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@danielleferreira._ Cria de fêmeas leiteiras - bezerras Programação fetal A forma como a fêmea foi emprenhada pode influenciar na produção e sobrevivência das futuras bezerras. Existem 3 maneiras de se obter uma prenhez, além da monta natural: 1. Inseminação artificial 2. FIV com semen convencional ou com semen sexado 3. Transferência de embrião Quando observou-se essas três formas de emprenhar uma vaca, não foram percebidas diferenças no desenvolvimento e produção de leite das crias, porém observou-se que o tipo de semen escolhido faz diferença. O semen sexado, por exemplo, é mais usado na bovinocultura leiteira para se obter um número maior de fêmeas, porém as crias oriundas de semen sexado possuem maior peso ao nascimento, menor produção de leite e menor porcentagem de gordura e proteína no leite. Além disso, as crias de semen sexado possuem uma maior taxa de mortalidade. Isso tudo ocorre devido à forma como o semen sexado é obtido. Ordem de parto Além disso, a ordem de parto também tem influência. Isso ocorre pois as primíparas são menores, então elas direcionam mais nutrientes para o seu próprio crescimento e possuem um sistema reprodutivo menor. Nutrição A nutrição também tem sua importância na programação fetal. No caso das vacas leiteiras, o que mais ocorre é o excesso de nutrientes, fazendo com que elas fiquem obesas, o que traz problemas para o desenvolvimento do feto. O desenvolvimento fetal pode ser avaliado através de: ➢ tamanho do feto ➢ peso do feto ➢ desenvolvimento da glândula mamária ➢ desenvolvimento do sistema reprodutor ➢ desenvolvimento do intestino ➢ peso dos órgãos ➢ desenvolvimento muscular O excesso de peso da vaca gestante interfere negativamente no sistema reprodutor dos animais. No caso das crias fêmeas, há prejuízo no número de folículos primordiais. No caso das crias do sexo masculino, eles possuem um número menor de cordões seminíferos, o que interfere negativamente no tamanho dos testículos e na produção de esperma. A explicação para isso se encontra na placenta: a alimentação materna altera o crescimento da placenta. Além disso, as vacas alimentadas de forma correta possuem um maior número de placentomas (local onde ocorrem as transferências de nutrientes). Isso acontece devido ao número de receptores de IGF1 e IGF2, que são menores nas vacas mais gordas, o que reduz a ação desses hormônios, fazendo com que a placenta seja menor. Estresse térmico O estresse térmico também tem influência na programação fetal. O resfriamento das vacas no pré-parto resulta em maior ganho de peso de suas crias. Além disso, o resfriamento resulta no aumento do crescimento mamário, mantém o consumo de matéria seca e melhora o status imunológico. Cuidados com a recém nascida Auxílio ao parto Em primeiro lugar, é necessário saber se o feto está na posição adequada para o parto. Se está, provavelmente não será necessário intervir no parto. A partir do momento em que as patinhas do feto começaram a apontar, normalmente demora em torno de 2 horas para o nascimento acontecer. Ajudar no parto não atrapalha a vida produtiva do animal. É necessário lembrar que essa ajuda deve ser feita com o máximo de higiene possível. Escore de nascimento Assim que a bezerra nasce, é necessário analisar alguns parâmetros, para avaliar a qualidade de nascimento dela (presença de mecônio, posicionamento da cabeça, língua, início da movimentação, reflexo dos olhos, reflexo de sucção, batimentos cardíacos, taxa respiratória). Esses parâmetros vão sendo pontuados, para no fim chegarmos ao escore de nascimento. As bezerras de escore baixo terão mais dificuldade de se desenvolver. Cura de umbigo É realizada logo após o nascimento. A cura deve ser feita durante 3 dias, de 2 a 3 vezes por dia. A cura é necessária para evitar infecções. Não é mais indicado cortar o cordão