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Caderno_de_METODOLOGIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE PALMAS 
CURSOS DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS 
 
 
 
 
 
METODOLOGIA CIENTÍFICA 
 
 
 
 
 
 
Prof. Dr. JOSÉ VANDILO DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
PALMAS – TO. 
 
 2 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
• Apresentação ..............................................................................................03 
• Plano de curso.............................................................................................04 
1 – Educação pela pesquisa...................................................................................06 
2 – Estudando metodologia científica.....................................................................21 
3 - Os níveis e tipos de pesquisa científica............................................................23 
4 - Enquadramento da Contabilidade no âmbito da ciência...................................26 
5 - Algumas formas do conhecimento e a ciência..................................................31 
6 - Análise quantitativa e análise qualitativa..........,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.............................37 
7 - Técnicas de pesquisa.......................................................................................40 
8 - Citações............................................................................................................43 
9 - Os paradigmas da ciência clássica...................................................................44 
10 - O método científico.........................................................................................52 
11 - Texto complementar........................................................................................57 
12 - O projeto de pesquisa.....................................................................................59 
13 - Atividades........................................................................................................62 
• Anexos 
 3 
APRESENTAÇÃO 
 
 
“Imaginar um mundo melhor é um sonho, 
colocar isso no papel é um projeto”. 
Laura Apostólico 
 
 
Prezado (a) acadêmico (a) 
 
Esta apostila surgiu da necessidade de um material básico para se 
trabalhar em sala de aula no qual o aluno encontre o conteúdo numa linguagem 
simples e de fácil compreensão, auxiliando-o na discussão das questões 
pertinentes à metodologia científica. 
Primeiramente, encontramos um texto sobre a importância da pesquisa na 
universidade tanto por parte dos alunos como dos professores, depois 
apresentamos os conceitos de metodologia, conhecimento, os tipos de 
conhecimentos destacando o conhecimento científico, tendo em vista a sua 
importância especial para a construção do saber na academia. 
Em seguida, abordamos os vários tipos de produção cientifica, tais como: 
artigos, resenhas, relatórios, fichas e resumos, como também o enquadramento 
da Contabilidade no âmbito da ciência. 
Por último, serão apresentadas as normas da ABNT - imprescindíveis a 
construção de um texto científico - os tipos de pesquisa e as etapas de um projeto 
de pesquisa. 
Os conceitos fundamentais da metodologia serão tratados de acordo com 
a realidade do curso, direcionando para a especificidade da pesquisa em cada 
campo de estudo. 
Espero que o aluno consiga aproveitar este material como fonte de 
pesquisa e análise, e a partir dele aprofunde seus conhecimentos com 
tranqüilidade e segurança. 
 
 4 
PLANO DE CURSO 
 
 
 
1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO 
Instituição: Universidade Federal do Tocantins 
Curso: Ciências Contábeis 
Disciplina: Metodologia Aplicada a Contabilidade Professor: José Vandilo dos Santos1 
Código: CON205N Carga Horária: 60 Créditos: 04 
Pré-requisito(s): - 
Período/Turno: 2º - Noturno Ano: 2016/1 
 
 
2. EMENTA 
 
O conhecimento e seus níveis; O conhecimento científico: conceitos, e classificação; 
Ciência: conceitos, visão histórica e divisão da ciência; Método Científico: indução, 
dedução, hipotético-dedutivo; Pesquisa: conceitos, tipos de pesquisa e resultados de 
pesquisa; Redação científica: linguagem científica; Atividades Técnicas e Científicas: 
seminário; painel; congresso; palestra ou conferência, simpósio, fóruns, mesa-
redonda; Trabalhos Técnicos e Científicos: artigos de periódicos, comunicações 
científicas, memorial descritivo, relatórios, resenhas, papers e positions papers; 
Trabalho de Conclusão de Curso: monografia, dissertação e tese; Técnicas para 
apresentar trabalhos acadêmicos; Elaborando Referências: citações, ilustrações, 
tabelas, referências, notas de roda-pé; Coleta, Análise e Interpretação de Dados: 
população ou universo, amostra, instrumentos de pesquisa, análise e interpretação 
dos dados; Projeto de pesquisa: estrutura, elaboração e análise; Monografia: 
conceito, estrutura (elementos pré-textual, textual e pós textual), formatação e 
elaboração; Relatório de Pesquisa: estrutura, elaboração e análise; Fontes de 
pesquisa aplicadas à Contabilidade: Internet, Bibliotecas virtuais, Revistas científicas; 
Normas Técnicas: NBR 6023, NBR 10520, NBR 14724. 
 
