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FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4 2 Introdução Á Bioquímica Da Nutrição ......................................................... 5 3 Deficiências Nutricionais Comuns ............................................................... 7 3.1 Proteína ............................................................................................................. 7 3.2 Vitamina D ......................................................................................................... 7 3.3 Vitamina B12 ..................................................................................................... 7 3.4 Ferro .................................................................................................................. 8 3.5 Cálcio ................................................................................................................ 9 3.6 Zinco .................................................................................................................. 9 3.7 Ômega 3 ............................................................................................................ 9 4 Tópico III: Bioquímica E Metabolismo Energético No Exercício Físico ..... 10 4.1 Metabolismo aeróbio, anaeróbio alático e lático .............................................. 12 4.1.1 Metabolismo Anaeróbico .............................................................................. 12 4.1.2 Mecanismo da fosfocreatina (alático) ........................................................... 12 4.1.3 Mecanismo da glicogenólise (lático) ............................................................. 13 4.1.4 Metabolismo Aeróbico .................................................................................. 13 5 Tópico IV: Bases Metabólicas Dos Macronutrientes ................................. 13 5.1 Transaminação ................................................................................................ 14 5.2 Desaminação .................................................................................................. 15 5.3 Transaminação ................................................................................................ 15 5.4 Transporte de lipídeos ..................................................................................... 17 5.5 A reserva lipídica ............................................................................................. 17 5.6 Mobilização de lipídeos ................................................................................... 17 5.7 Oxidação de ácidos graxos ............................................................................. 18 5.8 As enzimas da b-oxidação .............................................................................. 19 5.9 Degradação do colesterol ................................................................................ 19 5.10 Síntese de colesterol .................................................................................... 20 5.11 Biossíntese de ácidos graxos ....................................................................... 20 5.12 A síntese dos ácidos graxos: um complexo multienzimático ........................ 21 5.13 Passos da sintase dos ácidos graxos .......................................................... 21 6 Bases Metabólicas Dos Micronutrientes ................................................... 24 6.1 Biodisponibilidade e metabolismo de minerais e vitaminas ............................. 24 7 Fisiologia do Sistema Digestivo ................................................................ 25 8 Regulação Da Fome E Saciedade ............................................................ 30 8.1 A Fome ............................................................................................................ 30 8.2 Saciedade ....................................................................................................... 30 9 Fisiopatologia Das Doenças Metabólicas ................................................. 31 9.1 Fatores de risco ............................................................................................... 32 10 REFERÊNCIAS ..................................................................................... 34 FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 1 INTRODUÇÃO Prezados alunos, Nos esforçamos para oferecer um material condizente com a graduação daqueles que se candidataram a esta especialização, procurando referências atualizadas, embora saibamos que os clássicos são indispensáveis ao curso. As ideias aqui expostas, como não poderiam deixar de ser, não são neutras, afinal, opiniões e bases intelectuais fundamentam o trabalho dos diversos institutos educacionais, mas deixamos claro que não há intenção de fazer apologia a esta ou aquela vertente, estamos cientes e primamos pelo conhecimento científico, testado e provado pelos pesquisadores. Não obstante, o curso tenha objetivos claros, positivos e específicos, nos colocamos abertos para críticas e para opiniões, pois temos consciência que nada está pronto e acabado e com certeza críticas e opiniões só irão acrescentar e melhorar nosso trabalho. Como os cursos baseados na Metodologia da Educação a Distância, vocês são livres para estudar da melhor forma que possam organizar-se, lembrando que: aprender sempre, refletir sobre a própria experiência se somam e que a educação é demasiado importante para nossa formação e, por conseguinte, para a formação dos nossos/ seus alunos. Nesta primeira apostila introduzimos conceitos pertinentes à Ecologia e discorreremos sobre os impactos negativos que acometem o meio ambiente principalmente pelas atitudes do ser humano, algumas vezes por necessidade e outras por falta de conscientização de que suas ações podem comprometer o futuro da vida no planeta. Trata-se de uma reunião do pensamento de vários autores que entendemos serem os mais importantes para a disciplina. Para maior interação com o aluno deixamos de lado algumas regras de redação científica, mas nem por isso o trabalho deixa de ser científico. Desejamos a todos uma boa leitura e caso surjam algumas lacunas, ao final da apostila encontrarão nas referências consultadas e utilizadas aporte para sanar dúvidas e aprofundar os conhecimentos. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 2 Introdução Á Bioquímica Da Nutrição Os macronutrientes são necessários em grandes quantidades diárias e são a base dos alimentos que comemos. É importante comer quantidades equilibradas de carboidratos, proteínas e lipídeos, de modo que a dieta resulte em saúde para o organismo. Contudo, dietas mal formuladas contribuem para o efeito contrário, estando associadas a diversas doenças do mundo contemporâneo, como obesidade, hipertensão e diabetes. Os carboidratos são a fonte energética primária para os seres vivos. Carboidratos podem ser digeridos e ter seus monossacarídeos oxidados para a produção de energia. O monossacarídeo mais comum é a glicose, que possui 6 carbonos e participa dos mais diversos processos metabólicos, como glicólise, glicogênese, via das pentoses fosfato e síntese de ácidos graxos a partir de acetil- CoA. Além de ser oxidada via glicólise-ciclo de Krebs-fosforilação oxidativa, a glicose pode ser armazenada em reserva limitadas de glicogênio muscular e hepático. O glicogênio hepático é fundamental durante as primeiras fases do jejum, quando a gliconeogênese cresce gradualmente em importância, para manter as taxas de glicemia. A nível celular, os carboidratos podem estar associados a outras macromoléculas, formando glicoproteínas e glicolipídeos. Na membranacelular, formam o glicocálix, estrutura importante na proteção e no reconhecimento celular, entre outros processos da biologia celular. As proteínas participam da construção do corpo: formam elementos da matriz extracelular, como o colágeno, participam no transporte plasmático de substâncias, como a albumina, e fazem parte das mais diversas estruturas celulares, como histonas associadas ao DNA, proteínas de membrana e filamentos componentes do citoesqueleto. As fibras musculares apresentam uma quantidade enorme de proteínas, devido à abundância de miofibrilas, principalmente filamentos de actina e miosina, que participam ativamente na contração muscular. As enzimas correspondem a outra função vital das proteínas: catalisam as mais diversas reações do metabolismo, diminuindo a energia de ativação das reações, de modo que sua velocidade seja compatível com a vida. As enzimas, devido a seu papel decisivo no metabolismo, estão submetidas a um mecanismo de regulação fina, seja por alosteria ou por ação hormonal, desencadeando cascatas FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA de modificação covalente ou interferindo na expressão gênica. As proteínas podem ainda ser utilizadas na produção de energia e podem derivar ou