Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP FILTRAÇÃO GLOMERULAR E HEMODINÂMICA RENAL FUNÇÕES DOS RINS: ● Regulação do equilíbrio hidroeletrolítico ● Excreção de produtos do metabolismo ● Excreção de substâncias bioativas - ex.: hormônios e fármacos ● Regulação da pressão sanguínea ● Regulação da produção de hemáceas ● Ativação da vitamina D ● Gliconeogênese Destaca-se a presença da medula renal (com pirâmides renais), do córtex renal (presença dos glomérulos renais), dos cálices menores (drenam a urina formada no parênquima para os cálices maiores e, posteriormente, para pelve e ureter) e maiores da pelve renal. DIREÇÃO DO FLUXO A estrutura dos vasos renais e a direção que o sangue percorre é essencial para os processos fisiológicos de manipulação do plasma pelos rins. Via do sangue Via do filtrado 1 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP MANIPULAÇÃO DO PLASMA Os rins regulam a quantidade de água e eletrólitos no organismo pelo processamento do plasma sanguíneo que, enquanto percorre os néfrons, é manipulado segundo a necessidade. Os principais meios de manipulação são: Filtração glomerular→ fluxo de plasma do capilar glomerular para o espaço de Bowman (urinário - interno à cápsula de Bowman); livre de proteínas e de elementos celulares. Secreção→ transporte seletivo de moléculas do capilar peritubular para a luz do túbulo renal. Reabsorção→ transporte seletivo de moléculas da luz do túbulo renal para o capilar peritubular. Excreção→ eliminação de substâncias sob a forma de urina. A intensidade com que as substâncias são excretadas na urina representa a interação entre os processos de manipulação do plasma. FILTRAÇÃO GLOMERULAR PERMEABILIDADE SELETIVA A barreira de filtração glomerular, composta pelo endotélio glomerular e camada visceral da cápsula de Bowman, tem permeabilidade seletiva devido a suas características estruturais. Tamanho: as fenestras do endotélio e da lâmina basal do capilar, por serem estreitas, impedem a entrada de moléculas grandes. Carga elétrica: o glicocálix do polo apical do endotélio capilar expressa glicoproteínas de carga negativa, repelindo moléculas com a mesma carga. Ainda que dificultada, pode haver filtração de pequena parte dessas moléculas. 2 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Permeabilidade seletiva a dextranas Dextranas são moléculas trabalháveis em laboratório, podendo ser polimerizadas e ter sua carga alterada e variável. → A taxa de filtração e o tamanho da molécula são inversamente proporcionais ↑ tamanho : ↓ TFG Os capilares são permeáveis à água, porém impermeáveis a proteínas. Dessa forma, ao longo do percurso, há a perda de água para o espaço tissular e a concentração plasma sanguíneo. TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR A taxa de filtração glomerular (TFG) é determinada pela pressão efetiva de filtração (P<UF>) e pelo coeficiente de ultrafiltração (Kf). TFG = Kf . P<UF> Obs.: a TFG também pode ser determinada pelo fluxo sanguíneo. *Os capilares glomerulares têm taxa de filtração muito mais alta do que a maioria dos capilares, devido a ↑ PH e ↑ Kf. A fração do fluxo plasmático renal que é filtrada - Fração de Filtração - é aproximadamente 20%. FF = TFG / FPR FPR = fluxo plasmático renal Pressão Efetiva de Filtração (P<UF>) Diferença entre a pressão hidrostática ( ) e a pressão oncótica ( ) estabelecida entre o∆𝑃 ∆Π capilar e o espaço capsular ao longo do glomérulo renal. P<UF> = PH-∆ ∆Π Pressão hidrostática ( H)∆𝑃 ● Força exercida pela presença física de líquido dentro dos capilares ● Força a saída de água de seu compartimento para o interstício 3 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP PH = PCapilar - PTubular∆ Pressão oncótica ( )∆Π ● Força gerada por proteínas do plasma sanguíneo (ex.: albumina e globulinas) ● Fazem a água permanecer ou ser atraída para os capilares = Capilar - Tubular∆Π Π Π Assim, a pressão de filtração efetiva é dada por: P<UF> = PH Capilar- PH Tubular - H CapilarΠ PH Capilar = Pressão hidrostática dentro dos capilares glomerulares P H Tubular / Caps = Pressão