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Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli Autores: Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 29 de Março de 2021 35881692373 - Batista Lima Souza Sumário 1. Introdução ao Estudo do Pensamento Penal Ideológico ............................................................................... 3 2 – Movimentos atuais de políticas criminais ou Movimentos ideológicos de direito Penal ........................... 5 2.1 – (DES) Legitimação do sistema penal: O Abolicionismo ......................................................................... 5 2.2.1 – Abolicionismo de Louk Hulsman ......................................................................................................................... 11 2.2.2 – Abolicionismo de Thomas Mathiesen ................................................................................................................. 13 2.2.3 – Abolicionismo de Nils Christie ............................................................................................................................ 14 2.2.4 – Michael Foucault ................................................................................................................................................ 15 2.2 – Minimalismo ........................................................................................................................................ 19 2.2.1 – Princípios do Minimalismo Penal ........................................................................................................................ 20 2.2.1.1 – Princípio da Legalidade .................................................................................................................................... 21 2.2.1.2 – Princípio da Intervenção Mínima ..................................................................................................................... 23 2.2.1.2.1 – Fragmentariedade ........................................................................................................................................ 24 2.2.1.2.2 – Princípio da Subsidiariedade ........................................................................................................................ 24 2.2.1.3 – Princípio da Adequação Social ......................................................................................................................... 25 2.2.1.4 – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana ..................................................................................................... 25 2.2.1.5 – Princípio da Lesividade – Nullum crimen sine iniuria ....................................................................................... 25 2.2.1.6 – Princípio da Insignificância .............................................................................................................................. 26 2.2.1.7 – Princípio da Culpabilidade ............................................................................................................................... 27 2.2.2 – Conclusões sobre o minimalismo ....................................................................................................................... 27 2.3 – Correcionalismo ................................................................................................................................... 29 2.3.1 – Correcionalismo e Determinismo Social ............................................................................................................. 30 2.4 – Garantismo .......................................................................................................................................... 31 2.5 – A Nova Defesa Social ........................................................................................................................... 32 2.5.1 – Adolphe Prins ...................................................................................................................................................... 32 2.5.2 – Filippo Gramático................................................................................................................................................ 33 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 2 2.5.3 – Marc Ancel .......................................................................................................................................................... 34 2.5.4 – Conclusões sobre o movimento da Nova Defesa Social ..................................................................................... 34 2.6 – Movimento Lei e Ordem ...................................................................................................................... 35 3 – Temas Especiais .......................................................................................................................................... 36 3.1 – Tendências Securitária, Justicialista E Belicista ................................................................................... 37 3.1.1 – Movimento Lei e Ordem sob a perspectiva securitária ...................................................................................... 38 3.1.2 – Tolerância Zero ................................................................................................................................................... 38 3.1.3 – Estado de Polícia ................................................................................................................................................. 39 3.2 – Direito Penal do Inimigo ...................................................................................................................... 39 Resumo ............................................................................................................................................................. 41 Destaque a Legislação e Jurisprudência ........................................................................................................... 48 Legislação ..................................................................................................................................................... 48 Jurisprudência .............................................................................................................................................. 55 Considerações finais ......................................................................................................................................... 56 Questões comentadas...................................................................................................................................... 56 Lista de questões .............................................................................................................................................. 76 Gabarito ....................................................................................................................................................... 87 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 3 MOVIMENTOS IDEOLÓGICOS DO DIREITO PENAL 1. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PENSAMENTO PENAL IDEOLÓGICO Doutores, Há quem diga que “para saber o grau de violência institucional de uma sociedade, não é preciso muito, basta olhar o modelo de política criminal implementado”. Isso porque, o modelo de política criminal adotado e o conjunto dos procedimentos pelos quais o corpo social organiza as respostas ao fenômeno criminal1. Por isso, em nossoestudo, é fundamental que saibamos diferenciar: I) O modelo de política criminal dos II) Movimentos políticos-criminais. Se de um lado, o primeiro é determinado pelas correntes ideológicas e traçados que orientam a política Criminal, de outro lado, o segundo, trabalha as grandes influências ideológicas que vão de comandar a política criminal. É exatamente o que diz Delmas-Marty: As grandes influências ideológicas que comandam as escolhas de política criminal situam-se em três eixos principais: liberdade, igualdade e autoridade2. Nesse sentido, a partir deste raciocínio de Delmas, pode-se dizer que essas grandes influências ideológicas que determinam as escolhas de política criminal, dividem-se em três vieses, quais sejam: 1. Liberdade; 2. Igualdade; 3. Autoridade. 1 MIRELLE, Delmas-Marty. Os grandes sistemas de política criminal; trad. Denise Radanovic Vieira. Baueri, SP: Manoele, 2004, p. 3 (destaque original) 2 Ibidem, p. 95-321. