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GINÁSTICA-rev 2- final 20-1

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Prévia do material em texto

GINÁSTICA
Profa. Dra. Paula Carolina Teixeira Marroni
UNIDADE I – INTRODUÇÃO AO UNIVERSO DA GINÁSTICA
INTRODUÇÃO
Ao lado das danças, dos jogos, das lutas, dos esportes e das atividades físicas na
natureza, a ginástica é um dos conteúdos estruturantes da Educação Física. Ela é uma das
manifestações da cultura corporal de movimento mais antigas, bastante ampla e com inúmeras
facetas, que, por essas características, narra muito sobre a nossa história. Embora optar apenas
por um caminho para explicar a totalidade de seus fundamentos gerais seja uma tarefa muito
difícil, propomos o seguinte trajeto, o qual subdivide a apostila: 1) apresentar uma introdução
ao universo da ginástica; em seguida, abordar o viés competitivo da ginástica; descrever os
âmbitos demonstrativo e alternativo; por fim, estabelecer o aspecto educativo da ginástica.
Agora, explicaremos brevemente cada subdivisão.
Na introdução ao universo da ginástica, Unidade I, abordamos os cinco campos de
atuação da ginástica, optando pelas ginásticas Demonstrativa e Competitiva, por
considerarmos que os outros três campos da ginástica podem ser abordados em outras
disciplinas, tais como na biomecânica, atividades de academia e treinamento esportivo.
Apresentamos ainda as instituições nacionais e internacionais que regulamentam as ginásticas
Competitiva e Demonstrativa, para, por fim, fazemos uma retomada histórica da ginástica
enquanto manifestação da cultura corporal de movimento.
Na Unidade II, esclarecemos temas relacionados especificamente ao viés competitivo
da ginástica. Para tanto, ressaltamos as características comuns a todas as ginásticas
competitivas, como os códigos de pontuação, nomenclatura dos movimentos, conceituação
dos valores técnicos de cada apresentação, valores artísticos e pontuações referentes à
execução, bem como a banca de arbitragem. De posse desse conhecimento, ainda na Unidade
II, discutimos três das ginásticas competitivas com mais ênfase, ou seja, a ginástica rítmica, a
ginástica artística e a ginástica acrobática.
Vale lembrar que o nosso objetivo não é que você saia nem árbitro nem técnico de
equipes competitivas, mas que você apreenda um conhecimento consistente sobre o modo de
funcionamento dessas modalidades. Com isso, você terá uma base não só para quando quiser
ou considerar necessário ampliar os seus conhecimentos, mas também para quando você for o
espectador da prática, uma vez que assistir, fruir, apreciar e gostar de ginástica depende
também de compreender o funcionamento de cada modalidade para valorizar os seus
elementos.
Já na Unidade III, descrevemos o âmbito demonstrativo e alternativo da ginástica.
Nela, consideramos a Ginástica para Todos como um veículo de educação nos espaços
formais e não formais de ensino, sendo um dos temas mais importantes desta Unidade, pois
abrange quase toda a abordagem teórica necessária para subsidiar o conteúdo proposto. Nesse
momento, discutimos também questões relacionadas ao universo competitivo da ginástica
para todos e as suas polêmicas, as quais podem ser diferentes conforme você lê a apostila,
haja vista que toda manifestação da cultura corporal de movimento, como produto e produtora
da sociedade, passa por mudanças, desenvolvimentos, evoluções ao longo das transformações
sócio-histórico-ideológicas e culturais.
Depois disso, apesar de haver uma diferenciação entre a ginástica e a manifestação
circense, que deve ser respeitada como algo autônomo, entendemos que o circo é um
componente muito importante, um facilitador do desenvolvimento motor, cognitivo, psíquico
e afetivo na escola e em espaços não formais de ensino. Nesse sentido, enquanto ele não
ganha o seu espaço específico, consideramos que, por meio da ginástica, seja a melhor
maneira de abordá-lo como um conteúdo para a Educação Física. Por essa razão, incluímos a
manifestação circense e suas relações com a ginástica na Unidade III. Ao fim dessa unidade,
tratamos das modalidades competitivas de Aeróbica, Estética de Grupo e Volteio.
Finalmente, na Unidade IV, após a introdução à ginástica, ao universo competitivo,
demonstrativo e alternativo, apresentamos o aspecto educativo da ginástica. Para isso,
descrevemos: os elementos corporais básicos, as relações de auxílio e de segurança, bem
como os processos pedagógicos de ensino, tanto no ambiente formal de aprendizagem quanto
no não formal. Como a ginástica, nesses campos de atuação, é o último assunto dessa unidade,
esperamos que você já consiga estabelecer paralelos entre a educação formal, como as escolas,
e a não formal, tais como os centros esportivos, escolinhas de ginástica em bairros, práticas
circenses em academias, grupos de Ginástica para Todos, entre outros.
Esperamos que, ao final dessas quatro unidades, você consiga aprimorar os seus
conhecimentos sobre o universo da ginástica e localizar cada uma das manifestações gímnicas.
Além disso, esperamos que você possa dar continuidade aos seus estudos, assumir uma
postura consciente e responsável em sua atuação profissional e ser um espectador e entusiasta
da prática estudada.
1.1 Os Cinco Campos de Atuação da Ginástica
Conforme apresentamos na introdução desta unidade, começamos nossos estudos
pelos cinco campos de atuação, seguidos das instituições que regulamentam a ginástica em
nível mundial, nacional e regional. Depois, observamos alguns elementos importantes do
contexto que envolve a prática, desde a pré-história até os movimentos ginásticos europeus.
Esperamos que, ao final, você conheça um pouco mais sobre as diferentes possibilidades de
atuação da ginástica, as instituições regulamentadoras e compreenda a sua história.
Dito isso, uma das definições mais tradicionais e utilizadas no país, que delineia os
campos de atuação da ginástica, é a de Souza (1997). Para a autora, a prática divide-se em
cinco grupos, a saber: Ginástica de Condicionamento Físico, Ginástica de Competição,
Ginástica Fisioterápica, Ginástica de Conscientização Corporal, Ginástica de Demonstração,
como ilustrados na Figura 1.
Figura 1 – Os campos de atuação da ginástica. Fonte: Souza (1997).
Observamos, na Figura 1, que existem diversos exemplos para cada um dos campos de
atuação, como sugeridos por Souza (1997). Alguns deles possuem nomes que denominavam
as modalidades da época, como, na ginástica demonstrativa, a Ginástica Geral é, atualmente,
conhecida como Ginástica para Todos. Você vai conhecer mais sobre ela na Unidade III.
Além disso, é possível perceber que os nomes das manifestações gímnicas buscam
acompanhar os seus desenvolvimentos sociais. Exemplo disso, elencado na Figura 1, temos,
no grupo das ginásticas competitivas, a Ginástica Rítmica, uma modalidade que já foi
denominada Ginástica Feminina Moderna e Ginástica Rítmica Desportiva. Você conhecerá
melhor sobre essa manifestação na Unidade II. A partir de agora, falamos um pouco mais de
cada um desses grupos, enfatizando as ginásticas demonstrativas e competitivas.
O primeiro deles é o campo de Ginástica de Condicionamento Físico, como
ilustrado na Figura 2. Essa ginástica, exemplificada por Souza (1997) como a musculação,
aeróbica, localizada, step, possui nomenclaturas que se multiplicam cada vez mais. Como
alguns nomes são registrados por franquias, os nomes alternativos passam a ser usados
quando abordados por outros profissionais, os quais entendem que podem existir
características semelhantes.
Figura 2 – Ginástica de Condicionamento Físico. Fonte: Saudesporte (2017).
Já que a manifestação da ginástica está em constante transformação, alguns dos nomes
mencionados podem ser conhecidos ou antigos para você, por exemplo, os Body Systems®,
que abrangem lutas, localizada, step, pesos de musculação, além de incluírem outros campos
como a fisioterápica e a conscientização corporal, como o Body Balance®. Da mesma
maneira, as aulas que envolvem dança e ritmo, variadas da Zumba®, podem ser chamadas de
aulas de ritmos. Há também os CrossFit®, como CrossHard, treinamentofuncional, entre
outros nomes.
Todas essas ginásticas possuem uma característica comum: elas têm o objetivo de
possibilitar que o indivíduo adquira ou mantenha um condicionamento físico do indivíduo,
seja ele atleta ou não. Essas modalidades serão abordadas mais especificamente nas atividades
de academia. Nesse viés, a Ginástica Laboral também pode ser considerada uma Ginásticas de
Condicionamento Físico, mas, ainda que em uma menor intensidade, pretende garantir uma
qualidade de vida, saúde e bem-estar para o trabalhador.
SAIBA MAIS
Para saber mais sobre Ginástica Laboral, acesse, em seu ambiente on-line, o campo
“Minha Biblioteca”. Lá você pode encontrar o livro de Mendes (2012) que apresenta os
princípios e aplicações dessa prática.
MENDES, R. A. Ginástica Laboral: princípios e aplicações práticas 3. ed. Barueri: Manole,
2012.
O segundo grupo é formado pelas Ginásticas de Competição, como a Figura 3.
Fazem parte desse grupo as ginásticas competitivas que são reconhecidas pela Fédération
Internationale de Gymnastique (FIG), como as Ginásticas Artística, a Rítmica, a Acrobática, a
Aeróbica, a de Trampolim e Tumbling, as quais possuem os códigos de pontuação como
características, cujo objetivo é a vitória. Devido a sua importância, esse grupo será mais
discutido na Unidade III.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Carbinatto et al. (2016) apresentam os campos de atuação da ginástica de forma
bastante resumida e compreensível.
CARBINATTO, M. V. et al. Campos de atuação em ginástica: estado da arte em periódicos
brasileiros. Movimento: Revista de Educação Física da UFRGS, Porto Alegre, v. 22, n. 3, p.
917-928, jul./set. 2016.
Figura 3 – Ginástica Competitiva. Fonte: Globo Esporte (2017).
O terceiro grupo é composto pela Ginástica Fisioterápica. Ela é responsável pelo uso
do exercício físico para prevenir ou tratar situações adversas como doenças, recuperação de
acidentes, distúrbios neuropsicomotores, entre outros.
