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30 estratégias para inclusão da pessoa com TDAH na educação 30 estratégias para inclusão da pessoa com TDAH na educação Por Vamos Falar de TDAH? Os Direitos Autorais deste material estão protegidos pela Lei n° 9.610/98. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio de distribuição, em forma idêntica, resumida ou modificada, em língua portuguesa ou qualquer outro idioma, sem a devida autorização oficial do autor. sumário Para quem é esse ebook Introdução Cotidiano escolar e acadêmico Formas de avaliação Gestão escolar e Acadêmica Conclusão Referências 04 05 06 13 16 17 18 Para quem é esse ebook Para pais que desejam conhecer estratégias de inclusão a serem construídas na escola. Para estudantes de todos os níveis e idades que querem ter um ensino inclusivo e precisam de referências para ajudar neste processo. Para educadores(as) e gestores(as) escolares que querem promover uma educação mais próxima e inclusiva na sua instituição de ensino. Para profissionais de saúde mental que desejam formar educadores(as) e pais mais conscientes das práticas inclusivas para TDAH. Para todos e todas que desejam e fazem um mundo mais inclusivo e acolhedor. Introdução "As dificuldades de aprendizagem na escola apresentam-se como um contínuo, compreendendo desde situações mais simples e/ou transitórias que podem ser resolvidas espontaneamente no curso do trabalho pedagógico até situações mais complexas e/ ou permanentes que requerem o uso de recursos ou técnicas especiais para que seja viabilizado o acesso ao currículo por parte do educando. Atender a esse contínuo de dificuldades requer respostas educativas adequadas , que abrangem graduais e progressivas adaptações de acesso ao currículo, bem como adaptações de seus elementos.". A educação é um direito universal garantido pela Constituição (BRASIL, 1988) no Art. 6, no artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) e na Declaração Universal de Direitos Humanos da ONU (1948), no Artigo XXVI. Toda pessoa, em qualquer faixa etária, tem direito a se capacitar para a vida e para o trabalho e a integrar um ambiente escolar ou acadêmico. Mas como garantir este direito diante de condições adversas, que atrapalham o acesso e a manutenção em um processo de educação justa e que beneficie o desenvolvimento humano integral? É para isso que é pensada a educação inclusiva . Para além das limitações em casos de deficiências, ela garante que toda pessoa em qualquer condição possa se desenvolver através da educação formal. Segundo Manzoni et al (2017, p.23372), inclusão é “a garantia de acesso contínuo aos espaços comuns da vida social e que deve estar orientada pelo acolhimento à diversidade e à equiparação de oportunidades ”, sob a perspectiva não de tratar a todos da mesma forma, mas de “evitar a exclusão e a segregação a que foram submetidos durante tanto tempo” (LIMA; LUSTOSA, s/d apud MANZONI, 2017, p.23372). Segundo a cartilha do Ministério da Educação sobre as Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica (2001, p.58): Ou seja, existem adaptações que devem ser feitas para o acesso e manutenção da p essoa com necessidades educacionais especiais no sistema de ensino, adequando a cada necessidade. Mas tanto as instituições quanto as pessoas com TDAH e/ou seus responsáveis podem, muitas vezes, sentirem-se de mãos atadas, sem saber como mediar esse processo. E então surgem os mitos de que é necessário fazer grandes investimentos financeiros para obter a inclusão adequada e que a pessoa com TDAH seria vitimizada e teria seu processo educativo banalizado, dificultando ainda mais o desfecho positivo de milhões de histórias de TDAHs na educação formal. Seguindo essa lógica, pensamos 30 estratégias que podem equiparar as oportunidades da pessoa com TDAH e respeitar suas características dentro do espaço educacional sem deixar de promover o desenvolvimento que a educação formal propõe. São mudanças mínimas, que envolvem muito mais barreiras atitudinais do que estruturais ou financeiras, mas que provocam mudanças de grande impacto - especialmente a longo prazo - no desenvolvimento da pessoa com o transtorno. Separamos elas em três blocos: Cotidiano escolar e acadêmico , Formas de avaliação e Gestão escolar e Acadêmica . Cada um abarca as estratégias de inclusão do seu contexto. Tudo pronto aí para entendermos mais sobre como aplicar a inclusão educacional para pessoas com TDAH? Cotidiano escolar e acadêmico 1. Antecipar o