p. 978. REDIJA um texto explicando a importância da verdade para a Filosofia. 26. Vamos agora considerar um mito do Canadá Ocidental, sobre uma raia que tentou controlar ou dominar o Vento Sul e que teve êxito na empresa. Trata-se de uma história de uma época anterior à existência do homem na Terra, ou seja, de um tempo em que os homens não se diferenciavam de fato dos animais; os seres eram meio humanos e meio animais. Todos se sentiam muito incomodados com o vento, porque os ventos, especialmente os ventos maus, sopravam o tempo todo, impedindo que eles pescassem ou que procurassem conchas com moluscos na praia. Portanto, decidiram que tinham de lutar contra os ventos, obrigando-os a comportarem-se mais decentemente. Houve uma expedição em que participaram vários animais humanizados ou humanos animalizados, incluindo a raia, que desempenhou um papel importante na captura do Vento Sul. Este só foi libertado depois de prometer que não voltaria a soprar constantemente, mas só de vez em quando, ou só em determinados períodos. Desde então, o Vento Sul só sopra em certos períodos do ano ou, então, uma única vez em cada dois dias; durante o resto do tempo, a humanidade pode dedicar-se às suas atividades. LÉVI-STRAUSS, Claude. Mito e significado. Tradução de A. M. Bessa. Lisboa: Edições 70, 2000, p. 35-36. A partir do texto anterior e de outros conhecimentos sobre o assunto, REDIJA um texto relacionando mito e natureza. Frente A Módulo 17 71Editora Bernoulli FI LO SO FI A 27. Texto I Primeiro de ouro a raça dos homens mortais criaram os imortais, que mantêm olímpias moradas. Eram do tempo de Cronos, quando no céu este reinava como deuses viviam, tendo despreocupado coração, apartados, longe de penas e misérias; nem temível velhice lhes pesava, sempre iguais nos pés e nas mãos alegravam-se em festins, os males todos afastados, morriam como por sono tomados; todos os bens eram para eles: espontânea a terra nutriz fruto trazia abundante e generoso e eles, contentes, tranqüilos nutriam-se de seus pródigos bens. HESÍODO. Os trabalhos e os dias. Tradução de Mary Lafer. São Paulo: Iluminuras, 1990. Texto II Por que todos os homens que foram excepcionais no que concerne à Filosofia, à Política, à poesia ou às artes aparecem como seres melancólicos, ao ponto de serem tomados pelas enfermidades oriundas da bílis negra – como o que se diz de Hércules nos [mitos] heróicos? Pois este parecia ser desta natureza, e é por este motivo que os antigos designaram de doença sagrada as enfermidades dos epilépticos. A ékstasis (estar fora de si mesmo) para / com seus filhos e a eclosão de úlceras antes da [sua] desaparição no Oeta tornam isto evidente; pois isto ocorre aos muitos [acometidos] pela bílis negra. Também aconteceu de estas úlceras acometerem Lisandro, o lacedemônio, antes de sua morte. Ainda há [os mitos] a respeito de Ájax e Bellerofonte: dos quais um tornou-se completamente ekstátikos (fora de si mesmo), enquanto o outro buscava lugares ermos, por isto Homero compôs assim: “Mas, depois que ele [Bellerofonte] tornou-se odiado por todos os deuses, vagou sozinho pela plana Aleia, roendo seu coração e alijando o caminho dos homens”. E, dentre os heróis, muitos outros parecem sofrer a mesma patologia que esses. Entre os mais recentes, Empédocles, Platão e Sócrates e muitos outros dentre os ilustres. E, ainda, a maior parte dos que se ocupam da poesia. Para muitos destes, estas enfermidades surgem de uma determinada mistura no corpo; para outros, sua natureza inclina-se visivelmente para estas doenças. Todos são, então, para falar simples, tal qual sua natureza, conforme foi dito. Quem começar o exame [desta questão] deve tomar primeiramente a causa a partir de um exemplo já disponível. Pois o vinho excessivo parece realmente dispor [as pessoas] tais quais dizemos serem os melancólicos e aquele que [o] bebe [parece] desenvolver muitos problemas como, por exemplo, os irascíveis, filantropos, piedosos, audaciosos; mas não [aquele que bebe] o mel, nem o leite, nem a água, nem nada análogo. Pode-se ver que [o vinho] torna [as pessoas] completamente diferentes, observando que ele muda gradualmente os que o bebem [...]. ARISTÓTELES. Problema XXX. A partir da leitura dos trechos anteriores e de acordo com outros conhecimentos, REDIJA um parágrafo caracterizando os modos de conhecer expostos em cada um dos textos. 4. Estética e filosofia da arte 4.1 Experiência estética e cultura de massa 28. O primeiro desenho nas paredes das cavernas fundava uma tradição porque recolhia uma outra: a da percepção. A quase eternidade da arte confunde-se com a quase eternidade da existência humana encarnada, e, por isso, temos, no exercício de nosso corpo e de nossos sentidos, com que compreender nossa gesticulação cultural, que nos insere no tempo. MERLEAU-PONTY, Maurice. A linguagem indireta e as vozes do silêncio. REDIJA um texto explicando porque arte e humanidade são inseparáveis. 