da cápsula de Bowman πCap = Pressão oncótica / coloidosmótica glomerular RESULTANTE⇒ Pressão de filtração resultante Pressão hidrostática glomerular (dentro dos capilares)→ Favorece a filtração Pressão hidrostática da cápsula de Bowman (fora dos capilares)→ Opõe-se à filtração Pressão oncótica das proteínas plasmáticas (capilar)→ Opõe-se à filtração Pressão oncótica das proteínas da CB→ Favorece a filtração *Sob condições normais, a concentração de proteínas no filtrado glomerular é tão baixa que a pressão coloidosmótica do líquido da cápsula de Bowman é considerada zero. 4 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Relação entre as pressões durante a filtração O ↑ ocorre, pois a água sai dos capilares devido∆Π a PH Capilar, concentrando as proteínas no plasma. A tendência é que as pressões hidrostática e oncótica se equilibrem. Porém, ocorre a constante passagem de fluídos para o espaço de Bowman, havendo a filtração. A tendência da pressão dos vasos sanguíneos é ir diminuindo conforme a passagem para o vaso posterior, para que o fluxo seja unidirecional. Pressão hidrostática nos vasos renais Na arteríola aferente: ΔP > Δπ, pois a quantidade de água no capilar é superior à do espaço capsular, o que colabora com a saída do líquido para o meio. Na arteríola eferente: ΔP = Δπ (ou próximo), pois as pressões tendem a estabelecer um equilíbrio, que ocorre graças ao fluxo de líquido entre os meios. 5 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Filtração Sistêmica x Filtração Renal A circulação sistêmica busca equilibrar as quantidades filtradas e absorvidas, enquanto a renal faz, exclusivamente, a filtração do plasma. A ΔPH na circulação sistêmica é maior que a Δπ do interstício, assim, há a filtração de parte do plasma. Com isso, a ΔPH diminui, e a Δπ, constante devido à baixa permeabilidade dos vasos, fornece a força osmótica necessária para a reabsorção pelo capilar. A ΔPH na circulação glomerular é maior que a Δπ do interstício, então também há filtração. Porém, a ΔPH se mantém constante, logo haverá um aumento da Δπ para que se atinja um equilíbrio entre pressões. Coeficiente de Ultrafiltração (K) O coeficiente de ultrafiltração é dado pelo produto do coeficiente de permeabilidade (condutividade hidráulica) pela área de superfície do capilar. kf = k . S O coeficiente de ultrafiltração é diretamente proporcional à velocidade de filtração, mas não necessariamente à quantia efetivamente filtrada. Permeabilidade A permeabilidade da barreira de filtração é diretamente proporcional à velocidade de filtração. ● Uma maior permeabilidade permite que fluidos atravessem a barreira e sejam filtrados nas porções iniciais do capilar. 6 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP ● Isso equilibra as pressões precocemente, interrompendo o fluxo antes de chegar ao final do vaso. A permeapenas se for bem baixa. Nesse caso, o equilíbrio entre as pressões ainda não foi atingido ao final do capilar, não se filtrando tanto quanto poderia. Assim, a pressão oncótica quase não se altera. P<UF> cai, assim, a filtração não varia, pois o equilíbrio ocorre antes do fim do capilar. Se a permeabilidade capilar cai, a filtração glomerular cai juntamente. Superfície do capilar A área de superfície do capilar estabelece um limite para a taxa de filtração, pois, independentemente do aumento do fluxo sanguíneo, só poderá ser filtrado o que fazer contato com a superfície e não ficar no centro do lúmen capilar. Taxa de filtração por diferentes determinantes Ultrafiltração glomerular é presso-dependente e fluxo-dependente ↑ Taxa de filtração ↓ Taxa de filtração P. hidrostática (capilar) P. oncótico (capilar) P. oncótica (túbulo) P. hidrostática (túbulo) Permeabilidade* Fluxo sanguíneo renal Ultrafiltração glomerular é presso-dependente ↑ pressão hidrostática da cápsula de Bowman ↓ TFG 7 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP - Alterações na pressão da cb não constituem meio primáriode regulação da TFG - Estado patológico⇒ cálculo renal obstrui o trato urinário, aumentando a pressão da