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Ginástica Rítmica ?????. ?? Autores: Profa. Angélica Segóvia de Araújo Profa. Carla Ferro Pereira Monfredini Prof. Jorge Alexandre da Silva Colaboradores: Prof. Marcel da Rocha Chehuen Ginástica Rítmica Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Professores conteudistas: Angélica Segóvia de Araújo / Carla Ferro Pereira Monfredini / Jorge Alexandre da Silva Angélica Segóvia de Araújo Graduada em Educação Física pela Fefisa (1984), especialista em Ginástica Artística pela USP (1985), pós-graduada em Treinamento Desportivo pela FMU (1999), docente da Universidade Paulista (UNIP) desde 2011, professora de Ginástica Artística do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo desde 1989, árbitra estadual de Ginástica Artística, coordenadora da Liga Escolar de Ginástica Artística de São Paulo desde 2010 e coordenadora da Liga Nescau Jovem Pan na modalidade de Ginástica Artística. Carla Ferro Pereira Monfredini Graduada em Educação Física pela UEL (2006), especialista em Aprendizagem Motora pela USP (2007), mestre em Ciências na área de Biodinâmica do Movimento Humano pela USP (2011), tutora do curso de especialização em Aprendizagem Motora da USP (2008–2011, 2016–2017), docente da Uniesp (2011–2014), docente da Unip desde 2014, especialista em Ginástica Rítmica pela Unopar (2015). Jorge Alexandre da Silva Graduado em Educação Física pela Osec (1989), pós-graduado em Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho (2007), Docente da Unip desde 2006, funcionário público concursado da Prefeitura Municipal de Barueri desde 1998 (atuando nas funções de treinador de Ginástica Artística de 1998 a 2009, gerente esportivo de 2009 a 2015 e diretor de esportes em 2015). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Z13 Zacariotto, William Antonio Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol. p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230. 1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título 681.3 ? ????.?? – ?? Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Aline Ricciardi Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Sumário Ginástica Rítmica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 CARACTERÍSTICAS DA GINÁSTICA RÍTMICA – CONCEITO, CATEGORIA INDIVIDUAL E CONJUNTO, TRÍADE MÚSICA, MOVIMENTO E APARELHO ................................................................... 11 1.1 Musicalidade .......................................................................................................................................... 12 1.2 Movimentos corporais, passos de dança e elementos pré-acrobáticos ......................... 12 1.3 Manejos de aparelhos ......................................................................................................................... 14 1.4 Área de competição e vestimenta ................................................................................................. 15 1.5 Programa de competição (individual e conjunto, sênior/adulto e juvenil) .................. 17 2 HISTÓRIA DA GINÁSTICA RÍTMICA ........................................................................................................... 20 2.1 A Ginástica Rítmica no Brasil .......................................................................................................... 23 2.2 A Ginástica Rítmica nas Olimpíadas ............................................................................................. 24 2.3 Ginástica Rítmica masculina ........................................................................................................... 27 2.3.1 Linha tradicional ..................................................................................................................................... 27 2.3.2 Linha asiática (Japão) ............................................................................................................................ 27 2.3.3 A Ginástica Rítmica masculina no Brasil ...................................................................................... 29 3 OS ELEMENTOS DE DIFICULDADES CORPORAIS E PRÉ-ACROBÁTICOS DA GINÁSTICA RÍTMICA ................................................................................................................................... 29 3.1 Saltos ........................................................................................................................................................ 31 3.2 Equilíbrios ............................................................................................................................................... 34 3.3 Rotações................................................................................................................................................... 37 3.4 Pré-acrobáticos ..................................................................................................................................... 40 3.4.1 Rolamentos para frente e para trás sem voo ....................................................................................... 41 3.4.2 Reversões para frente e para trás e lateral sem voo ................................................................ 41 3.4.3 Rolamento sobre o peito/fish-flop .................................................................................................. 42 4 APARELHOS DA GINÁSTICA RÍTMICA FEMININA E SUAS POSSIBILIDADES DE MANEJO ........................................................................................................................................................... 43 4.1 Corda ......................................................................................................................................................... 50 4.1.1 Manejos da corda ................................................................................................................................... 52 4.2 Arco ............................................................................................................................................................ 57 4.2.1 Manejosdo arco ...................................................................................................................................... 58 4.3 Bola ............................................................................................................................................................ 62 4.3.1 Manejos da bola ...................................................................................................................................... 63 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 4.4 Maças ........................................................................................................................................................ 66 4.4.1 Manejo das maças .................................................................................................................................. 67 4.5 Fita .............................................................................................................................................................. 71 4.5.1 Manejo da fita .......................................................................................................................................... 72 Unidade II 5 ESTRATÉGIAS DE PRÁTICA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE INICIANTES DA GINÁSTICA RÍTMICA .................................................................................................... 81 5.1 Ginástica Rítmica e a iniciação à prática ................................................................................... 81 5.2 Efeitos das diferentes estratégias de prática no processo de ensino-aprendizagem de iniciantes da Ginástica Rítmica .......................................................... 83 5.3 Proposta de ensino e estrutura do desenvolvimento das aulas de Ginástica Rítmica para iniciantes ................................................................................................... 87 5.3.1 Proposta/sugestão de programa e estrutura de uma aula de Ginástica Rítmica ......... 89 6 TREINAMENTO DA GINÁSTICA RÍTMICA VOLTADO PARA A COMPETIÇÃO E PARA O ALTO RENDIMENTO ........................................................................................................................ 95 6.1 Características da Ginástica Rítmica de competição ............................................................ 96 6.1.1 O perfil da atleta de Ginástica Rítmica .......................................................................................... 97 6.1.2 O treinamento das ginastas de elite (alto rendimento) .......................................................... 