macromoléculas, como carboidratos e lipídeos. No jejum, proteínas do músculo são quebradas e seus aminoácidos componentes são submetidos a transaminações e desaminações, transferindo fontes de carbono para a gliconeogênese hepática. O produto final da degradação de aminoácidos é ureia, a qual é filtrada nos rins e excretada na urina. Os lipídeos constituem a maior reserva energética do corpo. O tecido adiposo é especializado para o armazenamento e a mobilização de triacilgliceróis, em resposta a situações metabólicas. Os lipídeos provenientes da alimentação são degradados durante o jejum por diversos tecidos, como músculo cardíaco, músculo esquelético e fígado. Os ácidos graxos originados passam pela via de beta-oxidação, gerando coenzimas reduzidas e consequente produção de ATP. Os lipídeos também apresentam funções estruturais, estão associados à construção de membranas a partir de fosfolipídios. São utilizados, ainda, para síntese de colesterol e de hormônios esteroides, como alguns hormônios sexuais. Além disso, ácidos graxos essenciais presentes na dieta dão origem a compostos que regulam diversos processos fisiológicos, como regulação da pressão arterial, dilatação de brônquios, contração uterina, reação inflamatória, manifestação de dor e febre e coagulação no sangue. Os micronutrientes são necessários em pequenas quantidades, mas são essenciais para o bom funcionamento do organismo. São divididos em vitaminas e sais minerais. As vitaminas não são estocadas em níveis consideráveis, por isso, devem ser supridas continuamente pela dieta. São classificadas em dois grandes grupos: Hidrossolúveis e lipossolúveis. As vitaminas hidrossolúveis são as vitaminas do complexo B e vitamina C. São componentes de coenzimas, participando de diversas reações enzimáticas no organismo. O excesso dessas vitaminas não é danoso, pois elas podem ser eliminadas por meio da urina. As vitaminas lipossolúveis incluem as vitaminas A D, E e K. O seu excesso pode ser mais danoso, pois estas vitaminas são eliminadas mais lentamente. São derivadas do isopreno e ocorrem em alimentos ricos em gorduras, sendo transportadas por lipoproteínas no plasma. Assim como as hidrossolúveis, as vitaminas lipossolúveis também têm um papel de grande FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA importância como coenzimas. A vitamina A está relacionada às reações da visão e diferenciação epitelial; a vitamina D apresenta ação hormonal na absorção de cálcio pelos ossos quando passa à forma ativa por radiação UV; a vitamina K atua na coagulação sanguínea, e a vitamina E, juntamente com as vitaminas A. C e D, tem função antioxidante, limitando o estresse oxidativo e a ação dos radicais livres sobre as estruturas celulares. As substâncias antioxidantes, presentes principalmente nos vegetais, atuam na prevenção do câncer e de doenças cardiovasculares. 3 Deficiências Nutricionais Comuns 3.1 Proteína Os vegetais contêm menos proteínas, com mais baixo valor biológico e menor digestibilidade em comparação a proteínas animais. Esse padrão é comum em frutas e vegetais amiláceos, pobres em proteínas. Contudo, leguminosas, cereais integrais, sementes e verduras apresentam considerável porcentagem de proteínas em sua composição. Alguns vegetais possuem teor baixo de aminoácidos específicos, outros não apresentam aminoácidos limitantes. A combinação de alimentos de grupos diferentes oferece todos os aminoácidos em ótimas quantidades; todos os aminoácidos essenciais estão presentes no reino vegetal. A proteína de soja apresenta valor biológico próximo ao de proteínas animais e é altamente digerível, apresentando alto valor nutricional. 3.2 Vitamina D Promove a absorção de cálcio pelos ossos e dentes. Sua deficiência pode aumentar o raquitismo em crianças e a osteoporose em idosos. O status de vitamina D depende da exposição ao sol e da ingestão de comidas fortificadas e suplementos. A vitamina D3 é de origem animal. Mas vitamina D2 é acessível aos veganos em comidas fortificadas. A suplementação é recomendada para vegetarianos habitantes de altas latitudes, quando a exposição ao sol e a ingestão de alimentos fortificados não é suficiente. 3.3 Vitamina B12 FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Sintetizada apenas por microrganismos presentes em tecidos animais, esta vitamina deve ser suplementada por todos os vegetarianos estritos. A B12 está presente apenas em ovos, leite e carnes. Dependendo do tipo de dieta, grávida e crianças vegetarianas também podem ter indicação para o suplemento. A B12 funciona como cofator em importantes reações enzimáticas, sendo fundamental para o correto funcionamento da divisão celular, fluidez da bainha de mielina formação do sangue e manutenção do sistema nervoso. Na deficiência de B12, os níveis de dois compostos aumentam muito no sangue e podem ser medidos para o diagnóstico: homocisteína (Hcy) e ácido metilmalônico (MMA). O quadro mais frequente é de anemia megaloblástica associada a problemas neurológicos. Na anemia megaloblástica, há diminuição da hemoglobina e macrocitose das células da medula óssea. A ela se somam, efeitos neurológicos, relacionados à desmielinização neuronal, parestesias, até distúrbios psiquiátricos. Além disso, a hiperhomocisteinemia é um fator de risco para a aterosclerose, que pode resultar em sérias complicações cardiovasculares. Por isso, é importante que os vegetarianos tenham atenção para as necessidades de B12. 3.4 Ferro Suas funções mais importantes estão no transporte de oxigênio no sangue (como parte da hemoglobina) e na transferência de elétrons no metabolismo energético (notadamente os citocromos). O ferro é absorvido na forma ferroso no trato intestinal e sua deficiência causa anemia, cujos sintomas mais frequentes são fadiga, palidez e fraqueza. O ferro na carne e no sangue, forma heme, é mais fácil absorvido por mecanismo independente do que as formas não heme presentes em vegetais, leite e ovos. A absorção do ferro é aumentada por alguns aminoácidos, ácido ascórbico, ácidos orgânicos e açúcares, enquanto é prejudicada por fitatos, oxalatos e taninos, que formam hidróxidos insolúveis. Uma ingestão maior de ferro, associada a um consumo quase duas vezes maior de vitamina C em vegetarianos, pode diminuir os riscos de deficiência nesse mineral. A absorção de ferro é determinada não só por fatores dietéticos, mas também peloestado nutricional dos indivíduos. Estudos concluem que mais ferro é absorvido por indivíduos deficientes neste mineral do que em indivíduos normais. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 3.5 Cálcio Suas principais funções estão associadas à contração muscular, à liberação de neurotransmissores, além de atuar como mensageiro secundário na transdução de sinal para sinalização hormonal. Também constitui os dentes e os ossos, e sua deficiência pode ocasionar problemas ósseos como raquitismo. O leite é o alimento com maior concentração e biodisponibilidade de cálcio. As dietas vegetarianas são enquadradas em dois grupos com relação à adequação desse mineral: as que incluem e as que não incluem leite e derivados na dieta. A maior parte do cálcio dos alimentos de origem vegetal está combinado a compostos inibidores de absorção, que incluem ácidos oxálicos e fítico, fosfato e fibras. Por isso, é importante ter uma fonte confiável de cálcio na dieta. 3.6 Zinco O zinco é componente de metaloenzimas associadas ao DNA e ao RNA e de enzimas digestivas, e está associado com a insulina. Seu papel estrutural é estabilizar a estrutura quaternária das enzimas. Participa na concentração de aminoácidos neurotransmissores no cérebro e na armazenagem e secreção de hormônios. Sua deficiência pode causar retardo no crescimento, resultante da redução da biossíntese de ácidos nucléicos e, consequentemente, de proteínas e utilização de aminoácidos, o que impede divisão e crescimento celular Fatores extrínsecos diminuem a biodisponibilidade de zinco, como o ferro não-heme, ácido etilenodiamina tetracético (EDTA), fibra dietética, ácido fítico, cálcio, cobre, entre outros. O ácido fítico é um agente quelante que se liga ao zinco, formando um composto insolúvel no pH intestinal normal. O fitato é um ácido orgânico, que pode alterar o valor nutritivo do alimento onde está presente e também do alimento que não o possui, mas que é ingerido concomitantemente na dieta. Ele é encontrado em todas as proteínas de sementes, várias raízes e tubérculos. 3.7 Ômega 3 São ácidos graxos essenciais e devem ser incluídos na dieta alimentar, assim como o ômega 6. Podem ser encontrados nas sementes oleaginosas e óleos vegetais. A ingestão do ômega 3 auxilia a diminuir os níveis de triglicerídeos e FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA colesterol total, enquanto que o excesso dele pode retardar a coagulação sanguínea. É um importante mediador de alergias e processo inflamatórios, pois são necessários para a formação das prostaglandinas inflamatórias, tromboxanos e leucotrienos. O Ômega 3 deve ser utilizado em maior quantidade pelos vegetarianos devido ao fato de que nessa dieta o organis•mo deve convertê-lo em ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosaexaenóico (DHA), formas já presentes nos deriva•dos animais. Como a conversão desse ácido graxo é baixa em seres humanos, a ingestão deve ser otimizada. 