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Curso Básico de Direitos da Criança e do Adolescente

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Prévia do material em texto

Ministério dos Direitos Humanos
Secretaria Executiva do Ministério dos Direitos Humanos
Departamento de Promoção dos Direitos Humanos
Coordenação Geral de Educação em Direitos Humanos
Brasília/Distrito Federal
2018
Criança e Adolescente: módulo básico para Conselhos Tutelares e Conselhos 
dos Direitos da Criança e do Adolescente. 
2
Criança e Adolescente: módulo básico para Conselhos Tutelares e 
Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Apresentação
Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação básica em direitos 
da criança e do adolescente de Conselhos Tutelares e Conselhos dos Direitos 
da Criança e do Adolescente. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel 
do sistema de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portanto, o 
eixo central dos conteúdos trabalhados.
O curso para Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos 
Tutelares está dividido em dois módulos. No primeiro será abordado o tema 
direitos humanos das crianças e adolescentes, a partir da construção histórica, 
documentos internacionais e nacionais. No segundo, serão discutidas as 
Políticas de Promoção, Garantia e Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e 
Adolescentes no Brasil, os novos temas e cenários que impactam no atendimento 
individualizado a esse público.
Os módulos foram estruturados com o objetivo de proporcionar familiarização 
em temas gerais ligados aos direitos humanos da criança e do adolescente. 
Optou-se por trazer os conceitos básicos deste campo e propor o diálogo dos 
aspectos teóricos com a prática dos conselhos por meio de infográfi cos, estudos 
de caso, sugestão de vídeos e leituras externas. Ao fi nal de cada aula o aluno 
contará com um resumo do conteúdo e os resultados alcançados. 
Trata-se, portanto, de um curso introdutório que servirá de linha de base para 
o aprofundamento da prática dos conselhos embasada em aspectos teóricos 
relevantes. Assim, não tem o objetivo de esgotar o debate, ao contrário, pretende 
instrumentalizar a discussão sobre a importância da ação qualifi cada desses 
conselhos e seu papel na garantia dos direitos das crianças e adolescentes no 
Brasil e na afi rmação da democracia.
Com essa premissa, alguns documentos normativos nacionais e internacionais, 
como tratados internacionais, atos normativos, estudos, artigos científi cos 
e pesquisas serão referenciados durante as apresentações e também nas 
questões avaliativas.
Apresentação
Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação 
básica em direitos da criança e do adolescente de Conselhos 
Tutelares e Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescen-
te. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel do sistema 
de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portan-
to, o eixo central dos conteúdos trabalhados.
Objetivo Geral
Contribuir para o desenvolvimento profissional dos consel-
heiros dos direitos da criança e do adolescente e conselheiros 
tutelares, instrumentalizando-os para o exercício de seu papel 
de fortalecer a garantia dos direitos infantojuvenis, conforme os 
princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA) e pela Convenção sobre os Direitos da Criança, 
frente aos novos desafios da pós-modernidade. 
Objetivos específicos
 Desenvolver o material didático-pedagógico, no formato de 
ensino à distância (EaD), para utilização nos processos de 
formação e capacitação dos conselheiros de direitos e conse -
lheiros tutelares, na área de direitos humanos da criança e do 
adolescente. 
 Capacitar integrantes dos conselhos de direitos e conselhos 
tutelares para uma atuação embasada em preceitos normativos 
nacionais e internacionais, a partir de metodologia interdisci-
plinar. 
 Instrumentalizar conselhos de direitos e conselhos tutelares 
para a atuação qualificada em prol da garantia dos direitos 
humanos da criança e do adolescente. 
 O curso será realizado na modalidade a distância, por meio de 
plataforma Moodle, executado na Escola Virtual da Enap, tanto 
para apresentação e facilitação do conteúdo quanto para cumpri-
mento das atividades avaliativas.
O conteúdo será formulado a partir de referenciais teóricos e 
normativos e terá como linha de base uma pesquisa com conse -
lheiros sobre as maiores lacunas na sua formação que impactam 
no cotidiano de sua atuação. 
Será disponibilizado conteúdo teórico escrito e apresentação de 
vídeos. Para tornar o conteúdo o mais próximo do cotidiano dos 
conselheiros dos direitos da criança e conselheiros tutelares, será 
utilizada a metodologia de estudo de casos. 
Para facilitar a aprendizagem será elaborado um grupo de 
questões orientadoras para cada estudo de caso apresentado. 
Espera-se assim, facilitar ao público do curso o estabelecimento 
de um link do caso com o conteúdo teórico, compondo assim, um 
acervo de 09 (nove) estudos com vídeos explicativos que estarão 
disponíveis para compor uma casoteca sobre o tema. 
Módulo 1. Direitos Humanos da Crianças e do Adoles-
centes.
Aula 1. O Conceito de Infância e os desafios da pós-moder-
nidade. 
Aula 2. Normativas Internacionais e Nacionais.
Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o 
Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adoles-
cente (SDGCA).
Módulo 2. Políticas Públicas de Promoção, Garantia e 
Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. 
Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e 
Adolescente.
Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária.
Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducati-
vo- SINASE.
Aula 7. O Enfrentamento às Violências contra a Criança e 
ao Adolescente.
Aula 8. Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adoles-
centes. 
Aula 9. A Diversidade e Interseccionalidade.
 
METODOLOGIA
CRIANÇA E ADOLESCENTE: MÓDULO BÁSICO PARA CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS 
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
conselheiro
Sistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de Direitos
ControleControleControleControleControleControlePromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
DefesaDefesaDefesaDefesaDefesaDefesa
3
Apresentação
Este curso foi desenhado para contribuir com uma formação 
básica em direitos da criança e do adolescente de Conselhos 
Tutelares e Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescen-
te. Os direitos de crianças e adolescentes e o papel do sistema 
de garantia de direitos na efetivação de tais direitos são, portan-
to, o eixo central dos conteúdos trabalhados.
Objetivo Geral
Contribuir para o desenvolvimento profissional dos consel-
heiros dos direitos da criança e do adolescente e conselheiros 
tutelares, instrumentalizando-os para o exercício de seu papel 
de fortalecer a garantia dos direitos infantojuvenis, conforme os 
princípios estabelecidos pelo Estatuto da Criança e do Adoles-
cente (ECA) e pela Convenção sobre os Direitosda Criança, 
frente aos novos desafios da pós-modernidade. 
Objetivos específicos
 Desenvolver o material didático-pedagógico, no formato de 
ensino à distância (EaD), para utilização nos processos de 
formação e capacitação dos conselheiros de direitos e conse -
lheiros tutelares, na área de direitos humanos da criança e do 
adolescente. 
 Capacitar integrantes dos conselhos de direitos e conselhos 
tutelares para uma atuação embasada em preceitos normativos 
nacionais e internacionais, a partir de metodologia interdisci-
plinar. 
 Instrumentalizar conselhos de direitos e conselhos tutelares 
para a atuação qualificada em prol da garantia dos direitos 
humanos da criança e do adolescente. 
 O curso será realizado na modalidade a distância, por meio de 
plataforma Moodle, executado na Escola Virtual da Enap, tanto 
para apresentação e facilitação do conteúdo quanto para cumpri-
mento das atividades avaliativas.
O conteúdo será formulado a partir de referenciais teóricos e 
normativos e terá como linha de base uma pesquisa com conse -
lheiros sobre as maiores lacunas na sua formação que impactam 
no cotidiano de sua atuação. 
Será disponibilizado conteúdo teórico escrito e apresentação de 
vídeos. Para tornar o conteúdo o mais próximo do cotidiano dos 
conselheiros dos direitos da criança e conselheiros tutelares, será 
utilizada a metodologia de estudo de casos. 
Para facilitar a aprendizagem será elaborado um grupo de 
questões orientadoras para cada estudo de caso apresentado. 
Espera-se assim, facilitar ao público do curso o estabelecimento 
de um link do caso com o conteúdo teórico, compondo assim, um 
acervo de 09 (nove) estudos com vídeos explicativos que estarão 
disponíveis para compor uma casoteca sobre o tema. 
Módulo 1. Direitos Humanos da Crianças e do Adoles-
centes.
Aula 1. O Conceito de Infância e os desafios da pós-moder-
nidade. 
Aula 2. Normativas Internacionais e Nacionais.
Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o 
Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adoles-
cente (SDGCA).
Módulo 2. Políticas Públicas de Promoção, Garantia e 
Defesa dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes. 
Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e 
Adolescente.
Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária.
Aula 6. O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducati-
vo- SINASE.
Aula 7. O Enfrentamento às Violências contra a Criança e 
ao Adolescente.
Aula 8. Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adoles-
centes. 
Aula 9. A Diversidade e Interseccionalidade.