SAIBA MAIS
Se quiser sugestões de abordagem para os diferentes campos de atuação de ginástica,
consulte a pesquisa de Oliveira (2016).
OLIVEIRA, E. L. GINÁSTICA para TODOS – significado, conhecimentos e possibilidades
na Educação Física escolar. Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do
professor PDE: Produções didático-pedagógicas. PDE/SEED: Paraná, 2016. Disponível em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2016/20
16_pdp_edfis_uem_evaluciaferreiradeoliveira.pdf. Acesso em: 8 dez. 2019.
A Ginástica Fisioterápica representa o momento em que os profissionais da Educação
Física e da Fisioterapia se encontram. O mais conhecido dos métodos dessa prática é o
Pilates® e suas derivações, mas compõem também, esse grupo, a Reeducação Postural Global
(RPG) e outros métodos mais modernos, como o Low Pressure Fitness® (LPF), modalidade
que, atualmente, tem feito muito sucesso, por tratar-se de uma técnica hipopressiva, isto é,
focaliza, principalmente, a postura e a respiração.
O quarto campo de atuação é a Ginástica de Conscientização Corporal. De acordo
com Souza (1997), são exemplos a antiginástica, eutonia, o método Feldenkrais e a Ginástica
Bioenergética. Segundo Oliveira (2016), a Ginástica de Conscientização Corporal se volta
para problemas físicos, focando a solução de problemas de saúde e postura. Além disso, o
objetivo é conhecer o próprio corpo, suas potencialidades e ampliá-las para uma melhor
qualidade de vida, bem como reduzir o estresse e a ativar outros elementos do organismo,
como a imunidade.
Dois termos bastante conhecidos que podemos relacionar a essa modalidade são a
Yoga, ilustrada na Figura 4, e o Tai Chi Chuan. Lembramos que ambas são práticas milenares
que não são exclusivas do profissional de Educação Física, pois elas existem
independentemente de serem consideradas ginástica ou não, mas as caracterizamos entre as
outras modalidades de conscientização corporal.
Figura 4 – Yoga. Fonte: Aruna Yoga (2019).
O último campo, exposto por Souza (1997), concerne a Ginástica de Demonstração.
Na Figura 1, esse grupo ainda se chama Ginástica Geral, um nome estabelecido antigamente,
mas, conforme já mencionamos, a nomenclatura muda de maneira frequente, respondendo às
transformações da sociedade.
A Ginástica Geral seguia o nome em inglês, General Gymnastics, que propunha uma
prática aberta para todas as pessoas, idades, públicos, tipos físicos e nível de habilidade. Com
o tempo, esse nome foi mudando até ser definido de General Gymnastics para Gymnastics for
All. Nesse sentido, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) seguiu o termo estrangeiro
e adotou a sua tradução: Ginástica para Todos, no Brasil. Essa modalidade é bastante
adequada não só para o âmbito escolar, mas também para o campo não escolar, quando se
propõe a preparar uma base para outras categorias. Devido a sua importância e magnitude, a
Unidade III será especificamente destinada a ela, para discorrermos sobre a sua aplicabilidade
em campo escolar e as suas relações com a manifestação circense.
Agora você teve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o que chamamos de
cinco campos de atuação da ginástica. No próximo tópico, vamos estudar um pouquinho mais
sobre as instituições que regulamentam a ginástica.
1.2. O Universo Institucional da Ginástica
Alguns termos você já teve contato durante a leitura deste material. A instituição
máxima que regulamenta a ginástica no mundo é a FIG, Fédération Internationale de
Gymnastique, cuja tradução livre significa: Federação Internacional de Ginástica. Segundo o
site da Fédération Internationale de Gymnastique (2019), essa instituição é responsável pela
prática em todo o mundo. Ela é a federação internacional mais antiga e a única que participou
de todos os jogos olímpicos desde que eles foram revividos, pelo Barão de Coubertin, em
1896.
SAIBA MAIS
Confira o site da Fédération Internationale de Gymnastique (FIG), se você quiser
conhecer mais sobre ela!
FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE GYMNASTIQUE. 2019. Disponível em:
https://www.gymnastics.sport/site/index.php. Acesso em: 7 dez. 2019.
Ainda segundo o endereço eletrônico (FÉDÉRATION INTERNATIONALE DE
GYMNASTIQUE, 2019), essa federação governa, ou é responsável, por 8 esportes: a
Ginástica para Todos (demonstrativa); a Artística, tanto a masculina quanto a feminina; a
Rítmica; o trampolim acrobático, incluindo os minitrampolins, as cama elásticas duplas e o
Tumbling; as Ginásticas Aeróbicas; a Acrobática; e o Parkour. Além disso, é ela quem regula
todas as competições, concentra todos os códigos de pontuação e regulamenta os eventos não
competitivos da ginástica demonstrativa e possui o calendário oficial das modalidades
competitivas. Segundo as informações veiculadas pelo site, atualmente, há 148 federações
membros e possui sede na capital Lausanne, na Suíça (FÉDÉRATION INTERNATIONALE
DE GYMNASTIQUE, 2019).
Figura 5 – Emblema da Federação Internacional de Ginástica. Fonte: Federation Internationale de Gymnastique
(2019).
Abaixo da federação liderada por Morinari Watanabe, temos as Confederações, que
correspondem aos 148 membros citados anteriormente. No Brasil, há a Confederação
Brasileira de Ginástica (CBG), responsável pela ginástica em nosso país. Sua fundação data
de 25 de novembro de 1978, cujo primeiro presidente foi o doutor Siegfried Fischer. Há 40
anos como entidade de administração nacional, ela regulamenta todas as ginásticas citadas
pela FIG, sendo inclusive responsável pelo calendário oficial das competições nacionais, pela
veiculação de informações sobre os atletas na mídia e sobre as seleções brasileiras de
ginástica. Como meio, ela possui as próprias redes sociais e uma revista.
Inclusive, a Confederação Brasileira de Ginástica tem as próprias federações
vinculadas. Cada seleção e cada modalidade possui o seu local de treinamento, espalhado em
todo o território nacional. Conforme informações veiculadas pelo site da Confederação
Brasileira de Ginástica (2019a),essa autonomia conquistada é resultado do trabalho de muitas
pessoas entre ginastas, técnicos, árbitros e dirigentes. Ao produzir esse discurso, os nomes de
modalidades de ginásticas, que veremos a seguir, são retomados pela entidade.
Figura 6 – Emblema da Confederação Brasileira de Ginástica. Fonte: Confederação Brasileira de Ginástica
(2019a).
No endereço eletrônico da Confederação Brasileira de Ginástica (2019a), é possível
verificar a relação de modalidades que abrange a Ginástica Acrobática, a Aeróbica, a Artística,
a Rítmica, a de trampolim e a Ginástica para Todos. Não se encontra, nessa relação, o Parkour.
SAIBAMAIS
Conheça o site da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG).
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA (CBG). 2019. Disponível em:
https://www.cbginastica.com.br/. Acesso em: 6 dez. 2019.
Já as federações de ginástica concernem ao nível estadual da ginástica no nosso país.
Quase todo o estado possui a sua própria federação.
SAIBAMAIS
Consulte a federação de ginástica referente ao seu estado, no link disponibilizado pela
Confederação Brasileira de Ginástica.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE GINÁSTICA (CBG). Endereços Federações. 2019.
Disponível em: https://www.cbginastica.com.br/pdf/relacoes-de-federacoes.pdf. Acesso em: 8
dez. 2019.
Cada federação estadual, por sua vez, regulamenta os campeonatos estaduais regionais
e municipais que são validados pela federação, além disso, a CBG e a Federação podem
ministrar cursos de arbitragem, permitindo que novos árbitros sejam formados. Já em nível
municipal, é possível que cada cidade tenha também alguma instância ou instituição que tente
abarcar todas as equipes de ginástica compostas em cada cidade. Esse fator não é obrigatório,
porém é possível que exista, por exemplo, quando uma associação espontânea é vinculada a
uma secretaria de esportes da prefeitura.
Agora que você conhece um pouco mais sobre as instituições responsáveis pela
regulamentação da ginástica no mundo, vamos aprender um pouco mais sobre a sua história.
1.3. Alguns Apontamentos a Respeito da História da Ginástica
Normalmente, quando redigimos algum material a respeito da história de alguma
manifestação da cultura corporal de movimento, sempre fazemos algumas observações. Caso
você já tenha acompanhado o material da disciplina de Fundamentos de Rítmica e Dança,
você já vai conhecer um pouco sobre esses assuntos. Como normalmente a disciplina de
Ginástica vem após a disciplina de dança, faremos apenas uma breve abordagem desse
conteúdo para que não fique repetitivo aos alunos que já cursaram dança conosco em EAD.
Realizar uma retomada histórica de qualquer manifestação da cultura corporal de
movimento é falar sobre os estudos históricos. É necessário pensar sobre a historiografia, o
conceito de fonte, de revolução documental e de periodização, considerando que cada área de
conhecimento tem as suas próprias técnicas de pesquisa e particularidades. No caso da
Educação Física, muitas vezes narramos as histórias baseadas apenas em autores de nossa
área, esquecendo que, quando os citamos, usamos uma fonte secundária ou terciária.
Obviamente temos pouco acesso às fontes primárias, mas precisamos ter cuidado para
não repetirmos elementos equivocados sobre a história. Por exemplo, muitas vezes, nos livros
de Educação Física ou de suas áreas de conhecimento, a Idade Média tende a ser apresentada
como uma idade das trevas, na qual não havia prática corporal, nem preocupação com
elementos da cultura corporal de movimento, o que não é verdade. Essa visão é uma
característica Renascentista da Idade Média, já que os séculos das luzes buscavam legitimar-
se com a deslegitimação do período anterior. A modificação dessa visão Renascentista,
reproduzida por tanto tempo na maioria dos livros, tem acontecido recentemente devido à
revolução documental, que tem relação direta ao conceito de fonte.