98 6.1.3 Trabalho preventivo .............................................................................................................................101 6.2 Flexibilidade na Ginástica Rítmica ..............................................................................................102 6.2.1 Flexibilidade ativa e passiva ..............................................................................................................102 6.2.2 Fatores que influenciam a flexibilidade .......................................................................................104 6.2.3 O treinamento da flexibilidade na Ginástica Rítmica ............................................................105 Unidade III 7 COMPOSIÇÕES COREOGRÁFICAS NA GINÁSTICA RÍTMICA .........................................................114 7.1 Individual ...............................................................................................................................................114 7.1.1 Séries individuais a mãos livres ....................................................................................................... 115 7.1.2 Séries individuais com aparelhos ................................................................................................... 115 7.2 Composições coreográficas em conjuntos ..............................................................................116 8 CÓDIGO DE PONTUAÇÃO: PRINCÍPIOS E ARBITRAGEM DOS EXERCÍCIOS INDIVIDUAIS E CONJUNTO ............................................................................................................................118 8.1 Exercícios individuais e dificuldades...........................................................................................120 8.1.1 Dificuldades corporais (BD) ............................................................................................................. 120 8.1.2 Combinação de passos de dança (S) .............................................................................................121 8.1.3 Elementos dinâmicos com rotação/risco (R) ............................................................................ 122 8.1.4 Dificuldades de aparelho/maestria (AD) ..................................................................................... 122 8.2 Exercícios de conjunto e dificuldades ........................................................................................123 8.2.1 Dificuldades corporais (BD) ............................................................................................................. 123 8.2.2 Dificuldade de troca (ED) .................................................................................................................. 124 8.2.3 Combinação de passos de dança (S) ............................................................................................ 125 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 8.2.4 Elementos dinâmicos com rotação/risco (R) ............................................................................ 125 8.2.5 Colaborações (C) ................................................................................................................................... 125 8.3 Arbitragem e composição da nota ..............................................................................................126 8.3.1 Funções do Painel D ............................................................................................................................ 126 8.3.2 Funções do Painel E (para individual e conjunto) .................................................................. 127 8.3.3 Nota final ................................................................................................................................................ 128 9 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 APRESENTAÇÃO Caro aluno, seja bem-vindo ao programa de estudo EaD! Nesta disciplina você vai aprender sobre Ginástica Rítmica. Veremos seu desenvolvimento enquanto modalidade esportiva, suas características gerais e técnicas (elementos corporais e manejo de aparelho), além de processos pedagógicos, preparação física e noções de julgamento relacionados a ela. Basicamente, o objetivo deste livro-texto é apresentar a vocês, alunos, o universo cultural da Ginástica Rítmica. Isso se dará por meio do reconhecimento da Ginástica Rítmica como um conteúdo da Educação Física, da introdução de conhecimentos técnicos científicos e de sua aplicabilidade no mercado de trabalho. Serão apresentados os conceitos, as características e a terminologia da área, conhecimentos básicos necessários para que vocês sejam capazes de desenvolver e aplicar programas de iniciação, conduzindo a atividade de forma segura e consciente, adaptando-a de maneira apropriada às diferentes situações e condições dos praticantes, sem se esquecer da consciência crítica com relação aos benefícios e prejuízos que a atividade pode proporcionar aos diferentes praticantes. É muito importante que, além de acompanhar o texto e as atividades propostas neste livro-texto, você consultetambém as referências bibliográficas indicadas no fim da obra, pois o material encontrado aqui é apenas um breve desenvolvimento desse vasto assunto, não pretendendo esgotar o conceito ou tema. Bom estudo! INTRODUÇÃO A Ginástica Rítmica é uma modalidade competitiva reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG), no entanto, apenas para gênero feminino. Mesmo existindo a Ginástica Rítmica masculina, tal categoria não é reconhecida pela FIG. A ideia deste livro-texto é demonstrar o percurso e o desenvolvimento dessa modalidade desde seu início, na Europa, a partir de várias correntes (dentre elas, a dança), até chegarmos à forma como a conhecemos hoje. Além disso, é importante situar os alunos historicamente quanto às modificações em seu código de pontuação e nos métodos desenvolvidos para aprimoramentos da modalidade. Cabe ainda esclarecer como trabalhar com a Ginástica Rítmica nas mais diversas possibilidades de atuação de um educador físico (em clubes, academias, na iniciação esportiva, como auxiliar de outras modalidades esportivas ou nas atividades extracurriculares). Inicialmente, apresentaremos as principais características da Ginástica Rítmica, seus aspectos históricos, seus moldes atuais, suas confederações e onde ela é mais presente. Veremos seu surgimento na Europa e a acompanharemos até sua chegada ao Brasil, conheceremos os aparelhos que pertencem ao gênero individual (feminino) e discutiremos como são realizadas as provas em conjunto, além de abordar seus manejos e elementos corporais. Trataremos ainda sobre a Ginástica Rítmica masculina. 10 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Na sequência, abordaremos a prática da Ginástica Rítmica e seus processos de aprendizagem, além de falar sobre o treinamento voltado para iniciantes. Qual a sua importância no desenvolvimento motor da criança? Qual a importância do desenvolvimento das habilidades de manipulação, locomoção e estabilização? Veremos sobre maturação, lesões, os vários métodos de treinamento e, um tema essencial para a prática dessa modalidade, a flexibilidade. Por fim, nos deteremos sobre as composições coreográficas, abordando tanto a relevância da expressividade quanto os vários estilos de dança importantes na coreografia da Ginástica Rítmica. Nesse momento, falaremos também sobre o código de pontuação e suas modificações ao longo dos anos. 11 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Unidade I 1 CARACTERÍSTICAS DA GINÁSTICA RÍTMICA – CONCEITO, CATEGORIA INDIVIDUAL E CONJUNTO, TRÍADE MÚSICA, MOVIMENTO E APARELHO A Ginástica Rítmica (GR) é uma das oito modalidades gímnicas reconhecidas e tuteladas pela FIG. Essa modalidade esportiva prima pela beleza, que se expressa por meio dos movimentos complexos, da expressividade das ginastas, da dança, da música e da vestimenta; em suma, de todo o contexto que envolve as apresentações, sejam individuais ou em conjunto. Por isso a GR ser conhecida como um “esporte-arte”. A GR possui características que a diferenciam das demais modalidades ginásticas de competição, listadas a seguir. • Trata-se de uma modalidade oficialmente reconhecida apenas para o gênero feminino (existe a GR masculina, mas ainda não é uma modalidade reconhecida pela FIG). • Em suas apresentações, a ginasta não executa elementos acrobáticos presentes nas demais modalidades gímnicas de competição (mortais e outros elementos de voo com rotação em torno do eixo transversal do corpo). • As apresentações de GR sempre são acompanhadas de música. • Os aparelhos utilizados pelas ginastas são portáteis. • É considerada uma modalidade de base coordenativa. A GR é fundamentada em uma estrutura trifásica: os movimentos corporais, os manejos dos aparelhos (ou aparatos) e a musicalidade (ou acompanhamento musical). Musicalidade Manuseio dos aparelhos Movimentos corporais Ginástica rítmica Figura 1 – Estrutura trifásica da GR 12 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I A GR, por meio dessa sua estrutura trifásica, privilegia o desenvolvimento global do aluno, já que todos os domínios do desenvolvimento humano são trabalhados: por exemplo, o estímulo e o desenvolvimento de capacidades como percepção espacial, percepção temporal, coordenação oculomanual e oculopedal promovem maior coordenação para o indivíduo. Um privilégio desse esporte é que apresenta habilidades motoras bem próximas da cultura corporal encontrada nas brincadeiras e nos jogos infantis, como pular corda, brincar com o bambolê (arco), brincar com bola, o que permite desde cedo proporcionar vivências motoras na GR sem iniciar-se precocemente na habilidade. 