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TCC GESTÃO DE POLITICAS PUBLICAS atualizado 19,03,21

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FACULDADE JARDINS
GESTÃO DAS POLITICAS SOCIAIS
Maria Rozânia Soares Melo de Sá 
GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA: 
A formação dos grupos de vulnerabilidade frente às ações de segurança pública
Bahia
2021
Maria Rozânia Soares Melo de Sá 
GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA: 
A formação dos grupos de vulnerabilidade frente às ações de segurança pública
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade Jardins, como requisito parcial para obtenção do titulo de graduando em GESTÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS
Orientador (a): Douglas de Jesus Nunes
BAHIA
2021
GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA: 
A formação dos grupos de vulnerabilidade frente às ações de segurança pública
RESUMO: 
O estado pacífico nunca acompanhou o ser humano por longos períodos históricos, após o fim dos costumes nômades e o início da formação das primeiras cidades, uma das maiores causas das mortes de pessoas no mundo era por guerras. Porém, atualmente as guerras parecem ser coisa do passado, mas nem por isso a passividade tomou conta da sociedade. Hoje, a violência urbana causa milhares de centenas de mortes e o combate da mesma é pauta para debates sociais e econômicos ao longo dos anos. Os órgãos de segurança pública, principalmente o policiamento, apesar de serem entidades centenárias no mundo Ocidental, não parecem mais estar cumprindo com a função de proteger os cidadãos e o Estado. O objetivo geral do presente trabalho é analisar e apontar quais são os perfis sociais que se encontram dentro de um “grupo de vulnerabilidade” as ações de proteção do Estado e quais são as motivações dessa reação adversa por parte daqueles que deveriam cumprir sua função de proteger a sociedade, como um todo.
Palavras-chave: Segurança pública; Policiamento; Grupos vulneráveis.
PUBLIC SAFETY MANAGEMENT:
The formation of vulnerability groups facing public security actions
ABSTRACT
The peaceful state has never accompanied humans for long historical periods, after the end of nomadic customs and the beginning of the formation of the first cities, one of the major causes of the deaths of people in the world was by wars. But now wars seem to be a thing of the past, but passivity has not taken over society. Today, urban violence causes thousands of hundreds of deaths and combating it is the agenda for social and economic debate over the years. Public security agencies, especially policing, despite being centenary entities in the Western world, no longer seem to be fulfilling their role of protecting citizens and the state. The general objective of the present paper is to analyze and point out which are the social profiles that are within a “vulnerability group” the state protection actions and what are the motivations of this adverse reaction by those who should fulfill their role of protecting society as a whole.
Key-words: Public safety; Policing; Vulnerable groups.
1 INTRODUÇÃO 
As cidades contemporâneas costumam ter como característica uma grande concentração populacional, fato esse que se arrasta desde as primeiras revoluções industriais, onde houve o fenômeno conhecido como êxodo rural. Desde então se sustenta uma ideia de que as cidades são os melhores lugares para se viver devido ao fato de serem tecnológicas, desenvolvidas e concentrarem uma grande quantidade de capital de giro. 
Entretanto, a formação das cidades deu origem a grandes problemáticas que se perpetuam até os dias de hoje. Por muitos anos a divisão de classes era baseada no grupo que compreendia aqueles que eram os donos dos meios de produção e aqueles que se enquadravam como proletariados. Porém, passada a novidade trazida pelas indústrias, antigas divisões sociais voltaram a se perpetuar como as separações de grupos de pessoas de acordo com sua raça, crença, gênero ou orientação sexual. 
Aquelas pessoas que viviam à margem da sociedade, geralmente famílias de ex-escravos, pessoas de baixa renda, moradores de comunidade irregulares, passaram por um processo de criminalização mais intenso. Esse estereótipo segue até os dias de hoje e uma das maiores críticas ao policiamento nacional é o fato de que muitas vezes o criminoso tem cor e endereço. Lança-se então um grande desafio para a gestão de segurança das grandes cidades, achar o equilíbrio entre a segurança pública e a garantia dos direitos humanos para todos os cidadãos. 