umbilical, a não ser que ele esteja muito comprido (arrastando no chão). Devido ao fato do iodo causar queimadura e ser um método doloroso, há uma demanda para que seja substituído. Já estão sendo feitos estudos que mostram a eficiência da clorexidina 4% na cura do umbigo. Colostragem O colostro é o leite inicial secretado pelos mamíferos após o parto e a colostragem é o processo de ingestão desse leite, sendo o primeiro passo uma boa criação de bezerras, garantindo que elas se tornem boas vacas. A transferência da imunidade passiva se dá pelo colostro e com isso há: ● redução do risco de mortalidade ● melhoras da taxa de ganho ● eficiência alimentar ● redução da idade ao primeiro parto ● melhora da produção futura A concentração de imunoglobulinas no colostro deve ser superior a 50mg/mL e a contaminação bacteriana inferior a 100.000 UFC/mL, então é necessário haver cuidado com a higiene durante a ordenha. Caso a vaca produza mais colostro que o necessário para a bezerra, o colostro excedente deve ser congelado para ser fornecido a outras bezerras no futuro, caso haja alguma vaca que não produza a quantidade necessária. Em termos de quantidade de colostro, a recomendação é de que as bezerras recebam 10% do seu peso corporal nas primeiras 2 horas de vida. Até 6 horas após o nascimento deve ser fornecido mais 15% de colostro, para reforço. Com o passar do tempo, a absorção das imunoglobulinas começa a reduzir. A oferta do colostro pode ser por mamadeira ou sonda. Então, a boa colostragem depende da qualidade do colostro, do tempo e da quantidade. Como avaliar a qualidade do colostro? Utilizando o refratômetro de brix, que auxilia na estimativa do teor de IgG presente no colostro (Brix mínimo de 25% - aproximadamente 70 - 80g/L de IgG). Para saber se a colostragem foi bem feita, deve haver um monitoramento, através de amostra de sangue, avaliando proteína sérica total ou o Brix(%) sérico O volume de colostro fornecido tem influência direta na produção futura. Alimentação O leite não comercializável é o leite com resíduo de antibióticos, oriundo de vacas que estavam sendo tratadas para mastite. Sim, é possível que as bezerras criem resistência aos antibióticos presentes no leite não-vendável que elas estão inserindo. De forma geral, o protocolo de alimentação de bezerras é: ● 6 a 8 litros de leite por dia ● volumoso (feno ou silagem de milho) deve ser incluído aos 30 dias da bezerra ● concentrado deve ser fornecido desde o primeiro dia de vida do animal, em quantidades pequenas (desmama) ● palatabilizante: 6% do concentrado (para estimular o consumo) - pode utilizar melaço ou leite em pó ● peso de desmama: 100kg O leite representa 75% da renda do produtor, por isso é importante pensar em uma suplementação durante o aleitamento. Tanto o concentrado quanto o volumoso tem consequências para o desenvolvimento ruminal. O concentrado tem influência positiva do desenvolvimento das papilas ruminais e o volumoso influencia no tamanho do rúmen. A quantidade correta de leite no aleitamento depende de: ● capacidade da propriedade ● objetivo da propriedade ● mérito genético dos animais O ideal é que as bezerras ganhem por volta de 700 g/dia durante a cria. O controle do peso deve ser feito através de pesagens a cada 30 dias. As bezerras que recebem mais leite durante o aleitamento produzem mais leite no futuro. O sucedâneo lácteo para bezerros é um produto seco, solúvel em água e destinado a substituir o leite. A utilização do sucedâneo no aleitamento é vantajoso para os grandes produtores. O sucedâneo utilizado deve ser de boa qualidade para não prejudicar o desenvolvimento das bezerras. Sucedâneos de baixa qualidade podem, inclusive, causar alergia aos animais. Por que fornecer concentrado/ração? O fornecimento de ração/concentrado é importante para o desenvolvimento das papilas ruminais. Estudos mostram que a associação de