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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PALMAS CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS METODOLOGIA CIENTÍFICA Prof. Dr. JOSÉ VANDILO DOS SANTOS PALMAS – TO. 2 SUMÁRIO • Apresentação ..............................................................................................03 • Plano de curso.............................................................................................04 1 – Educação pela pesquisa...................................................................................06 2 – Estudando metodologia científica.....................................................................21 3 - Os níveis e tipos de pesquisa científica............................................................23 4 - Enquadramento da Contabilidade no âmbito da ciência...................................26 5 - Algumas formas do conhecimento e a ciência..................................................31 6 - Análise quantitativa e análise qualitativa..........,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.............................37 7 - Técnicas de pesquisa.......................................................................................40 8 - Citações............................................................................................................43 9 - Os paradigmas da ciência clássica...................................................................44 10 - O método científico.........................................................................................52 11 - Texto complementar........................................................................................57 12 - O projeto de pesquisa.....................................................................................59 13 - Atividades........................................................................................................62 • Anexos 3 APRESENTAÇÃO “Imaginar um mundo melhor é um sonho, colocar isso no papel é um projeto”. Laura Apostólico Prezado (a) acadêmico (a) Esta apostila surgiu da necessidade de um material básico para se trabalhar em sala de aula no qual o aluno encontre o conteúdo numa linguagem simples e de fácil compreensão, auxiliando-o na discussão das questões pertinentes à metodologia científica. Primeiramente, encontramos um texto sobre a importância da pesquisa na universidade tanto por parte dos alunos como dos professores, depois apresentamos os conceitos de metodologia, conhecimento, os tipos de conhecimentos destacando o conhecimento científico, tendo em vista a sua importância especial para a construção do saber na academia. Em seguida, abordamos os vários tipos de produção cientifica, tais como: artigos, resenhas, relatórios, fichas e resumos, como também o enquadramento da Contabilidade no âmbito da ciência. Por último, serão apresentadas as normas da ABNT - imprescindíveis a construção de um texto científico - os tipos de pesquisa e as etapas de um projeto de pesquisa. Os conceitos fundamentais da metodologia serão tratados de acordo com a realidade do curso, direcionando para a especificidade da pesquisa em cada campo de estudo. Espero que o aluno consiga aproveitar este material como fonte de pesquisa e análise, e a partir dele aprofunde seus conhecimentos com tranqüilidade e segurança. 4 PLANO DE CURSO 1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Instituição: Universidade Federal do Tocantins Curso: Ciências Contábeis Disciplina: Metodologia Aplicada a Contabilidade Professor: José Vandilo dos Santos1 Código: CON205N Carga Horária: 60 Créditos: 04 Pré-requisito(s): - Período/Turno: 2º - Noturno Ano: 2016/1 2. EMENTA O conhecimento e seus níveis; O conhecimento científico: conceitos, e classificação; Ciência: conceitos, visão histórica e divisão da ciência; Método Científico: indução, dedução, hipotético-dedutivo; Pesquisa: conceitos, tipos de pesquisa e resultados de pesquisa; Redação científica: linguagem científica; Atividades Técnicas e Científicas: seminário; painel; congresso; palestra ou conferência, simpósio, fóruns, mesa- redonda; Trabalhos Técnicos e Científicos: artigos de periódicos, comunicações científicas, memorial descritivo, relatórios, resenhas, papers e positions papers; Trabalho de Conclusão de Curso: monografia, dissertação e tese; Técnicas para apresentar trabalhos acadêmicos; Elaborando Referências: citações, ilustrações, tabelas, referências, notas de roda-pé; Coleta, Análise e Interpretação de Dados: população ou universo, amostra, instrumentos de pesquisa, análise e interpretação dos dados; Projeto de pesquisa: estrutura, elaboração e análise; Monografia: conceito, estrutura (elementos pré-textual, textual e pós textual), formatação e elaboração; Relatório de Pesquisa: estrutura, elaboração e análise; Fontes de pesquisa aplicadas à Contabilidade: Internet, Bibliotecas virtuais, Revistas científicas; Normas Técnicas: NBR 6023, NBR 10520, NBR 14724. 3. OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA - Propiciar aos estudantes a oportunidade de discutir e conhecer as normas e técnicas de pesquisas para que possam adquirir condições objetivas para a realização de um trabalho científico. 4. OBJETIVO(S) ESPECÍFICO(S) DA DISCIPLINA 1 Doutor em História Social (UFRJ - 2011), Mestre em Sociologia (UFPB - 1998), Bacharel em Antropologia (UFPB - 1993) e Licenciado em Ciências Sociais (UFPB - 1988). - Entender como é construído o conhecimento cientifico; - Analisar a contabilidade dentro do quadro das ciências; - Identificar as técnicas específicas para cada tipo de trabalho científico. 5 5. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 1. Conceitos fundamentais sobre método e metodologia 1.1 - Conhecimento científico e outras formas de conhecimento; 1.2 - Conceito, classificação e divisão da ciência; 1.3 O enquadramento da Contabilidade no quadro das ciências; 1.4 - Métodos científicos 1.5 - Educação pela pesquisa. 2. Procedimentos técnicos e didáticos 2.1 - Técnicas de estudo e apresentação de trabalhos; 2.2 - Diretrizes para realização de um seminário; 2.3 - Normas técnicas da ABNT; 2.4 – Tipos de pesquisa: análise quantitativa e qualitativa; 2.5 – As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. 3. Trabalhos científicos 3.1 - Fichamento, resumo, artigo, papper, resenha, relatório e ensaio científico; 3.2 - Monografia, dissertação e tese. 4. Projeto de pesquisa 4.1 - Os tipos de projetos – Intervenção e pesquisa; 4.2 - Formulação de problemas, objetivos e hipóteses; 4.3 - Coleta, análise e interpretação de dados; 4.4 – Escolha do tema. 5. Temas de seminários 1. O desenvolvimento da ciência contábil 2. Ambiente histórico: influências e perspectivas para o desenvolvimento da ciência contábil 3. A contabilidade como ciência 4. Aprendendo a ser pesquisador 5. A amostragem em contabilidade 6. Usando recursos básicos de microinformática na pesquisa em contabilidade 7. O que é plágio? 8. Por que acontece plágio? 9. Como o plágio pode ser evitado? 10. Nem tudo é plágio 6. Filmografia – Narradores de Javé – Oléo de Lourenzo – Trabalhando com projetos – Alexandria – O Nome da Rosa – Em nome de Deus 6 6. METODOLOGIA DO TRABALHO - Os conteúdos serão ministrados através de aulas expositivas e de leituras, trabalhos de grupos e dinâmicas interacionais. 7. SISTEMA DE AVALIAÇÃO – Serão objetos de avaliação as atividades de produção textual, participação em debates, provas escritas, além das habilidades, dos conhecimentos e atitudes desenvolvidas pelos acadêmicos de acordo com os objetivos da disciplina. 8. ATENDIMENTO EXTRACLASSE - As quartas-feiras das 19:00 as 22:00h – Disponível para tirar dúvidas e orientação. 9. BIBLIOGRAFIA 9.1 Básica BEUREN, Ilse Maria (Org) et al. Como elaborartrabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2004. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade. São Paulo: Atlas, 2003. 9.2 Complementar FILHO, Geraldo Inácio. A monografia nos cursos de graduação. 3.ed. Uberlânia-MG:EDUFU, 2003. GIL, Antontio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2006. KROKOSCZ, Marcelo. Autoria e plágio. São Paulo: Atlas, 2012. MARION, José Carlos; DIAS, Reinaldo; TRALDI, Maria Cristina. Monografia para os cursos de administração, contabilidade e economia. São Paulo: Atlas, 2002. MARTINS Jr, Joaquim. Como escrever trabalhos de conclusão de curso. 7. Ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2013. OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Métodos da Pesquisa Contábil. São Paulo: Atlas, 2011. SANTOS, J. Vandilo. Caderno de Metodologia. Palmas: UFT, 2010.(Disponível no moodle) ______. Memoria e identidade. Curitiba: Appris, 2015. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. Ed. São Paulo: Cortez, 2007. 