1.1 Musicalidade A própria nomenclatura já define a importância da música nessa modalidade gímnica, ela é rítmica. E esse ritmo é determinado pela música, que é obrigatória em todas as apresentações desde as primeiras categorias desse esporte. E a música é o fator que determinará as características da apresentação: se será alegre ou triste, forte ou suave, clássica ou moderna e, consequentemente, influenciará a expressividade da ginasta, que deverá demonstrar os sentimentos sugeridos pela composição musical através dos movimentos corporais realizados em perfeita harmonia com a música escolhida. Desde seus primórdios, a GR sempre esteve acompanhada da música, o que se seguiu após a transformação da modalidade em esporte. Em um primeiro momento, as apresentações eram acompanhadas de um músico que ficava na área de competição tocando em um piano as partituras das coreografias, uma vez que não existiam os diversos tipos de tocadores de mídias de hoje. Posteriormente as músicas passaram a ser tocadas por meios eletrônicos, como toca-fitas e CD players. Também as características das músicas têm mudado com o tempo. Inicialmente, apenas músicas orquestradas eram permitidas, depois, foi autorizado o uso de músicas em que a voz humana fazia às vezes de um instrumento (coro, sem palavras) e apenas bem recentemente a palavra cantada foi autorizada, tornando a modalidade mais atrativa e moderna. 1.2 Movimentos corporais, passos de dança e elementos pré‑acrobáticos Os movimentos corporais na GR, que fazem parte do processo ensino-aprendizagem da modalidade e das composições coreográficas, são elementos de dificuldade corporal, passos de dança e elementos pré-acrobáticos. Vejamos o que quer dizer cada um deles. Elementos de dificuldade corporal (também conhecidos como elementos corporais ou dificuldades corporais) são aqueles descritos no código de pontuação da modalidade, divididos em três grupos fundamentais: saltos, equilíbrios e rotações. Os elementos de dificuldade corporal constituem a base de toda a coreografia de uma ginasta, pois são eles que, aliados ao manejo de aparelhos, irão compor a complexidade do esporte, trate-se de um desportista em fase inicial ou de alto nível. Esses elementos, identificados no código como BD (do inglês body difficulties), estão listados nas tabelas de dificuldades do código de pontuação e possuem valores predefinidos (adiante veremos mais sobre isso). A seguir, estão os elementos de dificuldade corporal e seus respectivos símbolos. 13 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA EquilíbriosSaltos Rotações Figura 2 – Representação simbólica dos elementos de dificuldade corporal Segundo o código de pontuação, uma coreografia deve conter, no mínimo, uma combinação de passos de dança com duração de oito segundos, que devem estar em consonância com o tempo, o ritmo da música,o caráter musical e os acentos. Apesar de o balé ser a base do trabalho com dança na GR, não há a obrigatoriedade do uso desse estilo nas coreografias, exigindo-se apenas realizar passos de dança que combinem com o tema da música (como dança folclórica, dança moderna, dança de salão etc.). Destaca-se também a importância do uso do tempo (variações de velocidade) e do espaço (movimentos junto ao chão e nas diversas direções) durante a execução desses movimentos. Os exercícios acrobáticos, como os mortais e outros, que têm uma fase aérea bem definida e são comuns às demais modalidades gímnicas, não são permitidos na GR. Vale lembrar que acrobacias são caracterizadas pela inversão dos eixos corporais, notadamente o eixo transversal do corpo, muitas vezes, em paralelo à inversão de outro eixo (mortais com pirueta, por exemplo, quando o eixo longitudinal também é utilizado). Por isso na GR utilizamos o termo pré-acrobático, que define acrobacias que não possuem fase aérea. Eis alguns dos elementos pré-acrobáticos permitidos e que estão listados no código de pontuação da modalidade: • rolamento para frente; • rolamento para trás; • reversão para frente; • reversão para trás; • estrela e variações; • reversões com diferentes tipos de apoio (como mãos, antebraço e peito); • outros (demais pré-acrobáticos, que serão vistos mais adiante). Observação O termo elementos de ligação é muito comum em publicações sobre GR anteriores a 2016. Ele se referia às diversas formas de deslocamentos (formas de andar, correr, rolar etc.), aos saltitos, aos balanceios, às circunduções, aos movimentos em forma de oito e aos giros. Hoje eles estão associados com os passos de dança, mas não perderam sua importância. 14 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I O texto do código de pontuação (FIG, 2017), aliás, exprime bem a importância desses movimentos. Por isso, os elementos de ligação não são obrigatórios, mas fazem parte dos movimentos corporais aprendidos nas aulas de GR. O objetivo é que eles sejam usados tanto na combinação de passos de dança como para ligar os elementos de dificuldade corporal. Saiba mais A Federação Internacional de Ginástica é uma das organizações quando se fala em GR. Você pode conhecer melhor a federação acessando o link indicado a seguir. <http://www.gymnastics.sport/site/>. 1.3 Manejos de aparelhos Manejo de aparelhos significa manusear os aparelhos, manipulá-los como uma continuidade do corpo do ginasta, e, por isso, o atleta deve desenvolver afinidades de manuseio com os aparelhos por todo o corpo. A interação entre a ginasta e o aparelho é uma das características mais interessantes da GR, tanto pela dificuldade que impõe à apresentação quanto pela criatividade e beleza estética que proporciona. Corda Arco Bola Maças Fita Figura 3 – Aparelhos de GR Os aparelhos foram introduzidos na GR justamente para realçar a beleza das apresentações e as características femininas. Esses aparelhos são a corda, o arco, a bola, as maças e a fita. A seguir estão seus respectivos símbolos. 15 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Corda Arco Bola Maças Fita Figura 4 – Representação simbólica de aparelhos da GR Assim, a GR é uma modalidade que trabalha os movimentos corporais associados ao manejo de aparelhos (corda, arco, bola, maças e fita), sempre com um acompanhamento. 1.4 Área de competição e vestimenta Tanto na modalidade individual quanto na modalidade de conjunto, usa-se um tapete medindo 16 metros x 16 metros, correspondendo à área de competição um quadrado de 13 metros x 13 metros (ou seja, de cada lado do quadrado, há uma sobra como forma de segurança de 1,5 metros). O tapete possui cor lisa (podendo variar a cor de competição para a competição), tendo a linha que delimita a área de competição (13 metros x 13 metros) sempre uma cor diferente do tapete. Dependendo do campeonato, as ginastas de GR realizam as apresentações na mesma área de competição da Ginástica Artística, ou seja, em uma área em que há um tablado abaixo do tapete. De modo geral, atravessar esse limite da área de competição (com o aparelho, por um ou dois pés, com alguma parte do corpo tocando o solo fora da área especificada ou qualquer aparelho deixando a área e retornando por si só) implica punição da ginasta, descontando-se 0,30 ponto a cada ocorrência. Figura 5 – Imagem representando o tapete da área de competição e o local em que ficam os materiais reservas Com relação às vestimentas, nas competições de GR, é permitido que as ginastas usem: • collant com ou sem mangas (vale destacar que collants de dança com alças finas não são permitidos); 16 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I • calça justa (por cima ou por baixo do collant) até o tornozelo; • macacão (desde que seja justo ao corpo); • uma saia (que não esteja abaixo da área pélvica) por cima do collant, da calça ou do macacão. Figura 6 – Exemplo de um modelo de collant de GR As ginastas podem realizar suas apresentações com os pés descalços ou com sapatilhas de ginástica, o cabelo deve estar preso e com bom acabamento, quanto à maquiagem, ela deve ser clara e leve. Figura 7 – Imagem representando a sapatilha da GR 17 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA 1.5 Programa de competição (individual e conjunto, sênior/adulto e juvenil) Para a FIG, a GR está dividida nas categorias juvenil (13 a 15 anos) e adulto (acima de 16 anos). Já as categorias de base são responsabilidade das Uniões Continentais e das Confederações Nacionais, assim como suas regras específicas. No Brasil, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) propõe as categorias pré-infantil (9 e 10 anos) e infantil (11 e 12 anos) e, na maioria das vezes, segue a FIG para diferenciar as categorias juvenil e adulto – no entanto, dependendo do campeonato, pode haver alteração desses números (CBG, 2017). Tabela 1 Categorias em campeonatos brasileiros Categoria Idades Pré-Infantil 09 e 10 anos Infantil 11 e 12 anos Juvenil 13 a 15 Adulto acima de 16 anos Adaptada de: CBG (2017). Como dito, as competições oficiais de GR podem ser realizadas de forma individual ou em conjunto. Os programas de competição da categoria adulta são baseados nas normas do código de pontuação (FIG, 2017), contudo, pode haver variação, como no caso de competições que possuem regras adaptadas à realidade local. O programa de competição individual