Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Ulcerações aftosas recorrentes (UAR) • A estomatite aftosa recorrente é uma das doenças mais comuns da mucosa oral. A prevalência relatada na população em geral varia de 5% a 66%, com uma média de 20%. • Diversos fatores etiológicos - “coisas diferentes em pessoas diferentes”: ▪ Alergias; ▪ Predisposição genética; ▪ Anormalidades hematológicas; ▪ Influências hormonais; ▪ Fatores imunológicos; ▪ Agentes infecciosos; ▪ Deficiências nutricionais; ▪ Suspensão do fumo; ▪ Estresse (mental e físico); ▪ Trauma. • Patogenia: Destruição da mucosa oral devido a uma reação imunológica mediada por linfócitos T, com produção de fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa). • As ulcerações aftosas são observadas mais frequentemente em crianças e adultos jovens, com aproximadamente 80% dos indivíduos afetados relatando suas primeiras ulcerações antes dos 30 anos de idade. • São reconhecidas três variantes clínicas da estomatite aftosa: Menor, Maior e Hepertiforme. • São as mais comuns e representam o padrão presente em mais de 80% dos indivíduos afetados. • Os pacientes com ulcerações aftosas menores são os que sofrem menos recidivas e, individualmente, as lesões exibem a duração mais curta das três variantes. • As úlceras surgem quase de forma exclusiva na mucosa não queratinizada e podem ser precedidas por uma mácula eritematosa em associação com sintomas prodrômicos de queimação, prurido ou pontadas. • A ulceração demonstra uma membrana fibrinopurulenta removível, branco-amarelada, que é circundada por um halo eritematoso. • Classicamente, as ulcerações medem entre 3 e 10 mm de diâmetro, apresentam uma taxa de recorrência variável e curam-se sem deixar cicatriz em sete a 14 dias. Doenças imunológicas da mucosa oral D i a g n ó s t i c o e m O d o n t o l o g i a Nesse caso, a afta pode surgir devido a um trauma, mas não necessariamente esse trauma está ligado diretamente. Um trauma pode influenciar na aparição da afta. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto • As ulcerações aftosas maiores são maiores do que as aftas menores e mostram a maior duração por episódio. • As ulcerações são mais profundas que a variante menor, medem de 1 a 3 cm de diâmetro, levam de duas a seis semanas para curar e podem causar cicatriz. • O número de lesões varia de um a 10. Qualquer área de superfície oral pode ser afetada, mas a mucosa labial, o palato mole e as fauces amigdalianas são as mais comumente envolvidas. • O começo da afta maior ocorre após a puberdade e episódios recorrentes podem continuar a desenvolver- se por 20 anos ou mais. Com o tempo, a formação de cicatrizes pode se tornar significante e em raras circunstâncias levar à restrição da abertura da boca. • As ulcerações aftosas herpetiformes são as que apresentam um número maior de lesões e uma maior frequência de recidivas. • As lesões individuais são pequenas, com uma média de 1 a 3 mm de diâmetro, com até 100 úlceras presentes em uma única recidiva. • Devido ao seu pequeno tamanho e grande número, as lesões apresentam uma semelhança superficial a uma infecção primária pelo HSV, levando à confusa designação herpetiforme – fazer diagnóstico diferencial. • As ulcerações cicatrizam-se dentro de sete a 10 dias, mas as recidivas tendem a ser pouco espaçadas. • Apesar de a mucosa móvel não queratinizada ser afetada com mais frequência, qualquer superfície da mucosa oral pode ser acometida. • Há predominância pelo sexo feminino e o seu início ocorre tipicamente na fase adulta. As lesões são diagnosticadas como aftas simples quando aparecem em pacientes com poucas lesões, que se curam dentro de uma a duas semanas e recorrem com pouca frequência. Ao contrário, pacientes com aftas complexas têm ulcerações bucais múltiplas (três ou mais) e quase constantes, em geral se desenvolvendo à medida que as lesões mais antigas se resolvem. Para diferenciar as ulcerações herpertiformes da herpes: - A herpes são bolhas que acabam se transformando em aftas. - A herpertiforme já surge como uma afta. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto • Nenhum procedimento laboratorial fornece o diagnóstico definitivo. O diagnóstico é feito pela apresentação clínica. • Investigação de alterações sistêmicas associadas. • Características histopatológicas inespecíficas – processo inflamatório inespecífico na observação. • Realizar uma biopsia para fazer um diagnóstico diferencial. • A história médica do paciente deve ser revisada para que os sinais e sintomas de qualquer doença sistêmica possam ser associados às ulcerações semelhantes a aftas. • Nos pacientes com doença leve, a base da terapia é o uso de corticosteroides tópicos. • Corticosteroides tópicos: ▪ Elixir de dexametasona (0,5mg/ml) ▪ Gel de dipropionato de betametasona a 0,05% ▪ Gel de fluocinonida a 0,05% ▪ Injeção intralesional de acetonida triancinolona ▪ Gel de propionato de clobetasol a 0,05% • Em casos resistentes, pode ser necessário o uso de corticosteroides sistêmicos para suplementar os medicamentos tópicos e obter o controle das lesões. • Corticosteroides sistêmicos: ▪ Suspensão oral de prednisolona ▪ Comprimidos de prednisona • As ulcerações aftosas maiores são mais resistentes à terapia e com frequência justificam o uso de corticosteroides mais potentes A, Ampla ulceração na mucosa jugal anterior esquerda. B, A mesma lesão após cinco dias de terapia com xarope de betametasona, utilizado pelo método bochechar e engolir. O paciente relatou estar livre da dor no segundo dia de terapia. A ulceração cicatrizou completamente durante a semana seguinte. Pênfigo: • É um grupo de doenças muco-cutâneas, vesículobolhosas e raras, mediadas por mecanismos auto-imunes. • Sua manifestação é mais variada na pele do que na boca. A condição conhecida como pênfigo representa quatro doenças relacionadas de origem autoimune: 1. Pênfigo vulgar 2. Pênfigo vegetante 3. Pênfigo eritematoso 4. Pênfigo foliáceo Somente as duas primeiras doenças afetam a mucosa bucal. O pênfigo vegetante é raro e, atualmente, a maioria dos autores acredita que seja uma simples variante do pênfigo vulgar. • Dessas desordens, o pênfigo vulgar é o mais comum. • Estima-se que a incidência é de um a cinco casos por milhão de pessoas diagnosticadas por ano na população geral. • Se não for tratado, muitas vezes resulta na morte do paciente. • As lesões bucais frequentemente são o primeiro sinal da doença, consideradas as mais difíceis de resolver com o tratamento – o alvo dos anticorpos estão em maior quantidade no epitélio oral. • As bolhas que caracterizam essa doença ocorrem devido a uma produção anormal, por razões desconhecidas, de autoanticorpos que são dirigidos contra glicoproteínas de superfície da célula epidérmica, a desmogleína 3 e a desmogleína 1. • Essas desmogleínas são componentes dos desmossomos (estruturas de adesão entre as células epiteliais), e os autoanticorpos se aderem a esses componentes desmossomais, inibindo de modo eficaz a interação molecular que é responsável pela aderência. • Como resultado desse ataque imunológico aos desmossomos, uma fenda se desenvolve dentro do epitélio, causando a formação de uma bolha intraepitelial. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto • Os pacientes normalmente queixam-se de dor na mucosa bucal, e o exame clínico exibe erosões superficiais e irregulares e ulcerações distribuídas de forma aleatória na mucosa bucal. Essas lesões praticamente podem afetar quase qualquer local da mucosa bucal, embora o palato, amucosa labial, a mucosa jugal, o ventre da língua e a gengiva sejam envolvidos com maior frequência. • Acima de 50% dos pacientes desenvolvem lesões bucais antes do aparecimento das lesões cutâneas, algumas vezes em um tempo igual ou superior a um ano. • As lesões de pele surgem como vesículas e bolhas flácidas que se rompem com rapidez, em geral dentro de algumas horas a poucos dias, deixando uma superfície desnuda e eritematosa. • Desmogleína 3: ▪ Glicoproteína transmembrana ▪ Expressão ↑ na mucosa bucal • Uma das características do pênfigo vulgar é que uma bolha pode ser induzida em pele de aparência normal, caso seja exercida uma pressão lateral firme. Isto é chamado de sinal de Nikolsky positivo. • Observar manifestações clínicas • Exame histopatológico • Citologia esfoliativa • O diagnóstico do pênfigo vulgar deve ser realizado em fase inicial do curso da doença, pois nessa fase o controle é geralmente alcançado com maior facilidade. • Raramente observam-se bolhas. • Erosões e ulcerações dolorosas. • Atinge