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Preciosa - Uma História de Esperança: saúde mental, políticas públicas, assistência à saúde, direitos humanos e possíveis articulações do operador do direito com a sociedade. Luan Cerqueira Brito Profª.Eurisa Maria de Santana Universidade Estadual de Santa Cruz Graduação em Direito 11/12/2021 RESUMO O presente trabalho visa apresentar uma visão ampla do contexto da saúde mental, políticas públicas e assistenciais relacionadas, Direitos Humanos e estabelecer, da mesma forma, um objeto especificador dos principais pontos do filme “Preciosa - Uma História de Esperança” (2009), no contexto de suas atribuições ao alerta feito sob viés não só da psicologia, mas também que abrange todo um aspecto social, cujo qual os operadores do Direito debruçar-se-ão ao longo de sua trajetória acadêmica, profissional e como pessoas inclusas na sociedade. Assim, cabe analisarmos esses pontos para que se possa difundir novos horizontes em nossa visão como seres humanos complexos e naturalmente sociáveis que somos. Palavras-chave: Psicologia. Resumo. Filme. Saúde mental. 1 INTRODUÇÃO Em primeiro plano, cabe destacar que, diante do estudo, é inegável que o filme “Preciosa - Uma História de Esperança” (2009), traz um contexto muito forte no tocante à psicologia e a sua consequente relação com o Direito. O filme trata das relações intensas de uma jovem que se vê diante de laços subvertidos e relações conturbadas que, por conseguinte, irão refletir em toda a sua vivência, desde aspectos sociais à comportamentais, quais sejam as portas que se abrem para uma reflexão no campo jurídico e psicológico, respectivamente. Ora, atingindo a questão das políticas públicas e de assistência à própria saúde da protagonista. Assim, cabe destacar um pouco como se dá a narrativa da produção cinematográfica supracitada. O filme se passa em 1987, num bairro pobre de Nova Iorque (Harlem) e conta a história de uma jovem de 16 anos, de nome Claireece Preciosa Jones, que a todo momento é alvo de preconceitos, por ser uma jovem, pobre, negra, obesa e analfabeta, é segregada das mais variadas formas, desde a possibilidade de ter uma educação de qualidade, até às relações mais importantes na vida do ser humano. A saber, as relações de acolhimento no seio familiar. Paradoxalmente, é justamente aí que se encontra um dos centros da história da narrativa dramática: Preciosa vive uma relação intrafamiliar muito violenta e não tem apoio dos únicos que, por naturalidade, poderiam acolhê-la sem necessidade de apelo. Porém, o que ocorre é totalmente o inverso. No decorrer do filme nos deparamos com uma situação extremamente triste e que - de fato - vai revelar a intensidade de tal sentimento. A jovem, dentre as suas várias amarguras, sofreu também diversos abusos sexuais de seu pai, o que já é algo muito inquietante e alarmante no contexto da psicologia, do direito e de quaisquer áreas sob os preceitos dos Direitos Humanos. Muito pior a isso, ela possui uma filha desse relacionamento abusivo e está grávida, ou seja, a questão é muito mais complexa e indignante. Além de sofrer preconceitos e privações, Preciosa sofre constantemente com a violência de sua mãe, que a trata sem um mínimo de dignidade e amor materno, demonstrando o sentimento inverso à esse: sua mãe a culpa por “seduzir” o seu pai, que inclusive, para piorar ainda mais o contexto, transmitiu HIV para a jovem. Logo, além de todo o sofrimento, ela enfrenta também todos os dramas psicológico possíveis de uma jovem que é mãe adolescente, que foi abusada pelo próprio pai, que por conta dos abusos acabou tendo dois filhos, que sofre violência da própria mãe e que não tem ajuda de ninguém para levar a vida com o mínimo de dignidade. Sendo assim, notamos que o filme realmente é muito triste e traz questões que demonstram muito a realidade de diversas pessoas e que precisam ser discutidas para justamente instruir a sociedade quanto à importância de se pensar numa estrutura social que é complexa e se vê diante de diversas “facadas”. No filme, após o corpo docente da escola tomar conhecimento de sua segunda gravidez e ir até a casa de Preciosa fazendo com que ela mude para uma escola alternativa é que a história da jovem começa a ganhar um ar de esperança. Lá, ela encontra a professora Rain, que vai auxiliá-la com diversas questões pessoais e a ajuda a enfrentar diversos empecilhos e a incentiva no que diz respeito aos estudos, onde ela vai começar a mudar o seu comportamento e se tornar uma pessoa mais esperançosa. E nesse contexto acontecem diversos fatos, Preciosa ganha neném, sai da casa da mãe e começa realmente uma história condizente com subtítulo do filme, uma história de esperança de vida. Assim, cabe utilizarmos desse contexto para abordarmos alguns tópicos estudados ao longo da disciplina e fazermos diversos contrapontos entre Psicologia, Direito e Sociedade. 