7 1. Educação pela pesquisa Domingos Sávio Cordeiro2 Ninguém pode indagar aquilo que sabe, nem o que não sabe; por que não investigaria o que sabe, pois já o sabe, nem o que não sabe, pois nem ao menos saberia o que deve indagar. Zenon de Élea por Platão 1.1 - Eficiência nos estudos do aluno pesquisador O aluno recém-chegado na universidade se depara com uma realidade completamente nova. Diferentemente dos cursos de 1º e 2º graus, aos quais ele estivera acostumado. Nessa nova etapa de formação não existe a rigidez de horários ou a preocupação dos professores em que os alunos que sentem mais dificuldade de assimilação acompanhem o repasse de conteúdos. A liberdade oferecida pelos cursos de nível superior, muitas vezes é mal interpretada pelo aluno calouro. Chegar ao final da aula apenas para “dar presença”, deixar que os companheiros “mais interessados” desenvolvam os trabalhos de grupo são atitudes comuns dos estudantes, mas revelam com clareza o extremo despreparo com que esses enfrentam a universidade. Segundo Galliano (1986: 51), o nível de despreparo moral e intelectual de estudantes ao ingressar na universidade é o maior fator de desestimulo e inibição para muitos deles, inclusive é uma das maiores causas de desistência. Embora seja um fator relevante, a utilização do método correto de estudo é um problema cuja solução cabe exclusivamente a quem estuda. Seria bastante oportuno que tal metodologia fosse conhecida pelo estudante já nos primeiros anos de estudo primário, o que poderia favorecer o aprendizado e a assimilação mais satisfatória de conteúdos. Cada etapa de aprendizado constitui uma parte do esboço do profissional que o aluno será no futuro, ao concluir o curso. Dessa forma, alunos despreocupados e desinteressados dão lugar a profissionais vazios de conteúdo e de ação, inadequados ao mercado de trabalho por se fazerem 2 Professor do curso de Ciências Sociais na URCA – Universidade Regional do Cariri – Crato-Ce., 1999. 8 incompetentes. O desenvolvimento do aprendizado dentro da universidade vai além da assistência de aulas e do estudo para obter aprovação. A realização de atividades práticas como a pesquisa e o aprofundamento da leitura são também fatores que garantem o adequado aproveitamento do tempo dedicado à universidade. Encarar o Curso como instrumento insubstituível para a formação profissional, com rigor e disciplina é condição sine qua non para garantir o sucesso. Para quem se aventura nos caminhos do conhecimento porém, nunca é tarde para utilizar uma metodologia eficiente no estudo e proporcionar a absorção adequada e necessária de conteúdos. A força de vontade e a autodisciplina são fundamentais nesse processo. O rendimento das horas dedicadas ao estudo depende fundamentalmente do método utilizado para estudar. Métodos que apresentam-se eficientes para algumas disciplinas, nem sempre mostram os mesmos resultados em qualquer área. Dessa forma, existem, de fato, métodos adequados para o desenvolvimento do estudo de acordo com a matéria. A aplicação sistemática do método correto é que vai garantir o bom aproveitamento do estudo. O primeiro ponto a ser levantado é a disponibilidade de tempo para o estudo. Diante da correria do dia-a-dia, são comuns as reclamações sobre falta de tempo para o desenvolvimento de atividade como: leitura, resumos, trabalhos extra-classe; embora possa surpreender, é comum também a constatação de desperdício de tempo. Convém ao aluno observar, no desenrolar do dia, períodos de tempo intercalados entre atividades que possam ser utilizados para esse fim, por menores que sejam esses intervalos. A melhor forma de se descobrir onde está o tempo perdido é listando as atividades desenvolvidas durante a semana. É importante mencionar na lista todas as atividades com horário de inicio e de término de cada uma delas, sem esquecer horário dispensado para refeições, higiene, lazer, locomoção ao trabalho, etc. Diante desse relatório, será possível encontrar alguns minutos entre atividades que se adéqüem ao estudo e ainda, descobrir que algumas atividades não 9 essenciais podem ser substituídas com fins de disponibilizar mais tempo para as atividades acadêmicas. O segundo ponto relevante se concentra no aproveitamento das aulas. Embora muitos alunos menosprezem os períodos em sala de aula, ou seja, não valorizam o papel do professor, convém ressaltar que é dentro da classe, no contato com colegas e professores que se procede a aprendizagem sistemática. O professor com sua metodologia de ensino, expressa em aulas cuidadosamente preparadas, e os colegas de sala com os questionamentos paralelos entre si, proporcionam a troca de idéias inteligentes essenciais para o enriquecimento intelectual do aluno. Não basta, porém, estar na sala ouvindo a explanação do professor, é necessário estar concentrado, ouvir atentamente os discursos e levantar questões, participando ativamente. Após o termino da aula, uma simples revisão do conteúdo através da leitura de anotações e procurando respostas para as dúvidas que permanecerem, pode garantir uma absorção mais completa, evitando o acúmulo de perguntas e a conseqüente perda do fio da meada. Posteriormente é produtivo elaborar uma síntese como reconstrução do conhecimento abordado. Segundo Morgan e Deese (apud Galliano, 1986: 66), existe um método simples, apresentado através de uma formula que tem se mostrado como pratica de promover melhor aproveitamento no estudo e se resume em: Examinar = PL2R Em que, P = perguntar; L = ler; e 2R = repetir e rever. Assim, diante de um livro por exemplo, a varredura mental em busca de informações já detidas sobre o assunto abordado na obra em forma de questionamento prévio a leitura (perguntar), se constitui por si só já um estudo. O segundo passo é a leitura rápida (ler), procurando captar a essência da obra, a idéia geral do autor. Uma nova reflexão deve ser feita no sentido de tentar cruzar a idéia do autor com aquilo que já se sabia sobre o assunto. Nesse estagio já é possível identificar o que pode ser aprendido como o estudo daquela obra. É o aprofundamento, pois, de retornar a leitura (repetir), agora de forma mais aprofundada e detalhada, identificando as partes mais importantes (inclusive 10 marcando-as) de forma a encontrar a linha de raciocínio do autor. Sempre que for necessário, o aluno deve interromper a leitura e desenvolver considerações próprias questionando mentalmente as idéias e marcando de forma diferenciada trechos que gerem dúvidas ou que se confrontem com o pensamento do leitor. O fim do processo de leitura se dará quando não mais houver mais duvidasquanto ao conteúdo da obra e quando for possível esboçar um resumo com as próprias palavras (rever). Caso a obra apresente-se útil às necessidades do aluno, o procedimento de arquivamento de conteúdo através de fichas permite que se utilize esse estudo de forma mais eficiente e prática mais tarde. A confecção de um arquivo de leitura é muito importante para evitar perda de tempo ao fazer referenciamentos e por promover o desenvolvimento da objetividade, já que na confecção das fichas clareza e concisão são requisitos indispensáveis. Para reforçar o aprendizado convém discutir com outras pessoas sobre o assunto abordado no livro. A troca de idéias é proveitosa e suscita novos aspectos intrínsecos à percepção e à formação cultural de cada leitor. É importante que o leitor observe a si mesmo, como se expressa, com que tipo de conotações verbaliza o aprendizado. Deve-se lembrar que a meta final é a assimilação, a capacidade de compreender as colocações do autor e aprender a relacioná-las a outros assuntos, bem como, e principalmente, formar, através da fundamentação literária, o desenvolvimento das próprias idéias. 1.2 - O professor pesquisador Para entendermos a importância da pesquisa científica na sociedade é necessário entender o papel do professor universitário na comunidade que ele está inserido. A universidade existe para produzir e transmitir conhecimentos, seu papel maior é contribuir para o desenvolvimento do país, através da aplicabilidade das pesquisas ali produzidas na solução de problemas sociais e para o progresso da 11 ciência. Há bastante tempo, o fluxo de riquezas entre as nações baseia-se na capacidade científica da sua população. Falar do Japão ou Alemanha no pós-guerra é demasiado óbvio. Países para lá de arrasados que buscaram seu soerguimento via educação. Com visões de futuro melhor, chegaram ao patamar de desenvolvimento tecnológico e qualidade de vida se encontram atualmente. Então, pode-se situar nesse processo a “educação primaria”, constituída de ensino infantil e ensino fundamental e a educação científica a partir da graduação e a pós. No ensino científico, todos os professores deveriam, eticamente falando, ser pesquisadores, pois só tem algo a ensinar quem desenvolveu conhecimento próprio, novo (DEMO, 1999). Senão, não passa de um reprodutor de idéias e fórmulas alheias. Para fazer reproduções, os meios de comunicação fazem melhor que qualquer um. Por que então a pesquisa é tão essencial? Simplesmente porque só a pesquisa científica tem condições de criar soluções tecnológicas e sociais para as necessidades humanas. Como tecnologia parece não ser o maior problema em termos de Brasil, a carência se volta para atitudes políticas que solucionem os graves problemas sociais. Só a pesquisa social pode, efetivamente, elaborar teorias que transformem a sociedade, que modifiquem as baixas condições de sobrevivência da maioria da população e promova uma democracia econômica. Refere-se aqui à pesquisa com compromisso político enquanto instrumento criador e transformador, desenvolvida por pessoas engajadas no processo de intervenção social. Diferentemente dos países centrais (desenvolvidos), onde as empresas financiam pesquisas universitárias; a universidade privada brasileira restringe-se às horas-aula, venda de conhecimento, enquanto à universidade pública cabe o compromisso com a pesquisa. Como fazer pesquisa se as universidades públicas estão praticamente falidas? 