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REDAÇÃO LIVRE SOBRE O LIVRO “AS MISÉRIAS DO PROCESSO PENAL” DE FRANCISCO CARNELUTTI. Apesar de não ser um livro publicado recentemente, Francisco Carnelutti trata de temas que se encaixam perfeitamente na atualidade que vivemos, acredito ser um dos livros fundamentais como leitura complementar para matérias do ramo criminal dentro da docência. O livro trata de como o homem acredita ser único, no sentido de que nunca poderá cometer delitos, que nunca poderá ser acusado de nada comparado com prisioneiros, além de abordar a questão da opinião pública e a questão criminal. Debatendo também, a magistratura, os advogados, o condenado, e como ele continua condenado pela sociedade mesmo após a liberdade, a execução penal junto a sua tortura, entre outras linhas. Francisco Carnelutti, sobre o papel do magistrado, demonstra como o juiz está tentando ser imparcial e ouvir de forma igualitária as partes, enquanto as partes estão tentando criar o caos, tentando fazer com que o juiz reconheça que, a sua versão é a correta. Tudo isso se tratando de um grande espetáculo, incluindo, inclusive, a mídia. Ainda sobre a mídia, Carnelutti faz uma observação importante: “A toga sem dúvida induz ao recato. Infelizmente hoje em dia, e cada vez mais, por debaixo deste aspecto, a função judicial se encontra ameaçada pelos perigos opostos da indiferença ou clamor; indiferença quanto aos processos menores, clamor quanto aos processos célebres.” Fazendo uma analogia para a nossa atualidade, a Operação Lava Jato foi um processo célebre, com coletivas de imprensa, com todo um clamor social e uma alta repercussão, outro também mais atual que pode ser citado, foi a CPI da COVID-19. Por outro lado, há casos que nós nunca iremos ter conhecimento, como casos de violência doméstica, furtos, roubos, danos e até crimes ambientais, crimes estes, que dependendo, as autoridades irão tratar com certa indiferença. Enquanto nós olhamos casos como o da Lava Jato e da CPI da COVID- 19, com velocidades absurdas, em outros casos vamos ver processos estagnados durantes meses, autos parados na mesa do juiz, entre diversas outras coisas. Concluindo esse este raciocínio, Carnelutti cita: “Naqueles, a toga parece ser uma armadura inútil; nestes se assemelha, infelizmente, a um disfarce teatral. A publicidade do processo penal, à qual corresponde só não a ideia do controle popular sobre o modo de administrar a justiça, como também, e mais profundamente, ao seu valor educativo, degenerou-se desgraçadamente numa desordem. Não somente o público que enche as salas até um limite inverossímil, senão também a intervenção da imprensa que antecede e segue o processo com indevida falta de prudência, e não raras vezes, imprudências, contra as quais ninguém ousa reagir, têm destruído qualquer possibilidade de meditação para aqueles aos quais incube o terrível dever de acusar, de defender, de julgar. As togas dos magistrados e dos advogados se perdem atualmente entre a multidão” O processo penal exige uma grande reflexão, e quando há esse excesso da imprensa fica difícil para o juiz e Ministério Público acusarem, e o advogado defender. Querendo ou não, a imprensa acaba influenciando na tomada de decisões, pois acaba ocorrendo um pedido explicito de condenação pela própria sociedade, pela tomada de exposição por parte da imprensa. Isso acaba se tornando, de certa forma uma intimidação para aqueles que estão atuando dentro do processo penal. Agora, tratando da situação do condenado, Francisco Carnelutti traz que o preso é aquele que sofre mais que todos dentro da sociedade, que sofre mais que o doente, o faminto e o vagabundo. Acerca do advogado, ele demonstra acreditar que essa profissão não presta apenas um serviço, e sim, uma demonstração de afeto para aquela pessoa que ele atende dentro do processo penal, aquela pessoa que já foi ignorada pelo sistema, que provavelmente está cometendo um crime porque houve um problema na sua formação educacional e moral, e o Estado se omitiu nisso, coisas que levaram uma situação de caos para a vida daquele acusado. Carnelutti diz que, o que se pede ao advogado é a “esmola da amizade”, que pode ser compreendida de diversas maneiras. “nenhum homem, se pensasse no que é necessário para julgar outro homem, aceitaria ser juiz” Com essa incrível citação, questiono: quantas pessoas pensam em prestar concurso para magistratura buscando apenas a estabilidade, o status, a garantia, almejando ter aquilo que a sociedade diz ser bonito? E não pensam no que devem ter como mérito para julgar, acham que o mérito para julgar alguém é aferido unicamente pela incrível capacidade de marcar X, além de decorar informativos do STF e STJ. Será que as pessoas que fazem concurso para a magistratura sabem do que seria necessário para julgar alguém? Será que sabem que daqui um tempo, caso forem aprovados, farão uma condenação de um individuo para ficar anos em um presidio? Será que isso passa pela cabeça dessas milhares de pessoas? Isso deve passar. É necessário ter isso como uma preocupação. Isso não se trata apenas de ouvir o que a corregedoria, jornalistas, e o que a sociedade dizem, e sim de uma formação moral, a preocupação de ouvir em uma audiência, passar o tempo que for necessário escutando testemunhas e o réu para chegar em uma decisão mais próxima o possível do correto. “A tortura, nas formas mais cruéis está abolida, ao menos sobre o papel; mas o processo por si mesmo é uma tortura” (Santo Agostinho) Lívia Araujo Oliveira, RA 1520100580 4º C – Turma de quarta-feira.
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