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Doença Inflamatória Intestinal - Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa

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1 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
 
• Grupo de doenças intestinais crônicas idiopáticas 
(sem causa aparente). 
• Basicamente compreende: a Retocolite Ulcerativa 
e a Doença de Crohn. 
• São doenças de caráter inflamatório. 
 
• Doença prevalente na Europa e América do Norte 
– afeta as altas classes sociais em áreas urbanas. 
• Incidência de retocolite ulcerativa (RCU) é de 0,5 a 
24,5 casos por 100.000 habitantes por ano. 
• Incidência da doença de crohn (DC) é de 0,1 a 16 
casos por 100.000 habitantes por ano. 
 
• Pode acometer indivíduos de ambos os sexos, em 
qualquer faixa etária, mais possui dois picos: 
o Dos 15 aos 25 anos e; 
o Dos 55 aos 60 anos. 
• Com relação a etnia, brancos > negros > asiáticos. 
• Tabagismo está associado a proteção para RCU e 
desencadeador da DC. 
• Apendicectomia é protetora para a RCU e um fator 
de risco para a DC. 
• O aleitamento materno reduz o risco dessas 
patologias. 
 
Mecanismo multifatorial envolvendo a atuação 
integrada de componentes genéticos, microbiota 
intestinal, fatores ambientais e resposta imunológica. 
Fatores genéticos: 
• Maior incidência da RCU e DC em membros da 
mesma família e gêmeos monozigócitos. 
• Envolve também, mutação em diferentes 
genes (NOD2 e CARD15). 
 
Fatores ambientais: 
• Alimentação → dieta rica em carboidratos, 
gorduras e pobre em frutas e fibras; 
• Tabagismo → desencadeador da DC, pois 
provoca alterações na mucosa intestinal; 
• Estresse; 
• Medicamentos → uso de ACOs e AINEs. 
 
Infecções prévias: 
• Paramyxovirus → causador da caxumba. 
• Mycobacterium avium paratuberculosis → 
causador da paratuberculose em animais 
como bovinos e caprinos, podendo acometer o 
homem. 
o Foi encontrado essa bactéria nas 
biópsias intestinais de pessoas com 
doença de crohn. 
• Escherichia coli → bactéria que habita 
naturalmente o intestino das pessoas, sem 
causar doenças. Entretanto, algumas E. coli são 
nocivas. 
 
Teoria da higiene: 
• Dados epidemiológicos que parecem evidenciar 
uma correlação entre a diminuição das doenças 
infecciosas, vacinação e melhoria das condições 
sanitárias da população com o aumento da 
incidência de doenças autoimunes e doenças 
inflamatórias crónicas. 
• Estas evidências evidenciam a importância do 
microbioma na modulação do sistema imunitário 
após o nascimento. 
 
FISIOPATOLOGIA 
• Inflamação crônica transmural que pode 
acometer qualquer segmento do trato digestivo 
(boca até o ânus). 
o O intestino delgado é o mais acometido 
(90% dos casos), sendo o íleo terminal o 
principal. 
• Transmural → acomete todo os tecidos do trato 
gastrointestinal (mucosa, submucosa, serosa e 
muscular). 
 
2 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
o Inflamação do tec. muscular → gerar 
estenoses (estreitamento do duto de 
passagem). 
o Inflamação da serosa → pode ocorrer 
perfurações e fístulas (é uma conexão 
anormal, um canal, entre duas estruturas 
que normalmente não são conectadas. 
Exemplo: uma fístula anorretal é um canal 
anômalo entre o ânus ou reto). 
 
 
fístula anorretal. 
 
• De forma geral, as lesões se iniciam como ulceras 
aftoides, distribuídas pelo tecido (lesões em salto) 
que evoluem de duas maneiras: 
1. Extensão de forma linear e retilínea; 
a. Quando há o encontro das ulcerações, 
forma-se áreas de úlceras e áreas 
saudáveis – dá se o nome de pedra de 
calçamento. 
2. Aprofundamento através da parede intestinal. 
a. Formação de fístulas. 
 
 
 
Morfologia macroscópica. Cólon com aspecto de “pedra de 
calçamento” 
• Os pacientes com DC apresentam obstrução 
intestinal, devido o edema e espasmos, levando ao 
quadro de dor abdominal. 
• Entretanto essa obstrução pode se tornar orgânica 
por fibrose e estenose. 
 