4 Tópico III: Bioquímica E Metabolismo Energético No Exercício Físico Fonte: www.isulbra.com.br O metabolismo energético é definido como o conjunto de reações químicas que se processam no organismo. Essas reações liberam energia que permitem o funcionamento do nosso corpo. Metabolismo é o conjunto de reações químicas que se processam em um organismo. Essa definição pode parecer simples, mas envolve um conjunto de conhecimentos que se abrem como se fosse um leque. As transformações energéticas processadas em um organismo indicam que estas aconteceram inicialmente dentro de cada célula, individualizada. O conjunto de reações que permitem a formação de moléculas de maior complexidade é denominado reações de síntese ou anabolismo. Quando as reações se processam na decomposição das estruturas mais complexas em novas mais simples são conhecidas como reações de degradação ou catabolismo. Temos como exemplo de catabolismo o processo da digestão, quando as moléculas são degradadas em substâncias menores absorvíveis; e como exemplo de anabolismo a união de aminoácidos para a formação de proteínas, como a melanina. Mas como disse Lavoisier: “Na natureza nada se perde nada se cria. Tudo se transforma! ”. Sabendo que a célula é uma unidade complexa e organizada, que demanda de energia http://www.isulbra.com.br/ FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA continuamente para realizar as inúmeras reações que a mantém viva, devemos nos questionar sobre o destino da energia produzida e sua origem. Na célula, inúmeras reações químicas acontecem com um gasto de energia superior àquele produzido ao final do processo, esse déficit de energia é compensado com a absorção de energia externa para a promoção da reação. Assim, temos a reação endergônica ou endotérmica – reações onde há absorção de energia do meio externo. Um exemplo deste tipo de reação seria a produção de glicose a partir de moléculas de água e gás carbônico durante o processo da fotossíntese. Existe nesse processo a necessidade da energia luminosa para promover esta síntese. Em contrapartida, outras reações acontecem de forma totalmente oposta às reações endergônicas, uma vez que ocorre com liberação de energia para o ambiente, dissipando calor ao meio externo. Esse tipo de reação é conhecido como reação exergônia ou exotérmica. Um exemplo desse processo é a liberação da energia contida na molécula da glicose no processo de combustão, onde é produzida energia excedente ao sistema. A liberação da energia presente em moléculas orgânicas, como a glicose, por exemplo, acontece por meio da oxidação aeróbica. Nesse processo de degradação se formam água e gás carbônico, liberando energia para as atividades celulares. Durante esse processo ocorrem transferências de elétrons entre as substâncias participantes, através de reações de oxirredução. Assim, enquanto uma substância ganha elétrons durante a reação (redução), outra substância perde elétrons (oxidação) durante a mesma reação. Essa geração de energia permite a existência e o funcionamento de nosso organismo. Mas se nossas reações produzem e consomem energia, como organizar essa equação para que não haja falta ou como permitir que nosso organismo aproveite ao máximo a energia presente disponível? Toda reação química exige um gasto de energia para iniciar, isto é o que chamamos de energia de ativação. A estratégia desenvolvida por nosso organismo para minimizar a perda de energia e diminuir a quantidade necessária para ativar os reagentes em uma reação química é a utilização de enzimas. Se não fosse pelas enzimas, nosso organismo necessitaria dispor de grande quantidade de energia e de realizar um aquecimento geral do organismo para promover as reações, entretanto, isso não seria possível, uma vez que as proteínas desnaturam em altas temperaturas e inviabilizariam a vida. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 4.1 Metabolismo aeróbio, anaeróbio alático e lático Os seres vivos, para manterem suas atividades vitais, necessitam de energia. Essa energia é obtida das substâncias oxidáveis pelo organismo, no caso do ser humano, a energia vinda dos carboidratos, proteínas, lipídios e as reservas endógenas. A utilização da energia acontece graças ao metabolismo, um sistema de processos físico-químicos mantidos fora do equilíbrio e a manutenção desse estado, de não homeostase, é feita à custa de energia. Nesse processo, temos dois tipos de metabolismo celular: anaeróbio e aeróbio. Em que o anaeróbio ocorre na ausência de oxigênio e o aeróbio na presença dele. 4.1.1 Metabolismo Anaeróbico O metabolismo anaeróbico contribui para a produção de ATP em atividades de curta duração (aproximadamente até 90 segundos), a não utilização de oxigênio garante que seja rápida a síntese de ATP para a atividade. A produção de ATP é feita a partirda glicose ou glicogênio muscular, sendo 1 mol de glicose produz 2 moles de ATP. Há dois mecanismos de produção de energia no metabolismo anaeróbico: O mecanismo da fosfocreatina (alático) e o da glicogenólise (lático). 4.1.2 Mecanismo da fosfocreatina (alático) O sistema da creatina (ATP-CP) fosfato é utilizado pelo corpo para atividades intensas e de curta duração, como tiros de corrida, musculação e arremesso de peso, já que fornece cerca de 10 segundos de duração da energia. Durante os primeiros 2-3 segundos é utilizado a adenosina trifosfato armazenada no músculo, após isso é utilizado a creatina fosfato para reesíntese de ATP, o que ocorre até a creatina fosfato acabar. Ainda sendo necessária a produção de energia, o metabolismo anaeróbico lático ou anaeróbico passa a gerar ATP para o exercício. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 4.1.3 Mecanismo da glicogenólise (lático) Na glicogenólise, o ATP é formado a partir do glicogênio muscular e além do ATP, produz ácido lático. O sistema consiste na degradação de glicogênio para a união de 2 moléculas de ácido fósforico a 2 moléculas de ADP, num processo de fosforilação que forma novas moléculas de ATP. Como produtos da reação, além de ATP temos água e ácido lático (a presença de ácido lático no músculo provoca a sensação de dor e queimação durante a realização de atividade física). Esse mecanismo é utilizado em atividades de alta intensidade e duração moderada. 4.1.4 Metabolismo Aeróbico No metabolismo aeróbico, a produção de ATP é feita na presença de oxigênio. Os nutrientes (carboidratos, gorduras e proteínas) são convertidos em ATP e fornecem energia para atividades de baixa intensidade e alta duração, como maratonas e provas de ciclismo. O transporte sanguíneo de oxigênio torna o metabolismo aeróbico mais lento em relação ao metabolismo anaeróbico. Dessa forma, é possível observar que o organismo utiliza determinado metabolismo para a produção de ATP que será gasto na atividade física de acordo com sua intensidade e duração. 5 Tópico IV: Bases Metabólicas Dos Macronutrientes Os carboidratos são compostos que, em geral, apresentam a fórmulas empírica (CH2O) n e cujos representantes mais simples são chamados açúcares, como, por exemplo, a glicose. O tipo mais simples de carboidrato é constituído pelos monossacarídeos, chamados aldoses ou cetoses, segundo o grupo funcional que apresentam: aldeído ou cetona. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA A glicose é o principal carboidrato na Terra, entrando na constituição monomérica de celulose e amido. É também o único combustível utilizado por todas as células do nosso corpo. A glicose é, quantitativamente, o principal substrato oxidável para a maioria dos organismos, quase todas as células são potencialmente capazes de atender suas demandas energéticas apenas a partir deste açúcar. Apesar de a dieta humana conter pouca glicose livre, esta aparece em proporções consideráveis como amido, sacarose e lactose. A glicólise se caracteriza como uma via metabólica utilizada por todas as células do corpo, para extrair parte da energia contida na molécula da glicose, e gerar duas moléculas de lactato. A glicólise se constitui na etapa inicial no processo da oxidação completa de carboidratos envolvendo oxigênio molecular. Trata-se de uma rota central quase universal do catabolismo da glicose, a rota com o maior fluxo de carbono na maioria das células. A quebra glicolítica de glicose é a única fonte de energia metabólica em alguns tecidos de mamíferos e tipos celulares (hemácias, medula renal, cérebro e esperma, por exemplo). As proteínas e os demais componentes do corpo estão em constante degradação e síntese. A manutenção da concentração de proteína é feita pela sua síntese na mesma proporção em que é degrada. Bem, diferentemente dos carboidratos e lipídios, os aminoácidos em excesso não podem ser armazenados no organismo, sendo oxidados e excretados (ureia). Vale ressaltar que, em um homem saudável, 400 gramas de proteínas são renovadas, sendo que 100 gramas foram “perdidos” pela excreção, podendo ser supridos através da alimentação. Assim, a degradação de proteínas da dieta e endógenas produz um conjunto de aminoácidos, que são precursores das proteínas endógenas e de compostos nitrogenados não- proteicos. Os aminoácidos em excesso são degradados, restando apenas suas cadeias carbônicas, que são convertidas em compostos comuns ao metabolismo de lipídeos e carboidratos, e remoção do grupo amino em forma de ureia. 