 
METODOLOGIA
CRIANÇA E ADOLESCENTE: MÓDULO BÁSICO PARA CONSELHOS TUTELARES E CONSELHOS DOS DIREITOS 
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
conselheiro
Sistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de DireitosSistema de Garantia de Direitos
ControleControleControleControleControleControlePromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoçãoPromoção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Análise da Situação
Atendimento
Prevenção
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Articulação
e Mobilização
Protagonismo Juvenil
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
Defesa
e
Responsabilização
DefesaDefesaDefesaDefesaDefesaDefesa
4
MÓDULO 1. DIREITOS HUMANOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Carga Horária: 6h
Aula 1. O Conceito de Infância e os desafi os da Pós-modernidade
• Conteúdo Programático: 
 o Origem e construção do conceito de infância no Brasil. 
 o Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas.
 o Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência. 
• Análise e discussão de estudos de caso.
• Estudo de caso 1.
1.1. Origem e construção do conceito de infância no Brasil
A criança recebe o estatuto de “criança” instituído através de políticas 
sociais introduzidas pelo Estado, apenas a partir do século XVIII. Essa infantilização 
da criança não é natural nem generalizável a todas as sociedades. Relata-se 
que até o início da época moderna, a criança passava a ser independente, cuidar 
de si mesma e frequentar o mundo dos adultos como uma igual por volta dos 
sete anos.
O processo de infantilização se inicia a partir de um interesse acentuado 
pela educação da criança, desenvolvido pelo Estado, com objetivos de assegurar 
uma população adulta saudável, adaptada e produtiva. Essa política aguça o 
interesse dos eclesiásticos e higienistas, que se apresentavam antes de tudo, 
como moralistas. A família deixa de ser capacitada a educar os fi lhos e estes 
passam a ser educados sob a tutela da escola. 
Apenas no século XIX a criança foi objeto da primeira norma legal de 
proteção que estabelecia o limite mínimo de idade para o trabalho nas minas 
de carvão. Com a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 
1919, surge a necessidade de criação de mecanismos jurídicos de proteção da 
criança no ambiente de trabalho.
A ideia de proteção à infância surgiu apenas no fi nal do século XIX e 
início do século XX, porém como aplicação dos direitos do homem à infância, 
somente nos últimos vinte anos do século XX.
5
O século XVIII ainda enxergava as crianças como “menores” que 
precisariam de alguma proteção do Estado, através de um sistema disciplinador, 
até conseguirem alcançar condições para ingressarem no modo de produção 
econômica. 
Em 1919, com a criação da OIT, sua Carta do Trabalho, do mesmo ano, 
documento que regeria a atuação da OIT, explicitamente prevê na alínea “f” a 
“abolição do trabalho Infantil.”
Em 1924, A Liga ou Sociedade das Nações, considerada a antecessora da 
Organização das Nações Unidas (ONU), publicou a Declaração sobre os Direitos 
da Criança, composta por um preâmbulo e cinco princípios. Esse documento 
serviu de base para a Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959. 
No pós-Segunda Guerra surge o Fundo de Emergência das Nações 
Unidas para as Crianças (UNICEF), criado para auxiliar as crianças dos 
países assolados pela guerra. Em 1953 o Fundo foi transformado em agência 
permanente e especializada da ONU para a assistência à infância dos países em 
desenvolvimento.
 Com a criação das Nações Unidas surgiram inúmeros documentos 
referenciais atinentes à infância. Declarações, Resoluções e Tratados 
internacionais passaram a se ocupar da proteção da criança no âmbito global, 
aliados a sistemas regionais de direitos humanos. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 marcou 
uma nova etapa do sistema de valores no âmbito internacional, transcendendo 
a questões ideológicas, culturais ou religiosas, e se apresentou como universal 
(direcionada a todos os seres humanos, sem distinção), além de situá-los no 
mesmo plano os direitos civis, políticos econômicos, sociais e culturais. 
A DUDH tornou-se referência e fundamentação de todas as declarações 
e tratados internacionais de Direitos Humanos que lhe seguiram. Em relação 
às crianças, a Declaração de 1948 faz expressa menção ao direito a cuidados 
especiais para a maternidade e a infância, tema que foi retomado posteriormente 
na Declaração dos Direitos da Criança, de 1959, e na Convenção sobre os 
Direitos da Criança (CDC), de 1989.
6
A partir da Declaração dos Direitos da Criança a realidadeda infância 
sofre alteração, ainda numa perspectiva simbólica muito mais normativa do 
que com reais participações sociais ou políticas. Porém, a alteração da norma 
internacional impôs uma evolução hoje bastante sentida, sobretudo no Brasil, 
que elaborou uma norma muito avançada do ponto de vista da garantia dos 
direitos da criança.
Essa evolução tem imposto novos debates sobre reais práticas de 
efetivação dos direitos protagonizados na Convenção sobre os Direitos da 
Criança e no Estatuto da Criança e do Adolescente.
1.2. Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas
Com todos os estudos, debates e práticas realizadas a partir do ECA e após 
28 anos de aprendizagem de instituições e da população brasileira, o momento 
atual demanda um exercício de repensar o conceito de infância. O paradigma atual 
precisa reconhecer a infância e adolescência enquanto população que participa 
da vida social, ocupa espaços públicos, altera as dinâmicas das cidades e até 
tem infl uenciado no mercado. Esse contexto impõe a redefi nição de conteúdos, 
métodos, processos, práticas e resultados que levem em conta a participação 
desse público e dos demais atores sociais. 
Para esse novo olhar é preciso reduzir as diferenças entre adultos e 
crianças, sobretudo de oportunidades. Produzir, portanto, novas narrativas que 
deem conta de localizar a criança e o adolescente como sujeitos subjetivos com 
sua origem e história infl uenciando o seu lugar social atual. 
Não defende-se aqui uma aproximação do conceito de criança e adulto, 
mas de reconhecimento de que essa diferença varia segundo épocas e culturas, 
ou seja, a diferença é produzida social e historicamente.
O lugar da infância sofre alteração sobretudo com a eclosão da rede 
internacional de computadores. O deslocamento virtual e o acesso à informação 
aproximam adultos a crianças e, por outro lado, ressaltam a existência de 
diversas infâncias. 
Nesse sentido, é inadiável considerar o conceito de infância de forma 
dinâmica, em evolução, de acordo com um novo lugar social, com direitos 
7
positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem 
contudo, perder a lógica da proteção de direitos. 
Esse novo olhar permitirá o reconhecimento de uma infância muito mais 
conectada com o mundo adulto e com o mundo de outras infâncias. A chamada 
“fi cção universalizante da infância” precisa ser repensada principalmente pelos 
órgãos de atendimento e, no Brasil, pelo Sistema de Garantia dos Direitos. 
1.3. Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência
A criança não se constitui no amanhã: ela é hoje, no seu presente,
um ser que participa da construção da história e da cultura de seu 
tempo” (Jobim e Souza, 1994, p.159).
 Pensar a criança como um sujeito de direitos em uma perspectiva presente 
e não como um promessa para o futuro. Esse olhar implica noutro modo de 
conceber a sociedade e a vida humana. A sociedade ocidental tende a inserir 
tudo em modelos e a infância não fugiu a tal tendência. Assim, tudo que escapa 
aos padrões é considerado desvio, ou ‘um menos’ ou ‘ainda não’ que precisa 
se enquadrar ou evoluir até o modelo estabelecido como ideal. As crianças são 
concebidas assim, devem se comportar dentro de um padrão. São interpretações 
criadas por seres humanos em determinados contextos sócio-históricos e, como 
tais, podem e devem ser constantemente questionados e transmutados.
Em contraposição a este pensamento, pode-se ter maior facilidade 
para entender a infância na contemporaneidade dentro de um pensamento 
processual, em que não existe uma forma pré-fi xada, mas uma construção 
permanente, admitido novos formatos de relações dos adultos, com a criança 
e o adolescente, baseadas sobretudo no respeito aos direitos humanos, iguais 
e indivisíveis, reconhecendo a participação igualitária como premissa para um 
novo marco civilizatório.
8
Estudo de caso:
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu 
município para fazer o acompanhamento pré-natal. Ao chegar ao hospital não 
consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não 
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada 
para a ala infantil que tem prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada 
procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse caso, o que pode 
ser feito? Qual o embasamento legal?
O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com 
base no art. 136, inciso III, alínea “a” do ECA que dá poderes administrativos 
ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, 
serviço social, previdência, trabalho e segurança. 
Nesse caso, a justifi cativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois 
a criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante 
a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. 
Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º é assegurado à gestante no pré e pós-
parto, pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e acompanhamento 
médico na fase pré-natal. 
-
CONTEÚDO
O Conceito de Infância e os 
desafios da pós-modernidade.
Origem e construção do conceito de infância no Brasil. 
Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas.
Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência.
A doutrina sobre a história da humanidade transparece uma invisibilidade da infância no mundo.
A criança recebe o estatuto de “criança” instituído através de políticas sociais introduzidas pelo Estado, apenas a 
partir do século XVIII.
Apenas no século XIX a criança foi objeto da primeira norma legal de proteção que estabelecia o limite mínimo de 
idade para o trabalho nas minas de carvão.
