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ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA MARIA APPARECIDA PINTO DA CUNHA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO PARA NOTA BIMESTRAL DE SOCIOLOGIA GIOVANNA DAIA DE ALMEIDA 15 GUSTAVO DA SILVA ROCHA 18 MARIA EDUARDA NUNES LEÃO 29 PAOLA KATTLYN DE JESUS 37 SAMUEL DA SILVA MOURA BARBOSA 42 POR QUE SOMOS DIFERENTES? INDAIATUBA 2020 GIOVANNA DAIA DE ALMEIDA 15 GUSTAVO DA SILVA ROCHA 18 MARIA EDUARDA NUNES LEÃO 29 PAOLA KATTLYN DE JESUS 37 SAMUEL DA SILVA MOURA BARBOSA 42 POR QUE SOMOS DIFERENTES? Trabalho apresentado na disciplina de SOCIOLOGIA da Escola Estadual Professora Maria Apparecida Pinto Da Cunha sob orientação do Fernando Djalma Custódio, para nota bimestral. INDAIATUBA 2020 SUMARIO 1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 5 2. DESENVOLVIMENTO .............................................................................8 2.1 Por que somos diferentes?.....................................................................8 3. DETERMINISMO E CONCEITO..............................................................10 3.1 Tipos de Determinismo..........................................................................13 3.2 Autores Deterministas...........................................................................16 4. FRIEDRICH RATZEL E DETERMINISMO GEOGRÁFICO.................18 4.1. O determinismo geográfico..................................................................20 4.2. Exemplos de Determinismo Geográfico...............................................22 5. DETERMINISMO BIOLÓGICO...............................................................23 6. QUAL A POSTURA DIANTE DO DETERMINISMO GEOGRÁFICO...26 7. DIVERSAS CULTURAS.........................................................................28 7.1. Cultura..................................................................................................28 8. FIGURAS. Figura 1- Determinismo...............................................................................10 Figura 2- Determinismo e Filosofia..............................................................11 Figura 3- Tragédia de Édipo Rei, escrita por Sófocles................................12 Figura 4- Determinismo e Liberdade...........................................................15 Figura 5- Livre-arbítrio.................................................................................16 Figura 6- Teoria de Darwin..........................................................................17 Figura 7-Darwin e sua esposa.....................................................................18 Figura 8 – Friedrich Ratzel ..........................................................................20 Figura 9- Determinismo Geográfico.............................................................21 Figura 10- Determinismo Dialogo................................................................22 Figura 11- Determinismo Biológico.............................................................23 Figura 12- Determinismo Julgamento.........................................................25 Figura 13 – Foto Claude Lévi- Strauss.......................................................29 Figura 14- Holocausto................................................................................33 9- Tabela1..................................................................................................27 10. CONCLUSÃO......................................................................................36 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................37 . 5 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo conceituar e discutir sobre o tema Determinismo, mas o que é determinismo: é um princípio filosófico, onde tudo no universo é determinado pelas leis da natureza e acontecimentos prévios. Dentro dessa filosofia, até a vontade e comportamento humano é predeterminado por esses acontecimentos, o que torna a liberdade, apenas uma ilusão subjetiva. Contudo, para entender melhor essa definição, precisamos esclarecer o significado de “acontecimento”. Sendo assim, nesse contexto, acontecimento deve ser entendido de uma forma totalmente abrangente. Podendo ser, tanto um trovão, o movimento da terra, como uma ação humana, um desejo e até uma crença. Sendo assim, todos os acontecimentos são determinados por causas anteriores. Então, segundo o determinismo, é o mesmo que dizer que eles não poderiam ter sido diferentes, devido às causas que os precederam e as leis da natureza. O determinismo é uma doutrina filosófica, contudo, críticos alegam que quando o determinismo é aplicado a assuntos morais, este não permite a responsabilização do indivíduo por suas ações. Os conceitos tradicionais de liberdade esbarram na postura científica, uma vez que não levam em consideração as causas do comportamento ao afirmar que o indivíduo possa deliberar livremente sobre suas ações sem dependência de eventos externos a ele. Observamos também que o comportamento humano é um dos objetos mais complexos já estudados pela ciência. De acordo com Sidman (2009), grande parte dos problemas humanos advém da inabilidade de lidar com o próprio comportamento, sendo assim de grande preocupação entender por que as pessoas fazem o que fazem, de forma a lidar efetivamente com os problemas do mundo. O senso comum está permeado de conceitos de causas do comportamento humano, o que exerce uma grande influência em como ele é explicado. As concepções de causas do comportamento humano estão intimamente ligadas a várias práticas das instituições políticas, jurídicas, econômicas, educacionais e científicas (CHIESA, 2006; LOURENÇO, 2013). 