5.1 Transaminação O grupo amino é tirado pela sua transferência para o alfa - cetoglutarato, formando glutamato e a cadeia carbônica é convertida à alfa- cetoácido. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA AMINOACIDO + alfa-CETOGLUTARATO = Alfa-CETOÁCIDO + GLUTAMATO A enzima responsável é a aminotransferase ou transaminase e se encontra na mitocôndria e no citossol, sendo que nos tecidos tem como aceptor do grupo amino o alfacetoglutarato, que forma o glutamato. Mas possui afinidade, também, com o oxaloacetato, que é formado através do ciclo de Krebs, e forma o aspartato. Essas enzimas aceitam como doadores do grupo amino vários aminoácidos. O nome da aminotransferase vem do aminoácido que com que tem maior afinidade e o melhor exemplo é o da alanina aminotransferase (TGP). ALANINA + alfa-CETOGLUTARATO = PIRUVATO + GLUTAMATO Podemos concluir, então que o glutamato é um produto em comum às reações de Transaminação, tendo um reservatório temporário de grupo amino, vindo de vários aminoácidos. Depois dessa 1ª etapa, o resíduo de nitrogênio será levado ao fígado para reutilização ou excreção, sendo que os grupos amino são usados de forma econômica nos sistemas, pois só alguns microrganismos conseguem transformar N2 em formas úteis biologicamente. Com isso, pode haver liberação de amônia, que é extremamente tóxica para os tecidos. Tem 2 formas para remover o grupo amino, sendo essas: 5.2 Desaminação Só no fígado o grupo amino será convertido em amônia, restaurando o transportador. Ah, isso acontece na mitocôndria, pois lá não vai provocar grandes danos ao organismo. Daí uma parte dessa amônia é reciclada e utilizada em vários processos, porem o fígado faz transformação para haver uma forma correta de excreção. 5.3 Transaminação FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Acontece nos tecidos para doar os grupos amino dos aminoácidos para outros que funcionarão como carreadores. O aminoácido formado é o glutamato. Porém, há 9 aminoácidos (asparagina, glutamina, glicina, lisina, histidina, metionina, prolina, serina e treonina) que não tem suas vias degradativas iniciadas pela transaminação com o alfa- cetoglutarato, tendo seu grupo amino removido por reações especificas. Mas possuem em comum a forma de remoção desse grupo que no decorrer das vias degradativas, o grupo amino pode ser liberado como glutamato por transaminação de um intermediário com alfa-cetoglutarato ou como NH4+, através de reações por desaminação. Assim, na degradação dos aminoácidos, o grupo amino é transformado em aspartato e NH4+- precursores a ureia. A ureia é o principal produto excretado do metabolismo de mamíferos da terra, sendo que um humano tem 30 gramas excretadas por dia. Mas a formação da ureia acontece a partir da amônia da desaminação, através da conversão de ornitina em arginina, que corresponde ao CICLO DA URÉIA. Esse ciclo começa dentro das mitocôndrias dos hepatócitos, sendo que três passos acontecem no citossol. Dois grupos amino são inseridos no ciclo, sendo o primeiro proveniente da amônia que é empregada na síntese de carbamil fosfato e HCO3- darespiração da mitocôndria, e o segundo é proveniente do aspartato que veio da mitocôndria por transaminação e foi para o citossol. O grupo carbamil tem grande potencial de transferência e é útil na transferência do g. amino pra onitina, dando início ao ciclo. O gasto final é alto, pois é preciso de 4 fosfatos com grande energia e há produção de apenas 1 molécula de ureia. Nos 60 a 150g de lipídios ingeridos diariamente, cerca de 90% são constituídos de triacilgliceróis 10% dos lipídeos da dieta correspondem ao colesterol, ésteres de colesterol, fosfolipídios e ácidos graxos livres. Desde que os triacilgliceróis são insolúveis em água e as enzimas digestivas são hidrossolúveis, a digestão ocorre na interface lipídeo-água. A área de superfície da interface é aumentada pelos movimentos peristálticos do intestino, combinados à ação emulsificante dos ácidos biliares (ou sais biliares). Os sais biliares são moléculas anfipáticas que atuam na solubilização dos glóbulos de gordura – são derivados do colesterol, conjugados de glicina ou taurina. O processo de emulsificação dos lipídios ocorre no duodeno. A colecistoquinina, um hormônio peptídico, é produzido em resposta à presença de lipídeos, atuando sobre a vesícula biliar e FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA estimulando a secreção da bile, e atuando ainda sobre as células exócrinas do pâncreas, estimulando a secreção de enzimas. A secretina, outro hormônio peptídico, tem a função de auxiliar na neutralização do pH do conteúdo intestinal, por estimular o pâncreas a secretar uma solução rica em bicarbonato. Sendo assim, os lipídeos são degradados por enzimas pancreáticas que estão sob controle hormonal. As lipases agem na interface lipídeo-água por ativação interfacial; A lipase pancreática catalisa a hidrólise de triacilgliceróis nas posições 1 e 3, formando 1,2-diacilgliceróis e 2-acilgliceróis, juntamente com sais de ácidos graxos de. Na+ e K+. A ligação à interface lipídeo-água requer a colipase pancreática, que é uma enzima que forma um complexo com a lipase. Absorção de lipídeos por células da mucosa intestinal; Ácidos graxos livres, colesterol livre e 2-acilgliceróis formam micelas mistas com os sais biliares que se aproximam do sítio de absorção lipídica, onde atravessam a camada de água e é absorvido. Dentro das células intestinais, os ácidos graxos formam complexos com a proteína intestinal ligadora de ácidos graxos, que aumenta a solubilidade efetiva dos lipídeos e protege a célula dos efeitos detergentes dessas substâncias. 5.4 Transporte de lipídeos Os ácidos graxos são convertidos em triacilglicerol novamente, e organizados em partículas poliprotéicas chamadas quilomicrons, que são liberadas nos vasos linfáticos, por onde serão transportados até os vasos maiores, alcançando outros tecidos. Os triacilgliceróis dos quilomícrons podem ser incorporados aos adipócitos ou serem degradados a ácidos graxos livres e glicerol. A maioria das células pode oxidar ácidos graxos para produzir energia. 5.5 A reserva lipídica Os triacilgliceróis depositados em adipócitos representam a principal reserva do organismo. São depósitos concentrados de energia metabólica, pois, são altamente reduzidos e anidros. O produto da oxidação completa dos ácidos graxos até CO2 e H2O é 9 kcal/g de gordura, comparado a 4 kcal/g de carboidratos. 5.6 Mobilização de lipídeos FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Quando há necessidade de energia a partir dos ácidos graxos, a mobilização da gordura inicia-se pela hidrólise de triacilglicerol dos adipócitos, formando ácidos graxos e glicerol. Primeiro a lipase sensível a hormônio promove a remoção do ácido graxo da posição 1 ou 3. Lipases adicionais removem ácidos graxos do mono- ou diacilglicerol, formando glicerol e ácidos graxos livres. Os ácidos graxos livres movem- se através da membrana celular do adipócito e ligam-se à albumina no plasma, que os transportam aos tecidos, onde os ácidos graxos se difundem para as células e são oxidados para obtenção de energia. O cérebro e outros tecidos nervosos, eritrócitos e medula adrenal não utilizam ácidos graxos plasmáticos para obter energia. O glicerol é transportado até o fígado, onde é fosforilado e utilizado novamente. 