O conceito de fonte envolve entender que, se temos uma fonte primária, estamos em
contato com um objeto, ou com documento histórico, ou imagem original, ou algum elemento
arquitetônico, alguma inscrição rupestre, que representa determinada situação. São essas
inscrições que normalmente são usadas para averiguar a existência de alguma atividade da
cultura corporal de movimento na pré-história, ainda que ela não tivesse esse nome (já que
não haviam denominações para essa área de conhecimento).
A fonte secundária é a fonte que registra, de alguma forma, a fonte primária, seja ela
por meio de fotos, de textos ou de desenhos descritivos. Para melhor visualização, a Figura 7
apresenta esses dois tipos de fontes: a fonte primária é a pintura, enquanto a fonte secundária
é a imagem retratada.
Figura 7 – Pintura rupestre de caça ao bisão. Fonte: Curado (2019).
Dizemos, com frequência, que a fonte secundária teve contato com a fonte primária. Já
a fonte terciária é aquela que cita a fonte secundária, sem ter tido contato com a fonte primária,
usando as características ressaltadas pela fonte secundária para constituir-se. Todas essas
fontes podem ser utilizadas, mas, sempre que uma fonte, secundária ou terciária, não
apresentar todas as características da fonte primária, perdemos informações, a não ser que
juntemos muitas fontes e façamos algumas reflexões sobre a maneira como elas podem ter
sido construídas e caracterizadas.
É nesse sentido que falamos de revolução documental, uma vez que, até a década de
70, apenas os documentos oficiais eram considerados como fonte histórica. A mudança
significa, então, uma nova maneira de fazer história, isto é, torna-se possível agrupar
elementos da história oral e da história social de vários tipos de fontes documentais, incluindo
as reflexões sobre os silêncios e os vazios daquilo que não estava registrado, para descrever
determinado período ou evento.
A caracterização histórica de cada momento ou de cada área do nosso conhecimento,
como a ginástica, é um trabalho bastante interessante. Ela não é obra de uma única pessoa,
mas de vários autores em conjunto. É por isso que colocamos aqui referências, as quais nos
ajudam entender um pouco mais sobre a história da ginástica, a saber: Cortes (2000), Soares
(1998), Publio (2005), Soares (1992), Nunomura e Tsukamoto (2009) entre outros.
De maneira didática, para a nossa contextualização histórica, consideramos a
periodização clássica que divide a história em cinco momentos: Pré-história, Antiguidade
Clássica, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea. Destacamos que não há
necessariamente uma quebra entre um período e outro, mas sim permanências e rupturas, pois
pode ocorrer que as características de um novo período sejam identificadas no período
anterior, assim como as características do período anterior, no novo período.
Descrevemos a evolução da ginástica da Pré-história, tendo em vista que ela conta a
evolução do ser humano, até porque os movimentos executadas pelo homem primitivo, em
uma luta pela sobrevivência e pela procriação da espécie, por meio das formas de defender-se,
lutar, caçar, correr, equilibrar-se, embalar, balançar, possibilitam que compreendamos um
pouco mais sobre o que consideramos, na Educação Física, como elementos corporais básicos.
É por isso que afirmamos que o homem começou a praticar exercícios obrigado pelas lutas de
sobrevivência.
No esteio das lutas de sobrevivência e da evolução do homem, pensamos na
Antiguidade Clássica como um dos redutos principais da ginástica. O próprio nome gyminus,
do Grego, significa a arte de exercitar o corpo nu, práticas comuns nas pólis gregas. Os
homens nas pólis usavam a ginástica em função de suas necessidades cotidianas. Em Esparta
e em outros locais mais voltados para a guerra, a prática era usada em treinamentos para o
combate, enquanto em Atenas, ela era usada como forma de preservar a mente sã, através de
um corpo são, mens sana in corpore sano. Essa é uma das primeiras formas de registro da
Ginástica de Condicionamento Físico e de conscientização corporal,além da ideia de que o
corpo poderia ser esculpido pela repetição de ações com pesos. É por essa razão que a
retração do corpo nu, a importância dos músculos e de cada detalhe do corpo humano é
evidente quando observamos as imagens grego. Veja a Figura 8 como exemplo de escultura
grega.
Figura 8 – Os detalhes dos músculos nas esculturas gregas. Fonte: A autora.
Além de Esparta e Atenas, havia as pólis gregas que se preocupavam com a prática de
esportes nos intervalos de guerra, como Olímpia. Nela, temos o advento das Olimpíadas na
Antiguidade Clássica. As olimpíadas representam um marco na sociedade, uma vez que elas
representavam uma maneira de confraternizar e um momento de paz durante as guerras
estabelecidas entre as pólis.
Figura 09 – Teatro Grego. Fonte: A autora.
Outro elemento que destacamos quando abordamos a história das práticas corporais,
na Grécia, são os teatros, espaços onde o corpo se configura como um espetáculo. O teatro
grego é de suma importância para a origem da ginástica, haja vista que as demonstrativas e o
circo são práticas em que o corpo é colocado para ser visto por outras pessoas, assim como, de
certa maneira, ocorria nos espetáculos da cultua grega. Apesar dessas modalidades não
existirem tal qual conhecemos, os gregos foram os primeiros a perceber que os exercícios
físicos têm finalidades para além do preparo do guerreiro. Assim, naquela cultura, havia uma
ideia de educação, na qual as práticas de ginástica eram consideradas integrantes do processo
educacional do cidadão grego.
Ainda na esteira da Antiguidade Clássica, também destacamos o Império Romano,
bem como a importância dada ao entretenimento da população, mediante a política de “pão e
circo”, um elemento que pode ser relacionado à ginástica e ao espetáculo. Além disso, em
Roma, repete-se a ginástica como treinamento para os combates de guerra e para as batalhas
de espetáculo que aconteciam no Coliseu. Consideramos ainda as lutas mortais entre
gladiadores, entre os gladiadores e feras, assim como as conquistas territoriais, treinamento do
guerreiro, nascimento do circo e o menosprezo pela vida. Ao citarmos o circo, inserido em um
contexto romano, compreendemo-lo como um evento de exibição de destrezas corporais que
ocorria em determinado espaço. Essa destreza corporal em exposição fica mais evidente nas
feiras e em demonstrações para a corte, dentro de castelos, na Idade Média. O rumo da
história do circo é um pouco específico, então, você o conhecerá um pouco mais na Unidade
III.
Destacamos o ocidente europeu nesta retomada, mas não desconsideramos a
possibilidade de que existam, em outras partes do mundo, na mesma época, não
necessariamente a ginástica, mas elementos próximos aos apresentados.
Quando avançamos para a Idade Média, temos um momento histórico que, conforme
destacamos, é apresentado como um período de trevas para muitos autores da cultura corporal
de movimento. As práticas corporais se configuram como mais reclusas não só devido à
religião, mas também pelo êxodo rural e o esvaziamento das aglomerações que hoje
chamamos de cidade, concentrando a vida no campo, nos feudos. Nessa época, essas
características dificultam o registro de informações, para que pudéssemos estabelecer a
prática da ginástica na época. Contudo, não possuir muitos registros não quer dizer que essas
práticas deixaram de existir. Sabemos que existiam porque, do meio para o fim da Idade
Média, o treinamento dos guerreiros das cruzadas, o treinamento militar, o adestramento de
cavalos e outras práticas corporais, normalmente, relacionadas à ginástica, permaneceram e
reapareceram. Trataremos brevemente dessas práticas, quando abordarmos a Ginástica de
Volteio na Unidade III.
Apesar de terem se dispersado para uma vida voltada aos feudos, as pessoas faziam
trocas comerciais e, muitas vezes, alguns povoados surgiram espontaneamente nos
cruzamentos entre as rotas de comércio. Esses conglomerados, por sua vez, são os
responsáveis por gerar o que chamamos de cidades e de vida comunitária. Assim, com o fim
da Idade Média, com o treinamento dos cavaleiros cruzados e com o reflorescimento das
cidades, verificamos registros de práticas corporais ao ar livre.
Um dos quadros mais emblemáticos, sempre retomado na discussão de cultura
corporal de movimento e a sua história, é o quadro Jogos Infantis, de Pieter Bruegel, pintado
por volta de 1560, reproduzido na Figura 10. Por intermédio do que o autor retrata dos jogos
da época, é possível estudar a história dos jogos, da recreação, do lazer, bem como das danças.
Na ginástica, isso não é diferente. É possível observar contorção corporal, o equilíbrio em
trave, os elementos de trepar na árvore, de ficar dependurado ou de ponta-cabeça em traves, a
manipulação de aparelhos, que, mais para frente, sabemos que serão os aparelhos da Ginástica
Rítmica.
Figura 10 – Jogos Infantis. Fonte: Bruegel (1560).
Para além dessa pintura, a transição da Idade Média para a Idade Moderna é um
período muito produtivo para o conhecimento da área da ginástica. É a partir desse período
que abordaremos especificamente algumas características das ginásticas competitivas e suas
respectivas histórias, na Unidade II, e retomaremos a história do circo, na Unidade III.
No que se refere a introdução da história da ginástica como um todo, uma
característica muito importante é a crescente cientifização do homem e a sua preocupação em
registrar todo o conhecimento adquirido. As universidades, que nasceram durante a Idade
Média nos mosteiros, foram instituições que cresceram cada vez mais como berços da
pesquisa e da retomada de estudos realizados. No ocidente europeu, uma característica
importante foi a retomada da escrita, das pesquisas e dos registros do saber que se conhecia
até então. Principalmente, do saber da antiguidade clássica, por isso essa época também é
representante do movimento cultural chamado Neoclassicismo.
Nessa época, segundo Hobsbawn (1977), as práticas corporais eram realizadas em
feiras, os circos, em pequenas exibições com uma atração principal. Essa é uma época muito
importante para a história da Educação Física, pois, nela, há mais registros sobre a história
dos esportes, dos jogos, da dança, das lutas, da ginástica e de outros elementos da cultura
corporal de movimento. Entretanto, registrar as práticas realizadas pela Educação Física,
sejam elas na dança, na ginástico, ou em outras áreas, é um desafio que perdura desde a Idade
Moderna até a Contemporânea.