 
QUADRO CLÍNICO 
Períodos de crise/exacerbação e períodos 
assintomáticos/ remissão → relação íntima com 
alterações emocionais. 
DOR ABDOMINAL: 
• É o sintoma mais comum; 
• Em caráter de cólica e de forte intensidade; 
• De localização periumbilical ou no QID (íleo 
terminal); 
• Ocorre normalmente após as refeições ou antes da 
defecação → explicado pelo trânsito intestinal 
ocorrendo em um tecido inflamado. 
• Sintomas associados: 
o DIARREIA CRÔNICA → de intensidade 
moderado, ocorre devido à má absorção. 
Nesse caso pode haver esteatorreia 
(quando acometido o intestino delgado) 
ou diarreia mucossanguinolenta (acomete 
o cólon isoladamente) 
o ACOMETIMENTO DO ESÔFAGO → 
odinofagia, disfagia, pirose e anorexia. 
 
FEBRE: 
• Ocorre pelo processo inflamatória instalado ou 
pelas complicações supurativas (abscessos, 
fístulas). 
 
Obs. A dor abdominal aguda associada a febre pode 
simular um quadro de apendicite aguda. 
 
3 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
PERDA DE PESO: 
• Devido a redução da ingesta de alimentos 
(anorexia), má absorção intestinal, diarreia e 
estado de catabolismo corporal. 
• Em crianças a perda de peso leva a déficit de 
crescimento e retardo de maturação sexual. 
 
DOENÇA PERIANAL: 
• Ocorre em 15 a 40% dos pacientes e pode se 
destacar como a primeira manifestação da DC. 
• Se apresentam da seguinte forma: 
o Lesões de pele → erosões, abscessos, 
pregas. 
o Lesão do canal anal → fissura, úlcera, 
estenose. 
o Fístulas. 
 
Manifestações extraintestinais: 
• São bastante frequentes e se relacionam com a 
exacerbação da inflamação. 
 
 
 
• Apesar de ainda não ser consenso, recentemente 
foi publicado artigo com sinais e sintomas que são 
pontuados em escore de suspeição de DC. 
• Pontuação ≥ 8 tem sensibilidade e especificidade 
para diagnóstico de DC, devendo o paciente seguir 
com a investigação laboratorial e endoscópica. 
 
 
 
FISIOPATOLOGIA 
• Acomete o cólon e o reto.; 
• Diferente da DC, sempre acomete o reto; 
• Tem característica contínua e distal. 
 
• As lesões se iniciam no reto e se propagam de 
maneira contínua em direção ao ceco, não 
ultrapassando a válvula íleo-cecal. 
• Diferentemente da DC, as lesões não são salteadas 
e sim contínuas. 
 
• No início, a mucosa acometida fica edemaciada e 
hiperemiada. 
• Logo depois começa a aparecer algumas úlceras 
rasas, que tendem a aumentar de tamanho (não 
aprofunda). 
• Quando as úlceras são muito extensas, trechos da 
mucosa não destruída podem sobressair e dar 
 
4 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
origem a pseudopólipos. 
 
Obs. Não há fístulas nem estenose, pois só é atingido 
a mucosa. 
 
Podemos classifica a retocolite quando a sua extensão 
anatômica: 
 
 
 
QUADRO CLÍNICO 
O quadro clínico da RCU é variável e depende da 
extensão e intensidade das lesões. 
A evolução é crônica, com períodos de exacerbação 
intercalado por períodos de acalmia. 
DIARREIA CRÔNICA: 
• Com muco e pus ou sanguinolenta; 
• Ocorre devido a inflamação do reto. 
• Perda de peso. 
 
DOR ABDOMINAL: 
• Menos frequente e intensa que a DC. 
• Normalmente precedem as evacuações e o 
paciente tem urgência em evacuar. 
 
TENESMO: 
• Espasmos anais ou vontade de evacuar; 
• Ocorre pelo edema retal, causado pela inflamação, 
oferece a sensação de que o reto está cheio, por 
isso a vontade de evacuar. 
 
FEBRE: 
• Nos casos moderados a grave. 
 
Manifestações extraintestinais: 
• Artrite ou artralgia; 
• Sacroilite; 
• Espondilite acilosante; 
• Manifestações oculares: episclerite, uveíte e irite; 
• Envolvimento hepático. 
 
