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@jumorbeck Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças TERMOS Saúde pública: está ligada ao setor governamental e é voltada para os problemas de saúde que atingem a coletividade. Saúde coletiva: diz respeito a um processo de trabalho em saúde que tenha como foco a promoção da saúde, a prevenção de riscos e agravos, a reorientação da assistência, a melhoria da qualidade de vida, privilegiando mudanças nos modos de vida e nas relações entre as pessoas e instituições envolvidas no cuidado à saúde da coletividade. Também é gerida e administrada pelo Estado. Políticas públicas: são diretrizes que norteiam as ações em determinada área da vida social. Sua formulação envolve a discussão entre vários atores da sociedade: governo, legisladores, representantes de associações civis e de setores produtivos (comércio, indústria, transporte, entre outros), a fim de se obter um consenso, com várias proposições legisladas, isto é, transformadas em leis. Um bom exemplo é a Política Nacional do Idoso, que prevê ações que vão desde a assistência à saúde dessa população até gratuidade no transporte público. Níveis de atenção à saúde: trata-se da divisão dos serviços de saúde com base em suas características e complexidade tecnológica. Essas tecnologias podem ser divididas em; leve (calcada nas relações interpessoais, como técnicas de entrevistas), leve-dura (saberes estruturados, como a administração e a epidemiologia) e dura (uso de equipamentos e normas institucionais). No Brasil, temos três níveis de atenção: a atenção básica, com os serviços de vigilância em saúde e as Unidades Básicas de Saúde (UBS); a atenção secundária ou média complexidade, com os hospitais gerais e os ambulatórios; e a atenção terciária ou alta complexidade, com os hospitais e os serviços especializados. Alguns autores citam ainda a atenção quaternária, que seria a especialização da especialização, como a medicina nuclear. Cuidados primários em saúde: são definidos como cuidados de baixa complexidade tecnológica (o que não significa baixa qualidade), alta penetração na comunidade, alta resolutividade dos problemas das populações e socialmente aceitáveis. Os cuidados primários também se devem configurar como principal contato do usuário com o sistema de saúde e proporcionar serviços de proteção, cura e reabilitação. Atenção primária em saúde: estratégia que se caracteriza por ser o primeiro contato da população com os profissionais de saúde, com foco em proteção, recuperação, reabilitação e promoção da saúde. Também prevê a participação ativa das comunidades no processo de cuidado e na organização dos serviços. Pode ser o primeiro nível de atenção em um sistema de saúde. Atenção básica: é a denominação usada no Brasil, equivalente à Atenção Primária em Saúde. Prevenção de doenças ↠ Leavell e Clark desenvolveram o modelo de História Natural da Doença (HND), a fim de explicar o processo de adoecimento, demonstrando de forma clara quais são as fases desse processo. ↠ Eles também propuseram estratégias de prevenção voltadas para cada fase da doença. Para eles, a doença acontece em duas fases: ➢ Pré-patogênese: essa fase precede a instalação da doença no organismo. Nela, acontece a interação entre os agentes patogênicos, o ambiente e o suscetível - no nosso caso, o ser humano -, que gera o estímulo para o aparecimento da doença. Os agentes patogênicos podem ser: físicos (calor, radiação, frio etc.); químicos (substâncias psicoativas, substâncias tóxicas); biopatógenos (vírus, fungos, bactérias, príons etc.); nutricionais (tipo de alimentação); e genéticos (alterações de genes). O ambiente contribui de formas variadas e é considerado de modo amplo, desde o meio natural até o meio cultural. Por exemplo, morar em um local sem saneamento básico e sem educação sobre higiene torna as pessoas mais propensas às doenças diarreicas. ➢ Patogênese: período no qual a doença já está instalada e as alterações no organismo são iniciadas, podendo esse processo patológico resultar em cura, cronificação da doença, sequelas/invalidez e morte. Esse período é dividido em: o Interação: momento no qual o estímulo entra em contato com o hospedeiro e começa a gerar a doença. Por exemplo: uma pessoa contamina-se com o vírus HIV em uma relação sexual. o Alteração dos tecidos: nessa fase, a doença provoca alterações