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1 NEMOEL ARAUJO NUTRIÇÃO CLINÍCA Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica - Sepse Inflamação – conceitos básicos: Sinônimo de dor, edema, rubor e febre Inflamação não é doença Seus sintomas são disparados pelo próprio organismo quando tenta se recuperar de uma infecção ou reparar os danos de traumas É uma resposta normal do hospedeiro contra agentes in- fecciosos e traumas O que ocorre no organismo? Como é essa resposta? Exemplo: Inflamação de garganta A dor na região das amígdalas, o edema que dificulta a deglutição, a vermelhidão no local e a febre são sinais tí- picos da reação inflamatória Dor, calor, rubor e inchaço > Sinais clássicos de infla- mação Causados pelos mediadores inflamatórios Interleucina 1 e prostaglandinas: Mediadores inflamatórios disparados pelas células que fo- ram danificadas Irritam os nervos locais = Dor No cérebro aumentam a sensação dolorosa e desestabi- lizam o centro regulador da temperatura (hipotálamo) = Febre Prostaglandinas: Junto com as aminas: Ampliam o calibre dos vasos junto da lesão = Intensificação da circulação = Rubor Mediadores: Separam as junções das células que formam a parede dos vasos = Escape de líquido = Edema Efeito das citocinas TNF, IL1 e IL6 durante trauma- tismo e infecção: Febre Elevação dos lipídios séricos Síntese aumentada de glicose Perda de tecido muscular e gordura Perda do apetite e letargia Aumento das proteínas de fase aguda Inflamação não é doença e sim um processo de ajuste do organismo a uma lesão Sem os mediadores inflamatórios seria impossível atrair os glóbulos brancos para defesa do organismo SIRS (Síndrome da resposta inflamatória sistêmica) • Resposta do organismo a um insulto variado (trauma, pancreatite, grande queimado, infecção sistêmica) • Com a presença de pelo menos 2 dos seguintes critérios: 1. Temperatura > 38° ou < 36°C 2. Frequência cardíaca > 90 bpm 3. FR > 20 mpm ou PaCO2 < 32 mmHg 4. Leucócitos > 12.000 cels/mm³ ou < 4.000 cels/ mm³ ou ainda presença de > 10% de formas jovens (bas- tões) Definição de SIRS: • Síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) • Termo escolhido para unificar uma ampla varie- dade de doenças graves que compartilham sinais clássicos de inflamação • Sepse = SIRS decorrente de infecção • SIRS não está limitada a sepse (queimados, trauma) • Pode ocorrer em resposta a outras condições Sepse: SIRS decorrente de processo infeccioso comprovado ou com alta suspeita clínica • Não é necessária cultura positiva • A evidência de infecção pode ser feita com bases clínicas, como o encontro de abscessos, escaras Sepse grave : Sepse + manifestações de hipoperfusão tecidual e dis- função orgânica caracterizada por: • Acidose láctica, oligúria, ou alteração do nível de consciência ou hipotensão arterial • Hipotensão arterial sem necessidade de agentes vasopressores Choque séptico: Hipotensão ou hipoperfusão induzida pela sepse • Refratária à ressuscitação volêmica adequada • Necessidade de agentes vasopressores Síndrome da disfunção de múltiplos órgãos(SDMO): • Resultante de um processo inflamatório sistê- mico incontrolado 2 • Atingindo vários orgãos por um mesmo meca- nismo • Geralmente 6 orgãos/sistemas são avaliados: pulmão, sistema cardiovascular, rins, fígado, sis- tema nervoso e coagulação A sepse e a SIRS são caracterizadas: Pela produção excessiva de mediadores inflamatórios Pela excessiva ativação de células inflamatórias Resultando numa “anarquia metabólica” “O próprio organismo não consegue controlar o que ele criou” A principal consequência desta resposta desenfreada é a SDMO Epidemiologia da sepse: Cerca de 2/3 dos casos são vistos em pacientes já hospi- talizados Pacientes com doenças de base ou procedimentos que tornam sua corrente sanguínea suscetível a invasão Fatores predisponentes: Diabetes, cirrose, NPT, alcoo- lismo, quimioterapia, infecções no TGI, biliar e urinário, al- guns procedimentos cirúrgicos A prevalência de SIRS é alta mais de 50% de todos os pacientes de UTI SIRS 33% de todos os pacientes hospitalizados Sepse 25% de todos os pacientes de UTI Desses, 50% sepse grave Mortalidade: Termos como síndrome séptica e septicemia caíram em desuso A causa mais comum de morte em pacientes com sepse grave é a disfunção múltipla de órgãos Caracterizada pela deterioração aguda da função de 2 ou mais orgãos A causa mais comum de morte em pacientes