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INTRODUÇÃO A pedra angular da medicina ainda é o exame clínico (anamnese e exame físico), e nunca será demais ressaltar sua importância. A experiência tem mostrado que os recursos tecnológicos disponíveis só são aplicados em sua plenitude e com o máximo proveito quando se parte de um exame clínico bem- feito. • foi por intermédio de Hipócrates que a anamnese foi estabelecida na estrutura do exame clínico. Sem dúvida, a medicina moderna apoia-se em um tripé formado pelo exame clínico, pelo laboratório e pelos métodos de imagem; porém, o pé principal continua sendo o exame clínico. Talvez, possamos até dizer que o laboratório e os métodos de imagem são o apoio mais forte, mas aquele que confere o equilíbrio à estrutura – e, portanto, o principal- é o exame clínico. Uma das características fundamentais do método clínico é sua flexibilidade, ou seja, é possível adaptá-lo às mais diversas situações que ocorrem na assistência à saúdes sem que se perca sua capacidade básica: identificar doenças e conhecer os pacientes. • No exame clínico, e somente nele, estes dois lados andam juntos (a técnica científica e a arte), um penetrando no território do outro, intercomunicando--se, completando--se, influenciando--se mutuamente, entrelaçando o lado lógico e racional com o intuitivo e subjetivo. • É justamente esta característica do método clínico – sua flexibilidade, às vezes considerada sua parte mais frágil pelos que pouco conhecem deste método – que permite essa fusão, fazendo com que a arte e a ciência médicas se harmonizem e se completem. • E o que tem a ver com tudo isso o exame clínico? Ele é, simplesmente, o traço de união, o elo de ligação entre a arte e a ciência médica; ou melhor, é no exame clínico que se pode fazer a fusão da ciência e da arte; e isso se dá de muitas maneiras. • A conclusão é simples: medicina de excelência só é possível se o exame clínico for excelente PRIMEIROS CONTATOS COM O PACIENTE • Além da medicina baseada em evidências, há o outro lado da prática médica, que reúne intuição, bom- senso, reconhecimento das necessidades pessoais, culturais e sociais do paciente, adequada relação médico- paciente e formação humanística, também deve ser parte integrante da formação do médico, configurando a medicina baseada na vivência. RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE ´´ Quando um médico entra em contato com um doente, convém estar atento ao modo como se comporta; deve estar bem -vestido, ter uma fisionomia tranquila, dar toda a atenção ao paciente, não perder a paciência e ficar calmo diante de dificuldades. É um ponto importante para o médico ter uma aparência agradável, porque aquele que não cuida do próprio corpo não está em condições de se preocupar com os outros. Deve, ainda, saber calar--se no momento oportuno e mostrar-se gentil e tolerante; não deve agir de modo impulsivo ou precipitado; nunca deve estar de mau humor nem mostrar--se demasiadamente alegre``. Hipócrates A aprendizagem verdadeira do método clínico é indissociável da aprendizagem da relação médico-- paciente. DIAGNÓSTICO, TERAPÊUTICA E PROGNÓSTICO • Sintoma é uma sensação subjetiva anormal sentida pelo paciente e não visualizada pelo examinador (p. ex., dor, má digestão, tontura, náuseas). • Sinal é um dado objetivo que pode ser notado pelo examinador mediante inspeção, palpação, percussão, ausculta ou evidenciado por meios subsidiários (p. ex., tosse, vômito, edema, cianose, presença de sangue na urina) Nem sempre é possível fazer distinção absoluta entre sintoma e sinal, porque alguns, tais como dispneia, vertigens e outros tantos, são sensações subjetivas para o paciente, mas ao mesmo tempo podem ser constatados objetivamente pelo examinador. Talvez, por isso, no linguajar médico, os termos sinal e sintoma sejam usados praticamente como sinônimos. • Síndrome é o conjunto de sintomas e/ou sinais que ocorrem associadamente e que podem ser determinados por diferentes causas. • Entidade clínica significa uma doença cuja história está reconhecida no todo ou em parte e cujas características lhe dão individualidade nosológica. • História natural de uma doença é um conjunto de elementos que se vão acumulando com a evolução do processo mórbido. O diagnóstico que fazemos em um dado momento representa apenas um corte transversal na história natural de uma enfermidade. Tipos de diagnóstico Não existem fronteiras bem definidas entre os vários tipos de diagnóstico: anatômico, funcional, sindrômico, clínico e etiológico. Assim, frequentemente um diagnóstico sindrômico poderá ser, também, anatômico ou funcional, ou os dois ao mesmo tempo. • Diagnóstico anatômico é o reconhecimento de uma alteração morfológica (p. ex., hepatomegalia, megaesôfago, estenose mitral etc.). • Diagnóstico funcional é a constatação de distúrbio da função de um órgão (p. ex., extrassistolia, insuficiência renal, insuficiência cardíaca etc.). • Diagnóstico sindrômico é o reconhecimento de uma síndrome • Diagnóstico clínico é o reconhecimento de uma entidade nosológica caracterizada por sua expressão mais importante. • Diagnóstico etiológico é o reconhecimento do agente causal de uma alteração mórbida. RACIOCÍNIO DIAGNÓSTICO A elaboração de um diagnóstico é um processo intelectual bastante complexo, realmente difícil de ser decomposto em suas várias partes. Pontos importantes: Terapêutica ou tratamento são todas as medidas usadas com a intenção de beneficiar o paciente PROGNÓSTICO é tentar prever o que vai acontecer no futuro do paciente em função da enfermidade que o acometeu. • A elaboração de prognóstico depende fundamentalmente