29. Criar é próprio do artista – onde não há criação, a arte não existe. Mas seria um engano atribuir esse poder criador a um dom inato. Em matéria de arte, o criador autêntico não é apenas um ser dotado, é uma pessoa que soube ordenar, tendo em vista o seu objetivo, todo um feixe de atividades de que a obra de arte é o resultado. É por isso que para o artista a criação começa na visão. Ver já é uma função criadora que exige um esforço. Tudo o que vemos na vida corrente sofre mais ou menos a deformação que os hábitos adquiridos provocam, e o fato é talvez mais sensível numa época como a nossa, em que o cinema, a publicidade e as revistas nos impõem diariamente uma quantidade de imagens já prontas, que são de certo modo, no âmbito da visão, o que é o preconceito no âmbito da inteligência. O esforço necessário para se libertar disso exige uma espécie de coragem; e essa coragem é indispensável ao artista, que deve ver todas as coisas como se as visse pela primeira vez: há que ver toda a vida como quando se era criança; e a perda dessa possibilidade impede-vos de vos exprimir de maneira original, isto é, pessoal. MATISSE, Henri. II faut regarder toute la vie avec dês yaeux d’enfants. A partir da leitura do texto e de outros conhecimentos, REDIJA um texto estabelecendo uma relação entre a atitude criadora do artista e a atitude filosófica. Núcleos Temáticos 72 Coleção Estudo 30. Texto I – Aí galera! Tô chegando Com a dança do quadrado! Pegue seu quadrado E quem pisarna linha Vai pagar prenda, hein? Vamos juntos! Cada um no seu quadrado! (8x) Eu disse ado-a-ado! Cada um no seu quadrado! Ado-a-ado! Cada um no seu quadrado! [...] Cowboy no seu quadrado! (4x) Matrix no seu quadrado! (4x) Robinho no seu quadrado! (4x) Eu disse ado-a-ado! Cada um no seu quadrado! Ado-a-ado! Cada um no seu quadrado! Dança bonito, Dança bonito Dança bonito Vai, vai! Dança bonito, Dança bonito Dança bonito Vai, vai! Dança bonito, Dança bonito Dança bonito Vai, vai! Dança bonito, Dança bonito Dança bonito Vai, vai, vai Vai, vai, vai! [...] Dança do Quadrado. Composição: Sharon Axé Moi. Texto II A partir da letra da música e da imagem, REDIJA um parágrafo dissertativo explicando as características da cultura de massa e da cultura popular e evidenciando suas diferenças. SEÇÃO ENEM 01. (Enem–2010) Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um sujeito empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a ética atinge um dimensionamento político, uma vez que a ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça necessariamente com a política, entendida esta como a área de avaliação de valores que atravessa as relações sociais e que interliga os indivíduos entre si. O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de formação da ética na sociedade contemporânea, ressalta A) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias político-partidárias. B) o valor da ação humana derivada de preceitos metafísicos. C) a sistematização de valores desassociados da cultura. D) o sentido coletivo e político das ações humanas individuais. E) o julgamento das ações éticas pelos políticos eleitos politicamente. Frente A Módulo 17 73Editora Bernoulli FI LO SO FI A GABARITO Propostos 01. Resposta subjetiva (o que se espera é que o aluno seja capaz de posicionar-se argumentativamente contra essa ideia ou a favor dela. Em questões desse modelo, não existe resposta certa ou errada, mas espera-se que o aluno, posicionando-se de um lado ou de outro, argumente adequadamente sua questão. É muito útil, quando possível, valer- se de outros filósofos em sua argumentação). No trecho citado, Montaigne propõe que a cultura tem o poder de tornar natural aquilo que, à primeira vista, nunca poderia sê-lo. Defendendo seu argumento, ele toma como exemplo atos praticados em outras culturas, como a morte do pai pelas mãos dos filhos e dos filhos pelas mãos dos pais, ações consideradas normais naquelas culturas. Dessa forma, o filósofo francês defende que os costumes são frutos do hábito e que as classificações de normalidade ou correção referem-se àquilo que habitualmente é praticado pelos membros de uma determinada cultura. A favor: O que é certo e o que é errado? Não há qualquer instância, seja ela divina ou humana, que pode determinar os valores e as ações como corretas ou incorretas por si mesmas. A única instância legítima que poderá emitir um juízo de valor, dizendo se as ações e seus fundamentos são corretos ou não, é a cultura em que o homem está inserido. Não existem valores absolutos ou leis universais