 
O diagnóstico é uma associação de dados clínicos 
(anamnese + exame físico), laboratoriais, radiológicos, 
endoscópicos e anatomopatológico. 
HISTÓRIA CLÍNICA: 
• DC: dor abdominal intensa, noturna, associada a 
diarreia (pode ser mucossanguinolenta), febre, 
perda de peso, sintomas extraintestinais, doenças 
perianais. 
• RCU: dor abdominal, diarreia, tenesmo, sintomas 
extraintestinais, perda de peso. 
 
5 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
EXAME FÍSICO: 
• Na criança observar os dados antropométricos e de 
desenvolvimentosexual; 
• Se há dor a palpação do QID do abdome, com ou 
sem massa palpável. 
• Presença de fissuras e abscessos anais. 
 
EXAMES LABORATORIAIS: 
• Hemograma → leucocitose, linfopenia, eosinofilia e 
plaquetose. 
• Eletrólitos e proteínas 
• Ferritina e transferrina; 
• Dosagem de vitamina B12; 
• Prova de função hepática; 
• VHS e PCR → provas inflamatórias com altos 
valores. 
• EPF, calprotectina fecal: descartar parasitoses e 
outras infecções. 
 
EXAMES DE IMAGEM: 
• Raio-x: 
o Punhos: determinar idade óssea infantil; 
o Abdome: suspeita de obstrução intestinal. 
• Densitometria óssea: pedir em todas as idades, 
pois revelam comprometimento do metabolismo 
do cálcio. 
• USG: identifica espessamento da mucosa intestinal 
e líquido na cavidade abdominal. 
• ENDOSCOPIAS: diagnóstico e acompanhamento 
da DC, pois tem-se fragmentos da mucosa para 
exame histopatológico. 
o Ileocolonoscopia; 
o Retossigmoidescopia; 
o Colonoscopia (obrigatório > 50 anos e 
pacientes com sangramento nas fezes). 
 
MICROSCÓPIO: 
• Edema do cólon; 
• Vasos sanguíneos dilatados e congestionados; 
• Formação de abscessos e criptas. 
• Diminuição do número de células caliciformes. 
 
 
ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO 
 
 
AMINOSSALICIATOS: 
• Os aminossalicílicos são prescritos no tratamento 
de pacientes com doença leve a moderada, 
principalmente no tratamento da RCU tanto na 
fase aguda como de remissão. 
• Os aminossalicílicos são compostos que contêm 5- 
aminossalicílicos (5-ASA). Esses medicamentos 
podem ser administrados por via oral ou retal, e, 
entre os vários mecanismos de ação do 5-ASA, 
estão a inibição da produção de leucotrienos e de 
anticorpos e a capacidade de assimilação de 
radicais livres. 
• Sulfalazina, mesalalazina e olsalazina. 
 
CORTICÓIDES: 
• Indicações: 
o Indução da remissão; 
o Doença refratária; 
o Doença moderada a grave (fase aguda). 
• Não indicado na terapia de manutenção. 
• Hidrocortisona, prednisona. 
 
IMUNOMODULADORES: 
• Usado em atividade inflamatória intestinal 
moderada a grave. 
• Neste grupo de medicamentos, é comum incluir a 
azatioprina (AZA), a 6-mercaptopurina (6-MP), a 
cloroquina, a ciclosporina e o metotrexato. 
 
TERAPIA BIOLÓGICA: 
• O fator de necrose tumoral (TNF) é uma citocina 
produzida predominantemente por monócitos, 
macrófagos e células T e estimula a expressão de 
 
6 Dor abdominal, diarreia e icterícia 
moléculas de adesão, promovendo a adesão de 
neutrófilos, aliem de induzir a síntese de 
interleucinas e outros mediadores inflamatórios. 
• Com o bloqueio da ação do TNF com anticorpo 
monoclonal quimérico (75% humano e 25% 
camundongo). Esse medicamento traz benefícios 
para os pacientes com DII, sobretudo na DC. 
 
TRATAMENTO CIRÚRGICO: 
• Objetivos: 
o Alivio dos sintomas; 
o Corrigir complicações; 
o Evitar o câncer. 
 
• Indicações: 
o Intratabilidade; 
o Obstrução intestinal; 
o Abscesso intra-abdominal; 
o Fístulas; 
o Colite fulminante; 
o Megacolon tóxico; 
o Sangramento maciço; 
o Câncer; 
o Retardo de crescimento. 
 
COMPLICAÇÕES 
• DC: desnutrição, anemia, imunossupressão. 
• RCU: colite fulminante, megacólon tóxico, 
hemorragia maciça, intratabilidade, displasia ou 
carcinoma.

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