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CASO 6 – ANEMIA FALCIFORME ID: M.C.S.J., sexo feminino, 9 anos , natural de Bonfim de Feira e procedente de Salvador Informante: mãe Grau de informação: regular QP: Dor na perna direita há 2 dias H.M.A.: A genitora refere que a paciente é portadora de doença crônica que se iniciou antes de 1 ano de idade e desde então, com certa frequência, apresenta episódios de dores de forte intensidade, que não melhoram com uso de analgésicos orais e que precisa ser internada para obter alívio das mesmas. As crises dolorosas ocorrem em qualquer parte do corpo e muitas vezes são articulares. Algumas vezes são associadas a sinais flogísticos e geralmente surgem após cursar com algum quadro de infecção respiratória. Notou ainda que a menor apresenta cansaço desproporcional durante as atividades físicas, com especial dificuldade para subir ladeiras e limitação para fazer uma caminhada de média distância (tanto a dor que surge no quadril quanto o cansaço físico impedem que a mesma realize o trajeto de casa para escola). Por conta dos diversos internamentos, a filha tem perdido muitas aulas, o que tem prejudicado o seu rendimento escolar. Iniciou tratamento psicoterápico há cerca de 2 meses, por indicação da pediatra, mas interrompeu. A genitora informa que há dois anos a paciente teve um quadro mais grave de dor abdominal e queda de pressão, tendo que se submeter a uma transfusão sanguínea. Atualmente a mesma cursa há 2 dias com dor intensa na virilha do lado direito e dificuldade de deambulação. Por não obter melhora após uso de analgésicos e antiinflamatórios procurou atendimento médico. IS: Nega tosse, febre, alterações digestivas ou urinárias no período. Nega perda de peso. AOA: vide HMA. AMPP: Nega alergias medicamentosas ou alimentares. Quatro internamentos prévios por pneumonia associada a dores corporais e um por dor abdominal súbita. Várias idas à emergência devido a dores articulares e musculares. O cartão vacinal está completo. Uma transfusão sanguínea há 2 anos. Nega cirurgias. Teste do pezinho detectou alteração. AMFis: Nascida de parto normal, a termo. Mãe teve ameaça de aborto no primeiro trimestre da gravidez (após presenciar assalto). Mamou até os 6 meses. Atraso no DNPM. AFam: Pai, avós paternos e tios têm HAS. Avó materna tem Diabetes. Mãe tem histórico de anemia e dores articulares, mas nunca precisou se internar (sic). Nega outras patologias. Nega consanguinidade. Dois irmãos saudáveis. ASoc: Vive em casa de alvenaria, com saneamento básico, Mora com os pais e irmãos. Atualmente a família passa por dificuldades financeiras, só o genitor está trabalhando. A mãe, devido às dores articulares que estavam se agravando, precisou parar o serviço de diarista. O tratamento psicológico da paciente foi interrompido por esta razão, já que era semanal e o custo do transporte ficou alto. Exame físico Regular estado geral, fácies de dor, taquipneica, afebril, hipocorada ++/IV, acianótica, ictérica +/IV, chorosa. TA: 100x60mmHg // FC: 100bpm // FR: 32 ipm //T: 36.8oC //SatO2: 95% Cabeça e pescoço: Conformação normal, olhos com icterícia +/IV e hipocromia de mucosas ++/IV; nariz, ouvidos e orofaringe sem alterações; tireoide de consistência normal à palpação, indolor, superfície lisa. Não foram palpados linfonodos. Tórax: de conformação normal; AR: Expansibilidade diminuída. FTV e percussão sem alterações. MV bem distribuído, sem RA ACV: ictus no 5o EIE, na LMC; bulhas normofonéticas em 2T, taquicárdicas,. Pulsos periféricos rítmicos, de amplitude normal e simétricos Abdome: plano, flácido, RHA +, baço palpável a 2 cm do RCE de consistência endurecida. Fígado palpável a 3cm do rebordo costal direito, consistência firme;ambos indolores à palpação Extremidades: sem edema ou cianose. TEC normal; dor às manobras de movimentação e limitação da amplitude de movimento (rotação interna e externa e flexão) da articulação coxo- femoral direita. Neurológico: criança lúcida e orientada, chorosa e amedrontada; pupilas isocóricas e fotorreagentes; reflexos normais; sensibilidade preservada. Deambulação prejudicada pela dor. Radiografia AP de bacia de M.C.S.J. _____________________________________________________________________________ 1 - Quais as doenças diagnosticadas pelo teste do pezinho? 2- Qual a relação da anemia falciforme com as dores apresentadas pela paciente? 3-Qual a fisiopatologia da anemia falciforme? 4- Quais as complicações causadas pela anemia falciforme? 5- Quais as diferenças da hemoglobina normal para a falcemica? 6- Qual diagnóstico, cuidados e tratamento para anemia falciforme? 7-Quais exames complementares que devem ser solicitados para a paciente com anemia falciforme? 8-Quais os tipos de anemia e seus respectivos quadros clínicos? 9- Papel do baço na imunidade; principais infecções e agentes envolvidos? 10- Com realizar a analise do Raios-X pediátrico ? _______________________________________________________________________________ 1. Quais são as doenças detectadas a partir do teste do pezinho? (Teste do pezinho; doença crônica levando a alteração no crescimento e desenvolvimento) R: Como recomendação geral, e para maior efetividade da triagem neonatal, deve -se realizar a tomada da amostra de sangue do bebê a partir de 48h após o nascimento e até o 5º (quinto) dia de vida. O Teste do Pezinho é um teste de Triagem Neonatal que investiga Doenças Metabólicas Hereditárias, também chamadas de Erros Inatos do Metabolismo. Antes do nascimento, o feto está relativamente “protegido” dos malefícios de uma doença metabólica em virtude da função da placenta materna quanto ao fornecimento de nutrientes e filtragem de metabólitos tóxicos. Muitas doenças metabólicas são “desmascaradas” nos primeiros dias de vida após o nascimento, pois o bebê não pode mais se beneficiar da “ajuda fisiológica da mãe” para compensar as deficiências de seu metabolismo. No início, os sinais e sintomas das doenças podem ser sutis e dependendo do grau de deficiência metabólica vão se tornando cada vez mais aparentes e difíceis de tratar, por isso, o teste do pezinho deve ser realizado logo após o nascimento, de preferência na alta do berçário, para evitar lesões irreversíveis e até mesmo a morte provocada