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distúrbios mieloproliferativos Neoplasias mieloproliferativas são um grupo de condições que surgem das células-tronco da MO e caracterizam-se por proliferação clonal de um ou mais componentes hematopoiéticos na MO, fígado e baço. Os três principais distúrbios não leucêmicos desse grupo são: 1. Policitemia vera (PV) 2. Trombocitemia essencial (TE) 3. Mielofibrose primária (MFP) Associados a anormalidades clonais envolvendo os genes JAK2, MPL e CALR. poliglobulia (policitemia) Aumento da concentração de hemoglobina acima do limite superior do intervalo de referência para a idade e sexo do paciente para conter excesso de hemoglobina, o hematócrito necessariamente estará aumentado. CLASSIFICAÇÃO Policitemia absoluta (real) · Há aumento de massa eritróide in vivo acima de 125% do valor previsto para a massa corporal e sexo · Primária: há hiperatividade intrínseca da MO · Secundária: a MO está estimulada por aumento de eritropoetina (devido a tabagismo ou altitude) Policitemia relativa (pseudopoliglobulia) · Muito mais comum · A massa eritróide é normal, mas o volume plasmático é reduzido. Ht > 60%: sempre haverá aumento da massa eritróide Hb > 18,5 ou Ht > 52% em homens e Hb > 16,5 e Ht > 48% em mulheres: é provável tratar-se de uma Policitemia absoluta, mas podem ser necessários exames de radioisótopos para confirmá-la. policitemia vera (PV) O aumento da massa eritróide circulante é causado por transformação maligna clonal de uma célula-tronco da MO. A doença resulta de mutação somática de uma única célula-tronco hematopoiética, que dá à sua progênie uma vantagem proliferativa. JAK2V617F Embora o aumento dos valores do eritrograma seja o achado diagnostico, em muitos pacientes também há superprodução de granulócitos e plaquetas. ASPECTOS CLÍNICOS É uma doença de idosos com incidência igual em ambos os sexos. Os aspectos clínicos resultam de hiperviscosidade sanguínea, hipervolemia, hipermetabolismo ou trombose. · Cefaleia · Dispneia · Visão turva · Sudorese noturna · Prurido, caracteristicamente depois de um banho quente · Aparência pletórica: cianose rubra, sufusões conjuntivais e ingurgitamento venoso da retina · Esplenomegalia · Hemorragia ou trombose arterial/venosa · Gota ACHADOS LABORATORIAIS · Há aumento dos valores do eritrograma: contagem de eritrócitos, hemoglobina e hematócrito. A volemia eritróide total está aumentada. · O leucograma mostra neutrofilia em mais da metade dos pacientes e basofilia em alguns · Metade dos pacientes tem trombocitose · Mutação JAK2 está presente nos granulócitos da MO e do sangue periférico · A MO é hipercelular, com hiperplasia das 3 linhagens à biopsia · Eritropoetina sérica baixa · Ácido úrico plasmático está aumentado; a desidrogenase lática é normal ou um pouco aumentada · Número de células progenitoras eritróides circulantes está aumentado; as células crescem independente da adição de eritropoetina · Anormalidades cromossômicas e mutações TET-2 estão presentes na minoria dos casos TRATAMENTO Manutenção de um hemograma próximo ao normal. O hematócrito deve ser mantido em torno de 45%, e a contagem de plaquetas, abaixo de 400mil. Sangrias terapêuticas (venessecção): usadas para reduzir rapidamente o hematócrito (volemia eritróide). É indicada para pacientes mais jovens e aqueles com doença leve. A deficiência de ferro resultante pode limitar a eritropoese. Hidroxicarbamida (hidroxiureia): indicada se houver baixa tolerância a sangrias repetidas, esplenomegalia sintomática ou progressiva, trombocitose elevada, perda de peso ou suores noturnos. Pode ser necessário seu uso diário por muitos anos. Inibidores de JAK2 (ruxolitinibe): usado para pacientes que não conseguem ser controlados adequadamente ou tem efeitos colaterais com hidroxicarbamida Interferon: suprime a proliferação excessiva da MO e produz boas respostas hematológicas. É menos conveniente do que os