para ginastas adultos geralmente consiste em quatro exercícios: a ginasta deve apresentar uma série coreográfica para cada aparelho (arco, bola, maças e fita), estando a duração de cada exercício/série entre 1’15’’ e 1’30’’. Das quatro séries coreográficas, duas podem usar como acompanhamento músicas com letras. No caso de competições oficiais da FIG, campeonatos mundiais e Jogos Olímpicos, há três tipos de competição para a categoria individual (CI, CII e CIII), descritas a seguir. A CI corresponde à classificação e à competição por equipe, ou seja, na competição CI, as atletas disputam individualmente a classificação para a competição individual geral (CII) e a classificação para a competição final por aparelho (CIII). A CI também corresponde à competição por equipe, em que a somatória das notas das séries coreográficas de cada atleta da equipe irá determinar se a equipe será premiada ou não. No primeiro dia de competição, todas as ginastas das equipes inscritas participam, e a equipe pode ser composta de três ou quatro ginastas (cabendoentre um, no mínimo, e quatro, no máximo, exercícios por ginasta). A CII é a competição individual geral. No entanto, para participar da competição individual geral, a ginasta deve se apresentar, obrigatoriamente, nos quatro exercícios (arco, bola, maças e fita), pois a premiação da modalidade individual geral é determinada pela somatória dessas quatro notas obtidas pela ginasta. Os resultados obtidos irão determinar: 18 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I • a premiação por equipe, ou seja, troféus e medalhas do 1º ao 3º lugar (a classificação é dada pelo somatório das dez melhores notas registradas pela equipe); • classificação e premiação da modalidade individual geral, ou seja, troféus do 1º ao 3º lugar (a partir da somatória das quatro notas obtidas pela ginasta); • qualificação para a competição final por aparelho. Já a CIII corresponde à competição final por aparelho. Quando há até 30 ginastas participantes na etapa classificatória (primeiro dia de competição), até oito ginastas são classificadas por aparelho, de acordo com as maiores notas (sendo, no máximo, duas ginastas por entidade). Dessa forma, teremos oito apresentações coreográficas/exercícios para cada aparelho, com a premiação se dando por aparelho (medalhas do 1º ao 3º lugar). Já o programa geral para competições em conjunto, na modalidade adulta, consiste em dois exercícios (séries coreográficas) com duração de 2’15’’ a 2’30’’ cada um. A equipe deve ser formada por cinco ginastas oficiais, mas pode ter seis, sendo uma ginasta reserva. Nesse caso, todas devem fazer parte de pelo menos um exercício. Vale destacar que, das duas séries coreográficas (exercícios), uma pode ser com música com palavras. A seguir, à esquerda, temos o exemplo de exercício com um único tipo de aparelho, ou seja, as cinco ginastas com o mesmo tipo de aparelho. Já à direita, vemos uma apresentação com dois tipos de aparelho, ou seja, três ginastas com um tipo de aparelho e as outras duas ginastas com outro tipo de aparelho (no exemplo em questão, três arcos e duas bolas). Exercícios aparelhos iguais (5) Exercícios aparelhos diferentes (3x2) Figura 8 – Representação dos exercícios em conjunto Há dois tipos de competição em conjunto, vejamos cada uma delas. • Competição de conjuntos (geral e classificatória): no primeiro dia de competição, participam todos os conjuntos inscritos. É obrigatória a apresentação dos dois exercícios do conjunto na classificatória para a competição final. Os resultados obtidos irão determinar a premiação do conjunto geral, ou seja, troféus e medalhas do 1º ao 3º lugar a partir da somatória das notas dos dois exercícios de conjunto apresentados na competição geral (uma série com aparelhos iguais e outra série com aparelhos diferentes). 19 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA • Competição final: no segundo dia de competição, participam da competição final somente os oito melhores conjuntos classificados no primeiro dia. Os resultados obtidos irão determinar a premiação do 1º ao 3º lugar por aparelho na competição final, ou seja, a premiação do 1º ao 3º lugar para os grupos no exercício com aparelhos iguais, e do 1º ao 3º lugar para os grupos no exercício com aparelhos diferentes. Mas quem determina o aparelho que as ginastas devem utilizar para cada exercício no ano atual de competição? A definição dos aparelhos é feita pela FIG, por meio do código de pontuação. Atualmente, de acordo com o código de pontuação de GR 2017-2020 (FIG, 2017), estamos no ciclo 2017-2020, e no anexo do código há o Programa de Aparelhos a serem utilizados durante esse ciclo e no próximo ciclo olímpico. Como se pode observar a seguir, no individual não há mudança dos aparelhos, pois na categoria adulta o aparelho corda não está mais presente, restando aos demais aparelhos (arco, bola, maças e fita) compor o quadro dos quatro exercícios em uma competição. Já na categoria de conjuntos, a cada dois anos há a mudança do tipo de aparelho escolhido para as competições, podendo a corda fazer parte. Quadro 1 – Ginastas individuais: 4 exercícios 2017-2018 2019-2020 2021-2022 2023-2024 Fonte: FIG (2017, p. 79). Quadro 2 – Conjuntos: 2 exercícios 2017-2018 5 3 2 2019-2020 5 3 2 pares 2021-2022 5 pares 3 2 2023-2024 5 3 2 pares Fonte: FIG (2017, p. 79). 20 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Uma vez abordadas as principais características da GR (conceito, vestimenta, área e programa de competição), podemos ver como a GR surgiu, sua história no mundo, sua evolução no Brasil e nos Jogos Olímpicos. 2 HISTÓRIA DA GINÁSTICA RÍTMICA A história da GR mantém uma relação estreita e especial com a dança e suas manifestações rítmicas expressivas, além do balé e da ginástica natural. A GR não nasceu de uma forma regular (LIOBET, 1998) ou pronta: ela tem suas raízes na Ginástica Moderna surgida no século XIX, com influência de vários estudiosos em diversas áreas de conhecimento. Assim, ela vem passando por muitas transformações, desde sua criação até os dias de hoje. Conforme Gaio (2007), a GR teve influência de quatro campos: dança, música, teatro e pedagogia. Apesar de terem trajetórias próprias, essas áreas contribuíram, cada uma da sua forma, para o desenvolvimento das características da GR. Segundo Peuker (1974), a GR nasceu a partir de um movimento renovador da ginástica, fruto de pensamentos de vários autores. A tal respeito, Lafranchi (2001) descreve a GR da seguinte maneira: A Ginástica Rítmica é uma modalidade desportiva essencialmente feminina que se fundamenta na expressividade artística. É conceituada como a busca do belo, uma explosão de talento e criatividade, em que a expressão corporal e o virtuosismo técnico se desenvolvem juntos, formando um conjunto harmonioso de movimento. Na área da pedagogia, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo, escritor, teórico político e compositor autodidata suíço, escrevia sobre a ginástica natural, estudando sobre o papel da ginástica na educação física e descrevendo seu desenvolvimento técnico e prático na educação infantil. Rousseau, considerado um dos principais filósofos do Iluminismo, preconizou a educação do corpo como parte da educação total. Para ele, as instituições educativas corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade, e, para a criação de um novo homem e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e sua razão com vistas à liberdade e à capacidade de julgar. Johann Christoph Friedrich Guts Muths (1759-1839), alemão que trabalhou muito para o desenvolvimento das ginásticas pedagógicas, é considerado o pai da ginástica natural, pois ensinou sobre o assunto por mais de 50 anos. Ele ainda estudou Teologia, Física, Matemática, Filosofia e História, mas se destacou pela atuação na área das ginásticas, publicando, em 1793, o primeiro livro de ginástica Gymnastik fur die Jugend (ginástica para jovens). Muths creditava que os exercícios deveriam desenvolver uma pessoa por completo, publicando ainda outras obras sobre o assunto. Posteriormente, surge na Suécia Per Henrik Ling (1776-1839), cujo objetivo era educar as pessoas sobre os “exercícios sistematizados adequados”, que chamou de ginástica médica. Ele não só acreditava que a anatomia e a fisiologia eram o fundamento da ginástica, mas também que os efeitos dos movimentos produzidos sobre os aspectos físicos e psicológicos deveriam ser 21 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o -09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA estudados detalhadamente. Em 1813, fundou o Instituto Central de Ginástica de Estocolmo com a obrigação de educar os professores de ginástica para as necessidades militares e escolares. Seu método ginástico tem quatro linhas de atuação: pedagógica, militar, médica e estética. Para Ling, realmente era importante ajudar as pessoas, dedicando o resto de sua vida à construção do sistema que havia criado (AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015). Na área das artes cênicas, encontramos François Chéri Delsarte (1811-1871). Músico e professor francês, apesar de compositor, foi mais conhecido como professor de canto e declamação. Delsarte foi um