5.7 Oxidação de ácidos graxos Após ter sido capturado pela célula, o ácido graxo é convertido no derivado coa pela Ácil CoA graxa sintetase (tioquinase) no citosol, formando a Ácil CoA graxa; há a necessidade de ATP. Uma vez que a b-oxidação ocorre na matriz mitocondrial, o ácido graxo deve ser transportado através da MMI por um transportador específico denominado carnitina. O processo de transporte é denominado lançadeira da carnitina. Um grupo Ácil é transferido da coenzima A citosólica à carnitina pela carnitina aciltransferase I, formando acilcarnitina, tal enzima está localizada na superfície externa da MMI. O grupo acilcarnitina é transportado através da membrana à matriz, onde é transferido a outra molécula de coenzima A pela carnitina aciltransferase II, na superfície interna da MMI. O ácido graxo (Ácil CoA graxa) deve ser transportado através da MMI por um transportador específico denominado carnitina - o processo de transporte é denominado lançadeira da carnitina. A b-xidação compreende o catabolismo de ácidos graxos saturados, na qual fragmentos de dois carbonos são sucessivamente removidos da extremidade carboxila da Ácil CoA graxa, produzindo acetil. CoA. Portanto, a b-oxidação consiste em uma sequência de 4 reações que resultam no encurtamento da cadeia de ácidos graxos em cada 2 carbonos, as etapas incluem uma oxidação que produz FADH2, uma hidratação, uma segunda oxidação que produz NADH e uma clivagem tiolítica que libera uma molécula de acetil. CoA, a última reação é irreversível. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 5.8 As enzimas da b-oxidação Ácil-CoA desidrogenase, Enoil-CoA hidratase, b-hidroxiacil-CoA desidrogenase, Ácil-CoA aciltransferase (tiolase). Produção de energia pela oxidação de ácidos graxos: A oxidação de uma molécula de palmitoil. CoA (16C) até CO2 e H2O gera: 8 acetil. CoA (cada qual fornece 12 ATP pelo ciclo de Krebs) 96 ATP 7 NADH (cada qual fornece 3 ATP) 21 ATP 7 FADH2 (cada qual fornece 2 ATP) 14 ATP. Saldo final de ATP: 131 ATP, considerando que duas ligações de alta energia são quebradas devido a reação da tioquinase, a energia total é de 129 ATP. Oxidação dos ácidos graxos com número ímpar de carbonos, A b-oxidação de um ácido graxo saturado com número ímpar de átomos de C segue as mesmas etapas de reações que os ácidos graxos com número par de átomos de C, até os três carbonos finais (propionil. CoA). O propionil. CoA é metabolizado por uma rota de duas etapas: O propionil. CoA é carboxilado, formando metilmalonil. CoA. A enzima responsável – a propionil. CoA carboxilase é dependente de biotina, como todas as carboxilases. Os carbonos da metilmalonil. CoA são rearranjados, formando succinil. CoA, a qual entra no ciclo de Krebs. A enzima responsável é a metilmalonil. CoA mutase, que requer vitamina B12 (adenosilcobalamina). Oxidação de ácidos graxos insaturados, a oxidação de ácidos graxos insaturados fornece menos energia que a oxidação dos ácidos graxos saturados. Os insaturados são menos reduzidos, e, portanto, menos equivalentes redutores podem ser produzidos. Corpos cetônicos, combustível alternativo para as células. Mitocôndrias hepáticas podem desviar excesso de acetil. CoA para a formação de corpos cetônicos. Os corpos cetônicos: acetoacetato, 3-hidroxibutirato e acetona, eles são transportados pelo sangue aos tecidos periféricos, onde podem ser convertidos novamente a acetil. CoA (com exceção da acetona que é eliminada); são importantes fontes de energia para o tecido periférico;são solúveis em solução aquosa. 5.9 Degradação do colesterol FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA A estrutura do colesterol não pode ser metabolizada a CO2 e H2O, o anel esterol intacto pode ser eliminado: pela conversão em ácidos biliares, os quais podem ser reabsorvidos e reutilizados, ou podem ser excretados pela secreção do colesterol na bile, a qual transporta-o ao intestino para eliminação – parte do colesterol é modificada por bactérias intestinais antes da excreção. O colesterol da dieta pode ser absorvido no intestino, fazendo parte dos quilomícrons. 5.10 Síntese de colesterol Todos os átomos de carbono são fornecidos pelo acetato, o NADPH fornece os equivalentes redutores, ocorre no citoplasma com enzimas do citoplasma e do retículo endoplasmático, a rota é dirigida pela hidrólise da ligação tioéster de alta energia do acetil. CoA e a ligação fosfato terminal do ATP. 5.11 Biossíntese de ácidos graxos Grande parte dos ácidos graxos utilizados pelo corpo é suprida pela dieta, quantidades excessivas de carboidratos e proteínas obtidas pela dieta podem ser convertidas em ácidos graxos, e armazenados como triacilgliceróis. A síntese de ácidos graxos ocorre principalmente no fígado e glândulas mamárias, e em menor grau, no tecido adiposo e no rim, o processo incorpora os carbonos da acetil. CoA na cadeia de ácido graxo em formação, utilizando ATP e NADPH. A porção acetil da acetil. CoA é transportada ao citosol como citrato, produzido pela condensação do oxaloacetato e acetil. CoA, primeira reação do ciclo do ácido cítrico, isso ocorre quando a concentração de citrato mitocondrial está elevada, observada quando há alta concentração de ATP e a isocitrato desidrogenase é inibida. O aumento de citrato e ATP favorece a síntese de ácidos graxos, desde que esta via necessita de ambos. O acetil. CoA deve ser convertido a malonil. CoA. A carboxilação é catalisada pela acetil. CoA carboxilase e requer ATP, esta reação é a etapa regulada na síntese de ácidos graxos: ela é inativada pelos produtos, malonil. CoA e palmitoil. CoA, e ativada pelo citrato, outro mecanismo de regulação é a fosforilação reversível da enzima, que a torna inativa, devido a presença de adrenalina/glucago. Mecanismo análogo ocorre com a glicogênio sintase, na FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA presença de glucagon, a enzima é fosforilada e inativa, na presença de insulina, a enzima é desfosforilada e ativa. 5.12 A síntese dos ácidos graxos: um complexo multienzimático Em eucariotos, a sintase dos ácidos graxos consiste de um dímero, sendo que cada monômero possui cada um, sete atividades enzimáticas diferentes, e um domínio que se liga à fosfopanteteína, um derivado do ácido pantotênico, denominada ACP (acyl carrier protein). Em procariotos, este último domínio é uma proteína separada, também denominada proteína transportadora de grupos Ácil (ACP). 5.13 Passos da sintase dos ácidos graxos Uma molécula de acetato é transferida do acetil. CoA ao grupo SH da cisteína da proteína ACP, pela enzima acetil transacilase - Acetil CoA + ACP-SH? Acetil- S-ACP+Co O ACP liga, a partir do grupo panteteína, uma unidade de malonato (3 carbonos) do malonil. CoA na presença da enzima malonil transacilase - Malonil CoA + ACP-Pan- SH? Malonil-S-ACP + CoA. O grupo acetil ataca o grupo malonil, que perde CO2 (adicionado pela acetil. CoA carboxilase) na presença da b-cetoacil sintase -- Malonil-S-ACP + acetil- S-ACP? Acetoacetil-S-ACP + CO2 O grupo cetona é convertido em um álcool pela b-cetoacil -- redutase na presença de NADPH acetoacetil-S-ACP + NADPH + H+? B-hidroxibutiril-ACP + NADP+. Uma molécula de água é removida para introduzir uma ligação dupla pela enzima b- hidroxiacil desidratase b-hidroxibutiril-ACP? Crotonil-S-ACP + H2O Numa segunda etapa da reação, pela enoil redutase, crotonil-S-ACP + NADPH + H+? Butiril-S-ACP + NADP O resultado destas 7 etapas é a produção de um composto de quatro carbonos terminais cujos três carbonos terminais são completamente saturados, permanecendo ligados ao ACP. As 7 etapas são repetidas, iniciando pela transferência da cadeia de quatro carbonos do ACP à cadeia lateral de cisteína, a FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA ligação de outra molécula de malonato ao ACP, e a condensação das duas moléculas, com a liberação de CO2, com a redução do carbono beta. Este ciclo é repetido 7 vezes, a cada vez incorporando uma unidade de dois carbonos do malonil. CoA, na cadeia de ácido graxo em formação, o processo é encerrado quando o ácido graxo atinge um comprimento de 16C, produzindo uma molécula saturada de palmitato, pela ação da tioesterase. Palmitoil-S-ACP + H2O -- palmitato + ACP-SH. A Ácil-enzima (com 4 carbonos) (porção inferior da figura) volta à via (à direita da figura), ligando-se a cadeia lateral da cisteína, que posteriormente irá se ligar a nova molécula de malonato (em amarelo). A cada volta, a molécula ganha dois carbonos do malonato, até a formação do palmitato, liberando a enzima livre, são necessárias 7 moléculas de malonato e 1 de acetil- CoA. A reação global:8 acetil. CoA + 14 NADPH + 14 H+ + 7 ATP > Ácido palmítico + 14 NADP+ + 7 ADP + 7 Pi + 7 H2O. Todos os carbonos vieram do malonil. CoA com exceção dos 2 carbonos doados pelo acetil. CoA no início da síntese. Síntese de triacilglicerol: Uma vez formado, o ácido graxo terá de ser conglomerado em triacilglicerol que constitui a forma de armazenamento de lipídeos nos adipócitos. A formação do triacilglicerol ocorrerá em 3 etapas: 1) formação do glicerol-3-fosfato, 2) oscilação dos dois grupos oxidrila livres do glicerol-3-fosfato e 3) adição do terceiro grupo acima com formação do triacilglicerol. Passo 1: neste passo é necessária a formação da “matriz” de encaixe dos ácidos graxos para a formação da triglicéride. Isso pode ser feito de duas formas: 1) Através da fosforilação de uma molécula de glicerol utilizando ATP e sob influência da enzima glicerol quinase e 2) através da glicose que no processo de glicólise produzirá diidroxiacetona fosfato que sofrerá redução com a contribuição do NADH e da enzima glicerol-3-fosfato