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Raquel Bueno 73 A Patologia Médica I Aspectos de normalidade • Divisão anatômica: Sistema nervoso central (SNC): encéfalo, constituintes neurais do sistema fotorreceptor e medula espinal Sistema nervoso periférico (SNP): nervos e gânglios nervosos • Lobos do telencéfalo: Frontal Parietal Occipital Temporal Ínsula • Suprimento sanguíneo: 2 artérias carótidas e 2 artérias vertebrais • Vertebrais + basilar + carótidas = polígono de willis • Associação entre a artéria e o território irrigado: Cerebral anterior: irriga parte do córtex motor primário e parte do córtex sensitivo primário; responsabilidade pelo membro inferior Cerebral média: mais importante; irriga parte considerável dos lobos frontal, temporal e parietal; irriga grandes partes do córtex motor e do córtex sensitivo; irriga as áreas de Broca e Wernicke Cerebral posterior: irriga e córtex visual do lobo occipital • Meninges: membranas que revestem o SNC com função protetora Dura máter Aracnóide Pia máter • Aracnóide + pia máter: leptomeninges • Espaço epidural (extradural): acima da dura máter; é um espaço virtual • Espaço subdural: entre a dura e a arcnóide; também é virtual • Espaço subaracnóideo: entre a aracnóide e a pia mátera; onde está o líquido cefalorraquidiano (produzido pelos plexos coróides) • Neurônio: principal unidade funcional do SNC Células que não possuem capacidade mitótica, então a lesão pode gerar sequelas potencialmente graves e permanentes (déficits neurológicos) Responsáveis pela recepção transmissão e processamento de estímulos; fazem isso por meio de neurotransmissores Composto por 3 partes: dendritos, corpo celular (pericário; só na subst. cinzenta) e axônio (substância branca) • Obs.: existem células tronco no SNC (células progenitoras neurais), mas elas têm um potencial mitótico limitado • No SNC os corpos celulares dos neurônios localizam-se somente na substância cinzenta • A substância branca apresenta apenas os prolongamentos (axônio) • Células da glia: ▪ Astrócitos: responsáveis pelo reparo (gliose) e cicatrização A gliose é o indicador histopatológico mais importante de lesão do SNC e é caracterizada pela hipertrofia e hiperplasia dos astrócitos Astrócitos formam pés vasculares com função de barreira Na gliose há a formação de astrócitos gemistocíticos ▪ Oligodendrócitos: produzem as bainhas de mielina ▪ Células ependimárias: revestem os ventrículos do cérebro (barreira entre o encéfalo e o líquor) ▪ Micróglia: células de defesa que quando ativadas assumem a forma dos macrófagos e tornam-se fagocitárias e apresentadoras de antígenos Distúrbios circulatórios do SNC • Uma das principais causas de morbimortalidade no mundo • Aumento da incidência com o avançar da idade • AVC ou AVE: termo cínico para déficits neurológicos de início agudo, resultantes de lesões vasculares obstrutivas ou hemorrágicas • Doença cerebrovascular: qualquer anormalidade do encéfalo causada por alterações vasculares Doenças cerebrovasculares • Doenças cerebrovasculares = lesões no encéfalo em consequência do fluxo sanguíneo alterado, podendo ser isquêmicas ou hemorrágicas • Acidente vascular: designação clínica que se aplica a todas essas condições • Fatores de risco: HAS, tabagismo, dieta inadequada, hipercolesterolemia, obesidade, sedentarismo, uso abusivo de álcool, estresse crônico • Predomínio em homens, negros, acima de 60 anos • Divisão fisiopatológica: Hipóxia, isquemia e infarto: diminuição do suprimento sanguíneo e do oxigênio. Causas comuns: embolia e trombose Hemorragia: resultante da ruptura de vasos do SNC. Etiologias comuns: hipertensão e anomalias vasculares (MAV e aneurismas) Hipóxia, isquemia e infarto Isquemia • Encéfalo requer um suprimento constante de glicose e de oxigênio • Metabolismo muito elevado • Tecido altamente aeróbico • O fluxo sanguíneo cerebral se mantém constante mesmo com