12 Cabe a comunidade universitária recuperar o papel da pesquisa. No caso dos professores isso significa ir além de lutar por melhores salários e resistir ao sucateamento, pressupõe buscar a realização de pesquisas formais através de novos caminhos de captação de recursos públicos e novas parcerias, assim como desenvolver a pesquisa como atividade cotidiana pela qual descobrimos a realidade e criamos formas de compreender a dinâmica social, elaborar experiências e transmiti-las. É possível a instauração de um projeto político que valorize a pesquisa como condição de transformações sociais. A exemplo de conquistas em políticas públicas, o Estado de São Paulo é um modelo. Lá, por lei um percentual razoável da receita tributária é destinada à pesquisa. O professor pesquisador, entretanto, pode e deve ir bem mais longe do que lhe é esperado pelas expectativas formais. Em sua didática é possível estabelecer uma atitude de pesquisa com fins de desenvolver nos alunos uma nova forma de dialogar com a realidade. 1.3- Didática reconstrutiva A inclusão de uma didática neste texto de pesquisa justifica-se na proposta de educação pela pesquisa e está intimamente ligada à possibilidade de educação crítica, criativa e aberta que, possivelmente, não existiria fora da pesquisa; assim como a dimensão pesquisa está tão intrinsecamente ligada à finalidade social da ciência, que não se conceberia a sua existência dissociada daquela. A educação pela pesquisa pressupõe uma atitude de indagação diante a vida que passa pela didática em sala de aula. Partindo do principio que professores podem e devem se tornar pesquisadores, a pesquisa cientifica seria desenvolvida através da utilização de recursos de liberação da criatividade e formas emancipatórias de relacionamentos com os educandos. 13 No estudo da metodologia de pesquisa cientifica há uma dinâmica entre normas e conteúdos. Nos currículos universitários, tende-se preferencialmente a enfocar as normas técnicas e os procedimentos de organização de pesquisas. A questão é que o predomínio da técnica não traduz qualidade. A ênfase na técnica geralmente resulta em trabalhos medíocres porque é responsável justamente por apenas um dos aspectos da produção científica. O processo de fazer ciência é composto de duas partes opostas e complementares numa relação dialética. Como uma moeda com um dos lados voltados para a organização e o outro para a criatividade. A criatividade é o conteúdo, do qual também faz parte a descoberta de alternativas por meios criativos. A contribuição do pesquisador é a “coisa viva”, por mais elementar que seja, fundamental para o progresso da ciência na sua área de estudo. É óbvio que criatividade sozinha também não resulta em trabalho algum. O corpo, a lógica e a coerência indispensáveis, só são alcançados pela técnica e organização normalizadas. A ciência é também uma arte, como arte é preciso conhecer a base técnica, mas não se pode colocar a técnica acima da arte. Nesse sentido, podemos dizer que “a criatividade é livre, as técnicas são rígidas”. Porém, ao mesmo tempo em que elas se opõem, uma não funciona sem a outra (CORDEIRO, 1998, passim). Comumente, apresentam-se relatórios de pesquisa apenas normalizados, às vezes reduzidos a apresentação superficial de provas com recursos ilustrativos, como fotos, gráficos e tabelas, e ausência significativa de um texto desenvolvido sobre o objeto pesquisado, o método e a discussão dos resultados alcançados. Trabalhos, quase sempre, desnecessariamente produzidos, floreados e repetitivos. No sentido de se pensar em produção científica nova, onde cada um é capaz de realizar conhecimento útil e se realizar nessa atividade, afirma-se que descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar algo diferente. 14 Para se pensar a pesquisa como atitude cotidiana em educação, fruto de comportamento curioso e livre dos alunos, e de abertura e criatividade dos mestres, é necessária uma expectativa e um estímulo constante para o questionamento dos saberes estabelecidos. Refletidos em nova motivação por parte daqueles que não mais querem apenas “dar aulas”, e no desejo de sair da acomodação daqueles que devem deixar de ser meros objetos de ensino, receptáculos de conteúdos prontos. É premente se possuir uma nova visão de pesquisa cientifica. Essa liberaçãoparte da compreensão que o que realmente interessa é a pesquisa. Esta é a maior finalidade da ciência, onde o aluno-mestre pesquisador reveste-se de uma disposição intelectual ao inédito, inicia uma abertura mental ao imprevisível, uma susceptibilidade às idéias ousadas e que possam contribuir à realização de novos inventos e descobertas. A principal característica das pessoas pesquisadoras é a curiosidade. São pessoas interessantes porque se interessam por tudo. Sabem que as novas idéias são resultado de muitas informações, sem fronteiras de assunto ou áreas delimitadas. Ninguém desenvolve pesquisas e pensa criativamente a partir do nada. O pensamento tem que ser alimentado com conhecimento, informações, experiências, relacionamentos e impressões. A atitude de pesquisar supõe uma expectativa, que leva a procurar idéias, a manipular conhecimento e experiência. Ao adotar uma perspectiva de pesquisa acontece uma abertura para mais possibilidades, como também para a mudança (OECH, 1996: 18). É importante observar que o relatório, enquanto forma de comunicação através do método de exposição e organização de resultados de pesquisas, tem seu papel indispensável na comunidade científica. Sem organização, é muito fácil perder trabalho em indefinições e não conseguir realizar nada útil, nem apresentar nada lógico. A proposta aqui é exercitar a ampliação de horizontes e estabelecimento de comportamento crítico, que busca o bom senso, além da participação ativa na sociedade. 15 Seguramente aos alunos-mestres não cabem possibilidades de pesquisas ilimitadas. Há carência: de material, de profissionais dispostos a colaborar, de recursos de informática; sobretudo, carece-se de dinheiro e tempo. Contudo, é no reconhecimento dos limites impostos que reside a possibilidade de ação através da criação científica em alternativas de pesquisa. O cientista criativo é tanto capaz de fazer um trabalho como manda o figurino, formal, dentro da ordenação prevista, como é capaz de começar pelo fim, de não citar ninguém, de afirmar o contrario do que todo mundo espera, de buscar espaços ilógicos para a invenção etc. (DEMO, 1983, p. 22). Essa contribuição produtiva, como toda arte, exige um esforço prévio na busca e aquisição de conhecimentos fertilizantes à invenção e criação de alternativas. O essencial é que se produza algo novo, ainda que seja uma interpretação e reconstrução do que havia sido formulado anteriormente por autores – na pesquisa teórica, que contribua com o progresso da ciência, e que preferencialmente seja útil, no sentido de buscar melhorias de condição de vida e trabalho para a população em geral. Pedro Demo ressalta que no momento em que se inicia uma pesquisa científica a sensação (normal) da primeira impressão é de perplexidade. Não sabemos por onde começar, sobretudo se nunca nos tínhamos metido no assunto. Todavia é uma situação normal de que se julga pesquisador e não detentor de saber evidente e prévio. Pesquisador é alguém que se propõe a descobrir a realidade, supondo que nunca a sabemos satisfatoriamente, sempre há o que descobrir... (1983: 49-50) Pesquisar nessa perspectiva significa aprender a aprender. E o aprender aqui, refere-se ao aprendizado do mundo numa atitude de adestramento (FREIRE, 1982: 9-10). Esse sentido de aprendizagem difere do ensino formal na escola que é, basicamente, conceitual. 16 Aprender criativamente implica usar toda atenção no momento presente, mantendo em perspectiva, ancorado, o tema de pesquisa. Pense num bebê de oito meses. Para ele tudo é motivo de curiosidade, é interessante e atrativo. Agora imagine alguém meditando, assistindo a vida numa postura igual, de total receptividade. São esses dois tipos de comportamento que se precisa praticar para germinar idéias e descobrir novos caminhos de atuação e reflexão: curiosidade e receptividade. Deve-se estar relaxado, receptivo, perceptivo como uma criança brincando. Quando se brinca, não existe perde/ganha. Mesmo perdendo, se ganha sem aprendizado. O erro não origina castigo, mas conhecimento. Nessa perspectiva, mantém-se a busca de respostas, sem compromisso de acertar. O momento é de preparação para o desabrochar de idéias que acontece em momentos distintos do processo criativo da pesquisa. Para conceber algo novo, é necessário que se parta de conhecimentos formulados anteriormente, busca-se uma grande quantidade de informações com uma lembrança presente do problema que se está enfocando. Normalmente, as idéias surgidas serão insights (relâmpagos) decorrentes da combinação modificada das outras idéias. - Fases do ato criativo: 1ª Fase Germinativa - Definição do problema; - Busca de informações pertinentes e afins; - Incubação: tempo necessário para que se possa digerir e combinar os dados livremente; - Iluminação (insight): surgimento de novas idéias, geralmente caóticas. 17 2ª Fase Prática - Seleção; - Crítica; - Adequação e elaboração de idéias em propostas realizáveis. 1.4 - Bloqueios ao pensamento criativo na elaboração de novas pesquisas A dificuldade comum ao pensamento criativo reside principalmente nos bloqueios mentais originados do status quo. No sentido que é muito mais cômodo o lugar comum, o pensamento padrão é fácil, e não discrepância ideológica e a ausência de comportamentos desviantes obtêm aprovação (CORDEIRO, 1998 – b: passim). É importante ainda observar que no desenvolvimento da maioria das atividades cotidianas não se exige criatividade. Pelo contrario, as ações rotineiras do dia-a-dia são melhor executadas, com agilidade, quando sujeitas a um método, porém, quando é necessário ser criativo, por força do hábito, as barreiras interiores surgem com todas as couraças. A esse respeito, Roger Oech (1996, passim) descreve os mais comuns bloqueios mentais à criatividade: • “A resposta certa consiste na tendência de se procurar apenas uma e única resposta ao problema”, na realidade, em virtude da complexidade, na pesquisa social existem várias respostas certas. • “Isso não tem lógica”. Refere-se à limitação imposta pelo tipo de raciocínio que não entende a dualidade, os contrários opostos e complementares em todos os fenômenos sociais e naturais. • “Siga as normas”. As normas cumprem o papel para que foram criadas. Contudo, com o tempo, tornam-se obsoletas. A desobediência é necessária, onde para criar, é preciso destruir. 