envio dos materiais de texto a serem utilizados nas aulas com leitura prévia. Esta é uma atitude simples, mas que facilita muito o planejamento do aluno(a). A leitura é um tipo de atividade que pode demandar de mais tempo da pessoa com TDAH, devido à dificuldade de se manter a concentração. Uma página pode requerer diversas releituras até que o foco seja estabelecido e a pessoa consiga entender a linha de raciocínio do material. Com a antecipação dos textos, fica mais fácil dar conta das leituras e conciliar com outras atividades, acadêmicas ou não. 2. Disponibilizar uma bibliografia complementar em recurso audiovisual (vídeos, áudios, podcasts, filmes, documentários, etc). Como falado acima, a atenção da pessoa com TDAH é bastante difícil de controlar, especialmente quando se tratam de atividades longas, complexas e que demandam de muita concentração, como a leitura. Para facilitar a apreensão dos conteúdos educacionais, é importante que hajam outros recursos que revisem, discutam ou complementem os conteúdos textuais. Os materiais em vídeo (incluindo vídeo aulas, filmes, documentários, etc) são uma excelente ferramenta para facilitar o aprendizado da pessoa TDAH. São ricos, estimulantes e permitem o aprofundamento do conteúdo. Vale a pena investir em adicioná-los como opções complementares ou substitutivas dos tradicionais textos. 3. Planejar previamente o roteiro da aula e disponibilizá-lo em um local acessível para o acompanhamento por parte do aluno(a) com TDAH e sua adequação, caso tenha se distraído. A pessoa com TDAH tem uma facilidade muito grande de se dispersar durante as aulas, e isso não é novidade. Porém, ter um roteiro de aula claro e ao fácil acesso ajuda muito que esta pessoa acompanhe o progresso da aula e retome a ele sempre que se distrair. Assim também fica bem mais fácil de entender qual parte da aula tem sido mais difícil de acompanhar, de uma forma geral, e o que precisa correr atrás para recuperar, no dia-a-dia. Cotidiano escolar e acadêmico 4. Utilizar atividades mais dinâmicas e que envolvam participação da pessoa com TDAH. A monotonia não contribui para a manutenção da atenção de quem tem TDAH, e a situação é simples: dinamizar as atividades em sala e provocar a participação dos(as) estudantes, especialmente daqueles(as) que têm TDAH. Gincanas, dinâmicas de grupo, aulas práticas, trabalhos em equipe, charadas e outros desafios são muito bem-vindos. Estas atividades estimulam a motivação do aluno(a), gerando maior atenção e envolvimento, que por consequência elevam o desempenho em sala. 5. Intercalar as atividades em sala com intervalos e/ou atividades lúdicas. Pausas ajudam a refrescar a mente, não é mesmo? No caso de alguém com TDAH, elas se tornam imprescindíveis para manter o foco durante as atividades em sala. Essas pausas podem acontecer em forma de intervalos ou mesmo de atividades em sala com um tom mais lúdico, trabalhando competências através de brincadeiras, dinâmicas e gincanas. 6. Utilizar instruções simples para as atividades e entregá-las para a pessoa com TDAH. Quanto mais simples, mais difícil de se distrair em meio a elas e melhor para acompanhar. Por isso também faz-se necessário que estas instruções sejam entregues ao aluno(a) com TDAH, para que faça seu próprio monitoramento dos critérios e procedimentosque envolvem a atividade. Cotidiano escolar e acadêmico 8. Posicionar a pessoa com TDAH ao máximo longe de portas e janelas e próxima do educador(a). As janelas e portas são portais por onde circulam muitos estímulos distratores, perigosos à manutenção da atenção de quem tem TDAH. Por isso, é importante manter a pessoa com TDAH longe destes locais e ao máximo próximo do professor(a), facilitando que o objeto-alvo da sua atenção esteja ali, bem à sua frente, sem distrações. 7. Dar feedbacks regulares à pessoa com TDAH, a fim de pontuá-la sobre seu progresso, contribuir com os ajustes necessários e motivá-la sobre seus pontos positivos. Todo mundo gosta de receber feedbacks, mas no caso do TDAH é uma questão de necessidade motivacional. Nas pessoas que têm TDAH, existem alterações em dois neurotransmissores muito importantes: a dopamina e a noradrenalina. Eles trabalham nas conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro, além de influenciarem - juntos - na memória, no estado de alerta e atenção, motivação e emoções, aprendizado e outras tantas funções cerebrais importantes. Por essa alteração é que temos o TDAH. Uma das consequências ao desequilíbrio cerebral do transtorno é a oscilação constante do controle emocional e motivacional da pessoa. Os feedbacks positivos têm o papel, então, de inspirar que as pessoas com TDAH se sintam motivadas frente aos desafios escolares e acadêmicos e possam dar continuidade às suas atividades. E como processo cerebral, as emoções têm também um papel fundamental na consolidação do aprendizado, ou seja, estas práticas podem contribuir para o processo de ensino-aprendizagem a curto, médio e longo prazo. 