do conhecimento da história natural de uma doença e da possibilidade de modificá--la por qualquer tipo de intervenção terapêutica. • Classicamente, é considerado quanto à vida e quanto à validez. MÉTODO CLÍNICO O exame clínico tem papel especial em três pontos cruciais da prática médica: • Estabelecer uma boa relação médico--paciente • Formular hipóteses diagnósticas (raciocínio clínico) • Tomar decisões. Bases do exame clínico/método clínico: • anamnese • exame físico (inspeção, ausculta, palpação, percussão e uso de alguns instrumentos e aparelhos simples) Ter consciência de que o mundo do paciente, incluindo tantos aspectos que o médico desconhece, pode ser tão diferente do dele que só será possível levar adiante a elaboração da anamnese se ele souber usar a principal qualidade do método clínico, sua flexibilidade. Portanto, ao estudar as técnicas da entrevista, nunca se esqueça: a melhor “técnica” é a que permite estabelecer uma verdadeira comunicação com o paciente. ANAMNESE/ENTREVISTA (ou histórico de saúde) Anamnese (aná = trazer de novo e mnesis = memória) significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e a pessoa doente. • a anamnese é uma entrevista, e o instrumento de que nos valemos é a palavra falada • Fazer anamnese é conversar com o paciente, contudo o diálogo entre o médico e o paciente tem objetivo e finalidade preestabelecidos, ou seja, a reconstituição dos fatos e dos acontecimentos direta ou indiretamente relacionados com uma situação anormal da vida do paciente. • É um processo social de interação entre o médico e o paciente (ou seu acompanhante) diante de uma situação que envolve um problema de saúde • A anamnese coleta dados ´´subjetivos``, o que a pessoa diz sobre si mesma. Essa é a primeira e a melhor chance que a pessoa tem de lhe dizer como ela percebe estar o seu estado de saúde. De início, deve--se ressaltar que a anamnese é a parte mais importante da medicina: 1. primeiro, porque é o núcleo em torno do qual se desenvolve a relação médico--paciente, que, por sua vez, é o principal pilar do trabalho do médico; 2. segundo, porque é neste momento que os princípios éticos passam de conceitos abstratos para o mundo real do paciente, consubstanciadosem ações e atitudes; 3. terceiro, porque é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico somente é bem utilizado se o lado humano da medicina é preservado. A anamnese, se bem feita, acompanha--se de decisões diagnósticas e terapêuticas corretas; se mal feita, em contrapartida, desencadeia uma série de consequências negativas, as quais não podem ser compensadas com a realização de exames complementares, por mais sofisticados que sejam Já se pode afirmar que uma das principais causas da perda de qualidade do trabalho médico é justamente a redução do tempo dedicado à anamnese. A anamnese pode ser conduzida das seguintes maneiras: 1. Deixar que o paciente relate livre e espontaneamente suas queixas sem nenhuma interferência do médico, que se limita a ouvi--lo. 2. Conduzir a entrevista de maneira mais objetiva, técnica denominada anamnese dirigida, tendo em mente um esquema básico. O uso dessa técnica exige rigor técnico e cuidado na sua execução, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas 3. Deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo Qualquer que seja a técnica empregada, os dados coletados devem ser elaborados. A história clínica não é, portanto, o simples registro de uma conversa. É mais do que isso: é o resultado de uma conversação com um objetivo explícito, conduzida pelo examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. Problemas: • Pressa • espírito preconcebido, muitas vezes essa preconcepção é inconsciente, originada de um especial interesse por determinada enfermidade. • Falta de conhecimento técnico (Quando não se conhece um fenômeno, não se sabe que meios e modos serão mais úteis para que seja detectado e entendido) 10 MANDAMENTOS DA ANAMNESE ABRANGÊNCIA DA AVALIAÇÃO ELEMENTOS COMPONENTES DA ANAMNESE A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes: Identificação • Dados de identificação – idade, sexo, profissão, estado civil, naturalidade (onde nasceu), Residência, procedência, etnia/cor. • Fonte da anamnese – geralmente, o paciente, mas pode ser um familiar ou um amigo, um encaminhamento ou o prontuário do paciente • Confiabilidade- Varia segundo a memória, a confiança e o humor do paciente Queixa ou queixas principais • É o motivo da consulta. Sintomas ou problemas que motivaram o paciente a procurar atendimento médico história da doença atual (HDA) Registro cronológico e detalhado do problema atual do paciente • Expande as queixas principais; descreve como surgiu cada sintoma • Inclui ideias e sentimentos do paciente sobre a doença incorpora dados relevantes da revisão de sistemas • Pode incluir medicação, alergias, tabagismo e etilismo, que, com frequência, são pertinentes para a doença atual Interrogatório sintomatológico (IS) • Documenta a existência ou não de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas de órgãos • Avaliação dos sintomas de cada sistema corporal; permite complementar a HDA e avaliar práticas de promoção à saúde Antecedentes pessoais e familiares • Avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo saúde-doença Hábitos de vida (HV) Documentar hábitos e estilo devida do paciente, incluindo ingesta alimentar diária e usual, prática de exercícios, história ocupacional, uso de tabaco, consumo de bebidas alcoólicas e utilização de outras substâncias e drogas ilícitas Condições socioeconômicas e culturais • Avaliaras condições de habitação do paciente, além de vínculos