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Ética na APS

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1 
 
 @jumorbeck 
“Difícil não é fazer o que é certo, (difícil) é descobrir o 
que é certo fazer.” Robert Henry Srour 
Ética 
↠ Ética é um conjunto de regras, princípios ou maneira 
de pensar e expressar-se. A ética representa as regras 
que possibilitam às pessoas conviverem em sociedade e 
estabelecerem uma relação profissional. 
↠ A ética faz parte do dia a dia da sociedade em todas 
as áreas. Ser ético é utilizar, nas decisões, valores 
fundamentais da sociedade em que se vive, tais como agir 
direito, proceder bem sem prejudicar os outros; ser 
honesto em qualquer situação; ter coragem para assumir 
os erros e decisões; ser humilde, ser tolerante e flexível. 
↠ Todo “ser ético” reflete sobre suas ações, pensa se 
fez o bem ou o mal. A ética é definida como a explicitação 
teórica do fundamento último do agir humano na busca 
do bem comum e da realização individual. 
↠ Toda capacitação científica ou técnica precisa estar 
em conexão com os princípios essenciais da ética Para 
tentar ser uma pessoa ética, deve-se seguir um conjunto 
de valores e apresentar algumas das características 
básicas de como ser um profissional ético, sem perder 
de vista que o “ser ético” se dá no plano da imperfeição 
humana e na aceitação dessa condição. 
Ética profissional 
↠ Traduz-se ética profissional como o conjunto de 
normas morais pelas quais a pessoa deve orientar seu 
comportamento na profissão que exerce. A ética 
profissional se inicia com a reflexão, e, quando se escolhe 
uma profissão, passa-se a ter deveres profissionais 
obrigatórios. 
↠ Ao completar sua formação, a pessoa faz um 
juramento, que significa seu comprometimento 
profissional, firmado em questões relevantes que 
ultrapassam o campo profissional em si. Muitas delas são 
questões morais que se apresentam como problemas 
éticos, e um profissional, ao se debruçar sobre elas, não 
o faz apenas como tal, mas como um pensador, um 
“filósofo da profissão que exerce”. 
↠ O código de ética profissional é o instrumento 
regulador entre as relações de valor e os diversos 
campos da conduta humana, atuando com um tipo de 
contrato de classe, sendo que os órgãos de fiscalização 
do exercício da profissão regulam sua execução. 
Estabelece os critérios de condutas de uma pessoa 
perante seu grupo e o todo social, estabelecendo virtudes 
que devem ser exigíveis e respeitadas no exercício da 
profissão, no relacionamento com pessoas atendidas, 
colegas de profissão, de classe e da sociedade. 
↠ Cada profissional deve ter sua individualidade 
respeitada, sua forma de realizar seu trabalho, mas deve 
haver uma norma comportamental para reger a prática 
profissional no que concerne à sua conduta em relação 
aos seus semelhantes. Se muitos exercem a mesma 
profissão, é preciso que haja uma disciplina para a conduta. 
Na área da saúde, a ética é usada na pesquisa clínica e nas relações 
com as pessoas. Deve-se ter cuidado para não banalizar os aspectos 
éticos, confundindo ética, moral e direito. A moral é um conjunto de 
normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e 
essas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo 
cotidiano. O direito estabelece as regras de uma sociedade delimitada 
pelas fronteiras do Estado, e as leis têm uma base territorial, valendo 
apenas para aquele lugar. 
Princípios éticos 
• Beneficência (“fazer o bem”) 
• Não maleficência (“evitar danos”) 
• Autonomia (“a pessoa escolhe”) 
• Justiça (“priorizar com equidade”) 
 
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES 
↠ Existem algumas condições que justificam a quebra de 
confidencialidade: 
• se um sério dano físico a uma pessoa identificável e 
específica tiver alta probabilidade de ocorrência; 
• quando um benefício real resultar dessa quebra de 
confidencialidade; 
• quando for o último recurso, após ter sido utilizada a 
persuasão ou outras abordagens; e, por último, esse 
procedimento deve ser generalizável, sendo novamente 
usado em outra situação com as mesmas características, 
independentemente de quem seja a pessoa envolvida. 
↠ O prontuário das pessoas atendidas é de propriedade e 
responsabilidade da instituição que os detém. As informações nele 
contidas estão sob sigilo e somente podem ser liberadas mediante 
autorização de quem as forneceu. 
↠ É dever do médico zelar para que pessoas que não estejam 
comprometidas pelo sigilo profissional não manuseiem os prontuários 
e para que as informações coletadas nas consultas estejam registradas 
adequadamente e disponíveis no prontuário, possibilitando que a 
continuidade do cuidado seja proporcionada pela equipe ao longo do 
tempo. 
 