O objetivo geral do presente trabalho é analisar a formação do pensamento policial que coloca certos perfis sociais como suspeitos constantes, dando origem aos chamados “grupos vulneráveis”. Já os objetivos específicos consistem em definir o conceito de segurança, discorrer sobre a violência nas grandes cidades, pontuar os malefícios da repressão policial e expor por quem são formados os grupos vulneráveis. 
A presente pesquisa é de natureza descritiva e qualitativa, e consiste em uma revisão literária. Os critérios de exclusão utilizados compreendiam artigos não reconhecidos academicamente, escritos em outros idiomas que não português e inglês, e que tivessem sido publicados a um período superior ao de 20 anos. Já os locais de busca utilizados para a elaboração do presente trabalho foram: plataformas como Scientific Electronic Library Oline (SCIELO), Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Public Medine or Publisher Medine (PUBMED), nos idiomas português e inglês. Os descritores utilizados durante as pesquisas foram: infância, adolescência, fase adulta, sociedade moderna, educação, atividades tecnológicas, modelos de aprendizagem atuais, dentre outros.
2 DESENVOLVIMENTO 
2.1 A influência do ambiente escolar para indivíduos violentos
As políticas educacionais vigentes no país são amparadas pela legislação nacional, chamada de Legislação Educacional. Para compreender melhor esse cenário, é importante compreender que as políticas educacionais são, em sua essência, políticas públicas. 
Como mostra o INEP (2006), as políticas públicas estão diretamente interligadas com as Políticas Sociais. Que possuem como compromisso atender a todas as necessidades da população, através da criação e distribuição de benefícios e programas sociais. Nessa linha de realização, entram as Políticas Educacionais, visto que a educação é um direito básico que deve ser garantido a todo e qualquer cidadão. É importante salientar que a Política Educacional deve ser formulada mediante as necessidades do povo e respeitando sempre as singularidades de cada um. Porém, tais ações nem sempre são usadas como elemento norteador, devido ao fato de a política como um todo ser sempre moldada por meio dos interesses pessoais de quem faz a mesma. 
Em 1932, nascia o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que tinha como objetivo delimitar as missões e metas centrais para a educação do país. Para o contexto da época, tal documento representou grande importância para a luta de uma educação melhor para jovens e crianças, e trouxe à tona também, o ato de formar um novo ser humano da maneira correta. 
Posterior a esse manifesto, foi criada as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que sofreu uma série de alterações em seu conteúdo até resultar no formato que conhecemos hoje. A LDB pode ser compreendida como o conjunto de leis relacionadas à educação nacional em todas as suas fases, desde o maternal até o nível superior. Neste documento se encontram garantidos por lei o direito e o dever a educação para todos os cidadãos maiores de seis anos. Compreendendo assim a educação infantil que vai do zero aos cinco anos, até o ensino superior que tem apenas idade mínima para ingresso. São também separadas pela LDB, as responsabilidades educacionais direcionadas aos municípios, estados e da federação. 
O sucateamento atual da educação é uma realidade devastadora, as políticas educacionais não parecem mais surtir efeito dentro das salas de aulas do Brasil. A chegada da internet, o imediatismo e a desqualificação da figura do professor enquanto um profissional extremamente importante são alguns dos fatores que resultaram na atual situação. Dessaforma se faz necessário que novas formas de ensino e de aprendizagem sejam desenvolvidas e aplicadas para que o ensino básico nacional volte a cumprir o seu verdadeiro papel que é passar os ensinamentos acadêmicos básicos que vão preparar esse jovem para sua vida profissional (FERREIRA, 2009).
