Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Injúrias físicas e químicas aos tecidos moles Prof. MSc. Gerson Paiva Neto Universidade FAMETRO Disciplina de Patologia Bucal 1. Linha alba §É uma alteração comum da mucosa jugal; §Associada à pressão, irritação por fricção, ou trauma por sucção da mucosa entre as superfícies vestibulares dos dentes. Características clínicas §A alteração consiste em uma linha branca que geralmente é bilateral; §Pode ser franzida e está localizada na mucosa jugal, ao nível do plano oclusal dos dentes adjacentes; §A linha é comumente restrita a áreas dentadas. Tratamento e prognóstico §Não é necessário nenhum tratamento para pacientes com linha alba; §Pode ocorrer regressão espontânea. 2. Morsicatio buccarum §Mastigação crônica da bochecha; §Mordiscadas crônicas produzem lesões localizadas mais frequentemente na mucosa jugal, entretanto, a mucosa labial e o bordo lateral da língua também podem estar envolvidos; §Prevalência elevada é encontrada em pessoas sob estresse ou que exibem alterações psicológicas; §A maioria dos pacientes é ciente do hábito, porém negam a injúria ou realizam o ato inconscientemente; §Mais predominante em mulheres. Características clínicas §As lesões são mais frequentemente encontradas bilateralmente; §Áreas brancas espessadas e fragmentadas com zonas intermediárias de eritema, erosão ou ulceração traumática focal; §As áreas de mucosa branca mostram uma superfície dilacerada e irregular; §O paciente relata que pode remover fragmentos de material branco da área envolvida. Morsicatio buccarum. Mucosa oral exibindo camada de paraceratina muito espessa com superfície dilacerada, colonizada por bactérias. Tratamento e prognóstico §Não é necessário tratamento das lesões orais e nenhuma complicação origina-se pela presença das alterações da mucosa; §Uma proteção acrílica que cubra as superfícies vestibulares dos dentes para eliminar lesões pode ser confeccionada, restringindo-se o acesso mastigatório à mucosa jugal e labial; §Psicoterapia como tratamento complementar. 3. Ulcerações traumáticas §Podem resultar de dano mecânico, como o contato com alimentos cortantes ou mordidas acidentais durante a mastigação, escovação excessiva, conversação, ou mesmo dormindo; §Algumas são auto-induzidas; §Os danos também podem ser o resultado de queimaduras térmicas, elétricas ou químicas; §As ulcerações podem permanecer por longos períodos de tempo,mas a maioria regenera em poucos dias; Ulcerações traumáticas §Na maioria dos casos de ulceração traumática, há uma fonte adjacente de irritação; §A própria manifestação clínica muitas vezes sugere a causa. Características clínicas §As ulcerações traumáticas crônicas simples ocorrem mais frequentemente na língua, lábios e mucosa jugal; §Podem ocorrer lesões da gengiva, palato e fundo de sulco vestibular por outras fontes de irritação; §Em muitos casos, a lesão desenvolve uma borda branca e corrugada de hiperceratose, imediatamente adjacente à área de ulceração; Características clínicas §Doença de Riga-Fede apresenta-se entre uma semana e um ano de idade; §A condição desenvolve-se associada a dentes natais ou neonatais; §Lesões na superfície ventral anterior da língua, ou a superfície dorsal tocam os incisivos anteriores inferiores adjacentes; Tratamento e prognóstico §Para ulcerações traumáticas que tenham uma óbvia fonte de injúria, a causa da irritação deve ser removida; §O cloridrato de diclonina ou películas de hidroxipropil celulose podem ser aplicados para alívio da dor; §Se a causa não é óbvia ou se o paciente não responde ao tratamento, é indicada a biópsia; §É típica a cicatrização rápida após a biópsia. Não é esperada recorrência; §O uso de corticosteróides é controverso; Tratamento e prognóstico §Na doença de Riga-Fede, a extração dos dentes temporários anteriores resolve as ulcerações. §Os dentes devem ser mantidos se estiverem firmes; §O desgaste incisal, a cobertura dos dentes com compósito resinoso, a confecção de uma placa protetora têm sido formas de tratamento tentadas com sucesso variável; 4. Queimaduras elétricas e térmicas §Na maioria das queimaduras elétricas que afetam a cavidade oral, a saliva age como um meio de condução e um arco elétrico flui entre a fonte elétrica e a boca; §O calor extremo, até 3.000° C, é possível, tendo como resultante uma destruição tecidual significativa; §As queimaduras térmicas ocorrem pela ingestão de alimentos ou bebidas muito quentes; §O forno de microondas tem sido associado a um aumento na frequência de queimaduras térmicas. Características clínicas §Nas queimaduras elétricas, a lesão mostra-se como uma área indolor, carbonizada e amarelada, que exibe pouco ou nenhum sangramento; §Um edema significativo desenvolve-se em poucas horas e pode persistir por 12 dias; §No quarto dia, a área afetada torna-se necrótica e começa a formar escaras. Pode desenvolver-se sangramento durante esse período, pela exposição da vascularização vital subjacente; Queimadura elétrica. Área amarela carbonizada de necrose ao longo da comissura labial esquerda. Características clínicas §As injúrias relacionadas às queimaduras térmicas por alimentos apresentam-se geralmente no palato ou na mucosa jugal posterior; §As lesões aparecem como zonas de eritema e ulceração que frequentemente exibem remanescentes necróticos do epitélio na periferia. Tratamento e prognóstico §Para os pacientes com queimadura elétricas da cavidade oral, a imunização contra o tétano, caso não tenha sido feita, é exigida; §Um antibiótico profilático (penicilina) é prescrito para prevenir uma infecção secundária nos casos graves; §Cicatrizes extensas e desfiguração são típicas nos pacientes sem tratamento; §A maioria das injúrias térmicas não traz grandes consequências e melhora sem necessidade de tratamento. 5. Injúrias químicas da mucosa oral §Um grande número de substâncias químicas e drogas entra em contato com os tecidos orais; §Uma porcentagem destes agentes é cáustica e pode causar danos clinicamente significativos; §Medicamentos mantidos na boca, ao invés de engolidos, são a principal causa de injúrias químicas; §O uso impróprio de alguns materiais utilizados pelos profissionais de saúde também constitui causa importante de injúrias químicas. Aspirina §A necrose da mucosa pela aspirina mantida na boca não é rara; §Área extensa de necrose epitelial esbranquiçada mais frequente na mucosa jugal. Injúrias químicas da mucosa oral Outros agentes quimicamente irritantes: §Peróxido de Hidrogênio; §Nitrato de prata; §Fenol; §Materiais endodônticos (Hipoclorito de Sódio) Queimadura por formocresol. Necrose tecidual secundária ao escoamento de material endodôntico entre o grampo que prende o dique de borracha e o dente. Características clínicas §Com a exposição leve, a mucosa afetada exibe uma aparência superficial pregueada e branca; §À medida que a duração da exposição aumenta, a necrose prossegue e o epitélio afetado separa-se do tecido subjacente e pode ser facilmente descamado; §A remoção do epitélio necrosado revela um tecido conjuntivo vermelho e sangrante, que será subsequentemente coberto por uma membrana fibrinopurulenta amarelada; Tratamento e prognóstico §Prevenção à exposição da mucosa oral aos materiais cáusticos; §Quando medicamentos cáusticos forem utilizados, o clínico deve instruir o paciente a engolir o remédio e não mantê-lo na cavidade oral por um tempo significativo; §As áreas superficiais de necrose melhoram completamente, sem deixar cicatrizes entre 10 e 14 dias após a interrupção do agente irritante; §Cobertura com pasta emoliente protetora ou uma película de hidroxipropil celulose. 6. Necrose anestésica §A administração de um anestésico local pode, em raras ocasiões, ser seguida de ulceração e necrose no sítio da injeção; §Tal necrose resulta de isquemia localizada; §Imperfeição da técnica e administração de excesso de solução é condenada; §Epinefrina pode representaruma possível causa de isquemia e necrose secundária. Características clínicas §A necrose anestésica geralmente se desenvolve vários dias após o procedimento e mais comumente apresenta-se no palato duro; §Uma área de ulceração bem circunscrita desenvolve- se no sítio da injeção; §A ulceração é frequentemente profunda e a cicatrização pode ser demorada. Tratamento e prognóstico §O tratamento geralmente não é necessário, a menos que a ulceração não regrida; §Recomenda-se o uso de um anestésico local sem epinefrina. 