a mucosa labial e jugal, palato, ventre da língua e gengiva. A Desmogleína é uma proteína que faz parte dos desmossomos. Os desmossomos são as junções intercelulares encontradas entre as células epiteliais (que precisam estar bem unidas). Os anticorpos são direcionados para destruir a desmogleína. Sem a desmogleína, o desmossomo não consegue unir as células (elas ficam frouxamente aderidas). Assim, qualquer trauma consegue separar essas células, causando a formação de bolhas (pois acaba entrando líquido na área de separação dessas células). As bolhas são causadas espontaneamente ou diante de pequenas lesões (como um simples toque). Elas podem se formar em qualquer parte que tenha epitélio no corpo. Procurar por células cheias de líquido no exame histopatológico e na citologia esfoliativa. Lesões em pele podem ajudar no diagnóstico. Sempre encaminhar o paciente para um dermatologista. As lesões não são pruriginosas (não coçam). O sinal de Nikolsky consiste em fazer uma pressão no epitélio que irá formar automaticamente uma bolha. É um sinal patognomônico de pênfigo. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto • Bolha flácida de conteúdo claro. • Erosões. • Qualquer localização. • Não pruriginosa. • Dolorosa. • Os espécimes de biópsia do tecido perilesional mostram uma separação intraepitelial característica, que ocorre logo acima da camada de células basais do epitélio. • As células da camada espinhosa do epitélio de superfície apresentam-se tipicamente separadas, uma característica que tem sido denominada acantólise, e as células soltas tendem a assumir uma forma arredondada. • Fenda supra-basal (o espacço formado). • Sem tratamento adequado, as lesões bucais e cutâneas tendem a persistir e progressivamente vão envolvendo maior área de superfície. • O pênfigo é uma doença sistêmica; portanto, o tratamento consiste basicamente em corticosteroides sistêmicos (geralmente prednisona), muitas vezes em combinação com outros medicamentos imunossupressores. • Corticóide tópico: ▪ Betametasona. ▪ Posologia: Utilizam-se bochechos com 10ml da solução diluída em água de 6/6 horas, durante 1 mês. • Corticóide intralesional: ▪ Acetonida de triancinolona. ▪ Posologia: Injeta na lesão 5-10mg/ml a cada 15 dias. • Corticóide sistêmico: ▪ Prednisona. ▪ Posologia: 20-40mg/dia, durante 20 dias. • O pênfigo pode sofrer completa resolução, embora as remissões e as exacerbações sejam comuns. Também fazem parte do tratamento: • Imunossupressores. • Antiobióticos de largo espectro. • Orientação de higiene oral. • Acompanhamento e encaminhamento. A acantólise é o acúmulo de líquido – separando o epitélio do tecido conjuntivo. É onde entra o líquido e há a formação da bolha. Realizar sempre o encaminhamento para manter controle da doença, pois não há cura (trata-se de uma doença autoimune). Encaminhar para o imunologista para realização do tratamento com imunossupressores. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Líquen plano: • O líquen plano é uma doença dermatológica crônica relativamente comum, que afeta frequentemente a mucosa bucal. • Doença muco-cutânea, inflamatória, crônica e imunologicamente mediada. • O nome peculiar dessa condição foi dado pelo médico britânico Erasmus Wilson, que foi o primeiro a descrevê- la, em 1869. Provavelmente Wilson pensava que as lesões cutâneas se assemelhavam aos liquens que crescem sobre as rochas, para merecerem essa denominação. • Não se conhece exatamente a sua causa. Não se tem certeza se é realmente uma doença autoimune. Pois, ainda não foi identificado qual é o antígeno responsável pelas lesões (se é interno ou externo). Nada foi comprovado quanto a isso. • É mais comum do que o Pênfigo. • Alguns pacientes acabam desenvolvendo lesões orais. • Há uma possível relação com o estresse e ansiedade. Mas pode ser que o estresse não tenha influência na patogênese do líquen plano. • A maioria dos pacientes com líquen plano engloba adultos de meia-idade, sendo raro o acometimento em crianças. As mulheres são mais afetadas, normalmente em uma razão de 3:2 em relação aos homens na maioria das séries de casos. • 1,4% dos doentes dermatológicos. • 2/3 dos casos: 30-60 anos. • As lesões de pele do líquen plano são classicamente descritas como pápulas poligonais, púrpuras e