A internet está completamente presente em basicamente todas as áreas da sociedade, principalmente no ambiente familiar e entre os jovens. Esse meio já é o lar virtual de quase todos os processos desenvolvidos pelas sociedades, sendo exemplos os processos de comprar, vender, se relacionar, comunicar e até mesmo educar. Principalmente no que se refere ao ensino de alunos que já se encontram na fase adultas, que costumam já trazer em seus currículos bagagens negativas em relação à escola e a educação, modificações nas metodologias de ensino-aprendizagem são fundamentais para o sucesso educacional. 
Como alega Marques (2003), a escola quando utiliza seu plano de ensino tradicional onde o aluno se senta na sala de aula e escuta os professores passarem os conhecimentos, resolve exercícios, faz provas e se forma, já não satisfaz mais os novos alunos que cheguem nessa instituição milenar. É preciso que as escolas acompanhem a modernização pela qual o mundo, de forma geral, está passando. 
O autor alega ainda, que conforme as escolas trazem a tecnologia para as salas de aula, essa se torna uma fiel aliada no processo de ensino. Além de ser um ponto positivo para que o aluno tenha vontade de frequentar a escola, aprenda da melhor forma através de vídeos e outros meios tecnológicos (MARQUES, 2003). 
Delimitando ainda mais o tema, Mortari (2001) nos mostra o quanto essa modernização é importante para o ensino dos adultos. Isso porque os mesmos já costumam carregar uma bagagem negativa em relação à escola e a sua forma tradicional de exercer sua função. Não sendo o principal, mas ainda assim sendo um dos motivos pela qual os jovens abandonam a escola, esse método tradicional é extremamente entediante e intensifica a sensação que fora da mesma, é possível aprender de forma melhor. 
Porém, o ambiente escolar nem sempre possui como característica ser um ambiente pacífico, e muitos motivos podem ser colocados como causadores dessa realidade. As metodologias de ensino tradicionais, que já foram citadas acima, é uma das motivações. Entretanto, a diversidade que se encontra nas salas de aula também pode ser colocada como um agravante para a crescente violência dentro das salas de aula (SPOSITO, 2013). 
Para que se inicie essa discussão de forma consistente é preciso que haja a plena compreensão do conceito de “diversidade”. Para Rodrigues e Cruz (2011) a diversidade é fruto de uma grande quantidade de culturas diferentes que convivem no mesmo espaço físico ou em espaços próximos, se origina dos novos modelos de estado ocidentais que pregam pela liberdade e autonomia individual. A diversidade se manifesta de diversas formas, ela pode se apresentar como diversidade de gênero, sexualidade, nacionalidade, ideologia, crenças, etnias, opiniões e línguas. 
A diversidade social ocorre quando encontramos pessoas completamente diferentes nesses quesitos, ocupando o mesmo espaço físico e manifestando suas singularidades existenciais. Devido a essa definição popularizada, a diversidade é muito associada à imigração. Essa relação não é errada, porém é importante compreender que não é apenas nesse contexto que a diversidade se aplica: as salas de aula também são exemplos claros de diversidade social. 
Assim como o conceito da escola como espaço educacional, a diversidade existe desde a formação das primeiras sociedades, mas o reconhecimento de seu conceito é relativamente recente. A diversidade tem ligação direta com questões culturais, sociais, políticas e econômicas e essa relação se aplica em todos os lugares do mundo. A desigualdade que deriva da diversidade, também é uma realidade mundial, isso porque essas singularidades naturais de cada uma das nações fortalece a ideia de superioridade. Ou seja, acredita-se que certas diferenças fazem com que algumas nações se coloquem como melhores que as demais (SANTANA, 2012).
A diversidade social foi vista por séculos como algo negativo em muitos sentidos, porém as ações educacionais e políticas recentes seguem tentando mudar essa realidade. A ideologia de que as pessoas devem se alterar para se encaixar no padrão social que existe no ambiente onde vivem, vem sendo cada vez mais questionada. A educação com caráter crítico e tolerante, os movimentos sociais e a acessão dos direitos legais para todos os tipos de pessoas reforçam os pontos positivos da diversidade. Como bem coloca Santos (2006), a relação que pode ser construída entre pessoas diferentes traz muitos benefícios para ambas às partes, visto que se caracteriza como uma troca de culturas, aprendizados e experiências. 
