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RESENHA ANGÚSTIA CULPA E LIBERTAÇÃO

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RESENHA
BOSS, Medard. Angústia, culpa e libertação (Ensaios de Psicanálise Existencial). 3. Ed. São Paulo: Editora Duas Cidades, 1981. Tradução de Barbara Spanoudis
por Carla Teixeira
carlateixeirapintopinto@gmail.com
A afirmação categórica do autor de que “os métodos de pesquisa científico-naturais não alcançam o âmbito dos fenômenos humanos, muito menos conseguem realmente penetrar neles” (p. 68). Esta afirmação representa a conclusão da constatação de que os médicos são muito mal preparados para a compreensão da vida e da morte humanas, e que os métodos de pesquisa científica adotados só permitem o sucesso na função terapêutica da Medicina Somática; mas não conseguem penetrar “naquilo” que no existir humano é tipicamente humano. E se não permitem a compreensão do existir humano, “eles não nos ajudam também em relação ao fim, isto é, em relação à morte” (p. 68).
Considero como o aspecto mais importante a crítica formulada pelo autor ao psicologismo determinista freudiano, que em sua abordagem psicoterapêutica do paciente se espelha na cronologicidade dos eventos da história de vida do mesmo, e procede como se os eventos cronológicos anteriores fossem grilhões que aprisionam o paciente “ad aeternum”. 
O autor reflete uma grande preocupação com a atitude reducionista que domina os pensamentos e as ações médicas – fruto do “atual espírito violentador da tecnocracia” (p. 19) – atitude essa preocupada com fatos isolados, fornecidos por uma ciência compartimentalizada, e incapaz de chegar no conceito de homem como uma entidade integrada. Sua preocupação se justifica porque o reducionismo é apriorista e generalizador (apoia-se em “cadeias causais dinâmicas” [p. 21]), representando isto um sério perigo para o relacionamento terapêutico, que deve ser um relacionamento entre sujeitos: no momento em que fazemos afirmações generalizadas a respeito do homem (“Isto nada mais é que...”), transformamos a nossa ciência em mera ideologia.
BOSS se posiciona em prol de uma nova base para a psicoterapia – a apreciação do paciente na sua totalidade, como uma unidade integrada. Segundo ele, a atitude racionalista do terapeuta não possibilita a compreensão da natureza plena dos dilemas e das ansiedades do paciente; propõe que isto só será possível se o terapeuta assumir uma atitude fenomenológica em relação ao sistema de valores do paciente, que é expresso nas suas ansiedades e dilemas. 
Apoiado na análise da existência de HEIDEGGER, defende a tese de que a compreensão do homem como ser fenomenístico-existente, não pode ter como base uma teoria, mas a compreensão da existência como “ser-no-mundo” e como tal múltipla, não se enquadrando em nenhum sistema de dogmas teóricos, sejam biológicos, sociológicos ou psicológicos. Destaca a angústia e a culpa como as modalidades existenciais dominantes no mundo contemporâneo, dominado pela tecnocracia.
Reflete uma preocupação particular com as características mecanicistas que vêm assumindo os pensamentos e as ações dos terapeutas, também dominados pelo espírito tecnocrático. Critica, frontalmente, não só o determinismo freudiano, como também o racionalismo cartesiano. Defende a tese de que existe, inerente à própria vida humana, um contrapoder à angústia, que se manifesta nos fenômenos do amor, da confiança e do estar-abrigado.
Propõe o caminho da libertação psicoterápica, com o propósito de liberar o paciente para que ele possa desenvolver uma imagem construtiva e consciente do seu próprio valor, e não de investigar as causas ou remover os sintomas do comportamento patológico. 
Finalmente, conclui o autor que “nós médicos somos muito mal preparados para uma compreensão do viver e do morrer do homem, da vida e da morte humana” (p. 67), devido à própria limitação dos métodos e conhecimentos científico-naturais, que não conseguem penetrar o conteúdo da certeza do homem do “seu-ser-mortal” e do “seu-ter-que-morrer”.

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