pruriginosas. • Há várias manifestações clínicas. • Diagnóstico apenas com os achados clínicos. • Exame histopatológico. • Lesões cutâneas (4P): ▪ Pápulas ▪ Pruríticas ▪ Poligonais ▪ Purple (arroxeadas) • Essas lesões podem apresentar estrias brancas que formam um redilhado (tanto na pele quanto nas lesões intraorais) – Estrias de Wickham. Elas são melhor observadas quando se umedece a lesão. • Lesões em mucosas. • Lesões Orais: ▪ Ocorre em 60-70% dos casos. ▪ Como única manifestação: 20-30% dos casos. • Formas de apresentação: ▪ Reticular ▪ Papular ▪ Placa ▪ Bolhosa ▪ Erosiva • A biópsia é indicada para confirmar o diagnóstico. As lesões orais surgem de várias formas, mas as mais comuns são a reticular (coloração branca) e a erosiva (coloração vermelha). • 0,5 a 5% dos pacientes LP oral → CEC: ▪ Fatores de risco: doença de longa duração, LP erosivo, uso de tabaco. ▪ Maioria são carcinoma in situ ou microinvasivo. No líquen plano reticular as estrias brancas entrelaçadas aparecem bilateralmente na região posterior da mucosa jugal. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto A, Uma mulher de meia-idade com líquen plano reticular leve na mucosa jugal do lado esquerdo. B, A mesma paciente após duas semanas, mostrando exacerbação das lesões. Períodos de melhora e de piora são característicos do líquen plano. . A ulceração da mucosa jugal exibe estrias queratóticas periféricas radiadas, características do líquen plano erosivo bucal. • As características histopatológicas do líquen plano são típicas, porém não específicas. • A destruição da camada de células basais do epitélio (degeneração hidrópica) também é evidente, sendo acompanhada por um intenso infiltrado inflamatório semelhante a uma faixa, com o predomínio de linfócitos T. • Projeções “dentes de serra” são visualizadas. • As características imunopatológicas do líquen plano são inespecíficas. A maioria das lesões mostra a deposição de uma banda desalinhada de fibrinogênio na zona da membrana da basal. • O líquen plano reticular normalmente não produz sintomas e nenhum tratamento é necessário.Na maioria das vezes, os pacientes afetados podem ter uma candidíase sobreposta e, neste caso, queixarem-se de uma sensação de ardência na mucosa bucal. A terapia antifúngica é necessária nesses casos. • O líquen plano erosivo com frequência é incômodo para o paciente, devido às feridas abertas presentes na cavidade bucal. Por ser uma condição imunomediada, os corticosteroides são recomendados. • Corticóide tópico: ▪ Betametasona. ▪ Posologia: Utilizam-se bochechos com 10ml da solução diluída em água de 6/6 horas, durante 1 mês. • Corticóide intralesional: ▪ Acetonida de triancinolona. ▪ Posologia: Injeta na lesão 5-10mg/ml a cada 15 dias. • Corticóide sistêmico: ▪ Prednisona. ▪ Posologia: 20-40mg/dia, durante 20 dias. • Imunossupressores. Essa condição patológica não possui cura. É importante manter o acompanhamento e controle da doença. P4 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Reação liquenoide: • Condição que afeta a pele e as mucosas após contato, ingestão ou inalação de determinada droga e de alguns metais, que regride após a remoção dos fatores desencadeantes. • Características clínicas e histopatológicas semelhantes ao LP. Mas possui lesões assimétricas (diferente do LP). • Exemplos: ▪ Antimaláricos. ▪ Hipoglicemiantes orais. ▪ Anti-hipertensivos: • Beta-bloqueadores. • Bloqueadores dos canais de cálcio. ▪ Metais (ouro, mercúrio, cobre, zinco, estanho, bismuto). • Características clínicas. • Histopatologia. • História do paciente. Nas mucosas: • Lesões semelhantes ao LP, assimétricas. Pode apresentar padrão reticular, em placa ou erosivo. Na pele: • Pápulas violáceas, freqüentemente, sem as estrias de Wickham e sem a distribuição característica do LP. Lesões desparecem após a remoção do agente causador. • Remoção do fator desencadeante. • Se for por conta de restauração em amálgama, deve- se trocar ou polir. • Se for por medicação, suspender ou trocar a droga, seguindo orientação médica. • Acompanhamento. Referências: NEVILLE, Brad W. et al. Patologia oral e maxilofacial. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 912 p. Aula teórica de Diagnóstico em Odontologia. Faculdade Maurício de Nassau, odontologia, 2020.
Compartilhar