6 O comportamento humano de certo modo imprevisível, devido à unicidade da história de cada indivíduo, isso não impossibilita lidar com apenas algumas dessas variáveis, o que deve ser útil para alterar a probabilidade da ocorrência futura do comportamento, permitindo uma intervenção sobre este. Duas condutas diferem sobre a explicação do comportamento humano: o determinismo e a definição tradicional de liberdade. Em linhas gerais, o determinismo é descrito como uma doutrina filosófica para a qual todos os acontecimentos do universo, e em particular as ações humanas, estão ligados. Os eventos do mundo seriam então resultado das leis naturais, causados pelas circunstâncias anteriores. Um emprego dessa acepção à psicologia afirma que as ações humanas não acontecem ao acaso, mas é explicado pelas suas relações com outras variáveis, o que permite a sua investigação científica (STRAPASSON; DITTRICH, 2011). Já a definição tradicional de liberdade é caracterizada como uma doutrina em que o homem, ou a divindade, é possuidor do livre-arbítrio. Os defensores do livre- arbítrio sobre a conduta humana argumentam que estas salvaguardas componentes que não são determinados por fatores externos ou internos, considerando uma racionalidade intrínseca ao homem. O comportamento humano é determinado como condição necessária para a previsão e o controle propostos pela Análise do Comportamento. “Descobrindo e analisandoestas causas poderemos prever o comportamento; poderemos controlar o comportamento na medida que o possamos manipular” (SKINNER, 1953, pág. 23). Filósofos tais como Nicolai Hartmann, Deleuze, Espinoza e Nietzsche não veem contradição alguma entre determinismo radical e liberdade. Para Deleuze, liberdade não é livre escolha nem livre-arbítrio, mas sim criação. Somos livres porque somos imanentes ao mundo determinista, mundo onde não existe nada que seja singularmente determinado que não seja ao mesmo tempo singularmente determinante. 7 Esse trabalho ofereceu ao grupo uma visão que ultrapasse nossos paradigmas, possibilitando assim uma transformação para com o Determinismo. 8 2.DESENVOLVIMENTO 2.1 Porque somos Diferentes? Começaremos com um o ditado popular, que ressalta o sol nasceu para todos independentes de credo, cor, classe social, orientação sexual de cada um, mas por que somos diferentes uns dos outros? Vemos diferenças em colegas, familiares, professores, diretor, funcionário. São tantas as discrepância ou pessoas diferentes que nunca conseguiríamos enumerá-las todas. O mundo tem uma enormíssima diversidade de pessoas, costumes, línguas, crenças e culturas diferentes. Por isso é que podemos dizer que somos todos diferentes, pois convivemos com as diferenças diariamente. Somos diferentes, mas temos os mesmos sentimentos dentro de nós. Na verdade, quase todos os problemas do mundo se resumem a não entender as diferenças que existem, gerando o conhecido preconceito, mas seja ele qual for o motivo, viveremos sempre em guerra por defender a nossa diferença como a ideal. É preciso entender e aceitar que cada pessoa vê, sente, interpreta e se adapta aos acontecimentos do dia a dia de maneira diferente. Isto ocorre em função de diferenças na formação, vivência, cultura e personalidade de cada um. Por conter todos os tipos possíveis de indivíduos, o que é muito positivo, a sociedade se beneficia da diversidade, que garante inovações e criatividade, fatores que contribuem para que não haja estagnação. Somos todos seres humanos, apesar dos variados tipos de pessoa, porém, mesmo que não gostemos de certos tipos de diferenças, precisamos respeitá-las para nos tornarmos pessoas mais compreensíveis e, acima de tudo, melhores. As diferenças, por vezes, levam a desacordos, que por sua vez podem conduzir os homens a guerras, genocídios e outras atrocidades. Somos "todos iguais", certo, mas como? Lá no fundo, por debaixo do que os homens, na sua ignorância, chamam de "diferenças", estão às semelhanças que nos tornam iguais. Somos todos homens, facto inegável, seres racionais, bípedes, criativos, pensadores e reflexivos e é isso que nos torna iguais. O que é que nos torna homens? O que é que nos torna legítimos seres humanos? É a capacidade de pensar e refletir e é aí que está a nossa chave. Ninguém tem o poder de atribuir ou retirar esta capacidade, nasce conosco, como 9 um direito de nascença, embrenhado no nosso ser como uma pedra à espera de ser lapidada e transformada em diamante. Por isso não vale a pena usar as diferenças como desculpa para as atrocidades por nós cometidas, porque não é a cultura, credo ou língua que nos torna mais ou menos humanos, é a capacidade de pensar, pois os pensamentos e ideias de um europeu também estão ao alcance de um árabe, de um indiano, de um chinês, de uma americano ou de um africano. Daí nenhuma cultura (desde que respeite os direitos do homem) estar errada, porque dizer que uma cultura é errada é o mesmo que dizer que os homens que a criaram estão errados, mas eles são tão humanos quanto os que criaram as outras culturas. Porque os outros não estão errados também? Somos diferentes por fora, mas, naquilo que nos torna semelhantes, somos iguais. Devemos respeitar os outros por mais que eles sejam diferentes, não porque está escrito na constituição e em tantos outros documentos, mas porque é um dever humano respeitar os outros porque são tão homens quanto nós. 10 3. DETERMINISMO E CONCEITO Figura 1 – Determinismo https://img00.deviantart.net/1c7f/i/2015/060/3/d/e05_by_cryptoxeer_iv- d8k01rc.jpg. A origem do termo determinismo, que se originou do verbo “determinar”, do latim determinare, que significa “não-terminar” ou “não-limitar”. De forma geral, o determinismo é uma corrente de pensamento baseada na ideia de que as decisões e escolhas humanas não decorrem de um acordo de livre-arbítrio. Assim, todas as nossas escolhas e decisões estão atreladas a relações de casualidades maiores do que vemos. Portanto, de acordo com o determinismo, tudo que existe no universo está limitado a leis imutáveis, e assim, todos os fatos e ações humanas são predeterminas pela natureza. [...] determinismo é visto, assim, como o único meio de afirmar positivamente o resultado de uma experiência ou o desenvolvimento de um fato”. (GOMES, 2007, p. 178). O determinismo é um princípio filosófico, dentro dessa filosofia, à vontade e comportamento humano é predeterminado por acontecimentos da natureza o que torna a liberdade, apenas uma ilusão subjetiva, sendo assim, todos os acontecimentos são determinados por causas anteriores. Então, segundo o 11 determinismo, é o mesmo que dizer que eles não poderiam ter sido diferentes, devido às causas que os precederam e as leis da natureza. Figura 2 – Determinismo e Filosofia https://encryptedtbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcT1bJMc12bRzeiyA9rG925V2U_LlY8Kte Mh_w&usqp=CAU. Agora saindo um pouco do campo da ciência e filosofia, e olhando para a composição astrológica do horóscopo. A ideia central é que a posição dos astros no momento exato do nascimento de uma pessoa determinará os traços de sua personalidade. Seria um modo de entender o determinismo, já que você não pode escolher o momento do seu nascimento. Outro campo que traz uma visão parecida com a do determinismo é a religião. Na concepção judaico-cristã, todas as pessoas têm um destino já determinado por Deus. Assim, tudo acontece por vontade de Deus, e não por escolha individual. Exemplo de Determinismo: Mário está jogando bilhar. Usando o taco, ele bate em uma das bolas de bilhar (1) e esta começa a se mover, batendo em outra bola (2) que