 
 
3. OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA 
- Propiciar aos estudantes a oportunidade de discutir e conhecer as normas e 
técnicas de pesquisas para que possam adquirir condições objetivas para a 
realização de um trabalho científico. 
 
4. OBJETIVO(S) ESPECÍFICO(S) DA DISCIPLINA 
 
1 Doutor em História Social (UFRJ - 2011), Mestre em Sociologia (UFPB - 1998), Bacharel em Antropologia 
(UFPB - 1993) e Licenciado em Ciências Sociais (UFPB - 1988). 
 
- Entender como é construído o conhecimento cientifico; 
- Analisar a contabilidade dentro do quadro das ciências; 
- Identificar as técnicas específicas para cada tipo de trabalho científico. 
 5 
 
5. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
 
1. Conceitos fundamentais sobre método e metodologia 
1.1 - Conhecimento científico e outras formas de conhecimento; 
1.2 - Conceito, classificação e divisão da ciência; 
1.3 O enquadramento da Contabilidade no quadro das ciências; 
1.4 - Métodos científicos 
1.5 - Educação pela pesquisa. 
 
 2. Procedimentos técnicos e didáticos 
2.1 - Técnicas de estudo e apresentação de trabalhos; 
2.2 - Diretrizes para realização de um seminário; 
2.3 - Normas técnicas da ABNT; 
2.4 – Tipos de pesquisa: análise quantitativa e qualitativa; 
2.5 – As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão. 
 
3. Trabalhos científicos 
3.1 - Fichamento, resumo, artigo, papper, resenha, relatório e ensaio científico; 
3.2 - Monografia, dissertação e tese. 
 
4. Projeto de pesquisa 
4.1 - Os tipos de projetos – Intervenção e pesquisa; 
4.2 - Formulação de problemas, objetivos e hipóteses; 
4.3 - Coleta, análise e interpretação de dados; 
4.4 – Escolha do tema. 
 
5. Temas de seminários 
1. O desenvolvimento da ciência contábil 
2. Ambiente histórico: influências e perspectivas para o desenvolvimento da ciência contábil 
3. A contabilidade como ciência 
4. Aprendendo a ser pesquisador 
5. A amostragem em contabilidade 
6. Usando recursos básicos de microinformática na pesquisa em contabilidade 
7. O que é plágio? 
8. Por que acontece plágio? 
9. Como o plágio pode ser evitado? 
10. Nem tudo é plágio 
 
6. Filmografia 
– Narradores de Javé 
– Oléo de Lourenzo 
– Trabalhando com projetos 
– Alexandria 
– O Nome da Rosa 
– Em nome de Deus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 6 
6. METODOLOGIA DO TRABALHO 
 
 
- Os conteúdos serão ministrados através de aulas expositivas e de leituras, trabalhos de 
grupos e dinâmicas interacionais. 
 
 
 
 
7. SISTEMA DE AVALIAÇÃO 
 
– Serão objetos de avaliação as atividades de produção textual, participação em debates, provas 
escritas, além das habilidades, dos conhecimentos e atitudes desenvolvidas pelos acadêmicos 
de acordo com os objetivos da disciplina. 
 
 
8. ATENDIMENTO EXTRACLASSE 
 
- As quartas-feiras das 19:00 as 22:00h – Disponível para tirar dúvidas e orientação. 
 
 
9. BIBLIOGRAFIA 
 
9.1 Básica 
 
 
BEUREN, Ilse Maria (Org) et al. Como elaborartrabalhos monográficos em contabilidade: 
teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2004. 
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. 
SILVA, Antonio Carlos Ribeiro da. Metodologia da pesquisa aplicada à contabilidade. São 
Paulo: Atlas, 2003. 
 
 
9.2 Complementar 
 
 
FILHO, Geraldo Inácio. A monografia nos cursos de graduação. 3.ed. Uberlânia-MG:EDUFU, 
2003. 
GIL, Antontio Carlos. Como elaborar Projetos de Pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2006. 
KROKOSCZ, Marcelo. Autoria e plágio. São Paulo: Atlas, 2012. 
MARION, José Carlos; DIAS, Reinaldo; TRALDI, Maria Cristina. Monografia para os cursos de 
administração, contabilidade e economia. São Paulo: Atlas, 2002. 
MARTINS Jr, Joaquim. Como escrever trabalhos de conclusão de curso. 7. Ed. Petrópolis-RJ: 
Vozes, 2013. 
OLIVEIRA, Antonio Benedito Silva. Métodos da Pesquisa Contábil. São Paulo: Atlas, 2011. 
SANTOS, J. Vandilo. Caderno de Metodologia. Palmas: UFT, 2010.(Disponível no moodle) 
______. Memoria e identidade. Curitiba: Appris, 2015. 
SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. Ed. São Paulo: Cortez, 
2007. 
 