que sejam atemporais e desvinculadas de uma cultura. Contra: Os argumentos de Montaigne ao defender o relativismo dos valores morais são falhos e inconsistentes. Se pensarmos que a humanidade é dotada de uma mesma natureza, temos de aceitar que tal natureza, mesmo que parcialmente, faz com que os homens sejam iguais. Portanto, mesmo que minimamente iguais, temos em nós uma parcela que nos faz pertencentes à mesma espécie. Dessa forma, alguns princípios básicos de convivência já estão escritos em nossa natureza, mesmo que instintivamente. Esses princípios são capazes de limitar as nossas ações e nos fazer protestar contra qualquer ideia ou ação que nos pareça naturalmente ou racionalmente absurda e inaceitável. 02. A proposta de Merleau-Ponty em relação à natureza e à cultura é de que não há de se falar em duas dimensões distintas no homem, duas camadas que, separadas, compõem o mesmo ser, a natureza e a cultura. Para o filósofo, essas dimensões do ser humano estão juntas e são inseparáveis. Não é possível nem mesmo pensar em características propriamente naturais e outras propriamente culturais, pois as duas se confundem. Entendido dessa forma, o homem é uma síntese de características biológicas e de características adquiridas, uma síntese de aspectos sociais e aspectos hereditários que se misturam e que compõem a complexidade do ser humano. Assim, é ilegítima a formulação que busca compreender onde acaba a natureza e começa a cultura, mas correto é pensar como essas duas dimensões do ser humano interagem, pois pensá-las separadamente torna-se, nessa perspectiva, impossível. 03. A temática central do trecho de Lévi-Strauss é a relação entre natureza e cultura, representada pela imagem narrada pelo filósofo de povos que, se antes eram vistos vivendo no campo simplesmente da natureza, manifestada na busca por sua simples sobrevivência, tal como uma espécie de animal irracional, logo depois esses mesmos povos são caracterizados por terem a capacidade do pensamento desinteressado, sem fins materiais, ou do desejo de compreensão da natureza e da sociedade em que vivem, caracterizando uma atitude propriamente filosófica diante do mundo. Dessa forma, podemos concluir que no homem não há como distinguir as duas dimensões, natureza e cultura, pois ambas estão intrinsecamente unidas na constituição humana. 04. O problema da relação entre corpo e alma é uma importante questão da Filosofia. Podemos nos reportar a Platão, que, de alguma forma, elabora uma concepção dualista do homem, separando-o em corpo a alma, apesar de essa separação, na verdade, representar uma interdependência entre as duas dimensões. É comum encontrarmos acepções de que o homem deve ser controlado pela sua mente, e não pelos seus desejos, suas inclinações. Por outro lado, alguns defendem que o homem deve se deixar guiar por suas emoções e paixões. Núcleos Temáticos 74 Coleção Estudo Na tela de René Magritte, observa-se que o homem é dividido: uma parte pertence ao céu, e outra pertence à terra. Acompanhando uma visão dualista, principalmente de Santo Agostinho, poderíamos dizer que o homem tem uma dimensão, a razão, que seria a melhor, a parte divina, pertencente ao céu. A outra dimensão seria a terrena ou mundana, e esta seria pior por sua própria natureza. Enfim, a questão principal a ser discutida é em que medida essas partes devem ou não dominar a outra, ou se é possível que ambas se harmonizem e possam conviver uma com a influência da outra. 05. Resposta subjetiva (o que se espera é que o aluno seja capaz de posicionar-se contra a ideia de Sócrates explorada pelo texto da questão ou a favor dela. Em questões desse modelo, não existe resposta certa ou errada, mas espera-se que o aluno, posicionando-se de um lado ou de outro, argumente adequadamente sua questão. É muito útil, quando possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação.) Segundo Platão, de acordo com o personagem Sócrates, só o homem é constituído por duas dimensões, o corpo e a alma, que representam, por sua própria definição, o sensível e transitório, portanto imperfeito, e o inteligível e eterno, perfeito por sua própria natureza. O conhecimento da verdade não pode ser outro senão o conhecimento daquilo que é perfeito em si, conhecimento da ideia em si mesma e livre dos sentidos. Esse conhecimento só pode ser obtido por meio da alma, que tem em si a mesma constituição das ideias, pois ambas são eternas. A favor: De fato, o conhecimento que pretendeser verdadeiro não pode ser nascido da matéria, pois os objetos materiais estão em constante transformação e o corpo, por meio dos sentidos, só pode captar os objetos dentro dessas transformações. A mudança do universo empírico não permite o conhecimento correto dos seres. Dessa forma, concordo com a posição platônica quando ele afirma que o conhecimento verdadeiro não pode ser originado dos sentidos, mas somente da atividade intelectiva, da razão humana pura que pensa os objetos livre de suas imperfeições. Contra: O conhecimento verdadeiro não pode ter sua origem nas abstrações ou ideias imaginadas pelo homem. As ideias e as teorias, que não estão fundadas na realidade percebida, não passam de um conjunto de ilusões racionalistas desconectadas do real, abstrações sem significado. Concordo com Hume quando ele diz que as ideias são os resquícios das experiências, pois acredito que somente pela percepção das coisas sensíveis formamos um conhecimento a posteriori. 