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 4 Evidentemente, a liberdade é proclamada por uma corrente liberal. Esta corrente possui origem num movimento ilustrado que se apoia, evidentemente e fundamentalmente, na primazia da liberdade do ser humano. Por outro lado, a igualdade é defendida por aqueles de corrente igualitária. É que a corrente igualitária se alicerça num fundamento crítico, voltado diretamente ao liberalismo e à desigualdade que produz na realidade. Para isso, se subdivide em duas vertentes, quais sejam: ✓ Movimento libertatório ou anarquista: o movimento é conhecido por pregar uma liberdade ilimitada e igualdade total; ✓ É um movimento com tendência autoritária. Guerreiro, importante destacar que os movimentos político-criminais NÃO representam uma concepção de ideias, ao contrário, esses movimentos representam muitos mais. Por isso, diz-se que os Movimentos político-criminais representam a concretização ou mesmo a positivação daquela ideologia. Noutras palavras, significa dizer que é um modelo de orientação, seja punitivista ou não intervencionista, seguido pelas agências formais de controle social. Seja como for, predomina hoje a tendência de tolerância no sistema penal. Eu sei e você também sabe. Ocorre que essa tendência, como já disse o Professor Eduardo Viana em seu Manual (Criminologia, 2018, p. 374), prende-se ao fato de que as pessoas são levadas a crer que a prisão conduz à emenda do criminoso. Despreza-se, portanto, o fato de que a verdadeira irracionalidade da prisão é um dos segredos melhor guardados em nossa sociedade3. Se esse segredo fosse revelado, destruiria as raízes do sistema atual e implicaria no começo de sua ruína (Mathiesen, 1997, p.277). Segundo a reação social, responsável pela 3 VIANA, Eduardo. Criminologia. 6ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 374. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 5 consolidação definitiva da carreira criminosa, propiciando a formação de um padrão comportamental subcultural, esta é a verdade. Seja como for, entendemos que faz sentido de certa maneira, se olharmos sobre o binômio: legitimidade – necessidade do sistema penal que hoje gravita o abolicionismo – neste caso, considerando-o como vertente da Criminologia crítica - e o movimento de política criminal Lei e Ordem. É que, de um lado, tem-se a defesa de que o mal causado pelo sistema penal é muito mais grave do que o fato que gera sua intervenção, pregada pelo abolicionismo. Vale lembrar inclusive que, em sua vertente mais radical, há proposta até de abolição. Em sentido contrário, ideias de intervenção máxima no sistema penal representam o movimento lei e ordem. Mas acalmem-se, falaremos sobre tudo isso com detalhes, afinal, esse é o tema da nossa aula de hoje. 2 – MOVIMENTOS ATUAIS DE POLÍTICAS CRIMINAIS OU MOVIMENTOS IDEOLÓGICOS DE DIREITO PENAL Ao falar em movimentos ideológicos de Direito Penal, ou ainda, como diz a doutrina, nos movimentos atuais de políticas criminais, 04 (quatro) movimentos ganham destaques, a saber: 1. O abolicionismo; 2. O minimalismo; 3. O correcionalismo; e 4. O garantismo. Passaremos agora ao estudo de cada um deles. 2.1 – (DES) LEGITIMAÇÃO DO SISTEMA PENAL: O ABOLICIONISMO O abolicionismo remonta à década de 90, com a criação da Associação Sueca Nacional para a Reforma Penal, o krum, na Escandinávia. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 6 A vertente mais pacífica parte da premissa de que o mal causado pelo sistema penal à sociedade é muito mais grave que o proporcionado pelo fato que gera sua intervenção4. Noutro giro, a vertente mais radical vai nos dizer muito sobre o niilismo penal, isso significa discursos de descrença absoluta ou redução ao nada. Note que o nome do movimento nos remete de forma intuitiva ao seu próprio conceito ou à filosofia que se prega. Com isso, é dizer que, para este movimento, qualquer que seja o instrumento de repressão ao crime, seja ele o Direito Penal, o processo penal ou mesmo as legislações extravagantes, é considerado nocivo à sociedade e, por isso, deve ser completamente extinto. Vale dizer que o discurso tem suas bases assentadas na teoria do etiquetamento ou Labeling Approach em que os comportamentos desviantes seriam produzidos pela própria sociedade. E caso você não se lembre, aqui vai um parêntese sobre a Teoria Labelling Approach. ESCOLA/CRIMINOLOGIA INTERACIONISTA OU LABELLING APPROACH5 Considerada a escola criminológica mais rica em teorias, a Criminologia Interacionista pugna por estudar o aspecto social do criminoso e do delinquente. Para ela, a sociedade tem grande parcela de contribuição na formatação do criminoso, não sendo o livre-arbítrio sozinho uma vertente capaz de causar o surgimento do crime e do criminoso. A teoria do labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamento, rotulação ou reação social) é uma das mais importantes teorias de conflito. Surgida nos anos 1960, nos Estados Unidos, seus principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker. Por meio dessa forma de pensar, a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo de estigmatização. Assim, o criminoso apenas se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe. Nessa linha de pensar, o tema central é o processo de interação em que o indivíduo é chamado de criminoso. A sociedade define, por meio dos controles sociais informais, o que se entende por comportamento desviado, isto é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se 4 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 236. 5 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 40. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 7 comportarem dessa forma. Condutas desviantes são aquelas que as pessoas de uma sociedade rotulam às outras que as praticam. A teoria da rotulação de criminosos cria um processo de estigmatização para oscondenados, funcionando a pena como algo que acentua as desigualdades. Nessa interação estigmatizante, o sujeito acaba sofrendo reação da família, de amigos, conhecidos e colegas, acarretando a marginalização nos diferentes meios sociais. De forma a ilustrar o pensamento desse importante marco teórico da Criminologia, pode ser apontado o determinismo como um fenômeno social que cria o criminoso tendo em vista o local em que ele vive e relaciona-se com outras pessoas. Veja-se o exemplo de um menino que mora numa comunidade carente. Ora, essa pessoa é vítima constante do Estado, uma vez que não possui os direitos básicos como cidadão, apesar de a Constituição Federal pugnar em seu art. 6º que “Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Esse mesmo menino tem sua matrícula indeferida na escola local por ausência de vagas; ele também perde a sua mãe em virtude de uma infecção generalizada adquirida na unidade de pronto-atendimento da comunidade carente, uma vez que os órgãos sanitários não fizeram a devida fiscalização; por fim, seu pai é baleado por um policial quando voltava do trabalho, pois fora confundido com um traficante local. O Estado em vez de dar educação, saúde e segurança pública, ao contrário, retirou os seus entes queridos de sua convivência. Tal fragilização permite que ele fique vulnerável aos traficantes locais, que o assediam para trabalhar para eles de “aviãozinho” no tráfico, fazendo com que se torne um criminoso. Ora, o meio social é que o transformou num criminoso que veio a praticar crimes, sendo o Estado o grande incentivador com sua ausência constante nos grotões de pobreza. Fechado nosso parêntese. Note que por todos esses motivos e com as bases alicerçadas nesta teoria é que o abolicionismo representa pelo fim das prisões e do próprio Direito Penal, por exemplo. Por considerá-los instrumentos de manejo por grupos sociais dominantes para definição das condutas criminosas, seu fim é medida que se impõe. Mas atenção! O discurso de redução ao nada não é só para o Direito Penal, mas também ao processo penal e às legislações extravagantes e todos os demais instrumentos que representam ou que corroborem para manejo, do ponto de vista abolicionista, devem ser abolidos. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 8 Até lá? Bem, até lá, na visão abolicionista, o crime é justificado por uma realidade construída de forma arbitrária ou por conveniência. O termo crime é substituído pela expressão situação-problema, seria uma forma de prestigiar os meios alternativos de solução de conflitos como a conciliação, a compensação, a arbitragem, medidas terapêuticas, dentre outras. Merece destaque a segunda crítica mirada no Direito Penal, neste caso, o elevado índice da cifra negra. A cifra negra, também chamada de zona obscura, dark number ou ciffre noir, representa apenas uma pequena parcela dos crimes. Christiano Gonzaga nos explica6: Proposta por Edwin Sutherland, nas chamadas cifras negras ou ocultas estão os crimes de colarinho-branco que não são descobertos e ficam fora das estatísticas sociais. Como os seus autores gozam do chamado “cinturão da impunidade”, os seus delitos ficam encobertos, ocorrendo o que se chama de cifra oculta ou negra da criminalidade. Cumpre ressaltar que tais delitos são infinitamente superiores aos delitos que são descobertos e que entram nas estatísticas sociais, uma vez que os crimes de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e contra a administração pública que realmente ocorrem e não são punidos constituem a grande maioria. Já as chamadas cifras douradas ou de ouro correlacionam-se aos crimes de colarinho-branco que são oficialmente conhecidos e punidos, o que, claramente, constituem uma minoria ínfima perto dos que acontecem e não são descobertos. Os crimes de colarinho-branco conhecidos oficialmente e punidos são bem menores e são chamados de cifras de ouro. Essa é a ideia de cifras negras e douradas em Sutherland. Todavia, numa versão brasileira, muitos professores e doutrinadores trouxeram o conceito de cifras negras e douradas para o Brasil com a simples máxima entre os crimes conhecidos e punidos e os não conhecidos e não punidos, sem reservar o estudo apenas para os crimes de colarinho-branco, como foi a ideia originária de Edwin Sutherland. Para aclarar o que se entende pela expressão cifras ocultas da criminalidade no Brasil, é citado o escólio de Salo de Carvalho, bem elucidativo por sinal, in verbis: “A cifra oculta da criminalidade corresponderia, pois, à lacuna existente entre a totalidade dos eventos criminalizados ocorridos em determinados tempo e local (criminalidade real) e as condutas que efetivamente são tratadas como delito pelos aparelhos de persecução criminal (criminalidade registrada). E os fatores explicativos da taxa de ineficiência do sistema penal são inúmeros e dos mais distintos, incluindo desde sua incapacidade operativa até o desinteresse das pessoas em comunicar os 6 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 48. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 9 crimes dos quais foram vítimas ou testemunhas. Como variável obtém-se o diagnóstico da baixa capacidade de o sistema penal oferecer resposta adequada aos conflitos que pretende solucionar, visto que sua atuação é subsidiária, localizada e, não esporadicamente, filtrada de forma arbitrária e seletiva pelas agências policiais (repressivas, preventivas ou investigativas).”46 No Brasil, portanto, a ideia que persiste é a de que os crimes conhecidos e punidos (cifras de ouro) são os crimes cometidos por pessoas de baixa renda, ou chamados de blue-collar, enquanto os crimes não conhecidos, e por isso não punidos, possuem o conceito de cifras ocultas e são cometidos pelas pessoas de alta renda (white-collar). Da mesma forma que, na versão originária de Sutherland, as chamadas cifras negras são bem maiores que as cifras douradas, pois os crimes que de fato acontecem e não são descobertos são infinitamente superiores, tais cifras no Brasil referem-se aos crimes de colarinho-branco e também aos de colarinho-azul. Foi nessa toada que surgiu o antagonismo entre criminosos de colarinho-branco e colarinho-azul, quando se quer referir aos tipos de infrações penais cometidos por pessoas de diferentes classes sociais, sendo muito comum em provas de concursos públicos a utilização de tais expressões, devendo apenas ser atentado para o que foi o pensamento original em Sutherland e o que é o pensamento atual, sendo ambas as formas corretas, devendo apenas ser identificado qual momento histórico está sendo questionado. O tema em provas (Investigador de Polícia – 2009) considera-se cifra negra a criminalidade: a. Registrada, mas não investigada pela polícia. b. Registrada, investigada pela Polícia, mas não elucidada. c. Não registrada pela Polícia, elucidada, mas não punida pelo Judiciária. d. Não registrada pela Polícia, desconhecida, não elucidada, nem punida. e. Não registrada pela Polícia, porém conhecida e denunciada diretamente pelo Ministério Público. Gabarito: D Destaca-se que há seletividade no sistema penal. Este apenas atuará em determinados casos, de acordo com a classe social a que pertence o ator do fato, operando uma espécie de eleição de ocorrênciae de infratores. (Natacha Alves, 2018. p. 236) Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 10 Finalmente, é a partir dessa deslegitimação do sistema penal, que o movimento abolicionista vai sustentar a necessidade de abandono da programação “criminalizante seletiva” e também do controle repressivo na forma em que é realizado, a fim de que se implementem sistemas alternativos. A ideia é que essa alternatividade seja capaz de buscar ou oferecer uma solução informal e composição de conflitos7, mediante uma intervenção das partes envolvidas. De forma resumida, podemos dizer que os principais argumentos do movimento abolicionista (e por isso os mais explorados em provas) para extinção do sistema penal são: ➔ Um sistema penal anômico. Se o sistema penal não cumpre as normas penais sua função preventiva se manifesta; ➔ Sistema Penal é seletivo e estigmatizante; ➔ Sistema penal marginaliza a vítima e, como consequência, coloca-a numa posição secundária no processo; ➔ A prisão é irracional. Ora, a prisão não cumpre as finalidades a que se propõe, portanto, só pode ser considerada irracional; ➔ Sistema penal produz dor inútil, de maneira que se as normas penais não são capazes de cumprir sua função e a execução penal não recupera o desviante, as penas são perdidas. Isto posto, a doutrina destaca os representantes deste movimento. Vale esclarecer que o tema é divergente!!! Se de um lado Zaffaroni nos aponta 04 (quatro vertentes) do pensamento abolicionista, representadas, portanto, por: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen, Nils Christie e Michael Foucault. 7 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 236. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 11 De outro, Führer e também José César Naves de Lima Júnior, asseveram que o abolicionismo apresente 03 (três) vertentes representadas pelos seus maiores expoentes8, a saber: Louk Hulsman, Thomas Mathiesen e Nils Christie. É o que veremos a partir de agora. Zaffaroni Führer e José Cesar Naves Apresenta 04 (quatro vertentes) do pensamento abolicionista Apresentam 03 (três vertentes) do pensamento abolicionista. Louk Hulsman, Thomas Mathiesen , Nils Christie e Michael Foucault. Louk Hulsman, Thomas Mathiesen e Nils Christie. Perceba que a divergência está localizada na figura de Michael Focault e cuidado para não errar isso em prova. 2.2.1 – Abolicionismo de Louk Hulsman Louk era catedrático de Rotterdam, autor de Penas Perdidas – O Sistema penal em questão (1982) ficou conhecido por tratar o abolicionismo sob uma perspectiva fenomenológica, estabelecendo suas críticas a partir da realidade do sistema (Natacha Alves, 2018. p. 236). No abolicionismo pregado por Louk, a palavra de ordem é abolir por completo o sistema penal uma vez que cabe aos envolvidos resolver seus próprios problemas. José César Naves nos ensina, in verbis: No abolicionismo de Louk Hulsman, o correto seria abolir completamente o sistema penal, de forma que o Estado não atuaria mais na solução de situações-problema. Caberia às pessoas envolvidas resolver os próprios conflitos, pois as leis sociais já seriam suficientes aos homens. Para ele a justiça penal é incontrolável e causadora de sofrimentos desnecessários, além de discriminatória e lesiva aos direitos dos envolvidos em conflitos. Note que Louk parte de uma negativa acerca da existência de uma realidade ontológica do crime, propondo uma nova abordagem da infração, a forma desvinculada. Significa dizer que a situação-problema (crime) deve ser desvinculado do Direito Penal. 8 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 157. