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Fichamento "A entrevista clínica um espaço de intersubjetividade"

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Fichamento “A Entrevista Clínica: UM ESPAÇO DE INTERSUBJETIVIDADE” De Mônica Medeiros e Leanira Kesseli
“Assim, consideramos importante e fecundo abrir um espaço de reflexão sobre a entrevista como ‘técnica de conversação’ que tem como objetivo fundamental possibilitar ao psicólogo buscar informações ou dados a respeito do seu cliente, paciente, aluno, candidato, instituição, etc.”
“Uma caareecterísticas enfatizada por autores como Bohoslavsky (1977), Ribeiro (1986), Bleger (1976) e Vallejo-Nágera (2001) é que em qualquer tipo de entrevista haverá uma demanda de algo a quem se supõe que possa corresponder a ela. Esta demanda poder ser por uma informação sobre algo ocorrido, uma simples opinião sobre uma situação qualquer ou a solicitação de uma ajuda especializada diante da constatação de um sofrimento físico ou psíquico.”
“No que diz respeito, portanto, à dimensão psíquica, pensamos que a entrevista clínica sempre contempla dificuldades e complexidades pelo fato de que o ser humano é surpreende e incapaz de ser contido ou avaliado dentro de um sistema predeterminado. Dificilmente poderá o profissional prever o que se sucederá emuma entrevista em ação, mesmo em referenciais que pressupõem uma certa de padronização de etapas. Até mesmo nestas ‘previstas e planejadas’ o entrevistador poderá se deparar com o inesperado: um questionamento, uma desistência, uma nova descoberta, cabendo a ele, munido de uma técnica e uma teoria que lhe dê sustentação, administrar tais situações.”
“Basicamente a entrevista é um procedimento utilizado pelo psicólogo com o objetivo de conhecer, de buscar dados para intervir em uma dada situação, entendendo-se esta intervenção sempre determinada pela especificidade de cada situação. A entrevista tem por finalidade fazer um levantamento de informações que possibilite relacionar eventos e experiências, fazer inferências, estabeler conclusões e tomar decisões.”
“Nessa situação, a entrevista, ao outorgar diferente diferentes papéis ao entrevistado e ao entrevistador, cira condições para que, mediante a criação de um espaço de diálogo, se tenha acesso à subjetividade em forma de discurso, seja ele verbal ou não-verbal.”
“Entendemos por discurso a comunicação de algo que vai além das palavras, refere-se a uma situação de comunicação de algo, modos pelos quais a pessoa comunica algo a alguém. Atrasos, esquecimentos, mudanças bruscas de assunto, posições de corpo, gestos e até mesmo silêncios fazem parte desse rol de inúmeras possibilidades de comunicação.”
“Nesse sentido, independente do referencial teórico que a sustente, torna-se importante mencionar e salientar a necessidade de que a entrevista clínica esteja de acordo com o objetivo específico a que se propõe e à orientação teórico- técnica do entrevistador.”
“A prática da clínica possibilita a experiência de confrontação teoria viabilizando reformulações, transformações que configuram uma situação de interdependência e retroalimentação entre elas. Esse movimento caracteriza a dinamicidade existente entre teoria, método e técnica.”
“Ao referir o termo epistemologia na figura 1, procuramos caracterizar os construtos teóricos como evidencia a origem do termo epistem: colocar-se em boa posição. Colocar-se em boa posição para apropriar-se de um saber, que, mediado pelos recursos da técnica, resulta em uma prática clínica.”
“Pelo fato de a entrevista clínica não ser uma técnica única, ela estará sempre intimamente relacionada com a forma do entrevistador compreender os fenômenos humanos, além do que os diferentes objetivos de cada tipo de entrevista serão determinantes em suas estratégias, possibilidades e limites. Pensamos que teoria e prática devem estar sempre inter-relacionadas. É necessária uma constante vigilância para que não se crie uma dissociação entre o ser clínico e o ser teórico. O risco de privilegiar a teoria resulta em um distanciamento da relação com a clínica e, da mesma maneira, privilegiar a clínica faz com que a prática se converta em um fazer sem saber.”
“Hornstein (1990) destaca que estas situações de distorção trazem o risco de que toda a teoria se formalize como 1dogma e toda a prática ritualize-se como receita’. Dessa forma pensamos que a interdependência entre teoria e prática é o que viabiliza a manutenção da característica investigativa que deve predominar na situação da entrevista. Preserva-se assim a possibilidade de nunca perder de vista a singularidade dos encontros humanos.”