então passa a se mover. Assim, temos uma sequência de acontecimentos relacionados de forma casual. Portanto, podemos dizer que o movimento da bola dois foi determinado pelo movimento da bola um esse que foi determinado pela ação de Mário. Então, dizer 12 que o movimento da bola dois foi determinado, é o mesmo que dizer que ele não poderia ser diferente. Ou seja, é impossível que, se tudo ocorresse exatamente dessa forma, a bola dois ficaria parada, ou se movesse na direção contrária com o contato da bola um. Porque as mesmas causas devem produzir os mesmos efeitos. Determinismo emergiu no final do século XIX, no decorrer da Idade Moderna o determinismo foi o conceito usado para explicar o Universo, principalmente para tentar entender os fenômenos naturais. Segundo essa teoria, seria possível "prever" acontecimentos futuros se baseando em fatos atuais, pois toda a realidade estaria interligada por propósitos em comum; a realidade é fixa, ou seja, o que está previsto para acontecer acontecerá. Assim partir dos fatos do presente, seria possível que os pensadores da época fizessem previsões sobre fatos e acontecimentos futuros. A previsão era considerada real e correta, pois, para os deterministas, toda a realidade seria fixa e interligada, nenhum homem poderia alterar o que já estaria previsto para acontecer. Figura 3 -Tragédia de Édipo Rei, escrita por Sófocles https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQjsrYBCO3gtx0Bqvt6FOHkyxq8lQnbC6SwHA&usqp=.Debates acerca do determinismo existem desde a Grécia Antiga, podemos encontrar em fragmentos de filósofos estoicos, e mesmo anteriores, discussões 13 acerca dos efeitos de se aceitar o determinismo, especialmente quando aplicado às ações humanas. Segundo autores, se no mundo todo viesse a ser de modo absolutamente determinado, incluindo as ações humanas, então tudo viria a ser por uma causa anterior. Assim, também seria com a nossa concordância e discordância em relação às atitudes que tomamos na vida, se esta causa não estivesse em nós, mas em algo anterior a nós. Se admitirmos que a realidade funcionasse desta forma, teríamos de admitir que as ações produzidas por esta concordância ou discordância não estão em nosso poder. Disto resulta que não haveria justiça nas punições e censuras que aplicamos em nossa sociedade. A isto, os defensores do determinismo afirmam que poderia ser o caso de que o papel daqueles que aplicam a punição e censura também esteja determinada por estas mesmas causa anteriores. Com esta discussão vemos como a compreensão do determinismo é fundamental para a questão do livre arbítrio. O determinismo em sentido estrito implica em apenas um futuro possível. O oposto disto seria o acaso, uma forma de indeterminismo. No acaso o futuro é imprevisível, permitindo-se assim supor futuros alternativos, de tal forma que a questão passa a ser, como um presente real é realizado a partir destas alternativas. Foram criados diversos tipos de conceitos para o determinismo, a partir do modo como a casualidade e determinação são compreendidas: 3.1 Tipos de Determinismo: Com o desenvolvimento das ideias deterministas, alguns tipos da corrente filosófica foram criados levando em consideração as formas como a causalidade e as determinações são entendidas. Os principais tipos de determinismo são: Pré-determinismo: Todo efeito está contido na causa, ou seja, as ações iniciais do Universo promoveram toda uma cadeia causal sobre tudo o que acontecerá. O pré-determinismo encontra ecos na teoria deísta de Universo, que entende que ele foi criado por uma inteligência superior, que pode ou não ser Deus, e que somente é entendida por meio da razão, e não da religião. Também há elemento pré-determinista na psicologia behaviorista, que afirma que a mente do ser humano 14 é formada por um sistema mecânico, em que estímulos desencadeiam reações precisas. Pós-determinismo: Já o pós-determinismo é baseado na teleologia (doutrina baseada em metas) dos propósitos e finalidades. Desse modo, esse conceito é fundando na alegação de que a determinação dos fatos está no futuro. Em outras palavras, tudo acontece por um motivo, propósito ou razão de alguma entidade divina. Como “a vontade de deuses”, por exemplo. Co-determinismo: Em contrapartida, o co-determinismo defende a ideia de relação ocasional das causas como geradoras de novas realidades. Portanto, os efeitos de uma causa podem se transformar nas causas de outros efeitos, de uma realidade diferente das causas anteriores. Então, nessa concepção, o determinismo não é posto nem no futuro nem no passado, mas sim no presente ou na simultaneidade dos processos e acontecimentos. Desse modo, essa ideia também se encontra dentro da teoria do caos, que prevê que a aplicação de erros resulta em múltiplos resultados imprevisíveis. Determinismo Genérico: Essa vertente não se trata de uma forma de determinismo precisa. Contudo, se baseia na afirmação de que os genes e as condições genéticas de uma pessoa determinam a sua vida. Determinismo Geográfico: No determinismo geográfico, o meio ambiente é que determina o comportamento dos indivíduos que vivem nele. No entanto, o geógrafo e antropólogo alemão Friedrich Ratzel, pontua que através da utilização de recursos naturais e da cultura, é possível transpor os efeitos deterministas desse meio. Determinismo Social: Esse é uma aplicação do determinismo geográfico, porém nos meios sociais capitalistas das sociedades urbanizadas industriais. Portanto, essa concepção acredita que o meio social que o indivíduo nasce determina a sua vida e as suas ações. Desse modo, pessoas que nascem em meio a lugares violentos, tendem a ser violentos, por exemplo. Hoje em dia o determinismo social é usado como uma forma de explicar a classificação social dos indivíduos. Essa que fomenta o preconceito e a exclusão de determinados grupos sociais. 15 Figura 4 –Determinismo e Liberdade https://questcosmic.files.wordpress.com/2013/11/determinismo.jpg?w=375&h=253. Determinismo e Liberdade: Contudo, o conceito de determinismo é bastante criticado entre os pesquisadores e filósofos que defendem o conceito de livre escolha e livre-arbítrio; uma não casualidade. Desse modo, os críticos baseiam seu ponto de vista na ideia de que o espírito, a alma, o desejo, a escolha e a vontade humana não coexistem no mesmo universo casual da natureza. E assim, não são regidos pelas mesmas leis imutáveis da natureza. Os deterministas por sua vez, rebatem essas alegações com o argumento de que eles estejam ignorando o co-determinismo. Ou seja, a ideia de que existem relações entre várias realidades diferentes, seja molecular, social, planetária, psíquica e etc. Apesar disso, existem vários estudiosos como Nietzsche e Deleuze, que não enxergam o determinismo e a liberdade como ideias contraditórias. Porque a liberdade não seria “livre-arbítrio”, mas sim a capacidade de criação. Portanto, o “livre-arbítrio” seria apenas a escolha entre opções que já foram determinadas anteriormente. 