afetivos familiares, condições Financeiras, atividades de lazer, filiação religiosa e crenças espirituais, bem como a escolaridade. Quando o profissional de saúde conversa com o paciente, o relato raramente segue esse formato. A entrevista é muito mais fluida; você deve acompanhar atentamente os indícios fornecidos pelo paciente para orientar a narrativa sobre a doença dele, criar uma atmosfera de empatia e fortalecer o relacionamento. Rapidamente, você aprenderá onde encaixar os diferentes aspectos do relato do paciente no modelo mais formal de registro de apresentação oral ou escrita. Dessa maneira, você conseguirá transformar a linguagem e a história dele nos componentes da anamnese. DETALHAMENTO DA ANAMNESE Data e horário da anamnese. A data é sempre importante. Não se esqueça de registrar o horário da avaliação do paciente, principalmente em situações de urgência, emergência ou internação hospitalar. Dados de identificação. Incluem: nome, idade, sexo, cor/etnia, estado civil, profissão, local de trabalho, naturalidade (onde nasceu), Procedência (residência anterior), Residência (residência atual), nome de mãe, nome do responsável cuidador e/ou acompanhante, religião, Filiação a órgãos/instituições previdenciárias e planos de saúde Confiabilidade. Registre essa informação, caso seja relevante. QUEIXA PRINCIPAL (QP) É uma afirmação breve e espontânea, geralmente um sinal ou um sintoma, nas próprias palavras da pessoa, que é o motivo da consulta. Geralmente, é uma anotação entre aspas para indicar que se trata das palavras exatas do paciente. (Sempre, se possível, utilize as palavras do paciente). • Por exemplo: “Meu estômago dói, e me sinto muito mal.” • Se os pacientes não tiverem queixas específicas, relate o motivo da visita, como: “Vim para fazer meu check-up de rotina” ou “Fui internado para fazer uma avaliação detalhada do meu coração”. • Não aceitar, tanto quanto possível, “rótulos diagnósticos” referidos à guisa de queixa principal. Assim, se o paciente disser que seu problema é “pressão alta” ou “menopausa”, procurar-se--á esclarecer e esmiuçar (na HDA) os sintomas que ficaram subentendidos sob esses termos/rótulos. • Às vezes, uma pessoa pode enumerar “vários motivos” para procurar assistência médica. Para se obter a queixa principal, nesse caso, deve--se perguntar o que a levou a procurar atendimento médico ou o que mais a incomoda no momento. HDA É uma descrição completa, clara e cronológica do motivo que levou o paciente a procurar assistência médica, incluindo o início do problema, o cenário em que se desenvolveu, suas manifestações e os tratamentos até a presente data. • é a parte principal da anamnese e costuma ser a chave mestra para chegar ao diagnóstico Sintoma-guia o sintoma ou sinal que permite recompor a HDA com mais facilidade e precisão. • Contudo, isso não significa que haja sempre um único e constante sintoma--guia para cada enfermidade • não existe uma regra fixa para determinar o sintoma--guia. • Como orientação geral, deve escolher como sintoma--guia a queixa de mais longa duração, o sintoma mais salientado pelo paciente ou tomar como sintoma-guia a “queixa principal”. • O passo seguinte é determinar a época em que teve início aquele sintoma. A pergunta padrão pode ser: “Quando o senhor começou a sentir isso?” • O terceiro passo consiste em investigar a maneira como evoluiu o sintoma. Muitas perguntas devem ser feitas, e cada sintoma tem características semiológicas próprias. Constrói--se uma história clínica com base no modo como evoluem os sintomas. Ao mesmo tempo, o examinador estabelece as correlações e as interrelações com outras queixas. • A análise do sintoma--guia e dos outros sintomas termina com a obtenção de informações sobre como eles estão no presente momento A meta almejada é obter uma história que tenha início, meio e fim. Ademais, cada história clínica tem um fio condutor/espinha dorsal (sintoma-guia), enquanto os outros sintomas se articulam com ele para formar um conjunto compreensível e lógico. Esta é a base do raciocínio clínico. Cada sintoma principal deve ser bem caracterizado e deve incluir os sete atributos de um sintoma:1. Início 2. Características do sintoma (localização, irradiação, duração/frequência, intensidade, qualidade/caráter) 3. fatores de melhora ou piora 4. Relação com outras queixas/manifestações concomitantes 5. Evolução 6. Situação atual. Os pacientes apresentam, com frequência, mais de uma queixa ou sintoma. Cada um deles merece um parágrafo, bem como uma descrição completa. Você pode fazer um resumo da HDA Interrogatório sintomatológico (IS)/ anamnese especial / revisão dos sistemas complemento da HDA e documenta a presença ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. • A ausência também deve ser anotada no prontuário. Uma HDA bem feita deixa pouca coisa para o IS, que é, entretanto, elemento indispensável no conjunto do exame clínico. Pode--se dizer mesmo que este só estará concluído quando um interrogatório sintomatológico, abrangendo todos os sistemas do organismo, tiver sido adequada e corretamente executado. A principal utilidade prática do IS reside no fato de permitir levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. • Por exemplo: o relato de um paciente conduziu ao diagnóstico de úlcera péptica e, no IS, houve referência a edema dos membros inferiores. Esse sintoma pode despertar uma nova hipótese diagnóstica que vai culminar, por exemplo, no encontro de uma cirrose. Em outras ocasiões, é no IS que se origina a suspeita diagnóstica mais importante. • Por exemplo: paciente relata impotência sexual. Ao ser feita a revisão dos sistemas, vieram