Escutando o paciente, coletando dados e construindo habilidades no relacionamento

Prévia do material em texto

UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 182 – Habilidades Médicas II 
 
 
 
 
Habilidades de coleta de dados 
- Habilidades abertas são usadas para 
encorajar o paciente a expressar livremente o 
que está em sua mente. 
→ Não focada 
• Silêncio 
Paciente: ... e rolou para baixo e me bateu aqui 
(pausa) 
Médico: (atento e em silêncio por 5 segundos) 
Paciente: ... então eu chamei você, pensando 
que você iria, mas você não foi. Eu estava 
esperando ser ouvida por você mais cedo... 
• Incentivo não-verbal 
Paciente: ... então isso feriu os sentimentos dele 
(pausa) 
Médico: (inclina-se para frente com expressão 
expectante) 
Paciente: Então eu me senti mal também e ... 
• Enunciados neutros continuadores 
Paciente: ... e depois a dor veio na parte da 
frente, bem aqui... 
Médico: Uh-huh 
Paciente: Sim, e isso machuca muito 
Médico: Mmm 
→ Com foco 
• Reflexão, repetição 
Paciente: Depois que a dor passou, eu já não 
poderia encontrar ele. 
Médico: A dor? (Questione o paciente a falar 
mais sobre o sintoma da dor) Não poderia 
encontra-lo? (Questione o paciente a 
descrever o aspecto pessoal da história) 
• Pedidos em aberto 
Paciente: Então minha dor voltou porque eu 
não me permiti ir ao médico 
Médico: Continue (Encoraja o paciente a 
continuar sem focos adicionais) OU Conte-me 
mais sobre não se permitir ir ao médico 
(direciona o paciente para um problema 
pessoal) OU Conte-me sobre a dor (direciona 
o paciente para o sintoma) 
• Sumarizar, parafrasear 
Paciente: (Longa história sobre dificuldade de 
procurar um médico) 
Médico: Você teve náusea e não poderia me 
ligar. Então isso foi pior e sua esposa não 
pode me procurar antes de hoje. 
Paciente: Sim, eu estava muito mais triste que 
hoje. 
- Habilidades fechadas são usadas 
primariamente para confirmar ou refutar 
questões específicas que surgem em sua 
mente. 
→ Perguntas que geram sim/não 
Paciente: Minha dor é bem aqui 
Médico: É somente no braço direito? OU 
Você teve falta de ar com essa dor? 
Paciente: Não 
Médico: Você veio nesta manhã? 
Paciente: Sim 
→ Perguntas que geram respostas breves 
Médico: Quantos anos você tem? 
Paciente: Trinta e um. 
Médico: Qual pico da sua febre? 
Paciente: Não sei OU 39 graus. 
→ Cadeias de perguntas fechadas 
• Essa estratégia pode causar respostas 
induzidas do paciente, por isso deve ser 
evitada e usada com cuidado. 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 182 – Habilidades Médicas II 
 
 
 
• Responder para agradar: “Pensando bem, 
agora que mencionou, sim, uma vez observei 
sangue.” 
• Acrescentar uma sugestão: Como era a dor, 
uma pontada? (Princípio da justaposição de 
técnicas – predomina a formulada por último). 
• Fazer pergunta fechada sem experimentar 
cardápio de sugestões (pistas): “A dor é uma 
pontada, como uma mordida ou como um 
apertão?” “Ocorreu há anos, dias ou meses?” 
(Usar sequência ilógica – anos, dias ou meses 
- no lugar de sequência ordenada – dias ou 
meses - que insinua que esperamos que seja 
dias ou meses, não aceitando que faz anos. 
• Se pergunta for Sim/Não: convém perguntar 
abertamente “Sente ardor ao urinar?” Sim 
“Vejamos, explique-me com mais detalhe.” 
• Se tiver tendência a fazer perguntas 
fechadas: Tente usar o cardápio de sugestões, 
acrescentando: “Ou será o contrário?” “Sente 
dor antes ou depois das refeições?” “A dor é 
na boca do estômago ou em outra parte da 
barriga?”. Não é o ideal mas já evita o 
Sim/Não mecânicos. 
→ Cadeia de perguntas induzidas 
• Essa técnica é mais perigosa que a anterior, 
já que ela faz uma coerção para que o 
paciente concorde. 
• “Mas uma dor no peito, aqui, imagino que 
não tenha tido, não é mesmo?” “Certo, mas no 
geral está mais animado, não é?” “Suponho 
que não tenha sangue, não é mesmo?” 
Habilidades de Construção de 
Relacionamento 
- Pergunta direta 
→ Médico suspeita de uma emoção (raiva) 
por meio da afirmação do paciente: 
Paciente: Ela tomou meu trabalho 
(comportamento não verbal – sobrancelhas 
franzidas) ou (desviando o olhar para o 
médico) 
Errado: “Você sentiu raiva?” 
Certo: “Percebi que você desviou o olhar. 
Você pode me dizer como está se sentindo?” 
→ O paciente pode não entender que você 
está buscando emoções e responde “doeu 
meu estômago”. O médico clareia ou evita a 
resposta anterior: “Quais emoções você está 
sentindo?” 
→ Outro caso de uso de pergunta direta 
Paciente: Ele apenas disse que precisa de 
cirurgia 
Médico: Então, como você se sente? 
Paciente: Surpreso, eu acho (parecendo 
ansioso) 
Médico: Como você está se sentindo agora, 
falando sobre isso? 
• Quando um paciente já expressou emoção 
e isso é natural e óbvio: “Você parece triste; 
você pode me falar mais sobre como isso 
afeta você?” 
Erros a evitar 
- Entrevistadores intuitivos dependentes de 
campo 
Paciente: Eu vim porque tenho uma dor de 
cabeça que acho que vem da cervical. 
Entrevistador (fazendo uma indicação de tipo 
emocional prematura): Vejo que está 
preocupada, até mesmo triste. 
Paciente: Não, nem um pouco, estou bem. 
Entrevistador (de novo tenta uma indicação, 
mas dessa vez de tipo comportamental, 
seguida de uma interpretação): Pois observo 
que fecha o punho e franze a testa, como se 
experimentasse uma forte tensão. 
- Entrevistadores que focalizam 
→ Focalização biologista 
Paciente: Eu vim porque tenho uma dor de 
cabeça que acho que vem da cervical, e 
tenho trabalhado muito pra não perder o 
emprego. Ando estressado. 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 182 – Habilidades Médicas II 
 