7. Hemorragia submucosa §Ocorre quando um evento traumático resulta em hemorragia e retenção de sangue no interior dos tecidos; §Hemorragias pequenas na pele, mucosa ou serosa são denominadas petéquias; §Se uma área ligeiramente maior está afetada, a hemorragia é denominada púrpura; §Qualquer acúmulo acima de 2 cm é denominado equimose; §Se o acúmulo de sangue no interior dos tecidos produz um volume, é denominado hematoma. Características clínicas §A hemorragia submucosa aparece como uma zona não-pálida elevada ou plana, com uma cor que varia do vermelho ou púrpura ao azul ou negro-azulado; §Uma leve dor pode estar presente; Petéquias. Hemorragia submucosa do palato mole causada por tosse violenta. Púrpura. Hemorragia submucosa da mucosa labial inferior, no lado esquerdo, secundária a um trauma grosseiro Tratamento e prognóstico §Não é necessário qualquer tratamento se a hemorragia não estiver relacionada a doença sistêmica e as áreas devem regredir espontaneamente; §Grandes hematomas podem precisar de várias semanas para regredir; §Se a hemorragia ocorrer secundariamente a uma desordem subjacente, o tratamento deve ser dirigido ao controle da doença associada. 8. Tatuagem por amálgama §O amálgama pode ser implantado no interior da mucosa oral, resultando em pigmentações clinicamente evidentes; §Áreas com abrasão prévia da mucosa podem ser contaminadas por pó de amálgama no interior dos fluidos orais; §Pedaços de amálgama fraturado podem cair em áreas de extração; § Fio dental contaminado com partículas de amálgama de uma restauração colocada recentemente pode produzir áreas de pigmentação nos tecidos gengivais; Tatuagem por amálgama §O amálgama dos procedimentos de retrobturação endodôntica se deixado no interior dos tecidos moles no sítio cirúrgico causará pigmentação; §Partículas metálicas finas podem ser conduzidas através da mucosa oral por pressão das turbinas de ar das brocas de alta rotação. Características clínicas §As tatuagens por amálgama aparecem como máculas ou, raramente, como lesões ligeiramente elevadas; §Podem ser pretas, azuis ou cinza; §As bordas podem ser bem-definidas, irregulares ou difusas; §Na maioria dos casos, somente um local encontra-se afetado, embora tatuagens múltiplas possam estar presentes; §Os sítios mais comuns são a gengiva, a mucosa alveolar e a mucosa jugal. Implantação de amálgama relacionada à endodontia Implantação de amálgama por fio dental. Tatuagem intraoral intencional. Tatuagem cultural na gengiva vestibular superior em um paciente do Senegal Tratamento e prognóstico §Nenhum tratamento é necessário se realmente tratar- se de pigmentação por amálgama; §Se a lesão não puder ser diagnosticada, a biópsia pode ser necessária para excluir a possibilidade de neoplasia melanocítica. 9. Lesões orais por substâncias de preenchimento estético §Cada vez mais comuns na rotina de consultórios e laboratórios de patologia §Gama de substâncias e procedimentos que as utilizam §Podem mimetizar um aumento neoplásico – Pacientes não lembram ou não se sentem confortáveis em falar sobre os procedimentos realizados §Mulheres de meia idade costumam ser mais afetadas Características clínicas §Mais comuns estão ligados a reações adversas agudas – equimose; eritema; prurido; dor e infecção local. §Reações graves são raras mas importantes – anafilaxia, trombose da artéria retiniana, paralisia facial e falência renal §Hidroxiapatita – Radiopacos em RX e TC Características histológicas § Varia de acordo com a substância utilizada § Varia de acordo com a imunogenicidade do material § Atlas criado pela AAOMP em 2019 (Miami) para ajudar o patologista na identificação do material Tratamento e prognóstico §Biópsia excisional quase sempre é realizada – Diagnóstico e tratamento; §Injeção intralesional e uso de corticoesteroides sistêmicos – bons resultados Referências
Compartilhar