desidrogenase formando glicerol – 3 – fosfato. Passo 2: nesse caso dois grupos acima serão adicionados no lugar de dois grupamentos oxidrila do glicerol-3-fosfato. Isso é feito em duas etapas com a liberação de Coenzima A e com a participação da enzima Ácil transferase. O resultado final será o Ácido fosfatídico. Passo 3: o ácido fosfatídico que origina um diacilglicerol terá seu grupo fosfato substituído por outro Ácil transformando-se em triacilglicerol. Isso FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA ocorre com a participação das enzimas ácido fosfatídico fosfatase e Ácil transferase. Regulação da síntese de triacilglicerol: a síntese é estimulada pela insulina. Regulação da síntese de ácidos graxos: A síntese de ácidos graxos tem dentre outras funções o armazenamento de gorduras para utilização posterior. Portanto, fica claro que a insulina que é um hormônio que induz armazenamento seja estimuladora da síntese de malonil-CoA e consequentemente de ácidos graxos. Os hormônios glucagon e epinefrina são liberados quando se faz necessário a disponibilidade de energia para as células, portanto é lógico pensar que estes hormônios inibiram a síntese de ácidos graxos. O excesso de ácidos graxos formado fará um feedback negativo na transformação de acetil-CoA em malonil-CoA modulando dessa forma a produção de ácidos graxos. E o citrato (precursor do Acetil CoA) em excesso fará um feedback positivo estimulando a formação de malonil-CoA a partir de Acetil-CoA e, dessa forma, impedirá o acumulo de citrato. Sistema detransporte do Triacilglicerol recém-formado no fígado para as células adiposas: o triacilglicerol é lipossolúvel, o que constituiria um grande obstáculo no transporte pelo sangue deste composto. No entanto, o transporte se torna viável pois proteínas são agregadas ao triacilglicerol permitindo que o mesmo consiga fluir no sangue na forma de lipoproteína. Quando esta lipoproteína chega até a célula adiposa surge um novo obstáculo que é a entrada do triacilglicerol no interior desta célula. Para isso, existe uma enzima denominada lipoproteína lípase que realizará a quebra da lipoproteína em ácidos graxos que são lipossolúveis e conseguem difundir pela membrana celular. No interior da célula esses ácidos graxos realizarão novo processo de síntese de triacilglicerol e serão armazenados. Vale ressaltar que a lipoproteína lípase é ativada pela insulina. Oxidação dos ácidos graxos Quando se faz necessário a disponibilidade de energia pelas células ocorre a utilização do triacilglicerol. Para isso esse triacilglicerol será quebrado em ácidos graxos pela lípase hormônio sensível e esses ácidos graxos poderão então ser utilizados em processos oxidativo que forneceram elétrons para ganho de energia. A oxidação deverá ocorrer na matriz mitocondrial, portanto, é necessário que o ácido graxo seja levado para este local. Transporte do ácido graxo para a matriz mitocondrial FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA A molécula de ácido graxo em si não consegue passar a membrana mitocondrial, portanto é necessário que este ácido graxo seja convertido a Ácil-CoA que se ligará a carnitina formando o complexo Ácil – carnitina graxo. Na formação deste complexo ocorre a liberação de uma coenzima A. O Ácil – carnitina graxo então passa a membrana e entra na matriz mitocondrial. Na matriz a carnitina será substituída pela coenzima A e teremos novamente um Ácil-CoA que poderá então ser oxidado. Beta oxidação dos ácidos graxos (clico de Lynen): este ciclo inicia com a oxidação do palmitoil-CoA por um FADH2 gerando um transfenoil – CoA. Este, por sua vez, será hidratado dando origem a um hidroxiacil – CoA. Este será oxidado pelo NAD+ em cetoacil- CoA. O cetoacil-CoA será clivado em acetil-CoA e em Ácil- CoA. O Ácil- Coa reiniciará o ciclo e o acetil. CoA será direcionado ao ciclo do ácido cítrico para a produção de NADH e FADH2 a serem utilizados na fosforilação oxidativa para a produção energética. Vale ainda ressaltar que cada 2 carbonos do ácido graxo são transformados em um Acetil-CoA. 6 Bases Metabólicas Dos Micronutrientes 6.1 Biodisponibilidade e metabolismo de minerais e vitaminas As vitaminas e minerais são nutrientes essenciais que exercem importantes funções no metabolismo. Necessários em pequenas quantidades, podem ser obtidos naturalmente através do consumo de alimentos. Entretanto, para escolher os alimentos adequados deve-se ter a preocupação com a combinação entre eles, suas interações, já que existem substâncias que podem prejudicar ou favorecer o aproveitamento de nutrientes quando consumidos em conjunto. É a famosa biodisponibilidade. Biodisponibilidade é a proporção do alimento ingerido efetivamente absorvida, após seu transporte ao local de atuação e convertida a forma mais ativa. Na prática, há competição entre os nutrientes como consequência do desequilíbrio da dieta, uma vez que o excesso de um prejudica a absorção de outro. Vários fatores influenciam a biodisponibilidade dos nutrientes: fisiológicos, metabólicos, genéticos, idade, flora intestinal, quelante naturais, solubilidade, fibras. A eficiência de absorção depende de todos esses fatores. Uma combinação FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA adequada de alimentos é fundamental, é sempre bom lembrar que nem tudo que comemos conseguimos absorver. Fonte:www.brazcubas.br A nutrição é essencial na manutenção da saúde. A fisiologia da nutrição aborda o equilíbrio alimentar e o valor energético dos alimentos, bem como a importância nutricional de cada nutriente. A fisiologia da nutrição estuda o sistema digestivo, a digestão e absorção de nutrientes e o controle endócrino e neural. 7 Fisiologia do Sistema Digestivo O Aparelho digestivo ou sistema digestório, como recomenda a nova nomenclatura, é composto de uma série de órgãos tubulares interligados formando um único tubo que se estende desde a boca até o ânus. Recobrindo este tubo há um tipo de “pele” chamado de mucosa. Na cavidade oral (boca), estômago e intestino delgado a mucosa contém pequenas glândulas que produzem líquidos específicos utilizados na digestão dos alimentos. Há dois órgãos digestivos sólidos, o fígado e o pâncreas, que também produzem líquidos utilizados na digestão, estes líquidos chegam ao intestino delgado através de pequenos tubos. Outros sistemas apresentam um importante papel no funcionamento do aparelho digestivo como o sistema nervoso e sistema circulatório (sanguíneo). Porque a Digestão é Importante? Os alimentos como são ingeridos não estão no formato que o corpo pode aproveitá-los. Devem ser transformados em pequenas moléculas de nutrientes antes de serem absorvidos no sangue e levados às células para sua nutrição e reprodução. Este processo chama-se de digestão. Como o Alimento é Digerido? A digestão ocorre através da mistura dos alimentos, movimento destes através do tubo digestivo e decomposição química de grandes moléculas de alimento para pequenas moléculas. Inicia-se na http://www.brazcubas.br/ FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA cavidade oral através da mastigação e se completa no intestino delgado. O processo químico se diferencia para cada tipo de alimento. O Trânsito dos Alimentos Através do Tubo Digestivo. Os órgãos digestivos tubulares contêm músculos que possibilitam dar movimento às suas paredes. Este movimento (peristalse) pode impulsionar e misturar os alimentos com os sucos digestivos. O movimento peristáltico é como uma onda do mar, promovendo uma área estreitada que empurra o alimento para baixo até o final do órgão. O primeiro movimento é o da deglutição. Apesar de podermos controlar quando engolimos algo, a partir deste momento há uma reação em cadeia de movimentos involuntários controlados pelo sistema nervoso. O esôfago é o órgão ao qual os alimentos são impulsionados após a deglutição. Ele comunica a cavidade oral ao estômago. Sua única função é transportar o alimento ao estômago. Ao nível da junção do esôfago com o estômago, há uma estrutura valvular que permanece fechada entre os dois órgãos. Com a aproximação do alimento esta válvula se abre permitindo a passagem do alimento ao estômago. O alimento então entra no estômago, que tem três funções mecânicas básicas. A primeira como reservatório do alimento, função realizada pela parte superior do estômago que relaxa sua musculatura e aumenta sua capacidade. A segunda função é realizada pela parte inferior do estômago misturando os alimentos com o suco digestivo produzido pelo estômago. E finalmente a terceira é a de liberar os alimentos (esvaziamento gástrico), já parcialmente digeridos para o intestino delgado. Este processo ocorre lentamente. Vários fatores afetam o esvaziamento gástrico como o tipo de alimento, ação da musculatura do estômago e a capacidade do intestino delgado de receber mais alimentos parcialmente digeridos. Quando o bolo alimentar chega ao intestino delgado ele sofre a ação do suco digestivo produzido pelo pâncreas, fígado e intestino e é impulsionado para frente para dar espaço a mais alimento vindo do estômago. Ao final todos os nutrientes digeridos são absorvidos através da parede do intestino delgado. A parte não digerida que são as fibras e restos celulares da mucosa do intestino.Este material é levado ao intestino grosso (cólon) mantendo-se lá por um dia ou dois até as fezes serem expelidas pelo movimento do intestino grosso até a evacuação. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Produção de Sucos Digestivos: As glândulas do sistema digestivo são essenciais no processo da digestão. Elas produzem tanto os sucos que degradam os alimentos como também os hormônios que controlam todo o processo. As primeiras glândulas são as que estão na cavidade oral (glândulas salivares). A saliva produzida por essas glândulas, contém uma enzima que inicia o processo da digestão, agindo sobre o amido presente nos alimentos degradando-o a moléculas menores. O próximo grupo de glândulas encontram- se na mucosa do estômago. Produzem o ácido e enzimas que digerem as proteínas. O ácido produzido no estômago é capaz de digerir todos os alimentos que chegam ao estômago, porém não afeta o próprio estômago devido a mecanismos especiais de proteção que este órgão tem. Após o esvaziamento gástrico, o alimento já parcialmente digerido com o suco gástrico vai para o intestino delgado encontrar mais dois sucos digestivos para continuar o processo da digestão. Um deles é produzido pelo pâncreas que contêm enzimas capaz de digerir carboidratos, gordura e proteínas. Outra parte é produzida pelas glândulas do próprio intestino. O fígado produz ainda outro suco digestivo: a bile. A bile é armazenada na vesícula biliar e durante as refeições está ” se espreme” liberando-a através de ductos para o intestino. Ao atingir o alimento a bile tem como principal função desmanchar as gorduras para serem digeridas pelas enzimas produzidas pelo pâncreas e intestino. Absorção e Transporte dos Nutrientes, as moléculas digeridas dos alimentos, como também a água e sais minerai, são absorvidos na porção inicial do intestino delgado. O material absorvido atravessa a mucosa e atinge o sistema sanguíneo e é levado a outras partes do corpo para ser armazenado ou sofrerem outras modificações químicas. Este processo varia de acordo com o tipo de nutriente. Carboidratos: A grande maioria dos alimentos contém carboidratos. Bons exemplos são o pão, batatas, massas, doces, arroz, frutas e vegetais. Muito destes alimentos contém amido, que pode ser digerido e também fibras que não são digeridas. Os carboidratos digeridos são decompostos em moléculas menores por enzimas encontradas na saliva, no suco pancreático e no intestino delgado. O amido é digerido em duas etapas: Sofrendo a ação da saliva e do suco pancreático, o amido é transformado em moléculas chamadas de maltose; em seguida, uma FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA enzima encontrada no intestino delgado chamada maltase, degrada a maltose em moléculas de glicose. A glicose pode ser absorvida para a corrente sanguínea através da mucosa do intestino. Uma vez na corrente sanguínea, a glicose vai para o fígado onde é armazenada ou utilizada para promover energia para o funcionamento do corpo. O açúcar comum também é um carboidrato que precisa ser digerido para ser utilizado. Uma enzima encontrada no intestino delgado degrada o açúcar em glicose e frutose, ambos absorvidos pelo intestino. O leite contém outro açúcar chamado lactose. A lactose sofre a ação da lactase no intestino delgado transformando-se em moléculas absorvíveis. Proteínas: Alimentos como carne, ovos, e grãos contém grandes moléculas de proteínas que precisam ser digeridas antes de serem utilizadas para reparar e construir os tecidos orgânicos. No estômago há uma enzima que inicia a degradação das proteínas. A digestão é finalizada no intestino delgado pelo suco pancreático e intestino propriamente dito. O produto final das proteínas é absorvido pelo intestino delgado e encaminhado ao organismo pela corrente sanguínea. É utilizado para a construção das paredes e diversos componentes das células. Gorduras: Moléculas de gordura são uma grande fonte de energia para o corpo. Como se sabe a gordura não se mistura com a água, portanto o primeiro passo para a digestão de gorduras é transformação da mesma em produtos que possam ser misturados com a água (hidrossolúveis). Os ácidos biliares produzidos pelo fígado atuam diretamente sobre as gorduras como detergentes permitindo a ação das enzimas sobre as gorduras transformando-as em moléculas menores de ácidos graxos e colesterol. Os ácidos biliares combinados com os ácidos graxos e colesterol permitem a passagem das moléculas pequenas através das células do intestino. As moléculas pequenas depois transformam-se novamente em moléculas maiores e são transportadas através de vasos linfáticos do abdômen até o tórax onde então são despejadas na circulação sanguínea para serem armazenadas nas diferentes partes do corpo. Vitaminas: Outra parte vital dos nossos alimentos que é absorvida pelo intestino delgado são as vitaminas. Existem dois tipos de vitaminas: as que são dissolvidas pela água ou hidrossolúveis (todo o complexo B e vitamina C) e as que são dissolvidas pela gordura ou lipossolúveis (A, D, E e K) FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Como o Processo Digestivo é Controlado? Hormônios reguladores no estômago a liberação de ácido clorídrico é feita através do estímulo da célula (parietal) produtora de ácido que está presente apenas na porção do corpo e fundo gástrico. Este estímulo é feito através da gastrina, histamina e acetil-colina. Um dos aspectos fascinantes do sistema digestivo é a de autorregulação. A grande maioria dos hormônios que controlam as funções do sistema digestivo são produzidas e liberadas pelas células da mucosa do estômago e intestino delgado. Estes hormônios são liberados na corrente sanguínea vão até o coração e retornam ao sistema digestivo onde estimulam a liberação de dos sucos digestivos e os movimentos dos órgãos. Os principais hormônios que controlam a digestão são a gastrina, a secretina e a colecistoquinina (CCK). Gastrina: estimula a produção de ácido do estômago para dissolver e digerir alguns alimentos. É também fundamental para o crescimento da mucosa gástrica e intestinal. Secretina: estimula o pâncreas liberando o suco pancreático que é rico em bicarbonato. Estimula o estômago a produzir pepsina, uma enzima encarregada de digerir proteínas. Também estimula o fígado a produzir bile. CCK: estimula o crescimento celular do pâncreas e a produção de suco pancreático. Provoca o esvaziamento da vesícula biliar. Sistema nervoso: Dois tipos de nervos ajudam a controlar a digestão. Nervos extrínsicos (de fora) que chegam aos órgãos digestivos da parte não consciente do cérebro ou da medula espinhal. Eles liberam um produto chamado acetilcolina e outro chamado adrenalina. A acetilcolina faz com que os músculos dos órgãos digestivos se contraiam com maior intensidade, empurrando o bolo alimentar e sucos digestivos através do trato digestivo. A acetilcolina também estimula o estômago e pâncreas a produzirem mais suco digestivo. A adrenalina relaxa os músculos do estômago e intestino e diminui o fluxo sanguíneo nestes órgãos. Mais importante ainda são os nervos intrínsecos (de dentro). Em forma rede, cobrem a parede do esôfago, estômago, intestino delgado e cólon. São estimulados pela distensão da parede dos órgãos pelo alimento. Liberam inúmeras substâncias que aceleram ou retardam o movimento da comida ou da produção de sucos digestivos. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA 8 Regulação Da Fome E Saciedade O que estimula a ingestão de alimentos? O que é a fome? Como o organismo entende que é necessário comer? O que é a saciedade? Como o organismo interrompe a ingestão de alimentos? 8.1 A Fome Apesar do termo também conotaruma problemática social, trataremos a fome como sendo a sensação fisiológica que nos faz procurar e ingerir alimento para satisfazer as necessidades diárias de nutrientes. O ato de ingerir alimentos é causado por uma série de estímulos (ou sinais). Entre eles está a diminuição, no organismo, da quantidade de nutrientes como glicose, aminoácidos, gordura ou mesmo a diminuição da temperatura interna. Fica claro fazer a ligação: se uma pessoa come para obter nutrientes (e energia) para o organismo, então sua falta deve levá-la a procurar o que comer. Porém, surge uma dúvida: será que é preciso diminuir totalmente o estoque de nutrientes do organismo para que uma pessoa ou um animal sinta fome? A resposta é não. Na verdade, o organismo é capaz de detectar diminuições mínimas na concentração de nutrientes e, em consequência, gerar sinais que vão desencadear a ingestão de alimentos. Mas, será que só comemos quando temos fome? Não, a ingestão de alimentos também pode ser estimulada pela hora do dia, a visão e o cheiro dos alimentos, além de reuniões sociais (daí o ditado “Comer e coçar é só começar”). Todos nós temos experiência que fatores emocionais, facilitação social e condicionamento (uma forma de aprendizagem) afetam a ingestão de alimentos. Quando se come sem ter fome (e essa energia não é gasta), os nutrientes ingeridos além da necessidade serão estocados em forma de gordura, ou seja, engordamos. 