expoente da comunicação através dos movimentos corporais (ginástica expressionista), pois buscava conectar a experiência emocional interior do ator com um conjunto sistematizado de gestos e movimentos baseados nas próprias observações de interação humana. As suas experiências eram concentradas nas relações entre corpo e alma, nos mecanismos que traduziam a sensibilidade do espírito. Delsarte adotou a concepção da ginástica natural, criando uma série de exercícios naturais. Trabalhou com atores da época, fazendo com que encontrassem em suas performances movimentações com gestos mais expressivos, acrescentando a beleza e a estética do movimento à ginástica da época. Ele também influenciou a nova dança moderna, que se desenvolveu nos Estados Unidos e na Europa no século XX. Na corrente da dança, temos o francês Jean-George Noverre (1727-1810), conhecido como “Sheakespeare da dança”. Embora tenha criado cerca de 150 balés em Paris, Viena e Stuttgart, sua principal influência foi como reformador. O objetivo de Noverre era libertar o corpo expressivo do bailarino de posições estereotipadas e máscaras pesadas, arquivando as armaduras incômodas de danças de batalha e outras vestimentas que escondiam o corpo. Seu livro Lettres sur la Danse at sur les Ballets (1760) abriu uma era nova, e suas teorias sobre balé e movimento expressivo se difundiram pela Europa e ainda hoje influenciam o balé moderno. Mas Noverre não foi o único, outras teorias na área surgiram, como as do húngaro Rudolf Laban (1879-1958). Músico, bailarino, coreógrafo, performático, escritor e teórico da Arte do Movimento, Laban foi fundador de escola e diretor de sua própria companhia de dança, influenciando coreógrafos alemães das décadas de 1920 e 1930. Considerado o maior teórico da dança do século XX e “pai da dança-teatro”, dedicou sua vida ao estudo e à sistematização da linguagem do movimento em seus diversos aspectos: criação, notação, apreciação e educação. Segundo Susan Tortora (apud A DANÇA..., 2017), Laban estabeleceu cinco elementos fundamentais para que se pudesse fazer uma análise e uma descrição concreta da performance dos movimentos realizados, fundamentais para que se possa ter uma imagem visual do movimento: corpo, esforço, forma e espaço e ritmo. Dessa forma, mesmo de forma indireta, ele influenciou o caminho da GR como a conhecemos hoje. Com a percepção de uma nova realidade, surge a americana Isadora Duncan (1898-1927), teórica revolucionária que se consagrou pela movimentação natural e liberta do formalismo da dança clássica, inspirando-se nos movimentos da natureza. Duncan ficou conhecida como “bailarina 22 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I dos pés descalços”. Duncan tinha, em seu discurso, ideias de libertação para a movimentação do corpo feminino, o que acabou contribuindo para a formação da Ginástica Moderna. Ela expressava claramente sua revolta contra as regras acadêmicas do balé clássico e as regras da sociedade, dizendo-se não ser bailarina nem acrobata, mas sim uma artista (LUFT apud AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015). Foi considerada uma das primeiras feministas modernas, além de ser a primeira a quebrar os rígidos padrões estéticos do balé clássico. No campo da música, temos o austríaco Émile Jaques-Dalcroze (1865-1950), criador de um sistema de ensino de música baseado no movimento corporal expressivo, sistema, aliás, mundialmente difundido a partir da década de 1930. Com sua pedagogia musical, Dalcroze se torna precursor dos chamados métodos ativos na área da educação musical, influenciando toda uma geração situada primordialmente na primeira metade do século XX. Como professor de música, foi considerado o pai da rítmica, pois reconhecia em seus alunos a deficiência no domínio do ritmo. Segundo Agostini e Novikova (2015), Dalcroze imaginou um modo de ensino de música e para a música, tendo em conta a percepção física através do ritmo, com base na musicalidade do movimento, questionando a relação entre música e movimento, especialmente por meio da interação tempo-espaço; dessa forma, ele elaborou um método educacional utilizando ritmo. Ainda segundo os autores, esse método pretendia também influenciar a ginástica, pois considerava o conhecimento e domínio do ritmo uma preparação tanto para a dança quanto para a ginástica, pensando que compreender o ritmo, e consequentemente a música, teria que passar pela vivencia de movimentos corporais. Por isso, buscava utilizar o movimento em função da aprendizagem musical, um sendo produto do outro, criando assim a euritmia. Entretanto, o alemão Rudolf Bode (1881-1971), discípulo de Dalcroze, estudou filosofia, ciências e música, fundou sua própria escola em 1913, em Munique, com um sistema de ginástica, música e dança, dispondo dos créditos da criação de uma GR parecida com a que conhecemos hoje. Bode buscava movimentos livres e naturais, atendendo as necessidades de cada praticante, com o ritmo próprio de cada um. Bode estabeleceu os princípios da GR, que pode ser associada ao surgimento de uma GR desportiva (com trabalhos de expressão e trabalho rítmico com a utilização de aparelhos como a bola). Bode, conhecido como pai da Ginástica Moderna, fundou em 1991 a escola de GR, com sua obra chamando a atenção na Europa, principalmente na Alemanha, pelo caráter rítmico e estético, que direcionava para o corpo feminino (AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015). Gaio acrescenta que: Bode desenvolveu sua potencialidade de pensamento muito além do que seu mestre preconizava, colocando a música a serviço do movimento corporal, introduzindo ao trabalho rítmico as mãos livres, a utilização de aparelhos como: bola, bastão, tamborim etc. (apud AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015, p. 12). 23 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Depois da Segunda Guerra, o alemão Henrich Medau (1890-1974), professor e músico, criou uma escola de ginástica especialmente voltada às mulheres, pensando no favorecimento da saúde. Surge com ele o primeiro trabalho de aparelhos: pandeiro, tambor, arcos, maças e bolas. Medau prezava também pela postura correta, pela respiração, pelos movimentos de oscilação e ondas. Quando abriu a própria escola, em 1929, começou a explorar as próprias teorias, usando uma variedade de ritmos e improvisação no piano, além de experimentar pela primeira vez a bola (AGOSTINI; NOVIKOVA, 2015). Segundo Agostini e Novikova (2015), no final do século XX, a GR realmente começou a tomar corpo e a adquirir algumas das características que possui ainda hoje, podendo, portanto, ser considerada um esporte relativamente novo. Vale observar que, em diferentes momentos históricos, dança, ginástica, música e dramaturgia se fundiram, ampliando horizontes e possibilitando novas conexões entre dança e ginástica; todo esse movimento refletia as ações e as relações sociais, ou seja, refletia uma sociedade em busca de constantes e profundas transformações. A GR como é conhecida nos dias atuais também passou por mudanças em sua nomenclatura, as terminologias foramse modificando ao longo do tempo, até chegar à que conhecemos hoje, descrita no quadro a seguir. Quadro 3 – Diferentes terminologias utilizadas ao longo dos anos Terminologias 1963 Ginástica moderna 1972 Ginástica feminina moderna e Ginástica Rítmica moderna 1975 Ginástica Rítmica desportiva 1998 Ginástica Rítmica Adaptado de: Gaio (2009, p. 37). 2.1 A Ginástica Rítmica no Brasil A história da GR no Brasil é bastante recente. Conforme Santos, Lourenço e Gaio (2010), duas professoras estrangeiras iniciaram o processo de disseminação da GR em nosso país: uma com uma linha educacional, a austríaca Margareth Frohlich, e a outra com uma linha mais competitiva, a húngara Ilona Peuker (1915-1995). A professora Margareth Frohlich ministrou aulas nos III e IV cursos de aperfeiçoamento técnico em Santos de 1953 a 1954. Com a chegada da professora Ilona Peuker, ex-ginasta da Hungria, a modalidade foi introduzida no país. Na década de 1950, ela ministrou cursos no Rio de Janeiro e criou a primeira equipe de GR do Brasil, o Grupo Unido de Ginastas (GUG). Radicou-se definitivamente no país e foi convidada a ministrar aulas na UFRRJ, tendo muitas discípulas, ex-ginastas que deram continuidade ao seu trabalho no país. Foi nesse primeiro grupo, aliás, que surgiu a ginasta Daisy Barros, atleta responsável pela primeira participação brasileira em um campeonato mundial dessa modalidade, mais precisamente em 1971, na 24 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I cidade de Copenhagen, Dinamarca. Pouco depois, em 1973, o GUG representou o Brasil na cidade de Roterdan, na Holanda, com exercícios de conjunto, obteve a 13ª colocação. Em 1999, antigas alunas formaram o Grupo Ilona Peuker, em homenagem a ela, e participaram da Gymnaestrada em Gotemburgo, na Suécia, e desde então vêm se apresentando em vários lugares e, assim, difundindo a GR. Em 1978 foi dado um passo fundamental para o desenvolvimento da modalidade, com a criação da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) e o consequente apoio da entidade à GR. Nessa mesma época, houve sua inclusão em alguns cursos de graduação, além da prática