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 12 É que o Direito Penal, na ótica de Louk, é por si só um problema. Isso porque é materialmente desigual, causador de sofrimento e expropriador de direitos dos envolvidos, sobretudo das vítimas. É por isso que seus discursos são contemplados pela completa abolição. Essa linha de pensamento destaca o caráter lesivo e discriminatório da Justiça Criminal. Verbera que as cifras negras da criminalidade, acabam sendo solucionados na informalidade e longe da justiça, concluindo que a concentração das espécies de resposta no Estado e a violência do sistema penal afastam os meios alternativos de solução de conflitos, como a compensação, arbitragem e terapia. Por esse pensar, é sustentada inclusive a necessidade de mudança da própria terminologia penal, de forma que os crimes sejam tratados como situações problemáticas, e isto porque, ao se atribuir a um fato a qualidade de crime, estaria sendo excluída previamente todas as outras maneiras ou possibilidades de pacificação social do conflito, que se vê reduzida a uma só alternativa emanada da estrutura burocrática do Estado. A transformação conceitual propiciaria também a substituição da lógica punitivista de modo a descriminalizar determinadas condutas e promover a descarcerização de outras, além de possibilitar no processo penal meios mais flexíveis de solução de conflitos, à semelhança do que ocorre nas esferas cíveis e administrativas. (José César Naves de Lima Júnior, 2018. p. 190). Importante, portanto, é destacar que nessa vertente o abolicionismo vai apresentar duas vertentes, quais sejam: o abolicionismo institucional e abolicionismo acadêmico. Em resumo, Lima Júnior (2017. p. 181) apresenta as duas posturas da seguinte forma: A. ABOLICIONISMO INSTITUCIONAL: É o movimento social que abrange mudanças pessoais na percepção, atitude e comportamento daqueles que se empenham nas transformações do sistema penal, visando à extinção da Justiça Criminal, reconhecida como um instrumento ilegítimo de controle social da situação-problema, por oferecer uma resposta inefetiva, dissociada da realidade dos fatos. Por outro lado, o Abolicionismo acadêmico é acolchoado da seguinte forma: B. ABOLICIONISMO ACADÊMICO: refere-se à abordagem acadêmica do fenômeno criminal e da Justiça Penal em uma perspectiva crítica, que, em contraposição ao discurso jurídico dominante, questione sua falta de independência em relação às práticas sociais existentes, bem como a ideia de uma justiça criminal natural e necessária. Nesse sentido, propõe a mudança da linguagem e da forma de percepção da Justiça Criminal, com a substituição de expressões, como comportamento por situação, natureza ilegal por problemática, etc. Com isso, pretende- se assegurar a adoção das formas alternativas de resolução de conflitos e tratar a situação problemática como um fato trágico acidental, rechaçando a visão maniqueísta segregadora e estigmatizadora que categoriza os envolvidos no conflito como autores e vítimas. De forma resumida, pode se dizer que para a pacificação do conflito, além da abolição gradual do sistema penal com a ampla descriminalização e descarceirização, proposta inicialmente, visa também à Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 13 substituição do sistema de justiça criminal por um mecanismo informale flexível, bem parecido aos da justiça administrativa ou cível, por exemplo. 2.2.2 – Abolicionismo de Thomas Mathiesen Thomas foi professor de sociológica do direito em Oslo, faculdade local, também autor da obra The Politics Of Abolition (1974), apresentando uma perspectiva marxista do abolicionismo. Mathiesen vincula a existência do sistema penal à estrutura produtiva capitalista, de modo a enxergá-lo como mais um instrumento de dominação de classe e, por isso, deveria ser extinto. Ocorre que essa extinção, a seu ver, deveria ser feita de forma que se abolisse ou reduzisse em quantidade e tamanho as instituições penitenciárias, chegando a negar a possibilidade de penas alternativas. José César Naves9 explica: A proposta de Thomas concentrava-se na criação de estruturas para uma revolução nas instituições punitivas que não procurasse propriamente reformar o sistema de penas, mas de mantê-lo aberto a outras medidas, como o melhoramento das condições de vida, ampliação do regime de visitas, aumento do período das saídas temporárias, etc. Importante esclarecer que a ideia de prisão é admitida. No entanto, merece atenção o fato de que o plano de fundo é a crença de que as políticas sociais e descriminalização de drogas irão gradualmente demonstrar a (des)necessidade do sistema penal. Sugerindo, portanto, a compensação R$$$$$ (financeira) pelo Estado como forma de proteger a vítima. Consequentemente, ao invés de um recrudescimento penal como forma de enfretamento de certas infrações, a solução idealizada estaria no aumento de apoio às vítimas que, como visto, iria variar conforme a gravidade do delito10. 9 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 192. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 14 Merece destaque que foi a partir da política abolicionista de Thomas Mathiesen que ocorreu a criação da Organização Norueguesa Anti-carcerária, a KRON. Os recursos eram completamente voltados à abolição do cárcere, negando, inclusive, a possibilidade de penas alternativas. Finalmente, podemos resumir o pensamento de Thomas na criação de espaço público alternativo na política criminal contendo três premissas, de acordo com José Naves (2018. p. 193), a saber: ➢ Libertar o corpo social dos meios de comunicação de massa; ➢ Reestabelecimento dos movimentos sociais e; ➢ Restauração do compromisso de pesquisa das intelectualidades em prol dos interesses do homem comum. 2.2.3 – Abolicionismo de Nils Christie Quanto à Nils Christie, sociólogo e criminologista norueguês, professor de Criminologia da faculdade de Direito da Universidade de Oslo pregava uma perspectiva fenomenológica-historicista.11 Isso significa que seus discursos eram assentados na crítica ao sistema penal, mas pelo viés de dor e sofrimento. Explico. É que, para Nils, o sistema penal opera mediante a produção de sofrimento e dor, assentando, portanto, falsas premissas dissociadas na realidade do homem, da sociedade e das formas de controle social da criminalidade, bem como por estabelecer uma classificação dicotômica entre culpado e inocente destrutiva dos vínculos sociais horizontais. (Natacha Alves, 2018. p. 240) A partir disso, a solução proposta por Nils Christie como solução para o delito ou situação-problema é a criação e implementação de comitês responsáveis por encontrar soluções alternativas, como por exemplo, a compensação da vítima, a mediação, mas sem falar em imposição de pena. Para Nils, a imposição de pena não era uma opção. Nas entrelinhas, é possível perceber a defesa de uma justiça 10 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 192. 11 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 239. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 15 participativa e comunitária com proximidades entre relações privadas e afastamento de modelos minimamente punitivos. José César Naves (2018. p.193) vai dizer que esse modelo proposto por Nils Christie se distancia das penas privativas de liberdades, bem como das restritivas, para se aproximar da indenização dos danos, da informalidade e da participação da vítima na solução do caso. Outro ponto que merece destaque é o antagonismo doutrinário justificacionista do direito de punir conferido ao Estado. É que, se de um lado esse antagonismo busca justificar a pena imposta a quem praticou o delito, a epistemologia estudada até aqui defende o fim do Direito Penal em virtude da carência de legitimidade, entendendo que a substituição dele por medidas pedagógicas e por meios de controle social informal teriam mais efetividade com menos custos para a pessoa humana. 2.2.4 – Michael Foucault Foucault é um de quatro apontados por Zaffaroni como principais representantes do movimento penal abolicionista que justifica seu apontamento dizendo que embora Foucault “não possa ser considerado um abolicionista no sentido dos demais autores” foi inequivocamente um abolicionista por ter produzido, em uma perspectiva estruturalista, subsídio teórico a este saber contracultura. Em sua obra VIGIAR E PUNIR (1975), Foucault problematizou o saber difundido pelo discurso científico da Criminologia tradicional, responsável pela legitimação do poder punitivo ocidental por meio do falso discurso humanista ressocializador, bem como rompeu com a noção de sistema punitivo, ao demonstrar as estruturas capilares de poder - invisibilidade do poder -, sobretudo às relativas ao sistema carcerário (Carvalho, 2017. p. 246). Assim, ao analisar a forma com que se aplicavam as sanções criminais, Foucault ofereceu vasto material crítico para que outros pensadores pudessem desenvolver uma política alternativa a essa espécie de restrição da liberdade, uma vez que os presídios eram vistos apenas como estruturas voltadas para encarcerar e sem nenhum viés ressocializador. A forma precisa e cruel com que Foucault expôs as entranhas do sistema carcerário fez com que houvesse uma revisitação das ideias punitivas e novas Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 16 concepções foram pensadas, dando ensejo até mesmo para ideias mais liberais, que podem ser chamadas de abolicionistas12. Nessa senda, Foucault afirma: A prisão fracassa na tarefa de reduzir a prática de crimes e, contrariamente, apresenta-se como meio hábil à produção da delinquência, que seria uma forma política ou economicamente menos perigosa de ilegalidade. Assim, produz-se o delinquente como sujeito patologizado, aparentemente marginalizado, mas centralmente controlado. Desta feita, a prisão objetiva a delinquência por trás da infração, consolidando a delinquência no movimento das ilegalidades. Além disso, frente à alusão direta de teses que vão ao encontro do abolicionismo, destacou-se a expropriação dos conflitos pelo poder quando da formação dos Estados nacionais, negando o modelo de uma instância superior decisória que se sobreponha ao litigante. O tema em provas (FCC / DPE SP Defensor Público – 2015) “O atestado de que a prisão fracassa em reduzir os crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muitobem produzir a delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos perigosa − talvez até utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginalizado mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado”. 