Cabe então ao estado, aos educadores e a sociedade de modo geral, incentivar esse convívio pacifico em espaços onde exista diversidade. Sempre prezando pelo respeito, tolerância, compreensão e desconstrução de todo e qualquer preconceito, seja ele por raça, crença, sexualidade, gênero, etnia ou nacionalidade. De forma que os espaços sociais se mantenham saudáveis e propensos ao aprendizado social que pode ser obtido através dessa troca entre pessoas diferentes. 
A vida escolar de um aluno costuma durar mais de uma década, e durante todos esses anos esse indivíduo acumula aprendizados e vivências que formam suas opiniões, crenças, ideologias e preconceitos que o fazem simpatizar com determinadas linhas de pensamento. Segundo Santos (2008), muitos anos se passaram desde que o ambiente escolar era formado por alunos que pertenciam à mesma comunidade. Atualmente, os alunos precisam se deslocar de seus bairros e até mesmo de suas cidades, para ir á escola. A ausência de uma comunidade fixa que seja a origem da maior parte dos alunos faz com que haja a existência de diferentes culturas dentro do ambiente escolar, caracterizando a diversidade dentro das salas de aula. 
As políticas e diretrizes educacionais ainda não se encontram completamente prontas para lidar com essas diferenças culturais, sociais, políticas, econômicas e ideológicas. Mesmo que hajam grandes avanços no que diz respeito a educação inclusiva nas escolas do Brasil, é preciso que os olhares institucionais da educação sejam voltados para a diversidade social dos alunos e não apenas as singularidades biológicas. A escola, na sua qualidade de ambiente formador de novos cidadãos precisa fazer com que o respeito e a tolerância sejam passados como conceitos básicos no ambiente escolar. 
A ideia de que a pluralidade social humana é consolidada apenas na fase adulta é ultrapassada, visto que as crianças e adolescentes do século XXI não se enquadram mais em um molde educacional como o que é proposto ao longo de todos esses anos. Carvalho; Araújo (1998, p. 44) explicam essa realidade de forma consistente: 
[...] a escola precisa abandonar um modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando como iguais os diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no âmbito do trabalho com os conteúdos escolares quanto no das relações interpessoais (CARVALHO; ARAÚJO, 1988. p.44).
O aluno se encontra em formação, e apesar de buscar passar a impressão de que é são decididos quanto suas opiniões e crenças, ainda não possuem maturidade e experiência de vida para compreender a complexidade da existência humana e a pluralidade cultural que pode existir em uma sociedade. O profissional educador, como fonte de conhecimento dentro das salas de aula, deve abordar os temas relacionados à diversidade em busca de fazer com que seus alunos o compreendam. 
O bullying é uma realidade dentro das escolas brasileiras e em casos mais graves pode ocasionar até em ações violentas como agressões físicas e humilhações públicas mais graves, para Sposito (2013) é justamente em situações como essas que o indivíduo violento se solidifica e se mantém como personalidade do cidadão emquestão, caso não haja intervenções necessárias para alterar essa realidade. 
2.2 Segurança pública: definições e aplicações
Segundo Oliveira (2003), a definição mais clara e ampla de segurança consiste em estar livre de preocupações, perigos, incertezas e danos em todos os graus. Porém, para que essa segurança ocorra é preciso que o ambiente e os sujeitos que estão inseridos nele contribuam da melhor forma possível para que essa segurança seja garantida. 
As grandes cidades por si só apresentam grandes dificuldades, isso porque costumam ser ambientes extremamente diversos e complexos. Desde os cidadãos comuns até os governantes, existe nesse caminho uma grande pluralidade de pessoas, ideologias, pensamentos e prioridades. Por isso, é tão difícil fazer com que todos os agentes trabalhem em conjunto para que a segurança exista em todos os setores e seja sólida. 