Um dos destaques da Idade Moderna é a elaboração dos manuais de ginástica. Soares
(1998) retoma a história da elaboração de um Manual de Educação Física, Ginástica e Moral
(Nouveau manuel d'education physique, gymnastique et morale), do coronel Amorós y
Ondeano, em meados de 1838. A autora destaca as semelhanças entre o manual de Amorós e
as práticas corporais realizadas nas feiras, nas praças populares, passando uma ideia de que a
ginástica começava a ser representada como um produto acabado e científico. Dessa maneira,
a Figura 11 apresenta um recorte do quadro de Pieter Bruegel e um do manual do coronel,
para observarmos a semelhança entre a descrição dos elementos de Amorós e os movimentos
que eram práticas corporais realizadas pelas pessoas, em seu dia a dia, e pelos Saltimbancos.
Figuras 11 – Recorte do quadro de Pieter Bruegel, de 1556, e recorte interno do Manual de Ginástica, de
Amorós y Ondeano, de 1838. Fonte: Rodrigues e Marroni (2012).
Da mesma maneira, a comparação da Figura 12 mostra a ideia do “salto sobre o
cavalo” (que manteve esse nome até pouco tempo, sendo substituído pelo “salto sobre a
mesa”), o que denota uma relação com as práticas de volteio das bailarinas e dos acrobatas em
cima dos cavalos em circos.
Figura 12 – O circo e recorte interno de Manual de Ginástica. Fonte: Seurat (1891) e Soares (1998).
Quando tratamos de assuntos sobre a história da ginástica, os movimentos ginásticos
europeus vêm à tona na discussão.A crescente cientifização propôs que métodos de ensino
ingleses, alemães, nórdicos e franceses fossem desenvolvidos. Consequentemente eles
originam o que chamamos de movimentos ginásticos europeus: o Movimento do Centro, do
Norte e do Oeste. A Escola Alemã, ou o Movimento do Centro, aparecerá quando
discutirmos a Ginástica Artística e Rítmica, já a Escola Nórdica, ou Movimento do Norte, ao
tratarmos da Ginástica Estética de Grupo, por sua vez, a Escola Francesa, ou Movimento do
Oeste, no momento em que estudarmos Amorós e a História do Circo, na Unidade III. Por fim,
a Escola Inglesa, que, por ser mais voltada para a recreação, não será trabalhada neste
momento.
Encerramos, agora, a retomada histórica. Entretanto, você já percebeu que esse
período é bem profuso, certo? Por isso, ele será retomado com a especificidade de cada
ginástica, no decorrer desta apostila.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade I, você teve a oportunidade de saber um pouco mais sobre o universo
da ginástica. Abordamos os cinco campos de sua atuação, isto é, a Ginástica de
Condicionamento Físico, a de Competição, a Fisioterápica, a de Conscientização Corporal, a
de Demonstração, bem como as instituições que regulamentam a prática em nosso mundo,
conhecendo melhor a Federação Internacional de Ginástica e a Confederação Brasileira de
Ginástica, para entender os seus papéis.
Na última parte da nossa primeira unidade, descrevemos brevemente a história da
ginástica. Com isso, observamos que ela fez parte da evolução do ser humano ao longo de sua
história, além de percebermos que ela, atualmente, possui variados ramos e manifestações,
que apesar de diferentes, aparentemente, possuem uma mesma matriz primordial: o
movimento gímnico.
Na próxima unidade, estudaremos um pouco mais sobre o campo de atuação da
ginástica competitiva, retomando alguns elementos de sua história, a partir do ponto no qual
paramos.
UNIDADE II – O UNIVERSO COMPETITIVO DA GINÁSTICA
INTRODUÇÃO
A Unidade II trabalha com o âmbito da ginástica competitiva. Para esse percurso,
abordamos alguns elementos que são comuns a essa categoria, para você entender melhor
sobre os códigos de pontuação, nomenclatura dos movimentos, valores de apresentação,
banca de arbitragem. Em seguida, descrevemos, com mais ênfase, três das ginásticas
competitivas, sendo a Ginástica Rítmica, a Artística e a Acrobática, as quais podem ser
trabalhadas tanto nas categorias de base como na ginástica escolar.
O universo da ginástica é muito amplo para discutirmos todas as competitivas, mas,
para que você conheça um pouco mais, apresentamos o volteio e outras modalidades na
próxima unidade.
E lembre-se: como esclarecido na introdução da apostila, após a leitura desse material,
você não se tornará nem árbitro, nem técnico de equipes competitivas, mas poderá ser um
ótimo espectador do esporte, pois terá mais prática e conhecimento para isso.
1.1 O Universo Comum a Todas as Ginásticas Competitivas
Inicialmente, no que se refere aos aspectos comuns a todas as manifestações de
ginástica competitiva, podemos citar o código de pontuação, que é o elemento norteador de
cada uma das modalidades competitivas. Ele pode ser comparado aos livros de regras de
diversos esportes individuais e coletivos.
Figura 1 – Exemplo de código de pontuação da G. R. Fonte: A autora.
No código de pontuação, são estabelecidos os valores de cada atividade realizada em
quadra ou no momento da competição (para competições de Ginástica Artística que, por
exemplo, acontecem em aparelhos).
SAIBA MAIS
Por volta do final da década de 70, do século XX, o Código de Pontuação feminino
tinha a função de possibilitar um julgamento objetivo e unificado das séries de ginástica
olímpica em nível internacional; aumentar os conhecimentos dos árbitros; e auxiliar tanto as
ginastas, quanto os técnicos, na composição de séries e na preparação para as competições.
Para saber mais sobre um código de pontuação feminino dessa época, veja o Código
de Pontuação Feminino, publicado pela Secretaria de Educação Física e Desportos e
Confederação Brasileira de Ginástica.
CÓDIGO DE PONTUAÇÃO FEMININO. Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me002170.pdf. Acesso em: 10 nov. 2019.
Em geral, o código de pontuação determina o valor a ser atribuído a todas as
atividades realizadas e também as deduções pertinentes em caso de erros ou de atividades de
movimentos incompletos. Veja o exemplo ilustrado na Figura 2.
Figura 2 – Exemplo interno de orientações sobre as penalidades em um código de pontuação. Fonte: A autora.
De modo comum, toda série de ginástica (na dança, chamaríamos de coreografia, mas,
na ginástica, chamamos de série ou rotina) é dividida, no momento de sua avaliação, em três
elementos. O primeiro deles é o elemento técnico, também conhecido como o valor técnico
ou também chamado valor de dificuldade, que concerne aos elementos escolhidos pelo
técnico ou pelo ginasta para serem executados em uma série. Alguns desses elementos são
obrigatórios, enquanto outros variam entre maior e menor dificuldade.
Cada um dos movimentos possui um valor determinado e cada uma das variações de
posição corporal também. Esse valor é pré-determinado pelas instâncias superiores de cada
ginásticas, sendo elas que determinam inclusive os ciclos de materiais ou aparatos, no caso
das que possuem materiais, como a Rítmica. Observe, na Figura 3, um exemplo de registros
de ciclos para cada material.
Figura 3 – Determinações dos ciclos de materiais da FR pela FIG, presentes no código de pontuação. Fonte: A
autora.
Os valores atribuídos às dificuldades também determinam os nomes de cada um dos
movimentos a serem realizados. Algumas vezes, alguns movimentos são previstos pelo
código de pontuação, sem nunca terem sido feitos antes, e, ao serem executados de maneira
completa, pela primeira vez, em uma competição oficial, eles ganham o nome da pessoa que
os realiza. É por isso que temos alguns autos denominados Do Santos e Do Santos 2, devido
aos famosos “duplo twists carpado” e o “duplo twist estendido”, que são estabelecidos no
código de pontuação da ginástica artística feminina de solo, mas que não tinham sido
desempenhados em uma competição oficial até Daiane dos Santos executá-los.
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Acompanhe uma das apresentações de Daiane dos Santos, na qual ela realiza, logo no
início de sua série, o salto Dos Santos. Vale a pena conferir!
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OeAqY92_HZI. Acesso em: 5 nov. 2019.
A escolha dos movimentos a serem realizados, para além dos obrigatórios, depende da
estratégia do técnico, da comissão técnica ou do próprio ginasta, que escolhe executar
movimentos mais simples e certeiros, que vão garantir aqueles pontos, ou ousar em
movimentos mais difíceis, mas que podem não ser executados completamente, arriscando que
os pontos não sejam atribuídos. Paradoxalmente, são esses movimentos que valem muito
quando são feitos perfeitamente.
Outro tipo de elementos previstos no código de pontuação são as relações artísticas
daquela série. Existem elementos artísticos a serem observados, como o acompanhamento
musical, a relação da composição da série com o tema proposto, assim como essa composição
relacionada ao figurino apresentado, além da escolha dos passos rítmicos a serem executados,
a ocupação obrigatória de diversos espaços da quadra (praticável) em diferentes formações, os
deslocamentos, os tipos de trocas, a expressão do(a) ou dos(as) ginastas, assim por diante.
O elemento artístico da ginástica é o que traz a beleza plástica de uma apresentação, a
sua combinação do movimento tecnicamente realizado e a sua combinação com todo o
contexto da competição. Nesse sentido, o que determina se o movimento será válido é a sua
execução, avaliada pelo código de pontuação que prevê o desconto de pontos conforme os
elementos não são realizados corretamente ou em sua perfeição. Por isso, o código em
ginástica também determinaquantos pontos ou décimos de pontos são descontados a cada
execução do movimento, incluindo posição de pernas, dos joelhos flexionados ou não, de
diferentes segmentos corporais, da forma de se equilibrar ou de girar no próprio eixo, a
aterrissagem depois de um salto, de um movimento de giro com o corpo, assim por diante.
Muitas vezes, alguns professores, para facilitar a compreensão dos alunos, sugerem
que, conforme as dificuldades técnicas e o valor artístico de uma série, os ginastas ganham
pontos, enquanto, ao que se refere ao valor de execução de uma série, os ginastas perdem
pontos. Antigamente, por exemplo, uma ginasta, na pontuação da execução, não entrava com
10 na quadra, e sim com 9,70, perdendo as pontuações conforme executasse movimentos sem
perfeição. Esses 0,30 seriam atribuídos subjetivamente pelo(a) árbitro(a), caso julgasse de
mérito da ginasta. Essa nota ainda seria somada à nota artística e à nota de dificuldade, para
realizar-se uma média aritmética simples. É por essa razão que, quando uma ginasta tirava 10,
causava uma grande comoção, já que, na ginástica, é uma nota bastante difícil de ser atingida.