06. La Mettrie não é adepto de uma visão dualista do homem, que divide corpo e alma como partes separadas e paralelas. As experiências demonstram que as influências do corpo, da matéria, no que os homens chamam de alma, são tão determinantes que se torna impossível distinguir uma coisa da outra e pensá-las separadamente. O corpo humano, entendido dessa maneira, é um conjunto de engrenagens e molas, representado pelos órgãos e suas relações entre si, sendo que a alma constitui mais um princípio desse mecanismo, é localizada no cérebro e faz movimentar toda essa máquina humana. Assim, o pensamento não passa de mais uma das funções dessa máquina e tem o objetivo de organizar seu funcionamento. Na concepção de La Mettrie, não existe separação entre essas duas dimensões, ou seja, corpo e alma participam da mesma realidade total. 07. Resposta pessoal. Exemplo de resposta: A liberdade, ou a consciência de que o homem é realmente livre, é um problema muito relevante para a Filosofia. Diversas são as respostas para essa questão. Alguns pensadores, como Sartre, defendem que o homem é plenamente livre. Outros dizem que a liberdade não existe, pois os condicionantes internos e externos excluem por completo a possibilidade de escolha. Outros, em uma síntese entre as respostas anteriores, dizem que a liberdade existe, porém está inserida dentro de possibilidades reais. Na citação da questão, percebe-se que há possibilidade de liberdade, mesmo que as circunstâncias externas possam, de alguma forma, comprometê-la. De acordo com o texto, o homem, mesmo diante de condicionantes sociais, culturais, biológicos e internos, apresentou possibilidades de escolha e de autodeterminação, não sendo determinado terminantemente por nada, nem por suas experiências anteriores nem por sua natureza. Frente A Módulo 17 75Editora Bernoulli FI LO SO FI A 08 Pode-se definir os valores como um conjunto de ideias ou abstrações que pautam as ações humanas a partir daquilo que acreditamos ser verdadeiro e digno de ser vivido. Esses valores podem, aos olhos de outros, serem corretos ou incorretos, porém o que há de se pensar é que os valores existem e servem como balizas para as ações humanas. Sua importância reside em projetar o homem na direção traçada por sua própria racionalidade e experiência. Os valores são capazes de dizer o que somos, o que ainda não somos e o que falta para alcançar aquilo que consideramos o modelo ideal de ação e de homem. Sem os valores, simplesmente existiríamos, como os outros animais. Com eles, podemos nos projetar no futuro em busca de uma existência feliz e realizada, como defende o existencialismo, tendo como pressuposto as experiências do passado e como matéria-prima o homem real do presente. 09. A boa vontade é a única coisa que pode ser considerada, de forma absoluta, um bem, pois ela é a capacidade de o homem seguir o dever, de obedecer à lei da moral. Kant afirma que todo o resto é relativo: virtudes, como a coragem ou a moderação, não são nem boas nem más, pois uma pessoa corajosa pode cometer um assassinato com maior facilidade do que aquela que teme o perigo. Também é possível pensar que pessoas más ou egoístas podem ser felizes, e, dessa forma, a felicidade não é por si mesma um bem. 10. Diferentemente da natureza animal, a realidade humana vai além do puro determinismo. Determinismo, por definição, seria a ausência de liberdade. No entanto, não se pode afirmar que o homem não seja determinado por nada, pois aspectos sociais, biológicos, culturais e internos podem exercer poder nas decisões humanas. Porém, o que faz o homem ir além desses determinismos é a sua capacidade de tomar consciência de que eles existem, o que faz com que o homem, ao tomar conhecimento desses determinismos, consiga traçar planos de ação para superá-los e transformá- los. Desse modo, o homem deixa de ser passivo diante dos acontecimentos e torna-se ativo em seu processo de autodeterminação. É a esse grande milagre do homem que Pico della Mirandola se refere: o homem é artífice de si mesmo por que pode, apesar dos determinismos, se autoconstruir, diferentemente dos outros seres naturais que estão presos aos seus condicionantes biológicos. 