variações da PA e da PIC em condições normais (autorregulação da resistência vascular) • Alterações da oferta de O2 podem resultar em isquemia e/ou hemorragia • Mecanismos para privação de oxigênio: Hipóxia funcional: baixa pressão parcial de oxigênio; comprometimento da capacidade de carreamento do oxigênio pelo sangue (ex: anemia); inibição do uso de oxigênio pelo tecido Isquemia: interrupção do fluxo sanguíneo normal que pode ser transitória (redução da pressão de perfusão; hipotensão) ou permanente (obstrução vascular) • Variáveis na sobrevivência do tecido nervoso frente à isquemia: Disponibilidade de circulação colateral Tempo de isquemia Grau da isquemia Tempo de instalação do evento (agudo x crônico) Idade do paciente • O tamanho da lesão e a localização anatômica vão determinar o déficit clínico • A lesão isquêmica pode ser global ou regional Isquemia cerebral global • Sinônimo: encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) • Redução generalizada da perfusão cerebral • Etiologias: infarto cardíaco, choque e hipotensão grave • Casos leves: estado confusional pós-isquêmico transitório; recuperação completa e sem lesão irreversível • Casos graves: geralmente em decorrência de choque; morte neural generalizada; caso o paciente sobreviva há uma deficiência neurológica severa; estado vegetativo persistente; morte cerebral • Macroscopia: Encéfalo edematoso e tumefeito com giros alargados e sulcos estreitos A superfície de corte fica inicialmente com pouca distinção entre as substâncias branca e cinzenta Após algumas semanas é possível ver na superfície de corte uma necrose pseudolaminar • Microscopia: Alterações precoces (12-24h): neurônios vermelhos (microvacuolização seguida por eusionofilia do citoplasma neural e posteriormente picnose nuclear e cariorrexia – necrose neural seletiva); chegada de neutrófilos Imagens acima: neurônios vermelhos e neutrófilos Alterações subagudas (24h-2sem): necrose tecidual, influxo de macrófagos, proliferação vascular e início da gliose Reparo (após 2 semanas): remoção da necrose, gliose (prolongamento do citoplasma dos astrócitos) Isquemia cerebral focal • Infarto cerebral • Redução ou interrupção do fluxo para uma determinada área • Etiologias comuns: oclusão arterial, hipoperfusão, embolia arterial, hipotensão arterial, vasoespasmo, arterites... • Quando a isquemia é sustentada ocorre infarto no território do vaso comprometido • Obs.: a principal fonte de fluxo colateral é o polígono de Willis Infarto cerebral • Tromboembolia: Principalmente por trombos murais cardíacos Aterosclerose das carótidas O local mais frequentemente comprometido é o da artéria cerebral média, já que ela é quase uma continuação direta da carótida interna • Outras embolias: gasosa, gordurosa, neoplásica e séptica • Aterosclerose: Doença vascular mais frequente do SNC Locais preferenciais: bifurcação da carótida, artéria cerebral média, basilar e artérias vertebrais • 2 tipos: Hemorrágico (vermelho) Não-hemorrágico (pálido, anêmico ou branco) • Infarto não-hemorrágico: Geralmente associado à trombose arterial Outras causas: vasoespasmo e hipotensão arterial Micro: → 12h: alteração neuronal isquêmica (neurônios vermelhos), edema; células endoteliais e gliais, principalmente os astrócitos, sofrem tumefação e as fibras mielinizadas começam a se desintegrar → 48h: neutrófilos e macrófagos (células granulogordurosas) → 2 a 3 semanas: astrócitos reacionais iniciam a gliose → Após meses: cavidade delimitada por gliose Macroscopia: → 48h: tecido pálido, macio e edemaciado; junção corticomedular indistinta → 2 a 10 dias: encéfalo gelatinoso e friável; limites corticomedulares definidos → 10 dias a 3semanas: tecido se liquefaz e forma cavitação Imagens acima: infarto branco recente por trombose na artéria cerebral média • Infarto hemorrágico: Decorrente de lesão de reperfusão em área de isquemia prévia; irrigação