Com todos os estudos, debates e práticas realizadas a partir do ECA e após 28 anos de aprendizagem de 
instituições e da população brasileira, o momento atual demanda um exercício de repensar o conceito de infância.
É inadiável considerar o conceito de infância de forma dinâmica, em evolução de acordo com um novo lugar social, 
com direitos positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem contudo, perder a lógica 
da proteção de direitos. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948.
Declaração dos Direitos da Criança – 1959.
Convenção sobre os Direitos da Criança – 1989.
Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB/88.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8.069/1990.
RESUMO DO 
CONTEÚDO
DOCUMENTOS
REFERENCIAIS
NA PRÁTICA
QUER ENTENDER 
MELHOR?
RESULTADO
Estudo de caso
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu município para fazer o acompanhamento 
pré-natal. Ao chegar ao hospital não consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não 
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada para a ala infantil que tem 
prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse 
caso, o que pode ser feito? Qual o embasamento legal?
O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com base no art. 136, inciso III, alínea “a” do 
ECA que dá poderes administrativos ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, 
serviço social, previdência, trabalho e segurança. 
Nesse caso, a justificativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois a criança e o adolescente têm direito 
a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º 
é assegurado à gestante no pré e pós-parto,pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e 
acompanhamento médico na fase pré-natal. 
Adquiriu conhecimentos básicos sobre o conceito da infância no mundo e no Brasil, sua evolução histórica e os 
atuais desafios para a garantia dos direitos da criança e do adolescente. 
A invenção da Infância - https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ
TV Escola - 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente - https://www.youtube.com/watch?v=- tO0q1b7ygb4
RESUMO AULA1
9
-
CONTEÚDO
O Conceito de Infância e os 
desafios da pós-modernidade.
Origem e construção do conceito de infância no Brasil. 
Conceito de infância contemporâneo e as novas narrativas.
Pós-modernidade e os destinos da infância e da adolescência.
A doutrina sobre a história da humanidade transparece uma invisibilidade da infância no mundo.
A criança recebe o estatuto de “criança” instituído através de políticas sociais introduzidas pelo Estado, apenas a 
partir do século XVIII.
Apenas no século XIX a criança foi objeto da primeira norma legal de proteção que estabelecia o limite mínimo de 
idade para o trabalho nas minas de carvão.
Com todos os estudos, debates e práticas realizadas a partir do ECA e após 28 anos de aprendizagem de 
instituições e da população brasileira, o momento atual demanda um exercício de repensar o conceito de infância.
É inadiável considerar o conceito de infância de forma dinâmica, em evolução de acordo com um novo lugar social, 
com direitos positivados e com participação social efetiva, entre pares e com adultos, sem contudo, perder a lógica 
da proteção de direitos. 
Declaração Universal dos Direitos Humanos - 1948.
Declaração dos Direitos da Criança – 1959.
Convenção sobre os Direitos da Criança – 1989.
Constituição da República Federativa do Brasil – CRFB/88.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – Lei 8.069/1990.
RESUMO DO 
CONTEÚDO
DOCUMENTOS
REFERENCIAIS
NA PRÁTICA
QUER ENTENDER 
MELHOR?
RESULTADO
Estudo de caso
Ana, 20 anos, está grávida e procura o único hospital de referência do seu município para fazer o acompanhamento 
pré-natal. Ao chegar ao hospital não consegue ser inserida no atendimento. A equipe do hospital responde que não 
tem verba para o atendimento integral, e a verba do serviço pré-natal foi deslocada para a ala infantil que tem 
prioridade, no caso de Ana ela é adulta. Inconformada procura o Conselho Tutelar, para solicitar providências. Nesse 
caso, o que pode ser feito? Qual o embasamento legal?
O Conselho Tutelar poderá requisitar serviço de atendimento público, com base no art. 136, inciso III, alínea “a” do 
ECA que dá poderes administrativos ao Conselho para requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, 
serviço social, previdência, trabalho e segurança. 
Nesse caso, a justificativa da equipe do hospital é completamente ilegal, pois a criança e o adolescente têm direito 
a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Enquanto nascituro, conforme o artigo 8º 
é assegurado à gestante no pré e pós-parto, pelo sistema único de saúde, atendimento adequado e 
acompanhamento médico na fase pré-natal. 
Adquiriu conhecimentos básicos sobre o conceito da infância no mundo e no Brasil, sua evolução histórica e os 
atuais desafios para a garantia dos direitos da criança e do adolescente. 
A invenção da Infância - https://www.youtube.com/watch?v=c0L82N1C7AQ
TV Escola - 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente - https://www.youtube.com/watch?v=- tO0q1b7ygb4
RESUMO AULA1
10
Aula 2. Normas Internacionais e Nacionais
2.1. Normas Internacionais 
No Brasil do fi nal dos anos 80, ao tempo da realização do processo 
constituinte brasileiro (1988), se conclui o longo processo de estabelecimento da 
Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), tratado de direitos humanos que 
reconhece a titularidade da criança como sujeito de direitos humanos gerais e 
especiais no sistema internacional de direitos humanos. Nesse período, o Criança 
Constituinte e o Criança Prioridade Nacional, dois movimentos da sociedade 
civil, pautam o estabelecimento dos princípios da proteção integral dos direitos 
da criança e do adolescente com absoluta prioridade no texto constitucional 
nascente. 
Indiscutivelmente operou-se uma mudança paradigmática. A visão da 
“crianç a-objeto”, da “criança menor”, ou seja, a visão higienista, menorista e 
correicional é confrontada, por força criativa da mobilização social, pela visão 
da criança como sujeito de direitos. O mais importante neste movimento é a 
afi rmação da universalidade dos direitos da criança. 
Todo esse movimento surge a partir da construção de alguns marcos 
normativos internacionais:
11
A partir da ratifi cação pelo Brasil da CDC, esta – tornando-se norma 
supralegal (acima das demais legais) e infraconstitucional – passou a ser a 
base normativa dos princípios contidos no Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA) e de todas as demais leis infraconstitucionais na área. 
Durante a primeira década do século XXI a comunidade internacional 
prosseguiu trabalhando ligada aos direitos humanos. Dentre os diversos 
12
documentos ligados à questão da infância destacam-se os três protocolos à 
CDC:
Destaca-se, ainda, o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas 
contra o Crime Organizado Transnacional (Palermo, 2000), relativo à 
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfi co de Pessoas, em especial Mulheres 
e Crianças e o recente Terceiro Congresso Mundial de Enfrentamento à 
Exploração de crianças e Adolescentes.
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do 
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao 
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, 
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, 
à profi ssionalização, à cultura, à dignidade, ao 
respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda 
forma de negligência, discriminação, exploração, 
violência, crueldade e opressão.
2.2. Dispositivos da Constituição Federal
Utilizando-se uma proposta didática desenvolvida pelo professor 
Antônio Carlos Gomes da Costa, é possível compreender a dimensão da 
promoção de direitos, trabalhando-os a partir de três macro conceitos: o direito 
à sobrevivência, o direito ao desenvolvimento e o direito à integridade, que, 
traduzidos, refl etem, em diferentes momentos, o estabelecido pelo art. 227, da 
Constituição, e o art. 4º, do ECA:
Vida, saúde e alimentação são 
consideradas como direito à 
sobrevivência.
Educação, cultura, 
profi ssionalização e lazer são 
defi nidos como direito ao 
desenvolvimento pessoal e social.
Art. 227 É dever da família, da sociedade e do 
traduzidos, refl etem, em diferentes momentos, o estabelecido pelo art. 227, da 
13
Assim, é possível construir todas as possibilidades de reconhecimento 
dos direitos da criança e do adolescente relacionados a uma perspectiva de 
desenvolvimento humano. 
2.3. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 
O Brasil foi o primeiro país a promulgar um marco legal, o ECA, em 
1990, em consonância com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), 
decorrido apenas um ano de sua aprovação no âmbito das Nações Unidas. 
Estima-se que o ECA tenha inspirado mais de 15 reformas legislativas em outros 
países, em especial na América Latina.
Entende-se, portanto, que o arcabouço normativo internacional e 
nacional expressam uma opção ético-jurídico-política. Ao reconhecer a cidadania 
e a condição humana da criança e do adolescente e a condição de sujeitos de 
direitos, assumem todos a responsabilidade pela promoção, controle e garantia 
desses direitos. Esse é um devir histórico. 
O ECA apresenta inovações que, até hoje, não encontram similaridadeem outros países, a exemplo dos Conselhos dos Direitos, com composição 
paritária e caráter formulador, deliberativo e de controle social das políticas 
públicas destinadas a crianças e adolescentes, bem como os Conselhos 
Tutelares, eleitos na própria comunidade e com independência em relação aos 
Três Poderes, com as funções de ouvidoria comunitária e de fi scalização dos 
programas de atendimento.
