Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Lesões Brancas Essas lesões surgem em decorrência de alterações no processo de renovação do epitélio (aumento da espessura de ceratina ou do tecido epitelial como um todo) e/ou da condensação de fibras do tecido conjuntivo, as quais tornam a vascularização da mucosa menos perceptível clinicamente. Passo 1. Será que essa área branca não é uma variação do padrão de normalidade? O leucoedema se caracteriza como uma área branca/acinzentada de limites pouco nítidos localizada na mucosa jugal. É comum ser bilateral e frequentemente desaparece quando a mucosa é tracionada A linha alba é uma estria (placa de apresentação linear) branca, única, mais ou menos pronunciada, que aparece na mucosa jugal na linha de oclusão, ou seja, onde dentes superiores e inferiores entram em contato. Principais Lesões Passo 2. A lesão branca é removida por raspagem? Passar uma gaze ou espátula de madeira sobre a lesão pode auxiliar bastante no processo diagnóstico. Se houver destacamento da área branca: QUEIMADURA ou CANDIDÍASE PSEUDOMEMBRANOSA Queimadura: diagnóstico é confirmado a partir da anamnese. A queimadura térmica é confirmada pelo paciente ao relatar o episódio em que houve o contato com alimento ou bebida quente. A queimadura química pode ser causada por substâncias colocadas sobre dentes com cárie que apresentam dor, medida tomada por alguns pacientes em busca do alívio da dor de origem pulpar. Candidíase: é uma infecção fúngica oportunista , geralmente associada ao fungo Candida albicans. A instalação da doença depende de um desequilíbrio no meio bucal , bem como fatores predisponentes: Sistêmicos: ● Fatores fisiológicos: infância e idade avançada ● Desordens endócrinas: diabetes mellitus e hipotireoidismo ● Fatores nutricionais: deficiência de ferro, folato e/ou vitamina B12 ● Discrasias sanguíneas e tumores malignos: leucemia aguda e agranulocitose ● Deficiências imunológicas: imunossupressão, AIDS, aplasia do timo Locais: ● Xerostomia: Síndrome de Sjögren, radioterapia e medicamentos ● Medicamentos: Antibióticos de amplo espectro e corticosteróides ● Próteses removíveis: trauma, dormir com as próteses, higiene deficiente ● Fumo A candidíase pseudomembranosa é apenas uma das apresentações clínicas. Outras formas incluem candidíase eritematosa, candidíase atrófica crônica, glossite romboidal mediana que se caracterizam como áreas vermelhas, a candidíase crônica hipertrófica , que se geralmente se apresenta como placas brancas de distribuição bilateral em região de retro comissura. Na maior parte dos casos, o tratamento da candidíase se baseia no uso de antifúngicos. Parece haver uma associação da forma pseudomembranosa com imunossupressão, justificando uma investigação sistêmica do paciente. Independentemente disso, os fatores predisponentes mencionados devem ser identificados e corrigidos (quando possível), para evitar insucesso no tratamento e persistência da doença. Passo 3. Analisando as lesões segundo suas características clínicas Trata-se de lesão única (focal) ou múltiplas (várias)? Há fator irritativo/traumático envolvido? Caso não haja desprendimento da área branca após a raspagem, definir se é única (focal) ou múltipla Lesões únicas e focais Placas ou manchas brancas de apresentação única ou isolada, com superfície irregular e espessura variável podem ser provocadas por fatores irritativos como dentes quebrados, grampos de prótese, ou atrito da base de uma prótese removível sobre o rebordo. CERATOSE FRICCIONAL: áreas brancas resultantes do aumento da produção de ceratina como uma reação frente a agentes traumáticos crônicos e a lesão é chamada. Causas: fricção local causada por aparelho ortodôntico, dentes fraturados, próteses removíveis, trauma de mastigação sobre rebordo edêntulo. Clinicamente são manchas ou placas de coloração branca e homogênea, assintomática, com superfície lisa ou rugosa. Diagnóstico clínico, confirmado quando a lesão desaparece no período de até 4 semanas após a remoção do agente irritativo. Conduta: remoção do agente causador, quando a remoção do agente causador não é possível, recomenda-se controle clínico periódico e considerar a possibilidade de fazer biópsia para descartar alterações mais graves como as observadas em leucoplasias. MORDISCAMENTO CRÔNICO DA MUCOSA (morsicatio), situação em que o paciente fica mordendo a mucosa como um hábito parafuncional ou devido a distúrbio psiquiátrico. Clinicamente são placas brancas de superfície irregular, associadas ou não a áreas de eritema, geralmente na mucosa jugal na linha de oclusão, língua e no lábio, única ou multiplas. Estes diagnósticos são confirmados quando a lesão desaparece após remoção do fator causador , o que pode levar até 