Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 AV2 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Endocardite infecciosa (EI) Infecção que acomete as partes do endocárdio, não há necessidade de acometimento específico de valvas cardíacas. As EIs podem ser classificadas conforme: • Agente etiológico • Evolução (aguda ou subaguda) • Perfil do paciente (predisposição valvar ou situações que favoreçam o aparecimento, como uso de drogas injetáveis ou cateter por período longo) • Tipo de valva (natural ou protética) • Lado do coração atingido (esquerdo ou direito) PS.: A classificação mais importante de ser guardada é aquela referente à evolução do quadro (tempo e agressividade) Quais principais agente etiológicos? EI Subaguda Principalmente Gram positivos, especialmente os cocos Gram positivos. Streptococcus do grupo viridans: bactéria mais frequente causadora de endocardite da comunidade (subaguda), preferencialmente em indivíduos entre 16 e 60 anos. É um alfa-hemolítico e pode ter 4 representantes: S. sanguis, S. mutans, S. mitior e S. intermedius. S. bovis não é do grupo viridans, mas também pode causar EI subaguda. Este está presenta na luz do intestino humano, associado a diverticulose e procedimentos intestinais, como causa de bacteremia. Enterococcus: E. faecium e faecalis também são causas de EIs subagudas. Bactérias de difícil diagnóstico na EI subaguda: HACEK Haemophillus spp. Actinobacillus spp. Cardiobacterium hominis Eikenella spp. Kingella spp. Todas são Gram negativas, crescimento lento (subaguda), estão presentes na orofaringe, normalmente. Devido ao crescimento em hemocultura ser lento deve-se solicitar para o laboratório deixar pelo menos 15 dias no aparelho, para facilitar o crescimento, quando se suspeita de EI por HACEK. Bactérias mais raras como a Coxiella burnetti (causa a febre Q), espécies de Bartonella e fungos, não crescem em hemocultura, sendo necessário fazer sorologia. EI aguda Principal causador é o Staphylococcus aureus, associado a usuários de drogas, mas também pode ser proveniente da pele e mucosa nasal e ter penetrado por lesão. E, o acometimento é maior no lado direito do coração (tricúspide), assim como ocorre nas demais infecções de pele (celulite, erisipela). Entre pacientes internados deve-se pensar no uso de cateter. As endocardites hospitalares tem como causas fungos, bactérias Gram negativas e Staphylococcus coagulase negativos (S. epidermidis, S. hominis, S. saprophyticus). Os coagulases negativos provocam infecção principalmente no paciente com imunodepressão e com longo tempo de internação. Classificação mais utilizada Aguda Comprometimento importante do local atingido (maior gravidade); Agressiva, com manifestações clínicas importantes em pouco tempo; Febre alta; Rápida em tempo: evolução em dias ou em até 6 semanas; Comum, por exemplo, em ambientes hospitalares, para pacientes internados; Staphylococcus aureus como o agente mais prevalente; Mortalidade alta. Subaguda Comprometimento não tão agressivo, demorando muito para causar lesão com destruição; Febre baixa e persistente; Manifestações clínicas lentas e graduais; Evolução de semanas (mais de 6 semanas) a meses; Streptococcus viridans e Enterococcus spp. como os agentes mais comuns, embora ainda possa ser causada por Staphylococcus coagulase-negativo e qualquer outro Gram negativo. Mecanismo fisiopatológico Endocardite 2 AV2 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe O principal motivo que leva a lesão valvar é a mudança no fluxo de sangue que passa nas câmaras cardíacas. Quando ocorre o turbilhonamento de sangue, a tendência é haver lesão valvar pela força do sangue na parede ou valva. A lesão em um desses locais leva a deposição de fibrina no local., o que facilita a agregação de bactérias, que, eventualmente estejam na corrente sanguínea. Bactéria + fibrina = transforma o fluxo de sangue, que passa a ser turbilhonado, provocando novas lesões. Quanto maior o depósito de fibrina nas lesões, maior fica o aspecto vegetante da lesão. Conforme aumente a vegetação e o fluxo turbilhonar se mantém, maior a probabilidade da vegetação se desprender e virar