18 • “Seja pratico”. A exigência de se pensar com praticidade e utilidade em todos os momentos é extremamente limitante para a fase de germinação do pensamento. Ser prático é essencial para “fazer as coisas acontecerem”, porém na fase inicial de criação não deve ser considerado. • “Evite ambigüidades”. As ambigüidades e os paradoxos são geralmente evitados por provocarem problemas de comunicação. Contudo, a ambigüidade é importante para criação de novas idéias. • “É proibido errar”. É óbvio que, na prática, deve-se evitar o erro, até para não perder o emprego, morrer jovem. O que se chama atenção aqui é a fobia de errar desenvolvida pelo sistema educacional. No ensino infantil e no fundamental, o erro resulta em punição e até em desrespeito. No processo criativo é preciso errar e até dobrar a quantidade de erros. Ao se buscar idéias originais tem- se que criticar os procedimentos usados anteriormente, testar os pressupostos e acertar de vez em quando. Para encontrar respostas corretas, tem-se que estar disposto a aceitar a possibilidade de errar. 1.5 - Pressupostos ao ato criativo: • “Quem realiza o trabalho é você mesmo”, logo, para que algo aconteça é necessário que se acredite. Acreditar para ver acontecer e nunca ficar apensas “esperando ter condições” para realizar algo. Enquanto na postura acomodada se desperdiça tempo, justificando as dificuldades para realizar algo,na postura criativa se usa o tempo buscando maneiras de fazer as coisas acontecerem. 19 • “Estado de espírito criativo” (sentimento, emoção, símbolos) pode ser provocado. Logo, deve-se descobrir e utilizar recursos para entrar nesse estado. • “erro faz parte da fase germinativa. Pelo erro sabe-se o que não dá certo, oportunizando novas abordagens e podendo servir de ponto de apoio para novas idéias. • Para se criar algo novo é preciso abrir-se a uma visão crítica e contestadora da realidade que se vive. A insatisfação com o que se apresenta alimenta a utopia dos ideais perfeitos. • A ciência é busca de solução, de mistérios, um após o outro, e é isso que origina a criatividade na produção científica. • É necessário dedicar-se intensamente, concentrando toda energia com entusiasmo naquilo que se deseja alcançar. Não é supérfluo lembrar que entusiasmo, etmologicamente, significa ter os deuses em si. Desenvolver uma pesquisa com entusiasmo é acreditar na própria capacidade de encontrar soluções para os problemas. 1.6 - Liberação da criatividade Em síntese, são apresentadas as seguir algumas idéias a serem postas em prática: - A utopia – pela visão utópica chega-se a conceber situações com respostas alternativas. A expressão “e se”, tem um papel importante aqui. Quando se pensa em algo como o “e se” antecedente, abrem-se portas para novas perspectivas; - Os erros podem ser usados como pontos de referencia para outras formas de pensar a pesquisa; - Criar uma visão pessoal e positiva da realização do trabalho, contribui para o seu êxito. “O poder de chegar lá, é a qualidade de estar lá; - As metáforas são importantes instrumentos de compreensão do funcionamento do “computador cerebral” e podem se configurar como excelente recurso de liberação do pensamento criativo; 20 - O humor constitui-se num meio sem igual de superação dos bloqueios mentais; - Criar um “território de caça” significa partir na ofensiva de buscar ativamente novas idéias em qualquer campo possível de descobrir-las. Alguns “campos de caça”: • Viajar – visitar novos lugares; • Contatar pessoas diferentes , conversar com pessoas que têm outros valores; • Sonhar acordado; • Ler revistas científicas antigas – muitas idéias propostas em outras épocas podem ser recicladas; • Estudar livros básicos sobre assuntos específicos; • Ler poesia apreciando as metáforas – observar as próprias metáforas e criar muitas outras nas conversas corriqueiras; • Cinema, teatro e televisão (sem se empanturrar) podem ser alimentos de qualidade no processo criativo, assim como ler periódicos atuais; • Conversar não só com profissionais da área, mas com todas as pessoas, pois no conhecimento científico, como em todas as áreas do conhecimento humano, as descobertas muitas vezes acontecem quando se está fora da rotina da pesquisa; • Habituar-se a ter consigo um bloco de notas e anotar todas as idéias no momento em que surgem. 1.7 - A tempestade de idéias A tempestade de idéias é usualmente o meio de grande agilidade para se produzir em grupo. O principio de funcionamento desse meio de provocar a criatividade está na separação da fase de germinação de idéias da fase prática (crítica e julgamento). O objetivo dessa prática (também conhecida por brainstorming) é a criação de uma grande quantidade de idéias. 21 Na prática acontece da seguinte forma: Junta-se um grupo de pessoas (é possível realizar a partir de duas pessoas) em ambiente tranqüilo. - Define-se um tema questionamento; - Todas as pessoas dirão alguma coisa sobre o tema, uma sugestão, uma resposta para a questão; - Todas as coisas faladas serão anotadas tal qual foram faladas; - As sugestões são completamente livres; - A única coisa proibida é se fazer censuras, críticas ou qualquer tipo de reação negativa às idéias surgidas. Essa abertura a qualquer idéia contribui para superação dos bloqueios mentais; - Nesse instante todas as contribuições serão bem vindas; - Deve-se motivar a participação de todos; - Por fim, faz-se a seleção e adequação das melhores idéias, segundo o grupo, ao assunto de interesse. 22 2 - ESTUDANDO METODOLOGIA CIENTÍFICA • METODOLOGIA – o estudo do método na busca de determinado conhecimento – preocupação instrumental. • CIÊNCIA – é um conhecimento racional, portanto reflexivo, sustentado numa lógica racional, ou seja, conhecimentos sistematizados e verificáveis. • CONHECIMENTO – é desvendar, desbravar, apreensão de um objeto pelo sujeito, e quem conhece acaba por apropriar-se do objeto que conheceu. • CONCEITO – é a forma mais simples do pensamento e por meio dele fazemos representações mentais das coisas ou episódios que conhecemos. 2.2 - FORMAS DO CONHECIMENTO: POPULAR RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO - valorativo - valorativo - valorativo - real - factual - reflexivo - inspiracional - racional - contingente - assistemático - sistemático - sistemático - sistemático - verificável - não-verificável - não-verificável - verificável - falível - infalível - infalível - falível - inexato - exato - exato aproximadamente exato 2.3 - NATUREZA TEÓRICA-PRÁTICA DA ATIVIDADE CIENTÍFICA: - Atividade intelectual intencional que visa responder às necessidades humanas. Animal → sente – necessidades – respostas – ação instintiva rotineira – nível prático; Racional → pensa – problemas – soluções – ação intelectual – nível teórico. 23 2.4- MÉTODOS E TÉCNICAS CIENTÍFICAS: - Indutivo – a indução parte de registros menos gerais para enunciados dos mais gerais; - Dedutivo – transforma enunciados universais em particulares. O ponto de partida é a premissa antecedente, em que tem valor universal, e o ponto de chegada é o conseqüente (premissa particular); - Dialético – pela etimologia da palavra de origem grega dialektos, que significa debate, forma de discutir e debater. Consiste na formulação de perguntas e respostas, e que traz à tona todas as falsas concepções; - Hipotético-dedutivo – surge o problema e a conjectura, que serão testados pela observação e experimento. - Histórico – tem como pressuposto reconstruir o passado objetiva e acuradamente, em geral relacionando com uma hipótese sustentável; - Estatístico – é um método de analise, planejado por Quetelet, que permite obter de conjuntos complexos representações simples e constatar se essas verificações simplificadas têm relações entre si. Em Contabilidade o uso da estatística é ferramenta imprescindível para compreender o fenômeno do patrimonial em seus aspectos quantitativos, com suas possíveis utilizações; daí ser um dos mais importantes instrumentos utilizados pela ciência contábil; - Comparativo – realiza comparações com o objetivo de verificar similitudes e explicar as divergências no intuito de melhor compreender o comportamento humano; - Monográfico – também conhecido como estudo de caso, permite, mediante caso isolado ou de pequenos grupos, entender determinados fatos, pertindo do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os casos semelhantes. 24 3 - NÍVEIS E TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA: - Pesquisa acadêmica – é uma atividade pedagógica que visa despertar o espírito crítico; - Pesquisa de ponta – é a tentativa de negociação/superação científica e existencial, a oferta de um dado novo para a humanidade. 