4-6 semanas e ambas são consideradas lesões benignas. Caso não haja fator irritativo envolvido, a hipótese é de LEUCOPLASIA , lesão potencialmente maligna que deve ser submetida à biópsia parcial para permitir uma análise mais detalhada. Dependendo do resultado do exame histopatológico, define-se a conduta. Lesões que não apresentarem displasia epitelial, não necessitam remoção total obrigatoriamente. Para lesões com displasia epitelial, recomenda-se remoção total. O paciente deve ser acompanhado independentemente do resultado do exame histopatológico , tendo a lesão sido removida por completo ou não. Indica-se revisões a cada 3 meses para pacientes que apresentaram displasia epitelial e a cada 6 meses em casos onde não observou-se displasia epitelial. Orientar o paciente a respeito da necessidade de deixar de se expor aos fatores de risco fumo e álcool, os quais aumentam a chance de a lesão progredir para um tumor maligno. Lesões únicas e difusas O grupo de lesões que recobrem uma área maior de mucosa, as quais são definidas como difusas . - Localizada no lábio? A QUEILITE ACTÍNICA é uma lesão com risco de transformação maligna , ou seja potencialmente maligna devido à exposição crônica à radiação UV (radiação solar). Sua aparência clínica é caracterizada como aperda de nitidez do limite entre pele e mucosas do vermelhão do lábio associada ou não a áreas acastanhadas, áreas vermelhas (erosivas), descamativas, ulceradas e de placas brancas com bordas elevadas ou endurecidas podem ser observadas, indicando agravamento das lesões e, se persistentes ao tratamento conservador (hipoglós, bepantol, filtro solar labial), devem ser biopsiadas. Nos casos de queilite actínica leve, usar protetor labial com FPS 30 diariamente para e chapéu de aba larga (especialmente os pacientes que têm ocupação em ambiente externo ou que se expõe ao sol diariamente). Essas medidas podem evitar o agravamento das lesões. Em casos de queilite actínica mais grave, uso de dexpantenol (bepantol creme, 1 vez/dia, à noite)para recuperar a hidratação do lábio a partir da remoção das áreas descamativas. Caso não haja reversão, áreas de placas, erosões ou úlceras devem ser biopsiadas, pois podem representar um carcinoma espinocelular inicial. - Localizada no palato? ESTOMATITE NICOTÍNICA , área branca, única e difusa com pontos avermelhados (ductos de glândulas salivares menores inflamados como uma reação ao calor) observada no palato, resultante do calor crônico do provocado pelo tabaco ou por alguma bebida quente que é consumida com regularidade (café, chá, chimarrão). Essa lesão é considerada benigna, não oferecendo risco de malignização. - Foram descartadas as hipóteses mencionadas acima? LEUCOPLASIA , importante lesão potencialmente maligna que pode afetar qualquer região da boca e se apresentar também de forma difusa, recobrindo uma área extensa da mucosa. Lesões múltiplas - Existem fatores irritativos envolvidos? O trauma de mastigação sobre mais de uma região do rebordo alveolar edêndulo é possível. O mesmo raciocínio vale pelo mordiscamento intencional, que é bilateral em muitos casos. Dessa forma, dependendo do que for observado em boca e do que o paciente relatar na anamnese, as hipóteses de CERATOSE FRICCIONAL e MORDISCAMENTO CRÔNICO podem ser consideradas - Mais pessoas da família apresentam a lesão? Iniciou na infância ou adolescência? NEVO BRANCO ESPONJOSO é uma genodermatose (doença dos tecidos de revestimento determinada geneticamente), doença rara, que tem início na infância ou adolescência e afeta mais de uma pessoal na família. Clinicamente são placas simétricas, difusas, espessas, corrugadas assintomáticas que se apresentam bilateralmente na mucosa jugal e que não saem à raspagem. Sem necessidade de tratamento. - Observa-se linhas ou placas brancas com distribuição bilateral: (a) na borda da língua com aspecto de pelos? LEUCOPLASIA PILOSA é uma lesão de origem infecciosa causada pelo vírus Epstein-Barr (EBV) em pacientes imunossuprimidos. Dentre as causas de imunossupressão, o HIV é uma das mais comuns. O aspecto clínico da lesão é típico, que varia de estrias brancas verticais isoladas até placas na borda da língua, bilaterais e com distribuição simétrica. Essas lesões não cedem à raspagem. Em geral, não há necessidade de tratamento específico, havendo regressão das lesões quando o quadro imunológico do paciente é estabilizado. Se o paciente apresentar desconforto, o tratamento com antifúngicos (aciclovir) pode ser recomendado. É importante fazer o diagnóstico diferencial com líquen plano , o qual se caracteriza pela presença de lesões estriadas, placas, áreas erosivas e/ou úlceras em vários sítios bucais. No caso do líquen plano , a presença de lesões apenas na língua é