Além disso, os adventos que ocorreram após a Revolução Industrial e a consolidação do capitalismo fizeram com que as grandes cidades se tornassem apenas centros industriais, onde uma boa parcela da população ia de suas casas para a fabrica e depois faziam o caminho de volta. Sendo assim, a segurança nesses ambientes fica em segundo plano, já que o objetivo central é produzir o máximo possível em curtos períodos de tempo de modo que se maximizem os lucros finais obtidos. Porém, como já citado anteriormente, muitas questões estão envolvidas na obtenção de lucro dessas empresas e o bem-estar do funcionário (cidadão) interfere diretamente nesse lucro final (SOARES, 2006). 
É importante iniciar essa discussão enfatizando que a segurança é um direito garantido a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição Federal de 1988, assim como a saúde, educação, moradia e liberdade. Sendo assim, o Estado é o responsável por assegurar o respeito à dignidade humana e a preservação física de seus cidadãos, independentemente de cor, raça, credo ou classe social. Dessa forma, os maiores órgãos de segurança do país são públicos, ou seja, pagos através de impostos e norteados pelo Estado. 
Existem diversos órgãos públicos que dividem a responsabilidade de promover a segurança da sociedade, segundo o art. 144 da Constituição Federal de 1988 são eles: a polícia federal, polícia rodoviária, polícia ferroviária, policiamento civil, polícia militar e o corpo de bombeiros militar. Apesar de possuírem funções parecidas, tais órgãos se diferem entre si principalmente no que diz respeito ao setor pelo qual são dirigidos. A união mantém a polícia federal, polícia rodoviária, polícia ferroviária. O exército é responsável pela polícia militar e o corpo de bombeiros militar, enquanto polícia civil é de responsabilidade do governo em questão. 
Segundo Soares (2006) unidos, esses órgãos públicos devem proteger a população e manter a ordem pública. A divisão da segurança nacional por setores se deve a necessidade de existir proteção em toda a extensão territorial do país, desde as ruas até as ferrovias. Porém, é sempre importante salientar que essa segurança é direito de todos os cidadãos da mesma forma que todos eles estão passíveis a cometer uma infinidade de crimes e infrações. 
2.3 A violência nas grandes cidades
O Brasil vive em um processo de democracia inacabado, ainda existem muitas lacunas a serem sanadas e muitas frestas a serem fechadas. Segundo Mingardi (2016) as ações realizadas pelas esferas que compreendem a Segurança Pública no Brasil, seguem defendendo o Estado e não a população de modo geral. Essa realidade se apresenta quando paramos para analisar o uso das forças de repressão policial frente ações que vão contra patrimônios públicos ou privados que tenham associação governamental. 
Sendo o Brasil um país democrático é preciso que as forças de segurança pública respeitem os direitos humanos e trabalhem para a garantia da proteção do cidadão, levando em conta que todos são cidadãos perante a lei e devem ter seus direitos fundamentais respeitados e garantidos. Desde a última reforma na Constituição brasileira, muitos aspectos sociais mudaram de forma drástica, dessa forma, as estruturas de segurança pública deveriam ser estudadas de forma crítica e reformuladas de acordo com o perfil comportamental da sociedade atual. 
Para que se entenda a gravidade do problema de segurança pública no Brasil basta analisar o último relatório divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, no ano de 2014: 
“A violência urbana persiste como um dos mais graves problemas sociais no Brasil, totalizando mais de 1 milhão de vítimas fatais nos últimos 24 anos. A taxa de mortes por agressão saltou de 22,2 no ano de 1990 para 28,3 por 100 mil habitantes em 2013, com variações importantes entre diferentes estados. Estudo recente divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostrou que o Brasil possui 2,8% da população mundial, mas acumula 11% dos homicídios de todo o mundo” (UNODC, 2014).