9. Tocar, discretamente, em áreas de maior propriocepção no corpo da pessoa como TDAH (como rosto, ombro e acima das mãos) em caso de distração. Esse é um gesto simples muito eficaz. É importante que, sempre que uma pessoa com TDAH se distrai, alguém a faça voltar ao foco de maneira muito sutil, tocando levemente seu ombro ou mão, para que ela note e volte a endereçar sua atenção à sala de aula. Cotidiano escolar e acadêmico 10. Auxiliar a pessoa com TDAH no planejamento da sua rotina de estudos e na gestão do seu tempo para executar as atividades complementares. Sempre que possível, é importante estimular pausas para planejamento para as pessoas com TDAH. Nestes momentos, devem ser avaliadas as atividades que devem ser executadas, quanto tempo há disponível para elas e o que precisa ser feito. Tudo isso deve ser organizado de forma ao máximo simples e visual para facilitar o acompanhamento do TDAH na execução desses objetivos. 11. Valorizar as conquistas e os pontos fortes do aluno(a) com TDAH, pontuando rotineiramente os pequenos progressos obtidos. Já falamos sobre a importância dos momentos de feedbacks, mas eles devem se estender para além de momentos mais formais ou extensos. Os pontos positivos e as conquistas devem sempre ser reforçados no cotidiano, para que a pessoa com TDAH mantenha-se confiante e motivada para os estudos. 12. Apresentar as dificuldades da pessoa com TDAH como metas a serem alcançadas, e não como déficits ou características pessoais. Os pontos positivos e conquistas devem ser sempre levantados, e já falamos isso algumas vezes por aqui. Mas e sobre as dificuldades e pontos de melhoria? Estes são pontos que também precisam ser trabalhados, mas não com a ótica de defeito, como se fossem características negativas e permanentes no jeito de ser da pessoa. As dificuldades devem ser encaradas como metas, sem atribuição pessoal. Ao invés de indicar que a pessoa não sabe falar em público, pode ser colocado o objetivo de conseguir apresentar o trabalho de português sem gaguejar, por exemplo. Assim, a pessoa com TDAH não se visualiza com os olhos de inferioridade e motiva-se a superar o desafio e desenvolver aquela competência através da meta. Cotidiano escolar e acadêmico 13. Iniciar as aulas com uma revisão do conteúdo anteriormente dado. Começar a aula dessa forma ajuda a pessoa com TDAH a fixar o conteúdo e a construir uma linha de raciocínio. Contudo, esta deve ser uma prática de exercício do conhecimento, não como uma avaliação ou cobrança. Assim, se torna algo leve e convidativo. 14. Fazer retomadas e conexões entre o assunto dado atualmente e os anteriores, a fim de exercitar a memória e consolidar o conhecimento no(a) estudante. Para além da revisão no início da aula, é importante que os conteúdos conversem com os anteriores a partir de retomadas, formando conexões entre eles. Assim fica bem mais fácil de gerar interesse, consolidar os conhecimentos e exercitar a memória na pessoa com TDAH. 15. Elaborar atividades complementares com a finalidade explícita de exercitar os conhecimentos aprendidos, estabelecendo seu nível de dificuldade de acordo com o potencial do aluno(a). Algumas das melhores formas de exercitar a memória são: colocar o conhecimento em prática e explicar o que você sabe para alguém. As atividades complementares podem ter esse teor, consolidando os aprendizados e ampliando o nível de autonomia do(a) estudante com TDAH. Dessa forma, ele(a) se sentirá mais motivado(a) e poderá ter um melhor rendimento nos estudos. Cotidiano escolar e acadêmico 16. Ter cautela com estigmas e rótulos. O aluno(a) deve ser tratado sem discriminação, respeitando sua individualidade. Evite chamar a pessoa pelo transtorno(s) que carrega e desestimule quem faz. Quem tem TDAH é uma pessoa como todas, cheia de características particulares e que merece respeito. Algo que é muito comum no caso do TDAH é o uso ou a omissão diante do uso de termos pejorativos referentes aos sintomas, como: avoado(a), desajeitado(a), desastrado(a), elétrico(a), agitadinho(a), "ligado(a) no 220v", "no mundo da lua”, "cabeça de vento" e similares. Estas são práticas desrespeitosas que podem ser caracterizadas como bullying e prejudicar a formação da personalidade, da autoestima, do tratamento e do processo de aprendizagem da pessoa com o transtorno. Trate a pessoa pelo nome (civil ou social) ou apelido que ela se sentir mais confortável em ser chamada. Isso é um enorme passo para uma relação de respeito e confiança e mostra que você vê uma pessoa, para além do diagnóstico. 