por algumas destas doenças. O teste do pezinho consegue identificar cerca de 60 doenças e outras condições, conforme descrito a seguir de forma resumida: Distúrbios da Beta Oxidação dos Ácidos Graxos; Distúrbios dos Ácidos Orgânicos; Distúrbios do Ciclo da Uréia; Aminoacidop atias; Perfil Bioquímico para Doenças Lisossômicas; Alterações hormonais; Alterações hematológicas; Hemoglobinopatias; Doenças infecciosas... Exame feito a partir de sangue coletado do calcanhar do bebê e que permite identificar doenças graves, como: o hipotireoidismo congênito (glândula tireóide do recém-nascido não é capaz de produzir quantidades adequadas de hormônios), a fenilcetonúria (doença do metabolismo) e as hemoglobinopatias (doenças que afetam o sangue – traço falcêmico e doença falciforme). Essas doenças não apresentam sintomas no nascimento e, se não forem tratadas cedo, podem causar sérios danos à saúde, inclusive retardo mental grave e irreversível. É indiscutível o impacto da doença falciforme no crescimento e desenvolvimento da criança e do adolescente. As anormalidades incluem déficits precoces no peso e estatura (significativos já no primeiro ano de vida), atraso na maturação sexual e prejuízo no desempenho escolar. A etiologia destas alterações envolve vários fatores como função endócrina, nutrição, taxa metabólica basal e níveis de hemoglobina fetal. 2. Qual a relação da anemia falciforme com as dores apresentadas pela paciente? R: A hemoglobina S, quando desoxigenada, sofre interações hidrofóbicas, o que compromete a solubilidade e acarreta formação de um polímero de moléculas de hemoglobina, o que resulta em dano celular irreversível, traduzido clinicamente pelo surgimentodos sinais e sintomas da doença. A dor é o resultado da obstrução da microcirculação causada pelo afoiçamento das hemácias. Este é o mais dramático quadro da doença, pois as crises álgicas ocorrem inesperadamente, muitas vezes sem pródromos e impactam diretamente a qualidade de vida do paciente. A crise dolorosa ocorre, às vezes, após episódio infeccioso, sugerindo que febre, desidratação e acidose podem desencadear a vasoclusão. A dor também pode se instalar após o resfriamento súbito da pele ou exposição à estresse físico ou emocional. Existem evidências crescentes de que o estresse inflamatório no ambiente microvascular pode ter um papel importante na manutenção do evento. Estudos encontram-se em andamento sobre o envolvimento de mediadores imunológicos, como Proteína C reativa, Glicoproteína 1 -6 e atransferrina 7, que estão significantemente elevadas durante o episódio doloroso. Altos níveis circulantes de citoquinas inflamatórias como o Fator de Necrose Tumoral a (FNTa), interleukina- 1a (IL-1a), interleukina-6 (IL-6), histamina e leukotrieno B4 também têm sido descritos. TNF-a e IL-8 são de grande interesse porque seus efeitos podem diminuir o fluxo sangüíneo e impedir a recuperação do episódio isquêmico por aumentar a adesão da hemácia falcizada ao Bruno Feitosa Espino, 3° semestre endotélio. Este achado é consistente com dados de estudos anteriores, os quais têm concluído que a persistência do processo inflamatório em pacientes com dor e doença falciforme é influenciada por estes agentes. O neuropeptídeo Substância P (sP) é hoje considerado o maior mediador da dor neurogênica e da inflamação. A sP induz ainda a liberação de histamina dos mastócitos e promove secreção de várias citoquinas incluindo IL-1, IL-6, IL-8, e TNF-a , sendo ainda um potente fator quimiotáxico. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre 3. Qual a fisiopatologia da anemia falciforme? (doenças falciformes; polimerização da hemoglobina; falcização das hemácias; trombose) R: A causa da doença é uma mutação pontual no gene beta da globina, em que há a substituição de uma base nitrogenada do códon GAG para GTG, resultando na troca do ácido glutâmico (Glu) pela valina (Val) na posição número seis do gene. Essa substituição origina uma molécula de hemoglobina anormal denominada hemoglobina S (HbS), ao invés da hemoglobina normal chamada de hemoglobina A (HbA). Essa pequena modificação estrutural é responsável por profundas alterações nas propriedades físico-químicas da molécula de hemoglobina no estado desoxigenado. Doença falciforme é um termo genético usado para determinar um grupo de alterações genéticas caracterizadas pelo predomínio de HbS. Essas alterações incluem a anemiafalciforme, que é a forma homozigota da HbS (Hb SS). A anemia falciforme também pode ser denominada siclemia ou drepanocitose. A doença das células falciformes é uma das doenças genéticas cujo diagnóstico pode ser feito pelo estudo diferenciado do DNA. Uma vez que a mutação pontual elimina um sítio de reconhecimento da enzima MstII no códon 6 do gene da β globina, os homozigotos e heterozigotos podem ser identificados por técnicas de biologia molecular. Alterações físico-químicas na doença falciforme: A substituição da base nitrogenada do códon GAG para a GTG, resultando na substituição do ácido glutâmico pela valina, provocamodificações estruturais na molécula da hemoglobina, como citado anteriormente. A valina é um aminoácido neutro (pI~6) e o ácido glutâmico é carregado negativamente (pI=2,8). Essa troca altera o pI da HbS, tornando-a menos negativa, fato que resulta em uma mobilidade mais lenta quando comparada com a HbA. Além disso, na HbA o ácido glutâmico da posição seis da globina beta auxilia no afastamento das moléculas desoxigenadas de hemoglobinas e a entrada da valina nesta posição favorece a polimerização sob condições de baixo teor de oxigênio. No estado oxigenado, a molécula de HbS está “relaxada”, e nesta conformação estrutural as globinas beta S estão mais separadas. No estado desoxigenado, a molécula de HbS torna-se esticada e as globinas beta S ficam mais próximas. Essa mudança de conformação favorece o contato entre as regiões da desoxiemoglobina, o que não é possível no estado oxigenado. Por meio da união de vários tetrâmeros de HbS, forma-se um número considerável de moléculas agregadas que geram longos polímeros, alterando a morfologia do eritrócito para a forma de foice. Nesta etapa, há a mudança do estado líquido e solúvel para o estado sólido e insolúvel, alterando- se