cápsula, diminuindo a TFG. ↑ pressão oncótica capilar glomerular ↓ TFG - Da arteríola aferente para a frente, a [ptn plasmáticas] aumenta ~20%→ filtração de líquido do capilar ↑ pressão oncótica arterial : ↑ pressão oncótica capilar glomerular : ↓ TFG ↑ pressão hidrostática do capilar glomerular ↑ TFG - Principal meio de regulação fisiológica da TFG - A pressão hidrostática capilar é determinada por 3 variáveis: pressão arterial, resistência arteriolar aferente e eferente. ↑ PA : ↑ TFG (atenuado por mecanismos de autorregulação) FLUXO SANGUÍNEO RENAL O fluxo sanguíneo renal (FSR) é determinado pela variação da pressão aórtica (PA) e venosa (PV) e pela resistência vascular renal total (R). FSR = 𝑃𝐴 − 𝑃𝑉 𝑅 ● O fluxo sanguíneo renal é diretamente proporcional à taxa de filtração glomerular⇒ ↑ FSR : ↑ TFG ● Uma maior quantidade de sangue que passa pelo capilar implica em uma maior quantidade de conteúdo que percorre a região e, assim, uma maior quantidade será filtrada. Resistência A resistência das arteríolas aferentes e eferentes são as principais variáveis do fluxo. ● A resistência é inversamente proporcional ao fluxo sanguíneo e, assim, à taxa de filtração⇒ ↑ R : ↓ FSR : ↑ TFG ● A mudança do raio do vaso altera o volume do fluxo, a pressão hidrostática e a TFG. 8 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Consequências da vasoconstrição Consequências da vasodilatação Efeito bifásico da constrição da arteríola eferente Níveis moderados de constrição causam aumento discreto na TFG, já níveis graves provocam redução da TFG. - Com maior contrição eferente e aumento da [ptn plasmáticas]⇒ rápido ↑ não linear da pressão oncótica, causada pelo efeito Donnan. AGENTES MODULADORES O fluxo sanguíneo pode ser modulado por fatores vasoativos→ Angiotensina II, Noradrenalina, Endotelina, Leucotrienos, Fatores vasodilatadores derivados do endotélio (NO) e Peptídeo natriurético atrial. - Mecanismos fisiológicos e fisiopatológicos Angiotensina II Hormônio que integra o sistema renina angiotensina aldosterona e atua na regulação da pressão sanguínea e homeostase dos fluidos corporais. *pode ser considerado hormônio circulante e um autacoide. Entre seus efeitos fisiológicos estão: ● ↑ resistência (constrição) das arteríolos aferentes e eferentes (principalmente) ● ↑ pressão hidrostática glomerular ● ↓ fluxo sanguíneo renal 9 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Com ↑ pressão há o ↑ filtração e com a ↓ fluxo há ↓ filtração⇒ Depende da intensidade da ação da angiotensina: - ↑ mais intenso de angiotensina II, mesmo com a maior pressão não há aumento da filtração, pois está com o fluxo reduzido. - Menor ↑ angiotensina II a variação de pressão é mais importante do que a do fluxo, visto que o fluxo não cai tanto. Filtração Glomerular e Resistências nas Arteríolas Aferente e Eferente ↑ RA : ↓ Filtração por néfron ↑ RE : ↑ Filtração por néfron Efeito da angiotensina II na hemodinâmica renal e na filtração glomerular Embora a pressão seja favorável ao aumento da filtração, a diminuição expressiva do fluxo sanguíneo é responsável por diminuí-la. Endotelina, Noradrenalina e Adrenalina Hormônios que promovem a vasoconstrição, ↑ pressão arterial e, embora ↑ pressão, ↓ fluxo, tendo como resultado a ↓ taxa de filtração. 10 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Em geral, os níveis de noradrenalina e de adrenalina se equiparam à atividade do sistema nervoso simpático→ noradrenalina e adrenalina exercem pouca influência na hemodinâmica renal, exceto sob condições associadas a uma ativação intensa do simpático. Endotelina→ peptídeo liberado por células endoteliais de vasos renais lesionados e por outros tecidos→ contribui com a minimização da perda de sangue em caso de rompimento de vasos (homeostase). Peptídeos Natriurético Atrial Peptídeo secretado por células musculares cardíacas atriais para normalizar a volemia e a pressão arterial quando a musculatura cardíaca está excessivamente distendida devido ao aumento do volume sanguíneo. O PNA possui entre os seus efeitos: ● Dilatação da arteríola aferente e