concentrado + feno traz mais resultados para o desenvolvimento ruminal (o feno deve ser incluído aos 30 - 40 dias de idade). A forma como o concentrado é ofertado (farelada ou peletizado) não faz diferença. Recomendação para dieta sólida de bezerras: ● 18 - 22% de proteína bruta ●80% de NDT ● 15 a 25% de FDN ● pode ser adicionado ionóforo (30 mg/kg) - ajuda a melhorar a conversão alimentar (as vacas comem menos e produzem mais) e, no caso das bezerras, ajuda a reduzir os casos de diarréia Desaleitamento O desaleitamento gradual causa menos estresse nas bezerras. Mochação A mochação deve ser feita nas bezerras. É um procedimento que causa dor, mas deve ser feita por motivo de segurança das pessoas que manejam os animais diariamente, além do risco de os próprios animais se machucarem. As vacas sem cornos valem mais também, financeiramente falando. Formas de realizar a mochação: ● ferro quente (30 dias de vida) ● pasta a base de soda cáustica (3 a 5 dias de vida) ● albocresil (é uma descoberta recente, ainda está sendo estudado) ● ferro elétrico Protocolo: 1. aplicar 2,5 mL de anestésico (lidovet) no forame 2. aguardar 5 min e testar se a anestesia “pegou” 3. realizar a mochação (independente do método) 4. aplicar antiinflamatório Desempenho do nascimento ao desaleitamento Instalações Goteira esofágica Quando falamos de instalações para bezerras, precisamos nos atentar à goteira esofágica. A goteira esofágica tem um papel muito importante nas bezerras, pois o leite deve seguir um caminho diferente do alimento sólido, indo direto para o abomaso. Alguns fatores ajudam na formação da goteira esofágica ser formada, como: posição da cabeça, ato de sucção e temperatura do leite. Quando o leite cai no rúmen, a lactose causa queda do pH, o que causa uma diarreia nutricional. Por isso é importante que a cabeça fique na posição correta no momento do aleitamento. Instalações Casinha individual, também conhecida como bezerreiro tropical - podem ser de madeira ou ferro. É uma instalação barata, mas tem a desvantagem de, em caso de chuva, formar muita lama. Limita a movimentação da bezerra, pois ela fica presa à instalação, mas facilita a monitoração. Bezerreiro argentino - as bezerras conseguem se movimentar mais, mas, no caso da imagem ao lado, o tipo de chão e o declive não são adequados. Quando bem feito, é um sistema muito bom, é relativamente barato e não permite o contato direto entre as bezerras. Bezerreiro coletivo fechado - dificulta a identificação de algum animal que esteja ingerindo menos leite que o necessário. Também dificulta a identificação de um animal que possa estar com diarreia. A interação direta facilita a transmissão de doenças. Só funciona bem em fazendas que têm um controle sanitário muito eficiente. Bezerreiro fechado suspenso - é muito bom para bezerras mais novinhas, recém nascidas. Impede o contato direto de uma bezerra com a outra. A altura do balde é boa, mas como não tem teteira, não há o ato de sucção. Quando esse bezerreiro é feito de madeira, dificulta a higienização. Bezerreiro fechado - não é recomendável pois dificulta muito a visualização das bezerras. Bezerreiro fechado e coletivo com aleitamento automático - as bezerras são chipadas. Quando elas se aproximam da máquina, os chips são lidos e a máquina prepara e libera o leite para elas. Maternidade em gaiolas suspensas - são para animais recém nascidos, os animais ficam por 15 dias. São instalações modernas, de fácil manuseio e higienização, mas que possuem um custo mais alto. Qual a melhor instalação? Depende. Mas temos sempre que tentar evitar a mamada cruzada, que é o ato de uma bezerra mamar na outra, pois esse ato aumenta o índice de diarréia. A indicação de instalação depende do estado da fazenda. Em fazendas com problemas sanitários, por exemplo, deve-se evitar instalações que permitam o contato direto de uma bezerra com a outra.