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A endocardite infecciosa (EI) é uma doença grave, caracterizada pela invasão de microrganismos patogênicos (bactérias ou fungos) nas superfícies endocárdicas ou no material protético intracardíaco. Resulta em inflamação e lesão local, sendo as valvas cardíacas as mais comumente envolvidas. Cursa com formação de vegetações, únicas ou múltiplas, são estruturas compostas por plaquetas, fibrina e microrganismos infecciosos. CONCEITOS! A endocardite é o processo infeccioso geralmente bacteriano, da superfície endocárdica do coração. É uma doença comum, que cursa com amplo espectro clínico e alta taxa de mortalidade (em torno de 25%), dependendo do agente etiológico. Afeta mais comumente o sexo masculino, podendo acometer estruturas cardíacas normais, sem lesão prévia. Varia muito ao longo dos anos, então não há dados específicos do mundo. É uma doença extremamente comum entre as causas infecciosas, principalmente em homens. A discrepância entre homens e mulheres é grande, podendo ser até de 9 para 1. A endocardite, como quase tudo que envolve a cardiologia, possui diversas classificações de acordo com diferentes critérios, como o agente causador, lado do coração, tipo de valva acometida, evolução da doença e o local de aquisição da infecção. AGENTE CAUSADOR Bactéria ou fungo. LADO DO CORAÇÃO Endocardite de lado esquerdo e direito do coração. TIPO DE VALVA ACOMETIDA Pode ser nativa ou protética (maior fator de risco), que ainda é subdividida em precoce de até 1 ano ou tardia após 1 ano da colocação da prótese. EVOLUÇÃO DA DOENÇA A endocardite infecciosa pode ser aguda, quando tem menos de 6 semanas. Geralmente é causada por organismos altamente virulentos que produzem lesões necróticas, ulcerativas e destrutivas. São lesões difíceis de curar e normalmente precisam de cirurgia. Quando possui mais que 6 semanas, é chamada de subaguda/crônica, podendo persistir por um curso de meses e a cura frequentemente é obtida com antibióticos. AQUISIÇÃO DA INFECÇÃO Por ser adquirida na comunidade, comunidade relacionada a procedimentos hospitalares ou nosocomial. Semelhante à pneumonia nosocomial, para possuir a EI ser encaixada nessa classificação é necessário que os sintomas tenham aparecido após pelo menos 48h após admissão hospitalar. Os principais fatores que interferem e aumentam a chance do surgimento da EI estão associadas com alterações de fluxo sanguíneo pela valva, alterações valvares morfológicas, manipulação cirúrgica, uso de dispositivos invasivos (tais como cateteres, pressão arterial invasiva) e condições imunossupressoras. E N D O C A R D I T E I N F E C C I O S A Principais fatores de risco: • Sexo masculino • Idade > 60 anos • Prótese valvar. • Shunts/ condutos sistêmicos-pulmonares. • Passado de endocardite. • Cardiopatia congênita cianótica. • Uso de drogas intravenosas. • Doença estrutural cardíaca - valvopatias (doença reumática, alterações degenerativas, prolapso mitral com insuficiência valvar e espessamento significativo do folheto). • Dentição ruim ou infecção dental. • Uso de dispositivos implantados (marcapasso, cardiodesfibrilador, cateter venoso central). • Imunossupressão, diabetes mellitus. Os principais microrganismos causadores da EI são estafilococos e estreptococos, sendo os primeiros mais comuns em casos de infecção hospitalar e os segundos em infecções comunitárias. A endocardite que acomete as valvas naturais, porém previamente anormais ou lesadas. • é mais comumente causada (50% a 60% dos casos) pelo Streptococcus viridans, que é parte normal da flora da cavidade oral. • os organismos S. aureus mais virulentos são comumente encontrados na pele e podem infectar valvas saudáveis e deformadas, e são responsáveis por 10% a 20% de todos os casos; S. aureus é o principal agente infectante encontrado entre os indivíduos com EI que utilizam drogas ilícitas injetáveis. • A endocardite das próteses valvares é causada com mais frequência pelos estafilococos coagulase negativos. As literaturas variam muito quanto as bactérias mais causadoras da doença, isso porque depende muito da região geográfica delimitada. A endocardite infecciosa acomete mais comumente a valva mitral (40%) ou aórtica (34%), seguida pelo acometimento de ambas as valvas. O acometimento das valvas tricúspide e/ou pulmonar ocorre mais comumente em usuário de drogas