3.1 TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA: - caracterização segundo os objetivos: a) Explortatórias b) Descritivas c) Explicativas - caracterização segundo as fontes de dados: a) campo b) laboratório c) bibliografia - caracterização segundo os procedimentos de coleta de dados: a) pesquisa experimental b) ex-post-facto c) levantamento d) estudo de caso e) pesquisaação f) história oral g) história de vida h) documento i) bibliografia 25 3.2 - FORMAS BÁSICAS DE APRESENTAÇÃO DE TEXTOS: a) FICHAMENTO – consiste na coleta de informações de obras pesquisadas por meio de apontamentos, anotações que serão utilizadas na futura elaboração do texto. b) RESENHA – consiste em apresentar o conteúdo de obras prontas acompanhado ou não de avaliação crítica. - As partes essenciais da apresentação do corpo da resenha são: 1 - Identificação da obra – autor, título, imprenta, total de páginas resenhadas. 2 - Credenciais do autor – formação, publicações, atividades desenvolvidas na área. 3 - Conteúdo – idéias principais, pormenores importantes, pressupostos para o entendimento do assunto e breve explicação das conclusões do autor. 4 - Crítica – determinação histórica e metodológica (científica, jornalística, didática) da obra, contribuições importantes, estilo, forma, méritos, considerações éticas. c) RESUMO – apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto. d) RELATÓRIO CIENTÍFICO – basicamente é contar o que observou. Partes essenciais: referencial teórico, metodologia, apresentação de resultados, análise dos resultados, sugestões/recomendações. e) PAPER – é o texto transcrito de uma comunicação oral. f) ESQUEMA – texto que pode ser esquematizado de várias maneiras: com palavras, gráficos, desenhos, chaves, flechas, etc. g) ENSAIO – consiste nas comunicações originais do pesquisador, após apurado exame de um assunto. Destaca-se o espírito crítico e a originalidade. h) ARTIGO – é uma pequena parcela de um saber maior, cuja finalidade, de modo geral, é tornar pública parte de um trabalho de pesquisa que se está realizando. Artigo de opinião e artigo de pesquisa. 26 i) COMUNICAÇÃO - transmitir informações, idéias, fatos e opiniões peculiares de todo pesquisador. Essas apresentações são feitas oralmente em eventos científicos. j) MONOGRAFIA – trabalho de conclusão de curso (graduação e pós- graduação); k) DISSERTAÇÃO – trabalho de conclusão de curso - mestrado; l) TESE - trabalho de conclusão de curso – doutorado. 27 4. ENQUADRAMENTO DA CONTABILIDADE NO AMBITO DA CIENCIA Ciência, na concepção de Good e Hatt (1981), é a acumulação de conhecimentos sistemáticos. Para Fachin (2002, p.15), “a ciência é construída pela observação sistemática dos fatos. Por meio da análise e experimentação, extrai resultados que passam a ser validados universalmente”. De acordo com essas definições, estabelecendo-se uma conexão com a cronologia histórica dos acontecimentos contábeis, a qual remete à seção 1.1, é possível identificar a Contabilidade como uma ciência, quando utilizadas a sistematização e a acumulação de conhecimentos como parâmetros de sustentação. Sá (1997, p. 18) corrobora essa idéia, ao enfatizar que “a ciência foi-se construindo em avanços sucessivos, de forma nem sempre definida, mas com uma constância de interesse de encontrar-se a verdade”. Em sua perspectiva específica e com o intuito de facilitar seu entendimento, a epistemologia pode ser didaticamente decomposta em: classificação das ciências, objeto da ciência e método na ciência. 4.1 - CLASSIFICAÇAO DAS CIENCIAS A classificação ou divisão das ciências, conforme Fachin (2002), surgiu em decorrência da dificuldade encontrada pelos cientistas de seu domínio. As proporções universais das ramificações cientificas foram tornando impossível a compreensão das subdivisões que as circundam. Fachin (20020) afirma que o propósito da divisão é, obedecendo a um esquema classificatório, agrupar as diversas ciências com seus objetos 28 particulares e dentro de suas áreas particulares de estudo. Como resultado desse processo, a compreensão individual de cada ciência torna-se mais clara, e permite maior abrangência do conhecimento do conjunto cientifico em seus aspectos gerais e universais. Ao longo do tempo, como expõe Theóphilo (1998), foram criadas diversas classificações para atender as ciências, variando em função do parâmetro escolhido – ordem de complexidade, objeto, metodologia empregada. Entre elas, Fachin (2002) diz que podem ser citadas as classificações de Aristóteles, de Bacon, de Ampère, de Augusto Comte, de Spencer, de Wundt, Moderna, de Mário Bunge e de Eva Maria Lakatos. Essa classificação encontra-se fundamentada na divisão proposta por Mário Bunge (1976), onde, conforme Tesche et al (1991), inicialmente, as ciências são divididas em dois grandes grupos, de acordo com seu conteúdo: ciências formais e ciências factuais. Apenas a lógica e a matemática integram o grupo das ciências formais, Theóphilo (1998) explica que estas se caracterizam por tratarem de entes ideais, tanto abstratos quanto interpretados, cujos argumentos e teoremas dispensam testes para experimentação. Por sua vez, as ciências factuais tratam de objetos concretos e utilizam-se do método experimental para verificar seus postulados e hipóteses. Tesche et al. (1991) mencionam que nelas incluem-se os demais campos do conhecimento. A contribuição de Eva Maria Lakatos dá-se pela ampliação da classificação das ciências factuais, proposta por Mário Bunge. Na perspectiva de Fachin (2002, p. 21), “para a autora, a fundamental diferença entre as ciências formais e as ciências factuais é que as primeiras constituem o estudo das idéias e as outras dizem respeito aos fatos”. Assim, Tesche et al(1991) explicitam que, para Lakatos, o grupo de ciências factuais é subdividido em dois outros grupos: as ciências naturais, que estudam a natureza e os seres vivos, suas leis e interações com o ambiente; e as 29 ciências sociais, dedicadas ao entendimento do homem enquanto ser inteligente, livre e social, suas relações com o meio, sua vida moral e postura ética. Diante da taxonomia apresentada, a Contabilidade seria enquadrada como ciência factual e social, ainda que, segundo Theóphilo (1998), alguns autores da área normalmente não façam referência especifica a ela. Usualmente, os pesquisadores e teóricos têm abreviado essa denominação, omitindo e termo factual, classificando a Contabilidade como uma ciência social. Autores clássicos da Contabilidade têm referendado esse enquadramento. Iudícibus e Marion (1999) afirmam que a Contabilidade não só uma ciência exata, mas uma ciência social. Ainda que ela utilize métodos quantitativos como sua principal ferramenta, é a ação humana que gera e modifica o fenômeno patrimonial. Sobre esse assunto, Sá (2000, p. 37) posiciona-se afirmando que, “se a Contabilidade trata patrimônio das células sociais e se estas se inserem no todo social, é fácil concluir que seja ela uma ciência social”. Tesche et al. (1991, p. 17) caracterizam a contabilidade como a ciência social que tem por objeto o patrimônio de quaisquer entidades, em que seus aspectos qualitativos e quantitativos, bem como as suas variações”. Ao introduzir essa definição, Tesche et al. (1991) remetem ao objeto da ciência. Sobre o objeto, pode-se dizer que identificar seus pressupostos é um requisito fundamental para entender como o conhecimento é desenvolvido em determinado ramo da ciência. 4.2 - OBJETO DA CIÊNCIA O objeto diz respeito ao fato que os estudos de uma ciência. Fachin (2002, p. 69) diz que é “tudo aquilo de que um individuo pode ter conhecimento, sobre o que pode tomar qualquer atitude ou ao qual pode responder”. 30 Para Tesch et al. (1991, p. 18) “toda ciência tem um objeto definido. A delimitação do objeto de estudo serve para orientar o campo de ação de cada ciência”. Nesse sentido, de acordo com Drummond (1995), o patrimônio foi definido como objeto da Contabilidade pela primeira vez em 1923, por Vicenzo Mazi, um seguidor da Escola Veneziana, fundada por Fabio Besta. Desde então, denominação passou a ganhar uma diversidade de adeptos nacomunidade cientifica, independentemente da vertente teórica assumida. Sá (2000, p. 44) estende esse conceito ao afirmar que “o campo de ação da Contabilidade é a célula social e dentro dela o patrimônio, este como um conjunto de meios ou coisas que devem visar satisfazer as necessidades da aludida célula, sob a ótica da eficácia”. Iudícibus e Marion (1999, p. 56) enunciam como objeto da Contabilidade o patrimônio, levando em conta seu campo de atuação (toda entidade que exerça atividade econômica), e ressaltam “o patrimônio de tais entidades, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, seja esse patrimônio resultante da consolidação de patrimônio de outras entidades distintas ou a subdivisão do patrimônio de uma entidade em parcelas menores que mereçam ser acompanhadas em suas mutações e variações”. Seguindo esse entendimento é possível intuir que, dentro de uma perspectiva ampla, o objeto da Contabilidade configura-se no patrimônio. Em um escopo mais delimitado, pode-se estabelecer que é o acompanhamento das variações do patrimônio de uma entidade. Tesche (1991) corroboram com esse enfoque e acrescentam que a Contabilidade estuda o patrimônio sob seus aspectos qualitativos e quantitativos e de suas variações, buscando entender e prever seu comportamento. Assim, verifica-se que a Contabilidade, como ciência social, ao estudar o fato norteador da mesma, o patrimônio, rompe a fronteira estritamente econômica. 31 Ao informar a sociedade, o quanto, bem ou mal, determinada entidade usa os recursos dos sócios ou da população, acaba por desempenhar papel com fundamental amplitude social. 