Na sua primeira parte, que vai do art. 1º até o art. 85, o ECA traz uma 
síntese de toda a sua essencialidade e riqueza, quando aponta caminhos (as 
políticas de garantia de direitos) como deveres da sociedade, do Estado e da 
família. Esses dispositivos propõem e detalham os deveres de instituições e 
atores em relação ao tratamento a ser dispensado a crianças e adolescentes 
no país. É importante destacar que os deveres estão vinculados a uma tríplice 
responsabilidade, conforme determina o art. 227, da Constituição Federal.
Liberdade, respeito e dignidade se enquadram como direito à integridade 
física, psicológica e moral.
14
 Esse conjunto de direitos deriva de bases normativas internacionais, 
principalmente da CDC, que a Constituição de 1988, de forma antecipada, cuidou 
de incorporar como lições cidadãs.
Toda essa conquista, na verdade, decorre de um processo histórico 
cujo desfecho somente foi possível alcançar na década de 1990. Durante 
vários anos, sobretudo na década de 1970, a construção da história social 
brasileira em relação a esses segmentos foi sendo construída de forma 
bastante equivocada, adotando por referência a Doutrina da Situação Irregular, 
que permeou todo o conjunto das políticas sociais brasileiras com um caráter 
paternalista, assistencialista e tutelar. Essa doutrina considerava que crianças 
e adolescentes, hoje reconhecidos como sujeitos ou titulares de direitos, eram 
apenas “portadores de necessidades”, cujas vidas fi cavam quase sempre 
vinculadas ao perfi l dos então chamados Juízes de Menores. Essas autoridades 
– dentro de uma nova concepção – passam a trabalhar com uma nova visão, não 
mais considerando crianças e adolescentes como seres tutelados pela Justiça. 
A superação do assistencialismo e do paternalismo ocorre quando se assume 
a importância do atendimento das necessidades básicas dessa população não 
como um favor ou caridade, mas como direitos assegurados por lei. Com a 
vigência do ECA, impõe-se uma outra forma de compreender e agir em relação 
a crianças e adolescentes, sustentada pela inovadora concepção da Doutrina 
da Proteção Integral. Essa doutrina estabelece um novo paradigma nos campos 
jurídico e social, ao criar vínculos normativos que asseguram a efetividade dos 
direitos públicos subjetivos dessa população.
2.4. Resoluções do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente
O Conselho Nacional dos Direitos da Criança (CONANDA) tem, dentre 
outras, a competência de elaborar normas gerais da política nacional de 
atendimento dos direitos da criança e do adolescente, fi scalizando as ações de 
execução, observadas as linhas de ação e as diretrizes estabelecidas nos arts. 
87 e 88 do ECA. Por meio de resoluções, o CONANDA tem dado visibilidade aos 
15
seus atos administrativos, decisões ou recomendações. Todas as resoluções 
são publicadas no Diário Ofi cial da União. 
CONHEÇA AS RESOLUÇÕES E DO FUNCIONAMENTO DOS 
CONSELHOS DE DIREITOS.
Acesso no link um vídeo de um Conselheiro sobre o tema:
https://drive.enap.gov.br/index.php/s/IEZzZmY11shudXS
Acesse no link abaixo todas as resoluções do CONANDA:
http://www.direitosdacrianca.gov.br/resolucoes/conanda/resolucoes/lista 
CONHEÇA AS RESOLUÇÕES E DO FUNCIONAMENTO DOS 
Estudo de caso:
O Sr. João Andrade, procura o Conselho de Direitos de seu Estado, no dia 
02 de fevereiro de 2018, para fazer a doação de um terreno para os projetos 
de atendimento a crianças e adolescentes do seu Estado, porém tem algumas 
dúvidas: 1. Se ele pode doar um bem imóvel; se essa doação poderá ser 
declarada na sua declaração anual de renda para obter desconto no valor a 
pagar; como ele poderia formalizar essa doação? 
Como Conselheiro como responderia para o Sr. João?
A doação poderá ser realizada para o Fundo dos Direitos da Criança e do 
Adolescente do seu Estado(FEDCA) ou do seu Município (FMDCA). O artigo 
260-C, do ECA, com redação determinada pela referida Lei nº 12.594/2012, 
estabelece que as doações podem ser efetuadas em bens ou espécie, sendo 
que aquelas efetuadas em espécie devem ser depositadas em conta específi ca, 
em instituição fi nanceira pública, vinculada aos respectivos fundos de que trata 
o art. 260, do mesmo Diploma Legal. 
Quanto à dedução, a mesma Lei também estabelecidos novos limites e regras 
para dedução no imposto de renda das doações devidamente comprovadas aos 
Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, estaduais 
ou municipais. 
A partir da Lei nº 12.594/2012, as doações aos Fundos dos Direitos da Criança e 
do Adolescente, devidamente comprovadas, podem ser integralmente deduzidas 
do imposto de renda, obedecidos os limites de: Pessoas Físicas: 6% (seis por 
cento) do imposto apurado na Declaração de Ajuste Anual (Modelo Completo), 
observando-se que tal limite corresponde ao somatório das deduções relativas 
16
às doações aos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente juntamente 
com as deduções relativas a doações aos Fundos do Idoso; investimentos e 
patrocínios em obras audiovisuais; doações e patrocínios de projetos culturais 
e; doações e patrocínios em projetos desportivos e paradesportivos (artigo 260, 
inciso II, da Lei nº 8.069/1990, RIR/99 e Instrução Normativa RFB nº 1.131/2011, 
arts. 1º a 8º e 54 a 60);
Embora a lei permita que a pessoa física doe anualmente até 6% do imposto de 
renda devido, conforme disposto no artigos 260 e 260-A, da Lei nº 8.069/2012, 
os depósitos realizados entre 1º de janeiro a 30 de abril do ano corrente poderão 
ser deduzidos do imposto apurado na Declaração de Imposto de Renda/Pessoa 
Física deste mesmo período, até o limite de 3%, ou seja, os valores doados 
até abril não precisam necessariamente aguardar até a entrega da declaração 
do exercício seguinte para serem utilizados como benefício fi scal. As doações 
deste período que excederem o limite de 3% poderão ser deduzidas do imposto 
apurado na declaração do exercício seguinte, respeitando-se o limite anual de 
6%.
No caso do Sr. Andrade, o valor será o valor de mercado do imóvel ou o constante 
na Declaração de Bens e Direitos da Declaração de Ajuste Anual do imposto 
sobre a renda ou ainda, caso ele tenha comprado o imóvel em 2018 ( mesmo 
ano da doação) será considerado o valor pago.
1717
18
Aula 3. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Sistema de 
Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGD)
3.1. O ECA e o SGD em detalhes
As disposições contidas na Constituição Federal de 1988 e no ECA 
estabeleceram uma nova confi guração jurídica em relação aos direitos da 
infância, da adolescência e da juventude no Brasil. O ECA – mais do que uma lei 
– é um projeto de sociedade! As disposições ali contidas devem ser analisadas, 
portanto, a partir de uma dimensão ética, de pressupostos sociais, fi losófi cos e 
políticos que orientam toda a sua concepção, considerada paradigmática em 
conteúdo e forma. 
 São, desta forma, previstos os direitos à vida, à saúde, à liberdade, ao 
respeito, à dignidade, à convivência familiar e comunitária, à educação, à cultura, 
ao esporte, ao lazer, à profi ssionalização e à proteção no trabalho. 
O ECA divide-se em dois livros. O Livro Primeiro defi ne os direitos 
fundamentais - à vida e à saúde (arts. 7º a 14); à liberdade, ao respeito e à 
dignidade (arts. 15 a 18); à convivência familiar e comunitária (arts. 19 a 24); à 
educação, à cultura, ao esporte e ao lazer (arts. 53 a 59); à profi ssionalizaçãoe 
à proteção no trabalho (arts. 60 a 69) - e o dever, defi nido como sendo de todos, 
de prevenção da ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do 
adolescente (arts. 70 a 85). A inobservância das normas de prevenção importa 
em responsabilidade da pessoa física ou jurídica (art. 73).
O Livro Segundo fi xa as diretrizes da Política de Atendimento dos 
Direitos da Criança e do Adolescente (arts. 86 a 89); dispõe sobre as entidades 
prestadoras de atendimento e sua fi scalização e sobre as formas de atendimento 
(arts. 90 a 97); e especifi ca as medidas de proteção de crianças e adolescentes 
em situação de risco (arts. 98 a 102). Defi ne, ainda, a prática de ato infracional 
(arts. 103 a 105), os direitos do adolescente autor de infração (arts. 106 a 109), 
as garantias processuais (arts. 110 e 111), as medidas socioeducativas (arts. 112 
a 125), as atribuições e o funcionamento da Justiça da Infância e da Juventude 
(arts. 145 a 151). Dispõe, por fi m, sobre os crimes praticados contra a criança 
e o adolescente, por ação ou omissão (arts. 225 a 244), bem como sobre as 
19
infrações administrativas cometidas em prejuízo dos direitos da criança e do 
adolescente (arts. 245 a 258).
Uma das inovações do ECA é a proteção judicial dos interesses individuais, 
difusos e coletivos (artigos 208 a 224) assegurados à criança e ao adolescente. 