por colaterais; após dissolução ou fragmentação de êmbolo Causas: embolia arterial e trombose venosa Morfologia: segue a mesma sequência do infarto cerebral branco mas soma-se o extravasamento e a reabsorção de sangue Imagens acima: infarto branco transformando-se em hemorrágico. Há um desvio da linha média do septo pelúcido, o que aumenta a pressão intracraniana • Sintomas surgem rapidamente e podem piorar ou melhorar com o tempo • Tratamento: fibrinolítico e anticoagulantes para o AVC isquêmico (cuidado pois isso pode torna- lo hemorrágico!) • Obs: zona de penumbra = área de risco Hemorragia intracraniana • Hemorragias dentro do encéfalo = hemorragia intraparenquimatosa • Hemorragia externamente ao encéfalo (geralmente por TCE) = hemorragia subaracnoide Hemorragia intraparenquimatosa • Ruptura de pequenos vasos intraparenquimatosos • Alta morbimortalidade • Início súbito de sintomas neurológicos (acidente vascular) • Mais comum em idosos • Principalmente no tálamo e nos núcleos da base • HAS é a principal causa: Arteriolosclerose: paredes mais fracas e sujeitas a rupturas Microaneurismas de Charcot-Bouchard: pequenos aneurismas decorrentes da HAS crônica; podem ser alvos de sangramento em picos hipertensivos • Morfologia: extravasamento de sangue com compressão do parênquima adjacente • Sangramentos importantes causam: cefaleia, crises convulsivas, alterações visuais e da fala, queda do nível de consciência, coma, efeito de maça, HIC, hérnias cerebrais, compressão do tronco encefálico e morte Hemorragia subaracnoide • Hemorragia entre as camadas meníngeas aracnoide e pia-máter • Causa mais frequente: ruptura de aneurisma sacular (moriforme) em uma artéria cerebal • O aneurisma “congênito” (relacionado a fatores genéticos, mas o neném não efetivamente nasce com ele) é o mais comum • O aneurisma adquirido tem como principais causas o tabagismo e a HAS • Outras causas: malformação arteriovenosa (MAV), distúrbios hematológicos... • O rompimento do aneurisma geralmente ocorre por um aumento agudo da pressão intracraniana • Dor de cabeça súbita e excruciante (“pior dor de cabeça da minha vida”); perda de consciência • Náuseas, vômitos e sinais de irritação meníngea • Consequências: Aguda→lesão isquêmica→vasoespasmo em decorrência do sangue extravasado Fase tardia→fibrose (cicatrização) meníngea→obstrução ao fluxo do LCR (hidrocefalia) Doença cerebrovascular hipertensiva • Efeitos da HAS no encéfalo: Hemorragia intraparenquimatosa Infartos lacunares Encefalopatia hipertensiva Infartos lacunares • HAS afeta as artérias perfurantes cerebrais e as arteríolas que suprem os núcleos da base • Artérias lentículo-estriadas e artérias pontinhas perfurantes • Oclusão desses pequenos vasos formando pequenas áreas de infartos cavitários • Perda tecidual circundada por gliose Encefalopatia hipertensiva • Aguda: Síndrome clinicopatológica que surge no cenário de hipertensão maligna Disfunção cerebral difusa Cefaleia, confusão, vômitos e convulsões Pode levar ao coma Pode cursar com hemorragia cerebral intraparenquimatosa Tratamento: reduzir a HIC • Crônica: Consequência de múltiplos infartos cerebrais “demência vascular”: demência, alterações da marcha... Causada por arteriosclerose cerebral, trombose vascular ou embolização Quando o padrão da lesão envolve preferencialmente grandes áreas de substância branca subcortical com perda axonal e da mielina, o distúrbio é chamado de doença de Biswanger Edema cerebral • Conceito: acúmulo anormal de líquido no parênquima cerebral, de forma localizada ou difusa, resultando em aumento do volume encefálico Edema cerebral vasogênico • Mais comum • Comprometimento da barreira hematoencefálica (endotélio dos vasos sanguíneos do SNC) • Aumento da permeabilidade vascular • Líquido intravascular passa para o espaço intercelular cerebral • A pobreza em vasos linfáticos locais compromete a drenagem do excesso