à tona os sintomas polidipsia, poliúria e emagrecimento, queixas às quais o paciente não havia dado a menor importância. No entanto, a partir delas o médico levantou a suspeita da enfermidade principal daquele paciente – o diabetes melito Além disso, é comum o paciente não relatar um ou outro sintoma (principalmente, em áreas sem relação com a HDA) durante a elaboração da HDA. Tais omissões não querem dizer, necessariamente, que tudo foi informado. Simples esquecimento ou medo inconsciente de determinados diagnósticos podem levar o paciente a não se referir a padecimentos de valor crucial para chegar a um diagnóstico. No IS aproveita-se para promover saúde, orientando e esclarecendo o paciente sobre maneiras de prevenir doenças e evitar riscos à saúde Muitas vezes, o adoecimento de um sistema corporal tem correlação com outro sistema, e há necessidade de tal conhecimento para adequar a proposta terapêutica. Um exemplo é a hipertensão arterial, em que pode existir comprometimento dos sistemas cardiovascular, renal, nervoso e endócrino. COMO FAZER O IS: Explique ao paciente que você irá fazer questionamentos sobre todos os sistemas corporais (revisão “da cabeça aos pés”), mesmo não tendo relação com o sistema que o motivou a procurá-lo. Questões objetivas (“sim ou não”) devem ser feitas no fim da entrevista. Pense em fazer uma série de perguntas sobre todo o corpo. • Sintomas gerais (febre, astenia, fadiga , alterações de peso, cãibras, sudorese, calafrios) • Pele e fâneros • Cabeça e pescoço • Tórax • Abdome • Sistema geniturinário • Sistema hemolinfopoético • Sistema endócrino • Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades • Músculos • Artérias, veias, linfáticos e microcirculação • Sistema nervoso • Exame psíquico e avaliação das condições emocionais. Inicie a avaliação de cada sistema corporal com essas perguntas gerais. A resposta permitirá que você, se necessário, passe para perguntas mais específicas, e, assim, detalhe a queixa (a simples citação de uma queixa tem algum valor; porém, muito mais útil é o registro das suas características semiológicas fundamentais) • “Como estão suas orelhas e audição?” “E os pulmões e a respiração?” “Tem algum problema cardíaco?” “Como anda a digestão?” “E o intestino?”. • A necessidade de perguntas adicionais variará segundo a idade, as queixas, o estado geral do paciente e o seu julgamento clínico Os eventos de saúde importantes descobertos devem ser registrados na HDA Antecedentes pessoais e familiares Considera--se avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo saúde--doença. • A investigação dos antecedentes não pode ser esquematizada rigidamente. Os antecedentes pessoais dividem-se em antecedentes fisiológicos e antecedentes patológicos: Antecedentes fisiológicos inclui os seguintes itens: gestação e nascimento, desenvolvimento psicomotor e neural e desenvolvimento sexual. *Se ele relata que a mãe falava que ele demorou a escrever, ler ou andar pode ajudar, mesmo que não lembre datas exatas Antecedentes pessoais patológicos • Doenças sofridas pelo paciente na infância • Doenças sofridas na vida adulta (de origem clínica, cirúrgica, obstétrica e psiquiátrica) • Alergias • Cirurgias: anotam--se as intervenções cirúrgicas ou outros tipos de intervenção referindo--se os motivos que a determinaram. Havendo possibilidade, registrar a data, o tipo de cirurgia, o diagnóstico que a justificou e o nome do hospital onde foi realizada • Internações (quando, por quanto tempo, por qual motivo, etc.) • Traumatismo: é necessário indagar sobre o acidente em si e sobre as consequências deste • Transfusões sanguíneas (não é doar, mas receber): anotar número de transfusões, quando ocorreu, onde e por quê • História obstétrica: anotar número de gestações (G); número de partos (P); número de abortos (A); número de prematuros e número de cesarianas (C) (G – P – A – C) • Paternidade: paciente do sexo masculino, questionar número de filhos, enfatizando--se a importância da paternidade. • Imunizações: anotar as vacinas (qual; época da aplicação/doses) • Medicamentos em uso: anotar: qual, posologia, motivo, quanto tempo toma, quem prescreveu. Antecedentes familiares • Os antecedentes começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se for casado, inclui--se o cônjuge e, se tiver filhos, estes são referidos. • Não se esquecer dos avós, tios e primos paternos e maternos do paciente. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade. • Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em que ocorreu • Foco em: enxaqueca, diabetes, tuberculose, hipertensão arterial, câncer, doenças alérgicas, doença arterial coronariana (infarto agudo do miocárdio, angina de peito), acidente vascular cerebral, dislipidemias, úlcera péptica, colelitíase e varizes, que são as doenças com caráter familiar mais comuns. • Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário (hemofilia, anemia falciforme, rins policísticos, erros metabólicos), torna--se imprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso e, nesse caso, recorre--se às técnicas de investigação genética. OBS: Lembre-se também de relacionar com a queixa do paciente.