endovenosas e em persistência de cateter de demora em veia profunda. A endocardite fúngica é mais difícil de ser diagnosticada, sendo mais comumente encontrada em pacientes com histórico de uso de drogas injetáveis, cirurgia cardíaca recente ou uso prolongado de cateteres vasculares de longa permanência, especialmente aqueles usados para nutrição parenteral. Os fungos mais comuns encontrados na EI são espécies de Aspergillus e Candida. O coração é revestido pelo pericárdio, que é uma membrana formada pelo pericárdio superficial e pelo pericárdio seroso, sendo esta última formada por uma camada parietal e outra visceral (epicárdio), que está diretamente em contato com o coração. O miocárdio é a camada cardíaca média e mais espessa, formada por músculo estriado. O endocárdio é a camada mais interna do coração e, também, reveste as valvas e é contínuo com o revestimento dos vasos sanguíneos que entram e saem do coração. A endocardite infecciosa é caracterizada pela formação de vegetações em endocárdio ou estruturas de natureza proteica intracardíacas. O desenvolvimento da EI, geralmente, segue uma sequência previsível: A vegetação é formada a partir de lesão valvar, ou endotelial, que predispõe a deposição local de fibrinas e plaquetas. Com isso, há a formação de vegetação trombótica não bacteriana no local da lesão. Se houver bacteremia transitória, há colonização e aderência de bactérias circulantes na vegetação trombótica, com consequente multiplicação e formação da vegetação bacteriana (séptica). Essa lesão característica da doença leva à destruição valvar, invasão local com formação de abscessos, aneurisma e embolias sépticas sistêmicas. A bacteremia persistente predispõe à formação de imunocomplexos e vasculite sistêmica, resultando em fenômenos imunológicos e vasculares. Alguns distúrbios favorecem a endocardite infecciosa, como prolapso da valva mitral, estenose valvular calcificada degenerativa, valva aórtica bicúspide (calcificada ou não), valvas artificiais (protéticas) e defeitos congênitos reparados ou não. As complicações que podem ocorrer são: EMBOLIA: Vegetações menores de 15 mm, sobretudo causadas por S. aureus e acometendo a valva mitral, são as associadas a maior risco de embolização. Nas embolias sépticas de endocardites de câmaras esquerdas: cérebro e baço são os sítios mais afetados. Já endocardite de câmaras direitas e associada a dispositivos invasivos: pulmão é o sítio mais comum. ABCESSO: Ocorre em 10% a 40% dos casos, acometendo valvas ou próteses aórticas e estando comumente associado ao S. aureus. Pela proximidade com o nó atrioventricular, pode haver evolução para bloqueio atrioventricular. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: A insuficiência cardíaca está associada à destruição valvar ou protética, sendo considerada uma emergência cirúrgica. O quadro clínico sugestivo é vasto, envolvendo diversos sintomas. Na prática clínica o que chama a atenção muitas vezes, principalmente em pacientes de ambiente nosocomial é a presença de fatores de risco importantes em um paciente que evolui com piora clínica inicialmente de origem a esclarecer. A endocardite infecciosa é um diagnóstico importante nesse contexto, realizando a investigação de maneira adequada para início precoce do longo tratamento. MANIFESTAÇÕES SITÊMICAS: febre,calafrios, sudorese noturna, anorexia, perda de peso, fadiga, indisposição, náusea, vômito. MANIFESTAÇÕES MUSCULOESQUELÉTICAS: sintomas articulares (articulações proximais e rápidos no início da doença), mialgia (20%). MANIFESTAÇÕES CARDÍACAS: sopros (85%), abcesso miocárdico (típico: febre prolongada e manifestações de ritmo), insuficiência cardíaca fulminante. MANIFESTAÇÕES PERIFÉRICAS: petéquias (20 a 40%), baqueteamento digital (arredondamento das unhas), nódulo de Osler (nódulos subcutâneos pequenos, tensos e dolorosos), lesões de Janeway (mácula na palma da mão eritematosas, indolores), manchas de Spliter (hemorragia embaixo da unha, mais comum em idosos), manchas de Roth/Litten (alterações da fundoscopia, arredondadas com centro pálido e borda exsudativa). MANIFESTAÇÕES HEMATOLÓGICAS: síndrome anêmica (doença crônica), hemólise por fragmentação, VHS elevado e leucocitose com neutrofilia (S. aureus). MANIFESTAÇÕES DE EMBOLIZAÇÃO SISTÊMICA: • Pulmonar: dor torácica pleurítica, dispneia. • Encefálica: hemiplegia, alteração visual e sensitiva, afasia, ataxia, rebaixamento do sensório, aneurismas micóticos, cefaleia. • Renal: dor em flanco e hematúria (urinar sangue). • Esplênica/mesentérica: dor abdominal. • Cardíaca: dor típica (angina). • Extremidades: femoral, poplítea, radial, braquial, mais comum por fungos Febre (com ou sem bacteremia) + fator de risco cardíaco + fatores predisponentes = pensar em endocardite! O diagnóstico da endocardite infecciosa passa pela suspeita clínica e investigação laboratorial (hemocultura) e ecocardiograma. ECOCARDIOGRAMA Avaliação diagnóstica e prognóstica. ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO (ETT) • Sensibilidade de 50%. • Método de escolha para o diagnóstico e monitoramento dos pacientes. • Achados diagnósticos: presença de vegetação, abcesso, fístula, pseudoaneurisma, deiscência nova em prótese, nova regurgitação valvar. • Considerar em pacientes de risco com bacteremia por S. aureus. ECOCARDIOGRAMA TRANSESOFÁGICO (ETE) • Sensibilidade de 90%. • Se ETT normal com suspeita clínica. • Avaliação de complicações. • ETE normal, com forte suspeita clínica: repetir após 1 semana. HEMOCULTURA • Obtenção de três pares: cada par conteúdo duas amostras de 10 ml de sangue antes de iniciar a antibioticoterapia. OBS: para pacientes instáveis, não esperar resultado para início de antibioticoterapia. • Cada par deve ser colhido em sítios diferentes (veias periféricas). • Intervalo de 30 minutos entre as coletas dos pares. • Hemocultura positiva: deve-se repetir após 48-72% horas para verificar a eficácia do tratamento. CRITÉRIOS DE DUKE MODIFICADOS São baseados em achados clínicos, ecocardiográficos e biológicos, e, também, em resultados de hemoculturas e sorologias. Para ter o diagnóstico de EI definido, é necessário, dentre os critérios de Duke, dois critérios maiores, ou um maior e três menores, ou cinco menores. Para ter diagnóstico de EI possível, é necessário, dentre os critérios de Duke, um critério maior e um menor, ou três critérios menores. Para ter o diagnóstico de EI rejeitada, é necessário não preencher critérios para possível nem definido. O tratamento da EI é baseada na antibioticoterapia, que deve começar o quanto antes, de forma empírica de acordo com a suspeita do microrganismo assim que for colhido as hemoculturas. Os antibióticos devem ser administrados via intravenosa, com agentes bactericidas e utilizando combinações sinérgicas. Após resultado do antibiograma do germe isolado em cultura, a antibioticoterapia deve ser ajustada para a sensibilidade do patógeno. Normalmente há dificuldade de penetração do antibiótico nas vegetações. Devida a isso, o tempo é mais prolongado, doses mais elevadas e vias mais eficazes (como a endovenosa. Além disso, o tratamento é variado de acordo com o paciente (agudo ou crônico). AGUDA: provavelmente terapia empírica incialmente até o resultado da hemocultura. CRÔNICA: espera-se o resultado da hemocultura. FATORES DETERMINANTES • Tipo de valva acometida (nativa ou protética). • Agente etiológico envolvido. • Evolução (aguda ou subaguda). DURAÇÃO A duração do tratamento vai variar de acordo com o tipo de valva, com duração de 4 semanas se valva nativa e 6 a 8 semanas se prótese valvar. TRATAMENTO CIRÚRGICO O tratamento cirúrgico é indicado em diversas condições e é cogitado em EI graves, prolongas ou com lesões irreversíveis impactantes • Bacteremia persistente: hemoculturas positivas após sete dias de antibioticoterapia. • Insuficiência cardíaca por regurgitação valvar aguda grave. • Infecção não controlada localmente, presença de complicações. • Vegetações > 20 mm em valva tricúspide. • Agentes muito destrutivos ou pouco responsivos ao tratamento (como fungos, S. aureus). DURAÇÃO Indicada somente para pacientes de risco, quando forem submetidos a procedimentos dentários de risco para EI. HEMOCULTURA: • Repetir todo dia até vir estéril. • Repetir depois de 4 a 6 semanas após tratamento. • Contar o tempo de antibiótico a partir da negativação. PACIENTES DE RISCO • Portadores de próteses valvares • Antecedente de endocardite infecciosa • Cardiopatia congênita cianótica não tratada • Pós-cirurgia cardíaca: recomenda-se profilaxia nos primeiros seis meses após o procedimento. PROCEDIMENTOS DE RISCO Procedimentos dentários com manipulação de gengiva ou região periapical. Ou perfuração de mucosa oral.
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