de líquido • causas: hemorragia cerebral, infarto cerebral, encefalopatia hipertensiva, neoplasias, TCE, convulsões... • Localizado: adjacente ao local de inflamação, hemorragia e neoplasias • Generalizado: isquemia global (EHI), encefalopatia hipertensiva... • Giros aplanados, sulcos intercalados estreitados, cavidades ventriculares comprimidas • Com a expansão do encéfalo pode ocorrer herniação Edema cerebral citotóxico ou celular • Aumento de fluido intracelular em consequência de agressão à membrana celular de neurônios, células da glia ou endotelial • Ocorre após fenômenos hipóxico-isquêmicos ou intoxicações • Localizado: isquemia regional (obstrução vascular) • Generalizado: isquemia global (encefalopatia hipóxico-isquêmica), encefalopatia hepática, metabólitos tóxicos... • Câmaras ventriculares podem estar: Estreitadas: edema do parênquima Alargadas: edema hidrocefálico Hidrocefalia • LCR é produzido pelo plexo coroide e reabsorvido pelas granulações aracnoides • Hidrocefalia: acúmulo de excesso de LCR no interior do sistema ventricular • Geralmente decorrente de comprometimento do fluxo (obstrução) ou da reabsorção • Em casos raros pode decorrer de tumor do plexo coroide • Quando na infância (antes do fechamento das suturas cranianas): aumento do perímetro cefálico e não há hipertensão intracraniana • Quando surge após o fechamento das suturas há uma expansão ventricular sem aumento do perímetro cefálico, dessa forma há um aumento da pressão intracraniana (pode levar a isquemia cerebral) • Hidrocefalia comunicante: quando o sistema ventricular se comunica com o espaço subaracnóide e há um aumento de todo sistema ventricular; ex: redução da reabsorção liquórica na fibrose das leptomeninges • Hidrocefalia não comunicante/obstrutiva: quando o sistema ventricular está obstruído, não havendo comunicação com o espaço subaracnoide; ex: neoplasias, cisticercose, hemorragia ventricular • Hidrocefalia ex-vácuo: dilatação ventricular e alargamento do espaço subaracnoide secundários a atrofia cerebral de qualquer natureza; ex: infarto cerebral, doenças neurodegenerativas... Mais comuns em pacientes idosos Hipertensão intracraniana (HIC) • Consequências: Hérnias cerebrais Diminuição da pressão de perfusão cerebral → encefalopatia hipóxico- isquêmica • Hérnias cerebrais: deslocamento de partes do encéfalo de um compartimento para outro, devido a diferenças de pressão 1. Hérnia do giro do cíngulo (subfalcina ou supracalosa) Deslocamento do giro do cíngulo sob a borda livre da foice do cérebro para o lado contralateral Pode comprimir a artéria cerebral anterior e seus ramos Déficit motor e sensitivo dos MMII 2. Hérnia do giro para-hipocampal (transtentorial) Deslocamento do uncus ou de todo o giro para-hipocampal (face medial do lobo temporal) para o compartimento infratentorial Pode afetar o nervo oculomotor: midríase e oftalmoplegia ipsilaterais Pode comprimir a artéria cerebral posterior: isquemia do córtex visual Pode comprimir o mesencéfalo: deterioração do nível de consciência Pode comprimir o pedúnculo cerebral contralateral (entalhe de Kernohan): hemiparesia/hemiplegia ipsilateral (sinal de falsa localização) Pode cursar com lesões hemorrágicas no mesencéfalo e na ponte: hemorragias de Duret 3. Hérnia das tonsilas cerebelares (hérnia tonsilar) Deslocamento das tonsilas cerebelares através do foragem magno Compressão do tronco encefálico; compressão de centrosrespiratório e cardíaco do bulbo; risco de morte • Clínica: cefaleia, vômito e papiledema (edema da papila do nervo óptico) • Diagnóstico: exame clínico neurológico, exame de imagem e exame de fundo de olho Traumatismo cranioencefálico (TCE) • Pode provocar: fratura craniana, lesão parenquimatosa e lesão vascular • Lesões primárias: No momento do trauma Determinadas pelo local, pela ação imediata do traumatismo e pelo tipo de agente traumatizante Podem progredir e