O Estatuto dispõe sobre as ações de responsabilidade e as ações cíveis em caso 
de violação desses direitos e seu foco fundamental constitui-se na democracia 
participativa da sociedade civil para coordenar e controlar as Políticas Públicas 
nos Conselhos dos Direitos .
Embora possam parecer uma reunião de conceitos com fortes 
características de natureza subjetiva, a Doutrina da Proteção Integral impõe que 
seja afi rmada a concepção de responsabilidade ante as violações praticadas 
contra crianças e adolescentes. 
O ECA reúne todas as respostas possíveis quando se dá conta de que 
o Estado, a família e a sociedade não favorecem o espaço necessário para a 
garantia dos direitos. O Brasil dispõe de instrumentos jurídicos efi cazes para 
o exercício de uma avaliação comparativa entre o que determina a lei e o que 
demonstra a realidade. 
É essa dimensão jurídica que dá legitimidade e sustentação à Doutrina da 
Proteção Integral. O ECA reconhece que a criança e o adolescente são sujeitos 
de direitos, em desenvolvimento e, por isso, vulneráveis, a demandar a proteção 
integral do Estado, da família e da sociedade. É importante observar que, ao 
eleger essas três grandes fi guras, o ECA impõe a cada uma delas obrigações 
e responsabilidades: à família, a obrigação de criar, de educar; à sociedade, 
a obrigação de zelar por todas essas crianças e adolescentes; e ao Estado, a 
competência de executar e promover políticas públicas capazes de garantir o 
atendimento dos direitos assegurados por lei.
Tratar do SGD à luz do ECA signifi ca, portanto, assegurar que direitos 
fundamentais relacionados a crianças e adolescentes sejam operacionalizados 
por instituições que integram o referido sistema.
¹ art. 88., II, da Lei Federal nº 8.069/1990 – criação de conselhos municipais, estaduais e 
nacional dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos e controladores das 
ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações 
representativas, segundo leis federais, estaduais e municipais.
20
Sistema, aqui, deve ser entendido como um conjunto ordenado de 
instituições responsáveis pela garantia dos direitos previstos em lei. A partir do 
art. 4º, do ECA, é feita toda uma incursão nesses direitos, defi nindo-se a quem 
cabe a responsabilidade de assegurá-los. Para isso, o legislador, sabiamente, 
faz uma descrição a partir da estrutura de um sistema. 
Tudo deve funcionar de forma articulada e 
integrada. Ao descrever o art. 19, referindo-se ao direito à 
convivência familiar e comunitária, o legislador estabelece 
um conjunto de situações que precisam ser destacadas. 
A criança nasce vocacionada para viver em família. É 
tão forte esse sentimento em assegurar essa condição 
que se ela não puder ser criada pela família original, são 
defi nidas opções: adoção, tutela ou guarda. Se ela não 
tiver quem a adote, quem a tutele ou quem a guarde, 
então cabe ao Estado funcionar como seu guardião, para 
garantir a sua vocação natural de viver e conviver com a 
família.
Quando o ECA dispõe sobre o direito à educação, 
à saúde, ao lazer, à profi ssionalização, em cada um 
desses artigos determina também a quem cabe fazer o 
quê. Ao Estado? Em que condições? Desde a creche? 
E ao Estado, quanto à saúde? Em que condições? 
Desde quando está no ventre da mãe, antes de nascer? 
Ao lazer? À cultura? Desde que se lhe garanta o direito 
de brincar, que é o mais universal para todas as crianças do mundo, cabendo 
ao Estado prover as condições propícias, como disponibilização de praças e 
equipamentos culturais etc., além de estimular que tudo isso esteja realmente ao 
alcance dessa população.
3.2. Sistema de Garantia dos Direitos
 
Todo esse conjunto de direitos está muito bem descrito, e se expressa no 
SGD, em que são defi nidos papéis, limites, responsabilidades e competências, em 
Art. 4º É dever da família, da 
comunidade, da sociedade 
em geral e do poder público 
assegurar, com absoluta 
prioridade, a efetivação dos 
direitos referentes à vida, 
à saúde, à alimentação, à 
educação, ao esporte, ao lazer, 
à profi ssionalização, à cultura, 
à dignidade, ao respeito, à 
liberdade e à convivência 
familiar e comunitária. 
Parágrafo único. A garantia de 
prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção 
e socorro em quaisquer 
circunstâncias;
b) precedência de atendimento 
nos serviços públicos ou de 
relevância pública;
c) preferência na formulação 
e na execução das políticas 
sociais públicas;
d) destinação privilegiada de 
recursos públicos nas áreas 
relacionadas com a proteção à 
infância e à juventude.
Art. 4º É dever da família, da 
21
diferentes níveis e âmbitos: Executivo, Legislativo, Judiciário; federal, estadual, 
municipal. Essas defi nições estão expressas no art. 86 do ECA, que trata da 
política de atendimento de crianças e adolescentes. Nesse dispositivo, encontra-
se todo o conjunto de atribuições para cada um dos atores que compõem o 
SGD, construído exatamente para que haja uma dinâmica na aplicação dos 
instrumentos e uma total interação dos atores. 
O SGD dispõe de uma arquitetura muito bem montada. Quando falha um 
ator, o outro chega, discute e corrige. Tudo deve ser feito de maneira que esse 
segmento não venha a sofrer situações graves de violação dos seus direitos. 
Por que falar também de um sistema de proteção especial? Porque no 
conjunto da população de crianças e adolescentes, encontram-se determinados 
segmentos para os quais nunca foi garantido o acesso aos direitos básicos. 
São aquelas situações consideradas as mais graves, como, por exemplo: 
crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual; ou submetidos às mais 
diferentes formas de tortura; ao trabalho infantil; ou envolvidas em situações 
que demandam medidas socioeducativas, por cometimento de atos infracionais; 
ou ainda, crianças em situação de alta vulnerabilidade social, pessoal (crianças 
portadoras de HIV/aids, ou envolvidas com drogadição etc).
O SGD tem a fi nalidade específi ca de promover a exigibilidade do direito, 
na hipótese em que o Estado, a sociedade e a família deixarem de cumprir 
seus deveres. Nesse sentido, deve ser concebido exatamente para que possam 
ser delimitadas as suas responsabilidades pessoais, familiares, profi ssionais 
e institucionais. Discutir essas responsabilidades é também tratar dos direitos 
que foram ameaçados ou violados.No eixo de defesa, propõe-se envolver os 
atores que foram escolhidos pela sociedade ou pelo poder público, para garantir 
a validade, a legitimidade e a efi cácia da lei. O SGD também trata da construção 
da igualdade da organização política e social por meio dos espaços públicos e 
institucionais. 
A responsabilidade pela correção do desvio da realidade social, econômica 
e política envolve toda a sociedade. O SGD possibilita o exercícioda efetividade, 
da efi ciência e da efi cácia na garantia dos direitos. Muitas vezes o poder público 
considera que já está fazendo a sua parte. E acredita que com isso todos os 
22
problemas estão resolvidos. Mas é preciso ir além. É o compromisso de fazer e 
fazer bem feito. É o compromisso da efi cácia com a política pública, garantindo 
que os recursos destinados a essa área efetivamente priorizem a população 
mais vulnerável. É o SGD que vai garantir a democratização e a transparência 
das ações públicas, das políticas, para que elas se tornem mais efi cazes. Por 
outro lado, deve-se fazer um acompanhamento sistemático de todas as ações 
relacionadas aos direitos de crianças e adolescentes.
Nessa perspectiva, deve-se destacar que o SGD só funciona se a 
população de fato participar de todo o processo de implementação das políticas 
públicas, inclusive na fi scalização da aplicação dos recursos destinados a essa 
população. 
Assim, toda a base do SGD está orientada para concretizar e operacionalizar 
a política de atendimento à criança e ao adolescente. A legislação determina que 
o município seja um ator privilegiado nesse processo. É no município que se 
constrói e se consolida o direito. 
O ECA, portanto, organiza suas ações por meio do SGD, que desenha 
a ação de vários órgãos ou instituições de forma integrada. Para desenhar 
melhor a atuação desses órgãos ou instituições, o ECA os distribuiu em três 
eixos: promoção, defesa e controle.
23
O EIXO PROMOÇÃO OU ATENDIMENTO caracteriza-se pelo 
desenvolvimento da “política de atendimento dos direitos da criança e do 
adolescente” e subdivide-se em três tipos de programas, serviços e ações 
públicas:
I – serviços e programas das políticas públicas, especialmente das políticas 
sociais, afetos aos fi ns da política de atendimento dos direitos de crianças e 
adolescentes;
II – serviços e programas de execução de medidas de proteção de direitos 
humanos; e
III – serviços e programas de execução de medidas socioeducativas e 
assemelhadas.
Assim, de forma mais clara, como é possível reconhecer esse eixo? 