É extremamente preocupante que mesmo após todos os avanços sociais e políticos, o Brasil continua sendo um dos países que mais mata no mundo. Ainda é preciso levar em conta todos os homicídios que são cometidos no país, mas não são denunciados e investigados. É preciso somar ainda, cerca de 130 mil homicídios entre os anos de 1996 e 2010 que não constam nos registros policiais (CERQUIEIRA, 2013).
Quanto aos meios utilizados para a execução de crimes letais, estudos mostram que a maioria esmagadora dos criminosos fazem uso de armas de fogo não legalizadas, em sua maioria, e que entram no país e chegam a suas mãos de forma ilegal e sem conhecimento dos órgãos de segurança responsáveis (IGARAPÉ, 2013).
O problema social que o Brasil vive se caracteriza quando analisamos que economicamente somos um país em desenvolvimento que vem apresentando melhora nos índices que medem a fome, saneamento básico e analfabetismo. Porém, seguimos entre os países mais violentos do mundo devido a gigante ocorrência de crimes letais ou com potencial letal (IBGE, 2014).
A problemática das mortes violentas no Brasil e as forças de Segurança Pública são ainda mais agravados quando analisamos que existe uma relação entre elas. Infelizmente, somos o país que se mantem no topo do ranking de regiões onde a polícia mais mata no mundo (IBGE, 2014). 
Devido a grande concentração populacional, é comum que as grandes cidades apresentem uma maior incidência criminal e seja um desafio infinitamente maior para as forças de Segurança Nacional. Entretanto, o Rio de Janeiro apresenta causas específicas sociais que podem explicar de maneira mais profunda os atos níveis de violência. 
Historicamente o Rio de Janeiro tem uma grande importância nacional, visto que durante um período histórico foi considerado a capital do Brasil. Possuía uma grande concentração de escravos e por isso sofreu grandes transformações sociais com a libertação dos mesmos através da Lei Aurea. Sem ter para onde ir e não querendo seguir trabalhando para seus antigos escravistas, os negros se viram sem opção de moradia, alimentação e trabalho. Deram origem as primeiras favelas e muitas vezes sobreviviam através de ações ilícitas quando eram recusados para todas as oportunidades de emprego. 
Mesmo com o passar dos séculos, ainda é possível sentir os reflexos dessa realidade no país e principalmente no Rio de Janeiro. As comunidades são extremamente marginalizadas e mal vistas e concentram uma grande parte do crime organizado e o tráfico de drogas. Uma grande parte dessa população ainda pode ser considerada negra, e sofrem preconceitos por sua raça e por sua classe social. As forças policiais chegam a essas pessoas de forma muito mais forte e intensa, causando milhares de mortes ao longo da história. 
É importante pontuar que apesar de a população desejar que os criminosos sejam devidamente punidos e que a segurança volte a ser constante nas ruas, a repressão policial, agressões físicas, verbais e até mesmo as mortes, não são aprovadas por uma grande parcela da sociedade. Tal fato se justifica quando analisamos a incidênciade inocentes que passam por essas situações ou até perdem suas vidas ao serem “confundidos” com criminosos perigosos. 
2.4 Repressão policial
Diferentemente da Europa, o Brasil nunca foi um país conhecido por grandes revoltas populares que marcaram eras e se tornaram um divisor de águas histórico. Durante toda a formação do espaço público das cidades se mantinha o sistema ditado pelas indústrias, e nada muito diferente do mesmo ciclo de vida para os proletariados e aqueles que eram os donos dos meios de produção. 
Entretanto, após os avanços e retrocessos da política brasileira e a gestão do Estado frente seus cidadãos, nos deparamos com a maior revolta do Brasil democrático e moderno. Um aumento nas tarifas de ônibus fez com que as maiores capitais do país fossem palco de uma dura batalha entre milhares de jovens e as forças da polícia militar que não economizou violência para executar a repressão. 