nos tecidos do corpo humano. Seguindo com o exemplo anterior, o vírus invade as células do indivíduo, multiplica-se e depois as destroi. o Sinais e sintomas: em virtude das alterações dos tecidos, os sinais e os sintomas da doença começam a aparecer. No caso da infecção por HIV, com a destruição das células imunológicas, o indivíduo passa a ter infecções frequentes. o Desfecho: a doença pode terminar de várias formas, com a cura total, a cura com sequelas, a cronificação e a morte. A infecção por HIV, atualmente, possui um desfecho controverso. Alguns pesquisadores defendem que ela se tornou uma doença crônica; outros, que ela sempre levará à morte. ↠ Com base nessa lógica de desenvolvimento da doença, Leavell e Clark propuseram a classificação das ações preventivas, que devem ser voltadas para cada uma das fases descritas anteriormente. ↠ Essa classificação perdura até hoje e nos guia no planejamento das ações preventivas. São três os níveis de prevenção: @jumorbeck ➢ Primária: ações voltadas para atuar no controle dos fatores pré-patogênicos, evitando o aparecimento do estímulo e, consequentemente, da doença. ➢ Secundária: o foco é o indivíduo que já adquiriu a doença e precisa de ações que evitem o agravo ou a morte, como diagnóstico, tratamento precoce e limitação da invalidez. ➢ Terciária: consiste na prevenção ou melhora da incapacidade, sendo a atividade de reabilitação seu principal trabalho. A prevenção primária está voltada para o período pré-patogênico. Nela estão previstas as ações de proteção especifica - imunização, educação para a saúde, controle de vetores, higiene etc. - e também a promoção da saúde, que é a melhoria das condições de vida. A prevenção secundária visa evitar que a situação piore. Então, foca- se o diagnóstico, o tratamento precoce e a limitação da invalidez. Atua- se na fase de patogênese, quando existe interação do estímulo com o suscetível, alterações dos tecidos e sinais/ sintomas. Na prevenção terciária, a invalidez ou o defeito crônico estão instalados, e é preciso reabilitar e reinserir socialmente o indivíduo. ↠ Todos os serviços de saúde fazem prevenção dos três níveis, mas, às vezes, é dada ênfase em um deles. Promoção da saúde ↠ O conceito de promoção da saúde é muito antigo e tem sido “lapidado” e discutido por especialistas da área de saúde pública há mais de anos 70. ↠ A promoção da saúde foi assim denominada, pela primeira vez, pelo médico Henry Sigerist, no início do século XX, que a colocou entre as quatro funções da Medicina, sendo as outras: prevenção de doenças, tratamento dos doentes e reabilitação. Na década de 1970, foi publicado o “Informe Lalonde”: proposto pelo ministro da saúde canadense, documento que discute o “campo da saúde". Para o relator do documento, a promoção da saúde significava a necessidade de se educar e de se fazer reformas estruturais no Estado, com envolvimento de outros setores além da saúde, a fim de oferecer real qualidade de vida à população. ↠ Em 1986, enquanto no Brasil acontecia a VIII Conferência Nacional de Saúde, em Ottawa, no Canadá, ocorria a Primeira Conferência Internacional de Promoção da Saúde, onde foi definido que: Promoção da saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. Para atingir um estado de completo bem -estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saberidentificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente. (OMS, 1986) ↠ Sendo assim, a promoção da saúde trabalha de forma diversa da prevenção, pois não tem o foco na doença, mas na alteração dos determinantes de saúde. Determinantes Sociais de Saúde, definidos como: fatores sociais, econômicos ou comportamentais que influenciam a saúde, positiva ou negativamente, e que podem ser influenciados por decisões políticas ou individuais, ao contrário da idade, sexo e fatores genéticos, que também influenciam a saúde, mas não são modificáveis por essas decisões. (PELLEGRINI FILHO, 2013) ↠ Foram definidos cinco eixos que devem orientar as ações de promoção da saúde: ➢ Reforço da ação comunitária/participação, a fim de que os serviços e os Estados fortaleçam os cidadãos e suas comunidades para que esses participem ativamente da organização do sistema de saúde, ajudando a tomar decisões e definir metas e prioridades. Nem sempre a visão do Estado e dos profissionais de saúde é a mesma da população. ➢ Políticas públicas saudáveis