Na Figura 4, temos Nadia Comăneci, que, com 14 anos, foi a primeira ginasta da história a
conseguir esse feito, não só em uma série solo, mas também na soma de todas as execuções
dos aparelhos de Ginástica Artística.
Figura 4 – Nadia Comăneci. Fonte: Wikipédia (2019).
INDICAÇÃO DE VÍDEO
Acompanhe um compilado de movimentos de Nadia Comăneci, em 1976, e a sua conquista
da nota 10.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Yi_5xbd5xdE. Acesso em: 3 nov. 2019.
Quem determina os pontos atingidos ou se há falhas na execução dos movimentos são
os árbitros. Normalmente, há uma banca de arbitragem, na qual os árbitros são divididos entre
três funções, com um presidente da mesa, que regula caso haja muita diferença de pontuação
de uma nota para a outra. Você já deve ter assistido alguma competição internacional, em que
a nota demora um pouco para ser divulgada. Isso acontece porque os árbitros terminam as
suas contas, mas, quando as notas são comparadas e há uma grande divergência entre elas,
muitas vezes é necessário recorrer a alguns árbitros para questionar a diferença até que
cheguem a um consenso imediato, a nota seja atribuída e divulgada.
A banca de arbitragem pode possuir também árbitros de linha, que se localizam nas
duas diagonais extremas, em competições de ginásticas que usam um praticável, como o solo
masculino e feminino da Ginástica Artística e da Rítmica, bem como a Ginástica Acrobática e
a Aeróbica Competitiva. Esses árbitros observam se há algum avanço nos limites do
praticável ou da quadra, sejam eles avançados por ginastas ou por aparelhos manipulados.
Agora que você conhece um pouco mais sobre os elementos que são comuns às
apresentações das ginásticas competitivas, avançaremos a discussão para abranger três delas.
1.2 A Ginástica Rítmica
A primeira das ginásticas competitivas que optamos por abordar é a Ginástica
Rítmica, que já foi conhecida como Ginástica Feminina, Ginástica Desportiva e Rítmica
Desportiva, como você pode ver na Figura 1, que exemplifica o código de pontuação. Ela não
é obra de apenas um autor ou lugar e é uma modalidade desportiva cujas regras mudam
frequentemente. A sua raiz está ligada aos movimentos advindos da história da ginástica, os
grandes movimentos ginásticos europeus.
Quando nos referimos ao Movimento do Centro (Ginástica Alemã), destacamos que
ele se dividiu em duas vertentes: o movimento técnico pedagógico e o movimento artístico
ritmo pedagógico. A Ginástica Rítmica faz parte da segunda vertente. Em 1963, ela é vista
como uma ginástica moderna, como um movimento que valorizava a mulher, advindo dos
conflitos sexistas de ordem capitalista na época. Ao mesmo tempo que valorizava a mulher
num aspecto mais simbólico, trabalhava com movimentos orgânicos do corpo, assim como a
força e os movimentos mais dinâmicos e rítmicos. É importante destacar, inclusive, que a sua
época na história está envolta por um contexto pós-Segunda Guerra Mundial, permeado pela
busca, pelo rendimento, eficácia, eficiência e produtividade.
A partir de 1972, ela é denominada Ginástica Rítmica Moderna, para, em 1975, ser
chamada de Ginástica Rítmica Desportiva e, entre 1997 e 2000, torna-se apenas Ginástica
Rítmica.
Figura 5 – Os materiais utilizados na Ginástica Rítmica. Fonte: Gymnos (2019).
Essa modalidade é amplamente conhecida pelo uso de aparelhos a serem manipulados
pelas ginastas. Contudo, esses aparelhos não foram inseridos todos ao mesmo tempo, sendo
cada um deles inserido em um momento específico.
Algumas das datas se confundem dependendo os autores elencados. Para Publio
(2005), por exemplo, o primeiro campeonato de ginástica moderna é de 1948, cuja primeira
apresentação, em olimpíadas, ocorre nos Jogos Olímpicos de Londres. Na ocasião, a ginasta
se apresentou individualmente com um aparelho de livre escolha, além de uma série com
mãos livres. Segundo o mesmo autor, o primeiro conjunto de arcos é de 1952, mas também
são encontradas referências que datam 1963. Dois anos depois, as bolas foram inseridas
apenas em caráter de demonstração.
O primeiro campeonato de ginástica moderna em nível mundial ocorre em 1962,
porém o primeiro código de pontuação é apenas da década de 70, já contando os materiais
arco, bola e corda. Após essa data, há a inserção dos aparelhos Fita e Maças. Atualmente, as
competições ocorrem de forma individual e em conjunto. Os materiais, no conjunto, podem
ser todos o mesmo ou em uma proporção de três para dois, todos regulados pela FIG,
conforme registrados nas Figuras 6 e 7.
Figura 6 – Conjunto de dois arcos e três pares de maças da GR. Fonte: Barbosa (2016).
Figura 7 – Conjunto de cinco fitas da Ginástica Rítmica nos Jogos Pan-Americanos, Lima, 2019 – Conjunto
Geral. Fonte: Olimpíada Todo Dia (2019).
Os aparelhos da Ginástica Rítmica trazem uma série de possibilidades de trabalho. Os
três primeiros, corda, bola e arco, são os mais conhecidos, pois são brinquedos do universo
infantil. Os outros dois, a maça e as fitas, contribuem para compor o imaginário em torno do
que o ginasta realiza.
INDICAÇÃO DE LEITURA
Na obra de Nunomura e Tsukamoto (2009), das páginas 150 até a 161, é possível
conhecer, de maneira detalhada, mediante figuras, os movimentos corporais que sugerimos
como possíveis para cada material.
NUNOMURA, M.; TSUKAMOTO, M. H. C. Fundamentos das ginásticas. Jundiaí:
Fontoura, 2009.
No caso da corda, podemos considerar a descoberta e o conhecimento dos possíveis
movimentos, a partir do que já foi, historicamente, produzido, até mesmo pela própria criança.
A corda, por exemplo, deve ser calculada de acordo com o tamanho da criança, e a sua
empunhadura, realizada pelos extremos. Ela pode ser usada aberta, dobrada em dois ou em
quatro, podem ser realizados movimentos de andar, correr, saltar, girar, bem como balanceios,
giros e circunduções. Em geral, as séries de corda são de músicas mais rápidas e dinâmicas.
A respeito do aparelho arco, apesar de ser oficial apenas em 1967, o seu uso já tinha
sido realizado em 1936, para uma demonstração dos anéis olímpicos na Olimpíada de Berlim.
Os arcos podem ser de madeira, circulares, retangulares ou quadrados. Eles fazem parte das
brincadeiras infantis, sendo elementos interessantes para trabalhar-se a coordenação de
movimentos, a agilidade e a atenção, desde que tenha um tamanho compatível com o do aluno.
Envolvem as formas básicas de correr, saltar, girar, andar.
Diferentemente do aparelho corda, que apesar de ser um aparelho só, necessita ser
movimentado a maior parte do tempo pelas duas mãos, o aparelho arco demanda o uso de
apenas um dos membros do corpo. Por isso, sugerimos que sejam trabalhados tanto a mão
direita, ou mão dominante, quanto a mão esquerda, ou mão não dominante. Na iniciação,
também podemos trabalhar mais de um aparelho por aluno ou colocá-los em grupopara
ampliar as possibilidades do movimento. Esse é um dos aparelhos que mais proporcionam o
conhecimento do espaço.
A bola apareceu, pela primeira vez, em competições da década de 60. Ela possui uma
particularidade: é um brinquedo infantil desde a antiguidade. Pode ser usada em atividades
como quicar, lançar, rolar pelo corpo ou chão, acompanhadas de deslocamentos em diferentes
sentidos, direções, trajetórias. Da mesma maneira que os outros dois aparelhos, é interessante
que as bolas correspondam ao tamanho da criança, sendo de diâmetro reduzido para as
menores.
Nas categorias de base ou na ginástica rítmica escolar, sugerimos bolas de diversos
diâmetros, pesos, materiais, cores e texturas, podendo ser até mesmo as de pano ou as de meia
para atividades de manipulação (talvez seja uma boa prática produzi-las com o aluno!). É
interessante conhecer e construir saberes relacionados a esse aparelho, partindo do imaginário
ou da vivência das crianças, uma vez que a bola é um dos primeiros brinquedos com o qual
elas têm contato. Ademais, é importante combinar movimentos com a bola e com o corpo,
bem como trabalhar possibilidades com mais de uma criança, variando o número de materiais
empregados.
O aparelho maça se torna obrigatório em 1973. Ele é o último dos aparelhos
introduzidos, mas, na escala de evolução de cada ginasta, nos materiais, ele vem antes das
fitas. A sua história possui lendas, como a de um pedaço de madeira, jogado no chão da sala
de Meadu, quem teria manipulado e pensado nas possibilidades de inserção do aparelho na
ginástica. Hoje, ele pode ser de madeira, borracha ou PVC. Assim como nas outras
manipulações, os seus movimentos devem partir do simples para o complexo.
Nesse caso, como ele é o único material formado por dois objetos, a sugestão é que se
trabalhe apenas uma das maças para depois trabalhar as duas, com balanceio, pequenos
círculos, lançamentos baixos com a mão direita e a esquerda, movimentos paralelos e
assimétricos. É necessária boa atitude postural, firmeza de movimentos, bilateralidade,
percepção periférica, velocidade de reação motora, equilíbrio motor. Esse aparelho trabalha
muito as musculaturas dos braços, ombros e costas.
Já a fita é inserida em 1971, sendo bem conhecida devido à proposta plástica de seus
movimentos. É comum que ela possua um grande comprimento, 7 metros, conduzido por um
estilete, que fica em contato com a mão da ginasta. Com elas, são realizados movimentos de
serpentinas, espirais, pequenos e grandes círculos, lançamentos, solturas, em conjunto com os
elementos corporais básicos.