(Alguém na sua casa já apresentou um quadro igual ao da QP?) Hábitos e estilo de vida • Alimentação (Induz--se o paciente a discriminar sua alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidade dos alimentos ingeridos) • Ocupação atual e Ocupações anteriores (história ocupacional) • Atividades físicas (tipo, duração, frequência e tempo que pratica) • Hábitos (uso de tabaco, bebidas alcoólicas, anabolizantes e anfetaminas, e drogas ilícitas) Condições socioeconômicas e culturais avaliam a situação financeira, vínculos afetivos familiares, filiação religiosa e crenças espirituais do paciente, bem como condições de moradia e grau de escolaridade. Habitação • Na zona rural, pela sua precariedade, as casas comportam--se como abrigos ideais para numerosos reservatórios e transmissores de doenças infecciosas e parasitárias. • as favelas e asáreas de invasão propiciam o surgimento de doenças infectoparasitárias devido à ausência de saneamento básico, proximidade de rios poluídos, ineficácia na coleta de lixo e confinamento de várias pessoas em pequenos cômodos habitacionais • casas ou apartamentos de alto luxo podem manter, por exemplo, em suas piscinas e jardins, criadouros do mosquito Aedes aegypti, dificultando o controle da dengue • é importante questionar sobre as condições de moradia: se mora em casa ou apartamento; se a casa é feita de alvenaria ou não; qual a quantidade de cômodos; se conta com saneamento básico (água tratada e rede de esgoto), com coleta regular de lixo; se abriga animais domésticos, entre outros Condições socioeconômicas • Os primeiros elementos estão contidos na própria identificação do paciente; outros são coletados no decorrer da anamnese. • Se houver necessidade de mais informações, indagar--se--á sobre rendimento mensal, situação profissional, se há dependência econômica de parentes ou instituição • Todo médico precisa conhecer as possibilidades econômicas de seu paciente, principalmente sua capacidade financeira para comprar medicamentos. É obrigação do médico compatibilizar sua prescrição aos rendimentos do paciente • Uma das mais frequentes causas de abandono do tratamento é a incapacidade de adquirir remédios ou alimentos especiais Condições culturais É importante destacar que as condições culturais não se restringem ao grau de escolaridade, mas abrangem a religiosidade, as tradições, as crenças, os mitos, a medicina popular, os comportamentos e hábitos alimentares. • Quanto à escolaridade, é importante saber se o paciente é analfabeto ou alfabetizado. • Vale ressaltar se o paciente completou o ensino fundamental, o ensino médio ou se tem nível superior (graduação e pós-graduação). Vida conjugal e relacionamento familiar Investiga--se o relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos e entre cônjuges. ANAMNESE/ENTREVISTA HABILIDOSA A entrevista habilidosa é centrada no paciente e no médico, ou seja, seguir a liderança do paciente para mais bem compreender seus pensamentos, ideias e preocupações e solicitações sem acrescentar informações adicionais da perspectiva clínica. • Isso significa a compreensão do indivíduo em seu todo e não somente a atenção sobre a queixa principal ou a hipótese diagnóstica. Sobre o indivíduo é importante considerar sua inserção familiar e social, sua história de vida e como o problema de saúde atual está interferindo no convívio familiar e social. • Essa abordagem auxilia a boa relação profissional da saúde/paciente e melhora a adesão às prescrições e orientações, bem como no estabelecimento de uma relação de maior confiança e credibilidade • Além disso, reconhecem a importância das expressões dos pacientes de preocupações, sentimentos e emoções pessoais e evocam o contexto pessoal dos sintomas e doenças do paciente. • Em contrapartida, por meio da abordagem mais focada nos sintomas e centrada no médico, este direciona a intervenção com o propósito de adquirir informações sobre sintomas e outros dados que ajudam a identificar determinada doença. • A articulação do foco no paciente e na doença é o modelo ideal. Escute seu paciente. Ele está dando o diagnóstico a você. ELEMENTOS ESSENCIAIS DA ENTREVISTA HABILIDOSA A anamnese se inicia com perguntas do tipo: “O que o(a) senhor(a) está sentindo?”, “Qual é o seu problema? ``, ´´ o que aconteceu com você?” • Isso não é tão fácil quanto parece, não basta pedir ao paciente que relate sua história e anotá-la. Muitos pacientes têm dificuldade para falar e precisam de incentivo; outros – e isto é mais frequente – têm mais interesse em narrar as circunstâncias e os acontecimentos paralelos do que relatar seus padecimentos escuta ativa e atenta: • Escuta ativa significa ouvir atentamente aquilo que o paciente está comunicando (verbalmente ou não) e empregar habilidades verbais e não verbais para encorajá-lo a continuar falando desses sentimentos ou problemas. Isso te fará perceber sutilizas que uma atenção frouxa não perceberia. Silêncio: • há momentos da entrevista em que o examinador deve permanecer calado, mesmo que pareça ter perdido o controle da conversa. Para o paciente loquaz não é uma boa técnica, porque esse tipo de pessoa passa de um tema para outro com muita facilidade e a entrevista perde a objetividade. • O entrevistador deve utilizar o silêncio quando o paciente se emociona. É inadequado dizer ao paciente que não chore ou que se controle. Entregar ao paciente uma caixa de lenços de papel naquele momento é uma atitude de apoio e compreensão Respostas empáticas (empatia é saber que os calçados do outro poderia ser o seus) Quando são percebidos sentimentos expressados a partir da face, da voz, do comportamento ou das palavras, podem ser feitas as seguintes perguntas gentis: “Como você se sente a respeito disso?” ou “Isso parece perturbá-lo; deseja conversar a respeito?”