a viscosidade da solução e formando-se cristais de HbS. Essa alteração da solubilidade é a diferença estrutural mais marcante sob o ponto de vista patológico da presença da HbS. A polimerização da HbS é dependente da tensão de oxigênio, concentração intracelular da HbS, temperatura e associação com outras hemoglobinas e talassemia. A polimerização da HbS deforma o eritrócito, fazendo com que a célula perca seu formato discoide, tornando-se alongada com filamentos na sua extremidade. A sequência que causa a deformação dos eritrócitos discoides em falcizados altera a funcionalidade da bomba de sódio e potássio, com consequente perda de potássio e água, tornando os eritrócitos mais densos e favorecendo o aumento de polímeros de HbS. Ocorre, também, a elevação da concentração intracelular de cálcio, pela falência da bomba de cálcio/ATPase e, conseq uentemente, aumenta a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) da desoxi-HbS. Todas essas alterações diminuem a capacidade da permeabilidade celular. A contínua alteração da morfologia dos eritrócitos com HbS provoca lesões crônicas da membrana celular, a ponto do eritrócito tornar-se irreversivelmente falcizado, acentuando os problemas não só em nível celular Bruno Feitosa Espino, 3° semestre como também em nível circulatório. Dentre as alterações da membrana temos os seguintes eventos: rearranjo das proteínas espectrina-actina, diminuição de glicoproteínas, geração de radicais livres, externalização da fofatidilserina e aceleração da apoptose, devido ao aumento da atividade citosólica de cálcio (Ca2+). Os pacientes heterozigotos (hemoglobina AS) não têm hemólise nem crises álgicas. Mas têm maior risco de doença renal crônica e embolia pulmonar. Além disso, pode ocorrer rabdomiólise e morte súbita durante a prática regular de exercícios de forte intensidade. A incapacidade de concentrar a urina (hipostenúria) é comum. A hematúria unilateral (por mecanismos desconhecidos e, em geral, no rim esquerdo) pode acontecer, mas é autolimitada. Pode ocorrer necrose papilar renal típica, porém, é menos comum do que entre os pacientes homozigotos e existe uma associação com o raríssimo carcinoma medular renal. ___________________________________________________________________________ Conduta médica em relação a avaliação (Anamnese e Exame Fisico) do paciente com quadro anêmico. R: As pessoas que apresentam risco de gerar filhos com síndromes falciformes têm o direito de serem informadas, através do aconselhamento genético, a respeito dos aspectos hereditários e demais conotações clínicas dessas doenças. O aconselhamento genético não é, portanto, um procedimento opcional ou de responsabilidade exclusiva do geneticista, mas um componente importante da conduta médica, sendo a sua omissão considerada uma falha grave. Por outro lado, o aconselhamento genético apresenta importantes implicações psicológicas, sociais e jurídicas, acarretando um alto grau de responsabilidade às instituições que o oferecem. Assim sendo, é imprescindível que ele seja fornecido por profissionais habilitados e com grande experiência, dentro dos mais rigorosos padrões éticos. Na anamnese, o médico deve atentar-se as queixas físicas e mentais, pois a anemia falciforme é uma doença crônica que exige cuidados específicos que impactam a vida do paciente, investigando também antecedentes familiares e patologias pregressasde forma ainda mais atenta. No exame físico é necessário investigar sinais de possíveis complicações da doença, já citadas neste resumo anteriormente. 4. Quais as complicações causadas pela anemia falciforme? (Quadro clínico/complicações da doença (renais, pulmonares, cardíacas, úlceras de MMII); correlacionar com o caso da paciente: lesões osteoarticulares na doença falciforme; sequestro esplênico, Fatores precipitantes e agravantes de crises álgicas) R: A mudança no formato das hemácias está subjacente aos dois principais mecanismos fisiopatogênicos: a hemólise e a vaso-oclusão, que serão responsáveis por alterações em diversos órgãos e sistemas e, consequentemente, às manifestações clínicas da doença. Uma das principais características dessa doença é sua grande variabilidade clínica: alguns portadores expressam inúmeras complicações e frequentes hospitalizações, enquanto outros têm evolução mais branda. A crise vaso-oclusiva (crise álgica) é o tipo mais comum; é causada por isquemia, hipoxia e infarto tecidual, tipicamente nos ossos, mas também em baço, pulmão ou rim. Outros fatores que podem contribuir para a ocorrência de CVO são ativação de células endoteliais, adesão de eritrócitos e leucócitos5 , vasoconstrição, ativação da coagulação, desidratação celular, resposta inflamatória, lesão de reperfusão e prejuízo ao fluxo sanguíneo pela diminuição da biodisponibilidade do óxido nítrico. O surgimento da CVO é imprevisível, pode apresentar -se após desidratação, exposição ao frio, estresse emocional, exercício físico, uso de álcool ou diuréticos, acidose ou hipóxia, devendo o paciente, portanto, ser alertado para evitar estas situações. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Ocorre risco aumentado de infecções por microorganismos encapsulados nos doentes falciformes, principalmente do trato respiratório e septicemia. Isso se deve ao déficit de opsonização relacionado à autoesplenectomia, além de alterações do complemento, das imunoglobulinas, da função leucocitária e da imunidade celular. As crises aplásicas ocorrem quando a eritropoiese da medula diminui durante a infecção aguda pelo parvovírus humano, quando pode haver eritroblastopenia aguda. É caracterizada por diminuição da eritropoese, levando a rápidas reduções na concentração de hemoglobina. Reticulocitopenia é característica desta complicação. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre A síndrome torácica aguda resulta de oclusão microvascular pulmonar e é causa comum de morte, com taxas de mortalidade de até 10%. Ela ocorre em todos os grupos de idade, porém é mais comum na infância. Episódios repetitivos predispõem à hipertensão pulmonar crônica. Sua fisiopatologia é complexa e envolve infecção, embolia gordurosa (por necrose óssea), trombose pulmonar in situ e vaso-oclusão. Em crianças, o sequestro agudo de células falciformes no baço pode acontecer, exacerbando a anemia. É caracterizado por aumento do volume do baço, com queda de pelo menos 2g/dL da hemoglobina, e sintomas de anemia e hipovolemia. Priapismo, uma séria complicação que pode ocasionar disfunção erétil, é mais comum em homens jovens. Pode haver sequestro hepático com rápido aumento do fígado. A úlcera de membros inferiores é uma complicação usualmente observada na doença falciforme. Ocorre com maior frequência em pacientes SS do sexo masculino acima de 10 anos de idade. Seu aparecimento depende de vários fatores como o fenômeno de vaso-oclusão, hipóxia tecidual, hemólise, fatores genéticos e é inconclusiva a participação da insuficiência venosa na sua gênese. A cicatrização da úlcera é geralmente lenta e a taxa de recorrência é alta. Seu tratamento consiste em limpeza local e aplicação de produtos tópicos, como antibióticos, papaína, colágeno, entre outros. 5. Quais as diferenças da hemoglobina normal para a falcemica? (Fisiologia da hematopoiese; tipos de anemia; hemoglobinopatias; icterícia hemolítica) R: Hemoglobinopatias são caracterizadas por alterações nos genes responsáveis pela síntese das globinas que, devido a estas alterações apresentam-se em quantias inadequadas ou de forma afuncional. A anemia falciforme e o traço falcêmico caracterizam-se pela substituição total ou parcial da hemoglobina A (HbA) hemoglobina funcional, encontrada em indivíduos saudáveis, pela hemoglobina S (HbS). A presença da HbS acarreta em mudanças morfológicas e funcionais no eritrócito, causando o afoiçamento e a diminuição da oxigenação das hemácias, dos demais tecidos e orgãos. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre A icterícia caracteriza-se pelo acumulo de bilirrubina no plasma e nos tecidos e consequentemente coloração amarelada da esclera, pele e mucosas. Na degradação da hemoglobina pelo sistema fagocitário mononuclear, a estrutura cíclica do composto ferro - Bruno Feitosa Espino, 3° semestre porfirina (heme) é aberta, o ferro é removido e reutilizado pelo corpo, também ocorre com a globina. A cadeia aberta de porfirina é convertida num pigmento verde, denominado biliverdina. Em seguida, a biliverdina é reduzida pela biliverdina redutase, até bilirrubina, um pigmento laranja-amarelado. Sucessivamente ligada à albumina, a bilirrubina é transportada das células fagocitárias mononucleares até o fígado através da circulação. A icterícia hemolítica ou préhepáticas ocorre por uma destruição excessiva de eritrócitos, resultando num aumento do complexo bilirrubina-albumina no sangue, excedendo a capacidade excretora do fígado. 6. Qual diagnóstico, cuidados e tratamento para anemia falciforme? R: • Teste de DNA (diagnóstico pré-natal) • Esfregaço periférico • Teste de solubilidade • Eletroforese de Hb (ou focalização isoelétrica em camada fina) O tipo de teste feito depende da idade do paciente. O teste de DNA pode ser usado para diagnóstico pré-natal ou confirmar diagnóstico de genótipo da doença falciforme. Os testes para neonatos estão disponíveis em muitos estados dos EUA e envolvem a eletrof orese de Hb. Exame e diagnóstico em crianças e adultos envolvem exame do esfregaço periférico, teste de solubilidade do Hb e eletroforese de Hb. A conduta é adotar medidas regulares de manutenção da saúde, bem como fazer o tratamento específico das complicações, caso apareçam. O tratamento das complicações é de suporte. Não há fármaco antifalciforme efetivo in vivo disponível. Esplenectomia não tem valor algum. • Antibióticos de largo espectro (para infecção) • Analgésicos e hidratação IV (para crise de dor vaso-oclusiva) • Transfusão, se necessária • Imunização, suplementação de folato e hidroxiureia (para manutenção da saúde Hidroxiuréia provoca uma inibição imediata da síntese do ácido desoxirribonucleico (DNA), agindo como um inibidor da ribonucleotídeo redutase, sem interferir na síntese do ácido ribonucleico ou da proteína, induzindo a síntese de DNA e acelerando a diferenciação de eritrócitos. Sabe-se que os portadores de anemia falciforme necessitam de acompanhamento adequado, para que estes não tenham tantas limitações. Atualmente há procedimentos relacionados com a doença falciforme que visam possibilitar a estas pessoas uma melhor qualidade de vida, para que possam usufruir de algumas atividades cotidianas, tais como trabalho e estudo. Porém, com relação às atividades esportivas, exposição ao frio ou calor intenso, cansaço prolongado, estresse, não ingestão adequada de água são condições que precisam ser evitadas, visto que podem ocasionar crises e infecções. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre importante é o retorno às consultas de rotina, que devem ser realizadas a cada dois ou três meses nos primeiros três anos de vida. A partir dos 4 anos de idade essa frequência pode ser feita a cada 4-6 meses, ou mais precocemente dependendo das necessidades de cada paciente. 7. Quais exames complementares que devem ser solicitados para a paciente com anemia falciforme? R: Quanto à análise bioquímicae imunológica observa-se que houve alterações significativas nos exames realizados, tais como: velocidade de hemossedimentação, proteína C reativa quantitativa, ferro sérico, transaminase oxalacética, desidrogenase lática e bilirrubina total e indireta. Estes exames devem ser realizados anualmente para o acompanhamento adequado da anemia falciforme e como observado neste estudo de caso, o paciente realizou esses exames apenas uma única vez desde o nascimento até os 12 (doze) anos. Os exames laboratoriais devem ser realizados periodicamente. Em se tratando da parte hematológica, o hemograma e a contagem de reticulócitos normalmente são solicitados em todas as consultas e os demais exames tais como, provas de função renal e hepática, ferritina e exames da coagulação devem ser realizados anualmente. Como a gravidade clínica é variável, faz-se necessário o acompanhamento integral dos pacientes objetivando tanto a prevenção como o tratamento das complicações. 