em alguns clubes. A ginasta Rosane Favilla foi a primeira brasileira a participar dos Jogos Olímpicos, em 1984, em Los Angeles. Nas Olimpíadas de 1992, em Barcelona, tivemos a participação da ginasta Marta Cristina Schonhorst nos exercícios individuais. Nos Jogos Olímpicos de Sidney (2000) e nos de Atenas (2004), o Brasil participou nas provas de conjunto, obtendo o 8º lugar. Segundo Agostini e Novikova (2015), nesse período recente da GR, houve o desenvolvimento particular da modalidade em alguns centros do país. Nos últimos anos, a GR brasileira se desenvolveu bastante, detendo a hegemonia nas Américas nas provas de conjunto. Foram três ouros nos últimos quatro Pan-Americanos, que valeram à equipe brasileira a classificação para as últimas três edições das Olimpíadas. Segundo Agostini e Novikova (2015), a partir da percepção da existência de talentos em nosso país, têm sido empreendidos esforços em busca da melhoria técnica da modalidade com intuito de elevar o nível de performance das atletas. Os campeonatos foram divididos por regiões (Nordeste, Sudeste...), na busca de uma seleção mais rígida das atletas, pois só podem participar do campeonato nacional, as primeiras colocadas de cada região do país. 2.2 A Ginástica Rítmica nas Olimpíadas No início dos Jogos Olímpicos, as mulheres não podiam participar nem assistir às competições. Começaram a participar apenas na década de 1920, em meio às reações de repúdio em razão da impossibilidade da participação feminina. Assim, surgiram as modalidades esportivas específicas paras as mulheres, como o nado sincronizado, a GR e outras. A Ginástica Desportiva já era praticada desde a época da Primeira Guerra Mundial, embora sem regras específicas fixadas ou mesmo um nome determinado. Muitas escolas inovaram a forma como se praticavam os exercícios tradicionais de Ginástica Artística através da junção da música, que exige o ritmo nos movimentos das ginastas. Apenas em 1946 fez-se uma primeira distinção na ginástica de competição, na Rússia, quando surgiu também a designação “rítmica”. Em 1961, vários países do leste europeu organizaram um campeonato internacional dessa disciplina e, no ano seguinte, a FIG reconheceu a nova modalidade nas suas regras, sendo realizado em 1963 o primeiro campeonato mundial. Com a exceção da fita e das maças, a maior parte dos equipamentos utilizados atualmente foi introduzida nessa competição. 25 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Em 1984 a GR faz a sua primeira aparição olímpica, embora as melhores ginastas do mundo, provenientes dos países do Leste europeu, não tivessem concorrido nesse ano devido ao boicote realizado por esses países. Em 1996, os Jogos Olímpicos trouxeram ainda outra modificação na competição, a prova de grupo. Observação Houve duas experiências olímpicas da Ginástica Rítmica antes de sua inclusão no programa dos Jogos. Em Londres, no ano de 1948, foram realizados dois eventos, por equipes, do que, então, chamava-se de Ginástica Moderna. Quatro anos mais tarde, em Helsinque, a Ginástica Rítmica foi incluída como esporte de demonstração, mas sua entrada definitiva só aconteceu em Los Angeles, no ano de 1984. Durante o 41º congresso da FIG, em 1962, o novo esporte foi reconhecido como modalidade independente. No ano seguinte, na Hungria, aconteceu o primeiro mundial de GR. Em 1972, a Ginástica Moderna passou a se chamar Ginástica Rítmica Desportiva (GRD) e, em 2003, adotou o nome atual: Ginástica Rítmica (GR). Em vez dos grandes aparelhos fixos da Ginástica Artística, passou-se a trabalhar com cinco aparelhos móveis e leves: corda, bola, arco, fita e maças. Assim, a primeira medalha de ouro olímpica do esporte ficou com a canadense Lori Fung. Em Seul, no ano de 1988, o esporte conquistou o público e se popularizou. Marina Lobach, da URSS, ficou com a medalha de ouro, enquanto a búlgara Adriana Dunavska levou a prata. Em Barcelona, ano de 1992, Aleksandra Timoshenko, competindo pela Comunidade dos Estados Independentes, foi a vencedora. Em Atlanta, no ano de 1996, a FIG introduziu, como vimos, a competição de conjuntos nos Jogos Olímpicos. A Espanha conquistou a primeira medalha de ouro olímpica dessa categoria. Em 1998, a modalidade passou novamente por mudanças, mas com relação a sua nomenclatura, sendo chamada apenas de GR, como a conhecemos hoje. Nos Jogos Olímpicos de Sidney, no ano de 2000, o conjunto da Rússia confirmou seu favoritismo, enquanto a Espanha nem se classificou para a final, e o Brasil participou pela primeira vez do conjunto, que se destacou conquistando uma vaga na final olímpica, obtendo o oitavo lugar. No individual, a vencedora foi Yulia Barsukova, da Rússia. Em 2004, na Olimpíada de Atenas, a Rússia confirmou seu favoritismo, ratificando a sua posição na liderança mundial na modalidade, classificando-se em primeiro lugar, seguida da Itália, em segundo, e da Bulgária, na terceira posição. No individual, a ginasta Alina Kabaeva, da Rússia, sagrou-se campeã olímpica, seguida de Irina Tchachina, também da Rússia, e Anna Bessonova, da Ucrânia. Nessa ocasião, o Brasil foi novamente representado, terminando na oitava colocação, feito repetido em Sidney. 26 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Em Pequim, no ano de 2008, e em Londres, no ano de 2012, tivemos a mesma colocação, cabendo o primeiro lugar ao conjunto da Rússia e, no individual, à ginasta russa Eugenia Kanaeva, bicampeã olímpica. O Brasil,em 2008, ficou na 12ª colocação e, em 2012, não conseguiu uma vaga olímpica. Em 2016, no Rio de Janeiro, o conjunto brasileiro obteve a nona colocação, a Espanha surpreendeu a todos ficando em primeiro lugar, seguida da Rússia. No individual a história se repetiu e, pela quinta vez consecutiva, o ouro geral ficou com a Rússia, com direito à dobradinha de Margarita Mamun, com o ouro, e Yana Kudryavtseva, com a prata (mesmo com um erro nas maças). Com boa receptividade na participação em Jogos Olímpicos, a FIG passou a estabelecer mudanças na organização da modalidade, como aumentar o número de vagas para os conjuntos que têm grande aceitação do público, possibilitar a utilização de músicas com palavras e fazer reconsiderações quanto à forma de avaliar, com o intuito de diminuir a subjetividade dos árbitros e facilitar o entendimento dos leigos, valorizando as transmissões da mídia em geral (BERNARDI; LOURENÇO, 2014). Quadro 4 – Medalhista do conjunto e do individual de GR nos Jogos Olímpicos Jogos Olímpicos GR conjunto GR individual 1984 – Los Angeles Não existia essa prova 1-Lori Fung (CAN) 2-Staiculescu (ROM) 3- Weber (GER)) 24-Rosane Favilla (BRA) 1988 – Seul Não existia essa prova 1-Maina Lobatch (URSS) 2- Adriana Dunavska (BUL) 3-Alessandra Timochenko (URSS) 1992 – Barcelona Não existia essa prova 1-Alessandra Timochenko (URSS) 2-Carolina Pascual (ESP) 3- Oxana Skaldina (EUN) 41- Marta Cristina Schonhorst (BRA) 1996 – Atlanta 1- Espanha 2- Bulgária 3- Rússia 1-Ekaterina Serebrianskaya (UKR) 2- Yanina Batyrchina (RUS) 3- Olena Vitrichenko (UKR) 2000 – Sidney 1- Rússia 2- Bielorrússia 3- Grécia 8- Brasil 1- Yulia Barsukova (RUS) 2- Yulia Raskina (BLR) 3- Alina Kabaeva (RUS) 2004 – Atenas 1- Rússia 2- Itália 3- Bulgária 8- Brasil 1-Alina Kabaeva (RUS) 2- Irina Tchachina (RUS) 3- Anna Bessonova (UKR) 2008 – Pequim 1- Rússia 2- China 3- Bielorrússia 12- Brasil 1- Evgenia Kanaeva (RUS) 2- Inna Zhukova (BLR) 3- Anna Bessonova (UKR) 2012 – Londres 1- Rússia 2- Bielorrússia 3- Itália 1- Evgenia Kanaeva (RUS) 2- Daria Dmitrieva (RUS) 3- Liubov Charkashyna (BLR) 2016 – Rio de Janeiro 1- Rússia 2- Espanha 3- Ucrania 9- Brasil 1- Margarita Mamum (RUS) 2- Yana Kudryavtseva (RUS) 3- Ganna Rizatdinova (UKR) 23- Natalia Gaudio (BRA) Adaptado de: Bernardi; Lourenço (2014). 27 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA 2.3 Ginástica Rítmica masculina Como vimos, a modalidade foi desenvolvida inicialmente para a prática das mulheres. Estudiosos como Rudolf Bode e Enrich Medau, precursores da GR atual, desenvolveram seus métodos ginásticos visando à valorização e ao desenvolvimento de aspectos socialmente considerados “femininos”, como beleza, graciosidade e elegância, que seriam trabalhados através da dança e da expressividade. Dessa forma, criou-se uma associação entre a GR e uma atividade voltada para as mulheres. Contudo, a prática da GR pelos homens existe, apesar de pouco difundida no Brasil e de não ser oficialmente reconhecida pelas entidades federativas internacionais como a FIG e o Comitê Olímpico Internacional (COI). Existem basicamente duas linhas de GR praticadas pelos homens: a tradicional e a asiática. Vejamos cada uma delas. 2.3.1 Linha tradicional Na linha tradicional, são utilizadas, para as competições, as mesmas regras previstas para a modalidade feminina. Coelho (2016) nos apresenta o caso da Espanha, onde os homens iniciam sua participação aos doze anos e são divididos em cinco faixas de idade: sênior, benjamín, alevin, infantily e júnior. No entanto, não há apresentação masculina de conjunto, apresentando-se apenas nas provas individuais, que são as mesmas das mulheres. Saiba mais Para saber mais sobre a GR espanhola, acesse o site indicado a seguir, da Federação Espanhola de Ginástica. <http://rfegimnasia.es/>. 