32 5 - ALGUMAS FORMAS DO CONHECIMENTO E A CIÊNCIA Na busca de compreender o mundo através da observação espontânea da realidade, o homem transmite para os seus semelhantes os conhecimentos adquiridos ao logo do tempo. Em CERVO e BERVIAN (1979. p. 3-4), temos que conhecer “é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido”, sendo que no processo do conhecimento o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Apropriação que leva ao conhecimento sensível, se a apropriação é física e ao conhecimento intelectual se a representação não é sensível. Como por exemplo, conceitos, verdades e leis. Portanto, o homem penetra as diversas áreas da realidade para dela tomar posse. Entretanto, existem certas atividades essenciais na cultura humana, que não colocam grande ênfase no conhecimento (embora ele seja necessário para executá-lo), mas em efeitos que influem em outras áreas sensibilidade. Um caso típico é a arte. A arte é uma atividade que consiste em realizar certos projetos de nossa imaginação, os quais visam transmitir efeitos emocionais relacionados com a beleza. Outro caso notório é o esporte. O esportista embora precise de conhecimentos técnicos sobre a tarefa que executa, não visa transmitir nem organizar conhecimento nenhum. Ele só tenta realizar determinadas ações, as quais, neste caso, estão vinculadas a certo rendimento físico do corpo (força, velocidade, destreza e etc.). Ainda que existam especialistas em arte, capazes de transmitir técnicas para que o artista possa exteriorizar mais satisfatoriamente sua imaginação, é especialista em esporte, que conhecem regras e procedimentos para aprimorar o comportamento físico do esportista, nem a arte nem o esporte são atividades relativas ao conhecimento científico. Mas há outras formas de conhecimento que são relevantes para a cultura contemporânea, e que, em outras etapas da historia do homem, foram ainda mais influentes do que aquilo que hoje chamamos de “ciência”. 33 O conhecimento científico é metódico, e tem possibilidade de ser defrontado com a realidade. Temos condições para aferir se ele é verdadeiro ou falso, pelo menos teoricamente. Contudo, existem certas formas de conhecimento que não costumam ser incluídas no campo da ciência. Uma forma especialmente famosa de conhecimento é o filosófico. Também, em certo sentido, existe uma forma de conhecimento religioso. Com efeito, ainda que muitas pessoas adotem um ponto de vista estritamente irracional no plano religioso, muitas outras acham que as experiências místicas constituem uma forma de conhecimento e podem, portanto, ser analisadas desse ponto de vista. Contudo, existe atualmente um grande preconceito em favor do conhecimento científico e contra qualquer outra forma. Em meados dos anos 30 e depois da Segunda Guerra, tanto a corrente que chamamos de positivista¹ quanto muitas outras a ela relacionadas de maneira indireta ou direta, levantaram a “palavra de ordem” de que a ciência era a única forma racional de conhecimento. Tudo que não fosse científico era ou conhecimento ingênuo do senso comum (que, embora às vezes verdadeiro, não tinha método, organização nem justificação) ou então falso conhecimento, obscuro e incompreensível, disfarçado por uma linguagem aparentemente acadêmica. Para eles, a filosofia era apenas uma disciplina dedicada a estudar as afirmações científicas, uma espécie de “reflexão” sobre a ciência. Atualmente, essas tendências, explicitamente positivistas, entraram em decadência. Mas apareceram novos motivos para privilegiar o conhecimento científico. É a revolução tecnológica. De acordo com LAKATOS (1991, p. 21), podemos entender a ciência como uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar: A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, 34 dirigidas ao sistemático conhecimento como objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação. As ciências possuem: • objeto ou finalidade. Preocupação em distinguir a característica comum ou as leis que regem determinados eventos. • função. Aperfeiçoamento, através do crescente acervo de conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo. • objeto. Subdividido em: o material, aquilo que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar, de modo geral; o formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências que possuem o mesmo material. Ainda em LAKATOS (1991, p. 22), encontramos que a complexidade do universo e a diversidade de fenômenos que nele manifestam, aliadas à necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los, levarem ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas. Estas necessitam de uma classificação, quer de acordo com sua ordem de complexidade, quer de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de enunciados e metodologia empregada. Nem todos os fatos pertencem ao mundo físico, químico ou biológico. Por exemplo, a psicologia é uma ciência cujo campos de interesse são a mente, o inconsciente, os conflitos humanos etc. A sociologia estuda os grupos sociais, a família, as populações, os Estados, as relações de poder, o conceito de conflito etc. Essas ciências não são ciências naturais, ciências dos fatos da natureza. São ciências humanas, porque o homem é estudado a partir do ponto de vista de sua condição humana. Nas ciências humanas, a condição especial do homem tem um destaque inexistente nas ciências naturais. Então, há uma primeira divisão possível entre as ciências: as naturais e as humanas. As ciências estão divididas em formais (lógica e matemática), ou factuais (naturais e sociais). Nas ciências naturais temos a física, química, biologia 35 e outras. Nas ciências sociais encontramos a antropologia cultural, direito, economia, política, psicologia, sociologia, etc. Contudo, tanto as ciências naturais como as humanas participam de uma propriedade fundamental. O conhecimento científico origina-se nos fatos reais, sejam da natureza, do homem, da sociedade, da mente etc. Que acontece, então, com a matemática? Se o conhecimento científicotem origem nos fatos, na realidade, seja natural ou social, como é que a matemática é uma ciência? A matemática não lida com objetos reais, nem com pessoas, nem com forças, nem com entidades sociais etc. ela é uma ferramenta importante em quase todas as ciências, mas seu objeto próprio, específico não tem nada a ver com os fatos. A matemática é considerada pela maioria dos cientistas como uma ciência. Porém, ela não depende da experiência. Um matemático não precisa fazer observações ou experimentos para justificar suas afirmações etc. A matemática é crítica, metódica e é sistemática. É seriamente estudada nos grandes centros de pesquisa, e seria impossível desenvolver a maior parte das ciências sem seu apoio. Isso foi causa de uma divisão, quase universalmente aceita, no conjunto das ciências: ciências abstratas ou formais e factuais. São abstratas ou formais porque os objetos com os quais trabalham não são entidades do mundo real, que possamos perceber através dos sentidos. Elas não trabalham com fatos. Trabalham com idéias. Por outro lado, mesmo que alguns cientistas façam experimentação, pelo menos, observam (por exemplo, a Astronomia). A necessidade de experiência, típica das ciências naturais e humanas, é responsável pelo fato de que essas ciências sejam às vezes também chamadas de “ciências empíricas”. É uma ciência dos fatos, ou, então, da experiência dos fatos. As ciências humanas também são ciências factuais, mas não se preocupam dos fenômenos puramente naturais. O interesse dominante são os fenômenos e atividades relacionadas com o homem, a cultura, a sociedade e os elementos que fazem parte da comunicação, como a linguagem. 36 Desde os antigos filósofos já havia a preocupação em estudar as organizações sociais. Apesar disso, é só no século passado que se começa a falar em “ciência do homem”, às vezes chamadas “ciência da cultura” e, em tempos mais recentes, “ciências sociais”. A maioria dos pensamentos sobre o homem, a história, a cultura e a sociedade eram de caráter exclusivamente filosófico ou religioso. É só depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que começam a aparecer as disciplinas que estudam o homem com as características que hoje reconhecemos às ciências. Disciplina como a sociologia ou psicologia só em tempos bastante próximos ganham crédito acadêmico e são lecionadas nas universidades. A divisão entre ciências naturais e humanas embora ambas sejam factuais, acontece devido as propriedades específicas de cada uma serem diferentes. O homem é um ser pensante e afetivo: ele tem uma forma “superior” de inteligência, tem emoções que influem em suas atividades e tem a capacidade de transformar o mundo. O homem não é um objeto passivo como as forças, a energia, a luz, as células, os planetas ou outras entidades que fazem parte das ciências naturais. Daí vemos que o homem e a sociedade não são mecanismos, e não seria correto tentar aplica-lhes exatamente as mesmas técnicas que usamos no estudo da natureza. A ciência moderna com seus quatros séculos de desenvolvimento, responsável pelo progresso material atingido pelas sociedades avançadas de hoje, não se mostrou capaz se exterminar as desigualdades sociais e os sofrimentos humanos delas decorrentes. Na maioria das vezes tem ela funcionado como instrumento do poder. Isto porque, sendo social, ela representa um processo social como tantos outros, sujeito às vicissitudes das formas de organização societária e aos percalços da influência dos produtores sobre o uso de seus produtos; apesar de seus ideais de neutralidade e objetividade, idéias que refletem a racionalidade do ser humano, a ciência esta presa à contradição de ser uma produção do homem, de sua grandeza e de suas misérias. 