que diminuam as desigualdades sociais por meio de ações sobre os determinantes dos problemas de saúde. ➢ Desenvolvimento de habilidades pessoais, apoiando o desenvolvimento pessoal por meio de educação, cultura e intensificação das habilidades vitais. As pessoas devem ser estimuladas a aprender por toda a vida. ➢ Criação de ambientes favoráveis, melhorando o meio ambiente, conservando recursos naturais e fazendo o acompanhamento sistemático do impacto que as mudanças no meio ambiente produzem sobre a saúde. ➢ Reorientação dos serviços de saúde, de modo que eles deem ênfase à saúde, atuando de forma a atingir a integralidade do cuidado. Outra questão essencial é o trabalho intersetorial, isto é, aquele que envolve outros setores da sociedade e da comunidade: o comércio, os transportes, a educação e todos os outros. Promoção da saúde X prevenção de doenças ↠ As duas estratégias são companheiras e devem ser utilizadas, pois cada uma tem um objetivo importante e as duas se complementam. @jumorbeck RESUMO Prevenção de doenças: foco na doença, nos profissionais e nos serviços de saúde; baixa responsabilização da pessoa e comunidade; programas desenvolvidos pelo Estado. Promoção da saúde: foco na saúde, na transformação da realidade para que essa torne a busca pela saúde possível; responsabilidade compartilhada por todos os envolvidos (Estado, comunidade, setores produtivos da sociedade, profissionais de saúde). Abordagem Comunitária: diagnóstico de saúde da comunidade ↠ A existência de informações confiáveis e atualizadas sobre os determinantes e as condições de saúde de uma dada comunidade permite aos gestores e aos profissionais da área da saúde planejar, avaliar e monitorar os serviços de saúde orientados por dados que refletem a realidade local. ↠ O conhecimento do perfil de agravos à saúde prevalentes na comunidade é um indicador imprescindível para a provisão de serviços e recursos, seja em termos de pessoal, de equipamentos, de medicamentos ou de outros insumos usados em atividades de caráter preventivo, diagnóstico, terapêutico e de reabilitação. ↠ O planejamento das ações de saúde requer inúmeras informações sobre a população, fatores climáticos, situação da saúde, entre outras. ↠ Países desenvolvidos e em desenvolvimento apresentam pirâmides etárias e, consequentemente, morbidades distintas. O mesmo ocorre dentro de um país como o Brasil, por exemplo, onde, nas regiões norte e nordeste, os serviços de saúde devem estar organizados para atender, ainda, uma demanda elevada de doenças infecciosas e parasitárias, ao passo que na região sul há uma elevada proporção de idosos com uma alta prevalência de doenças crônicas. ↠ A morbidade pode ser pesquisada por meio de inquérito domiciliar ou pela demanda das pessoas que se apresentam espontaneamente aos serviços de saúde. Cada uma dessas abordagens permite observar uma parte da realidade, e só sua conjunção pode oferecer um quadro completo da morbidade. Diagnóstico de saúde da comunidade ↠ Conceitualmente, o diagnóstico de saúde da comunidade é um estudo transversal, pois as variáveis de desfecho e de exposição são coletadas em um mesmo momento. ↠ Os diagnósticos de saúde da comunidade não devem constituir-se em esforços isolados, mas devem ser vistos dentro de um contexto de utilização permanente de informações epidemiológicas para a avaliação e o planejamento dos serviços de saúde. ↠ Etapas para a realização de um diagnóstico de saúde comunitário: ➢ Redação do protocolo de pesquisa e envio ao comitê de ética em pesquisa: no primeiro momento, é preciso que seja elaborado um protocolo de pesquisa, que é o documento necessário para nortear o trabalho de campo. ➢ Elaboração dos instrumentos: após aprovação do comitê de ética, os investigadores deverão preparar cuidadosamente os instrumentos que serão utilizados para a coleta de dados. A seleção das variáveis que serão incluídas no questionário deverá considerar a magnitude, a transcendência e a vulnerabilidade do problema em questão. Nesse ponto, uma ampla revisão de literatura e, especialmente, a busca refinada de informações em bancos de dados já existentes. É de extrema importância que a linguagem usada nos questionários seja compreensível para os entrevistados. O uso de expressões locais pode ser amplamente empregado, devendo-se evitar palavras complexas e com muitas sílabas. O número total de