Figura 8 – Sugestões de trabalho para a GR. Fonte: Nunomura e Tsukamoto (2009).
Ao considerar a Ginástica Rítmica como um todo, a sua principal característica é a
manipulação com acompanhamento musical. Salientamos que, mesmo que competitivamente
ela seja uma modalidade essencialmente feminina, não é necessário que a sua prática na
escola e nas categorias de base dos centros esportivos aconteça somente dessa maneira. Os
meninos podem e devem ter acesso a esse conhecimento e a essa experiência corporal.
Figura 9 –Materiais alternativos da Ginástica Rítmica. Fonte: Arquivo pessoal de Taís Pastrelli.
É por essa razão que sugerimos a inserção de materiais alternativos, como forma de
trabalho da Ginástica Rítmica, como as cordas, o arco e as bolas, que podem ser mais
acessíveis. No caso das maças e das fitas, que são os mais diferentes para o ambiente escolar
ou para as categorias de base em centros esportivos, podemos adaptá-los. As maças podem ser
garrafas e pedaços de cabo de vassoura, imitando o pescoço, enquanto as fitas necessitam de
um estilete, em um nível mais elaborado, que possibilite o giro.
INDICAÇÃO DE LEITURA
A obra Ginástica Rítmica “popular”: uma proposta educacional, de Roberta Gaio, é
uma referência bastante usada, quando o assunto é adaptação de materiais para a Ginástica
Rítmica.
Segundo Nunomura e Tsukamoto (2009), apesar da ginástica competitiva ser
essencialmente feminina, alguns países da Europa e da Ásia, como o Japão, existe a prática
masculina com adaptações nos materiais. As fitas se transformam em faixas, os arcos tem o
seu tamanho reduzido e são apresentados em dois, assim como as maças. Por isso, ao inserir a
Ginástica Rítmica, no ambiente escolar, o ideal é que tanto meninos quanto meninas tenham a
experiência de conhecer essa modalidade
1.3 A Ginástica Artística
A Ginástica Artística também possui as raízes atreladas ao momento em que as
diversas ginásticas começaram a desmembrar-se, oriundas dos grandes movimentos ginásticos
europeus. A crescente divisão das manifestações da cultura corporal de movimento e as
subdivisões de cada uma delas originam os métodos ginásticos europeus e a instituição da
Educação Física como área de conhecimento. Dessa maneira, é possível observar a separação
da ginástica em diferentes formas de relacionar-se.
Retomemos o Movimento do Centro, a Escola Alemã. Todo o seu contexto possui
influência de Jean-Jacques Rousseau e a vida natural. Essa era a base do laboratório
pedagógico, chamado philantropium, pensado pelo pai da Ginástica Artística, Friedrich Jann,
que propunha uma prática com conteúdo patriótico e social. Também conhecida como
Turnkunst, a Ginástica Escolar Alemã vem do segundo caminho de desdobramento dos
movimentos da escola, enquanto a Ginástica Rítmica advém do primeiro. No caso desta
última, o movimento artístico, rítmico e pedagógico se baseia no princípio da totalidade e da
troca rítmica, sugerindo uma economia de movimentos, além de trabalhar com a ideia de
dança, teatro e música. Daí, origina-se a feminina, chamada Ginástica Feminina Moderna.
Já o movimento técnico-pedagógico tem base nos princípios de compensação, de
formação de caráter, de performance, mas sem excluir os movimentos artísticos. Apesar da
grande influência de movimentos de fundamentos ginásticos e componentes esportivos, ao
separar a ginástica em artística e moderna, os movimentos artísticos tornam-se os
fundamentos da Ginástica Artística. O seu nome foi Ginástica Olímpica, só que recebe a
denominação Ginástica Artística após as outras modalidades também se tornaram olímpicas.
Esse é um dos mais importantes movimentos da juventude alemã. Jann viveu de 1778
a 1852 e optou por incentivar uma prática que pudesse preparar os prussianos para a guerra,
para expulsar os exércitos invasores. Com esse objetivo, ele determina uma ginástica de solo,
incluindo aparelhos. Por isso, Jann é preso e acusado de subversão, já que ele permite e
incentiva a ginástica ao ar livre, orientando os jovens a fortalecerem-se e a quebrarem regras.
Ele tem a ideia de que caminhar, correr, saltar, lançar e sustentar-se são exercícios gratuitos
como o ar e que podem ser praticados em toda parte. Dessa maneira, sugere a ocupação de
espaços públicos, a autodisciplina, a independência e a lealdade.
Em 1811, Friedrich Jann cria o primeiro campo de ginástica com uma barra horizontal
e barras paralelas, para fortalecer os braços, em exercícios de volteio. Em 1861, realiza o
primeiro festival organizado, em Berlim, atingindo a marca de 6.000 ginastas, convencendo a
juventude alemã a praticar ginástica. A sua prisão acaba por divulgar ainda mais a área, ao
ponto de incentivar a criação da Federação Internacional de Ginástica (PUBLIO, 2005).
Figura 10 – Os aparelhos da Ginástica Artística masculina. Fonte: Encyclopaedia Britannica (2005).
A Ginástica Artística pode ser masculina e feminina. As provas masculinas são
realizadas na barra fixa, barras paralelas simétricas, cavalo com alças, salto sobre a mesa,
argolas e a ginástica de solo sem música. As provas femininas envolvem o salto sobre a mesa,
as paralelas assimétricas, a trave de equilíbrio e o solo com música.
Figura 11 – Os aparelhos da Ginástica Artística feminina. Fonte: Encyclopaedia Britannica (2005).
A Ginástica Artística faz parte das Olimpíadas desde as competições de Berlim, em
1936, e, acada dois anos, realizam-se campeonatos mundiais. Em termos de aparelhos, além
dos já citados, também existem os auxiliares adaptados, que fazem parte do treinamento e
preparação dos ginastas, sendo: o trampolim de molas, o “minitramp” ou minitrampolim, os
trampolins acrobáticos, ou cama elástica, plintos, plantas piramidais, colchões em plano
inclinado ou rampa, banco sueco para ser usado como apoio para os pés ou em posição
invertida, espaldares.
1.4 A Ginástica Acrobática Competitiva
A Ginástica Acrobática Competitiva é a mais nova modalidade da Federação
Internacional de Ginástica, caracterizada pela execução de exercícios de força, equilíbrio,
flexibilidade e agilidade. É um esporte que une homens e mulheres, engloba muitos
movimentos de solo da Ginástica Artística em suas séries, além de movimentos rítmicos que
demandam os exercícios dinâmicos estáticos e individuais. As rotinas acontecem em um
tablado de 12 por 12 metros, acompanhadas por música e coreografia. A série é executada
dentro de um máximo de 2 minutos e 30 segundos.
O que você precisa conhecer para compreender melhor essa ginástica é o conceito de
base e de volante. A base sustenta o volante, nos exercícios estáticos (parados), e impulsiona e
recebe o volante, nos exercícios dinâmicos (em movimento). O volante, em geral de menor
estatura, é quem fica no topo das figuras de exercícios estáticos, sendo lançado nos exercícios
dinâmicos.
A Ginástica Acrobática competitiva possui cinco categorias, a saber: dupla mista,
dupla feminina, dupla masculina, grupo feminino e o grupo masculino.
 Dupla mista: é formada por um homem como base e por uma mulher como volante.
Figura 12 – Dupla mista da Ginástica Acrobática. Fonte: Pereira e Lima (2017).
 Dupla feminina: as de maior estrutura é base, a de menor estrutura, volante.
Figura 13 – Dupla feminina da Ginástica Acrobática. Fonte: Sol Brilhando (2019).
 Dupla masculina: o de maior estatura é base, o de menor, o volante.
 Grupo feminino: três integrantes.
Figura 14 – Trio feminino da Ginástica Acrobática. Fonte: Goulart (2017).
 Grupo masculino: quatro integrantes.
Figura 15 – Ginástica Acrobática: grupo masculino. Fonte: Associação de Ginástica Acrobática (2019).
No caso de trio feminino, podemos ter exercícios em que uma é base, uma é
intermediária e a outra volante, ou ter duas bases e uma volante. Essa variação é ainda maior
no grupo masculino, no qual podemos ter base, intermediário um, intermediário dois e volante,
ou duas bases, intermediário e volante ou até mesmo duas bases e dois volantes.
A Ginástica Acrobática desenvolve em seus participantes coragem, força, coordenação
motora e flexibilidade, bem como habilidades de salto e de equilíbrio, haja vista que os
acrobatas executam rotinas com a cabeça, mãos e pés dos parceiros, além de movimentos que
são arriscados e dependem da confiança total em seu parceiro. Como a sua principal
característica é ser formada por par ou grupo, essa modalidade requer um alto grau de
confiança e de cooperação entre os participantes.
No ambiente educacional, a montagem e desmontagem de cada figura acrobática é um
dos principais momentos em que podemos ensinar, não só características físicas, mas também
atitudinais para os nossos alunos. A montagem também pode ser chamada de monte,
momento no qual o ginasta sobe em seu parceiro. Também podemos descrever uma fase de
voo, aproveitando os segmentos do parceiro para apoiar-se, sem perder o contato com ele. O
desmonte, ou a desmontagem, é quando o ginasta perde o contato com o parceiro ou com a
recepção de um voo. Por isso, o desmonte deve ser sempre seguro, reduzindo os elementos de
queda.
Segundo Merida, Nista-Piccolo e Merida (2008), a Ginástica Acrobática mostra-se
relevante para a composição do universo ginástico, porque ela não exige altos investimentos
de aquisição de materiais, se comparada a Ginástica Artística ou a Rítmica. Ela possibilita a
execução do treinamento de vários atletas ao mesmo tempo. Permite ainda uma longevidade
na vida esportiva, uma vez que ela é mais democrática em relação aos tipos de corpos de
quem a pratica, além deque uma ginasta pode iniciar a sua carreira como volante, por ser mais
nova e mais leve, seguindo a sua carreira até ser base depois de adulta.