Ética na Atenção Primária à Saúde 
2 
 
 @jumorbeck 
A ética na APS 
↠ A implantação do SUS e da Estratégia Saúde da 
Família (ESF) tornam necessário lidar com as questões 
de ordem ética vivenciadas nos serviços de APS. 
↠ A APS compreende o conjunto de ações de caráter 
individual ou coletivo situadas no primeiro nível de atenção 
dos sistemas de saúde e voltadas para a promoção da 
saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a 
reabilitação. 
↠ A ESF assume um conceito na direção de um sistema 
de saúde integrado que converge para a qualidade de 
vida das pessoas e de seu meio ambiente. 
↠ Os aspectos éticos na APS diferem daqueles 
relacionados à sofisticação tecnológica dos hospitais e dos 
serviços altamente especializados – contemplados pela 
bioética hospitalocêntrica e da pesquisa. Essa diferença 
decorre essencialmente da banalização que os aspectos 
éticos podem sofrer em decorrência da proximidade dos 
profissionais com as pessoas, pela continuidade do 
contato, do atendimento à família, do acesso aos 
domicílios e da participação dos agentes comunitários 
(moradores da área) no cuidado. 
↠ Então, problemas éticos enfrentados na APS podem 
diferir dos identificados nas demais esferas da atenção: 
• Os problemas de saúde diferem: com isso, as 
ações e o tempo de demora para intervir são 
diferentes. 
Ex.: Na APS, atende-se alguém com quadro inicialmente sugestivo de 
depressão, podendo realizar-se avaliação em várias consultas antes de 
decidir o melhor manejo. Em outro cenário, a questão pode ser uma 
depressão grave com risco de suicídio, exigindo ação imediata. Os 
procedimentos são diferentes em seus níveis de complexidade e risco. 
• Os sujeitos éticos (pessoas, familiares e 
profissionais de saúde) são diferentes: a pessoa, 
na APS, tem sua autonomia preservada, 
podendo optar por ir ou não ao médico, realizar 
ou não os exames solicitados, tomar ou não as 
medicações, modificar ou não o estilo de vida 
orientado. Também os prazos para que isso 
aconteça são diferentes, pois existe todo um 
processo de prestação do cuidado centrado na 
autonomia. No hospital, as pessoas estão à 
mercê das rotinas e dos prazos institucionais. 
• O cenário difere (problemas éticos emergem do 
contexto): nas unidades de saúde, os encontros 
das pessoas com os profissionais são mais 
frequentes e em situações de menor urgência, 
fazendo com que os problemas éticos se 
apresentem sutilmente ou passem 
despercebidos. Nos hospitais, a emergência, o 
imediatismo e a dramaticidade das situações 
vivenciadas fazem com que os problemas éticos 
sejam mais evidentes, tempestuosos e avultados 
(p. ex., transfundir ou não transfundir, reanimar 
ou não reanimar). 
• As soluções para problemas éticos similares 
podem diferir, pois as pessoas e os profissionais 
envolvidos e o contexto são distintos. 
Problemas éticos na APS 
• Problemas éticos na relação dos profissionais 
com as pessoas e com a família na APS. 
Aspectos relativos a 
RELAÇÃO PROPRIAMENTE DITA Dificuldade em estabelecer 
os limites da relação 
profissional-pessoa; 
Limites da interferência da 
equipe no estilo de vida das 
famílias ou das pessoas; 
Desrespeito do profissional 
para com a pessoa; 
Atitude do médico diante 
dos valores religiosos 
próprios e os das pessoas 
PROJETOTERAPÊUTICO Prescrição de 
medicamentos que a 
pessoa não poderá 
comprar; 
Solicitação de 
procedimentos pela pessoa; 
INFORMAÇÃO Recuso da pessoa às 
indicações médicas; 
Maneira de informar a 
pessoa para conseguir sua 
adesão ao tratamento; 
PRIVACIDADE E 
CONFIDENCIALIDADE 
Discussão de detalhes da 
situação clínica da pessoa 
na frente dela; 
Dificuldade para manter a 
privacidade nos 
atendimentos domiciliares; 
 
Dificuldade do agente 
comunitário de saúde para 
preservar o segredo 
profissional. 
 