constrição da arteríola eferente⇒ ↑ fluxo de entrada e ↓ fluxo de saída do capilar glomerular. ● ↑ PH Fluxo Resistência O fluxo líquido não varia muito, mas a taxa de filtração aumenta, pois, o sangue tem maior facilidade para entrar no capilar e dificuldade para sair. 11 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP AUTORREGULAÇÃO Mecanismo de feedback intrínseco dos rins que impede que variações de pressão sistêmica se reflitam na pressão glomerular, visto que podem ser danosas ao glomérulo. A TFG se mantém constante mesmo com valores distintos do FSR, mostrando que a autorregulação responde a intervalos de pressão sistêmica de 70-200 mmHg. Feedback tubuloglomerular Para a autorregulação, os rins têm um mecanismo de feedback que estabelece uma ligação entre as concentrações de NaCl, na mácula densa, com o controle da resistência arteriolar renal. 1. A taxa de filtração glomerular se altera 2. O fluxo ao longo do túbulo renal é proporcional, mas a reabsorção no TCP e na AH são contrárias 3. Estimulação da mácula densa, sensível à NaCl 4. Substâncias parácrinas se difundem da mácula densa para a arteríola aferente 5. Constrição/Dilatação da arteríola aferente. 12 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP Através deste mecanismo, a resistência da arteríola se altera, tal qual a pressão hidrostática do glomérulo, o que interfere no fluxo tubular e, assim, a taxa de filtração é restaurada. Resposta miogênica Capacidade dos vasos de resistirem ao estiramento durante o ↑ pressão arterial, desencadeando - a partir de sensores das arteríolas. ● Contração do músculo liso vascular, prevenindo o estiramento do vaso e ↑ resistência vascular, o que auxilia na prevenção do ↑ excessivo do FSR e TFG durante momentos de ↑ PA. ● Impede que grande variação de P no glomérulo→ funciona em um determinado intervalo 13 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP GBF - fluxo sanguíneo glomerular PGC - pressão hidrostática do capilar glomerular R - resistência; A - aferente; E- eferente Como um cálculo compromete a taxa de filtração glomerular? A obstrução das vias de excreção da urina pode aumentar a pressão do lúmen dos tubos devido ao acúmulo de líquido em seu interior. Como o sistema tem caráter tubular contínuo, a pressão em qualquer porção do trato se reflete em outra porção, que pode até estar distante. Por exemplo, um cálculo encontrado no ureter dificulta a excreção de urina, aumenta a pressão na região do cálculo e superior a ele, chegando até o espaço capsular. O aumento da pressão tissular diminui o gradiente de pressão efetivo, reduzindo, portanto, a taxa de filtração. CLEARANCE “Depuração renal” Consiste na taxa em que os rins excretam certa substância, refletindo, assim, a taxa de filtração glomerular. [Filtrado] = [Excretado] obs.: Normalmente, utiliza-se creatinina ou inulina. A medição da TFG envolve o uso de marcadores, que são injetados no sangue e têm concentração determinada na urina. O marcador deve: ● Ser filtrado ● Não ser reabsorvido e não ser secretado ● Não ser metabolizado ● Não ser eliminado por vias extrarrenais A taxa de excreção de um marcador ideal é diretamente proporcional à taxa de filtração de fluidos. Carga / Quantidade Filtrada = Volume filtrado x [Filtrado]⇒QntFiltardo= Vfilt x [Filt] Quantidade Excretada = Volume excretado x [Urina]⇒QntExcretado = Vexc x [U] Determinação da taxa de filtração glomerular Carga Filtrada = Carga Excretada⇒ TFG x [inulina] = Vinulina excretada x [U]inulina TFG = [U]inx Vin exc / Pin obs.: Como a inulina é livremente filtrada, pode-se dizer que a [inulina] é igual a [plasmática de inulina]. TFG: Taxa de filtração glomerular (= volume filtrado) 14 Nicole Siqueira de Arruda CB USP FMRP V: Débito urinário da substância (mL/min) [U]: Concentração na urina (mM/mL) P: Concentraçãono plasma (mM/mL) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA John E. Hall. Guyton & Hall Fundamentos de Fisiologia. Grupo GEN, 2017. 9788595151550. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151550/. Acesso em: 23 nov 2021. 15
Compartilhar