. • Uma resposta empática reconhece um sentimento, expressando-o por meio de palavras. Ela identifica o sentimento e permite sua expressão. Quando você utiliza uma resposta empática, o paciente sente-se aceito e capaz de lidar abertamente com o sentimento • Às vezes, uma resposta do paciente pode não corresponder às suas pressuposições iniciais. Responder a um paciente que a morte de um dos pais deve ser algo desolador, quando, na verdade, a morte aliviou o paciente de uma pesada carga emocional, reflete a sua interpretação, e não o que o paciente sente. Em vez disso, você pode perguntar: “Você perdeu seu pai. Como está se sentindo?” É melhor pedir ao paciente que aprofunde ou esclareça determinados pontos do que pressupor que entendeu Questionamento direcionado: opções para expandir e elucidar o relato do paciente. Visa a absorver a história completa do paciente, mediante a facilitação da comunicação, nas próprias palavras do paciente, sem interrupção (sem alterar o fluxo da história do paciente). Como passar das perguntas abertas para as direcionadas Basicamente, há dois tipos de pergunta: perguntas abertas e perguntas diretas. O questionamento deve fluir do geral para o específico. • As perguntas abertas são mais úteis no início da entrevista, pois permitem ao paciente contar sua história espontaneamente. Por exemplo: “Que tipo de problema o(a) senhor(a) está tendo?”, “Quais eram suas condições de saúde antes de surgir esta dor?”. • As perguntas abertas também são usadas para facilitar a narrativa do paciente, o que permite ao médico uma compreensão biopsicossocial do processo de adoecimento. • Após algumas perguntas abertas, o examinador deve direcionar a atenção do paciente com perguntas diretas, as quais reduzem as informações, mas permitem obter dados mais específicos. Por exemplo: “Há quanto tempo surgiu o sintoma?”, “Em que região sente a dor?”. De modo geral, uma entrevista oscila entre perguntas abertas e perguntas cada vez direcionadas e, depois, de novo para perguntas abertas, devolvendo a liderança da entrevista ao paciente. A compreensão da narrativa e o direcionamento da anamnese por meio de perguntas objetivas possibilitam ao profissional médico levantar pontos importantes para o direcionamento do raciocínio clínico. Como fazer indagações com respostas quantitativas • Faça perguntas que exijam respostas graduadas em vez de uma resposta direta. “Quantos degraus você consegue subir antes de perder o fôlego?” é melhor que “você sente falta de ar ao subir a escada? Faça várias perguntas, uma de cada vez. • Assegure-se de fazer uma pergunta por vez. “Já teve tuberculose, pleurite, asma, bronquite, pneumonia?” pode desencadear “Não” por pura confusão mental. Como oferecer múltiplas opções aos pacientes. • Às vezes, os pacientes precisam de ajuda para descrever os próprios sintomas.Para minimizar o viés, ofereça respostas de múltipla escolha: “Qual das seguintes palavras melhor descreve sua dor: contínua, aguda, em caráter de pressão, em caráter de queimação, em facada ou de outro tipo?” • Quase todas as perguntas específicas podem contrastar duas respostas possíveis. “Ao tossir, você tem alguma expectoração ou a tosse é seca?” Como elucidar o que o paciente quer dizer • Às vezes, o relato do paciente é difícil de entender. É melhor reconhecer a confusão do que agir como se a história fizesse sentido. Para entender o que o paciente quer dizer, você precisa solicitar esclarecimentos, como “Conte-me exatamente o que você quis dizer com “gripe” ou “Você disse que estava se comportando exatamente como sua mãe. O que quer dizer com isso?”. Reservar um tempo para obter esclarecimentos irá tranquilizar o paciente de que você deseja entender o relato dele, fortalecendo seu relacionamento terapêutico. Como encorajar o paciente a falar • Mesmo sem falar, é possível usar a postura corporal ou os gestos para encorajá-lo a falar. Fazer pausas e movimentar a cabeça ou permanecer calado, mas atento e relaxado, são dicas para o paciente continuar falando. Inclinar o corpo para frente, fazer contato visual e usar frases como “continue” ou “estou ouvindo” são atitudes que ajudam a aumentar o fluxo do relato do paciente. Como usar a técnica da repetição A simples repetição das últimas palavras do paciente, encoraja o paciente a explicitar seus detalhes e sentimentos. • Paciente: “A dor piorou e começou a se espalhar.” (Pausa) • Resposta: “Espalhou-se?” (Pausa) • Paciente: “Sim, para o meu ombro; depois, foi descendo para o meu braço até chegar aos dedos da mão. De tão intensa, cheguei a pensar que iria morrer.” (Pausa) • Resposta: “Pensou que iria morrer?” • Paciente: “Sim, foi igual à dor que meu pai sentiu quando ele infartou; fiquei com medo de que o mesmo acontecesse comigo.” Comunicação não verbal. • É importante atentar para o contato visual, para a expressão facial, para a postura corporal, para a posição da cabeça e movimentos como sacudir a cabeça, para a distância interpessoal e para a posição dos braços e das pernas – cruzados, neutros ou abertos. • Refletir a postura do estudante ou do médico pode aumentar a sensação de conexão do paciente, e refletir a posição do paciente reforça o vínculo já existente. • Você também pode refletir a paralinguística do paciente, ou as qualidades da fala, tais como andar de um lado para outro, tom e volume. • Aproximar-se ou estabelecer contato físico, como pousar a mão no ombro do paciente, transmite empatia e pode ajudar o paciente a controlar sentimentos de tristeza. Validação. Outra maneira de estimular o paciente consiste na validação da legitimidade da sua experiência emocional. Tranquilização. Quando os pacientes estão ansiosos ou tristes, é tentador tranquilizá-los, como “Não se preocupe. Tudo acabará bem”. Embora isso seja comum em interações sociais, para médicos, esses comentários podem ser prematuros e contraproducentes. • A primeira providência para a tranquilização efetiva consiste simplesmente em identificar e