11. Resposta subjetiva (o que se espera é que o aluno seja capaz de posicionar-se contra a ideia de Sócrates explorada pelo texto da questão ou a favor dela. Em questões desse modelo, não existe resposta certa ou errada, mas espera-se que o aluno, posicionando-se de um lado ou de outro, argumente adequadamente sua questão. É muito útil, quando possível, valer-se de outros filósofos em sua argumentação). A tese defendida por Espinosa é de que a liberdade não passa de uma ilusão. O homem acredita ser livre por ser consciente de suas ações, mas estas são, na verdade, resultados de determinismos, condicionantes internos e externos, que o homem ignora. A favor: Concordo com a tese de Espinosa, uma vez que o homem, tal como todos os outros seres, é advindo da natureza, e esta funciona de forma acertada, determinando a consciência dos homens. Mesmo o modo de pensar humano é resultado de um conjunto de atividades biológicas, não podendo sair dos campos de operação mental. Além do mais, a personalidade do homem, seus valores, sua maneira de ser e de pensar é tão somente a internalização daquilo que o mundo lhe dita através da cultura. Portanto, ser livre é ilusão. Mais honesto seria buscar nas ações a compreensão dos determinantes que levaram a ela. Contra: A vida do homem ultrapassa os determinantes sociais, culturais, biológicos e internos. O homem pode superar os limites ditados pelos determinantes por meio de sua criatividade e pode encontrar outras alternativas para sua própria vida e para a sociedade como um todo. “O homem está condenado a ser livre”. Esta máxima do pensamento sartreano diz o que somos. Apesar de tudo o que nos influencia, somos capazes de superar tais determinações e de nos construirmos segundo nossa liberdade e autonomia de escolha. 12. O ser humano é uma síntese de características adquiridas pela cultura e daquelas que são construídas por ele mesmo. Não admitir que o homem é influenciado pelo mundo em que vive, ou seja, que o homem nasce do mundo, seria negar tudo o que foi construído antes de sua existência e, portanto, negar a própria possibilidade de humanização, uma vez que o homem não nasce pronto, mas se humaniza, se torna homem à medida que recebe da sociedade, Núcleos Temáticos 76 Coleção Estudo da cultura, um conjunto de informações que o levam a se aprimorar enquanto ser humano. Essa herança cultural que recebemos, no entanto, não representa uma determinação inexorável daquilo que somos, uma vez que podemos transformar o mundo e a nós mesmos pelo uso da liberdade.Somos seres históricos e ao mesmo tempo protagonistas da História. Essa relação dialética é que promove o avanço da civilização. 13. No texto citado, Hannah Arendt defende a importância da legitimidade para a existência do poder. Assim, para agir sobre a vida dos cidadãos, o poder necessita de ter sua origem e eficácia reconhecida e legitimada pela vontade livre de todos os que compõem a comunidade. Não basta ao poder estar de acordo com as leis, pois estas podem não representar a vontade dos cidadãos. A lei, por si mesma, não é sinal de moralidade e vontade da coletividade, ela pode ser somente a representação de interesses de classes que detêm o poder. A legitimidade necessária ao poder se dá por leis, mas somente quando estas representam a vontade da comunidade. O poder, portanto, não é alguma coisa exercida por alguns e à parte do todo. Se o poder não é concedido e legitimado pela comunidade total, não é poder verdadeiro, mas poder autoritário e ilimitado. 14. No texto citado, Maquiavel se dedica a compreender a realidade política afirmando que sua essência está na conquista do poder e na sua manutenção. Pensando em quais são os caminhos para alcançar esse objetivo, Maquiavel lança os primeiros fundamentos daquilo que ficará conhecido como realismo político. Assim, ele afirma que, àquele que se dedica a estudar e compreender a política, não importa o ideal, aquilo que se pretende fazer ou o sonho do que poderia ser, mas a vida real e concreta, a realidade do povo e também as ações que foram realizadas no passado por outros governos e que deram resultado. Dessa maneira, segundo esse filósofo, o governante deve se concentrar na realidade das ações e das circunstâncias para agir de forma eficiente. A solução do filósofo para a questão do governo é tomar como base a realidade em si mesma, sem abstrações ou idealizações, não se apegando àquilo que se espera que seja, mas sim à realidade tal como ela é. 15. No texto citado, Lefort defende que a democracia é apenas um regime político determinado por leis, estabelecido