2 DESENVOLVIMENTO Fazendo um contraponto do filme com os conteúdos estudados, podemos notar, frente ao drama de Preciosa, que o contexto psicológico é estritamente presente na narrativa. Levando em consideração os mecanismos de defesa do ego, diante de todos os abusos e violências sofridos pela jovem, há de se observar a repressão ou recalcamento (Freud, 1969), que funciona como uma “peninha” enterrada no nosso inconsciente e a todo momento irá, embora não perceptível, nos incomodar sob a forma de traumas etc. Assim, a jovem Preciosa, se formos levar em consideração uma análise mais consequente, poderá sofrer por diversos transtornos ao longo dos anos, por justamente ter essa “peninha” enterrada em sua mente, daí provém o contexto de atenção psicológica às vítimas de abusos e violência sexual. E diante disso, é imprescindível que o setor público de saúde mental, aqui universalizando o contexto, tenha um olhar mais atento para essas questões. No filme notamos que ela possui o apoio da professora, porém saindo da ficção percebemos que a realidade é bem distinta - nem sempre o apoio é presente. Já na esfera dos Direitos Humanos, é imprescindível que, como pessoas e seres sociáveis que somos, passamos a ter uma visão mais aberta e crítica do problema, já que em muitas vezes as vítimas não possuem infraestrutura adequada para falar sobre, mesmo no seio familiar, onde espera-se ter todo acolhimento, mas que em muitas das vezes é fonte direta do “caos”, como observado no longa. Daí, cabe destacar a não menos importância dos setores de assistência social. Sucede que, o fim da história se dá de uma forma não muito positiva, a jovem acaba descobrindo que é portadora de HIV e com os dois filhos no braço ela se pendura nessa última gota de esperança onde, diferentemente dos contos de fada, ela continua a lutar para viver com o mínimo de dignidade que todo e qualquer ser humano merece. Por isso, para os operadores do Direito, a análise psicológica vem a contribuir, ao ajudá-los a entender melhor a mente humana, para que medidas e contribuições à sociedade sejam efetivadas no âmbito dos Direito e consequente Direitos Humanos. Ainda no anseio da psicologia, podemos fazer referência à teoria freudiana do desenvolvimento psicossexual e a organização em torno do Complexo de Èdipo (aqui numa análise muito mais superficial), já que ela sofria abusos do pai e assim temos a figura do complexo concretizada, o que gera uma grande deturpação de todo o contexto dos Direitos Humanos, embora podemos notar os aspectos estabelecidos pelo considerado “pai da psicanálise”, haja vista que o pai da jovem fez com que a situação incestuosa parecesse normal diante do contexto do inconsciente da jovem, prometendo-a até mesmo casamento. O que abre caminho para a discussão dos transtornos mentais e que evidencia o mecanismo da negação. Além disso, podemos notar também que ao fazermos uma análise superficial dos personagens do filme, é perceptível que a mãe da protagonista possui trações do Transtorno Explosivo Intermitente, ao passo em que ela apresenta constantes crises explosivas agredindo a filha por motivos banais. Entretanto, sabemos que apesar de apresentartraços, isso não é o suficiente para fazer um diagnóstico, aqui ficando apenas essa ressalva. Notamos também que a mãe da jovem possui traços do Transtorno da Personalidade Narcisista, já que ela apresenta falta de empatia pelas pessoas, inclusive pela filha e tem reação inadequada a críticas, bem como relacionamento explorador direcionado para satisfazer as necessidades de seu próprio ego (TRINDADE, Jorge. P. 154). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por fim, esse estudo foi muito importante, como já mencionado, por constituir um objeto dinâmico que vem a abranger diversas temáticas que estão inerentes à perspectiva da realidade social. A psicologia vem auxiliar o Direito no sentido de mostrar como os atos e comportamentos dos indivíduos podem causar consequências psicológicas e como a questão se insere no arcabouço da pessoa como ser social que merece viver com dignidade, abstraindo toda forma de preconceito, desigualdade e privações. E foi diante dessas facetas que se deu essa correlação com o ilustre filme dirigido por Lee Daniels. Notamos que a realidade nem sempre é congruente com nossas expectativas. Muitas vezes a verdade choca e nos faz perceber muito além de nosso nicho que muitas vezes é de conforto. Foi justamente essa dramaticidade que fez do filme uma obra tão importante: perceber o não ideal, perceber a realidade alheia, perceber os empecilhos, olhar para os laços que a vida nos propõe, às vezes é necessário, mas nem sempre é aspirado pelas nossas expectativas. Outrossim, além do contexto social intrínseco, a transcendência deste aspecto desemboca na questão de como colocar as premissas de garantia de direitos à, integridade física, psicológica e à própria saúde sob o âmbito da prática. Pois embora alguns projetos e leis visem esse enfoque, especialmente deduzindo no contexto brasileiro, na maioria das vezes observamos que o país é marcado por uma desigualdade acentuada, muito preconceito, muitas privações e deturpação da dignidade humana que necessitam de uma atenção muito maior, seja pelas mais diversas partes e setores, começando desde a conscientização e mobilização individual, até os grupos maiores, como apresentado na figura estudantil, que diante deste trabalho, não somente serviu como preceito avaliativo, mas também como um contexto que abrange a educação, o conhecimento, a Psicologia, o Direito, a reflexão, a percepção de uma realidade cruel e que nem por isso pode ser deixada de lado. O filme dialoga muito com todos os ramos sociais, a história de Preciosa serve como essa “peninha” que vai despertar de alguma forma diversas reflexões nos mais variados setores. Aqui destacando a importância deste trabalho como sendo instrumento reflexivo e agregador na relação discente-docente. REFERÊNCIAS TRINDADE, Jorge. Manual de Psicologia Jurídica para operadores do Direito. 6. ed. rev. atual. e aum. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2012. 751 p. v. 25 cm. ISBN 978-85-7348-804-3. NATÁLIA, Leandro. Filme: Preciosa. Arte no Divã: Equipe "Arte no Divã", 14 jun. 2010. Disponível em: https://blogartenodiva.blogspot.com/2010/06/filme-preciosa.html Acesso em: 11 dez. 2021. https://blogartenodiva.blogspot.com/2010/06/filme-preciosa.html