16 Figura 5 – Livre-arbítrio http://cdn.simplesite.com/i/0c/de/283445309517061644/i283445314528342342._szw480h1280_.jpg. 3.2 Autores Deterministas Friedrich Ratzel: geógrafo e antropólogo alemão acreditava que o meio determinava a vida e as ações das pessoas. Apesar de ser um dos maiores nomes do determinismo, essa palavra não aparece em sua obra. Friedrich Nietzsche: filósofo e filólogo alemão, afirmava haver uma força criativa universal que movimentaria toda a vida. Ele chamou essa força de vontade de poder, e ela seria a motriz e causa de tudo. Charles Darwin: biólogo inglês e criador da teoria da evolução das espécies, não mencionou diretamente o determinismo e não se preocupou em defender uma posição determinista. Entretanto, sua teoria diz que a sobrevivência de uma espécie depende de sua capacidade de adaptação ao meio. Portanto, essa teoria denota um princípio determinista. Se há adaptação, há sobrevivência. Baruch de Espinosa: para o filósofo holandês, qualquer ação de um ser humano não é uma ação isolada. Sendo assim, ela é resultado de ações anteriores que ele mesmo tomou, e essas ações são resultados de outras ações. Sendo assim, coloca o ser humano numa espiral sem fim até a sua morte. 17 Gilles Deleuze: inspirado por Nietzsche e Espinosa, Deleuze afirmava que a liberdade é a capacidade de criar, e o pensamento que distingue o ser humano dos demais animais também é fruto dessa capacidade. A capacidade de criar, contudo, não esquiva o ser humano de determinações de forças nas ações dele mesmo e dos outros, o que lhe dá infinitas possibilidades de ação. Teoria da evolução de Darwin: sobrevivência de uma espécie depende de sua capacidade de adaptação ao meio. Figura 6 – Teoria de Darwin https://encrypted- tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQd8TyeqL0XtDxISQXwDucLSKNyASDuY8znLA&usqp= CAU. 18 4. FRIEDRICH RATZEL E DETERMINISMO GEOGRÁFICO. Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um pensador alemão, considerado como um dos principais teóricos clássicos da Geografia e o precursor da Geopolítica e do Determinismo Geográfico. Vale lembrar que a expressão “determinismo”não era empregada pelo próprio Ratzel, tratando-se de uma atribuição conceitual que foi dada a partir das leituras sobre o seu pensamento. Sua principal obra publicada foi a Antropogeografia. A Ratzel deve-se a ênfase dos estudos geográficos sobre o homem. Entretanto, a teoria ratzeliana via o ser humano a partir do ponto de vista biológico (não social) e que, portanto, não poderia ser visto fora das relações de causa e efeito que determinam as condições de vida no meio ambiente. A essa concepção deu-se o nome de Determinismo geográfico, em que o homem seria produto do meio, ou seja, as condições naturais é que determinam a vida em sociedade. O homem seria escravo do seu próprio espaço. Esse pensador foi bastante influenciado pela obra de Charles Darwin, que defendia o postulado de que a evolução se basearia na luta entre as diferentes espécies, de forma que aquelas que possuíssem as características de melhor adaptação ao meio sobreviveriam. Figura 7-Darwin e sua esposa. https://encryptedtbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcQJAKIiqpEgzOcnwb5Q0s3ToaE9K50pz b3K9g&usqp=CAU. 19 Darwin recebeu muitas criticas por suas ideias e por causa de suas ideias isolou-se em sua propriedade na Inglaterra, restringindo-se ao convívio à família. Acima, ele é retratado com sua esposa Emma. Ratzel, de certa forma, aplicou essas ideias à espécie e sua vida em sociedade. Os seres humanos, raças e etnias mais aptas venceriam e dominariam os povos considerados inferiores. Tais ideais basearam e justificaram teoricamente a dominação dos povos europeus, que se colocaram como uma civilização mais evoluída e desenvolvida, com a missão de dominar os povos inferiores e impor sobre eles a sua cultura e o seu modo de vida. Suas ideias também influenciaram aquilo que mais tarde veio a ser denominado por Nazismo. Ratzel foi também um profundo estudioso do conceito e comportamento do Estado moderno. Para ele, o Estado seria a sociedade organizada para construir, defender ou expandir o seu território. Também considerava que essa era uma forma de organização que aconteceria de forma natural em qualquer sociedade avançada. O Estado, para Ratzel, era um organismo vivo. A partir dessa concepção, elaborou o conceito de espaço vital, que seria as condições espaciais e naturais para a manutenção ou consolidação do poder do Estado sobre o seu território. Seriam as condições naturais disponíveis para o fortalecimento de uma dada sociedade ou povo. Aquelas populações que dispusessem de melhor espaço vital estariam mais aptas a se desenvolver e a conquistar outros territórios. Tal noção foi fundamental diante do contexto histórico da Alemanha, que havia acabado de passar pelo seu processo de reunificação e necessitava de uma base para justificar e se afirmar enquanto Estado, com capacidade de crescimento, expansão e dominação. Apesar de se considerar o “pai da Geopolítica”, Ratzel jamais utilizou essa expressão, que foi elaborada por um de seus discípulos, o pensador sueco Rudolf Kjellen. Pode-se dizer, no entanto, que as suas ideias foram constitutivas de uma verdadeira Geografia do Poder. 20 Figura 8 – Friedrich Ratzel Https://assets.sutori.com/user-uploads/image/8fdea3ea-70f2-4e0f-adfa- bfd94a21cf5e/7f77682b5e1b3945c66ee0f17c5d2716.jpeg 4.1 O determinismo geográfico O determinismo geográfico pode ser definido como a postura segundo a qual se acredita que as diferenças de ambiente físico condicionam totalmente a diversidade cultural. Ou seja, segundo essa postura, os homens são diferentes, pois habitam áreas geográficas diferentes: umas mais frias, outras mais quentes, umas mais próximas ao mar, outras altas etc. Para os adeptos dessa postura, o meio físico condiciona totalmente o comportamento do homem. Assim, acreditam, por exemplo, que pessoas que moram em regiões quentes são mais preguiçosas, por conta do calor, entre outros preconceitos. O determinismo geográfico ou ambiental colocava o homem numa condição de submissão aos aspectos naturais (a natureza é que determina a ação humana), ou seja, sugeria que é o meio ambiente em que uma pessoa vive que define suas características físicas e psicológicas. O determinismo