piorar com o passar do tempo Fraturas cranianas Lesões parenquimatosas: concussão, contusão, laceração, LAD, shaken baby, ETC Lesões vasculares traumáticas: hematomas e hemorragias • Lesões secundárias: São tardias (lesões adicionais); consequências funcionais Ex: isquemia, edema, HIC, convulsões, infecções, vasoespasmos, distúrbios circulatórios e respiratórios Fraturas cranianas • A espessura dos ossos do crânio é variável e, por isso, também varia a resistência ao trauma • Fratura linear: impacto contra superfície plana • Fratura deprimida: impacto contra objetos pequenos e irregulares • Penetrante ou aberta: objetos pontiagudos, PAF, com laceração da dura-máter • Fraturas de contragolpe: produzidas longe do local de impacto • Fraturas de base de crânio: Impacto violento occipital ou nas laterais da cabeça Podem cursar com fístula liquórica (otoliquorréia e rinoliquorréia), lesão de nervos cranianos (I, VII e VIII), hematomas da mastoide e orbitários (sinal do guaxinim), entrada de ar e bactérias no interior do crânio (meningite) Lesões parenquimatosas Concussão cerebral • Síndrome clínica de alteração da consciência secundária ao trauma craniano • Alteração cinética da cabeça (movimento da cabeça interrompido por uma superfície rígida) • Início instantâneo de disfunção neurológica: perda da consciência, parada respiratória e perda dos reflexos • Transitório • Recuperação neurológica completa • Amnésia do evento é frequente • Substrato anatômico: lesão axonal difusa Lesão axonal difusa (LAD) • Lesão causada diretamente por traumatismo da substância branca devido à aceleração/desaceleração da cabeça • Principal responsável pela morbimortalidade no TCE sem lesão expansiva • Gravidade variável: graus I a III (III: menor sobrevida, alteração grave e persistente da consciência) • Lesão estrutural de axônio e pequenos vasos sanguíneos por torção/estiramento • Lesões visíveis nos pontos de fixação dos hemisférios cerebrais • Tumefações axonais difusas; aumento do número de micróglia em áreas danificadas do córtex cerebral e degeneração dos tratos fibrosos envolvidos Contusão cerebral • Lesão cerebral fechada; meninges íntegras e sem perda tecidual • Comum em vítimas de quedas, agressões e acidentes de trânsito • Contusão por fratura: ocorre no local do osso fraturado • Contusão por golpe: ocorre no local de trauma (não fraturado) • Contusão de contragolpe: ocorre nas áreas distantes/opostas ao trauma • Fase inicial: focos múltiplos de hemorragia nas cúpulas dos giros; hemorragia subaracnoide • Fase tardia: cicatrização (gliose) de cor ferruginosa ou acastanhada (deposição de hemossiderina) • Poucos sintomas, com manutenção da consciência e evolução clínica favorável; lesão focal em áreas não vitais • Complicações: edema cerebral intenso, HIC • Lesões traumáticas antigas: placa amarela; podem virar foco epiléptico Laceração cerebral • Lesão cerebral aberta: perfuração de ossos e meninges com lesão tecidual, podendo haver perda de massa encefálica para o exterior • Complicações precoces: infecções • Complicações tardias: epilepsia pós-traumática (por aderências entre meninges e encéfalo) Encefalopatia traumática crônica (ETC) • “Demência do pugilista” (boxeador) • Traumas repetitivos ao longo do tempo • Esportes em que há impacto na cabeça • Encéfalos atróficos com ventrículos aumentados • Acúmulo de proteína tau hiperfosforilada em emaranhados neurofibrilares que se depositam em neurônios e células gliais • Clínica: perda de memória, alterações comportamentais e de personalidade, declínio cognitivo, parkinsonismo, distúrbios de fala e marcha Lesões vasculares traumáticas • Lesão vascular é um componente frequente do trauma do SNC • Resulta do trauma direto e da ruptura da parede do vaso, levando à hemorragia em diferentes locais anatômicos • Epidural (extradural), subdural, subaracnoide, intraparenquimatoso Hematoma epidural • Sangue