questões dependerá dos objetivos do estudo, porém é importante evitar questionários muito extensos e com muitas questões abertas, visto que isso pode aumentar o número de recusas (em virtude do tempo de aplicação do instrumento) e o tempo de revisão dos questionários. A definição de perda e recusa deve ser feita antes do início da coleta de dados, e todos os entrevistadores devem ser orientados sobre como proceder perante uma dessas situações. Uma definição operacional muito usada para perda tem sido a não localização do indivíduo no domicílio após três tentativas em dias e horários distintos. Para recusas, o critério do número de tentativas adotadas tem sido o mesmo, porém, nesse caso, o indivíduo foi localizado e não manifestou interesse em participar do estudo. ➢ Amostragem: em geral, não é necessário estudar a população inteira para que sejam obtidas informações úteis e válidas sobre ela. O estudo de uma amostra tem várias vantagens @jumorbeck práticas, em particular porque o número de indivíduos que precisam ser entrevistados ou examinados é menor. Porém, quando se usa uma amostra, é necessário assegurar que os indivíduos nela incluídos sejam representativos da população que está sendo investigada. A amostragem probabilística possui alta capacidade de generalização, pois a escolha dos indivíduos da amostra é dada de forma aleatória, permitindo que cada sujeito tenha uma probabilidade específica de seleção. Alguns tipos de amostragem probabilística são: o Amostragem aleatória simples. Listam-se todos os indivíduos elegíveis para o estudo e, por meio de um sorteio aleatório, seleciona-se um subconjunto que formará a amostra do estudo. o Amostragem sistemática. É uma variação da aleatória simples, em que, por meio de uma lista de indivíduos, se seleciona o primeiro indivíduo de forma aleatória e os demais por meio de um intervalo de seleção preestabelecido. o Amostragem aleatória estratificada. Divide-se a população em estratos de acordo com determinadas características, como nível socioeconômico, sexo ou cor da pele. A partir de então, utiliza-se o processo de amostragem aleatória simples para cada estrato. A estratificação pode ser ponderada, de acordo com o interesse do investigador. o Amostragem por conglomerados. Amostragem aleatóriasimples cuja unidade de amostragem é um grupo de indivíduos (conglomerado) da população (como postos de saúde, escolas, setores censitários, etc.). o Amostragem em múltiplos estágios. Combina todos os métodos anteriores. Por exemplo, uma série de escolas (aglomerados) é identificada e uma amostra aleatória delas é selecionada. Depois, dentro de cada escola, é selecionada uma amostra aleatória de alunos; essa amostra é estratificada por séries escolares. ➢ Seleção e treinamento de entrevistadores: inicialmente, devem-se estimar quantos entrevistadores serão necessários para a coleta de dados, de acordo com as definições logísticas do estudo e com o tempo previsto para a duração da coleta de dados. Deve-se dar preferência à seleção de entrevistadores que tenham ensino médio completo e disponibilidade de tempo (incluindo finais de semana). Após a seleção, os entrevistadores aprovados devem ser submetidos a um treinamento em conjunto. Em geral, é preferível descartar entrevistadores que tenham ensino superior na área da saúde, para evitar que a maior autonomia inerente a esses indivíduos possa enviesar a padronização no momento da coleta de dados. Ao final do treinamento, deverá ser aplicada uma prova teórica para avaliar o desempenho dos candidatos em termos do conhecimento da logística do estudo, interpretação de quesitos específicos do questionário e codificação adequada das respostas. Essa avaliação final servirá para a escolha dos entrevistadores que irão imediatamente a campo e daqueles que ficarão em uma lista de excedentes, podendo ser chamados assim que houver desistências. ➢ Aplicação, preenchimento e codificação dos questionários: Aplicação: o entrevistador deverá ler as perguntas para o entrevistado exatamente como estão escritas. É importante que o entrevistador seja treinado para que não demonstre atitudes de censura, aprovação ou surpresa diante das respostas. Preenchimento: no caso do uso de questionários em papel, os entrevistadores devem cuidar bem de seus formulários, utilizando sempre a prancheta na hora de preencher as respostas. Sugere-se que os