com sepse grave é a disfunção múltipla de órgãos Caracterizada pela deterioração aguda da função de 2 ou mais orgãos Orgãos envolvidos: pulmões, rins, coração e fígado Coagulopatia denominador comum de todo o processo microvascular na DMO SNC Encefalopatia séptica Alterações endócrinas: resposta hormonal ao trauma, ao estresse e à sepse: - Hormônios anabolizantes: Insulina Hormônio do crescimento - Hormônios catabolizantes: Glicocorticóides Glucagon Catecolaminas - Hormônios com ação hidroeletrolítica: Hormônio antidiurético (ADH) Aldosterona 3 Inanição x estresse Alguma perda de peso e de massa magra após o trauma- tismo grave é inevitável, porém sem a nutrição seria muito maior, com consequências deletérias para a cura e pro- longando o período de convalescência Estado hipermetabólico: Fontes de energia: Rápida mobilização do suprimento endógeno Lipólise ocorre acentuadamente Proteínas corpóreas aa para a neoglicogênese Principal fonte de energia Ácidos Graxos Cérebro, Sistema Nervoso, Hemácias Glicose Fontes de energia: Rápida mobilização do suprimento endógeno Lipólise ocorre acentuadamente Proteínas corpóreas aa para a neoglicogênese Principal fonte de energia Ácidos Graxos Cérebro, Sistema Nervoso, Hemácias Glicose Níveis ótimos de glicemia para pacientes sépticos: 140 - 180 mg/dL > 200 mg/dL da morbi-mortalidade Metabolismo das gorduras: da lipólise lipogênese da oxidação de TG e ácidos graxos de cadeia média e longa Jejum cetonas se constituem em um substituto eficaz para a glicose a neoglicogênese e conservando a prote- ína corpórea Stress grave Encontram-se preservados o estímulo hormonal para a cetogênese e a capacidade para oxidar cetonas Mas não ocorre cetonemia no stress grave Metabolismo das proteínas: Os aa estão disponíveis para gliconeogênese, proteínas de fase aguda e cicatrização Os aa ramificados (valina, leucina e isoleucina) são os principais substratos para a neoglicogênese A mobilização de aa causa rápida perda de massa magra e BN negativo Características gerais da resposta ao estresse: ↑ gasto energético e do consumo de oxigênio Intensa proteólise no músculo esquelético Sacrifício de proteínas estruturais em favor das de defesa Intensa gliconeogênese Oferta de CH x mínimo efeito poupador de ptns As alterações do metabolismo intermediário não são mo- dificadas facilmente com a administração de nutrientes Consequências do catabolismo proteico: • Retardo da cicatrização tecidual • Retardo da resposta imunológica • Diminuição da albumina • Aumento das proteínas de fase aguda • Comprometimento da coagulação sanguínea • Diminuição da função intestinal • Favorecimento à instalação de translocação bac- teriana • Diminuição da massa ponderal • Diminuição funcional dos músculos da respiração Tratamento nutricional Objetivos: • Preservar as reservas corporais 4 • Modular as respostas hipermetabólica e imunoló- gica • Fornecer substratos para a síntese de proteínas de fase aguda • Prevenir atrofia da mucosa intestinal e a translo- cação bacteriana • Oferecer energia, fluidos e nutrientes em quanti- dades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase • Reduzir os riscos da hiperalimentação • Garantir as ofertas protéicae energética adequa- das para minimizar o catabolismo protéico e a perda nitrogenada. Avaliação nutricional: Métodos rotineiros: Válidos em pacientes sépticos? • Grande velocidade de mudança da composição corporal Métodos se tornam de baixa sensibili- dade e especificidade • O que pode ser utilizado???? • História: • Pesquisar dados sobre o peso e ingestão alimen- tar prévia • Conhecer o paciente através de sua história • Exame Físico: • Avaliar sinais de desnutrição prévia: alterações da pele, mucosa, cabelos etc. • Antropometria: • Peso: difícil de mensurar (sem cama balança) • Medidas sofrem influência do edema e má distri- buição de fluidos • Laboratoriais: • Proteínas viscerais alteradas: • - Pelas variações hídricas • - Pela resposta a fase aguda Terapia nutricional: • Um dos pilares do tratamento do paciente crítico • Novas tecnologias TN cada vez mais prática e segura • Gastrostomia endoscópica • Sondas nasoduodenais duplo lúmen • Cateteres venosos fabricados com materiais bio- compatíveis Conduzir a terapia nutricional não é fácil... • Resistência a insulina + produção de glicose = Hiperglicemia Dificuldade para administrar fórmulas enterais e parenterais Riscos relacionados a NPT Frequência