“Evidenciar o aspecto de singularidade permite a interrogação sobre o complexo processo de constituição de subjetividade ao mesmo tempo em que se resgata a importância das trocas intersubjetivas na construção do ser humano. Ao optarmos por uma concepção de sujeito próxima À ideia de um sistema aberto que recebe e sofre influência do que está fora dele, a dimensão social deixa de se referir apenas à noção de sociedade ou de outras pessoas para incluir ‘relações situadas no tempo histórico, em condições determinantes de vida, permeadas de significações e linguagens específicas’ (BOCK, 1997, p.39). Resgatar ou abrir espeço para a singularidade do entrevistado em relação à sua história é também abrir espaço para a singularidade de que marcará a situação de encontro entre aquele entrevistador e aquele entrevistado.”
“A existência de um pré-saber inviabiliza o verdadeiro processo de investigação e transforma a situação de entrevista em um estéril espaço de confirmação que empobrece a relação e a própria entrevista como instrumento técnico.”
“É a entrevista um instrumento fundamental para o estabelecimento, desenvolvimento e manutenção de uma relação de ajuda. Cabe ressaltar a importância que terá o terapeuta, considerando não apenas seu conhecimento teórico e suas habilidades profissionais, mas também tendo presente sua responsabilidade na condução do processo.”
“Tanto o entrevistado quanto o entrevistado quanto o entrevistador são portadores de determinados conhecimentos que os caracterizam em suas diferenças. Por um lado, o entrevistado possui os dados de sua história, suas lamentações, seus sintomas, seus motivos e, por outro, o entrevistador é detendo de subsídios teóricos e técnicos que o habilitam na ajuda ao primeiro.”
“Ao contrário, o reconhecimento desta assimetria deve servir de reforço à responsabilidade ética e técnica que cabe ao terapeuta, uma vez que de seu lado os saberes vão, como bem assinala Bueno (2002), “desde o que pode estar sob seu domínio – técnica, objetivos, fins, conhecimentos teóricos – até o que lhe é atribuído pelo contexto ou pelo interlocutor.’.”
“A observância aos aspectos éticos, somada à experiência, ao conhecimento e à competência do terapeuta, contribuirá de forma significativa, para a adequação na condução do processo no qual ambos estão inseridos. A interdependência existente entre as habilidades interpessoais e o uso da técnica exige algumas características específicas do terapeuta.”
“O terapeuta deve estar capacitado a buscar esclarecimentos, perceber contradições, tolerar situações de ansiedade relacionadas a temas presentes na entrevista e também estar habilitado a reconhecer aas defesas e os modos de estruturação do paciente. A compreensão de seus próprios processos psíquicos facilitará a comunicação e a relação terapeuta-paciente. O domínio das técnicas utilizadas, baseadas em uma teoria que as sustente, possibilitará ao terapeuta mobilizar recursos adequados frente a situações difíceis e inesperadas.”
“Já a capacidade de escuta coloca-nos em uma outra posição em relação àquele que fala. O termo escuta é muito utilizado na psicanálise, mas, se o pensarmos relacionando-o à exigência de uma genuína atenção àquela que fala de sua dor, acreditamos que o uso deste termo transcende uma relação específica com a psicanálise, podendo ser aplicado às outras modalidades de intervenção terapêutica. O que se escuta (inconsciente, potencialidade ou crenças cognitivas) pode ser o elemento mais estreitamente vinculado a um campo teórico, mas a condição de escuta é fundamental ao terapeuta. Ela nos convocaa utilizar nossos conhecimentos e habilidades profissionais e pessoais a serviço de uma demanda de ajuda. Escutar é buscar nas palavras de quem sofr3 um significado próprio e singular. A verdadeira escuta precisa estar desprovida de preconceitos e, principalmente, excluir qualquer possibilidade de um pré-conhecimento a respeito daquele que chega e, agora, fala. O terapeuta, para realmente poder escutar, precisa reconhecer que não sabe a respeito do paciente. Será na relação, a partir de um processo de construção, que o enigmático será desvelado, o sofrimento será nomeado e a ajuda se concretizará.”
“Evidencia-se que a dinâmica da entrevista aporta sempre complexidades e dificuldades ao trabalho clínico, porém será com o reconhecimento, o enfrentamento e a busca de alternativas para essas que se dará a verdadeira qualificação profissional. Diante da imposição da complexidade da entrevista como um importante instrumento utilizado na clínica, é necessário produzir reflexões que a problematizem com o objetivo de aprimorá-la como recurso de mediação terapêutica no encontro com o outro.”
“Um instrumento técnico seja ele qual for, por si só, não dá conta da prática profissional. A entrevista é um instrumento técnico, a competência na adequação de seu uso está diretamente ligada às condições do terapeuta. Tal afirmativa por um lado reforça o aspecto de autonomia da prática clínica, mas, por outro lado, evidencia a responsabilidade que o terapeuta tem na condução ética do processo terapêutico.”

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