 
 7 
1. Educação pela pesquisa 
 
Domingos Sávio Cordeiro2 
 
Ninguém pode indagar aquilo que sabe, nem o 
que não sabe; por que não investigaria o que 
sabe, pois já o sabe, nem o que não sabe, pois 
nem ao menos saberia o que deve indagar. 
Zenon de Élea por Platão 
 
 
1.1 - Eficiência nos estudos do aluno pesquisador 
O aluno recém-chegado na universidade se depara com uma realidade 
completamente nova. Diferentemente dos cursos de 1º e 2º graus, aos quais ele 
estivera acostumado. Nessa nova etapa de formação não existe a rigidez de 
horários ou a preocupação dos professores em que os alunos que sentem mais 
dificuldade de assimilação acompanhem o repasse de conteúdos. 
A liberdade oferecida pelos cursos de nível superior, muitas vezes é mal 
interpretada pelo aluno calouro. Chegar ao final da aula apenas para “dar 
presença”, deixar que os companheiros “mais interessados” desenvolvam os 
trabalhos de grupo são atitudes comuns dos estudantes, mas revelam com clareza 
o extremo despreparo com que esses enfrentam a universidade. 
Segundo Galliano (1986: 51), o nível de despreparo moral e intelectual de 
estudantes ao ingressar na universidade é o maior fator de desestimulo e inibição 
para muitos deles, inclusive é uma das maiores causas de desistência. Embora 
seja um fator relevante, a utilização do método correto de estudo é um problema 
cuja solução cabe exclusivamente a quem estuda. Seria bastante oportuno que tal 
metodologia fosse conhecida pelo estudante já nos primeiros anos de estudo 
primário, o que poderia favorecer o aprendizado e a assimilação mais satisfatória 
de conteúdos. 
Cada etapa de aprendizado constitui uma parte do esboço do profissional 
que o aluno será no futuro, ao concluir o curso. Dessa forma, alunos 
despreocupados e desinteressados dão lugar a profissionais vazios de 
conteúdo e de ação, inadequados ao mercado de trabalho por se fazerem 
 