É preciso que analisemos todo o contexto para entendermos como a tentativa de manter a segurança pública, se tornou um grande erro para o governo. Em julho de 2013 a organização chamada de “Movimento Passe Livre” sai às ruas para protestar pelo direito a passe livre, esse movimento inicial contou com cerca de 5 mil pessoas apenas na avenida paulista – centro financeiro de São Paulo. Atos de vandalismo a propriedades privadas e ônibus públicos foram cometidos e a polícia militar foi acionada. Em uma tentativa desesperada de acabar com os protestos através do medo, a violência marcou aquele dia e deixou centenas de feridos. 
As ações da polícia militar repercutiram no mundo todo, vários jornais extremamente famosos e órgãos internacionais de proteção aos direitos humanos soltaram notas de reprovação a ação da polícia brasileira. Se naquele dia haviam 5 mil protestantes na avenida paulista, no dia seguinte haviam mais de 65 mil pessoas protestando não somente pelas passagens, mas sim pelo fim das ações represarias da polícia militar. Ao todo, segundo pesquisas realizadas pela Folha de São Paulo, movimentos de 27 países diferentes organizaram ondas de apoio aos manifestantes brasileiros e mandaram até mesmo representantes para o país. 
Todos esses acontecimentos, quando analisados de forma crítica, se mostram como um excelente exemplo do que acontece quando as forças de segurança pública não respeitam os direitos humanos ou usam de força bruta para resolver problemas de natureza social. Sempre houve críticas ao sistema de policiamento nacional, porém as revoltas de 2013 escancararam o despreparo dos policiais no trato com a população, principalmente a não criminosa. 
Surge então o questionamento centenário que todos já escutamos: segurança pública para que povo? As agressões realizadas todos os dias em simples abordagens policiais ou até mesmo no atendimento de um chamado, garantem a segurança de qual povo? Ser agredido pelas forças policiais não seria uma insegurança? Todas essas questões motivam o desgosto de boa parte da população para com a segurança pública nacional, e não ajuda em nada no contexto social atual. 
É preciso que as ações policiais e as medidas de segurança pública sejam revistas e reformuladas da forma que utilizem as forças necessárias para cada caso em específico. Sempre levando em conta que todos os envolvidos na sociedade são considerados pela Constituição Federal de 1988 como cidadãos e devem ter seus direitos respeitados. Sem distinção de cor, raça, classe social, gênero, crenças ou orientação sexual. O caminho está em investir cada vez mais em medidas preventivas e não em medidas repressivas. 
2.5 A segurança pública frente os grupos vulneráveis 
A violência no Brasil parece ter idade, cor e endereço. Isso porque a maioria esmagadora das atividades criminosas é realizada por jovens com idades entre 15 e 25 anos, da mesma forma que a maioria das vítimas de crimes violentos estão na mesma faixa etária de idade. A população negra também é a que mais sofre com a violência urbana, resultando e um cenário onde a maioria das vítimas de homicídio são jovens negros. 
As concentrações de atividades violentas fazem mal a todos os aspectos imagináveis, para os moradores que perdem o direito de ir e vir, para o policiamento que não pode se concentrar apenas em um lugar e por isso é muito criticado e também para a economia local, visto que as pessoas não desejam visitar e passear em lugares tomados pela violência. 
Como bem apresentam Monteiro e Rocha (2010) às incidências criminais são levadas em conta quando as pessoas estão escolhendo o destino da próxima viagem. As organizações de traficantes de entorpecentes e de armas são os maiores responsáveis pela falência dos comércios nos arredores de onde realizam suas atividades ilícitas. 
Indo além nessa análise, podemos levar em conta o grande problema econômico causado pela superlotação no sistema carcerário nacional. Até o ano de 2017 o Brasil contava com 711 mil presidiários inseridos em seu sistema carcerário, o custo total da estádia desses presos chegou a 20 bilhões de reais (EBC, 2018). 