8.2 Saciedade O processo inverso da fome, chamado saciedade, também é causado por vários estímulos. Um deles é a distensão da parede gástrica, causada pelo armazenamento do alimento ingerido no estômago. O tempo de permanência do FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA alimento no estômago depende principalmente da sua composição e não simplesmente da quantidade. Quanto mais gordura for contida no alimento, maior o tempo necessário para o esvaziamento gástrico. Quando o alimento passa do estômago para o intestino, um outro sinal de saciedade é produzido, dessa vez, químico: o intestino libera um hormônio (substância endócrina) para o sangue, chamado de colecistoquinina, em resposta à presença de proteínas e de gorduras no alimento que chega intestino. Os mecanismos que acabamos de descrever se aplicam ao controle da ingestão durante ou imediatamente após uma refeição. Mas existem outros mecanismos que explicam o controle da ingestão por períodos mais longos e que estão diretamente envolvidos na regulação do peso corpóreo. O que poderia indicar para o organismo que ele deve aumentar ou diminuir a quantidade de alimentos que normalmente ele come? Como a gordura é a forma de estoque de energia, um dos indicadores é a sua própria quantidade no corpo. De fato, o tecido gorduroso (ou adiposo) produz um hormônio endócrino chamado leptina que indica a quantidade de gordura corporal. A leptina vai para a circulação sanguínea, chega ao cérebro e inibe a ingestão de alimentos. Isso significa que uma quantidade alta de leptina diminui a ingestão e uma quantidade baixa, aumenta. Para onde vão os sinais gerados no organismo para controlar a fome e à saciedade? Os sinais de fome e saciedade vão para o hipotálamo, uma estrutura cerebral que analisa e gera as respostas apropriadas. O hipotálamo é um centro de processamento de informações que recebe os vários tipos de sinalizações como a concentração de nutrientes (entre eles, os níveis de glicose no sangue) ou o grau de distensão do estômago. Os níveis de hormônios como a colecistoquinina (produzida pelo intestino) e a leptina (produzida pelo tecido adiposo) também são analisados. Com essas informações o hipotálamo produz comandos para a procura e ingestão de alimento e, ainda, prepara o trato gastrointestinal para receber e processar o alimento. 9 Fisiopatologia Das Doenças Metabólicas A síndrome metabólica é um conjunto de doenças que, associadas, vão levar ao aumento do risco de problemas cardiovasculares. Estas doenças são a FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA obesidade principalmente àquela caracterizada com aumento de cintura abdominal, pressão alta, alterações de colesterol, triglicérides e glicemia. A síndrome metabólica tem como base a resistência à insulina, que é um processo que acontece devido ao ganho de peso, mas também pode começar com o diabetes tipo 2. A causa mais comum é o ganho de peso, que leva ao aumento da pressão arterial, ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 e às alterações de triglicérides e colesterol. 9.1 Fatores de risco Os fatores de risco principais são aqueles que levam ao ganho de peso, como alimentação com excesso de carboidratos simples e gorduras saturadas, além do sedentarismo. Além disso, o tabagismo pode aumentar o risco cardíaco e potencializar as consequências da síndrome metabólica ao coração. A história familiar de problemas cardíacos também é importante quando analisamos o impacto na síndrome metabólica no organismo. Os sintomas mais comuns da síndrome metabólica são consequência das doenças associadas, como: Ganho de peso: Cansaço, dores articulares por sobrecarga, síndrome da apneia obstrutiva do sono e roncos. Alterações menstruais nas mulheres, como ovários policísticos, e perda da libido em homens podem também ser sintomas pouco valorizados. Problemas de colesterol: Aumento Do Risco de infarto e derrame, tonturas. Hipertensão: dores de cabeça, mal-estar em geral, cansaço e tonturas ou zumbidos. Diabetes e alterações de glicemia: Boca Seca, perda de peso e muita sede nos casos mais agudos e nos casos de desenvolvimento mais lento da doença, mal- estar geral, tonturas e cansaço. Existem dois sinais no corpo que podem ajudar a identificar o desenvolvimento da resistência insulínica, são eles: Acrocórdons: corresponde a um crescimento da pele do pescoço, levando ao aparecimento de lesões que lembram pequenas verrugas escurecidas. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA Acantose nigricans: escurecimento da pele, chamado de hiperpigmentação, em regiões das dobras como parte interna dos cotovelos, axilas e pescoço. Nessas regiões a pele terá um aspecto mais aveludado. Os sintomas citados acima, associados com achados do exame físico como aumento da cintura abdominal devido ao acúmulo de gordura e aumento progressivo de peso, além da necessidade de usar medicamentos para o controle do colesterol, pressão ou diabetes, podem alertar para o desenvolvimento de síndrome metabólica. O diagnóstico de diabetes e pressão alta, ou pressão alta associada com ganho de peso, ou alguma outra combinação entre essas doenças indicam a necessidade de uma consulta com um clínico geral ou endocrinologista. O diagnóstico da síndrome metabólica é feito através do exame físico e dos exames de sangue, além de medidas de pressão arterial. Os exames importantes para o diagnóstico e tratamento da Síndrome Metabólica são: Dosagens de colesterol total e frações. Glicemia. Exames hormonais e de funcionamento do fígado e rins. Para fazer o diagnóstico, é preciso que o paciente tenha alguns critérios, preenchendo três dos cinco critérios abaixo: Obesidade central: circunferência da cintura maior que 88 cm na mulher e 102 cm no homem. Hipertensão Arterial: pressão arterial sistólica maior que 130 e/ou pressão arterial diastólica maior 85 mmHg. Glicemia de jejum alterada (glicemia maior que 110 mg/dl) ou diagnóstico de Diabetes Triglicérides maior 150 mg/dl HDL colesterol menor 40 mg/dl em homens e menor que 50 mg/dl em mulheres. O tratamento começa pela modificação de hábitos de vida. Uma dieta saudável pobre em carboidratos simples e gorduras saturadas, rica em fibras, carnes magras, frutas e vegetais é o primeiro passo para tratar e prevenir asíndrome metabólica. A realização de atividades físicas regulares cerca de 150 minutos por semana, também é essencial para manter o peso, controlar a pressão e o colesterol. Para tratar a diabetes, pressão alta e colesterol alto muitas vezes o uso de medicamentos será necessário. Mas para resolver de vez e eliminar a FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA síndrome metabólica, a perda de peso e a mudança de hábitos são fundamentais. Muitas vezes para tratar o peso, será necessário o uso de medicamentos ou a avaliação para cirurgia bariátrica, em alguns casos. Adotar hábitos de vida saudáveis, escolhas alimentares melhores e a prática de exercícios tem um resultado muito bom no controle e melhora da síndrome metabólica. Com a perda de peso, muitas vezes a pessoa controla a pressão alta, os níveis de colesterol e triglicérides e até o diabetes, podendo até ficar sem medicamentos. A principal preocupação da síndrome metabólica é o aumento do risco de problemas cardíacos e vasculares, como infarto, AVC e obstruções vasculares (entupimento de artérias). A melhor maneira de prevenir a síndrome metabólica é manter hábitos saudáveis, o que inclui praticar atividades físicas de forma regular e ter uma alimentação equilibrada, o que inclui frutas, verduras, legumes, proteínas, carboidratos complexos (como grão integrais) e gorduras boas (como o ômega 3 e 6), além de uma alimentação com pouco sal, gorduras saturadas e açúcar. 10 REFERÊNCIAS BRASILEIRO FILHO, G. Bogliolo. Patologia geral. 3. ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,2004. KUMAR, V.; ABBAS, A. K.; FAUSTO, N. Patologia: bases patológicas das doenças. Rio de janeiro: Elsevier, 2005. ROBBINS, S. L.; COTRAN, R. S.; KUMAR, V. Patologia estrutural e funcional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. IRES, M. de M. Fisiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. BERNE, RM. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. COSTANZO. Fisiologia. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. FISIOLOGIA DA NUTRIÇÃO E BIOQUÍMICA DOUGLAS, R. C. 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