2.3.2 Linha asiática (Japão) A linha asiática de GR masculina surgiu no Japão, após a Segunda Guerra Mundial (década de 1950). Com o objetivo de melhorar a saúde e elevar a autoestima da população, professores japoneses iniciaram um trabalho baseado na calistenia e em elementos do wushu (kung fu), lançando mão da utilização de música e de aparelhos de pequeno porte. Inicialmente criada para ser aplicada na comunidade, a atividade, por ação de grupos específicos de praticantes, gradativamente se tornou uma modalidade competitiva, com normas e regras próprias, e passou a ser chamada de Ginástica Rítmica(GR) masculina. Posteriormente, difundiu-se para outros países asiáticos, como Malásia, Coréia e Rússia, e hoje é praticada em locais como Austrália, Estados Unidos e Canadá. 28 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Saiba mais Você pode conhecer um pouco mais sobre a modalidade masculina acessando o link indicado a seguir. <http://www.menrg.com/>. Por se basear na calistenia e no wushu, a GR masculina asiática valoriza a força e a resistência do ginasta. Seus movimentos muitas vezes estão relacionados a movimentos de lutas, mais rígidos e firmes, diferentemente do que se vê na GR feminina, em que os movimentos são mais suaves e graciosos. Podemos observar algumas diferenças marcantes quando comparamos a linha tradicional, que utiliza as regras da GR feminina, com a linha asiática, que possui regras próprias. Vejamos cada uma delas. • Espaço de apresentações: os homens se apresentam sobre um tablado semelhante ao utilizado na Ginástica Artística, enquanto que as mulheres se apresentam sobre um tapete. O espaço das apresentações é o mesmo: 13 metros x 13 metros, mais uma pequena área de segurança de aproximadamente 1 metro. 13 m 13 m Figura 9 – Área de apresentação da GR masculina • Movimentos: na GR masculina asiática são realizados movimentos acrobáticos semelhantes aos realizados nas apresentações de solo da Ginástica Artística (quando o ginasta executa movimentos de voo com rotação em torno do eixo transversal de seu próprio corpo, como mortal e flic-flac), o que não é permitido nas apresentações da GR feminina, que possui apenas os chamados movimentos pré-acrobáticos. Isso justifica a utilização do tablado de Ginástica Artística pelos homens, uma vez que eles necessitam de um equipamento que lhes permita a realização de acrobacias com segurança. • Provas individuais: os ginastas realizam quatro provas, sendo duas com aparelhos semelhantes aos das mulheres e duas com aparelhos exclusivos, discriminados a seguir. — Corda (igual à das mulheres). 29 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA — Maças (semelhante às das mulheres, ainda que o peso e o tamanho do corpo das maças sejam diferentes quando comparados às maças das mulheres). — Bastão (semelhante ao das lutas). — Arcos menores (dois). Para as provas individuais, o tempo de apresentação é o mesmo das mulheres, variando entre 1 minuto e 15 segundos e 1 minuto e 30 segundos. Nas provas de conjunto, apresentam-se seis ginastas, sem a utilização de aparelhos (mãos livres), e a série apresentada precisa conter saltos, flexibilidades, equilíbrios e paradas de mão, exigindo-se um número mínimo de seis formações ao longo da apresentação. O tempo de apresentação dos homens é maior que o das mulheres: entre 2 minutos e 30 segundos e 3 minutos. O tempo extra justifica-se pela preparação necessária para a execução de acrobacias complexas. 2.3.3 A Ginástica Rítmica masculina no Brasil No Brasil o marco inicial da GR masculina se deu na década de 1980, quando a Universidade de São Paulo recebeu os alunos da Universidade de Kokushikam(Japão) para divulgação da modalidade (OLIVEIRA; MARTINS, 2010 apud COELHO, 2016). Não há um levantamento específico de quantos praticantes masculinos de GR existem no país, uma vez que a modalidade não é reconhecida pela maioria das federações estaduais, porém “já é possível mapear que o Brasil possui meninos praticando GR em seis estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul” (COELHO, 2016, p. 95). A Federação de Ginástica do Rio Grande do Sul promove competições para os meninos desde 2011. A Federação do Espírito Santo foi a pioneira nesse aspecto, e São Paulo já se movimenta nesse sentido. De forma geral, no Brasil tem-se utilizado como prática masculina a GR tradicional, uma vez que os ginastas aproveitam os espaços comumente destinados às mulheres, além dos equipamentos e dos professores presentes. 3 OS ELEMENTOS DE DIFICULDADES CORPORAIS E PRÉ‑ACROBÁTICOS DA GINÁSTICA RÍTMICA Os elementos de dificuldade corporal (BD), ou seja, os saltos, os equilíbrios e as rotações, fazem parte dos componentes obrigatórios que compõem uma coreografia, no individual e no conjunto; eles são considerados a base de toda a coreografia. Por isso, nos deteremos agora sobre as características essenciais de algumas dificuldades corporais da GR. 30 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I É importante entender que para o aprendizado dos elementos corporais, é necessário desenvolver processos pedagógicos, por isso os profissionais devem iniciar o aprendizado com as execuções dos elementos mais fáceis, passando apenas posteriormente para os elementos mais difíceis. Há muitos elementos de dificuldade corporal listados nas tabelas do código de pontuação, com seus respectivos valores predefinidos, valores que representam exatamente a dificuldade do movimento (quanto mais difícil a realização do movimento, mais pontos ele vale). A seguir temos uma parte da tabela das dificuldades corporais do salto demonstrando as diversas possibilidades de saltos que a ginasta pode realizar e seus respectivos valores, variando de 0,10 pontos a 0,60 pontos. Essa diversidade também ocorre para equilíbrios e rotações – mais informações no código de pontuação 2017-2020 (FIG, 2017). Quadro 5 – Representação de parte das dificuldades corporais de salto 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 Tesoura saltos com troca de pernas à frente na horizontal; também acima da horizontal, perna de impulso elevada com pé acima da altura da cabeça ou com troca de pernas atrás (na horizontal) ou em círculo. (pé inteiro mais rápido que a cabeça) Salto carpado. Cossaco perna estendida à frente, na horizontal, ou com rotação (180º ou mais) ou com rotação e tronco à frente. 180º 180º Cossaco perna estendida à frente, elevada com pé acima da cabeça ou com rotação (180º ou mais). 180º Adaptado de: FIG (2017, p. 32). Como são muitas as possibilidades de dificuldades corporais, optamos por descrever somente algumas de cada grupo, ou seja, quatro saltos, quatro equilíbrios e três rotações, de níveis fáceis a intermediários, com exemplos de algumas atividades utilizadas nas aulas de iniciação à prática da modalidade. 31 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Observação Os praticantes de dança vão perceber que muitos dos elementos de dificuldade corporal são parecidos com os elementos do balé clássico, inclusive os nomes. 3.1 Saltos Os saltos são movimentos realizados por meio de impulso, no qual os pés perdem o contato com o solo e permanecem em suspensão por um tempo mínimo. Ou seja, constituem uma combinação de movimentos divididos em três fases: fase de impulsão, fase área e fase da aterrissagem. Para que os árbitros considerem um salto válido, ele deve ter as seguintes características básicas: • forma definida e fixada durante o voo (posicionamento dos segmentos corporais); • altura (elevação) suficiente para demonstrar a forma correspondente; • chegada ao solo, que deve ser suave, graciosa e precisa. Para realizar um bom salto, é necessário potência muscular, indicando-se o treinamento específico de pliometria para as ginastas alcançarem resultados satisfatórios. Em uma série coreográfica ou exercício, a repetição do salto com a mesma forma não será válida, exceto no caso de uma série Observação Uma série de saltos consiste de dois ou mais saltos idênticos sucessivos, executados com ou sem um passo intermediário (dependendo do tipo de salto). Cada salto na série conta como uma dificuldade corporal. A seguir temos a ilustração e a descrição de alguns elementos utilizados na iniciação. No salto grupado com meia-volta, o aluno deve saltar elevando os dois joelhos flexionados em direção ao peito, realizando ao mesmo tempo uma rotação de 180° ou 360°. Atividade sugerida: pega-pega. Quando os alunos forem pegos, deverão ficar sentados sobre os calcanhares, e, para serem salvos, precisam que um companheiro salte sobre eles, com o corpo grupado. 32 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Figura 10 No salto tesoura à frente, o aluno deve realizar uma troca de pernas no ar, à frente, na horizontal, num ângulo de 90° ou mais em relação ao tronco. Atividade sugerida: em trio, cabendo a dois dos alunos segurar o terceiro pelos braços e punhos (braços estendidos), quando esse, então, executa o salto tesoura. Figura 11 No salto cossaco, o aluno deve estender uma das pernas num ângulo de 90° em relação ao tronco, enquanto a outra perna deve permanecer com o joelho flexionado. Atividade sugerida: colocar os alunos em colunas, e a frente de cada coluna posicionar arcos no chão. Ao sinal do professor, os primeiros alunos de cada coluna deverão realizar o salto cossaco dentro de cada arco, e assim sucessivamente, até que todos se apresentem. 