12 GONZAGA, Christiano. Manual de Criminologia. 1ª. Edição. 2018. São Paulo: Editora Saraiva. 2018. p. 39. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 17 O trecho acima, extraído de “Vigiar e punir”, sintetiza uma importante conclusão de Michel Foucault decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna. Para o autor, a prisão permite a. Reduzir a delinquência através do controle e controlar a delinquência por meio da repressão. b. Combater a delinquência por meio da punição e erradicar a delinquência do meio social. c. Controlar a delinquência por meio da repressão e diferenciar a delinquência da periculosidade. d. Objetivar a delinquência por trás da infração e consolidar a delinquência no movimento das ilegalidades. e. Classificar a delinquência em suas categorias e erradicar a delinquência do meio social. Gabarito: D O tema em provas (FCC/ DPE SP Defensor Público – 2013) “Levado pela onipresença dos dispositivos de disciplina, apoiando-se em todas as aparelhagens carcerárias, este poder se tornou uma das funções mais importantes de nossa sociedade. Nela há juízes da normalidade em toda parte. Estamos na sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz, do ‘assistente social’-juiz; todos fazem reinar a universalidade do normativo; e cada um no ponto em que se encontra, aí submete o corpo, os gestos, os comportamentos, as condutas, as aptidões, os desempenhos”. No trecho acima, extraído da obra Vigiar e punir, Michel Foucault refere-se ao tipo de poder cujo grande apoio, na sociedade moderna, foi a rede carcerária, em suas formas concentradas ou disseminadas, com seus sistemas de inserção, distribuição, vigilância, observação. Este poder é denominado pelo filósofo de poder: a. Totalitário b. Total c. Judiciário d. massificador e. normalizador Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 18 Gabarito: E QUADRO SINÓPTICO DO ABOLICIONISMO Guerreiros, Em síntese, são as palavras chaves que precisam ser lembradas por vocês no dia da prova: Figura 1: Quadro sinóptico - Representantes do movimento abolicionista • Perspetiva Fenomenológica- historicista • Perspectiva Estruturalista • Perspectiva Marxista • Perspectiva fenomenológica Louk Hulsman Thomas Mathiesen Nils Christie Michel Foucault Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 19 2.2 – MINIMALISMO Se de um lado o abolicionismo prega a (des)legitimização do sistema penal, propondo, como o próprio nome sugere uma intervenção mínima do Direito Penal, de outro lado, o movimento minimalista, o Direito Penal deve procurar intervir somente em situações excepcionais e relevantes para a sociedade13, aqui, fala- se então última ratio legis do Direito Penal. Noutras palavras significa que o Direito Penal pode atuar, mas tão somente naqueles casos em que inexistam outros meios ou recursos para a manutenção da ordem jurídica do Estado. Caso contrário, na visão minimalista, tornar-se-ia um instrumento de graves injustiças, punindo quem deveria proteger, além de contribuir, de certa forma, para impunidade ao abarrotar o judiciário com processos de somenos importância mediante uma prevenção e retribucionismo flagrantemente exagerados14. Atualmente, considera-se esse movimento uma forma atenuada de abolicionismo. Zaffaroni chega a justificar que o movimento só existe como uma etapa ou fase intermediária entre o Direito Penal máximo – movimento lei e ordem – e o abolicionismo, ou seja, uma espécie de transição entre dois extremos. O tema em provas (MPE/ MPE SC Promotor de justiça) O minimalismo, enquanto movimento crítico ao sistema de justiça penal, foi concebido com a proposta de supressão integral do sistema por outras instâncias de controle social. Em sentido oposto, revelou-se o movimento “Lei e Ordem”, que reconhecia no direito penal máximo o instrumento primordial à resolução dos problemas que afligem a sociedade. a. Certo b. Errado Gabarito: Errado 13 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 195. 14 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 196. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 20 Vale frisar, foi um movimento que cresceu, fortalecendo-se após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a consolidação do Estado Democrático de Direito, do liberalismo e da filosofia humana. 2.2.1 – Princípios do Minimalismo Penal O minimalismo consiste num movimento que procura atribuir ao Direito Penal apenas a tutela de bens jurídicos relevantes, quer dizer, indispensáveis ao convívio harmonioso e em sociedade (José César Naves, 2018. p. 196). Isso significa que a base desse movimento é alicerçada em princípios, cujo destaque basilar é claramente o princípio da intervenção mínima, do qual são corolários vários outros princípios, como o da fragmentariedade e ofensividade, por exemplo. E aqui, vale um parêntese. O doutrinador Lima Júnior15 nos diz que: Um princípio de direito representa o mandamento nuclear de um sistema, portanto, sua ofensa é muito mais grave do que a perpetrada isoladamente contra um determinado dispositivo legal, pois a lesão atinge o ordenamento jurídico como um todo, e não apenas uma parte. Partindo-se dessa lógica, é imprescindível a análise de alguns dos princípios que representam a base do Direito Penal mínimo visando sua adequada compreensão. Veja nosso quadro sinóptico. 15 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 196. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 21 2.2.1.1 – Princípio da Legalidade Também conhecido como princípio da reserva legal, está previsto no art. 5ª da Constituição Federal, e ainda no art. 1º do Código Penal, in verbis: Art. 5º, CR/88: (...) (...) XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; Em reforço: Anterioridade da Lei Art. 1º - CP: Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal. Cleber Masson (2017, p. 24) vai nos dizer que este princípio preceitua, basicamente, a exclusividade da lei para a criação de delitos e contravenções penais, possuindo indiscutível dimensão democrática, pois revela a aceitação pelo povo, representado pelo Congresso Nacional, pela opção legislativa no âmbito criminal. De fato, não há crime sem lei que o defina,nem pena sem cominação legal: nullum crime nulla poena sine lege. Isso significa que o princípio da reserva legal possui dois fundamentos básicos, sendo um de natureza jurídica e outro de natureza política. O primeiro é a taxatividade, certeza ou determinação, pois implica, por parte do legislador, a determinação precisa, ainda que mínima do conteúdo do tipo penal e da pena a P ri n cí p io s d o m in im al is m o Legalidade Intervenção Mínima Subsidiariedade Fragmentariedade Adequeção social Dignidade da pessoa humana Lesividade Insignificância Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 22 ser aplicada, bem como, da parte do juiz na máxima vinculação ao mandamento legal, inclusive apreciação de benefícios16. Para o STJ17: O princípio da reserva legal atua como expressiva limitação constitucional ao aplicador judicial da lei, cuja competência jurisdicional, por tal razão, não se reveste de idoneidade suficiente para que lhe permita a ordem jurídica ao ponto de conceder benefícios proibidos pela norma vigente, sob pena de incidir em domínio reservado ao âmbito de atuação do Poder Legislativo. Assim, a natureza política é a proteção do ser humano em face do arbítrio do Estado no exercício do seu poder punitivo, enquadrando-se entre os direitos fundamentais de 1ª geração. Em complemento, se é que precisamos, significa consistência numa verdadeira garantia para qualquer cidadão, à medida que limita o jus puniendi do Estado, que manifesta em 04 (quatro) dimensões, a saber: 1. Nullum crimen, nulla poena sine lege praveia. Estabelece a anterioridade da lei penal, pela qual não há crime sem lei prévia. A norma penal incriminadora só pode ser aplicada para fatos ocorridos a partir de sua vigência, não podendo retroagir para alcançar fatos passados, salvo para beneficiar o réu – retroatividade da lei benéfica18. 2. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta. Não há crime sem lei escrita. Apenas a lei formal a qual pode criar infrações penais e cominar sanções penais, não sendo legítima a criação de crimes e penas pelo direito consuetudinário – costume19. 3. Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta. 16 MASSON, Cleber. Direito Penal - parte geral. 11ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017. Pg. 10. 17 HC 92.010/ES, rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, 5ª. Turma. J. 21.02.2008 18 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 244. 19 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 234. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 23 Não há crime sem lei estrita. A competência para criar e cominar penas é do Poder legislativo, por meio de lei, não podendo outros poderes (Executivo e Judiciário) fazê-lo. É vedado o emprego da analogia in malan partem, isto é, para criar crimes ou agravar penas20. 4. Nullum crimen, nulla poena lege certa. Consagra o princípio da taxatividade, pelo qual não há crime nem pena sem lei certa. Assim, deve o tipo penal conter a descrição exata da conduta proibida, vedando-se a edição de normas penais vagas ou indeterminadas21. 2.2.1.2 – Princípio da Intervenção Mínima No campo penal, o princípio da reserva legal não basta para salvaguardar o indivíduo. O Estado, respeitada a prévia legalidade dos delitos e das penas, pode criar tipos penais iníquos e instituir penas vexatórias à dignidade da pessoa humana. Para enfrentar esse problema, estatuiu a Declaração do Homem e do Cidadão (1789), em seu art. 8, in verbis: Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Surge aqui o princípio da intervenção mínima ou, como chamado por outra parte da doutrina, princípio da necessidade. A afirmação é de que é legitima a intervenção penal, mas apenas quando a criminalização de um fato se constitui meio indispensável para a proteção de determinado bem ou interesse, não podendo ser tutelado por outros ramos do ordenamento jurídico. (Cleber Masson, 2017. P. 52) Em reforço, o STJ22: A missão do Direito Penal moderno consiste em tutelar os bens jurídicos mais relevantes. Em decorrência disso, a intervenção penal deve ter o caráter fragmentário, protegendo apenas os bens jurídicos mais relevantes e em casos de lesões de maior gravidade. 20 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 244. 21 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 245. 22 HC 50.863/PE, Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa, 6ª. Turma, j. 04.04.2006. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 24 Finalmente, vale alertar que, embora o princípio da intervenção mínima seja usado para amparar a corrente do minimalismo, a compreensão daquilo que se entende por intervenção mínima varia de acordo com as correntes penais e com a interpretação dos operadores do direito. Nesse sentido, o STJ23: O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham a dano efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam resultados, cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo prejuízo importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. Do princípio da intervenção mínima surgem outros dois, a saber: fragmentariedade e subsidiariedade. 2.2.1.2.1 – Fragmentariedade O Direito Penal deve tutelar apenas os bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, como por exemplo, a vida, liberdade, patrimônio, dignidade sexual etc. Assim, apenas devem configurar infrações penais os ilícitos que atentem contra valores fundamentais para a manutenção da sociedade. Conclui-se, assim, que o Direito Penal é a última dimensão de proteção do bem jurídico. Diz-se que o Direito Penal é fragmentário, pois, dentro do universo de ilicitude, seleciona os comportamentos (fragmentos) lesivos a bens jurídicos de suma importância, os quais constituirão infrações penais24. 2.2.1.2.2 – Princípio da Subsidiariedade O Direito Penal deve atuar de forma subsidiária, como ultima ratio, isto é, quando insuficientes as demais formas de controle social – formais ou informais – mais brandas e, portanto, menos invasivas da liberdade individual. 23 HC 92.463/RS, rel. Min. Celso de Mello, 2ª. Turma, j. 16.12.2007. 24 OLIVEIRA, Natacha Alves de Oliveira. Manual de Criminologia. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 246. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza25 2.2.1.3 – Princípio da Adequação Social De acordo com esse princípio, que funciona como causa supralegal de exclusão da tipicidade pela ausência da tipicidade material, não pode ser considerado criminoso o comportamento humano que, embora tipificado em lei, não afronta o sentimento social de justiça. É o caso, dos trotes acadêmicos moderados e da circuncisão realizada pelos judeus. (Masson, 2017. p. 51) Num de seus julgados o STJ25 manifestou da seguinte forma, in verbis: É incabível a aplicação do princípio da adequação social, segundo o qual, dada a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal, não se pode reputar como criminosa uma ação ou uma omissão aceita e tolerada pela sociedade, ainda que formalmente subsumida a um tipo penal incriminador. Assim sendo, a partir desse princípio, pode-se concluir que não se justifica incriminar condutas toleradas pela sociedade e que não atentem contra bens ou quaisquer interesses relevantes. 2.2.1.4 – Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Trata-se de princípio consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, do qual é consectária a vedação da pena de morte, de caráter perpétuo, de trabalho forçado e desumana ou cruel a imposição de respeito à integridade física e moral do preso (Natacha Alves, 2018. p. 244). 2.2.1.5 – Princípio da Lesividade – Nullum crimen sine iniuria Também conhecido como princípio da ofensividade ou da lesividade. Traduz a ideia de que não há infração penal quando a conduta não tiver oferecido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico. Este princípio atende a manifesta exigência de delimitação do Direito Penal, tanto em nível legislativo como no âmbito jurisdicional (Masson, 2017. p. 59). Para Francesco Palazzo26: 25 RHC 60.611/DF, rel. Min. Rogério Schuetti Cruz, 6ª. Turma, j. 15.09.2015 26 PALAZZO, Francesco C. Valores constitucionais e direito penal. Trad. Gérson Pereira dos Santos. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 80 Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 26 Em nível de legislativo, o princípio da lesividade ou ofensividade, enquanto dotado de natureza constitucional, deve impedir o legislador de configurar tipos penais que hajam sido construídos, in abstracto, como fatores indiferentes e preexistentes à norma. Do ponto de vista, pois, do valor e dos interesses sociais, já foram consagrados como inofensivos. Em nível jurisdicional-aplicativo, a integral atuação do princípio da lesividade deve comportar, para o juiz, o dever de excluir a subsistência do crime quando o fato, no mais, em tudo se apresenta na conformidade do tipo, mas ainda assim, concretamente é inofensivo ao bem jurídico específico tutelado pela norma. Em síntese, pode-se dizer que 04 (quatro) são as funções desse princípio, apontadas pela doutrina majoritária, a saber: 1. Proibir a incriminação de uma atitude interna; 2. Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor – princípio da alteridade; 3. Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais; 4. Proibir a incriminação de conditas desviadas que não causem lesão ou perigo de lesão a qualquer bem jurídico – princípio da exclusiva proteção dos bens jurídicos. 2.2.1.6 – Princípio da Insignificância Trata-se de um princípio idealizado por Roxin, pelo qual, para que haja uma infração penal, é necessário que exista lesão grave, efetiva ou potencial, ao bem jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Em caso de lesão ínfima, exclui-se a tipicidade material da conduta, passando a ser considerada fato atípico (STF, HC nº 84.412/SP, Rel. Min. Celso de Mello, in Dj 18/11/2004). Nesse ínterim, vale destacar que a jurisprudência brasileira apresenta os seguintes requisitos para o reconhecimento da incidência do princípio da insignificância: Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 27 Mínima ofensividade da conduta praticada; Ausência de periculosidade social da ação; Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; Inexpressividade da lesão jurídica provocada 2.2.1.7 – Princípio da Culpabilidade Finalmente, convém destacar o princípio da culpabilidade, pelo qual não é possível uma responsabilização de alguém sem culpa – nullum crimen sine culpa. Outrora bastava a produção de resultado para surgir responsabilidade penal do autor, isto é, uma responsabilidade penal objetiva27. 