tratamentos VO e possui muito efeito colateral, mas é valioso no controle do prurido. Usado em pacientes < 40 anos para evitar exposição precoce a fármacos citotóxicos. Ácido acetilsalicílico: reduz as complicações trombóticas sem aumento significativo do risco de hemorragias internas. Usado em quase todos os pacientes. EVOLUÇÃO E PROGNOSTICO O prognostico é bom, com sobrevida > 10 anos. Trombose e hemorragia são os principais problemas clínicos. Aumento da viscosidade sanguínea, estase vascular e trombocitose com alteração de função plaquetária podem contribuir para trombose; e a função plaquetária defeituosa contribui para a hemorragia. Em 30% dos pacientes há transição de PV para Mielofibrose e em 5% há progressão para LMA. poliglobulia secundária Condições que produzem aumento do nível de eritropoetina. · Hipóxia causada por tabagismo ou DPOC (+ comum) · Nefropatias e tumores renais (+ raro) poliglobulia relativa (aparente) Resultado de uma contração do volume plasmático, mantendo-se normal a volemia eritróide total (massa eritróide). É muito mais comum do que a policitemia vera, embora, na maioria das vezes, a causa seja incerta. É vista particularmente em homens jovens ou de meia-idade e pode associar-se a problemas cardiovasculares, como hipertensão e ataques isquêmicos cerebrais transitórios. Tratamento com diuréticos, tabagismo pesado, obesidade e consumo exagerado de álcool são associações frequentes. Há indicação de sangrias para manter Ht entre 45-47% em casos com história recente de trombose ou com fatores adicionais de risco cardíaco. diagnóstico diferencial da poliglobulia PRIMEIRA ETAPA · História e exame físico · Hemograma completo · Pesquisa de mutação JAK2 · Dosagem de ferritina sérica · Testes de função hepática e renal Se JAK2 for negativa e não houver causa secundária óbvia, prosseguir com a etapa 2 SEGUNDA ETAPA · Medida da volemia eritróide · Gasometria arterial · US abdominal · Dosagem de eritropoetina sérica · Aspiração e biópsia da MO · Análise citogenética · Cultura para colônias eritróides endógenas TERCEIRA ETAPA · Curva de dissociação de oxigênio · Avaliação do sono · Avaliação da função pulmonar · Mutações genéticas EPOR, VHL, PHD2, HIFs trombocitemia essencial Aumento sustentado da contagem de plaquetas por excessiva proliferação megacariocítica e superprodução de plaquetas. A série eritróide é normal, e o cromossomo Filadelfia está ausente, bem como o rearranjo BCRABL1 A biopsia de MO não mostra fibrose colágena e a contagem persistente de plaquetas > 450mil é a característica principal do diagnostico, mas outras causas de trombocitose (carência de ferro, doença inflamatória ou neoplásica e mielodisplasia) devem ser excluídas antes de se concluir esse diagnóstico. A mutação JAK2 esta presente em 50-60% dos casos e esses casos assemelham-se mais à PV, com cifras do eritrograma mais altas e certa leucocitose. Essa mutação também afeta a função plaquetária, desencadeando um estado pré-trombótico. As mutações do gene CALR são vistas em 75% dos casos JAK2 negativos (o que representa cerca de 1/3 do número total de pacientes). Esses pacientes são mais jovens e têm uma contagem mais elevada de plaquetas, porém há menor incidência de tromboses. DIAGNÓSTICO Exclusão de outras causas de trombocitose crônica. Os critérios para fechar diagnóstico em TE são: · Trombocitose persistente > 450mil · Presença de mutação adquirida patogênica · Ausência de outra neoplasia mieloide maligna · Ausência de trombocitose reacional e reservas normais de ferro · História de biópsia de MO, mostrando número aumentado de megacariócitos com proeminência de formas grandes e hiperlobuladas. A reticulina não está aumentada. ASPECTOS CLINICOS E LABORATORIAIS · Trombose · Hemorragia por função plaquetária anormal · Pode ser assintomática · Mutação JAK2 síndrome de Budd-Chiari (contagem de plaquetas normal por retenção de plaquetas no baço aumentado) · Eritromegalia (queimação em mãos e pés aliviada com AAS) · Esplenomegalia palpável / atrofia esplênica por infarto · Distensão sanguínea mostra plaquetas grandes anormais e fragmentos megacariócitos · Realizar análisecitogenética e molecular para excluir LMC BCR-ABL1+ · Diferenciar de outras causas de trombocitose PROGNOSTICO E TRATAMENTO Reduzir o risco de trombose e hemorragia, que são os maiores problemas clínicos. Fatores usais de risco CV (colesterol, tabagismo, diabetes, obesidade, hipertensão) devem ser identificados e tratados. Dose diária de 75mg de AAS Alto risco: · >60 anos · Trombose previa · Plaquetas > 1500mil Tratar com hidroxicarbamida ou anagrelide (+ AAS) Baixo risco: · <40 anos Tratar só com AAS A doença, muitas vezes, é estacionaria por 10-20 anos ou mais, mas podem, após certo tempo, evoluir para Mielofibrose. Há um baixo risco de transformação em leucemia aguda. mielofibrose primária Fibrose generalizada e progressiva da MO, associada a desenvolvimento de hematopoese no baço e fígado (metaplasia mieloide). A fibrose da MO é secundária à hiperplasia de megacariócitos anormais. Supõe-se que os fibroblastos sejam estimulados por um fator de crescimento derivado de plaquetas e por outras citoquinas secretadas por megacariócitos e plaquetas. Causa anemia e considerável esplenomegalia; alguns pacientes desenvolvem osteosclerose. Pode haver história previa de PV ou TE. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS · Em idosos, é comum o começo insidioso, com sintomas de anemia. · A grande esplenomegalia pode causar desconforto abdominal, dor e indigestão esplenomegalia é o principal achado clínico · Hipermetabolismo: perda de peso, anorexia, febre e sudorese noturna · Problemas de sangramento, dor óssea e gota são mais raros ACHADOS LABORATORIAIS · A anemia é comum, mas nível Hb normal ou alto pode ser encontrado em alguns pacientes · As contagens de leucócitos e plaquetas quase sempre são altas na ocasião do aparecimento da doença. Posteriormente, leucopenia e trombocitopenia são comuns. · Hemograma mostra quadro leucoeritroblástico · Punção branca de MO (a aspiração não mostra material celular); a histologia de biopsia com trefina mostra medula hipercelular, fibrótica (pode haver aumento de megacariócitos e excesso de formação óssea). · JAK2 e CARL podem estar mutadas pacientes com mutação CARL tem menos leucócitos e mais plaquetas, resultando em sobrevida mais longa. · Ácido úrico e DHL aumentados indicam aumento da hematopoese, embora ela ineficaz · A transformação terminal em LMA ocorre em 10-20% dos pacientes. TRATAMENTO É paliativo e dirigido para a redução dos efeitos da anemia e da esplenomegalia · Anemia intensa: transfusões de glóbulos filtrados e ácido fólico · Ruxolitinibe: reduz as dimensões do baço, melhora sintomas sistêmicos e a qualidade de vida e prolonga a sobrevida · Hidroxicarbamida: diminui a esplenomegalia e os sinais de hipermetabolismo · Esplenectomia se a esplenomegalia for muito sintomática · Alopurina: profilaxia de gota e nefropatia por urato · Transplante de células-tronco alogênico visando cura em pacientes jovens A sobrevida média é de 5 anos Causas de morte incluem ICC, infecção e transformação leucêmica mastocitose Proliferação neoplásica clonal de mastócitos que se acumulam em um ou mais sistemas de órgãos. Envolve, em geral, a MO, coração, baço, linfonodos e pele. Os mastócitos são similares a basófilos e sobrevivem por meses ou anos nos tecidos vasculares e na maioria dos órgãos Sintomas estão relacionados com liberação de histamina e prostaglandinas pelas células tumorais e incluem: · Rubor · Prurido · Dor abdominal · Broncoespasmo · Urticaria pigmentosa Dosar triptase sérica para monitorar tratamento Tratamento com anti-histamínicos, interferon, ITK Em muitos pacientes a doença pode ser crônica e indolente, mas em outros, mostra um curso agressivo, associando-se com LMA, leucemia mastocitica etc.