questionários e formulários de papel sejam preenchidos a lápis e com muita atenção, usando borracha para as devidas correções. Os entrevistadores deverão ser avisados de que, caso alguma resposta fique em branco, terão de voltar ao local da entrevista. Codificação dos questionários: a codificação dos questionários deve ser feita a lápis no momento da entrevista e, no final do dia, após revisão, os questionários deverão ser codificados a caneta. As questões abertas (aquelas que são respondidas por extenso) não devem ser codificadas. Isso será feito posteriormente. É muito importante que não se deixem respostas em branco; para isso, devem ser aplicados os códigos especiais: Não se aplica (NSA), Ignorada (IGN), ➢ Padronização de medidas: caso o estudo envolva aferição de pressão arterial (PA), medida de peso, comprimento, estatura, coleta de sangue, etc., os entrevistadores deverão passar por um processo de padronização para obtenção dessas medidas. ➢ Estudo-piloto: a realização de um estudo-piloto em domicílios não sorteados para fazer parte da amostra tem como finalidade avaliar a adequação do questionário e do manual de instruções, testar a logística do estudo e o desempenho dos entrevistadores em situações reais de campo e na codificação dos questionários. ➢ Coleta de dados: o trabalho de campo, propriamente dito, consiste na aplicação dos questionários e na aferição de medidas. Cada um dos entrevistadores deve levar, além do material para coleta de dados, um mapa detalhado da região onde coletará as informações. @jumorbeck A equipe deverá ser composta de, pelo menos, um coordenador de campo, supervisores, entrevistadores e responsáveis pela digitalização dos dados, para que esse processo aconteça concomitantemente com a coleta de dados. ➢ Controle de qualidade: uma subamostra aleatória de, pelo menos, 10% dos entrevistados deve ser contatada pessoalmente ou por telefone para checar a realização da entrevista e algumas respostas-chave do questionário. Esse procedimento permite checar se a entrevista realmente ocorreu e possibilita a realização do teste Kappa, para avaliar a concordância (confiabilidade) das respostas do entrevistado. Para o controle de qualidade, deve-se optar por perguntas que não sofram grande alteração na resposta entre o período da entrevista e da realização do controle, como cor da pele, religião, hospitalização, prática de atividade física, tabagismo atual, etc. Caso seja descoberto que a entrevista não foi realizada ou que parte dela foi inventada, o entrevistador deve ser desligado do estudo e todas as suas entrevistas refeitas. ➢ Digitalização dos dados: após a revisão, nos casos de coleta de dados feita em papel, os questionários deverão ser encaminhados para digitação ou digitalização. No caso de digitação dos dados, para evitar erros, sugere-se que seja feita dupla digitação (com duas pessoas diferentes) e que, ao término, as digitações sejam comparadas para checar inconsistências. Atualmente, tem-se optado cada vez mais pela digitalização dos dados com softwares, que tornam o processo mais ágil e menos sujeito a erros de digitação. ➢ Limpeza do banco de dados: por mais que os entrevistadores tenham sido orientados para o preenchimento adequado dos questionários, e que os supervisores tenham feito uma conferência das respostas antes da digitalização, há sempre casos em que a resposta é inconsistente com a pergunta. Por exemplo, perguntas sobre mamografia, exame citopatológico de colo do útero e/ou gestação podem ter sido respondidas em questionário de indivíduos do sexo masculino. Nesse caso, deve- se checar se o erro está no preenchimento sobre o gênero ou nas respostas às perguntas sobre mamografia, citopatológico do colo de útero ou gestação. ➢ Análise dos dados: poderá ser feita no pacote estatístico em que o pesquisador tenha maior domínio. Caso seja necessário, um estatístico poderá ser contratado para realizar as análises. Análises descritivas são úteis e suficientes para o planejamento dos serviços de saúde. Os resultados obtidos poderão ser georreferenciados em mapas que fiquem dentro das unidades de saúde, a fim de facilitar a visualização das principais morbidades da comunidade local e das áreas de maior vulnerabilidade social. ➢ Divulgação dos resultados: os resultados obtidos no diagnóstico de comunidade deverão ser apresentados à comunidade local em linguagem