 
 
Entrevistador: Fale-me mais sobre como é essa 
dor. 
Paciente: Tem aparecido no final do dia, 
quando chego do trabalho. 
Entrevistador: Como ela é? Dura quanto 
tempo? Tem outros sintomas associados 
Paciente: Em aperto e fica quase uma hora. 
Entrevistador: Mais alguma coisa sobre ela? 
Paciente: Não. 
Entrevistador: Ok, Possivelmente, você deve 
estar assim por algum estresse orgânico. Não 
se alimentar direito, beber pouco líquido, 
trabalhar demais sem descansar. Isso gera um 
desgaste físico. Vou te receitar um analgésico 
e caso não melhore retorne para que 
possamos reavaliar. 
→ Focalização psicologista/ir muito depressa 
no plano psicológico 
Paciente: Eu vim porque ando me sentindo 
muito desanimada. Não tenho coragem pra 
sair pra trabalhar... 
Entrevistador: Conte-me mais sobre isso. 
Paciente: Sinto dores no corpo e só quero 
ficar na cama. 
Entrevistador: Entendo. Alguma preocupação 
ou stress em casa ou no trabalho? 
Paciente: Também não, doutor. 
Entrevistador: Ok. Veja bem, seria importante 
que você buscasse ver o que tem te 
incomodado ultimamente. 
- Entrevistadores que perguntam muito com 
pacientes bloqueados (pouco concretos) 
Paciente: Dr. eu queria saber por que ando 
com essa dor na coluna. 
Entrevistador: Fale-me mais sobre isso. 
Paciente: É uma dor nas costas. 
Entrevistador: Como é a dor? 
Paciente: Ah, doutor, sei não. Só dói muito. 
Entrevistador: Hm.. Dói na lombar? 
Paciente: Acho que sim. 
Entrevistador: Qual a frequência? 
Paciente: Sei não. Acho que todo dia. 
Entrevistador: E fica muito tempo? 
Paciente: Sim, incomoda muito. 
Entrevistador: E você carregou peso esses 
dias? 
Paciente: Isso é normal eu fazer todo dia né, 
no meu trabalho. 
Entrevistador: E sente alguma dor para fazer 
xixi? 
Paciente: Acho que não, teve um dia que sim, 
mas não me lembro. 
Entrevistador: Então tem uma dor na lombar 
que incomoda todo dia, e fica direto e que 
pode estar associada ao peso que carrega. 
Paciente: Não doutor, incomoda todo dia, mas 
não direto, e peso eu carrego a vida inteira, 
então não pode ser, né... 
Habilidades de Empatia 
- NURS 
→ Naming (nomeando): rotular o 
sentimento/emoção 
• “Isso entristece você” ou “Você parece estar 
com lágrimas nos olhos”. 
→ Understanding (compreendendo): legitimar 
o sentimento/emoção 
Paciente: Acho que posso ter um ataque do 
coração por conta dessa dor nas costas e 
estou apavorado. 
Médico: “Eu nunca vi isso acontecer, mas eu 
posso ver como isso te assusta”. 
→ Respecting (respeitando):Reconhecendo a 
condição do paciente 
• “Obrigado por ser tão aberto” – Respeito 
verbal aprecia o paciente. 
• “Você realmente passou por muita coisa” – 
Claramente reconhece como as coisas têm 
sido difíceis. 
• “Eu gostei da forma com que você abraçou 
isso e mantém lutando” – Louva o esforço do 
paciente. 
→ Supporting (Apoiando): Parceria 
UFV – Universidade Federal de Viçosa 
Matéria: MED 182 – Habilidades Médicas II 
 
 
 
• “Estou aqui para ajudar você da maneira 
que eu puder. 
→ Quando usar o NURS? 
• Em qualquer momento da entrevista, quando 
perceber uma emoção do paciente: “Percebo 
que você está _______”. Pergunte se ele deseja 
falar um pouco sobre esta emoção, se ela está 
relacionada a algum dos motivos da consulta.