18. Estabelecer uma relação de respeito e confiança entre professor(a) e estudante com TDAH, permitindo que este(a) se sinta à vontade para solicitar ajuda e ser ajudado(a). Se você é alguém que acompanha uma pessoa com TDAH - seja educador(a), pai, mãe, esposo(a) ou responsável - esteja sempre aberto(a) a estabelecer essa relação de confiança. A autoaceitação diante um transtorno nem sempre é um processo fácil (especialmente diante de tantas barreiras atitudinais, políticas e financeiras que são encontradas) e todo o contexto difícil faz com que o apoio sincero de alguém seja algo muito importante no acompanhamento de uma pessoa com o transtorno. 17. Reavaliar regularmente as estratégias utilizadas, adaptando as que não foram bem sucedidas. Toda estratégia pode deixar de fazer efeito positivo ou pode mostrar que deve ser melhorada em algum aspecto. É por isso que sempre devemos reavaliar as ações que estão sendo desenvolvidas para a inclusão da pessoa com TDAH, acompanhando as orientações dos profissionais que a acompanham e - principalmente - de suas próprias queixas e conquistas. Reforce os pontos que trouxeram melhoria e ajuste o que não funciona mais. Vale também manter-se sempre atento(a) para novas ideias e necessidades, pois ao lidar com o apoio à vida humana, sempre há espaço para ampliarmos o nosso potencial de atuação. Cotidiano escolar e acadêmico 19. Encorajar a turma a compreender as necessidades especiais da pessoa com TDAH e a colaborar com as estratégias executadas. O entorno deve favorecer o crescimentoda pessoa com o transtorno, e para isso é importante que a turma esteja consciente das necessidades especiais dos seus colegas, caso haja mais de um, seja TDAH ou qualquer outro diagnóstico. É ideal que estejam ao máximo cientes de como a contribuição deles é crucial para a construção de uma melhor convivência e de um mundo mais inclusivo. Dessa forma, as estratégias podem fluir com mais apoio e tranquilidade, sem gerar um ar de estranhamento ou hostilidade por parte dos outros estudantes. 20. Sempre que possível, realizar aulas com diferentes disposições de cadeiras, em outros ambientes e com propostas mais horizontalizadas. Novidades são especialmente atraentes para pessoas com TDAH, e por isso tendem a pular de atividade em atividade sempre que sentem que algo está se tornando tedioso. Na sala de aula não é diferente. Infelizmente a realidade é que a maioria das aulas é tediosa e gera muita distração até mesmo para alguém sem o transtorno. Como mudar isso? O formato da aula em si pode propor essa novidade. A criatividade deve ser levada muito em conta para criar espaços de aula interativos e que se modifiquem, sempre que possível. Como isso é uma realidade rara, pode ser adaptada para soluções mais simples: fazer a aula em outro lugar, com outras disposições de aula, com os estudantes dando aula, sentados no chão… Mudando os padrões! 21. Estimular que a pessoa com TDAH traga seus conhecimentos e dúvidas em sala, dinamizando o formato da aula. O tratamento da pessoa com TDAH deve priorizar a construção da autonomia dela através das diversas modalidades que envolvem-o. A escola pode e deve ser mais um espaço de desenvolvimento desta autonomia. Provoque o(a) estudante com TDAH a falar, dar exemplos, contar mais sobre o que sabe sem medo de errar, bem como perguntar sobre o que não ficou claro também. Promover uma cultura aberta ao erro ajuda muito aos estudantes em geral se sentirem livres para falarem sem medo de errar e perguntar sem medo de parecerem bobos, o que é de suma importância no espaço escolar. Formas de avaliação 22. Disponibilizar tempo adicional para a realização de avaliações e entrega das atividades complementares. Muitas provas oficiais já reconhecem este recurso, como o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Nas salas de aula - de diversos níveis - isto também deve ser uma prática para pessoas com NEE - Necessidades Educacionais Especiais. Não há uma norma sobre quanto tempo extra deve ser destinado, mas usualmente ele é de até 50% do tempo regular. E engana-se quem pensa que esta é uma medida desnecessária, que favorece as pessoas com o transtorno em relação a quem não tem. Ela ajuda os TDAHs a lidarem com três grandes dificuldades: trabalhar sob pressão, manter o foco em uma única atividade e exercitar a memória. Para alguns casos mais graves (principalmente quando estão fora do tratamento e têm outras comorbidades), os 50% extra ainda não dão conta. 