êmbolos. Quais fatores levam ao turbilhonamento??? O principal fator é a insuficiência das valvas durante o fechamento, o que provoca regurgitação, podendo causar o turbilhonamento e lesão. Os sintomas mais frequentes são a febre, sopro cardíaco e esplenomegalia. As lesões embólicas podem gerar acidente vascular cerebral isquêmico de repetição. Neste caso podem ocorrer alterações periféricas sugestivas de gravidade. Fenômenos periféricos: a. Petéquias: podem ser observadas na conjuntiva, sendo essencial a avaliação clínica semiológica de um paciente com suspeita. b. Hemorragias “em lasca” (splinter hemorrhages): pequenos sangramentos em baixo da unha c. Roth spots ou hemorragias retinianas: hemorragias retinianas com centro pálido ou amarelo. d. Nódulos de Osler: lesões dolorosas, palpáveis, eritematosas, que envolvem principalmente a polpa digital dos dedos das mãos e pés. Relacionados ao fenômeno de vasculite imunológico. e. Lesões de Janeway: não dolorosas, maculares, não palpáveis, que envolvem palmas das mãos e as plantas dos pés. Fenômeno hemorrágico decorrente de êmbolos sépticos. Associado a endocardite aguda por Staphylococcus aureus. Aneurisma micótico: é definido como a dilatação de uma artéria, devido a fenômeno embólico que começa com a embolização da bactéria para regiões longe da lesão cardíaca e a implantação desta na parede do vaso, gerando a dilatação. Associado a endocardite subaguda pelo Streptococcus do grupo viridans. Essa alteração pode ser causada por: embolização de bactérias para artérias que irrigam os vasos (vasa vasorum), lesão causada por fenômenos imunológicos (formação de imunocomplexos) ou invasão da parede do vaso diretamente pela bactéria. Outras manifestações: alterações sanguíneas (anemia normocrômica e normocítica pode estar presente na EI subaguda; na EI aguda pode ocorrer leucocitose com desvio), lesões renais (glomerulonefrites com deposição de imunocomplexos), alterações articulares e embolizações diversas. Manifestações clinicas principais Febre Sopro cardíaco Calafrios e sudorese Esplenomegalia Anorexia, fraqueza e perda de peso Embolia arterial Manifestações neurológicas Novo sopro ou piora do sopro existente Petéquias Mialgias e artralgias Baqueteamento digital Dor lombar Diagnóstico Situações que devem ser consideradas para o tentar definir o agente etiológico mais comum. Organismos Histórias clínicas 3 AV2 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Hemoculturas** ** hemocultura para o grupo HACEK demora mais tempo, 15 dias. A hemocultura deve ser feita antes de iniciar o antibiótico; devem ser feitas no mínimo 3 coletas em momentos diferentes ou no mesmo momento, mas em locais diferentes. Ecocardiograma: identificação da lesão valvar. Exame de sangue Biópsia da valva: diagnóstico definitivo realizado se há intervenção cirúrgica. Critérios de Duke modificados Critérios maiores Cultura • Cultura positiva para patógenos relacionados • 02 culturas positivas com menos de 12H de diferença • 03 culturas positivas com intervalo de maior que 1h entre a 1ª e a 3ª • Cultura positiva para Coxiella Burnetti ou IgG >=800 Disfunção do endocárdio • Ecocardiograma com alteração sugestiva de endocardite infecciosa • Sopro novo identificado Critérios menores • Condição clínica predisponente ou condição cardíaca predisponente ou uso de drogas intravenosas • Temperatura > = 38º C • Fenômenos vasculares: embolia arterial significativa ou infartopulmonares sépticos ou aneurisma micótico ou hemorragia intracraniana ou hemorragia conjuntival ou lesões de Janeway • Fenômenos imunológicos: glomerulonefrite ou manchas roth ou fator reumatoide positivo • Evidência microbiológica que não fecha critério maior Diagnóstico se: Presença de 2 critérios maiores ou 1 maior + 3 menores ou 5 menores O diagnóstico da EI baseia-se fundamentalmente nos critérios modificados da Universidade de Duke: a associação de sinais clínicos (como febre e sopro em portador de cardiopatia de risco), positividade de hemoculturas por agentes etiológicos frequentes e alterações ecocardiográficas típicas (vegetação, abscesso perianular) apresentam alta sensibilidade (> 80%), principalmente