É fácil. Pelos serviços, nas seguintes áreas:
• Assistência Social:
O Centro de Referência da Assistência Social (Cras) atua como a principal 
porta de entrada do Sistema Único de Assistência Social (Suas), e é responsável 
pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de 
vulnerabilidade e risco social, com serviços mais gerais, como prevenção e 
aumento do acesso aos direitos de cidadania. O principal serviço ofertado pelo 
24
Cras é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif). 
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) 
oferta serviços especializados e continuados a famílias e indivíduos em situação 
de ameaça ou violação de direitos (violência física, psicológica e sexual, tráfi co 
de pessoas, cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto etc.). A 
oferta de atenção especializada e continuada deve ter como foco a família e a 
situação vivenciada. É comum que o CRAS e o CREAS funcionem no mesmo 
espaço físico.
• Saúde
O Sistema Único de Saúde (SUS) abrange desde o simples atendimento 
ambulatorial até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal 
e gratuito para toda a população do país. O SUS compõe-se de diferentes 
estruturas, destacando-se: Programa Saúde da Família (PSF); Postos de 
Saúde; Unidades de Pronto Atendimento ou Pronto-Socorro; Hospitais; Centros 
de Atenção Psicossocial (Caps).
• Educação
A educação escolar compõe-se de Educação Básica (Infantil, Fundamental 
e Ensino Médio) e Ensino Superior. 
A Educação Infantil abrange as creches e pré-escolas (0 a 6 anos de 
idade). O Ensino Fundamental vai da 1ª à 9ª série (em 9 anos), e o Ensino Médio 
vai do 1º ao 3º ano. Há, ainda, a Educação Profi ssional Técnica de Nível Médio, 
a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profi ssional e Tecnológica e o 
Ensino Superior. 
• Serviços de Atendimento Socioeducativo.
• Serviços de Acolhimento Institucional.
• Disque Denúncia.
O EIXO DE DEFESA dos direitos de crianças e adolescentes caracteriza-
se pela garantia do acesso à Justiça, ou seja, pelo recurso às instâncias públicas 
e mecanismos jurídicos de proteção legal dos direitos humanos, gerais e 
especiais, da infância e da adolescência. 
Compõe-se das seguintes instituições:
• Conselhos Tutelares. 
25
• Forças de Segurança (Polícia) destacam-se: Polícia Militar, Polícia 
Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.
• Defensoria Pública. 
• Sistema de Justiça – especialmente as varas da infância e da 
juventude e suas equipes multiprofi ssionais, as varas criminais especializadas, 
os tribunais do júri, as comissões judiciais de adoção, os tribunais de justiça, as 
corregedorias gerais de Justiça.
• Ministério Público – especialmente as promotorias de justiça, 
os centros de apoio operacional, as procuradorias de justiça, as procuradorias 
gerais de justiça, as corregedorias gerais do Ministério Publico.
• Ouvidorias. 
• Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. 
O EIXO DO CONTROLE das ações públicas de promoção e defesa dos 
direitos da criança e do adolescente se dará por meio de espaços de discussão 
coletiva, onde estejam presentes órgãos governamentais e entidades sociais.
Várias instâncias fazem parte desse eixo, destacando-se:
• Conselhos dos direitos de crianças e adolescentes – nesse caso, 
o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho 
Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que atuam também no eixo 
promoção.
• Conselhos setoriais de formulação e controle de políticas públicas 
– dentre eles, destacam-se: Conselho Municipal de Assistência Social, Conselho 
Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal de 
Juventude etc. 
26
Estudo de caso:
 
Maria é uma criança com 7 anos, sua professora, suspeita que ela seja vítima de 
maus tratos e negligência familiar. Chega sempre atrasada, sonolenta e triste. A 
escola não conhece muito sobre a história de vida da aluna, pois todas as tentativas 
de conversar com a família foram frustradas, ninguém nunca compareceu. A 
professora resolve ocultar o caso da direção para evitar problemas. 
Qual a orientação correta para a escola?
Ao fazer uma análise do caso com base no ECA, atendo-se principalmente nos 
Títulos: II – Dos Direitos Fundamentais ( Cap. I – Art.º 7º e Cap. IV – Art. 56); II – 
Das Medidas de Proteção (Cap. I e II) e VII – Das Infrações Administrativas (Cap. 
II – Art. 245), verifi ca-se que de acordo com o ECA, esta criança deveria ser 
encaminhada ao Conselho Tutelar para providências junto a sua família, podendo 
ser aplicada algumas destas medidas a fi m de sanar os problemas existentes 
neste grupo familiar: encaminhamento aos pais ou responsável, mediante, 
termo de responsabilidade; orientação, apoio e acompanhamento temporários; 
matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento ofi cial de ensino 
fundamental; inclusão em programa comunitário ou ofi cial de auxílio à família, 
à criança e ao adolescente; requisição de tratamento médico, psicológico ou 
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; inclusão em programa ofi cial 
ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;abrigo em entidade; colocação em família substituta.
Além disso, deveria ser tomada também medidas administrativas junto a 
professora, pois estar ocultando um caso de maus-tratos dentro de seu âmbito 
escolar, pois de acordo com o ECA, ela está sujeita a multa. 
A escola e a professora deveria providenciar um relatório dos acontecimentos 
da família, juntamente com os sintomas apresentados pela criança e levar ao 
Conselho Tutelar da região para que sejam tomadas as devidas providências.
2727
28
MÓDULO 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO, GARANTIA E DEFESA 
DOS DIREITOS HUMANOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
Carga Horária: 14h
Aula 4. Educação em Direitos Humanos para Criança e Adolescente.
• Conteúdo Programático:
 o Direitos de crianças e adolescentes no Brasil e a abordagem da mídia.
 o Diretrizes de Direitos Humanos para Criança e Adolescente no Brasil.
 o Direitos Humanos nas Relações Pedagógicas.
 o A Base Nacional Comum Curricular e a Educação em Direitos Humanos 
para a Criança e o Adolescente. 
• Análise e discussão de estudos de caso.
• Estudo de caso 4: 
Os resultados de uma educação de qualidade devem necessariamente 
abranger capacidades relativas ao respeito e valorização dos direitos humanos 
e à cidadania ativa. De acordo com as diretrizes do ECA e dos documentos 
internacionais, o desenvolvimento de condições pessoais e sociais mais 
favoráveis ao exercício de todos esses direitos humanos devem expressar a 
abertura e a valorização do pluralismo e da diversidade. 
Tratar da Educação em Direitos Humanos no Brasil é uma das exigências 
e urgências para que possamos ter uma formação mais humanizadora das 
pessoas e o fortalecimento dos regimes políticos democráticos na sociedade.
As expectativas sobre a promoção dos direitos humanos por meio da 
educação têm implicações diretas no conceito de qualidade e de educação 
enquanto um direito.
O debate em torno da importância da educação em direitos humanos se 
intensifi ca a partir da publicação dos Planos Nacionais de Direitos Humanos. 
A amplitude do tema demonstrada no documento exemplifi ca a necessidade 
de mudança de cultura para que os direito humanos sejam considerados. Para 
tanto um amplo processo educativo será necessário.
29
Algumas iniciativas nesse sentido ganham relevância, seja pelo 
aprofundamento teórico do tema, ou pela publicação de diretrizes sobre o 
tema quanto pela capilarização do debate, estendido para organizações 
governamentais e não governamentais. 
Assim, tal como ocorrido em outros países da América Latina, essa 
proposta de educação no Brasil se apresenta como prática recente.
É nesse contexto que surgem as primeiras versões do Programa Nacional 
de Direitos Humanos (PNDH), produzidos entre os anos de 1996 e 2002. Dentre 
os documentos produzidos a respeito desse programa, no que diz respeito ao 
tema da Educação em Direitos Humanos, destaca-se o PNDH-3, de 2010, que 
apresenta um eixo orientador destinado especifi camente para a promoção e 
garantia da Educação e Cultura em Direitos Humanos. 
Em 2003, Educação em Direitos Humanos ganhará um Plano Nacional 
(PNEDH), revisto em 2006, aprofundando questões do Programa Nacional 
de Direitos Humanos e incorporando aspectos dos principais documentos 
internacionais de Direitos Humanos dos quais o Brasil é signatário. 
Esse documento é portanto, a política educacional voltada para os direitos 
humanos e educação. O PNEDH está dividido em cinco áreas: educação básica, 
educação superior, educação não-formal, mídia e formação de profi ssionais dos 
sistemas de segurança e justiça. 
Também defi ne a Educação em Direitos Humanos como um processo 
sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de 
direitos, articulando as seguintes dimensões: 
a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre 
direitos humanos e
a sua relação com os contextos internacional, nacional e local; 
b) afi rmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a 
cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade; 
c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente 
em níveis cognitivo, social, cultural e político; 
d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos 
e de construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos 
contextualizados; 
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e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e 
instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos 
humanos, bem como da reparação das violações.