23. Avaliar dando ênfase nos aspectos qualitativos - e não quantitativos - de provas dissertativas e atividades complementares. Devido à perda de foco, as pessoas com TDAH podem ter muita dificuldade na hora de responder questões dissertativas, escreverem textos e outras tantas formas de expressão que pedem um longo tempo de concentração. Por esse motivo, elas podem responder corretamente a alguma atividade, mas recheá-la com outros tantos dados aleatórios ou ter dificuldade de conectá-la da forma mais apropriada à questão. É por este motivo que as avaliações de estudantes com TDAH devem prezar por compreender qualitativamente a resposta, e não atribuir pontuação sob critérios quantitativos. Na enorme maioria dos casos, isso seria como julgar um elefante por não saber subir em uma árvore da mesma forma que um chimpanzé faz. 24. Sempre que possível, permitir diversas formas de expressão do aprendizado (desenho, texto, vídeo, apresentação oral, etc) durante uma avaliação ou atividade complementar. As pessoas com TDAH não sofrem perdas de inteligência devido ao transtorno (algumas podem ser muito inteligentes, como o próprio Einstein), mas sua capacidade de manter uma linha de raciocínio oral ou escrita pode ser muito comprometida devido à dificuldade de gerenciar sua atenção. Cada caso pode apresentar dificuldades mais específicas ou mais agravadas, a depender do nível do transtorno, se há comorbidades, das oportunidades de estimulação cognitiva que a pessoa teve durante a vida e muito mais. Para abarcar essa pluralidade que é ser (humano?) TDAH, é interessante deixar aberta a possibilidade de expressão em diferentes formatos durante uma avaliação, sempre que couber. Assim, a avaliação é devidamente realizada sem submeter o aluno(a) com o transtorno a mais uma situação à qual não tem as condições adequadas para realizar. Formas de avaliação 25. Evitar avaliações de longa duração para preservar a manutenção do foco e facilitar a boa gestão do tempo do(a) estudante. Seguindo a lógica de que manter o foco por muito tempo é uma dificuldade, podemos concluir de imediato que as avaliações longas devem ser evitadas, por não oferecerem as melhores condições de avaliar alguém com TDAH. 26. Disponibilizar avaliação adaptada através de recursos audiovisuais (apresentações de slides, filmes, documentários, etc), caso a pessoa com TDAH demonstre necessidade. Da mesma forma que o(a) estudante com TDAH pode se expressar de diversas formas em uma prova, ela também pode ser apresentada a ele(a) de formas diferentes. Usar os recursos audiovisuais para ampliar a apreensão da pessoa sobre o conteúdo avaliativo é um excelente caminho para fazer uma análise justa do que foi aprendido por ela. 27. Aplicar avaliações em salas separadas. Esta é uma medida muito simples que pode ajudar muito na manutenção do foco de quem tem TDAH durante uma prova. Com a ajuda de uma pessoa, que irá fazer o papel de monitorar o(a) estudante com TDAH, a prova é aplicada em outra sala, a fim de que os estímulos (mais propícios em uma sala com mais pessoas) não tirem tanto sua concentração. Dessa forma é possível dedicar-se com mais tranquilidade para apresentar o conteúdo que foi aprendido. 25 Formas de avaliação 28. Criar e apresentar à pessoa com TDAH um plano com os objetivos cognitivos, práticos e atitudinais de aprendizagem a serem alcançados. Um plano de metacompetências é um guia que aponta "competências a serem cumpridas dentro de outras três competências": conhecimentos, habilidades e atitudes. Esse mapeamento ajuda muito a pessoa com TDAH a visualizar a trilha de aprendizado que irá acompanhar e por quais critérios ela será avaliada. A nossa proposta é que o plano siga mais ou menos esta configuração: Assim a organização dos conteúdos fica bem clara e a avaliação pode ser melhor mensurada, tomando os critérios que são propostos em um conceito de educação inclusiva para pessoas com TDAH. Gestão escolar e Acadêmica 29. Elaborar, em um colegiado com todos educadores(as) que atuam com a pessoa com TDAH, estratégias de manejo do aluno(a). A participação de todas pessoas envolvidas com o(a) estudante com o transtorno é de suma importância, e quando se fala em ambiente educacional é necessário que o corpo de educadores que lidam com a pessoa com TDAH participe, dando sugestões sobre como lidar com o caso a partir de suas experiências teóricas e práticas. 