33 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Figura 12 No salto zancada, o aluno deve realizar o movimento de espacato com os membros inferiores, no balé, chamado de salto grand jeté. Essa postura deve ser ensinada inicialmente no chão, para melhorar a flexibilidade dos membros inferiores, pois quanto maior a flexibilidade, melhor a figura corporal desse salto. Atividade sugerida: pular a lagoa. Coloque os alunos em colunas e, à frente de cada coluna, posicione arcos no chão, com uma distância de dois metros entre um e outro. Os alunos de cada coluna deverão realizar o salto zancada ultrapassando um arco de cada vez. Figura 13 Saiba mais Você pode conhecer um pouco mais sobre as dificuldades corporais de salto e ver belas imagens pesquisando vídeos na internet a partir de expressões como “code of point rhythmic gymnastics leaps”, “leaps 2017-2020” e “rhythmic gymnastics leaps”. 34 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I 3.2 Equilíbrios Os equilíbrios constituem movimentos de manutenção e controle do centro de gravidade sobre o limite de uma base de apoio. Para que os árbitros considerem um equilíbrio válido, o atleta deve manter-se durante a realização de, no mínimo, um manejo, e as posturas devem ter forma claramente fixada com parada na posição, sendo precisas e evitando movimentos suplementares, como balanços e demonstrações de instabilidade no equilíbrio. Como existem muitos equilíbrios de GR iguais ou semelhantes aos do balé clássico, as aulas de balé são essenciaispara a realização desses elementos corporais. Segundo o código de pontuação (FIG, 2017), há três tipos de dificuldades de equilíbrio, descritas a seguir. • Equilíbrio sobre o pé: executado em meia-ponta (flexão plantar/sobre os dedos dos pés) ou pé plano. • Equilíbrio sobre outras partes do corpo: por exemplo, sobre o joelho, sobre o abdome, sobre o peito. • Equilíbrio dinâmico: executados com movimentos suaves e contínuos, de uma forma para a outra. Saiba mais Veja no código de pontuação 2017-2020 a tabela de dificuldade corporal de equilíbrio, p. 40 e 41. FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE (FIG). 2017-2020: code of points. 2017. Disponível em: <http://www.gymnastics.sport/ publicdir/rules/files/en_RG%20CoP%202017-2020%20with%20 Errata%20Dec.%2017.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2019. A seguir a ilustração e descrição de alguns elementos utilizados na iniciação. No equilíbrio passé, o aluno deve realizar uma flexão de quadril de 90° com uma das pernas e, simultaneamente, estar com o joelho flexionado a ponto de o pé enconstar na perna de base (o pé de base em flexão plantar, meia-ponta, e o joelho flexionado pode estar à frente ou lateral). Atividade sugerida: viva ou morto do passé. Todos os alunos devem estar posicionados na quadra de uma forma que o professor consiga vê-los, e, ao seu comando (“viva”), os alunos rapidamente devem realizar o equilíbrio passé. Se o comando for “morto”, os alunos devem ficar com os dois pés unidos no chão. O aluno que errar passa a dar o comando aos demais alunos, sendo substituído por outro que errar, voltando, então, o primeiro para a brincadeira. 35 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Figura 14 No equilíbrio perna à frente (ou lateral), o aluno deve realizar uma flexão de quadril de 90° com uma das pernas, mantendo a perna estendida à frente de seu corpo. O pé de base fica em meia-ponta, e as articulações do joelho e do tornozelo devem estar estendidas ao máximo. O mesmo equilíbrio pode ser realizado com a perna lateral. Atividade sugerida: os alunos devem deslocar-se pela sala de maneiras variadas, seguindo o ritmo de uma música. Quando a música parar, elas deverão ficar em equilíbrio perna à frente (ou lateral), conforme solicitado pelo professor. Perna a frente Perna ao lado Figura 15 No equilíbrio prancha facial, o aluno deve realizar a figura em forma de “prancha”, ou seja, elevação de uma perna para atrás, flexão de tronco à frente com extensão completa dos membros superiores à frente. O pé de base em meia-ponta. As articulações do joelho e tornozelo de ambas as pernas devem estar também estendidas ao máximo. Atividade sugerida: pega-pega avião. Um aluno deve ser o pegador, os demais deverão correr em um espaço delimitado pelo professor. Quem for pego deverá ficar no equilíbrio prancha. Para que possa ser salvo, um companheiro deverá passar por baixo da sua perna estendida e elevada. 36 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Figura 16 No equilíbrio cossaco o aluno deve estender uma das pernas num ângulo de 90° em relação ao tronco. A outra perna deve permanecer com o joelho flexionado e com o pé de base em meia-ponta. Atividade sugerida: em duplas, um aluno se prepapara para fazer o equilíbrio cossaco, e outro faz às vezes de ajudante. O aluno ajudante se posiciona posteriormente ao companheiro, segurando-o pelo antebraço, para auxiliar a descer e subir desse equilíbrio (uma outra forma de auxiliar seria um de frente para o outro, o aluno ajudante segurando as mãos do aluno executante para que ele desça e suba na posição de equilíbrio cossaco com segurança. Figura 17 Saiba mais Você pode conhecer um pouco mais sobre as dificuldades corporais de equilíbrio e ver belas imagens pesquisando vídeos na internet a partir de palavras-chave como “rhythmic gymnastics – balance”. 37 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA 3.3 Rotações Rotações , ou pivôs , são movimentos em torno do próprio eixo corporal. A maioria das rotações acontecem no eixo corporal longitudinal. Observação Para realizar as rotações no eixo longitudinal, é necessário ter muito equilíbrio (para manter o controle do eixo de giro), mas é importante deixar claro que elementos em que as ginastas rotacionam em torno de um eixo, ou seja, estão girando, são considerados dificuldade corporal de rotação, e não dificuldade corporal de equilíbrio. Para que os árbitros considerem uma rotação válida, o atleta deve realizar uma rotação mínima de 360º (exceto no caso de dificuldades de rotação, como consta no código de pontuação 2017-2020 (FIG, 2017), nº 6, 9, 17 em que a rotação base é de 180º), mantendo uma forma corporal fixada e bem definida até o final. Rotações devem ser coordenadas com no mínimo um manejo do aparelho, em qualquer parte da rotação, para ser válida. A maioria das rotações são realizadas na meia ponta (flexão plantar), e perder o equilíbrio ou encostar o calcanhar no chão pode invalidar ou tirar pontos da ginasta. Geralmente as ginastas realizam rotações múltiplas na mesma posição corporal, ou seja, em média de duas a cinco rotações seguidas. O critério de pontuação para rotações múltiplas se dá conforme descrito a seguir. • Para rotações adicionais para pivôs com valor de base de 0.10 ou com o pé plano ou outra parte do corpo, acrescenta-se 0.10 para cada rotação adicional, além da rotação de base. • Para rotações adicionais em releve (meia-ponta), acrescenta-se 0.20 para cada rotação adicional, além da rotação de base. Vejamos agora a ilustração e a descrição de alguns elementos utilizados na iniciação. Na rotação passé, inicialmente, os alunos devem realizar a posição de saída para o giro, que é a quarta posição do balé, em seguida, realizar a rotação no sentido horário ou anti-horário na posição corporal de passé (a mesma utilizada no equilíbrio passé, explicado anteriormente). Atividade sugerida: mestre mando. Os alunos devem estar espalhados pela sala, o professor à frente de todos, e, ao comando do professor, os alunos vão copiando seus movimentos para a realização da rotação passé. É importante realizar rotação no sentido horário e anti-horário, mudando a perna que executa o passé. 38 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 Unidade I Preparação Rotação Figura 18 Na rotação de perna à frente, inicialmente, os alunos devem realizar a posição de saída para o giro, que é a quarta posição alongeé do balé. Em seguida, devem fazer a rotação no sentido horário ou anti-horário na posição corporal de perna à frente (a mesma utilizada no equilíbrio perna à frente, explicado anteriormente). Atividade sugerida: alunos espalhados pela sala, ao comando do professor, devem realizar as seguintes etapas: 1) preparação: quarta posição alongeé; 2) rotação: ao mesmo tempo, devem subir na meia-ponta, posicionar a perna estendida à frente e realizar ¼ de volta; 3) finalizar na quinta posição. Preparação Rotação Figura 19 39 Re vi sã o: T al ita - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 09 /0 5/ 20 19 GINÁSTICA RÍTMICA Na rotação rolinho, os alunos inicialmente devem estar na postura de espacato no chão, realizar uma flexão de tronco à frente e rolar para direita ou para a esquerda, completando uma volta de 360º. Atividade sugerida: inicialmente, devem ser realizados exercícios que melhorem a flexibilidade dos alunos na posição espacato, e somente quando estiverem com uma abertura entre 160º e 180º, que o
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