pela vontade popular. É também um regime em que todo e qualquer cidadão, que é partícipe da democracia, ou mesmo um grupo de cidadãos ou políticos, não pode se identificar com o próprio poder, tornando-o sua propriedade. O poder deve pertencer a todos e a ninguém ao mesmo tempo. Se por um lado há uma dimensão concreta do poder, representada por aqueles que o possuem como os políticos, juízes, funcionários públicos de toda ordem, por outro lado esse poder tem uma dimensão simbólica, tornando-se algo que está além da concretude e da posse daqueles que o possuem. Essa abstração não permite sua posse privada por nenhum de seus membros, mas tão somente pelo povo. 16. A temática filosófica do texto de Platão se refere à justiça na alma e na cidade, ou melhor, de como a alma e a cidade podem se tornar justas. Segundo o filósofo, tanto uma como a outra obedecem aos mesmos princípios de organização. Dessa forma, a virtude não se refere somente às qualidades morais individuais, mas também à própria organização da pólis. A justiça da alma, sua ordem, é alcançada quando cada uma de suas partes (racional, irascível e apetitiva) se organizam harmonicamente, de modo que a razão governe as demais. Da mesma forma, a justiça na cidade é alcançada pela ordem estabelecida pelas suas classes, de forma que os melhores em inteligência, os reis-filósofos, assumam o governo da cidade, os soldados ou guerreiros a protejam, e o povo a sustente economicamente. A justiça, como virtude individual, é imprescindível para a existência de uma cidade justa, assim como a cidade justa é o lugar em que a alma encontra a possibilidade de tornar-se justa. 17. Para Tomás de Aquino, a vida em sociedade e o exercício do poder estão intrinsecamente ligados ao bem do ser humano. Segundo o filósofo, o governo, o poder exercido pelo homem sobre outros homens, faz parte da ordem natural determinada por Deus e é reflexo da mesma ordem de poder que Deus exerce sobre toda a sua criação. Dito isso, compreende-se a importância da existência das leis para o governo do mundo e dos homens. É por meio das leis eternas que Deus governa o mundo, conduzindo-o para o bem. Frente A Módulo 17 77Editora Bernoulli FI LO SO FI A Os homens, possuidores da razão, fariam leis para o governo deles próprios. As leis humanas são criadas a partir das leis naturais, que, em si, são as leis divinas como as compreende o próprio homem. Portanto, o governo dos homens está orientado pela ideia do bem, tal como Deus governa o mundo para o bem, sendo que da mesma forma que há uma hierarquia entre Deus e os seres, há uma hierarquia entre governantes e seus governados, o que torna a comunidade política necessária, justa e boa. 18. No trecho citado, pode-se perceber que a análise de Stuart Mill ultrapassa o campo da política e procura refletir filosoficamente sobre a oposição existente entre indivíduo e comunidade como um problema que diz respeito à moral dos próprios indivíduos que compõem uma comunidade. Um dos problemas mais importantes tratados diz respeito à “tirania da sociedade”, em que há o poder exercido sobre os indivíduos por uma força social mais insidiosa e perversa que o poder institucionalizado, uma vez que tal pressão para determinar o comportamentos é cotidiana e exercida em todas as direções que levam os membros de uma sociedade total a se adequarem ao padrão social. Dessa maneira, a liberdade individual fica comprometida, uma vez que os sujeitos são forçados a se adaptarem a um modo de vida que não foi deliberado por eles mesmos. Mill protesta contra essa ideia e apresenta-se como um defensor das liberdades individuais, sugerindo que os indivíduos não se submetam à força dominadora da maioria, à ditadura da maioria. 19. A) Válido I) Válido B) Inválido J) Válido C) Válido K) Inválido D) Válido L) Inválido E) Válido M) Válido F) Inválido N) Inválido G) Inválido O) Válido H) Inválido P) Inválido 20. A) Indutivo B) Indutivo C) Dedutivo D) Indutivo E) Dedutivo F) Indutivo G) Indutivo H) Indutivo I) Dedutivo J) Indutivo 21. Trata-se de um argumento inválido, pois a conclusão não segue as premissas, isto é, pode- se aceitar as premissas sem obrigatoriamente aceitar a conclusão. Na análise do argumento, ainda que se aceite a verdade das premissas, não se segue a verdade da conclusão porque, na conclusão, a palavra “igualdade” tem um sentido diferente do sentido apresentado nas premissas. Nas premissas, trata-se da igualdade entre pessoas e, na conclusão, de igualdade perante a lei. 22. O filósofo Gerd Bornheim fala do enraizamento existencial da descoberta da Filosofia no plano individual. De acordo com o filósofo, todos tendem a aceitar as crenças e os valores socialmente compartilhados de modo “dogmático”. Mas, a