30. Realizar capacitações regulares aos educadores(as) sobre estratégias de inclusão. Como toda pessoa, os(as) educadores não são seres que não precisam aprender mais nada, e a realidade sobre inclusão nas escolas nos mostra bastante a respeito. Por mais que se esforcem para se sobressaírem às condições adversas de ensino, os professores e professoras nem sempre estão prontos para lidar com as demandas dos estudantes com Necessidades EducacionaisEspeciais (NEE). Por isso, é necessário que as capacitações sobre políticas e práticas de inclusão sejam rotina no calendário do corpo docente. Há uma diversidade de necessidades especiais, desde da ordem dos transtornos mentais a questões físicas ou socioculturais, que precisam ser acolhidas dentro dos ambientes de ensino. TDAH é uma dessas possibilidades. Conclusão As ideias listadas aqui não requerem salas de aula altamente instrumentalizadas ou grande disponibilidade financeira para investir em recursos e ferramentas, mas apenas no esforço conjunto em construir uma educação pautada na pessoa , sem rótulos e sem tentar aplicar fórmulas educacionais prontas, como se todo mundo aprendesse da mesma forma. Além do mais, estas estratégias são altamente benéficas para o processo educativo não só para a pessoa com TDAH. Estudantes com dislexia, autismo, idosos, com déficit cognitivo, com uma precária base educacional e até mesmo pessoas com altas habilidades se beneficiam amplamente com essas ideias. Isso acontece porque elas são baseadas em uma educação inclusiva para todos e todas, acolhendo as particularidades, os níveis de dificuldade e os potenciais individuais. Uma educação inclusiva não se pauta na ideia de dependência e de uma soberania inabalável do conhecimento do educador(a). A ideia é desenvolver a autonomia do aluno(a) através da aceitação incondicional de suas características individuais e da compreensão dele(a) como uma pessoa cheia de potencialidades que podem ser desenvolvidas a partir de um ambiente estimulante. Assim todo mundo aprende e todo mundo compartilha, sempre se desenvolvendo nesse processo. A proposta deste breve livro é provocar você a buscar uma educação mais igualitária , seja na sua realidade, de um filho ou filha, de estudantes aos quais você dá aula ou de pessoas que um dia cruzarão sua vida. Se você sentiu que a inquietude agora tá te inspirando a agir em busca de inclusão, a nossa missão aqui foi cumprida. Vamos Falar de TDAH? Os Direitos Autorais deste material estão protegidos pela Lei n° 9.610/98. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio de distribuição, em forma idêntica, resumida ou modificada, em língua portuguesa ou qualquer outro idioma, sem a devida autorização oficial do autor. Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal : Centro Gráfico, 1988. ________. Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil , Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266 >. Acesso em 05 abr. 2020. ________. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais . Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, 1994. ________. Política Nacional de Educação Especial . Brasília: Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Especial, 1994. ________. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica / Secretaria de Educação Especial - MEC; SEESP, 2001. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Assembleia Geral das Nações Unidas em Paris . 10 dez. 1948. Disponível em: < https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf >. Acesso em: 26 jun. 2015. MANZONI, P. B. et al. As possibilidades e desafios da inclusão de alunos com altas habilidades/superdotação no ensino superior . Curitiba: Educere - XIII Congresso Nacional de Educação, 2017. Os Direitos Autorais deste material estão protegidos pela Lei n° 9.610/98. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio de distribuição, em forma idêntica, resumida ou modificada, em língua portuguesa ou qualquer outro idioma, sem a devida autorização oficial do autor.
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