geográfico surgiu como consequência de uma época em que as interferências do homem nos aspectos naturais eram muito mais reduzidas do 21 que hoje em dia e serviu, também, como uma justificativa científica para a relação de domínio entre os países temperados e os países tropicais. Através dessa teoria, seria possível determinar, analisar e explicar a história de todos os povos em função das suas relações e interações com a natureza e o meio ambiente ao seu redor. A Antropologia mostrou também que existem limites para a influência do ambiente físico em uma determinada cultura. Ou seja, o meio físico pode influenciar o homem e seus costumes, mas não o condiciona totalmente. Os hábitos, costumes e conteúdos simbólicos da vida de um povo podem sofrer influência do meio físico. Existem elementos em nossa cultura que são influenciados pelo meio, como, por exemplo, a maior parte das nossas roupas. Elas são adapta das ao nosso clima. Ou, ainda, o fato de nos alimentarmos de mandioca, que é uma raiz que constitui a base da alimentação em muitas regiões do Brasil. Em países de clima mais frio é comum que as casas tenham sistema de aquecimento central, para que as pessoas não sofram com as baixas temperaturas, e que elas se alimentem de vegetai s que se desenvolvem em temperatura mais baixa do que aquela aqui encontrada. Figura 9- Determinismo Geográfico https://0701.static.prezi.com/preview/v2/op5yidiht3cmwirzsxindd7yfd6jc3sachvcdoaizecfr3dnitcq_3_0. png. 22 4.2. Exemplos de Determinismo Geográfico São exemplos de determinismo geográfico os seguintes casos: Os brasileiros são calorosos e comunicativos porque vivem em um país de clima tropical; Todos que moram em favelas tornam-se criminosos; Pessoas que moram na Bahia, onde o clima é quente, são lentas e preguiçosas devido aos fatores geográficos do local. O chinês é mais inteligente apenas por ele ter nascido na China. Figura 10- Determinismo Dialogo. http://4.bp.blogspot.com/_iRkpmV4yl7g/R90pHhPat2I/AAAAAAAAG_8/tTyyU_d5aho/s400/zope.jpg. 23 5. DETERMINISMO BIOLÓGICO O determinismo biológico é um conceito que afirma que as características físicas e psicológicas do ser humano são determinadas por sua raça, nacionalidade ou por qualquer outro grupo específico a qual ele pertença, defendendo que as características sociais, econômicas, culturais de determinado povo são provenientes de fatores biológicos. Pertencer a uma etnia, nacionalidade ou grupo específico, significaria que todos os indivíduos teriam as mesmas características. Fazer uso do determinismo biológico é afirmar, por exemplo, que todos os japoneses, sem exceção, possuem inteligência acima da média, assim como afirmar que todos os africanos são negros, ou que todos os europeus são brancos, pois a partir da nacionalidade de cada um são impostas características para esses grupos. Surgiu assim uma ideia de “superioridade ou inferioridade” de povos determinando povos que seriam superiores a outros, pois possuem uma seleção de características ditas genéticas. Determinismo Biológico Figura 11- Determinismo Biológico https://wesleyjesusluz.files.wordpress.com/2013/12/imagem-2.jpg 24 Como relatamos o determinismo biológico em alguma época, pregava que as diferenças sociais entre as diferentes classes da sociedade e até questões financeiras e econômicas estariam ligadas a fatores biológicos, o que não é verdade. O fato é que essa corrente de pensamento determinou a “superioridade” e a “inferioridade” de diversos povos e etnias com base em suasdiferenças biológicas, presentes no DNA. Até a propensão à criminalidade, ao alcoolismo e ao fracasso, de acordo com esse determinismo, estaria relacionado com características genéticas. A própria evolução e o estudo comportamental do ser humano podem demonstrar que, definitivamente, as pessoas não são compelidas a terem certo tipo de comportamento porque possui certos genes ou caracteres biológicos semelhantes a este ou aquele outro. Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. Segundo Felix Keesing, “não existe correlação significativa entre a distribuição dos caracteres genéticos e a distribuição dos comportamentos culturais. Qualquer criança humana normal pode ser educada em qualquer cultura, se for colocada desde o início em situação conveniente de aprendizado”. A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do dimorfismo sexual (macho e fêmea de uma mesma espécie com formas diferentes), mas é falso que as diferenças de comportamento existentes entre as pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente. O comportamento dos indivíduos depende de um aprendizado, de um processo que chamamos de enculturação. Um menino e uma menina agem diferentemente não em função de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada. Nada é pré- determinado, tudo que o ser humano pensa e faz é produto do seu aprendizado, do meio em que vive da cultura que o envolve. Ele sempre está aberto a todas as direções possíveis. Mas é preciso encarar também outra corrente de pensamento: o ser humano, do ponto de vista de espécie humana como um todo forma um grupo animal que evoluiu ao longo do tempo, mas que manteve certos aspectos instintivos e um tipo físico característico e identificável. Enfim, somos animais (racionais), com uma série de comportamentos geneticamente construídos e aperfeiçoados no decorrer da história evolutiva comum a todos. Porém até isso, para muitos pensadores, atesta a total falta de aprovação do determinismo biológico, pois o ser humano, ao evoluir, livrou-se da natureza e, ao conseguir cultura, largou as suas propriedades animais. 25 Com o pensamento moderno hoje, consideramos que o homem é sim, um resultado de sua cultura e do meio onde teve sua formação social. Uma manipulação criativa de vários tipos de cultura é que permitem invenções e inovações. Não basta que apenas existam humanos inteligentes, é necessário que o meio em que habitam lhes proporcione uma maior carga cultural, criativa e revolucionária. Diferenças genéticas e de hereditariedade não definem a importância básica das diferenças culturais e sim suas diversidades culturais e civilizatórias de vários povos e grupos étnicos. Sobre Cesare Lombroso: Cesare Lombroso (1835-1909) foi um criminalista italiano que afirmava que todas as nossas ações e pensamentos vinham de nossa genética. Relacionou também o nosso físico à tendência à criminalidade. Como resultado de sua pesquisa ele foi criticado e criminalizado. Exemplos de Determinismo Biológico Julgar que um português é burro por ter nacionalidade portuguesa; Julgar um japonês inteligente por ter nacionalidade japonesa; Julgar que todo baiano é