partir de alguma “experiência negativa”, cada um, em momentos e ritmos diferentes, teria a oportunidade de questionar as supostas verdades e de problematizar o que antes parecia seguro. Não se trata de um percurso necessário para todos, mas aqueles que o fazem transformam a experiência negativa em busca reflexiva. Qualquer acontecimento, como um acidente de automóvel, uma doença inesperada, uma crise no casamento ou a morte de um amigo, pode suscitar uma ruptura na rede de significações que estamos acostumados a aceitar como “normal” e nos levar a questionar e a buscar explicações melhores e mais elaboradas para os acontecimentos da vida individual, para os problemas sociais ou mesmo para os fenômenos do universo. Núcleos Temáticos 78 Coleção Estudo 23. Aristóteles defende a tese de que o conhecimento é resultado das experiências, ou seja, dos cinco sentidos. Sua defesa do empirismo fica evidenteem seu texto quando ele afirma que o desejo do conhecimento se prova pelo prazer que as sensações provocam no sujeito, principalmente a visão, que, segundo esse filósofo, é o mais importante dos sentidos. Dessa forma, as ideias têm sua origem no conhecimento pelos sentidos. Por meio destes, captamos os dados sensíveis do mundo e os trazemos para a nossa mente, representando, através de abstrações, o que são os seres. O conhecimento científico, segundo os empiristas modernos, principalmente Hume e Locke, se origina, acompanhando o raciocínio aristotélico, dos sentidos humanos. Se, na modernidade, a questão colocada pela epistemologia foi sobre qual o método, o caminho que garante o conhecimento de fato, segundo os empiristas, somente o tato, olfato, paladar, audição e visão podem levar o homem ao conhecimento exato do mundo natural. 24. A dicotomia à qual Rubem Alves chama a atenção refere-se à oposição entre racionalismo e empirismo. Enquanto a primeira teoria considera que o conhecimento verdadeiro só pode ser obtido por meio da razão, a segunda considera que apenas os sentidos nos permitem ter conhecimento do mundo. Seguindo a perspectiva racionalista, Galileu tornou-se um marco da perspectiva moderna ao apontar sua luneta para o céu e observar o universo, buscando nele as leis matemáticas que explicassem sua regularidade. Por meio de sua visão mecanicista, procurou conhecer a natureza sem apelar para causas exteriores, ditas finais ou divinas, em um mundo no qual as regras de funcionamento são as mesmas em todos os planos. Céu e terra são unificados pelas mesmas leis e, consequentemente, devem ser explicados pelas mesmas teorias, ou seja, pelos cálculos de que os homens forem capazes de fazer. Não há mais “qualidades” naturais que explicam os fenômenos segundo suas determinações essenciais, mas leis e “quantidades” que se aplicam indiferentemente aos corpos, pensados agora como mecanismos em movimento. 25. Verdade é o principal conceito da Filosofia de um modo geral e, em particular, do campo da Teoria do Conhecimento ou Epistemologia. Esse conceito diz respeito à possibilidade de um conhecimento fundamentado e seguro, que possa ser distinguido da mera opinião e da falsidade. Se nossas tentativas de conhecimento do mundo natural ou humano fossem necessariamente bem sucedidas ou, pelo contrário, necessariamente mal sucedidas, não se colocaria o problema da verdade, seja por excesso – todas as afirmações seriam verdadeiras –, seja por escassez – nenhuma afirmação seria verdadeira. Dado o fato de que, pelo contrário, ora somos bem sucedidos, ora somos mal sucedidos na obtenção de conhecimento, é inevitável que nos questionemos com relação às condições, mesmo limitadas, que, favorecendo a percepção do erro, possibilitam o acerto. Tais condições podem ser resumidas, de forma mais geral e menos precisa, nos métodos científicos elaborados pelo homem como caminho de obtenção da verdade. Na modernidade, esse problema encontrou seu auge nas filosofias de Descartes, Locke, Hume e Kant, que se propuseram, através de caminhos distintos, a saber, racionalismo, empirismo e criticismo, determinar qual seria o caminho para se alcançar o conhecimento verdadeiro. 