A acrobacia é um elemento que faz parte da história do ser humano desde a
antiguidade. Desenvolve-se simultaneamente com as demais artes, com registros em lugares
como o Egito e a Grécia Antiga (MERIDA; NISTA-PICCOLO; MERIDA, 2008). China,
Japão e Índia têm acrobatas cujo destaque é indiscutível, sendo uma tradição que se mantém
até hoje. Durante a Idade Média, os exercícios acrobáticos relacionam-se aos funâmbulos. No
século XVI, são publicadas, na Europa, as primeiras obras técnicas que consideram a
acrobacia como uma modalidade esportiva, conforme apontamos na Unidade I. Ela se
desenvolve, em grande parte, no século XVII, devido à criação do circo, como observaremos
melhor na Unidade III.
Como esporte, essa modalidade de ginástica, relativamente jovem, começa a integrar a
Federação Internacional de Ginástica em 1998. Mesmo que a sua entrada tenha sido somente
em 1998, na FIG, as primeiras competições mundiais datam de 1973, quando a Federação
Internacional de Esportes Acrobáticos é fundada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta Unidade II, você teve a oportunidade de conhecer mais sobre o universo
competitivo da ginástica, entendendo que alguns elementos são comuns em todas as
manifestações gímnicas. Como exemplos, trouxemos o código de pontuação e os valores das
competições, a divisão de uma série em artístico, as dificuldades e execução, bem como
apontamentos sobre a banca de arbitragem.
Em seguida, abordamos três das ginásticas competitivas: discutimos a respeito da
Ginástica Rítmica, que possui em sua essência a característica da manipulação de objetos;
apresentamos a Ginástica Artística e a sua característica de realizar evoluções em grandes
aparelhos; e encerramos o conteúdo com a Ginástica Acrobática, na qual você pode conhecer
as diferentes características entre a função de base, volante, além de compreender um pouco
mais sobre os exercícios dinâmicos e os estáticos. Ainda existem outras modalidades
competitivas reconhecidas pela Federação Internacional de Ginástica, mas, devido ao pouco
espaço que temos para elencar todas as características possíveis, nos atemos apenas à essas
três.
Sendo assim, na próxima unidade, apresentaremos, de maneira breve, as modalidades
integrantes do universo alternativo da ginástica.
Até já!
UNIDADE III – O UNIVERSO DEMONSTRATIVO E ALTERNATIVO DA
GINÁSTICA
INTRODUÇÃO
A Unidade III tem por objetivo apresentar o universo demonstrativo e alternativo da
ginástica. Para tanto, expomos os elementos da Ginástica para Todos, reconhecida pela
Federação Internacional de Ginástica, de caráter essencialmente demonstrativo.
Em seguida, discorremos sobre a manifestação circense e as suas tangências com a
ginástica. Lembramos que, como dito na introdução desta apostila, apesar da manifestação
circense ser mais ampla do que a ginástica ou do que a própria Educação Física, acreditamos
que essa disciplina represente um bom momento para tentarmos compreendê-la, haja vista que
a manifestação circense não possui uma disciplina específica.
No último tópico dessa unidade, falamos de algumas das modalidades competitivas
que não são tão divulgadas, como a Ginástica Aeróbica Competitiva, a de Volteio e a
Ginástica Estética de Grupo, que ganha cada vez mais praticantes no Brasil.
1.1 O Universo Demonstrativo: A Ginástica para Todos
A Ginástica para Todos, ou Ginástica Geral, surge com uma característica
demonstrativa. A sua essência é marcada por uma prática democrática, englobando pessoas de
todas as idades, com o propósito de unir alguns aspectos das modalidades competitivas, que,
sem uma regra engessada, pudesse permitir apenas os códigos de pontuação.
Figura 1 – Portal IX Fórum Internacional de Ginásticapara Todos [Print screen]. Fonte: A autora.
SAIBA MAIS
Um dos maiores eventos de Ginástica para Todos do Brasil, que agrega tanto cursos,
quanto apresentações de trabalhos científicos e mostra de práticas, é o Fórum Internacional
de Ginástica para Todos. Em seu endereço eletrônico, você tem acesso a todos os anais dos
eventos anteriores, podendo fazer o download de todos os trabalhos já publicados no evento.
FÓRUM INTERNACIONAL DE GINÁSTICA PARA TODOS. Disponível em:
https://www.forumgpt.com/2018/anais. Acesso em: 5 nov. 2019.
O nome Ginástica Geral acompanhava o termo internacional General Gymnasctics,
estipulado pela Federação Internacional de Ginástica. Entretanto, a FIG modificou a
denominação para Gymnastics for All, ou seja, Ginástica para Todos. Sendo assim, você,
acadêmico e futuro profissional, quando for fazer alguma pesquisa sobre esse conceito, inclua
também, na busca, as palavras “ginástica geral”, e permita-se ler livros ou artigos que
apresentam esse nome, pois o termo significa a mesma ginástica.
Figura 2 - A Ginástica para Todos, antiga Ginástica Geral. Fonte: Sportlive (2019).
De acordo com a Confederação Brasileira de Ginástica (2019a), a Ginástica para
Todos é definida como a ginástica que compreende um vasto leque de atividades físicas
orientadas para o lazer, fundamentadas nas atividades gímnicas, assim como em
manifestações culturais, com particular interesse no contexto da cultura nacional.
Ela engloba as modalidades competitivas reconhecidas pela FIG, como as ginásticas
Artística, Rítmica, Aeróbica Esportiva, bem como esportes acrobáticos, Tumbling, trampolim,
dança, atividades com e sem aparelhos, além de expressões folclóricas nacionais. Sua prática
é destinada a todas as faixas etárias, para todos os gêneros, sem limitação de participação e,
fundamentalmente, sem fins competitivos. Ela desenvolve a saúde, a condição física e a
integração social, contribuindo para o bem-estar físico e psíquico, impulsionada pelo seu fator
cultural e social.
Ainda segundo a mesma Federação (2019), entre os principais objetivos da Ginástica
para Todos, incluem-se: oportunizar a participação do maior número de pessoas em atividades
físicas de lazer, fundamentadas nas atividades gímnicas; integrar várias possibilidades de
manifestações corporais às atividades gímnicas; oportunizar a autossuperação individual e
coletiva, sem parâmetros comparativos com os outros; possibilitar o intercâmbio sociocultural
entre os participantes ativos ou não; manter e desenvolver o bem-estar físico, psíquico e
pessoal; promover uma melhor compreensão entre os indivíduos e os povos em geral;
propiciar uma valorização do trabalho coletivo sem deixar de valorizar a individualidade;
realizar eventos que proporcionem experiências de beleza e estética a partir dos movimentos
apresentados, tanto para os participantes ativos quanto aos espectadores; mostrar nos eventos
as tendências da ginástica.
Figura 3 – Apresentações de Grande área na Gymnaestrada de Dornbirn, em 2007. Fonte: A autora.
As apresentações de Ginástica para Todos podem ser de grande ou de pequeno porte.
A de grande porte, também chamada de grande área, possui números como cem, quatrocentos,
mil e até 2.000 participantes, ao mesmo tempo, em uma mesma apresentação.
Figura 4 – Apresentações de pequena área na Gymnaestrada de Dornbirn, em 2007. Fonte: A autora.
Também são realizadas exibições de pequeno porte ou de pequena área, que incluem
um mínimo de dez participantes, para que haja uma grande democracia de experiências e
bagagens corporais.
O maior evento da Ginástica para Todos é a Gymnaestrada Mundial. Ela é reconhecida
como um festival internacional oficial da Federação Internacional de Ginástica para a
modalidade. De quatro em quatro anos, nesse evento, vários países se encontram para realizar
apresentações e trocarem informações sobre os trabalhos desenvolvidos em suas localidades.
Nele, discute-se a ginástica para todos como um elemento importante para o aprimoramento
humano. O próximo ocorrerá em 2023!
Figura 5 – Cartaz Oficial da Gymnaestrada de 2019. Fonte: Confederação Brasileira de Ginástica (2019b).
O nome Gymnaestrada é criado a partir da ginástica e da estrada. Literalmente,
significa “caminho da ginástica”, simbolizando um dos conceitos fundamentais, idealizado
pelo holandês Hans Sommer. É ele quem teve a ideia de realizar um evento sem o aspecto
competitivo, para que os participantes se reunissem pelo prazer da performance e pelo prazer
do encontro. Sendo assim, na Gymnaestrada, não há vencedores ou perdedores, pois o seu
caráter é essencialmente demonstrativo.
SAIBA MAIS
Conheça o site da World Gymnaestrada.
WORLD GYMNAESTRADA. Disponível em: https://www.wg2019.at/wg2019/en. Acesso em:
15 nov. 2019.
Embora não seja esse o propósito, a Ginástica para Todos também possui um caráter
competitivo em um de seus aspectos, o que causa uma grande polêmica entre os seus
praticantes. O nome da competição de Ginástica para Todos é Gym for Life Challenge. Ela é
uma competição elaborada, pois pensa-se que o caráter demonstrativo da GPT, por muitas
vezes, tira as ambições e os objetivos de autossuperação de alguns ginastas.
REFLITA
Você considera válida a justificativa de que é preciso manter um caráter competitivo,
para que os ginastas tenham ambição e objetivos de autossuperação? Por quê? Então, ao
considerar que a GPT é uma prática, essencialmente, democrática, elaborada para que
houvesse apenas um caráter demonstrativo entre os participantes, qual é a sua opinião sobre a
existência do Gym for Life Challenge?
Ao final de sua carreira, embora muitos ginastas tornem-se técnicos das modalidades a
qual pertenceram ou virem membros de grandes circos contemporâneos, alguns optam pela
Ginástica para Todos. Entretanto, tê-la como um lugar possível de seguir carreira, para alguns,
pode implicar uma desistência de inovação. Nesse sentido, o caráter competitivo na GPT
traria para esse grupo um incentivo de melhora técnica, ainda que não mais em caráter
profissional.
SAIBA MAIS
Conheça, no site da FIG, o espaço específico para o Gym for Life Challenge.
Disponível em: https://www.gymnastics.sport/site/events/detail.php?id=16192#loaded.
Acesso em: 15 nov. 2019.