37 QUESTÕES PARA REFLEXÃO: 1. Estabeleça a diferença entre o conhecimento cientifico e outros tipos de conhecimento. 2. Quais as características do conhecimento científico? 3. Comente as diferenças entre ciências formais e as ciências factuais. 4. Como podemos classificar a Contabilidade no quadro das ciências? 38 6 - ANÁLISE QUANTITATIVA E ANALISE QUALITATIVA Introdução Chamamos análise quantitativa de uma pesquisa a que se baseia em mensurações e no cruzamento de dados estatísticos. Fazem parte dela os cálculos de média e proporções, a elaboração de índices e escalas. A análise quantitativa decorre de técnicas especificas de mensuração, como questionários com respostas de múltipla escolha. A análise qualitativa é a que utiliza mecanismos interpretativos e de descoberta de relações e significados. Os recursos disponíveis para esse tipo de análise são entrevistas, observações, questionários temáticos e abertos, interpretação de formas de expressão visual como fotografias e pinturas, e estudos de caso. A magia dos números e a profundidade dos depoimentos Já explicamos que a regularidade dos fenômenos sociais permite que eles sejam mensuráveis, isto é, que seja quantificável sua freqüência e até mesmo sua tendência de desenvolvimento ou de involução. Essas quantificações têm auxiliado muito os pesquisadores na elaboração de projeções fidedignas a respeito dos acontecimentos sociais. Dissemos também que os indicadores quantitativos, além de propiciarem mensurações e projeções, foram utilizados por parecerem aos olhos dos sociólogos do passado mais imparciais e menos suscetíveis de desvios resultantes do envolvimento do pesquisador com a realidade pesquisada. O que procuramos mostrar é que as análises quantitativas não possuem a fidedignidade nem a objetividade almejada. A escolha de qualquer indicador – quantificável ou não – obedece a critérios teóricos e a avaliações de caráter qualitativo. Uma simples análise estatística do número de assaltos em uma cidade, por exemplo, implica uma avaliação qualitativa a respeito da fonte de 39 dados e de seus critérios de registro. Poderão ser utilizadas informações existentes nas delegacias e em outras instituições publicas, assim como o pesquisador pode julgar importante pesquisar dados de primeira mão – aqueles coletados originalmente por ele – para detectar acontecimentos não registrados. A decisão de uso de uma fonte de dados é qualitativa e envolve uma profunda avaliação do pesquisador. As enquetes sobre agressão a mulheres , estupro e aborto raramente se baseiam nas estatísticas oficiais, pois se sabe que grande parte desses crimes não é denunciada, o que torna os dados existentes nas delegacias bastante frágeis na representatividade do fenômeno a ser estudado. É muito comum que as pesquisas se desenvolvam de maneira a integrar procedimentos quantitativos e qualitativos em diferentes etapas do trabalho. Podemos cruzar, no estudo da insegurança da população nas grandes cidades, os dados quantitativos regionais e as pesquisas qualitativas realizadas junto à população. Esse cruzamento poderá nos mostrar, por exemplo, se as regiões onde ocorrem mais assaltos são aquelas nas quais a população apresenta uma atitude mais temerosa e insegura. Os primeiros dados decorrem de análises quantitativas, os seguintes, de estudos qualitativos. Portanto os critérios que fazem um pesquisador optar por um procedimento estatístico ou um interpretativo não se baseiam nunca em uma questão de fidedignidade. Hoje os pesquisadores não almejam mais um distanciamento em relação ao objeto de estudo, ao contrario, reconhecem as vantagens do conhecimento profundo de uma realidade na identificação de suas características mais sutis. Por outro lado, sabemos que os dados quantitativos não estão isentos de formulações partidárias e ideológicas. Estamos conscientes do abuso no uso de cifras, taxas e índices em pesquisas e mesmo em reportagens jornalísticas. E graças ao poder alusivo desses indicadores, vivemos em meio a um discursoque lança mão, indevidamente, de seu poder persuasivo e demagógico. Muitos gráficos e tendências que pretendem exibir, por exemplo, desempenho econômico ou preferências eleitorais transformam-se em argumentos cujo objetivo é gerar o 40 comportamento que se deseja revelar e medir. Consciente disso, o próprio mundo publicitário utiliza essa linguagem em promoção de produtos e no estimulo ao consumo. RESUMINDO: • A analise quantitativa – visa a objetividade dos fatos, o controle, a precisão, possibilita análises estatísticas. Os elementos básicos da análise são os números, o pesquisador mantém distância do processo, independe do contexto, o raciocínio é lógico e dedutivo; • A análise qualitativa – compreende os aspectos subjetivos da realidade estudada, desenvolve a teoria, descoberta, descrição e interpretação. Os elementos básicos da análise são as palavras e idéias, o pesquisador participa do processo, depende do contexto, gera idéias e questões para pesquisa, o raciocínio é dialético e indutivo, descreve os significados e descobertas. (Adaptado de: COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. 2a. ed. São Paulo, Moderna, 2001). 41 7 - TÉCNICAS DE PESQUISA • ENTREVISTA • QUESTIONÁRIO • FORMULÁRIO 1. ENTREVISTA - é conversa orientada para um objetivo definido; - é recolher, através de interrogatórios do informante, dados para a pesquisa; - é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional; - é um procedimento utilizado na investigação social para a coleta de dados ou para ajudar no diagnostico ou no tratamento de um problema social. • Critérios para o preparo e a realização da entrevista 1. o entrevistador deve planejar a entrevista, delineando cuidadosamente o objetivo a ser alcançado; 2. obter, sempre que possível, algum conhecimento prévio acerca do entrevistado; 3. marcar com antecedência o local e horário para a entrevista; 4. criar condições, isto é, uma situação discreta para a entrevista; 5. escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou autoridade em relação ao assunto escolhido; 6. fazer uma lista das questões, destacando as mais importantes; 7. assegurar um numero suficiente de entrevistados, o que dependerá a viabilidade de informações a ser obtida. • Critérios pessoais do entrevistador - ser discreto - evitar ser importuno - deixar à vontade o informante - dirigir a entrevista e mantê-la dentre dos propósitos dos itens pré-estabelecidos - ser habilidoso e elegante -evitar que o diálogo se desvie dos propósitos de sua pesquisa - deve apenas coletar dados e não discuti-los com o entrevistado - falar pouco e ouvir muito - anotar cuidadosamente os informantes coletados 42 - obter e manter a confiança do entrevistado - dar e manter a confiança do entrevistado - dar o tempo necessário para que o entrevistado discorra satisfatoriamente sobre o assunto - dar prioridade as perguntas que tenham menores probabilidades de provocar recusa ou produzir qualquer forma de negativismo - uma pergunta após outra, a fim de não confundir o entrevistado. 2. QUESTIONÁRIO - é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma serie ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador; - é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor exatidão o que se deseja; - se respondido na ausência do entrevistador, deve ser acompanhado de instruções minuciosas e especificas. • Classificação das perguntas 1. Perguntas abertas - destinam-se a obter uma resposta livre - embora possibilitem recolher dados ou informações mais ricas e variadas, são codificadas e analisadas com maiores dificuldades. Ex.: Do que você gosta mais na cidade? 2. Perguntas fechadas - destinam-se a obter respostas mais precisas, padronizadas, de fácil aplicação, fáceis de codificar e analisar. Ex.: Seu nível de escolaridade é: ( ) ensino fundamental ( ) ensino médio ( ) ensino suprior 43 2. FORMULÁRIO - Instrumento essencial para a investigação social, cujo sistema de coleta de dados consiste em obter informações diretamente do entrevistado; - é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que são perguntadas e anotadas para um entrevistador numa situação face a face. • Qualidades 1. adaptação ao objetivo de investigação 2. adaptação aos meios que se possui para realizar o trabalho 3. precisão das informações em um grau de exatidão suficiente e satisfatório para o objetivo proposto. 44 8 - CITAÇÕES CITAÇÃO – é a inclusão no texto de informações extraídas de outras fontes. CITAÇÕES CURTAS – (até 4 linhas), entram no alinhamento normal do texto, entre aspas. CITAÇÕES LONGAS – (mais de quatro linhas), devem ser destacadas do parágrafo, com recuo. CITAÇÃO DIRETA – transcrição literal de um texto ou parte do texto de um autor, que conserva grafia, pontuação e língua originais. CITAÇÃO INDIRETA – texto redigido pelo autor do trabalho, mas que mantém fielmente a idéia original de outro autor. ELEMENTOS QUE PODEM CONSTAR NO TEXTO: • capa; • folha de rosto; • folha de avaliações; • dístico ou dedicatória; • agradecimentos; • sumario; • lista de tabelas ou ilustrações; • lista de siglas, abreviaturas e símbolos; • resumo/sinopse; • introdução; • corpo; • conclusão; • anexos/apêndice; • bibliografia; • folha em branco/contracapa. 