2.2.2 – Conclusões sobre o minimalismo Guerreiros, Notem que, a concretização do Direito Penal mínimo pode ser vista tanto na criação como na revogação da lei ou no momento em que é aplicada, observado os princípios que norteiam essa espécie de movimento ideológico. Assim, o legislador deverá criteriosamente selecionar os bens jurídicos que pela importância na sociedade exigem a tutela penal. Óbvio que, conforme já destacava Hungria, não se pode exigir uma perfeição do texto legal a ponto de levá-lo ao automatismo, sendo mais importante submetê-lo ao processo exegético para se atingir a sua real finalidade, in vebis28: O monopólio legal do direito repressivo não podia oferecer ou assegurar a mirífica perfeição dos textos da lei. Para reduzir a função do juiz ao puro automatismo na aplicação literal deles. Mesmo os textos aparentemente mais claros não estão isentos da necessidade de explicação, pois seu verdadeiro alcance pode ficar aquém ou além das letras [...] não foi reservado ao legislador a condição impecável justeza da expressão [...] A lei, por mais cuidada na forma e no fundo, dificilmente se exime à diversidade de entendimento. Nem é preocupação 27 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 200. 28 HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Vol. I. Arts. 1º a 27º. São Paulo: Forense, 1949, p. 47-48-49. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 28 constante na fatura das leis, e de sua escrupulosa correção [...] como toda norma jurídica, a norma penal não pode prescindir do processo exegético, tendente a explicar-lhe o verdadeiro sentido, o juto pensamento, a real vontade, a exata razão finalística, quase nunca devidamente expressos com todas as letras. O tema em provas (MPE/MPE SC Promotor de Justiça – 2011) Julgue as alternativas a seguir: I. FRANZ VON LISZT, ao desenvolver o Programa de Marburgo (1882), criou um modelo integrado e relativamente harmônico entre dogmática e política criminal, postulando ser tarefa da ciência jurídica estabelecer instrumentos flexíveis e multifuncionais, com escopo de ressocializar e intimidar as mais diversas classes de delinquentes. II – KARL BINDING (1841-1920), em sua mais famosa obra “As normas e sua contravenção”, desenvolve a definição de normas como proibições ou mandatos de ação. III – A Teoria da Anomia caracteriza-se por ser uma política ativa de prevenção que intenta tutelar a sociedade, protegendo também o delinquente, pois visaria assegurar-lhe, através de condições e vias legais, um tratamento apropriado. IV – EUGENIO RAÚL ZAFFARONI pauta o seu pensamento abolicionista no entendimento de que o sistema penal se caracteriza por sua inutilidade e incapacidade de resolução dos problemas para os quais se propõe solucionar. Defende a tese de que o sistema penal poderia ser substituído por outrasformas alternativas de controle social, como, por exemplo, a reparação e a conciliação. V – O modelo penal de Defesa Social nega totalmente o livre-arbítrio (pressuposto da culpabilidade), pelo fato de o crime não ser mais o resultado de vontade livre do sujeito, mas sim de (pré)condições individuais, físicas ou sociais. a. Apenas as assertivas II e IV estão corretas. b. Apenas as assertivas I e II estão corretas. c. Apenas as assertivas I, III e IV estão corretas. d. Apenas as assertivas I, III, IV e V estão corretas. e. Todas as assertivas estão corretas. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 29 Gabarito: B 2.3 – CORRECIONALISMO O correcionalismo é abordado por Oswaldo Henrique Duek29, e explica que o alemão Cárlos David Augusto Röder, no século XIX (precisamente em 1939), postulava a pena com o fim de corrigir a vontade perversa do criminoso, argumentando ainda que poderia ser o primeiro a defender a reprimenda de duração indeterminada, quer dizer, condicionada à reforma do delinquente. Conta ainda que Röder pregava a pena correcional, ou seja, um remédio que atua na esfera psíquica do autor de um delito no intuito de reestabelecer a efetividade da lei e saúde social. Acreditava, em epítome, que a correção moral do delinquente e sua reforma interior seriam a base e finalidade de todo o sistema penal. Marques expõe ainda o pensamento correcionalista a partir de Dorado Montero, professor da Universidade da Espanha e, naturalmente, expoente do correcionalismo, in verbis: Como comenta Dorado Montero: “Para Röder, [...] a correção moral, a transformação interna dos criminosos, é a base e a finalidade exclusiva de toda atividade penal, o nisus formativus de todo o sistema penal. Todavia, as ideias de Röder só iriam difundir-se, de forma marcante, no final do século XIX, principalmente com as obras de Concepción Arenal e Pedro Dorado Montero. Diante da crise da pena retributiva, ambos propõem a imposição de métodos corretivos durante a execução penal, não como objetivo de castigar, mas com objetivo de recuperar o delinquente e torná-lo útil a sociedade. Na visão desses autores, não há criminosos incorrigíveis, mas somente não corrigíveis. [...] Para Dorado Montero, o delito nada mais é do que um sintoma da anormalidade psíquica do infrator, uma prova de seu desequilíbrio moral, que denota a necessidade de um remédio racional destinado à sua emenda, em seu próprio benefício. Dessa forma, a pedagogia correcional substituiu o sistema penal puramente repressivo, alicerçado no malum passionais propter malum actionis, sem nenhuma utilidade para o delinquente ou para a comunidade30. Exposto isto, podemos afirmar que o movimento do correcionalismo era um movimento ideológico que considerava o Direito Penal protetor dos delinquentes, onde a pena era tratada como um direito de recuperação e adaptação, enfim, de caráter eminentemente pedagógico. Frise-se ainda que não havia delito natural, pois toda espécie de delito era criação artificial da sociedade que selecionava determinados comportamentos como sendo criminosos. 29 MARQUES, Oswaldo Henrique Duek. Fundamentos da pena. São Paulo: Martins Fontes, 2008, p. 114-115. 30 MARQUES, 2008 apud MONTERO, 1973, p. 276. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 30 2.3.1 – Correcionalismo e Determinismo Social Importante destacar que o correcionalismo tem como premissa ideias deterministas. Por isso, parte da doutrina vai justificar como vertente da Escola Positiva. Daí porque, nesse contexto, como o proceder desviante está emparelhado a motivos determinantes o conceito de responsabilidade vai variar, uma vez que a índole caminha para a responsabilidade coletiva ou difusa, atribuindo-se ao corpo social uma espécie de responsabilidade solidária. Assim, se a pena está desatrelada dos fins retribucionistas, deve ser aplicada apenas como meio de defesa social. Sob essa ótica, serve para prevenir perigos que se atribuem ao delinquente através de sua recuperação. Logo, significa dizer: Pena não é castigo, mas sim um direito de se adaptar à sociedade. Este raciocínio permite-nos perceber, como plano de fundo, a unificação. Significa um modelo de Direito Penal em que poder judiciário, polícias e demais órgãos de controle social fossem unificados a fim de constituir um corpo de polícia social31. A finalidade? Bem, a finalidade dessa composição seria promover o bem-estar da sociedade tratando o delinquente como uma pessoa que necessita de ajuda. A partir de sua adaptação deixaria de constituir elemento de perturbação e perigo a toda coletividade (José César Naves, 2018. p. 202). 31 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 203. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 31 2.4 – GARANTISMO O modelo de movimento garantista encontra fundamento nos princípios da legalidade estrita, lesividade, responsabilidade pessoal, presunção de não culpabilidade e contraditório, remetendo-nos, notadamente, ao iluminismo e liberalismo para justificar sua origem. Daí o parêntese. O iluminismo pode ser definido como um movimento intelectual burguês que vigorou na Europa durante o século XVIII, e se caracterizava pela crítica generalizada ao antigo regime absolutista monárquico – “ao rei todo poder soberano”; tendo como principais defensores Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Noutro giro, o liberalismo se apresenta em uma linha de pensamento do iluminismo, tendo como base a não intervenção do Estado nas relações privadas, no mercado, enfim, defendia o direito de propriedade, a liberdade individual e a igualdade perante o direito. John Locke, Adam Smitch, e David Ricardo, dentre outros são expoentes do liberalismo econômico que pode meio do Laissez-faire, Laissez passer; buscava criar uma ordem espontânea e por meio dela promover o bem-estar social.32 Fechado o parêntese. Daí porque, José Naves (2017. p. 204) vai dizer que, em virtude desses movimentos e por um contexto paramentado pelas doutrinas do contratualismo, separação dos poderes, supremacia da lei, positivismo jurídico e utilitarismo penal, observava-se que não havia sentido unívoco e homogêneo entre tais 32 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 204. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 32 princípios, tanto que poderiam assumir um papel garantista ou não, revelando certa ambivalência. Naves cita ainda o exemplo citado por Ferrajoli que em seu manual Direito e razão: teoria do garantismo penal vai dizer que, se o positivismo encontra-se embasado no princípio da legalidade estrita, poderia ainda sustentar modelos penais absolutistas em que o poder normativo do soberano não estaria sujeito a limites. O utilitarismo penal poderia conceber a pena como o último recurso necessário ao enfrentamento da criminalidade, isto é, a mínima aflição necessária, ou concebê-la sob a ótica antigarantista da prevenção especialcom vistas à máxima segurança possível. Distante dessa ambivalência, esses princípios, da maneira como foram consolidados em textos constitucionais, formaram um sistema harmonioso e unitário que no modelo garantista irá identificar o proceder desviante no intuito de assegurar a limitação do jus puniendi do Estado e proteger a pessoa humana contra abusos e arbitrariedades de toda a ordem. O garantismo busca o equilíbrio, ou seja, nem o excesso e nem a insuficiência da atuação estatal. Deve proteger os bens jurídicos e os direitos constitucionalmente assegurados, mas de modo que a resposta ao crime seja suficiente. 2.5 – A NOVA DEFESA SOCIAL Trata-se de um movimento de política criminal com a finalidade voltada à modernização do direito, especialmente no que se refere às medidas protetivas. José César Naves explica: De caráter humanista e fundamentada no positivismo criminológico tem como expoente Adolphe Prins e o professor genovês Pilippo Gramática. Aquele autor da Obra Defesa Social e as transformações do Direito Penal, de 1910, concebe um direito penal humanista que deve proteger a pessoa humana, a vida e o patrimônio. [...] Diante da impossibilidade de se fixar a pena proporcional a lesão causada pelo direito, que a mesma seja estabelecida conforme a periculosidade do delinquente. As pessoas menos abastadas deveriam ser protegidas pela Nova Defesa Social, sendo inadmissível relegá-las a mercê da própria sorte nas mãos de criminosos. Alerta para o perigo de fomentar a transformação destas pessoas em delinquentes. 2.5.1 – Adolphe Prins Notadamente, a doutrina de Prins defendia a necessidade de se perquirir a existência concreta da periculosidade individual do delinquente, e se ela justificaria uma medida de proteção social. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 33 2.5.2 – Filippo Gramático Com o passar do tempo, já no período pós-guerra, surge Filippo Gramático (1901-1979) com a chama Defesa Social Radical. Um pensamento da Nova Defesa Social que prega a extinção do Direito Penal, a ser substituído por um direito de defesa a sociedade. José César Naves, explica33: As normas não passariam de meras convenções emanadas da coletividade por intermédio do estado, e por isso, teriam caráter relativo. A prática de delitos, por conseguinte, não deveria ser punida, mas sujeita a tentativa de adaptação do delinquente às normas sociais. Nesse particular, a medida de defesa social que não comporta tempo determinado visa substituir as penas e medidas de segurança, e pode ser aplicada antes ou depois da prática do delito. Por meio da precaução e da cura, tem como finalidade ressocializar o delinquente. Vale destacar que diante da indefinição conceitual acerca da antissocialidade, a teoria de Filippo Gramática sofreu duras críticas, pois para estes, a teoria era suscetível de manipulações. O Tema em provas (VUNESP/ PCSP Investigador de Polícia – 2014) A corrente do pensamento criminológico, que teve por precursor Filippo Gramatica e fundador Marc Ancel, a qual apregoa que o delinquente deve ser educado para assumir sua responsabilidade para com a sociedade, a fim de possibilitar saudável convívio de todos (pedagogia da responsabilidade), é denominada. a. Janelas Quebradas (Broken Windows). b. Escola Antropológica Criminal. 33 LIMA JÚNIOR, José César Naves. Manual de Criminologia. 5ª. Edição. Revista atualizada e ampliada. Salvador: Editora JusPodivm,2018. Pg. 226. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 34 c. Nova Defesa Social. d. Criminologia Crítica e. Lei e Ordem. Gabarito: C 2.5.3 – Marc Ancel Um pouco mais à frente, precisamente em 1902-1990, uma nova teoria ganha destaque. Encabeçada pelo jurista Marc Ancel, professor e magistrado da Corte de Cassação Francesa, defendia para Nova Defesa Social os traços da escola clássica na medida em que defendia o livre-arbítrio, elemento crucial da responsabilidade individual. Ancel acreditava em outros meios de defesa e que esses deveriam compreender não apenas as medidas contra o delinquente, mas também contra todos aqueles que estivessem na iminência de praticar um delito. 2.5.4 – Conclusões sobre o movimento da Nova Defesa Social Guerreiros, Embora existam, no movimento da Nova Defesa Social, variações de pensamento, é perceptível a ressocialização e a garantia de direitos individuais do delinquente como plano de fundo (traço comum em todas as correntes idealizadas). O Tema em provas (MPE/MPE SC Promotor de Justiça – 2014) Analise o enunciado da questão abaixo e assinale se ele é verdadeiro ou falso. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 35 A "Nova Defesa Social", inspirada na obra de Marc Ancel, foi um movimento extremista, caracterizado pela defesa de um corpo de doutrina estável, com uma programação acrítica. a. Verdadeiro b. Falso Gabarito: Falso 2.6 – MOVIMENTO LEI E ORDEM Movimentos como o de Lei de Ordem vão ganhando espaço com eventos vivenciados pela humanidade, mas, antes de adentrarmos aos eventos, vamos à conceituação do tema. Nas palavras do Promotor de Justiça e Professor Christiano Gonzaga: [...] ressalta-se o Movimento da Lei e Ordem em que, no mesmo raciocínio da Política de Tolerância Zero e da teoria das janelas quebradas, apregoa a aplicação implacável da lei a qualquer conduta ilícita com o fim de manter a ordem social. Sem lei haverá uma completa anarquia da sociedade, em que cada um fará aquilo que bem entender, pois não deve submissão a nenhum regramento jurídico. Com a ideia rígida de a lei ser cumprida sempre, sem tergiversações, o sentimento de impunidade e desordem desaparece, fazendo com que todos pensem em obedecer aos preceitos legais, pois essa é a coisa certa a fazer. Sob esse enfoque, não se analisa se a lei é boa ou ruim, mas sim que ela deve ser aplicada por ser ela votada legitimamente para reger as condutas sociais. Quanto aos acontecimentos, podemos destacar o atentado de 11 de setembro de 2001, em que as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque – EUA, deixaram a população atônita, provocando uma sensação de insegurança a ponto de exigir mudanças profundas no Direito para enfrentamento do terrorismo, por exemplo. Como reforço, a título de exemplo ainda podemos citar a, relativamente recente, eleição do republicano Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, sempre laureado na ideia de combater o Estado Islâmico, por este criar o caos e a desordem mundial. Ademais, não podíamos ficar de fora. Aqui no Brasil, demos uma guinada para esse tipo de pensamento eleição de Jair Bolsonaro para a Presidência da República. É que a escolha, por si só, prega o pensamento militarizado com base na hierarquia, ordem e lei. É bom deixar claro que, não se está aqui criticando ou elogiando quaisquer das candidaturas, mas tão somente demonstrando as recentes adoções do Movimento da Lei e Ordem em várias frentes políticas. Beatriz V. P. Pestilli, Equipe Paulo Bilynskyj, Paulo Bilynskyj Aula 08 Criminologia p/ Carreira Jurídica 2021 (Curso Regular)-Profs. Paulo Bilynskyj e Beatriz Pestilli www.estrategiaconcursos.com.br 1823175 35881692373 - Batista Lima Souza 36 É importante destacar que alguns autores denominam esse tipo de teoria (janelas
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