26. As narrações míticas são histórias criadas com o objetivo muito claro e específico de explicar o que até então é inexplicável. Os homens, desde a formação das comunidades mais primitivas, sempre foram dotados do desejo e da necessidade de compreender a natureza e suas manifestações. A maneira mais fácil e efetiva que encontraram para esse fim foi utilizando as explicações míticas, de forma que as manifestações naturais, como no caso do mito, descrito pelo texto da questão, sobre a direção do Vento Sul, são explicadas de forma simples e inteligíveis a todos os que se aproximam dos mitos. Mito e natureza estão unidos em sua origem e assim continuam hoje, uma vez que os mitos ainda compõem a racionalidade humana como modo privilegiado de compreensão dos fenômenos que ainda não têm sentido ou que ultrapassam a capacidade científica de compreensão. Frente A Módulo 17 79Editora Bernoulli FI LO SO FI A 27. Apesar de, à primeira vista, os textos se originarem de racionalidades diferentes, o primeiro mítico e o segundo filosófico / científico, ambos possuem algumas características comuns. Os dois textos são resultado do pensamento humano, e isso significa que são modos de racionalidade. Também são reflexivos, nascidos do esforço humano para compreender as questões vividas pelas sociedades e buscam encontrar respostas essenciais à existência humana. Além disso, os dois textos tratam do mesmo assunto, ou seja, ambos pretendem responder a questões relativas ao universo, à natureza e à comunidade. Tanto um quanto outro procuram elaborar respostas que sejam totais, isto é, que busquem compreender o universo como um todo ordenado e que façam um sentido para aqueles que recorrem a ela como forma de explicação do cosmos. Apesar de suas semelhanças, suas diferenças são evidentes. Se o mito se constrói a partir de metáforas, a Filosofia e a Ciência se sustentam em conceitos e discursos racionais. A Filosofia tenta deixar as questões explícitas, o mito não se preocupa com os mistérios e imprecisões do discurso. Se o discurso filosófico procura argumentativamente sua autoridade na razão, o mito apela para a autoridade de quem diz, sem se importar em problematizar e explicitar aquilo que não está entendido. 28. As pinturas nas paredes da caverna dizem que o mundo pode ser visto pelo homem e que, dessa forma, o artista é aquele que representa e faz ver o mundo de acordo com sua maneira própria e subjetiva de compreendê-lo. Esse mundo não é o mundo da ciência ou da verdade eterna e imutável, mas tão somente o mundo interpretado pelo artista e buscado incessantemente por seus sentidos e imaginação. É assim que pintores, como Monet, pintam várias vezes as mesmas coisas e em cada pintura os objetos aparecem de forma diferente, parecendo se tratar de coisas distintas cada vez que são representadas. Arte e humanidade são inseparáveis porque o artista nasce juntamente com o primeiro homem. Este, de uma forma ou de outra, tentou compreender o mundo que o cercava de acordo com sua capacidade interpretativa e o representou tal como seus sentidos e sentimentos viam o mundo naquele momento. 29. O artista e o filósofo buscam encontrar as mesmas coisas frente àquilo que está posto e é aceito pelo senso comum como normal: eles buscam ressignificar o mundo, encontrando uma nova maneira de compreendê-lo. O artista busca um novo significado para aquilo que se vê por meio de sua forma particular de interpretar a natureza, enxergar aquilo que nunca foi visto. Essa atitude requer coragem e determinação. Ele deseja, por meio dos sentidos, perceber a natureza e os objetos de forma inovadora, para poder representá-los por meio de sua manifestação artística própria. O filósofo está dotado do mesmo sentimento de descontentamento e de busca pelo novo. Mas, ao contrário dos artistas, ele busca uma nova significação para o mundo através das ideias. À Filosofia cabe tentar capturar do mundo uma nova via de interpretação, em busca de uma verdade que até então pode nunca ter sido percebida ou conhecida. É por isso que ambos, artista e filósofo, precisam encontrar-se diante do mundo como uma criança que enxerga as coisas como se fosse a primeira vez. Por esse caminho, busca-se abandonar o senso comum e o “normal” para encontrar algo novo que represente tanto a verdade sobre o mundo, quanto o modo subjetivo de interpretá-lo. 30. O termo “cultura de massa” faz parte do conceito desenvolvido por Adorno e Horkheimer denominado de Indústria Cultural. Esse conceito designaa indústria da diversão vulgar, veiculada pelos meios de comunicação. De acordo com Adorno e Horkheimer, através da Indústria Cultural e da diversão se obteria a homogenização dos comportamentos, a massificação das pessoas que pensariam e consumiriam de acordo com os interesses das classes burguesas, que promoveria, por sua vez, a alienação dos homens. A letra da música apresentada na questão é um exemplo de cultura de massa, uma vez que representa um modo de arte sem conteúdo, que, no entanto, é consumida à exaustão, o que desestimula o espírito inovador e empobrece o cenário cultural. Ao contrário, a figura representa a cultura popular que seria a cultura própria e espontânea de um povo, refletindo as suas particularidades regionais e recuperando os valores e as tradições autênticas de um determinado grupo social. Seção Enem 01. D Núcleos Temáticos