de interrupção da TN Causas de interrupção da terapia nutricional enteral: • Exames e procedimentos que exigem jejum • Instabilidade hemodinâmica • Distensão abdominal • Íleo prolongado • Gastroparesia e vômitos • Diarréia • Volume elevado de resíduo gástrico Necessidades nutricionais: Calorias • Calorimetria indireta • Equação de Harris-Benedict • Método Prático: (ASPEN e ESPEN) • 25 a 30 Kcal/Kg/dia • Obesos: 11 a 14Kcal/Kg de peso atual ou • 22 a 25 Kcal/Kg de peso ideal/ dia Riscos de uma oferta calórica excessiva Proteínas: 1,2 a 2,0g/Kg/dia % do VCT até 25% Pacientes críticos: Má-absorção Diarréia Atrofia do TGI Disfunção de orgãos Dietas a base de Peptídeos Para obesos: >2,0g/Kg de peso ideal/dia (IMC entre 30 e 40) >2,5g/Kg de peso ideal/dia (IMC > 40) Carboidratos: 50 a 60% do VCT Recomenda-se 3 a 4g/Kg/dia (NE) ou 3 a 4 mg/Kg/min (NP) Ofertas > 4-6g/Kg/dia (enteral) ou > 4-6mg/Kg/min (paren- teral) Hiperglicemia, esteatose hepática e do trabalho respira- tório Lipídios: Vantagens no seu uso Evita a deficiência de ácidos graxos essenciais Permite o volume de fluidos administrado oferta de lipídeos permite a oferta de glicose 5 30% do VCT NPT 50% de TCM e 50% de TCL NE Misturas contém TCM, TCL e óleo de peixe Quando iniciar a alimentação? Paciente hipermetabólico com estabilidade hemodinâ- mica e transporte de O2 adequado TNE o mais precoce possível Inicio precoce Alimentação dentro das primeiras 24- 48hs Melhor trofismo intestinal e menor incidência de complica- ções Boa tolerância mesmo na ausência de ruídos hidroaéreos Nutrientes imunomoduladores: Glutamina Aa mais abundante no organismo Substrato energético para as células intestinais e prolife- rativas Estresse avidez por glutamina pode exceder a síntese aa condicionalmente essencial Suplementação contra-indicada em hepatopatas e renais 0,2 a 0,57g/Kg/dia ou 0,3g/Kg/dia (adultos) 0,5g/Kg (crianças) Em 24h as quantidades indicadas variam entre 12 e 40g/dia Pacientes renais e hepatopatas – Restringir ou usar uma dose menor (<15g/dia em adultos) Cuidados na administração: Diluir em 30ml de água ou fluido isotônico Misturar apenas em alimentos que não sofreram cocção Não usar em bebidas quentes Infundir a glutamina suplementada em bolus, não misturar com a dieta pronta Dietas enterais com glutamina costumam ter uma via útil menor, depois de reconstituídas Arginina: Hipermetabolismo produção endógena insuficiente aa condicionalmente essencial Influencia as respostas inflamatórias e imunes Único substrato para a produção de óxido nítrico O óxido nítrico pode assumir funções protetoras ou tóxi- cas durante os estados inflamatórios Dose Proposta 2% do VCT Dieta com 1800 Kcal = 9g/dia Óxido nítrico: Potente vasodilatador, contribuindo para a hipotensão na sepse Inibe a agregação e adesão plaquetária Pode atuar como antioxidante removendo os radicais li- vres Reação com o radical superóxido Radicais hidroxilas extremamente tóxicos para as células Gênese da injúria pulmonar no trauma São necessários mais estudos que mostrem o momento correto da utilização da arginina Dependendo da fase em que o paciente se encontra: Agravar ou melhorar as condições hemodinâmicas, a in- suficiência respiratória e a perfusão celular Até o momento não se questionou a via ideal para ad- ministração de arginina no paciente crítico Ácidos graxos ômega 3: Síntese de eicosanóides menos potentes do que os origi- nados do do -6 Efeito redutor da vasoconstricção e inflamação Ajudando a modular a resposta imune na sepse Relação recomendada -6: -3 4:1 Caso Clínico Sepse Homem, 47 anos, internado há 24h na UTI com quadro de broncopneumonia, que evoluiu rapidamente para insuficiência respiratória e choque séptico. Peso ha- bitual: 56Kg. Peso de entrada: 60Kg. Antecedentes clíni- cos: diabetes mellitus em uso de hipoglicemiante oral. No momento apresenta-se sedado, edemaciado, com in- tubação orotraqueal e ventilação mecânica, pressão arte- rial estável nas últimas 24h às custas de drogas vasopres- soras (noradrenalina). Mantido em jejum com soro de ma- nutenção de horário. Com sonda nasogástrica aberta com débito de 20mL nas últimas 24h. Pequena quantidade de diurese na sonda vesical. Responda: Quando iniciar a dieta desse paciente? Qual é a melhor via para administração da dieta? Como estimar as necessidades calóricas e proteicas? Que tipo de dieta você sugeriria?
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