8. Quais os tipos de anemia e seus respectivos quadros clínicos? A anemia é definida como síndrome caracterizada por diminuição de massa eritrocitária total. Laboratorialmente, definimos anemia como hemoglobina menor que 12 g/dl em mulheres ou 13 g/dl em homens. Na gravidez existe anemia relativa, por hemodiluição, além daquela por carência nutricional, principalmente, por deficiência de ferro e ácido fólico. Na gestação os limites considerados normais para o valor da hemoglobina caem para 10g% e os do hematócrito para 30%. DIAGNÓSTICO A avaliação inicial do paciente com anemia inclui anamnese e exame físico minuciosos, além de exames laboratoriais. Os sintomas relacionados à anemia dependem da idade, da capacidade física, do grau de anemia e do tempo de evolução. Pacientes com evolução aguda apresentam sintomas com valores mais altos de hemoglobina, enquanto que os de evolução crônica exibem valores mais baixos. Os sintomas usuais incluem astenia, cansaço, fraqueza, falta de ar e palpitações. No exame físico o achado mais característico é a palidez mucocutânea. A rotina de manutenção da saúde do paciente com doença falciforme deve ser iniciada já nos dois primeiros meses de vida. Os pais devem ser orientados quanto à importância de manter hidratação e nutrição adequadas e de conhecer os níveis de hemoglobina e sinais de palidez, considerando a seriedade da prevenção das infecções, através das vacinações e do uso da penicilina profilática e encorajados a reconhecer as intercorrências da doença. Outro fator Bruno Feitosa Espino, 3° semestre A investigação laboratorial inicial consiste na realização dos seguintes exames: • Hematócrito, hemoglobina e contagem de eritrócitos para avaliar o grau de anemia. • Índices hematimétricos (VCM, HCM e CHCM) para determinar se os eritrócitos são, em média, normocíticos, macrocíticos (VCM > 100) ou microcíticos (VCM < 80) e se são hipocrômicos. O aumento da amplitude de distribuição do volume dos eritrócitos (RDW) é uma medida de anisocitose. • Contagem de reticulócitos para estimar se aresposta medular sugere incapacidade da produção- ou hemólise-ou perda sanguínea recente. • Exame microscópico da distensão sanguínea (lâmina de sangue periférico) para avaliar o aspecto dos eritrócitos e as alterações concomitantes dos leucócitos e das plaquetas. CLASSIFICAÇÃO As síndromes anêmicas podem ser classificadas quanto à proliferação (pelo índice de reticulócitos) e quanto à morfologia (pela ectoscopia da hemácia ou valores de VCM e HCM). Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Figura 1 – Causas de anemia e sua classificação de acordo com a contagem de reticulócitos e com a morfologia das hemácias. ANEMIA FERROPRIVA A deficiência de ferro representa a causa mais comum de anemia. DIAGNÓSTICO • Hemograma com anemia microcítica e hipocrômica. • Ferritina < 10 ng% • Ferro sérico < 30mcg% , o que denota baixo estoque • Capacidade de ligação ao ferro (TBIC) alta. PROFILAXIA Deverá ser feita com ferro oral, durante a gestação e a lactação, e mantida por 3 a 6 meses após a recuperação dos níveis hematimétricos, com a finalidade de manter reserva mínima de ferro: 300mg/dia de sulfato ferroso (60mg de ferro elementar).\ TRATAMENTO • Suporte nutricional • Reposição de ferro, preferencialmente por via oral: 900mg/dia (180mg de ferro elementar), divididos em 3 tomadas. • Nos casos de intolerância gastrointestinal ou falha de resposta ao ferro oral, pode ser utilizado ferro por via parenteral: 10ml ou 200mg de hidróxido de ferro, diluídos em 200ml de soro fisiológico, durante uma hora. Administração semanal, em ambiente hospitalar. A transfusão de hemácias deverá ser reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual. Reticulócitos > 2 Reticulócitos < 2 ANEM IA sideroblástic a Macrocítica Normocítica Microcítica • Hemorragia aguda • Anemia hemolítica Bruno Feitosa Espino, 3° semestre ANEMIA MEGALOBLÁSTICA Pode ser causada por deficiência de vitamina B12 ou ácido fólico, que ocorre por baixa ingesta (deficiência de folato) ou por impacto na absorção, como é o caso da anemia perniciosa (deficiência de vitamina B12). DIAGNÓSTICO • Neutrófilos plurissegmentados no sangue periférico. • A deficiência de vitamina B12 pode cursar com pancitopenia. • A investigação inicia-se pela dosagem de ácido fólico e vitamina B12. As dosagens séricas de ácido metilmalônico e homocisteina são usadas para confirmação diagnóstica. PROFILAXIA • Reposição rotineira de ácido fólico, 5 mg/ dia, via oral. CONDUTA • Investigar as principais causas da deficiência de ácido fólico: nutricional, má absorção intestinal e uso de anticonvulsivantes, pirimetamina, trimetropim e álcool. • Tratar com ácido fólico via oral, 5 mg/dia via oral e/ou vitamina B12 intramuscular. A transfusão de hemácias, como na anemia ferropriva, encontra-se reservada para pacientes com sintomas que denotam grave hipóxia tecidual. TALASSEMIA • É doença hereditária resultante de um defeito genético na síntese de uma ou mais cadeias globínicas da hemoglobina. • Há dois principais tipos de talassemia - alfa e beta – que podem se manifestar como minor (ou traço talassêmico), intermédia ou major. DIAGNÓSTICO • Hemograma com microcitose, hipocromia e reticulócitos aumentados • A eletroforese de hemoglobina apresenta elevação da hemoglobina A2 nas beta- talassemias. CONDUTA • O tratamento varia de simples observação e acompanhamento, nas formas mais brandas (alfa talassemia ou beta talassemia minor), até transfusões sangüíneas freqüentes e esplenectomia, nas formas mais severas (beta talassemia major). • Condutas gerais: o Controlar a infecção urinária. o Prescrever ácido fólico: 5mg/dia, VO. o Não administrar suplementos ferruginosos. o Não prescrever drogas oxidativas como as sulfas. • As pacientes com talassemia devem ser encaminhadas para aconselhamento genético. ANEMIA FALCIFORME • Ocorre por mutação que substitui o ácido glutâmico por valina na posição 6 da cadeia ß da globina. A hemácia com a globina mutante quando desoxigenada torna a clássica forma de foice, perdendo a flexibilidade necessária para atravessar os pequenos capilares. Os heterozigotos para a mutação apresentam uma entidade benigna (traço falciforme), sem ocorrência de anemia ou obstrução vascular. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre DIAGNÓSTICO • Anemia crônica, crises de dor osteoarticular, icterícia e história familiar freqüentemente positiva. • O diagnóstico é feito pela eletroforese de hemoglobina que detecta a presença da hemoglobina mutante (Hemoglobina S). CONDUTA • Investigar infecção urinária. • Suplementar ácido fólico: 5mg/dia, VO. • Ferro é contraindicado. • Transfusões com concentrado de hemácias lavadas nos casos de hemoglobina < 7g%. • Evitar a ocorrência de fatores que precipitam a crise falcêmica, comodesidratação, acidose, hipotensão arterial, hipoxemia e infecção. • A indicação de operação cesariana está condicionada a fatores obstétricos. • As pacientes com anemia falciforme devem ser encaminhadas para aconselhamento genético. CRISE FALCÊMICA • Internação. • Hidratação. • Transfusão de concentrado de hemácias lavadas (o objetivo é reduzir o porcentual de HbS para < 40% e elevar a Hb para cerca de 10g/dl • Sedação e analgesia com 50mg IM de Meperidina, se necessário. • Investigar possíveis focos de infecção, ocorrência que precipita a crise falcêmica. ANEMIAS HEMOLÍTICAS Esferocitose Hereditária • Representa a mais comum desordem congênita da membrana eritróide. • É caracterizada por disfunção de uma ou mais proteínas de membrana, gerando alteração na flexibilidade da hemácia com destruição periférica precoce. Clinicamente varia desde anemia discreta compensada até grave anemia hemolítica. • O tratamento inclui reposição de ácido fólico e esplenectomia para os pacientes com anemia mais grave. • A transfusão de concentrados de hemácias deverá ser reservada para pacientes em crise aplásica ou hemólise grave. Deficiência de Glicose 6 Fosfato Desidrogenase (G6PD) • Representa a anormalidade mais comum do metabolismo da hemácia. • É uma desordem genética ligada ao cromossomo X. • A deficiência desta enzima diminui a capacidade da hemácia de manter-se íntegra frente aos agentes oxidantes. • Infecções, alterações metabólicas e exposição a alguns fármacos provocam episódio hemolítico agudo com hemólise intravascular. • O diagnóstico pode ser confirmado pela presença do Corpúsculo de Heinz no esfregaço de sangue periférico e pela pesquisa de G6PD. • A maioria dos indivíduos é assintomática, realizando-se o diagnóstico por estudo familiar. • O tratamento é de suporte com transfusão de hemácias, quando necessário. • A profilaxia das crises é extremamente importante, evitando o uso de substâncias oxidantes. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Anemia Hemolítica Autoimune • Ocorre quando há destruição precoce das hemácias mediada por auto-anticorpos fixados a antígenos da membrana eritrocitária que determina uma série de reações em cascata terminando na lise dessas células (hemólise intravascular), além de fagocitose pelo sistema macrofagocítico (hemólise extravascular). • Pode ocorrer de forma idiopática, induzido por drogas ou de forma secundária a processos autoimunes, infecciosos ou neoplásicos. • O quadro clínico típico demonstra sinais e sintomas de anemia associada à icterícia, dor abdominal e febre. Esplenomegalia de pequena monta pode ser encontrada. • O esfregaço de sangue periférico revela microesferócitos, hemácias “mordidas” e eritroblastos. O teste da antiglobulina direta (Coombs direto) é caracteristicamente positivo. • O tratamento consiste em administração de glicocorticóides. Nos casos refratários pode ser realizada esplenectomia ou terapia com imunossupressores. A transfusão deverá ser reservada para pacientes com sinais de falência circulatória. Anemia Hemolítica Microangiopática • Caracterizada por hemólise microvascular causada por fragmentação de eritrócitos normais passando por vasos anormais. • A síndrome hemolítico-urêmica e a púrpura trombocitopênica trombótica são causas primárias, enquanto que, entre as secundárias, encontramos as complicações da gravidez como: o DPP, pré-eclâmpsia, eclâmpsia e a síndrome HELPP. • Clinicamente constata-se a tríade clássica: anemia microangiopática, plaquetopenia e insuficiência renal aguda. • O tratamento consiste em plasmaférese, observando-se que a transfusão de plaquetas é contraindicada por resultar em agravamento da trombose microvascular. ANEMIA DE DOENÇAS CRÔNICAS • Cursa com anemia normocítica e normocrômica, geralmente leve a moderada. Sua causa é multifatorial e as doenças infecciosas, autoimunes, neoplasias e insuficiência renal crônica são condições associadas. • Os exames laboratoriais demonstram ferritina normal ou alta, com ferro sérico baixo, em decorrência de desordem no metabolismo do ferro. • O tratamento da doença de base deve ser realizado sempre que possível. O tratamento de suporte pode ser realizado com reposição de eritropoetina para os casos onde há deficiência e administração de ferro por via parenteral, enquanto que a transfusão de concentrados de hemácias deverá ser reservada para os pacientes sintomáticos. PERDA AGUDA DE SANGUE • É causa comum de anemia hiperproliferativa. Perdas de até 15% do volume sanguíneo são normalmente toleradas por mecanismos compensatórios. Perdas maiores levam a hipotensão e choque. • No choque hipovolêmico ocorre perda sanguínea global de tal forma que os valores hematimétricos podem permanecer normais e não refletem imediatamente a extensão da perda sanguínea. • O tratamento inicial deve ser feito com reposição de cristalóides para manutenção do volume plasmático. Para a perda moderada e de curta duração, a infusão de solução cristaloide costuma ser suficiente. A indicação de transfusão de hemocomponentes deve ser avaliada individualmente. Se a perda sanguínea for maior que 1500 ml ou maior que 30% do volume plasmático haverá necessidade de reposição de concentrados de hemácias. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre • O quadro 1 demonstra a classificação de choque hipovolêmico. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Choque hipovolêmico Classe I Classe II Classe III Classe IV Perda sanguínea (ml) Até 750 750-1500 1500-2000 >2000 Volume de sangue (%) Até 15% 15%-30% 30%-40% >40% Frequência cardíaca <100 >100 >120 >140 Pressão arterial Normal Normal Diminuída Diminuída Débito urinário (ml/h) >30 20-30 5-20 <5 Reposição volêmica Cristalóid e Cristalóide Cristalóide + hemocomponent e Cristalóide + hemocomponent e Quadro 1 – Classificação e tratamento do choque hipovolêmico 9. Papel do baço na imunidade; principais infecções e agentes envolvidos R: De acordo com a estrutura e função, o baço é como 2 órgãos. A polpa branca, formada por bainhas linfáticas periarteriais e centros germinais, age como um órgão imunitário. A polpa vermelha, constituída de macrófagos e granulócitos revestindo os espaços vasculares (cordas e sinusoides), atua como órgão fagocitário. A polpa branca é o local de produção e maturação das células B e células T. As células B no baço geram anticorpos humorais protetores; em certos distúrbios autoimunes (p. ex., ITP, anemias Bruno Feitosa Espino, 3° semestre A polpa vermelha remove bactérias revestidas por anticorpos, eritrócitos senescentes ou defeituosos e células sanguíneas revestidas por anticorpos (como pode ocorrer em citopenias imunes, como em ITP, anemias hemolíticas imunes, teste de Coombs positivo, e algumas neutropenias). A polpa vermelha também serve como reservatório para elementos sanguíneos, em especial leucócitos e plaquetas. Em alguns animais, o baço pode se contrair nos momentos de anemia grave e ocorre uma "autotransfusão" de eritrócitos; não está claro se essa "autotransfusão" acontece nos seres humanos. Durante essa seleção e captação de eritrócitos, o baço remove corpos de inclusão, como corpúsculos de Heinz (precipitados de globulina insolúvel), corpos de Howell-Jolly (fragmentos nucleares) e os núcleos todos; assim, após a esplenectomia ou em estado funcionalmente hipoesplênico, os eritrócitos com essas inclusões aparecem na circulação periférica. Pode haver hematopoiese se a lesão na medula óssea (p. ex., fibrosa ou tumoral) permitir que as células-tronco hematopoiéticas circulem e repovoem o baço adulto (ver também Mielofibrose primária e Síndrome mielodisplásica). Observa-se, na primeira infância, uma esplenomegalia decorrente da congestão na polpa vermelha pelo sequestro de eritrócitos falcizados nos cordões esplênicos e sinusóides, que evolui com a formação de trombose e infartos, culminando com a atrofia e fibrosedo órgão. Este fenômeno, denominado de auto esplenectomia, ocorre geralmente até os 5 anos de idade. Entretanto, mesmo antes da auto esplenectomia, a capacidade fagocítica mediada por opsoninas e a produção de anticorpos são afetadas em consequência da persistente agressão esplênica, levando à asplenia funcional, que se torna permanente em torno do sexto ao oitavo an o de vida. Como consequência da asplenia, haverá uma maior susceptibilidade a infecções por organismos encapsulados, notadamente o Haemophilus influenzae tipo b (Hib) e o pneumococo. O risco de infecção por este último em crianças com anemia falciforme menores de 5 anos é aproximadamente 30 a 100 vezes maior que em crianças saudáveis. Essas infecções, acompanhadas de acidose, hipóxia e desidratação, podem desencadear e/ou intensificar as crises de falcização, já que favorecem a produção de citocinas inflamatórias, aumentando, assim, a expressão das moléculas de adesão endoteliais e a adesão das células falciformes e dos polimorfonucleares no endotélio vascular. Nessas condições, forma-se um círculo vicioso perigoso para o paciente, que pode ser letal se não tratado adequadamente. Este fato justifica a busca por profilaxia e abordagem eficazes. 10. Como realizar a analise do Raios-X pediátrico? O exame de Raio-X é um dos exames de imagem mais comuns na medicina. É um exame indolor, não invasivo e de baixo custo. Funciona através da emissão de raios que penetram alguns tecidos do corpo humano, tornando a imagem enegrecida ao raio-X. Já em outros tecidos, os raios não penetram, como nos ossos e estruturas com certo grau de calcificação, fornecendo imagens brancas. O Raio-X de articulação coxofemoral (quadril), tem como enfoque a articulação coxofemoral, formada pelo osso que compõe a bacia e o fêmur (“osso da coxa”). sanguíneos circulantes também podem ser sintetizados. hemolíticas imunes com teste de Coombs positivo), autoanticorpos inapropriados para elementos Bruno Feitosa Espino, 3° semestre O exame pode ser realizado com mais detalhes de apenas um lado do corpo. Como é feito o exame Raio-X de Articulação Coxofemoral (Quadril)? Para a realização do Raio-X de articulação coxofemoral (quadril),o paciente pode permanecer em pé em frente ao filme, ou se tiver alguma restrição de movimentação ou for conveniente, o exame pode ser realizado com o paciente deitado, sendo que seu posicionamento será orientado pelo profissional da radiologia, seguindo as solicitações médicas. Durante a captação das imagens, o profissional que estiver realizando o exame irá se ausentar, podendo dar orientações ao paciente a partir da sala de comando. Para que serve o Exame Raio-X de Articulação Coxofemoral (Quadril)? Além do acompanhamento de fraturas e de pacientes com prótese no quadril, o exame de Raio-X de articulação coxofemoral (quadril) permite avaliar também casos de displasia, quando há um deslocamento de quadril, de artrose e de processos de inflamação na articulação. Existe uma cintura entre a cabeça e o colo femoral. Pode-se formar uma proeminência óssea, com perda do contorno habitual da cintura. Quando o quadril é dobrado, esta proeminência óssea impacta no acetábulo e acaba lesando estruturas como o lábio acetabular e a cartilagem articular. O excesso de cobertura do acetábulo também pode aumentar o impacto entre o acetábulo e o fêmur. A parede anterior mais proeminente que a posterior ,caracteriza um excesso de cobertura acetabular, também chamado de retroversão. Osteoartrose – caracteriza-se na radiografia como uma redução do espaço articular na porção superior do quadril, com esclerose das margens ósseas. A osteonecrose do quadril resulta de suprimento vascular insuficiente para a cabeça femoral, sendo, na maioria das vezes, pós-traumática, geralmente relacionada a fratura do colo femoral ou luxação do quadril. A necrose relacionada ao trauma é geralmente unilateral, enquanto a osteonecrose não-traumática é bilateral em até 70% dos casos Osteonecrose da Cabeça Femoral (ONCF) é uma das complicações da anemia falciforme, a doença hematológica hereditária mais prevalente no Brasil. A ONCF é um estado complexo e progressivo, resultado de uma complicação diretamente prevenível. Esta condição resulta da diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo para a cabeça femoral, levando à lesão macroscopicamente definida, à perda do trabeculado medular e ao colapso subcondral, gerando deformidade com destruição articular secundária. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Trata-se de uma condição que gera incapacidade funcional grave do quadril, associada à dor e consequente limitação para atividades de lazer e de vida diárias em adultos jovens, adolescentes e crianças, apesar de poucos relatos a respeito. Nos seus estágios iniciais, a ONCF pode ser tratada de forma conservadora ou com cirurgias pouco invasivas e ainda apresentar resultados satisfatórios e resolutivos para a melhora dos sintomas; entretanto, o atraso do tratamento requer procedimentos de alta complexidade e tem, na maioria das vezes, mau prognóstico Curiosidade O médico Jessé Santiago Acioly Lins tinha apenas 25 anos quando anunciou que havia identificado os mecanismos de herança genética da anemia falciforme. A doença, mais comum entre os descendentes de africanos, faz com que os glóbulos vermelhos do sangue (hemácias) assumam a forma de foice. Desse modo, as hemácias morrem mais cedo e a distribuição de oxigênio para os tecidos é comprometida, causando febre e dores musculares. A descoberta se deu em 1946 como resultado da observação de pessoas com a doença em Salvador, Bahia, e do estudo das leis da genética clássica aplicadas à distribuição do gene responsável pela produção de uma das variantes estruturais da hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio e que dá a cor vermelha ao sangue. Antecipando-se aos colegas de países desenvolvidos, o médico concluiu que a anemia falciforme era uma doença autossômica recessiva, isto é, tanto o pai como a mãe precisariam carregar o gene que leva à produção de hemoglobinas anormais, sendo preciso herdar os dois genes para que a doença se manifeste. A anemia falciforme foi descrita pela primeira vez pelo médico norte-americano James Herrick, em 1910, a partir de amostras de sangue de um indivíduo de ilha de Granada, no Caribe. No início da década de 1940, no entanto, a doença ainda era pouco conhecida por médicos e pesquisadores brasileiros, à exceção de alguns hematologistas. A atenção àquela época se voltava a patologias de maior impacto social, como câncer e tuberculose. Aos poucos, a moléstia deixou o quase anonimato e se tornou uma questão de saúde pública, sendo cada vez mais discutida e estudada, sobretudo por conta da diversidade étnica e da intensa miscigenação da população. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Nascido em Porto Calvo, Alagoas, Jessé Acioly (1921-1996), como ficou conhecido, era estudante do quinto ano na Faculdade de Medicina da Bahia quando apresentou suas ideias, em 1947, em um artigo de 29 páginas publicado em uma revista local chamada Arquivos da Universidade da Bahia, também conhecida como Tertúlias Acadêmicas. A partir dos trabalhos do monge austríaco Gregor Mendel (1822-1884) sobre a transmissão de características em ervilhas, Acioly fez um estudo detalhado da doença, discutindo sua alta incidência no Brasil e as formas de tratamento possíveis. “O trabalho era muito bem elaborado e comprovava por meio de um heredograma [representação das relações de parentesco] que a doença era herdada de forma autossômica recessiva”, diz a geneticista Eliane Azevedo, professora emérita da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (FM-UFBA) e reitora entre 1992 e 1993. “Tratava-se de uma descoberta inédita sobre o mecanismo de herança de uma doença que estava na vanguarda das pesquisas nos países mais desenvolvidos.” Apesar de sua importância, o trabalhopermaneceu praticamente ignorado. “O fato de ter sido publicado em português em uma revista de circulação local e de que poucos pesquisadores haviam ouvido falar contribuiu para isso”, afirma o biomédico Magnun Nueldo Nunes dos Santos, professor de hematologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-Unicamp). Em 1947, nos laboratórios de Clínica Hereditária da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, o geneticista James Neel chegou às mesmas conclusões de Acioly, publicando-as na revista Medicine, de maior expressão para a área médica. Bruno Feitosa Espino, 3° semestre Resumo reivindicando a prioridade de Acioly sobre a descoberta da herança genética da anemia falciforme. Ao lado, artigo de James Neel, em que descreve as mesmas conclusões a que o médico brasileiro havia chegadoEliane azevedo/american journal of human genetics e james neel/medicine O trabalho teve grande repercussão entre os especialistas da época e Neel ficou conhecido como o primeiro a ter identificado os mecanismos de herança da doença. Coube a Eliane Azevedo, 27 anos depois, reivindicar a prioridade de Acioly sobre a descoberta dos mecanismos de herança genética da doença. Em 1969, em uma conversa informal no Laboratório de Genética Médica do Hospital das Clínicas da FM-UFBA, Acioly lhe mostrou uma cópia de seu trabalho publicado em 1947. “Percebi que o artigo descrevia o mecanismo de herança da anemia falciforme pela primeira vez na literatura científica”, ela conta. À época, geneticistas do mundo todo atribuíam a descoberta apenas a James Neel. Eliane, então, preparou um resumo em inglês do artigo e o enviou ao editor da revista American Journal of Human Genetics. Seu comentário foi publicado em 1973 e as ideias de Acioly se tornaram conhecidas. Meses mais tarde, a pedido do serviço de hematologia da Universidade de Wisconsin, Eliane traduziu o artigo na íntegra e o enviou à universidade em que Neel trabalhava. A partir de então, Acioly passou a ser considerado, ao lado de Neel, o responsável pela identificação dos mecanismos de herança genética da doença. Esse foi o primeiro e único trabalho de Acioly na área de genética. Seu interesse àquela época se voltava à hematologia clínica. No início dos anos 1960, no entanto, o médico se mudou para a Espanha, onde se especializou em psiquiatria, área na qual seguiu carreira. “Tente! E não diga Que a vitória está perdida Se é de batalhas Que se vive a vida Tente outra vez!” Raul Seixas Bruno Feitosa Espino, 3° semestre
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