Seguindo essa mesma linha de análise, devemos enfatizar que a superlotação não permite que todos os direitos humanos dos presos sejam respeitados, visto que as cadeias brasileiras são conhecidas pela falta de estrutura e do atendimento das necessidades básicas de um ser humano. 
Segundo Monteiro (2013) dois terços da população carcerária do Brasil é composta por negros, ou seja, 72% dos presos brasileiros são negros. Em contrapartida, 71% das vítimas de homicídios anualmente no Brasil também são negras. Tais dados nos levam a uma constatação confusa o ponto de vista lógico: o perfil de quem mata no Brasil costuma ser o mesmo para a polícia: homens, negros, periféricos e com até 29 anos de idade. Porém, esse é exatamente o perfil de quem também mais morre em território nacional. 
A justificativa encontrada pelos órgãos de segurança pública para esses dados se resume nas guerras de facção e as ações violentas cometidas pelo tráfico. Ou seja, a maior parte dos envolvidos nessas organizações criminosas são negros e periféricos, devido a isso costumam ser os que mais morrem e também os que mais matam no Brasil (MONTEIRO, 2013). 
Para Rodrigues (2008) essa realidade vai muito além da raça encontrada com maior incidência nas facções criminosas, isso porque possui origens muito mais antigas e completamente estruturais. Há centenas de anos o negro é a classe conhecida pela ausência de opção de escolha, para que se comprove tal afirmativa é preciso voltar ao início do período de escravidão na Europa. Os negros eram raptados, vendidos, transportados e condenados a trabalhar para nobres e cidadãos livres. Passado esse período, o escravo se viu sem fonte de renda, moradia, ou alimentação, precisando partir para ações ilícitas para se manter. 
Muitos anos se passaram e o negro continua carregando o estereótipo enraizado na sociedade em que vive: negros são criminosos em potencial. Obviamente, a sociedade moderna já apresenta grande evolução no que se refere ao racismo e aos preconceitos de classe, porém tal evolução não é suficiente para que haja igualdade de direitos. Em 2017, o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou dados referentes às mortes causadas pela violência policial no país. Ao todo foram 5.896 mortos, sendo 3.000 considerados negros e 963 de brancos. Isso significa que ano de 2017, a polícia perseguiu e matou o triplo de negros. 
Esse mesmo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ainda no ano de 2017, fez a divulgação dos policiais mortos em serviço que totalizam 573 servidores. Ironicamente, a maioria deles (223) eram negros. Tal fato derruba a ideia de que os negros morrem mais por serem os maiores envolvidos em facções criminosas, visto que os policiais estão no exato contrário do crime. 
O grupo de vulnerabilidade das ações policiais é formado por esse mesmo estereótipo social: negros, jovens e periféricos. Todas as ações executadas pelos órgãos públicos de segurança, desde a abordagem de precaução até o julgamentoe o sentenciamento, é diferente e muito mais intenso para quem se enquadra nos três requisitos supracitados.
3 CONCLUSÃO 
A formação do indivíduo compreende as etapas que irão definir como será a sua personalidade e os comportamentos frente às interações como o meio e com as pessoas de modo geral, por isso, quando analisamos a violência e as ações de segurança pública é preciso que se destaque como se constrói um indivíduo violento e suscetível a ações violentas e criminosas. 
Mediante os estudos realizados para que fosse viabilizada a produção desse trabalho, podemos perceber o quanto a segurança pública tem suas problemáticas associadas aos problemas sociais enfrentados no Brasil. A marginalização determinados grupos da sociedade, a falta de educação e assistência governamental básica contribuem para o aumento das taxas de criminalidade e colocam o Brasil como um dos países mais violentos do mundo. 
É preciso que aja um estudo crítico da situação nacional e se formulem reformas efetivas na estrutura que rege as forças de segurança pública para que se passe a defender a população e não o Estado. Sempre levando em conta a cidadania alheia e os direitos humanos que são garantidos a todos. 
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