coagulado entre a dura-máter e a calota craniana • Local mais comum: região temporoparietal (osso menos espesso) • Artérias meníngeas médias • Sangue arterial • Homens jovens • Intervalo lúcido entre o trauma e a piora neurológica • Aumento progressivo do hematoma; período assintomático de horas a dias • Sintomas surgem por compressão do parênquima: HIC, herniações e compressão do mesencéfalo • Hematomas que se expandem rapidamente: emergência neurocirúrgica • Hematomas pequenos e sem progressão: assintomático e absorvidos pelo organismo Hematoma subdural: • Sangue coagulado entra a dura-máter e a aracnoide • Mais frequentes que o epidural • Resulta de impacto sobre a cabeça • Agudo (até 48 h), subagudo (2 a 14 dias) ou crônico (>14 dias) • Ocorre pelo estiramento e ruptura das veias ponte (veias cerebrais superiores) • Local mais comum: convexidade dos hemisférios cerebrais • Comum em pacientes que apresentam quedas repetidas: idosos e etilistas • Nos idosos o parênquima é mais atrófico, o que aumenta a distância entre o encéfalo e a dura máter; as veias ficam mais estiradas e tensas • Agudo: morbimortalidade elevada, cefaleia e confusão mental, HIC • Crônico: especialmente em idosos; início da sintomatologia semanas ou meses após o trauma • Tratamento: pequenos (expectante) e grandes (cirúrgico) Síndrome do bebê sacudido • Síndrome da criança espancada • Causa mais comum de morte e sequela neurológica grave de agressão a bebês • Lesões múltiplas e variadas: LAD e contusão cerebral, rupturas basculares, hemorragia epidural na medula • Lesão cerebral hipóxica Traumatismo raquimedular • Pode ocorrer isoladamente ou associado ao TCE • Quanto mais alto o nível da lesão, mais grave é a repercussão • Tetraplegia: acima de C6 • Lesão de C4: possível comprometimento do nervo frênico (diafragma) • Hipoestesia e anestesia • Perda do tato, sensibilidade para calor/frio, para dor... • Incontinência urinária, incontinência fecal, constipação intestinal Neoplasias do SNC • Tumores primários são mais frequentes que os metastáticos • Ocorrem em qualquer faixa etária • Correspondem a 20% de todos os cânceres pediátricos • Qualquer neoplasia do SNC independentemente do grau histológico ou classificação, pode ter consequências letais se estiver situada em uma região crítica do cérebro • Os tumores são capazes de se espalhar através do LCR se eles invadirem o espaço subaracnóideo • Em adultos geralmente são supratentoriais • Em crianças geralmente são infratentoriais • Fatores de risco: radiação ionizante, deficiências imunitárias, síndromes genéticas... • Possuem alta morbimortalidade • Tumores de baixo grau podem progredir para alto grau • Nas crianças são mais agressivos e complicados • Grau I: baixo potencial proliferativo (“benigno”); circunscritos • Grau II: baixo grau de malignidade; difusos/infiltrativos • Grau III: grau intermediário de malignidade; difusos/infiltrativos • Grau IV: alto grau de malignidade; difusos/infiltrativos • Classificação com base em: densidade celular, atipia celular, índice mitótico, proliferação microvascular, necrose e alterações genéticas Tumores neuroepiteliais • Neuronais + gliomas • 40% das neoplasias primárias • 90% dos tumores neuroepiteliais sãooriginados das células da glia (gliomas) Gliomas: astrocitomas Astrocitoma pilocítico (Grau I) • Neoplasia de baixo potencial proliferativo (“benigno”) • Crescimento lento e expansivo (circunscrito) • Não infiltra o parênquima • Localizações mais comuns: nervo óptico, quiasma óptico, hipotálamo, tálamo e cerebelo • Localizações menos comuns: lobo temporal, tronco encefálico e medula espinal • Mais comum em crianças e adolescentes • Tratamento: ressecção cirúrgica • Mutações no proto-oncogene BRAF • Macroscopia: Bem delimitado Com frequência cístico Padrão sólido-cístico • Microscopia: Tumor bifásico com áreas compactas e áreas frouxas Áreas compactas: sólidas, com células fusiformes e prolongamentos longos ricos em fibras gliais Áreas frouxas: astrócitos estrelados, desprovidos de fibras gliais, ao redor de microcistos Fibras de Rosenthal e corpos granulares eosinofílicos Microscopia acima: observar padrão bifásico Obs: corpos granulares eosinofílicos são fibras de Rosenthal cortadas transversalmente • Clínica: Nervo e quiasma óptico: → perda de acuidade visual, exoftalmia, papiledema... (unilaterais) Hipotálamo: → Diabetes insípidus; puberdade precoce; obesidade; hipogonadismo; perda de massa muscular... → Hidrocefalia (compressão do III ventrículo) → HIC Cerebelo: → Alterações da marcha (ataxia), nistagmo.. → Hidrocefalia (compressão do IV ventrículo) → HIC → Compressão de tronco encefálico → coma/óbito Astrocitoma difuso (Grau II) • Neoplasia de baixo grau de malignidade • Crescimento infiltrativo/difuso • Mais comum em adultos entre 25 e 45 anos • Localizações: lobos frontais e temporais nos hemisférios cerebrais • Composto por astrócitos fibrilares, gemistocíticos e protoplasmáticos • Macroscopia: Tumores mal definidos, cinza e infiltrativos Se expandem e distorcem o cérebro invadido Pode apresentar cistos com material seroso ou gelatinoso • Microscopia: Densidade celular baixa a moderada Extensa rede fibrosa de processos astrocíticos tênues positivos para GFAP Fundo de aparência fibrilar Núcleos redondos/ovoides com atipias discretas Sem necrose • Clínica: Hemisférios cerebrais: crises convulsivas, déficits motores ou sensitivos, transtornos psiquiátricos, HIC Tronco encefálico: maior risco de óbito • A lesão pode evoluir para astrocitoma anaplásico e para glioblastoma Astrocitoma anaplásico (Grau III) • Neoplasia de grau intermediário de malignidade • Crescimento infiltrativo/difuso • Apresenta áreas focais ou extensas de anaplasia • Pode se originar de um astrocitoma difuso ou pode ser “de novo” (direto no grau III) • Mais comum em adultos entre 30 e 50 anos • Localizações e clínica semelhantes ao astrocitoma difuso • Macroscopia: Semelhante ao astrocitoma difuso Acentuado edema perilesional Efeito de massa mais intenso • Microscopia: Densidade celular moderada a elevada Atipias nucleares mais marcantes (pleomorfismo/anaplasia) Figuras de mitose frequentes Matriz fibrilar menos abundantes Capilares de paredes finas Sem necrose Glioblastoma – GBM (Grau IV) • Glioblastoma multiforme • Neoplasia de alto grau de malignidade • Crescimento infiltrativo/difuso • Tumor maligno primário mais frequente do SNC • Pior prognóstico e pior incidência • Pode originar-se dos astrocitomas difuso e anaplásico ou “de novo” (direto no grau IV) • Prevalência em homens de 45 a 70 anos • Localização preferencial: Hemisférios cerebrais (lobos frontais, temporais e parietais) Crianças: tálamo e tronco encefálico • Glioblastoma primário ou “de novo” (IDH wildtype) Mais frequente (90%) Idade mais avançada Evolução clínica rápida (<6 meses) Sem evidências clínicas de lesão precursora) Prognóstico pior • Glioblastoma secundário (IDH mutante) Pacientes mais jovens Evolução clínica mais prolongada (4 a 5 anos) Originam-se de lesões precursoras “menos” malignas (grau II ou III) Prognóstico “menor pior” • Na imagem: Massa de contorno irregular Anel de contraste periférico hiperdenso Áreas centrais hipodensas (necrose não capta contraste) • Macroscopia: Massa tumoral firme ou friável, sem brilho, granulosa, branco-acinzentada, com extensas áreas amarelas de necrose e focos de hemorragia Pode haver cistos com material seroso, hemorrágico ou necrótico Aspecto em asa de borboleta • Microscopia: Hipercelularidade e grande variabilidade celular (pleomorfismo/anaplasia) Células pequenas, grandes, fusiformes, multinucleadas Mitoses típicas e atípicas são muito frequentes Necrose em faixa com aspecto de pseudopaliçada Proliferação microvascular com hiperplasia endotelial (aspecto glomeruloide) Pouco matriz