simples. Os gestores devem ser informados dos principais achados, e um relatório técnico de pesquisa deve ser confeccionado para que os dados estejam disponíveis e sejam de fácil acesso. Para a comunidade acadêmica, a divulgação dos resultados poderá ser feita pela publicação dos achados em periódicos nacionais ou internacionais ou, ainda, pela apresentação em congressos e simpósios. Estimativa rápida ↠ A elaboração do diagnóstico comunitário é uma ferramenta reconhecidamente relevante para o processo de planejamento das ações de saúde nos territórios. No entanto, há situações nas quais não há idealmente condições para aplicação do diagnóstico em todas as etapas previstas, impelindo a escolha por abordagens mais simplificadas, porém ainda capazes de auxiliar na delimitação dos espaços de atuação das equipes locais de saúde e na identificação de grupos populacionais ou problemas de saúde característicos daquele espaço. ↠ O desafio dessa perspectiva de avaliação rápida e, ainda assim, completa foi assumido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), culminando com a publicação, em 1988, de um Guideline. Esse conjunto de diretrizes visava ao desenvolvimento de métodos ágeis e custo- efetivos para identificação das necessidades emuma comunidade – em especial, áreas urbanas cuja população apresenta baixos índices de renda —, constituindo-se no que foi chamado rapid appraisal, ou estimativa rápida. ↠ O objetivo da estimativa rápida consiste, em um cenário com disponibilidade limitada de tempo e recursos financeiros, em fornecer informações qualitativas e quantitativas dos principais problemas de saúde em uma comunidade. ↠ As fontes de informação podem ser primárias (p. ex., observações descritivas da região e entrevista com @jumorbeck informantes importantes no território) ou secundárias (análise de registros existentes, não apenas nos serviços de saúde). ↠ Acurcio e cols. Indicam que a técnica de estimativa rápida considera quatro aspectos. Esses elementos estruturais da Técnica de Estimativa Rápida constituem uma “pirâmide de informação”, ou seja, um perfil de planejamento organizado em prioridades que propicie um plano de ação adequado. Os diferentes níveis dessa pirâmide descrevem como operacionalizar a estimativa: o Estruturas, capacidades, envolvimento e necessidades da população. Base do processo, traz informações sobre as estruturas, os interesses e a mobilização popular – a capacidade organizativa da população. o Ambiente físico e socioeconômico. Mapeamento da interação de fatores do ambiente físico, social, econômico e cultural que agem como determinantes das condições de saúde. o Disponibilidade de serviços de saúde, ambientais e sociais. Caracterização da cobertura, do acesso e da utilização dos serviços disponíveis na comunidade, incluindo abastecimento de água e coleta de lixo (ambientais), além de creches e escolas (sociais), entre outros. o Política de saúde do governo. A avaliação desse elemento refere-se às políticas sociais (especialmente de saúde, mas não restrito à área, quando necessário) vigentes e operantes na comunidade, podendo identificar certo compromisso do Estado com a saúde na região. ↠ A Estimativa Rápida indica QUAIS os problemas, e não QUANTAS pessoas são afetadas pelos problemas. ↠ A operacionalização dessa técnica precisa necessariamente assegurar agilidade, coletando-se apenas dados considerados mínimos e pertinentes – dentro de um tempo aceitável para o planejamento de ações imediatas. A seguir, é apresentado um breve roteiro para busca das principais categorias de dados: 1- Constituição de uma equipe preferencialmente multiprofissional e intersetorial. 2- Decisão sobre o que é preciso saber a respeito da população e o território, assim como escolha dos métodos de coleta na equipe do planejamento local. 3- Programação do cronograma de realização da Estimativa Rápida. As experiências indicam que todo o processo pode levar de 10 dias a 2 meses, conforme a disponibilidade da equipe e da comunidade. 4- Entrevistas. As entrevistas com informantes- chave a serem selecionados devem prever um roteiro semiestruturado, sendo um diálogo orientado e conduzido de maneira suficientemente informal para que o participante possa, às vezes, introduzir assuntos ou aspectos que o entrevistador não esperava – priorizando respostas mais complexas e de característica qualitativa. A respeito disso, ressalta-se que todos os pontos identificados como importantes devem ser anotados, tendo as notas ampliadas o mais breve possível após a entrevista. 