reconhecer os sentimentos do paciente. Por exemplo, você pode simplesmente dizer: “Você parece indisposto hoje.” • O efeito tranquilizador é mais apropriado quando o paciente sente que os problemas dele foram plenamente compreendidos e estão sendo solucionados Formação de parceria. • Ao estabelecer um vínculo com os pacientes, expresse seu compromisso com essa relação. Faça com que os pacientes sintam que, independentemente do que aconteceu, você continuará a fornecer o atendimento. Resumo. • Resumir o relato do paciente durante a realização da entrevista tem vários propósitos. Isso comunica que você está ouvindo atentamente a história dele. Identifica o que você sabe e o que você não sabe. • “Agora, vejamos se captei toda a história. Você está tossindo há 3 dias, sobretudo à noite, e começou a expectorar escarro amarelo. Você não teve febre nem sentiu falta de ar, mas apresenta congestão nasal e sente dificuldade para respirar pelo nariz.” • Prosseguir com uma pausa atenta ou perguntar “Algo mais?” permite ao paciente acrescentar outras informações e corrigir mal-entendidos. • Esta técnica também permite que você organize seu raciocínio clínico e expresse seu pensamento para o paciente, o que torna a relação mais colaborativa Transições • Os pacientes podem ficar apreensivos durante uma consulta médica. Para deixá-los mais à vontade, diga que você sinalizará durante a entrevista quando passar de um tópico para outro, para a preparar os pacientes para o que vem a seguir. • Ao avançar na anamnese e no exame físico, avise o paciente, usando frases como: “Agora, farei algumas perguntas sobre as doenças que você já teve.” Empoderamento do paciente. • A relação médico-paciente é inerentemente desigual e os pacientes são responsáveis por seus próprios cuidados • Quando você empodera os pacientes a fazerem perguntas, expressarem suas preocupações e a questionarem suas recomendações, é mais provável que adotem seu conselho, mudem de estilo de vida ou tomem a medicação conforme prescrito. ROTEIRO DA ENTREVISTA: PREPRACAÇÃO, SEQUÊNCIA E CONTEXTO CULTURAL Preparação A entrevista exige planejamento. À medida que começa, considere diversas etapas que são cruciais para o sucesso. • Revisão do prontuário do paciente (Antes de encontrar o paciente). Fazendo isso, você obterá importantes informações basais e este irá sugerir áreas que precisa explorar. • estabelecer metas para a entrevista. Antes de conversar com o paciente, elucide as suas metas para a entrevista. O médico precisa equilibrar suas metas com as metas centradas no paciente. • Revisão do seu comportamento clínico e aspecto físico • Arrumação do ambiente. Sequência da entrevista cumprimentar o paciente e criar vínculo • cumprimente o paciente pelo nome e apresente-se, informando a ele seu nome. Se for possível, deve apertar as mãos do paciente. Se esse for o primeiro contato, explique sua função, o fato de ser estudante e de como participará no atendimento ao paciente. • Quando houver visitas no quarto, cumprimente cada pessoa por vez, perguntando-lhe o nome e a relação que tem com o paciente. • Sempre que houver visitantes, o profissional de saúde é obrigado a manter a confidencialidade do paciente. Deixe o paciente decidir se os visitantes ou os familiares devem permanecer no quarto e peça permissão ao paciente antes de iniciar a entrevista na frente deles • Sempre se preocupe com o conforto do paciente. Anotações • Escreva frases curtas, datas específicas ou apenas palavras, mas não deixe que a anotação ou a tela do computador afaste sua atenção do paciente. Mantenha contato visual. Como estabelecer os tópicos a serem abordados. • Agora que já foi criado o vínculo, é o momento de perguntar a queixa principal. No ambulatório ou no consultório, onde a consulta muitas vezes tem três ou quatro causas, é preferível usar o termo problema(s) inicial(is). • Inicialmente, são feitas perguntas abertas que possibilitam respostas discursivas: “Quais são suas maiores preocupações hoje?”, “Em que posso ajudá-lo?” ou “Você tem alguma preocupação em especial para ter marcado sua consulta de hoje?” • Essas perguntas encorajam o paciente a falar sobre qualquer tipo de preocupação, não apenas as clínicas. • Perguntas como “Há algo mais?”, “Acabamos por hoje?” ou “Ainda falta algo?” ajudam a descobrir totais as prioridades do paciente e “o motivo real” da visita. Como estimular o paciente a fazer seu relato. • Depois de estabelecer as prioridades, estimule o paciente a contar sua história, perguntando sobre sua principal preocupação, “Fale-me mais sobre…”. • Encoraje-o a fazer seus relatos com uma abordagem aberta• Evite influenciar a história do paciente, não injete novas informações ou o interrompa (Quando interrompidos, os pacientes, em geral, não retomam suas histórias) • Se fizer perguntas específicas prematuramente, existe o risco de suprimir detalhes da fala do paciente • Após a descrição inicial do paciente, explore melhor a história dele. Indague: “Como você descreveria a dor?”, “O que aconteceu depois?” e “O que mais você percebeu?”, para que o paciente enriqueça a história com detalhes importantes Como explorar a percepção do paciente. O modelo de distinção doença/enfermidade ajuda a elucidar as percepções diferentes, embora complementares, do médico e do paciente. • Doença é a explicação que o profissional de assistência usar para organizar os sinais e sintomas que levam ao diagnóstico clínico. • enfermidade é a maneira como o paciente vivencia sua doença, incluindo os efeitos sobre os relacionamentos, capacidade funcional e sensação de bem-estar • A entrevista clínica precisa incorporar essas duas visões da realidade. A combinação dessas duas perspectivas forma a base do planejamento de avaliação e tratamento. • Para descobrir os sentimentos do paciente, pergunte: “O que preocupa mais você em relação à dor?” ou “Como tem se sentido?”