O Conselho Nacional de Educação também tem se posicionado a 
respeito da relação entre Educação e Direitos Humanos por meio de seus 
atos normativos. Como exemplo podem ser citadas as Diretrizes Gerais para a 
Educação Básica, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, 
do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos e para o Ensino Médio. Nas Diretrizes 
Gerais para a Educação Básica o direito à educação é concebido como direito 
inalienável de todos/as os/as cidadãos/ãs e condição primeira para o exercício 
pleno dos Direitos Humanos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos 
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes 
curriculares com os quais guardam intensa ou relativa relação temática, em 
função de prescrição defi nida pelos órgãos do sistema educativo ou pela 
comunidade educacional, respeitadas as características próprias da etapa da 
Educação Básica que a justifi ca (BRASIL, 2010, p. 24).
Neste sentido, afi rma que uma escola de qualidade social deve considerar 
as diversidades, o respeito aos Direitos Humanos, individuais e coletivos, na sua 
tarefa de construir uma cultura de Direitos Humanos formando cidadãos plenos.
O parecer do CNE/CEB nº 7/2010, recomenda que o tema dos Direitos 
Humanos deverá ser abordado ao longo do desenvolvimento de componentes 
curriculares. 
O Parecer CNE/CEB nº 5/2011 que fundamenta essas diretrizes reconhece 
a educação como parte fundamental dos Direitos Humanos.
Nesse sentido, todos os órgãos do SGD precisam estar atentos à educação 
em direitos humanos nos processos de formação de seus agentes. É necessário 
implementar processos educacionais que promovam a cidadania, o conhecimento 
dos direitos fundamentais, o reconhecimento e a valorização da diversidade 
étnica e cultural, de identidade de gênero, de orientação sexual, religiosa, dentre 
outras, enquanto formas de combate ao preconceito e à discriminação. 
O CNE ainda aborda a temática dos Direitos Humanos na Educação por 
31
meio de normativas específi cas voltadas para as modalidades da Educação 
Escolar Indígena, Educação Para Jovens e Adultos em Situação de Privação de 
Liberdade nos Estabelecimentos Penais, Educação Especial, Educação Escolar 
Quilombola (em elaboração), Educação Ambiental (em elaboração), Educação 
de Jovens e Adultos, dentre outras. 
Quanto às escolas, atores que não estão tão integradas ao SGD, mas 
que compõem esse sistema, precisam ser agregadas cada vez mais pois nesse 
contexto assumem papel decisivo na garantia dos Direitos Humanos.
PRINCIPAIS REFERÊNCIAS NORMATIVAS E POSICIONAMENTOS TÉCNICOS
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos.
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=
2191-plano-nacional-pdf&Itemid=30192
 
Decreto Nº 186/08 - Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas 
com Defi ciência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 
30 de março de 2007.
Decreto nº 6.949/09 - Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das 
Pessoas com Defi ciência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, 
em 30 de março de 2007.
Decreto Nº 6.214/07 - Regulamenta o benefício de prestação continuada da 
assistência social devido à pessoa com deficiência.
Decreto Nº 6.571/08 - Dispõe sobre o atendimento educacional especializado - 
AEE.
Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua 
Brasileira de Sinais - LIBRAS.
Decreto nº 5.296/04 - Regulamenta as Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na 
Promoção de Acessibilidade.
Decreto nº 3.956/01 – (Convenção da Guatemala) Promulga a Convenção 
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra 
as Pessoas Portadoras de Defi ciência.
Parecer do CNE/CEB nº 7/2010
Nota Técnica nº 04 - Orientação quanto a documentos comprobatórios de alunos 
32
com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/
superdotação no Censo Escolar.
Nota Técnica nº 24 - Orientação aos Sistemas de Ensino para a implementação 
da Lei nº 12.764-2012.
Nota Técnica nº 28 - Uso do Sistema de FM na Escolarização de Estudantes 
com Defi ciência Auditiva.
Nota Técnica nº 29 - Termo de Referência para aquisição de brinquedos e 
mobiliários acessíveis.
Nota Técnica nº 35 / 2016 / DPEE / SECADI / MEC - Recomenda a adoção 
imediata dos critérios para o funcionamento, avaliação e supervisão das 
instituições públicas e privadas comunitárias, confessionais ou fi lantrópicas sem 
fi ns lucrativos especializadas em educação especial.
Estudo de caso:
 
João Carlos, pai de Davi, criança com defi ciência física de 7 anos, procura o 
Conselho Tutelar para denunciar que tentou matricular seu fi lho em uma escola 
particular e foi impedida porque o diretor alegou que não tem acessibilidade na 
estrutura física de escola. Como o Conselho deve agir?
Uma das principais decorrências do estabelecido na Constituição Federal, em 
relação à educação, é que a mesma é um direito de todos (CF. Art. 205). Logo, 
toda criança ou adolescente tem o direito à educação, pouco importando as suas 
características pessoais ou eventuais defi ciências. 
Como consequência desta regra constitucional, as escolas estaduais, municipais 
e particulares devem se preparar para receber o citado aluno, não somente em 
relação à eventual acessibilidade, mas também no aspecto pedagógico.
Destarte, ainda que haja resistência das instituições privadas ao oferecimento 
de atendimento educacional especializado às pessoas com defi ciência, pode-se 
afi rmar que estas exercem atividade estatal de forma delegada, não podendo 
sobrepor os seus interesses particulares aos princípios constitucionais, dentre 
os quais, podemos destacar a formação de uma sociedade livre justa e solidária, 
em igualdade de condições.
33
Percebe-se, portanto, que por força do dever constitucional constante do artigo 
205 da Lei Maior, compete às instituições públicas e privadas providenciar a 
adaptação necessária ao efetivo desenvolvimento dos alunos portadores de 
defi ciência. Isto porque, apenas com a efetivação da educação inclusiva nas 
escolas regulares é que os fundamentos e objetivos da República Federativa do 
Brasil serão atingidos.
Assim, o Conselho Tutelar deve requisitar a inclusão da criança e caso não seja 
atendido deve comunicar ao Ministério Público. 
IMPORTANTE. A autoridade, o agente público ou funcionário que rejeitar 
a requisição pode ser processado no âmbito criminal por cometer crime de 
impedir ou embaraçar a ação de membro do Conselho Tutelar no exercício 
de sua função, o que deve ser provado (artigo 236 do ECA), ou na Justiça da 
Infância e da Juventude por infração administrativa de descumprir, dolosa ou 
culposamente, determinação do Conselho Tutelar, tudo com amplo direito de 
defesa aos acusados (artigo 249 do ECA).
35
Aula 5. Direito à Convivência Familiar e Comunitária
A Constituição Federal (CF/88), em seu art. 226, reconhece a família como a 
base da sociedade. Relacionando diversas formas de família: 
a) Formal – decorrente do casamento;
b) Informal – decorrente da união estável;
c) Monoparental – formada por apenas um dos pais e os fi lhos. 
Já o ECA traz uma classifi cação trinária de família:
a) natural – de origem biológica; 
b) extensa ou ampliada – vai além da unidade pais e fi lhos ou unidade do casal, 
engloba parentes com os quais a criança e/ou adolescente convivem e mantém 
vínculos de afi nidade e afetividade; 
c) substituta – aquela exercida mediante guarda, tutela e adoção.
O rol do art. 226, da CF/88, é exemplifi cativo, no entendimento do Supremo 
Tribunal Federal (STF) e da maioria dos doutrinadores, consagrando o princípio 
da pluralidade das famílias. A CF não esgota o tema. Outras formas de famílias 
são admitidas no direito brasileiro, a fi m de que se acompanhe a evolução da 
sociedade.
O STF entendeu que o art. 226 traz implícito o princípio do pluralismo 
familiar. A doutrina moderna defende que as famílias não devem estar arroladas 
na CF e nem em legislação infraconstitucional, não há como delimitar ou prever 
todas as formas de família.
A família deve ser compreendida como parte formadora de cada indivíduo 
que a acompanha, sendo certo que todo ser humano nasce sem direção e merece 
a oportunidade afetiva de que lhe sejam impostos limites capazes de construir 
ideais dignos, possíveis de englobar o indivíduo num meio social harmônico e 
coerente. 
O direito à convivência familiar e comunitária é um direito fundamental 
de toda criança e adolescente, considerados pessoas em estágio peculiar de 
desenvolvimento físico, moral e psicológico.
O art. 19, do ECA, com redação dada pela Lei 13.257/2016, diz que: 
36
A Lei 12.010/2009, Lei Nacional de Adoção, trouxe várias mudanças ao 
ECA, sedimentando a afi nidade e a afetividade como elementos consagradores 
de novas famílias. 
Em regra, a criança e o adolescente devem ser mantidos junto à família 
natural. 
Em casos excepcionais, tais como falta de alimentação, maus tratos ou 
violência, o afastamento temporário da criança ou adolescente de sua família 
natural torna-se necessário para garantir sua segurança e integridade física e 
psicológica. 
Num primeiro momento, o afastamento deve ser temporário, a fi m de que 
a situação seja solucionada, não podendo o juiz determinar a retirada da família 
natural e imediata colocação para adoção.