45 9 - OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA CLÁSSICA O início da Idade Moderna registra um dos acontecimentos mais importantes da história do pensamento: a proclamação e a realização da autonomia da ciência em relação à filosofia e à teologia. Uma das conquistas mais significativas da Renascença foi a autonomia da filosofia em relação à teologia. Esta separação não era um fato isolado, mas parte de um movimento mais amplo que vinha promovendo a independência de todas as atividades humanas em relação à religião. Na Antiguidade e na Idade Media a pesquisa cientifica e a filosófica era uma coisa só; a filosofia era, de fato, não só a rainha das ciências, mas a ciência: ela abrangia, em conformidade com a distinção aristotélica, a matemática, a física e a metafísica. O mérito de ter assegurado à ciência plena autonomia tanto em relação à teologia como em relação à filosofia, dando à primeira um método e uma finalidade diversas aos das duas ultimas, compete a Bacon, Galileu e Descartes. Toda a filosofia moderna se caracteriza não apenas pela atitude critica mas também por soberana confiança no método. Francisco Bacon (1561-1626) nasceu em Londres, no seio de uma família que pertencia à alta burguesia. Com o apoio de pessoas importantes na época galgou os mais altos postos do governo. De 1621 em diante viveu retirado em sua propriedade, na qual faleceu. Bacon tinha projetado uma grande obra, que deveria ter como titulo Instauratio magna, uma enciclopédia de todas as ciências, para renovar completamente a pesquisa cientifica, colocando-a em base experimental. A obra devia constar de seis partes, mas ele conseguiu terminar somente a duas primeiras: o De dignitate et augmentis scientiaru e o Novum organon(novo instrumento). O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os avanços do pensamento cientifico. Para Bacon, por exemplo, a teologia deixaria de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade, que exatamente 46 constituía um dos alicerces da teologia, deveria em sua opinião, ceder lugar a uma duvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. Para ele o novo método de conhecimento, baseado na observação e na experimentação, ampliaria infinitamente o poder dohomem e deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. O cientista, por meio da experiência, deve recolher informações suficiente (o material) e, depois, mediante suas faculdades espirituais (a razão), deve procurar elaborar noções gerais e leis universais. Bacon divide as ciências em três grupos: as que se baseiam na memória (historia natural e civil); as que se baseiam na fantasia (poesia em suas varias formas); as que se baseiam na razão (filosofia e ciências experimentais). O fim da ciência, segundo Bacon, é prático e não especulativo. A ciência deve ajudar o homem a adquirir um controle mais perfeito sobre a natureza. O objeto da ciência é a causa das coisas naturais. Bacon faz o seu principio: saber verdadeiramente é saber pelas causas. Não se pode, contudo, fazer uso do método indutivo enquanto a mente estiver entulhada de preconceito e erros. É necessário, portanto, antes de se começar a pesquisa cientifica, reduzir a mente a uma tábula rasa, eliminando-se todos os preconceitos. Sobre as varias fases do método indutivo, começa com a coleta e a descrição do material. Para isso serve as tábuas, que são coordenações das instâncias, isto é, das vezes que um fato se repete. Recolhido material suficiente, pode-se formular uma primeira hipótese a respeito, da natureza do fenômeno estudado. É uma hipótese provisória, que guia o desenvolvimento ulterior da pesquisa. A indução deverá proceder pondo à prova a hipótese formada em sucessivos experimentos, que Bacon chama de instâncias prerrogativas ate conhecer a causa verdadeira do fenômeno. Bacon tem o grande mérito de ter sido o primeiro a por-se de modo sistemático o problema do método próprio das ciências experimentais, do seu objeto e do seu fim. 47 O seu método, apesar de ainda muito imperfeito nos pormenores (por exemplo, insiste muito na fase inicial, isto é, na da coleta do material), corresponde, em substância, às exigências das ciências experimentais, que têm na experiência seu ponto de partida e de chegada. Quanto ao fim da ciência, Bacon observa, com razão, que ele consiste em estudar a natureza não para contemplá-la, mas para modificá-la e torná-la útil ao homem. A ciência deve servir ao progresso da civilização, não a discussões estéreis. Com René Descartes a filosofia registra uma reviravolta decisiva, recebendo uma colocação nova, substancialmente diferente da que tivera na Antiguidade e na Idade Media. A sua orientação era então essencialmente ontológica, tem do como objetivo constante e primário a investigação da razão ultima das coisas (do homem, do mundo, de Deus). Com Descartes a filosofia recebe uma colocação critica e gnosiológica: o que quer verificar em primeiro lugar do conhecimento humano. Descartes (1596-1650) que é considerado “o pai da filosofia moderna”, nasceu na província da Turena (França), de família bem-estabelecida, filho de joachim conselheiro no Parlamento da Bretanha e Jeanne, a mãe, morrendo em 1597. Sendo, Descartes, criado pela avó e a ama-de-leite. O jovem Descartes estuda línguas e textos antigos, Historia, Poesia, Arte da eloqüência, do mesmo modo que Teologia e Filosofia – sobretudo a Filosofia aristotélica talo qual a interpretou São Tomas de Aquino. “O Discurso do Método” é uma obra na qual Descartes trata da racionalidade no método cientifico experimental. Descartes foi o primeiro pensador a desenvolver um “método” para a ciência de forma geral, pratico e objetivo. Dessa maneira, podemos ver que o “Discurso do método” marcou a época em virtude de seu tom inovador. Descartes exigia para si, em primeiro lugar, esta certeza absoluta. No seu entender, apenas Deus é infinito e perfeito. O homem, por sua vez, é um ser imperfeito. Em outras palavras, Descartes sugere que a metafísica crie a ciência. 48 Sabemos que, em ultima analise, os métodos possíveis são dois: o indutivo e o dedutivo. O primeira parte da experiência, o segundo de princípios universais. Segundo LAKATOS (1991, p. 47), “a indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientes constatados, infere-se uma verdade geral ou universal”, sendo o método dedutivo o contrario, ou seja, parte-se dos dados gerais. Na opinião de Descartes, somente o segundo pode levar-nos aos progressos do saber e à descoberta da verdade. De acordo com MONDIN (1982, p. 66-67) as regras fundamentais do seu método são quatro: • Primeira regra: “Não incluir nos meus juízos nada alem daquilo que se apresenta à minha inteligência tão clara e distintamente que exclua qualquer possibilidade de duvida”. • Segunda regra: “Dividir todo problema que se tem de estudar em tantas partes menores quanto forem possível e necessárias para melhor resolvê-los”. • Terceira regra: “Conduzir meus pensamentos com ordem, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, ao conhecimento dos mais complexos, e supondo uma ordem também entre aqueles dos quais uns não procedem naturalmente dos outros”. • Quarta regra: “Fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que tenha a segurança de não ter omitido nada”. Estas regras, às quais Descartes não dá nenhuma denominação especifica, costumam ser designadas pelos estudiosos como intuição, analise, síntese e enumeração. É a regra da intuição que Descartes enuncia seu celebre critério da verdade: o da clareza e da distinção. Clara é uma percepção que está presente e é aberta à mente atenta; do mesmo modo dizemos que vemos com clareza quando as coisas, presentes ao nosso olho, nos movem forte e abertamente. 49 Distinta é aquela percepção que, sendo clara, é tão disjunta e separada de todas as outras que não contem em si nada alem do que é claro. Vico em sua critica ao método cartesiano, observou por exemplo, que a clareza e a distinção são propriedades mais do sujeito do que do objeto, não constituindo por isso nenhuma garantia de conhecimento verdadeiro. Pascal, por sua vez, notou que a clareza e a distinção são propriedades de matemática e da geometria e censurou Descartes por tê-las transferida para outros campos do saber. Na verdade, Descartes foi vitima das duas disciplinas citadas, às quais ele mais se comprazia e se enganou pensando que poderia obter resultados semelhantes na filosofia. A segunda regra, a da analise, torna possível a intuição das idéias simples. A originalidade de Descartes consiste em ter atribuído grande importância à analise com a finalidade de preparar o terreno para a síntese e a dedução. A duvida metódica, que é um dos pontos mais originais do pensamento cartesiano, é também um momento essencial da analise. O erro fundamental de Descartes, erro que Pascal e Vico não tardaram a mostrar, consiste na supervalorização do racional, na idolatria da razão, elevada à categoria de medida de todas as coisas. As duas ultimas regras dizem respeito aos momentos mais importantes da dedução: a síntese torna possível a enumeração completa de idéias complexas. Por outro lado, Isaac Newton (1642-1727) identificou o principio da gravidade universal e fundamentou seus estudos na idéia de que o Universo é governado por leis físicas e não dependente de interferência de cunho divino. Igualmente a Descartes, para explicar os fenômenos naturais, substituiu a religião pela ciência e a revelação milagrosa pela observação e experimentação consolidando o racionalismo. O primeiro e o segundo livros de Newton constituem um tratado de mecânica e estuda os movimentos retilíneos e curvilíneos dos corpos esféricos e não esféricos, dos projetos, dos pêndulos, dos líquidos. O terceiro livro da força da gravidade, pelas quais os corpos tendem para o sol e os respectivos planetas, etc. 50 Deste sistema de Newton faz parte, a existência de Deus como condição da existência da estrutura
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