em infecções em valvas nativas. No entanto, os critérios mostram uma menor precisão diagnóstica para o diagnóstico precoce na prática clínica, particularmente no grupo de pacientes*1, anteriormente relacionado, nos quais a incidência vem aumentando. O diagnóstico é desafiador, sobretudo, se a ecocardiografia é normal ou inconclusiva, como ocorre em até 30% dos casos,8 ou quando as hemoculturas são negativas (SOBREIRO, 2019). *1 A EI está cada vez mais relacionada a portadores de prótese valvares, cateteres vasculares, dispositivos eletrônicos implantáveis, como marcapasso e cardiodesfibriladores e novos dispositivos cirúrgicos, como endoprotéses valvares implantadas por cateter (SOBREIRO, 2019). Outros exames para auxiliar no diagnóstico: Radiografia de tórax: avaliar infiltrado pulmonar no acometimento das câmaras cardíacas direita. Eletrocardiograma: avaliação de bloqueio Fundo de olho: manchas de Roth TC: comprometimento neurológico (embolização) Angio cerebral: avaliação de aneurismas micóticos Tratamento empírico O tratamento empírico varia com a classificação da evolução do paciente. Tratamento empírico da endocardite aguda A EI aguda é causa principalmente pelo Staphylococcus aureus sensível a penicilinas. Deve-se escolher uma droga com boa penetração no endocárdio: oxacilina, sempre em dose máxima! Fazer associação com gentamicina para sinergismo, potencializando o efeito. Oxacilina 2 g IV 4/4H + gentamicina 1mg/kg/d. Caso, o S. aureus seja resistente a meticilina (MRSA), como pode ocorrer em pacientes usuários de drogas pode utiliza a associação de vancomicina + gentamicina (Gram negativos eventuais). O tratamento empírico deve ser reavaliado quando o resultado da cultura sair. Tratamento empírico endocardite subaguda Na EI subaguda o agente etiológico mais prevalente é o Streptococcus do grupo viridans e Enterococcus. Assim, pode-se usar penicilina G cristalina/ampicilina (Streptococcus) + gentamicina (Enterococcus). Penicilina G cristalina 4.000.000UI IV 4/4h + gentamicina 1mg/kg/d. Ampicilina 2 g IV 4/4h + gentamicina 1mg/kg/d. Tratamento empírico em individuo com endocardite e valva protética 4 AV2 – Infectologia – Prof. Cristiane Lamas – Fernanda Pereira - 5º período – 2021.2 - @medicomfe Valva protética com menos de 1 ano de colocação: S. aureus resistente à meticilina e S. coagulase-negativo. Tratar com vancomicina + gentamicina + (?) rifampicina (?). O uso de rifampicina é aconselhado por alguns autores pela capacidade de potencializar a eficácia agindo sobre forma latentes de estafilo na valva. Vancomicina 1 g IV 12/12h + gentamicina 1mg/kg/d + rifampicina 600mg/d. Profilaxia Em quem deve-se fazer a profilaxia antibiótica? Nos pacientes de maior risco a desenvolver a endocardite após procedimento odontológico com manipulação de gengiva/ procedimentos invasivos e cirurgias do trato respiratório/ cirurgia de pele e partes moles infectadas. Pacientes de alto risco: valva protéticas; endocardite prévia da valva mitral; cardiopatias congênitas não corrigidas (apenas as que envolvem cianose complexa: transposição de grandes vasos, Fallot, ventrículo único); coarctação da aorta; transplante cardíaco que desenvolve defeito valvar; cardiopatias congênitas corrigidas com material protética (primeiros 6 meses pós cirurgia); cardiopatias congênitas parcialmente corrigidas com defeito residual no local ou próximo a material protético. Medicações que cubram a microbiota oral. Profilaxia padrão: amoxicilina, 2 g VO, antes de procedimento. Incapacidade de ingerir medicação: ampicilina 2g IM ou IV antes do procedimento, ou cefazolina 1g IV antes do procedimento. Alergia a penicilina: clindamicina, 600 mg VO, 1 hora antes do procedimento, ou cefalexina ou cefadroxil, 2g VO 1 hora antes do procedimento, ou claritromicina ou azitromicina, 500mg VO 1 hora antes do procedimento. Referência SOBREIRO, D. I., et al. Diagnóstico Precoce da Endocardite Infecciosa: Desafios para um Prognóstico Melhor. Ponto de Vista. Arq. Bras. Cardiol. 112 (2). Fev 2019. Disponível em: https://doi.org/10.5935/abc.20180270. Acesso em: 16/11/2021. https://doi.org/10.5935/abc.20180270
Compartilhar