Há uma sequência que deve ser respeitada após o afastamento da criança 
e do adolescente:
1º. Família extensa ou ampliada: avós, tios, irmãos;
2º. Terceiros que convivam e que mantenham vínculos de afi nidade e 
afetividade com a criança ou adolescente, tais como vizinhos e padrinhos;
3º. Acolhimento familiar: medida de proteção em que a criança ou 
adolescente irá conviver com certas pessoas, por um determinado período, não 
se confundindo com adoção. Essa medida é utilizada toda vez que a criança ou 
adolescente esteja em situação de risco, seja por sua própria conduta, dos pais 
ou do Estado;
4º. Acolhimento institucional: crianças e adolescentes afastados do 
convívio familiar e que são recebidas em entidades. Esta é a última alternativa, 
não se confundindo com as instituições destinadas ao cumprimento de medida 
socioeducativa de internação.
Em caso de maus tratos, é possível que o juiz decrete a perda do poder 
familiar e a criança ou adolescente seja disponibilizado para adoção. Até 2017, 
era preciso uma manifestação formal de não interesse, em audiência, de todas as 
É um direito da criança e adolescente ser criado e educado no seio 
de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada 
a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu 
desenvolvimento integral.
37
pessoas da família extensa, aptas a recebê-las. A partir de uma alteração legal, 
a omissão dos membros da família extensa, como o seu não comparecimento à 
audiência, é sufi ciente para o juiz decretar a perda do poder familiar. 
Essa modalidade de proteção é utilizada também pelo Programa de 
Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados deMorte - PPCAAM (Instituído 
pelo Decreto Presidencial 6.231/2007), casos em que a criança e o adolescente 
possuem necessidade de proteção, porém não possuem uma retaguarda familiar 
para acompanhá-lo.
A convivência familiar e comunitária é um direito fundamental da criança e 
do adolescente garantido pela CF/88 e pelo ECA. Esse direito é tão importante 
quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profi ssionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade. 
A CF/88 diz que a “família é a base da sociedade” (art. 226) e que 
compete a ela, ao Estado, à sociedade em geral e às comunidades “assegurar 
à criança e ao adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” (art. 
227).
O art. 226, § 8º, da CF/88, também determina que o Estado deve dar 
assistência aos membros da família e impedir a violência dentro dela. O art. 229 
diz que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os fi lhos menores, 
e os fi lhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, 
carência ou enfermidade”.
O QUE DIZ A LEI?
No máximo a cada três meses, a criança ou adolescente que estiver inserido em 
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada. 
A autoridade judiciária competente, baseada em relatório elaborado por equipe 
interprofi ssional ou multidisciplinar, decidirá de forma fundamentada pela 
possibilidade de reintegração familiar ou pela colocação em família substituta 
(artigo 19, § 1º, do ECA).
A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento 
institucional não ultrapassará o prazo máximo de dezoito meses, exceto se 
comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, desde que 
fundamentada por autoridade judiciária (artigo 19, § 2º, do ECA).
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Com exceção de situações de emergência, a decisão de afastar a criança 
ou o adolescente da sua família de origem deve ser baseada em recomendação 
técnica, a partir de um diagnóstico elaborado por equipe qualifi cada de psicólogo, 
assistente social e em articulação com a Justiça da Infância e da Juventude 
e o Ministério Público. 
O diagnóstico deve incluir uma avaliação dos riscos que a criança ou 
adolescente corre, levar em conta sua segurança, seu bem-estar, cuidado 
e desenvolvimento a longo prazo e as condições da família para superar as 
violações e dar-lhe proteção. 
A análise deve incluir todas as pessoas envolvidas, inclusive a criança ou 
adolescente, pois a decisão pelo afastamento do convívio familiar é extremamente 
séria e terá profundas implicações, tanto para a criança ou adolescente, quanto 
para a família. Portanto, deve ser aplicada apenas quando representar o melhor 
interesse da criança ou do adolescente e o menor prejuízo ao seu processo de 
desenvolvimento.
Antes de se encaminhar a criança ou adolescente para um abrigo, é 
preciso verifi car se entre os parentes ou na comunidade há pessoas que lhe 
tenham afeto e queiram se responsabilizar pelos seus cuidados e proteção. Nos 
casos de violência física, abuso sexual ou outras formas de violência intrafamiliar, 
a medida prevista no art. 130, do ECA (afastamento do agressor da moradia 
comum) deve sempre ser considerada antes de se recorrer ao encaminhamento 
para serviço de acolhimento. 
Tem-se ainda o Plano Nacional de Proteção, Promoção e Defesa do Direito 
da Criança e do Adolescente à Convivência Familiar e Comunitária - PNCFC 
(2006) que visa fortalecer, detalhar e aprofundar os conceitos básicos defi nidos 
pelo ECA. Prioriza a família como núcleo do desenvolvimento e reafi rma apoio e 
proteção para que possa cuidar de seus fi lhos e protegê-los. 
Três áreas temáticas compõem o Direito à Convivência Familiar e 
Comunitária:
1º.A primeira diz respeito à importância de preservar os vínculos familiares 
e comunitários e do papel das políticas públicas de apoio sociofamiliar;
2º.A segunda aborda a necessidade de intervenção institucional nas 
situações de rompimento ou ameaça de rompimento dos vínculos familiares, do 
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reordenamento dos Programas de Acolhimento Institucional e da implementação 
dos Programas de Famílias Acolhedoras (observado o caráter de excepcionalidade 
destas medidas);
3º.Por último, a adoção.
5.1. Crianças e Adolescentes em Situação de Acolhimento
O relatório do Unicef Pobreza na infância e na adolescência, divulgado em 
agosto de 2018, revela que, no Brasil, a pobreza na infância e na adolescência é 
complexa e tem múltiplas dimensões, que vão além do dinheiro e da legislação.
Afi rma o coordenador da Comissão da Infância e do Juventude do 
Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo), Ariel de 
Castro Alves: “O Brasil tem uma das legislações mais avançadas do mundo para 
proteger crianças e adolescentes, mas também é um dos países onde crianças 
e adolescentes estão mais desprotegidos”.
Conforme dados do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA), 
coordenado pela Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil 
têm mais de 47 mil crianças e adolescentes em situação de acolhimento, que 
vivem atualmente nas quase 4 mil entidades credenciadas junto ao Judiciário 
de todo o País, 
As famílias acolhedoras se responsabilizam por cuidar da criança ou 
adolescente até que este retorne à família de origem ou seja encaminhado para 
adoção. Assim, não se comprometem a assumir a criança ou adolescente como 
um fi lho, mas a acolher e prestar cuidados durante o período de acolhimento. A 
família se torna, dessa forma, parceira do serviço de acolhimento na preparação 
da criança ou adolescente para o retorno à convivência familiar ou para a adoção, 
se for o caso.
De acordo com o censo do Sistema Único de Assistência Social (Suas), 
de 2016, o serviço de acolhimento está presente em 522 municípios brasileiros 
e, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), há 2.341 famílias 
cadastradas para acolher 1.837 mil crianças e adolescentes. 
Quase sempre o acolhimento ocorre quando o Conselho Tutelar entende 
necessário o afastamento do seu convívio familiar e comunica o fato ao Ministério 
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Público, prestando esclarecimento sobre os motivos de tal entendimento e sobre 
as providências já tomadas no sentido da orientação, apoio e promoção social 
da família.
5.2. Os Desafi os dos Espaços de Acolhimento para Crianças e 
Adolescentes no Brasil
Diante de relações fragilizadas tanto na família como na escola – o que 
comporta fator de risco na vida dos sujeitos em desenvolvimento – surge o grande 
desafi o das instituições no resgate à proteção da criança e do adolescente em 
situação de vulnerabilidade. 
Os profi ssionais que compõem a rede socioassistencial de crianças 
e adolescentes precisam estar atentos às questões que aumentam a 
vulnerabilidade desse público e ferem as construções familiares e o ambiente 
escolar, assim como aos preconceitos e estigmas que geram, pois são estes 
espaços de socialização que compõem as primeiras relações das crianças e dos 
adolescentes e, quando bem trabalhadas, são importantes redes de apoio ao 
seu desenvolvimento saudável.
Sabe-se que a criança e o adolescente que estão sob a medida 
protetiva de abrigo (Art. 101, ECA), aguardando retorno à família de origem ou 
encaminhamento para família substituta, precisam ter nesses contextos (em 
um caso ou em outro) fi guras de autoridade, de proteção e cuidado para seu 
desenvolvimento saudável. 
As famílias devem ser auxiliadas na construção de novas possibilidades 
de convivência, apesar da separação vivida. Os serviços socioassistenciais 
devem propiciar novas formas de interação da criança e do adolescente com a 
família e a escola, buscando uma vinculação de melhor qualidade. 
As condições adversas vividas por essas crianças e adolescentes, e suas 
famílias, exercem forte infl uência também sobre as crenças dos profi ssionais

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