 
 
 
3 
 
 @jumorbeck 
• Problemas éticos na relação entre integrantes 
da equipe da APS. 
Falta de compromisso dos profissionais que atuam na APS; 
Desrespeito entre os integrantes da equipe; 
Dificuldades para delimitar as especificidades e responsabilidades 
de cada profissional na APS; 
Compartilhamento das informações relativas à pessoa e à família 
no âmbito da equipe da APS; 
 
• Problemas éticos relativos à organização e ao 
sistema de saúde 
ASPECTOS RELACIONADOS A 
UNIDADE DE ATENÇÃO 
PRIMÁRIA À SAÚDE 
Falta de estrutura na unidade 
de APS para a realização das 
visitas domiciliares; 
Falta de condições na unidade 
de APS para atendimentos de 
urgência; 
REDE DE SERVIÇOS DE SAÚDE Excesso de famílias adscritas 
para cada equipe de APS; 
Dificuldade no acesso a 
exames complementares. 
 
IMPORTANTE: 
A atuação, na APS, pede vínculo e responsabilização da equipe para 
com as famílias, trazendo novas nuances a um problema: o 
estabelecimento dos limites da relação com as pessoas. Os 
profissionais, pelos contatos repetidos e o envolvimento com questões 
amplas da família, passam a ser “amigos” da família (“profissional da 
família”), e a relação clínica se amplia com o acesso às informações 
que ultrapassam o campo do biológico e do clínico, adentrando 
aspectos íntimos da dinâmica familiar, podendo haver desconforto ou 
constrangimento da equipe ao não saber como proceder nessas 
situações, necessitando ser capacitada para tal. 
A forte inserção comunitária da APS traz consigo a dificuldade para 
manter a privacidade nos atendimentos domiciliares decorrente das 
peculiaridades que cercam as relações nesse cenário. 
No anseio de oferecer o melhor cuidado, pode a equipe incorrer na 
“Síndrome dos Três Mosqueteiros”, na qual se estabelece um fluxo 
de cuidado em que todas as pessoas atendidas e seus problemas são 
vistos por todos os profissionais da equipe: “um por todos, e todos por 
um”. Isso pode provocar o risco de expor indevidamente o caso de 
uma pessoa na própria família ou na equipe pela multiplicidade de 
pessoas envolvidas. 
Erros mais cometidos pelo médico durante suas 
atividades na APS 
• Desconhecer os princípios da Medicina de 
Família e Comunidade (MFC); 
• Não ter convicção na aplicação prática dos 
princípios da especialidade. 
• Negligenciar o trabalho em equipe. 
• Banalizar decisões que envolvem a vida das 
pessoas, sem medir as consequências. 
• Acreditar que as decisões sobre a vida dos 
outros não influenciam a sua própria vida e a de 
sua família. 
• Esquecer que a prestação de um cuidado 
qualificado é o principal objetivo em sua atuação 
junto a pessoas e é um resultado do trabalho 
em equipe. 
CONCLUSÃO 
As profissões apresentam a ética firmada em questões muito 
relevantes que ultrapassam o campo profissional em si. Para fazer 
frente a essas questões, são apresentadas algumas dicas: 
• Acreditar e aceitar que a revolução biotecnológica está 
muito próxima de nossas vidas e da prática profissional. 
• Aceitar que as novidades que surgem de maneira 
avassaladora não vão demorar a chegar até seu cotidiano. 
• Entender que as tecnologias ditas “de ponta” também são 
do escopo da base do sistema de saúde. 
• Procurar informação sobre novas tecnologias e sua 
aplicação prática na vida pessoal e profissional. 
• Evitar preconceitos de qualquer natureza. 
 
Referências: 
GUSSO, G.; LOPES, J. M. C.; DIAS, L. C. Tratado de 
Medicina de Família e Comunidade, 2ª edição. Porto 
Alegre, Artmed Editora Ltda., 2019.

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