preguiçoso apenas por nascer na Bahia. Julgar que todo Afrodescendente é bandido. Figura 12- Determinismo Julgamento. https://1.bp.blogspot.com/- AVism1Ubizs/Vz9DsNd8dLI/AAAAAAAAAEE/IDvNSMRN35crGORpf81ignGlgLbYZgbdgCLcB/s1600/r acismo.jpg. 26 6. QUAL A POSTURA DIANTE DO DETERMINISMO GEOGRÁFICO Tal postura deve ser evitada, pois o meio físico, em parte, influencia uma cultura. Ou seja, existem elementos em nossa cultura que são influencia dos pelo meio, mas o meio físico não condiciona totalmente uma cultura. Há um limite para esse condicionamento em um mesmo meio geográfico podem se desenvolver culturas diferentes. Se fosse verdade que o meio físico condiciona totalmente o comportamento dos seres humanos, só haveria uma cultura na Península Escandinava, e não é o que acontece mesmo contendo o mesmo clima e um relevo muito parecido, assim como a flora e a fauna possuem culturas diferentes e línguas diferentes: há o sueco, o dinamarquês, o finlandês e o norueguês. Por que acontece isso, ao contrário do que acreditam os adeptos do determinismo geográfico, o meio físico não influencia totalmente a cultura. Na verdade, há limites para a influência do meio físico sobre a cultura. Esses limites são dados pelos interesses de cada cultura. Toda cultura age seletivamente em relação ao meio físico em que ela se desenvolve e, por isso, existem elementos culturais que, apesar de aceitos, não estão de acordo com o meio geográfico. Um exemplo notório é o uso do terno e gravata em um país quente como é o Brasil na maioria dos meses do ano. Essa roupa é adequada aos países de clima temperado, mas totalmente inadequada, na maior parte do ano, ao clima do nosso país. O uso do terno Mesmo assim, os homens, seja por razões de trabalho, sejam porque têm de comparecer a um determinado evento social, muitas vezes usam terno e gravata. Por que eles fazem isso? Não é porque essa roupa seja adequada ao nosso clima, mas, sim, porque ela tem um significado cultural. Trata-se do exemplo de uma vestimenta mais formal. Ela proporciona certo status social para quem a veste, pois não é uma roupa barata. Se o meio físico influenciasse totalmente as culturas, como querem acreditar os adeptos do determinismo geográfico, os homens usariam roupas adequadas ao nosso clima. Isso também pode ser refletido na nossa alimentação, existem animais que habitam o Brasil e outros países, como a China, o Camboja, a Tailândia, o Vietnã e o México, por exemplo. Mas isso não significa que eles sejam considerados passíveis de servir como alimento aqui e lá. É o caso, por exemplo, do rato. No Brasil, é praticamente impensável para uma pessoa se alimentar da carne de ratos. Já na 27 China, no Camboja, no Vietnã e na Tailândia eles são normalmente consumidos como alimento. Na Tailândia também é comum comer espetos de certas larvas na rua, assim como aqui se come churrasco. Há ainda o caso do México: lá é possível comer tacos (prato típico mexicano feito de farinha de milho, parecido com uma panqueca, com vários tipos de recheios e molhos) recheados com certo tipo de grilo comestível. Se o determinismo geográfico realmente existisse, nós nos alimentaríamos igualmente desses animais também existente s em nosso território. Pode-se concluir que o meio físico age sobre a cultura, embora não a condicione totalmente, pois esta age de forma seletiva em relação aos elementos que aquele fornece. Tabela -1 28 7. DIVERSAS CULTURAS 7.1. Cultura Cultura é uma palavra que vem do latim, “cultura”, e que significava cuida do como campo até o século XIII. Depois ela não significa mais um estado da coisa cultiva da, mas a ação de cultivar a terra. Já no século XVII I ela passa a designar o cuidado de trabalhar algo. Logo, cultura seria tudo aquilo que as pessoas cultivam (CUCHE, 2002, p.19). É por isso que se pode falar em uma cultura de fungos, ou cultivo de fungos. O significado do termo pode variar de uma língua para outra. A Cultura pode ser compreendida como o cultivo de algo: essa outra concepção do termo cultura se liga ainda mais à sua raiz. É usada em agricultura quando se quer falar a respeito de uma plantação. Para se tiver uma plantação de algo é necessário fazer o cultivo de determinada espécie. Outro termo utilizado é o germânico Kultur, usado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, a palavra francesa Civilization, referia-se principalmente às realizações materiais de um povo, ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1832- 1917) no vocábuloinglês Culture. Culture, “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Em 1871, Tylor definiu cultura como sendo todo comportamento aprendido, tudo aquilo que independe de uma transmissão genética, como diríamos hoje. As culturas estão constantemente se comunicando, estabelecem trocas. Umas influenciam mais do que são influenciadas, mas não há nenhuma que exista fechada em si, por mais que ela tente. Cultura pode ser entendida como as manifestações artísticas s de um povo, como quando se usa o termo cultura nas expressões: “teatro é cultura, cinema é cultura ”. 29 Cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de um povo: seria aquilo que as pessoas aprendem como membros de uma sociedade. Ou seja, as pessoas dizem, por exemplo, “os alemães comem salsicha, pois isso é uma característica de sua cultura”. Apesar dos múltiplos significa dos do termo e das inúmeras variações, podemos dizer, genericamente, que cultura, tanto para a Antropologia como para a Sociologia, significa tudo aquilo que o homem vivencia, realiza e transmite por meio da linguagem. Ou seja, a cultura está relaciona da com os conteúdos simbólicos da vida. Ou, como alguns diriam, com os mecanismos de controle dos indivíduos em sociedade, isto é, sistemas de símbolos entrelaçados e interliga dos entre si que fornecem para os indivíduos um modo de pensar, de agir e sentir. Logo, o comportamento humano é regido por meio desses símbolos que são passados de geração para geração e que também se modificam. Não há ser humano cujo comportamento não seja regido por meio de símbolos. Figura 13 – Foto Claude Lévi- Strauss https://revistacult.uol.com.br/home/wp-content/uploads/2019/01/foto-college-de- france_divulgacao.jpg. Claude Lévi-Strauss, o mais destacado antropólogo francês, considera que a cultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma, para ele, esta seria a proibição do incesto, padrão de 30 comportamento comum a todas as sociedades humanas. Todas elas proíbem a relação sexual de um homem com certas categorias de mulheres (entre nós, a mãe, a filha e a irmã). Leslie White, antropólogo norte-americano contemporâneo, considera que a passagem