2 Professor do curso de Ciências Sociais na URCA – Universidade Regional do Cariri – Crato-Ce., 1999. 
 8 
incompetentes. O desenvolvimento do aprendizado dentro da universidade vai 
além da assistência de aulas e do estudo para obter aprovação. A realização de 
atividades práticas como a pesquisa e o aprofundamento da leitura são também 
fatores que garantem o adequado aproveitamento do tempo dedicado à 
universidade. Encarar o Curso como instrumento insubstituível para a 
formação profissional, com rigor e disciplina é condição sine qua non para 
garantir o sucesso. 
Para quem se aventura nos caminhos do conhecimento porém, nunca é 
tarde para utilizar uma metodologia eficiente no estudo e proporcionar a absorção 
adequada e necessária de conteúdos. A força de vontade e a autodisciplina são 
fundamentais nesse processo. 
O rendimento das horas dedicadas ao estudo depende fundamentalmente 
do método utilizado para estudar. Métodos que apresentam-se eficientes para 
algumas disciplinas, nem sempre mostram os mesmos resultados em 
qualquer área. Dessa forma, existem, de fato, métodos adequados para o 
desenvolvimento do estudo de acordo com a matéria. A aplicação sistemática do 
método correto é que vai garantir o bom aproveitamento do estudo. 
O primeiro ponto a ser levantado é a disponibilidade de tempo para o 
estudo. Diante da correria do dia-a-dia, são comuns as reclamações sobre falta de 
tempo para o desenvolvimento de atividade como: leitura, resumos, trabalhos 
extra-classe; embora possa surpreender, é comum também a constatação de 
desperdício de tempo. 
Convém ao aluno observar, no desenrolar do dia, períodos de tempo 
intercalados entre atividades que possam ser utilizados para esse fim, por 
menores que sejam esses intervalos. 
A melhor forma de se descobrir onde está o tempo perdido é listando as 
atividades desenvolvidas durante a semana. É importante mencionar na lista todas 
as atividades com horário de inicio e de término de cada uma delas, sem esquecer 
horário dispensado para refeições, higiene, lazer, locomoção ao trabalho, etc. 
Diante desse relatório, será possível encontrar alguns minutos entre atividades 
que se adéqüem ao estudo e ainda, descobrir que algumas atividades não 
 9 
essenciais podem ser substituídas com fins de disponibilizar mais tempo para as 
atividades acadêmicas. 
O segundo ponto relevante se concentra no aproveitamento das aulas. 
Embora muitos alunos menosprezem os períodos em sala de aula, ou seja, não 
valorizam o papel do professor, convém ressaltar que é dentro da classe, no 
contato com colegas e professores que se procede a aprendizagem sistemática. O 
professor com sua metodologia de ensino, expressa em aulas cuidadosamente 
preparadas, e os colegas de sala com os questionamentos paralelos entre si, 
proporcionam a troca de idéias inteligentes essenciais para o enriquecimento 
intelectual do aluno. Não basta, porém, estar na sala ouvindo a explanação do 
professor, é necessário estar concentrado, ouvir atentamente os discursos e 
levantar questões, participando ativamente. Após o termino da aula, uma 
simples revisão do conteúdo através da leitura de anotações e procurando 
respostas para as dúvidas que permanecerem, pode garantir uma absorção mais 
completa, evitando o acúmulo de perguntas e a conseqüente perda do fio da 
meada. Posteriormente é produtivo elaborar uma síntese como reconstrução do 
conhecimento abordado. 
Segundo Morgan e Deese (apud Galliano, 1986: 66), existe um método 
simples, apresentado através de uma formula que tem se mostrado como pratica 
de promover melhor aproveitamento no estudo e se resume em: 
Examinar = PL2R 
Em que, P = perguntar; L = ler; e 2R = repetir e rever. 
 Assim, diante de um livro por exemplo, a varredura mental em busca de 
informações já detidas sobre o assunto abordado na obra em forma de 
questionamento prévio a leitura (perguntar), se constitui por si só já um estudo. O 
segundo passo é a leitura rápida (ler), procurando captar a essência da obra, a 
idéia geral do autor. Uma nova reflexão deve ser feita no sentido de tentar cruzar a 
idéia do autor com aquilo que já se sabia sobre o assunto. Nesse estagio já é 
possível identificar o que pode ser aprendido como o estudo daquela obra. É o 
aprofundamento, pois, de retornar a leitura (repetir), agora de forma mais 
aprofundada e detalhada, identificando as partes mais importantes (inclusive 
 10 
marcando-as) de forma a encontrar a linha de raciocínio do autor. Sempre que for 
necessário, o aluno deve interromper a leitura e desenvolver considerações 
próprias questionando mentalmente as idéias e marcando de forma diferenciada 
trechos que gerem dúvidas ou que se confrontem com o pensamento do leitor. O 
fim do processo de leitura se dará quando não mais houver mais duvidasquanto 
ao conteúdo da obra e quando for possível esboçar um resumo com as próprias 
palavras (rever). 
Caso a obra apresente-se útil às necessidades do aluno, o procedimento de 
arquivamento de conteúdo através de fichas permite que se utilize esse estudo de 
forma mais eficiente e prática mais tarde. A confecção de um arquivo de leitura é 
muito importante para evitar perda de tempo ao fazer referenciamentos e por 
promover o desenvolvimento da objetividade, já que na confecção das fichas 
clareza e concisão são requisitos indispensáveis. 
Para reforçar o aprendizado convém discutir com outras pessoas 
sobre o assunto abordado no livro. A troca de idéias é proveitosa e suscita 
novos aspectos intrínsecos à percepção e à formação cultural de cada leitor. 
É importante que o leitor observe a si mesmo, como se expressa, com que 
tipo de conotações verbaliza o aprendizado. Deve-se lembrar que a meta final é a 
assimilação, a capacidade de compreender as colocações do autor e aprender a 
relacioná-las a outros assuntos, bem como, e principalmente, formar, através da 
fundamentação literária, o desenvolvimento das próprias idéias. 
 