1.2 A Manifestação Circense e sua Tangência com o Universo da Ginástica
A modalidade circense é aqui retomada porque consideramos ser o melhor momento
para discutirmos esse conteúdo, que não é específico da Educação Física, nem da ginástica,
mas que é muito interessante de ser trabalhado nas categorias de base de centros esportivos
que praticam a ginástica ou em aulas escolares de Educação Física. Além disso, conforme
você acompanhou durante a retomada histórica desenvolvida na Unidade I, o circo e a
ginástica sempre tiveram uma relação, bem como estiveram conectados pelos movimentos
corporais primordiais.
Figura 6 – Cartaz do Circo Orlando Orfei. Fonte: A autora.
Durante os movimentos ginásticos europeus e a crescente cientifização da ginástica,
como discutidos na primeira unidade desta apostila, um dos manuais de ginástica que mais
tem relação com os movimentos circenses é o manual Ginástica e Moral, do coronel Amorós
y Ondeano (SOARES, 1998). Ele uniu informações, advindas de práticas de funâmbulos e
também da magia equestre, para elaborar as suas formulações, haja vista que o circo, no
século XVIII e XIX, é uma arte que une duas grandes artes: a equestre e a dos Saltimbancos.
Conforme os historiadores da manifestação circense, tais como Ruiz (1987) e
Bolognesi (2010), os primeiros circos, no formato que conhecemos atualmente, datam de
1870. Eles são chamados de Circo Moderno, cujo formato é de um picadeiro coberto de lona,
com exibições equestres, destrezas corporais e, muitas vezes, curiosidades corporais.
Consideramos o advento do circo moderno, quando os circos começam a utilizar
cavalos, cujas apresentações equestres, exibidas junto à atração principal, passam a ter suas
arenas cobertaspor lonas, por Philip Astley. Lembramos que, na mesma época, a ginástica já
é representada como um produto acabado e comprovadamente científica (SOARES, 1998).
Dessa forma, as manifestações corporais nas ruas não eram vistas como positivas pela
sociedade.
Marginalizado, o grupo de funâmbulos e saltimbancos encontra lugar em circos para
prosseguir com as suas práticas. No início, elas eram fixas, isto é, não itinerantes, e possuíam
os seus próprios anfiteatros ou suas arenas cobertas. Entretanto, com a sua expansão, muitos
empresários se organizaram para ter a sua própria lona de espetáculos e o seu elenco. Com
isso, montavam a sua lona em uma área da cidade e, assim que esgotavam os espectadores,
mudavam de área, ou até mesmo de cidade.
INDICAÇÃO DE VÍDEO
O rei do show é um filme de 2018 que conta a história de artistas marginalizados por
suas aparências, mas que eram dotados de destreza e técnica corporal, participantes do circo
de Barnum. É uma adaptação de uma história real, que ajuda a compreender muito esse
período.
Fonte: Xavier (2017).
XAVIER, A. Mulher barbada, anão e soprano: o que é real em ‘O Rei do Show’? Veja. 2017.
Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/e-tudo-historia/mulher-barbada-anao-e-soprano-
o-que-e-real-em-o-rei-do-show/. Acesso em: 15 out. 2019.
A manifestação circense, enquanto abordagem da ginástica, possui uma série de
tangências. Abordamos, ainda nessa unidade, no próximo tópico, a Ginástica de Volteio, que
possui relação direta com a arte equestre que mencionamos. Entretanto, podemos ressaltar que
os aparelhos da Ginástica Rítmica também podem ser relacionados a arte do malabarismo
circense. A manipulação de objetos, mais conhecida como malabares, pode ser com objetos
específicos do malabarismo, como as claves, as bolinhas, as bolas de contato, as caixas, mas
também podem incluir materiais alternativos, inclusive pessoas.
INDICAÇÃO DE LEITURA
No artigo Navegando pela temática circense: Um estudo sobre a presença do tema
circo nas seis edições do Fórum Internacional de Ginástica Geral, Marroni (2014) aborda a
presença da temática circense nos eventos de ginástica geral.
MARRONI, P. C. T. Navegando pela temática circense: um estudo sobre a presença do tema
circo nas seis edições do fórum internacional de ginástica geral. In: BORTOLETO, M. A. C.
et al. Ginástica: movendo pessoas, construindo cidadania. Campinas: UNICAMP/FEF: SESC,
2014. Disponível em: https://www.forumgpt.com/2018/arquivos/anais/07-forum-
internacional-de-ginastica-geral-2014.pdf. Acesso em: 3 dez. 2019.
Ainda sobre os pontos de contato existentes entre as duas manifestações, citamos as
acrobacias, pois elas são bem presentes nas exibições de um circo, como vimos no conteúdo
sobre a Ginástica Acrobática, na Unidade II. Já a expressão, um dos critérios necessários para
a prática da ginástica, pode ser observada nos fundamentos de clown ou palhaço, ilustrado
pela Figura 7, que é um dos personagens mais conhecidos nas apresentações circenses, o qual,
às vezes, também faz uso de elementos acrobáticos corporais.
Figura 7 – O Clown, ou Palhaço. Fonte: Fotografia cedida pelo artista Antonio Monteiro.
O circo também possui as artes chamadas aéreas, como o tecido circense, que,
segundo Batista (2004) e Marroni (2009), são panos pendurados, que, normalmente, são
presos pelo meio para que as suas duas pontas caiam em direção ao solo. Por meio delas, o
acrobata sobe, realizando movimentos tanto de quedas quanto de contorções ou poses. Veja a
Figura 8, que registra essa arte.
Figura 8 – O tecido acrobático ou circense. Fonte: Fotografia cedida pela artista Natália Batista Pizani.
A lira, por sua vez, é um objeto semelhante a um bambolê, um arco ou um aro de
alumínio. Ela é bastante resistente, podendo ser pendurada a um tecido ou a uma corda. Nela,
o acrobata também realiza elementos de contorções e quedas intencionais.
Figura 9 – A lira. Fonte: Fotografia cedida pela artista Natalia Batista Pizani.
Há ainda o trapézio, que também é bastante conhecido. Ele possui duas formas. Pode
ser executado, então, de forma fixa, com espaço individual ou com espaço para mais
praticantes, como exposto na Figura 10, ou em uma versão móvel, ou trapézio de voo, ou
trapézio com voleio, como Figura 11.
Figura 10 – O trapézio Fixo. Fonte: Fotografia cedida pelos artistas Patricia Dena Guimarães e Danilo Paz.
Figura 11 – O trapézio com voo. Fonte: Fotografia cedida pela artista Natalia Batista Pizani.
No trapézio com voo, muitas vezes, ocorrem os saltos de uma base fixa, via trapézio,
para um outro trapézio. Nesse caso, entra em cena uma figura bastante conhecida, O Porteur,
que é aquele que fica no solo, para sustentar o aparelho e a demonstração do outro artista (o
volante), ou tendo a mesma função em números aéreos (SERVIÇO SOCIAL DO
COMÉRCIO, 2019).
Figura 12 – A corda. Fonte: Fotografia cedida pelo artista Arthur Olsen.
Além da lira, do trapézio e do tecido, existem outras artes aéreas, como a corda,
exibida na Figura 12, as faixas, na Figura 13, e outros materiais que podem ser empregados na
manifestação que chamamos, atualmente, de circo contemporâneo.
Figura 13 – A faixa. Fonte: Fotografia cedida pelos artistas Arthur Olsen e Karenn Ticianel.
Também são observáveis movimentos de força do pescoço, força capilar, força da
mandíbula. Ademais, outro elemento que tem conquistado muitos praticantes, que possui
relação com o circo e a ginástica, é o pole artístico.
Figura 14 – O Pole artístico. Fonte: Fotografia cedida pelo artista Arthur Olsen.
1.2 O Universo Alternativo da Ginástica
Conforme salientamos, inicialmente, a ginástica é um assunto bastante amplo, por isso,
resumi-lo, em apenas uma apostila, é uma tarefa bastante complexa, mas consideramos que a
escolha dos conteúdos selecionados aqui é a mais interessante para os profissionais de
Educação Física em formação. Nesse sentido, então, ainda que não discutidas com
profundidade, optamos por, nesse momento, apresentar-lhe algumas manifestações gímnicas
nem sempre conhecidas ou não tão veiculadas em mídias, haja vista a variedade de
manifestações alternativas de ginástica.
Figura 15 – O Rope Skipping. Fonte: O Minho (2017).
Citaremos a Ginástica Aeróbica Esportiva, a Ginástica de Volteio e a Ginástica
Estética de Grupo, que tem crescido em nosso país. Não haverá tempo para descrever as
Rodas Ginásticas ou Rope Skipping (pular corda), exemplificado na Figura 15, mas
apresentamos algumas imagens para que você possa identificar a existência delas. Essas
modalidades poderão ser mais conhecidas ao longo de sua formação profissional.
Figura 16 – As Rodas Ginásticas. Fonte: Faculdade de Educação Física (2019).
A Ginástica de Volteio existe desde a antiguidade, pois a interação entre o homem e o
cavalo é bastante antiga. Na Antiguidade, as corridas de bigas são exemplos da relação entre
os dois, e, na Idade Média, os cavaleiros também podem ser considerados um dos elementos
de origem do volteio. A sua grande difusão aconteceu no final da Renascença, em meio a já
contada história do circo. Na Alemanha, após a Segunda Guerra, há um grande e crescente
incentivo aos esportes equestres, já no Brasil, esse esporte é reconhecido desde 1978
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE HIPISMO, 2019).
Essa ginástica, que você pode conferir na Figura 17, é conhecida pelo equilíbrio que o
atleta precisa ter em cima de um cavalo a galope. As suas características principais são a
harmonia entre os dois, os exercícios específicos e a interpretação coreográfica com
acompanhamento musical. O professor, também chamado de guia ou longeur, não pode
provocar alguma mudança no movimento do cavalo e nem o conduzir. O piso é de areia, com
diâmetro de 15 m e 20 m por 20 m. O cavalo não possui raça específica, e, quem for galopá-lo,
deve usar tênis leves ou tênis de ginástica, justamente para não o machucar.
As equipes podem ser mistas, com seis volteadores e um reserva, de idade variada, em
categorias de acordo

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