fibrilar Observar: proliferação microvascular glomeruloide complexa Imagem acima: necrose em pseudopaliçada • Clínica: HIC, prognóstico péssimo, alta recidiva • Tratamento: cirurgia + RXT/QT Outros gliomas Oligodendroglioma (Grau II) • Gliomas infiltrativos compostos por células similares a oligondendrócitos • Neoplasia de baixo grau de malignidade • Crescimento lento e longa evolução • Adultos entre 30 e 60 anos • Local mais comum: hemisférios cerebrais (lobos frontais, temporais e parietais) • Clínica: frequentemente crises convulsivas, pode haver sangramento e óbito • Predileção pela substância branca • Macroscopia: massas acinzentadas, gelatinosas bem circunscritas, frequentemente com cistos, hemorragia focal e calcificação • Microscopia: Células arredondadas, de cromatina uniforme com pequeno nucléolo e halo claro perinuclear (célula em “ovo frito”) Capilares delicados em “tela de galinheiro” Calcificações Mitoses raras ou ausentes Sem necrose Ependioma (Grau II) • Neoplasia de baixo grau de malignidade • Se desenvolvem mais frequentemente perto do sistema ventricular (IV ventrículo) revestido por células ependimárias • Em adultos pode estar na medula espinal • Clínica: hidrocefalia, HIC, disseminação liquórica • Macroscopia: massas sólidas ou papilares que se estendem a partir do assoalho do ventrículo; limites bem demarcados • Microscopia: Células com núcleos uniformes, ovais e de cromatina granular Pseudorrosetas perivasculares Células tumorais arranjadas em torno dos vasos Tumores embrionários Meduloblastoma (Grau IV) • Neoplasia de alto grau de malignidade • Origina-se no cerebelo e rapidamente infiltra estruturas vizinhas • Tumor maligno do SNC mais frequente na infância • Bastante indiferenciado • Clínica: hidrocefalia, HIC, ataxia, disseminação liquórica e vascular (para ossos, fígado e pulmões) • Prognóstico ruim • Pior em crianças novas • Macroscopia: bem delimitado, amolecido/friável, granular e róseo-acinzentado • Microscopia: Hipercelularidade Células pequenas, com citoplasma escasso e núcleos arredondados/ovoides, hipercromáticos “Tumor de células redondas, pequenas e azuis” Arranjo sólido Rosetas neuroblásticas de Homer Wright (verdadeiras) Figuras de mitose frequentes Capilares de pequeno calibre e delicados Necrose incomum, mas pode haver Imagem acima: rosetas neuroblásticas de Homer Wright Meningiomas • Tumor primário mais frequente do SNC • Originam-se das células meningoteliais que revestem a aracnoide • Mais frequente em mulheres • Predominantemente benignos (grau I) • Critérios de malignidade: infiltração do SNC, mitoses e necroses • Local mais comum: aderidos à dura-máter em qualquer ponto da superfície externa do encéfalo • Crescimento lento • Pode crescer mais rapidamente na gravidez (receptores de progesterona) • Em geral o prognóstico é excelente • Macroscopia: massa nodular, bemdelimitada, firme e pardo-acinzentada • Microscopia: → Meningotelial (sincicial) Aglomerados espiralados de células volumosas, com limites imprecisos (aspecto sincicial) Massas de células em agrupamentos compactos → Fibroso (fibroblástico) Células alongadas (fusiformes), dispostas em feixes paralelos ou que se entrelaçam Abundante deposição de colágeno entre as células → Transicional e psamomatoso Arranjos vorticilares Calcificações psamomatosas Metástases cerebrais • O SNC é sede frequente de metástases por via sanguínea; • Mais frequentes: Ca de pulmão, Ca de mama, Melanoma, Ca renal e Ca colônico. • Nódulos múltiplos, bem delimitados, nos hemisférios cerebrais, na junção entre córtex e substância branca; • Sobrevida: apenas 3 a 6 meses Referências: Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças - 9ª edição – Elsevier; Site Anatpat – Unicamp (http://anatpat.unicamp.br/pecasdc.html); Aulas de patologia médica I da FCMMG http://anatpat.unicamp.br/pecasdc.html
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