improvável. (b) na região de retrocomissura? CANDIDÍASE HIPERPLÁSICA CRÔNICA (também chamada candidíase leucoplasia): presença de placas brancas não removíveis por raspagem na região anterior da mucosa jugal (retro comissura) com distribuição simétrica. Essa lesão é controversa, pois alguns autores a consideram como uma forma incomum de candidíase (não removível à raspagem como a forma pseudomembranosa) enquanto outros acreditam que se trate de uma leucoplasia com infecção por Candida sobreposta. Algumas vezes as lesões desaparecem por completo após o tratamento antifúngico. Em outros casos, a remissão após o tratamento é parcial. Quando a lesão persiste, a biópsia está indicada, sendo frequente a presença de displasia epitelial. Caso haja displasia epitelial, está indicada a remoção completa da lesão. Independentemente disso, o paciente deve ser submetido a controle clínico periódico. (c) na mucosa jugal ? A presença de lesões com essa descrição indica a possibilidade de LÍQUEN PLANO , uma doença mucocutânea, ou seja, que pode afetar a pele e mucosas de diferentes regiões da boca. Aparentemente, essa doença tem natureza autoimune e apresenta momentos de piora e melhora ao longo do tempo. O aspecto mais característico é de lesões estriadas de aspecto rendilhado na mucosa jugal e língua de distribuição bilateral, assintomática, mais frequente em mulheres, curso crônico com períodos de remissão e exacerbação. Contudo, a presença de lesões em mucosa jugal não é obrigatória, podendo haver lesões brancas, erosivas e/ou ulceradas na língua, lábio, gengivas ou outros sítios bucais. Dificilmente se observa lesões em um único sítio. Um paciente com líquen dificilmente fica sem nenhuma lesão. Mesmo nas fases menos ativas da doença, lesões brancas (placas ou estrias) são encontradas em alguma parte da boca. A biópsia parcial é indicada para confirmação do diagnóstico, a não ser que a apresentação clínica seja muito típica, ou seja, manifestação de estrias em mucosa jugal bilateral sem nenhuma outra manifestação em boca. A presença de lesões erosivas/ulceradas ou de agravamento dos sintomas (dor, ardência) são interpretadas como exacerbação da doença. Nesses momentos, o tratamento com corticosteróides deve ser recomendado, a primeira escolha é pelo uso de medicamentos de ação tópica. Para casos em que não haja boa resposta frente ao uso de corticosteróides, os medicamentos de uso sistêmico podem ser utilizados. Alguns pacientes apresentam lesões erosivas (vermelhas) exclusivamente nas gengivas, manifestaçãodenominada gengivite descamativa. Essa manifestação não é específica para o líquen plano. Pode haver manifestações em pele, as quais se caracterizam como pápulas avermelhadas de aspecto poligonal que coçam e que afetam preferencialmente as superfícies flexoras dos braços ou das pernas. Unhas ou outras mucosas (p. ex.: nasal, genital) também podem ser afetadas. A identificação, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes é fortemente recomendável, pois alguns autores consideram que a doença apresenta potencial de malignização. A presença de áreas erosivas ou ulceradas que não desaparecem servem de alerta para a necessidade de realização de biópsia para descartar essa possibilidade. - O paciente apresenta sinais/sintomas sistêmicos? Durante a anamnese, algumas informações podem sugerir que se trata de uma doença infecciosa. Se o paciente refere dor de garganta, febre, coceira na pele (particularmente nas costas), dor de cabeça, mal estar, dor muscular e apresenta placas múltiplas esbranquiçadas, sensíveis, na língua, lábios, mucosa jugal e palato, deve-se pensar na possibilidade de SÍFILIS SECUNDÁRIA. Ao exame extrabucal, pode ser percebida linfadenopatia (presença de linfonodos palpáveis/ com aumento de volume) indolor. Além das lesões bucais, máculas vermelhas, especialmente nas palmas das mãos e nas plantas dos pés, podem estar presentes. Essas lesões não apresentam sintomas e tendem a descamar deixando áreas acastanhadas. Em suspeita de sífilis, devem ser solicitados exames de sangue (hemograma, VDRL e FTA-ABS). O tratamento envolve o uso de penicilina e é prescrito pelo médico. - Se todas hipóteses anteriores descartadas... LEUCOPLASIA : lesões de placas brancas única ou múltiplas, assintomáticas, comuns em mucosa jugal, gengiva e vermelhão do lábio. Indicam maior agressividade: localização em língua ou assoalho de boca, tamanho maior do que 2 cm no maior diâmetro (somando as lesões), aspecto clínico não homogêneo (misturar cor branca e vermelha ou ter superfície irregular) e presença de displasia epitelial ao exame microscópico. É essencial realizar biópsia e exame histopatológico, sendo a área de biópsia definida com base em critérios clínicos.
Compartilhar