. • Para visões sobre a causa do problema, pergunte: “Por que você acha que está com essa dor de estômago?”; “O que fez para melhorar?” • Para determinar como a doença afeta o estilo de vida do paciente, principalmente se a doença for crônica, pergunte: “O que você fazia antes que hoje não consegue fazer? • Para descobrir o que o paciente espera de você ou do encontro em geral, considere perguntar, “Estou feliz que você esteja quase sem dor, em que mais posso ajudá-lo?” Como identificar os sinais de alteração de fundo emocional do paciente e como reagir a eles • A doença frequentemente é acompanhada por estresse emocional; 30 a 40% dos pacientes apresentam ansiedade e depressão nas práticas de atendimento primário. • Os pacientes podem esconder suas verdadeiras preocupações em até 75% das consultas de pronto atendimento, mesmo que forneçam indícios dessas questões que sejam diretos, indiretos, verbais, não verbais ou disfarçados em ideias ou emoções relacionadas • “Como você se sente em relação a isso?” ou “Muitas pessoas ficariam frustradas com isso”. • Um método de como responder aos indícios emocionais é NURSE: Name (nomear) – “Isso parece ter sido realmente assustador”; Understand (compreender ou legitimar) – “Imagino como deve estar se sentindo”; Respect (respeitar) – “Sua reação foi muito melhor do que a de muitas pessoas em seu caso”; Support (apoiar) – “Vamos continuar a trabalhar essa questão”; e Explore (explorar) – “Sentiu mais alguma coisa?” Como expandir e elucidar o relato do paciente: 7 atributos do sintomas. • Sempre que possível, repita as palavras e expressões do paciente ao longo da história, para confirmar a experiência do paciente ao mesmo tempo que esclarece o que ele ou ela quis dizer criar e testar hipóteses diagnósticas • Você irá gerar e testar hipóteses diagnósticas sobre qual processo de doença pode estar presente • A identificação de todas as características de cada sintoma é essencial para o reconhecimento de padrões de doença e para a criação de um diagnóstico diferencial. • É importante esclarecer totalmente a história do paciente. Isso evita a armadilha comum de encerramento prematuro ou concluir com muita antecedência a história do paciente, o que pode levar a erros no diagnóstico. Como compartilhar o plano terapêutico. • Conhecer e conceitualizar a doença permite que o profissional de saúde e o paciente tomem uma decisão compartilhada. Como concluir a entrevista e a consulta • É importante informar ao paciente que o tempo da entrevista ou da consulta está finalizando-se para que ele possa elucidar quaisquer dúvidas remanescentes. • “Vamos encerrar por agora. Você tem alguma dúvida sobre os assuntos conversados?” • Além disso, é preciso garantir que o paciente compreendeu e aceitou os planos de ação elaborados. • Uma técnica útil para avaliar a compreensão do paciente é “confirmação do aprendizado”, na qual você pede ao paciente que explique a você, em sua próprias palavras, o plano de atendimento. Um exemplo seria: “Você pode por favor me dizer o que entendeu sobre nosso plano de atendimento?” • O paciente deve ter a oportunidade de fazer quaisquer perguntas finais, mas os últimos minutos não são um bom momento para trazer novos tópicos. Se isso acontecer e não houver preocupação de risco à vida, apenas demonstre ao paciente seu interesse e faça planos para abordar o problema em um momento futuro. DEZ ARMADILHAS DA ENTREVISTA 1. Oferecer Falso Consolo. Afirmações como “Não se preocupe, tenho certeza de que vai dar tudo certo” são incentivos que aliviam a sua ansiedade e lhe dão a falsa sensação de ter oferecido conforto. Entretanto, para o paciente, essas afirmações entravam a comunicação, banalizando a ansiedade e negando efetivamente qualquer possibilidade de continuidade da conversa. 2. Oferecer Conselhos Indesejados. Uma pessoa lhe descreve o seu problema, concluindo com a pergunta: “O que você faria?”. Ao responder “Se eu fosse você, eu...”, você transfere a responsabilidade da decisão do paciente para você. Com isso, a pessoa não busca a sua própria solução e nada aprende sobre si mesma. 3. Fazer Uso da Autoridade. “O seu médico/a sua enfermeira é quem sabe” é uma resposta que promove a dependência e a inferioridade. 4. Usar Linguagem Esquiva. As pessoas usam eufemismos como “faleceu” para evitar a realidade ou para esconder seus sentimentos. 5. Manter o Distanciamento. O distanciamento envolve o uso de um discurso impessoal para abrir espaço entre uma ameaça e nós mesmos. Por exemplo, “Existe um nódulo na mama esquerda”. 6. Usar o Jargão Profissional. O uso de jargões soa excludente e paternalista. Você precisa ajustar o seu vocabulário ao paciente, mas deve evitar parecer condescendente. 7. Usar Perguntas Condutoras ou Tendenciosas. Fazer perguntas como “Você não fuma, fuma?” subentende que uma determinada resposta é “melhor” do que outra. 8. Falar Demais. Alguns examinadores associam prestimosidade ao quanto falam. Eles acham que, desse modo, atendem às necessidades do paciente, quando o que acontece é justamente o contrário. 9. Interromper. Quando você pensa que sabe o que o paciente irá dizer, você o interrompe e o corta. 10. Perguntar “Por quê?”. O uso do “por quê?” por parte de um adulto subentende culpa e condenação e leva o paciente a assumir uma posição defensiva Mateus Dias Carregosa; Medicina; 29/11/2021.
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