5- Observação. Examinar o ambiente físico da área, assim como a administração dos serviços oferecidos (não somente no setor saúde) e as atitudes dos informantes-chave durante as entrevistas, pode confirmar ou invalidar informações obtidas por outras fontes. 6- Registros existentes. É importante tomar cuidado, a fim de manter-se fiel aos dados considerados pertinentes e necessários, podendo utilizar-se de alguns indicadores quantitativos. Gastos orçamentários, registros de hospitais e ambulatórios, estudos realizados por instituições de ensino superior, locais e registros referentes ao planejamento municipal estão entre as possibilidades de fontes secundárias para coleta de dados. ↠ Após a compilação de todas as informações, especialmente aquelas provenientes das entrevistas e das observações, uma metodologia de análise de dados qualitativos deve ser aplicada. Iniciando-se pelas entrevistas, devem-se buscar repetições e regularidades nos enunciados e nas temáticas dos informantes, mesmo que suas respostas não sejam exatamente as mesmas. Esses agrupamentos que têm sentidos semelhantes permitem a construção de categorias para análise – construídas em consenso por toda a equipe quanto às mais apropriadas para interpretação. ↠ A apresentação dos elementos descobertos durante a estimativa deve ser feita de maneira sintética e resumida, respeitando cada categoria elencada, para facilitar a interpretação e a consequente tomada de decisão sobre os pontos principais. @jumorbeck ↠ O uso da Técnica de Estimativa Rápida pede algumas competências do profissional que a executa, em especial a determinação (para encontrar e examinar criticamente os registros existentes), a disposição (para encontrar-se com as necessidades da população local), a escuta (para percepção de entrevistas e conversas informais), a atenção (para busca de pistas sobre problemas potenciais) e o bom senso (para reexaminar a interpretação dos dados caso se mostrem muito diferentes do seu conhecimento profissional ou de sua experiência técnica). Essas características podem ser limitações importantes para o uso da Estimativa Rápida, devendo ser ponderadas pela equipe para verificar uma adequação da técnica às necessidades de planejamento. Diagnóstico de demanda ↠ O diagnóstico de demanda é uma ferramenta útil para definir o padrão de morbidade, o perfil do usuário dos serviços, as informações sobre o processo de assistência à saúde, além de características do atendimento e da prática dos profissionais de saúde.1 ↠ O diagnóstico de demanda é uma pesquisa rápida e barata. Os dados podem ser obtidos por meio de questionários aplicados por entrevistadores ou autoaplicados e por análise de registros dos serviços de saúde. ↠ A busca de informações em registros tem como principais limitações a sua imprecisão e o próprio sub- registro, ainda muito frequente. ↠ A coleta de informações para o diagnóstico de demanda pode ser feita por meio de dados referentes ao motivo pelo qual o indivíduo atribui a busca pela consulta (queixa principal), pelo diagnóstico médico ou, ainda, pela conduta tomada. ↠ A terminologia “motivo de consulta” transmite as razões pelas quais uma pessoa entra no sistema de saúde e representa as demandas desse indivíduo, ao passo que o problema de saúde identificado pelo médico poderá ser o mesmo ou um diagnóstico estabelecido. ↠ O cálculo de tamanho de amostra para estudos de demanda deve ser de, pelo menos, 10% da demanda do serviço. Ressalta-se a importância de que a coleta de dados seja feita em uma semana típica de atendimentos de cada estação do ano. Dessa forma, o viés de seleção será minimizado. Estudos internacionais mostram algumas diferenças sazonais, o que justifica essa sistematização. Referências: SOLHA, Raphaela Karla de Toledo. Saúde coletiva para iniciantes. Políticas e práticas profissionais. 2 ed. Erica/Saraiva. Cap4 E-book BASTOS G.A.N. et al. Abordagem comunitária: diagnóstico de saúde na comunidade. IN . IN Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática / Organizadores, Gustavo Gusso, José Mauro Ceratti Lopes. Porto Alegre : Artmed, 2 ed. 2019. Cap. 38. Disponível em minha biblioteca
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