do estado animal para o humano ocorreu quando o cérebro do homem foi capaz de gerar símbolos, pois os animais não são regidos por meio de símbolos, o que não quer dizer que não possam transmitir mensagens. Sim, eles podem transmitir mensagens. Mas essas mensagens são sempre as mesmas para a espécie, por isso são sinais. Já entre os homens, as mensagens variam de grupo para grupo, pois são compostas de símbolos socialmente estabelecidos que variem de sociedade para sociedade. O comportamento dos animais é regido predominantemente por meio de sinais, enquanto o do homem é regido predominantemente por meio de símbolos. Isso ocorre porque os sinais são organicamente programados, geneticamente transmissíveis e intransformável (RODRIGUES, 2003, p. 25-26). O sinal é organicamente programado. Isso ocorre porque faz parte da constituição biológica desses animais se comunicarem da forma como se comunicam. A maioria dos animais, mesmo quando tirados do seu meio, desenvolve as características da espécie, ou seja, age como um membro criado pelo grupo, mesmo que tenham sido separados ao nascer. Já os nossos símbolos são socialmente programados. Um homem separado de seus pais ao nascer não agirá como eles, mas, sim, como membro do grupo que o criou. Daí decorre o fato de que o comportamento dos animais é geneticamente transmissível. Afinal, a maioria deles vai se comportar sempre da mesma forma, não interessa em qual grupo seja criado. Assim, todos os tigres sempre agirão e se comunicarão por meio dos mesmos sinais, o castor sempre construirá seus diques da mesma forma, assim como as abelhas sempre farão suas colmeias do mesmo jeito. Já o nosso comportamento é regido muito mais pela forma por meio da qual somos criados. É possível compreender a partir disso que os sinais entre os animais são intransformáveis, pois são passados geneticamente de geração para geração. Ao passo que, entre os seres humanos, os símbolos são eminentemente transformáveis, ou seja, variam de cultura para cultura, de grupo para grupo. 31 White afirma: “todos os símbolos devem ter uma forma física, pois do contrário não podem penetrar em nossa experiência, mas seu significado não pode ser percebido pelos sentidos”. Ou seja, para perceber o significado de um símbolo é necessário conhecer a cultura que o criou. Alguns pensadores católicos, preocupados com a conciliação entre a doutrina e a ciência, defendiam que o homem adquiriu cultura no momento em que recebeu do Criador uma alma imortal. Só o homem tem essa capacidade de se projetar em tudo o que faz. Ele projeta seus valores, suas ideias, nos objetos que constrói. Pois o ser humano deixa vestígios de suas relações sociais nos objetos. O homem não se adapta à natureza como os outros animais. Ele transforma a natureza, interage com ela. Só ele tem a capacidade de transformar a natureza. Os animais sempre se adapta m ao meio ou, então, morrem. O homem renova e transforma seu comportamento: ao contrário dos outros animais, cujo comportamento se modifica para se adaptar a mudanças do meio físico, o homem está sempre renovando e transformando seus comportamentos, independentemente do meio físico no qual habita. O meio físico pode provocar certas mudanças no comportamento dos seres humanos, mas isso não é algo que determina a nossa maneira de agir. É o contato com outros homens e cultura que provoca a renovação e a transformação nos hábitos, costumes, maneiras de pensar e de agir dos seres humanos. O homem é capaz de partilhar e transmitir a experiência. Ele a vai acumulando, os outros animais não. Mas ele não só a acumula. Com a acumulação ele vai transformando os comportamentos anteriores; A cultura desenvolveu-se, pois, simultaneamente com o próprio equipamento biológico e é, por isso mesmo, compreendida como uma das características da espécie, ao lado do bipedismo e de um adequado volume cerebral. À medida que cresce, o homem é cada vez menos conduzi do pelos seus instintos e cada vez mais pela cultura. É claro que o homem é um ser biológico que depende de uma série de funções vitais: todos os homens comem, dormem , bebe m etc. Entretanto a maneira de satisfazer essas diferentes funções biológicas varia de uma cultura para outra. Assim, entende-se que o comportamento do homem é fruto da interação entre biologia e cultura. Keesing refere-se, inicialmente às teorias modernas que consideram a cultura como um sistema adaptativo, as culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades 32 humanas aos seus embasamentos biológicos, mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente à seleção natural. O homem além de reagir às adversidades do meio físico, também o transforma e cria coisas com essa experiência igualmente se transformando nesse processo . A cada grupo humano corresponde uma tradição cultural. Para W. Goodenough, cultura é um sistema de conhecimento: “consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade”. Para Geertz, todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o que chamamos cultura. A criança está apta ao nascer a ser socializada em qualquer cultura existente. Esta amplitude de possibilidades, entretanto, será limitada pelo contexto real e específico onde de fato ela crescer. David Schneider tem uma abordagemdistinta, embora em muitos pontos semelhante à de Geertz. “Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações de modos de comportamento. O status epistemológico das unidades ou coisas ‟ culturais não depende da sua observabilidade: mesmo fantasmas e pessoas mortas podem ser categorias culturais”. O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura. As pessoas não se chocam apenas porque as outras comem coisas diferentes, mas também pela maneira como agem à mesa. Como utilizamos garfos, surpreendemo- nos com o uso dos palitos pelos japoneses e das mãos pelos indianos. Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público, em outras uma atividade privada. Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte arroto, após a refeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entre nós, seria considerado, no mínimo, como indicador de má educação. Entre os latinos, o ato de comer é um verdadeiro rito social, segundo o qual, em horas determinadas, a família deve toda se sentar à mesa, com o chefe na cabeceira, e somente iniciar a alimentação, em alguns casos, após a prece. O homem tem despendido grande parte da sua história na Terra, separado em pequenos grupos, cada um com sua própria linguagem, sua visão de mundo, 33 seus costumes e expectativas. O fato de que o homem vê o mundo por meio de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada de etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo sua única expressão. As autodenominações de diferentes grupos refletem este ponto de vista. Tais crenças contêm o germe do racismo e da intolerância, e, frequentemente, são utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros. Figura 14- Holocausto https://www.robsonpiresxerife.com/wp-content/uploads/2016/04/holocausto.jpg. As doenças psicossomáticas são fortemente influenciadas pelos padrões culturais. Muitos brasileiros, por exemplo, dizem padecer de doenças do fígado, embora grande parte dos mesmos ignore até a localização do órgão. Entre nós são também comum os sintomas de mal-estar provocados pela ingestão combinada de alimentos. Quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação 34 perigosa, certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses alimentos. A cultura também é capaz de provocar curas de doenças, reais ou imaginárias. Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do remédio ou no poder dos agentes culturais. O que importa é que o doente é tomado de uma sensação de alívio, e em muitos casos a cura se efetiva. A Todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato primário de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. Infelizmente, a tendência mais comum é de considerar lógico apenas o próprio sistema e atribuir aos demais um alto grau de irracionalismo. A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence. Rodney Needham, antropólogo inglês, afirma que cada cultura ordenou a seu modo o mundo que a circunscreve e que esta ordenação dá um sentido cultural à aparente confusão das coisas naturais. Várias são as características de todas as culturas. Entre elas é importante destacar que toda cultura é: Simbólica, ou seja, a cultura é um conjunto de significados sistematiza dos transmitidos por símbolos e sinais, ou seja, a linguagem; Social: não existe uma cultura individual. Toda cultura é necessariamente partilha da por um grupo. Ela diz respeito a um sistema de símbolos socialmente partilha dos que ajudam a reger o nosso comportamento; Dinâmica e estável: pode-se dizer que toda cultura é ao mesmo tempo dinâmica e estável. As culturas são dinâmica s, pois se transformam. Não há cultura que permaneça estática. Mas é claro que umas se transformam mais rápido, outras mais devagar. Entretanto, ao mesmo tempo em que as culturas mudam, pode-se dizer que essa mudança não ocorre diariamente. Existem padrões, modelos institucionalizados de comportamentos que são considerados aceitáveis e que não se modificam da noite para o dia. Por essa razão é possível dizer que elas também são estáveis, pois durante determina do período de tempo (que varia de cultura para cultura) permanecem as mesmas. Existe duas possibilidades de mudança cultural: uma que é interna 35 à própria cultura e outra que é o resultado do contato com outro sistema cultural. Elas mudam, então, devido a fatores internos ou externos. A mudança por fatores internos à própria cultura é mais difícil de ocorrer, pois a tendência de uma determina da cultura, quando tem pouco contato com outras, é a de reproduzir sempre o mesmo padrão. As mudanças culturais em virtude de fatores externos são mais fáceis de ocorrer. O contato com culturas com valores, costumes, modos de vida diferentes dos nossos pode provoca r transformações culturais. Seletiva: a cultura está sempre mudando. É verdade. Mas a cultura muda de forma seletiva. Cada cultura absorve determina dos padrões, mas não todas as formas possíveis. É preciso dizer que muitas vezes essa seleção é inconsciente. Há a tendência de achar que o padrão cultural estabelecido não é um padrão cultural, mas, sim, um comporta - mento natural. As pessoas se esquecem de que outros padrões são possíveis; Determinante e Determinada: ao mesmo tempo em que a cultura se impõe sobre o indivíduo, que determina o seu comportamento, o indivíduo pode mudar a cultura, ou seja, ela pode ser determina da pelo indivíduo. Toda cultura é uma obra coletiva, mas pode ser modifica da e é vivida de diferente s maneiras pelas diferentes pessoas. Ela não é só uma amarra, ela não só se impõe sobre nós. Nós também possamos os modificá-la, determiná-la. Afinal, apesar de existir um sistema de símbolos partilha do por todas as pessoas não se inserem em uma cultura todas da mesma forma, seja porque cada subgrupo dentro de uma cultura se relaciona com ela de uma forma diferente, seja porque cada pessoa compreende e se relaciona com os mesmos padrões culturais de uma maneira única. Caso isso não ocorresse, todos dentro de uma mesma cultura pensariam da mesma forma, pois partilha - riam valores e símbolos. Mas não é isso o que acontece. Cada indivíduo se relaciona com o padrão social e culturalmente estabelecido de forma única. 36 CONCLUSÃO Assim, por meio deste estudo foi possível constatar que a cultura , mais do que a herança genética , determina o comportamento do homem e o mesmo age de acordo com os seus padrões culturais, ou seja, ele é um ser parcialmente movi do pelos instintos e o papel do instinto no homem diminui conforme ele passa pelo processo de socialização. O homem depende muito mais do aprendizado do que do instinto. Como não só se adapta ao meio, mas também interage com ele, o homem é capaz de viver sob os mais diversos climas e situações. Assim ele conseguiu transformar quase toda a Terra em seu habitat. A cultura é um processo cumulativo resultante das sucessivas gerações, ou seja, a experiência vai sendo acumula da com o passar do tempo. Esta conclusão permite refletir sobre a importância de um estudo e debate sobre o Determinismo, além de contribuir para nossa vida acadêmica. 37 REFERENCIAS https://www.cesadufs.com.br/ORBI/public/uploadCatalago/16191316022012Historia_do_Pensamento_Geografico_Aula_7.pdf acessado:10/08/2020. https://brasilescola.uol.com.br/geografia/pensadores-geografia.htm acessado:10/08/2020. https://brainly.com.br/tarefa/11096719#:~:text=Popula%C3%A7%C3%B5es%20que %20habitam%20regi%C3%B5es%20quentes,mais%20rigorosas%20e%20mais%20r acionais.acessado: 10/08/2020. http://www.cienciahoje.uol.com.br acessado:12/08/2020. https://universoracionalista.org/por-que-o-determinismo-cultural-nao-e- ciencia/acessado:acessado:15/08/2020. https://destinocomum.wordpress.com/2012/08/29/determinismo-biologico-e- determinismo- geografico/#:~:text=O%20determinismo%20geogr%C3%A1fico%20considera%20qu e,limita%C3%A7%C3%A3o%20do%20seu%20meio%20ambiente.&text=A%20gen% C3%A9tica%20heredit%C3%A1ria%20de%20um,geogr%C3%A1fica%20sobre%20o s%20fatores%20culturais.acessado 17/08/2020.
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