1.2 - O professor pesquisador 
 
Para entendermos a importância da pesquisa científica na sociedade é 
necessário entender o papel do professor universitário na comunidade que ele 
está inserido. 
A universidade existe para produzir e transmitir conhecimentos, seu papel 
maior é contribuir para o desenvolvimento do país, através da aplicabilidade das 
pesquisas ali produzidas na solução de problemas sociais e para o progresso da 
 11 
ciência. Há bastante tempo, o fluxo de riquezas entre as nações baseia-se na 
capacidade científica da sua população. 
Falar do Japão ou Alemanha no pós-guerra é demasiado óbvio. Países 
para lá de arrasados que buscaram seu soerguimento via educação. Com visões 
de futuro melhor, chegaram ao patamar de desenvolvimento tecnológico e 
qualidade de vida se encontram atualmente. 
Então, pode-se situar nesse processo a “educação primaria”, constituída de 
ensino infantil e ensino fundamental e a educação científica a partir da graduação 
e a pós. No ensino científico, todos os professores deveriam, eticamente falando, 
ser pesquisadores, pois só tem algo a ensinar quem desenvolveu 
conhecimento próprio, novo (DEMO, 1999). Senão, não passa de um 
reprodutor de idéias e fórmulas alheias. Para fazer reproduções, os meios de 
comunicação fazem melhor que qualquer um. 
Por que então a pesquisa é tão essencial? 
Simplesmente porque só a pesquisa científica tem condições de criar 
soluções tecnológicas e sociais para as necessidades humanas. Como tecnologia 
parece não ser o maior problema em termos de Brasil, a carência se volta para 
atitudes políticas que solucionem os graves problemas sociais. Só a pesquisa 
social pode, efetivamente, elaborar teorias que transformem a sociedade, que 
modifiquem as baixas condições de sobrevivência da maioria da população e 
promova uma democracia econômica. 
Refere-se aqui à pesquisa com compromisso político enquanto instrumento 
criador e transformador, desenvolvida por pessoas engajadas no processo de 
intervenção social. 
Diferentemente dos países centrais (desenvolvidos), onde as empresas 
financiam pesquisas universitárias; a universidade privada brasileira restringe-se 
às horas-aula, venda de conhecimento, enquanto à universidade pública cabe o 
compromisso com a pesquisa. 
Como fazer pesquisa se as universidades públicas estão praticamente 
falidas? 
 12 
Cabe a comunidade universitária recuperar o papel da pesquisa. No caso 
dos professores isso significa ir além de lutar por melhores salários e resistir ao 
sucateamento, pressupõe buscar a realização de pesquisas formais através de 
novos caminhos de captação de recursos públicos e novas parcerias, assim como 
desenvolver a pesquisa como atividade cotidiana pela qual descobrimos a 
realidade e criamos formas de compreender a dinâmica social, elaborar 
experiências e transmiti-las. 
 É possível a instauração de um projeto político que valorize a pesquisa 
como condição de transformações sociais. A exemplo de conquistas em políticas 
públicas, o Estado de São Paulo é um modelo. Lá, por lei um percentual razoável 
da receita tributária é destinada à pesquisa. 
O professor pesquisador, entretanto, pode e deve ir bem mais longe do que 
lhe é esperado pelas expectativas formais. Em sua didática é possível estabelecer 
uma atitude de pesquisa com fins de desenvolver nos alunos uma nova forma de 
dialogar com a realidade. 
 
1.3- Didática reconstrutiva 
 
A inclusão de uma didática neste texto de pesquisa justifica-se na proposta 
de educação pela pesquisa e está intimamente ligada à possibilidade de educação 
crítica, criativa e aberta que, possivelmente, não existiria fora da pesquisa; assim 
como a dimensão pesquisa está tão intrinsecamente ligada à finalidade social da 
ciência, que não se conceberia a sua existência dissociada daquela. A educação 
pela pesquisa pressupõe uma atitude de indagação diante a vida que passa pela 
didática em sala de aula. 
Partindo do principio que professores podem e devem se tornar 
pesquisadores, a pesquisa cientifica seria desenvolvida através da utilização de 
recursos de liberação da criatividade e formas emancipatórias de relacionamentos 
com os educandos. 
 13 
No estudo da metodologia de pesquisa cientifica há uma dinâmica entre 
normas e conteúdos. Nos currículos universitários, tende-se preferencialmente a 
enfocar as normas técnicas e os procedimentos de organização de pesquisas. 
A questão é que o predomínio da técnica não traduz qualidade. A ênfase na 
técnica geralmente resulta em trabalhos medíocres porque é responsável 
justamente por apenas um dos aspectos da produção científica. 
O processo de fazer ciência é composto de duas partes opostas e 
complementares numa relação dialética. Como uma moeda com um dos lados 
voltados para a organização e o outro para a criatividade. 
A criatividade é o conteúdo, do qual também faz parte a descoberta de 
alternativas por meios criativos. A contribuição do pesquisador é a “coisa viva”, por 
mais elementar que seja, fundamental para o progresso da ciência na sua área de 
estudo. 
É óbvio que criatividade sozinha também não resulta em trabalho algum. O 
corpo, a lógica e a coerência indispensáveis, só são alcançados pela técnica e 
organização normalizadas. A ciência é também uma arte, como arte é preciso 
conhecer a base técnica, mas não se pode colocar a técnica acima da arte. 
Nesse sentido, podemos dizer que “a criatividade é livre, as técnicas são 
rígidas”. Porém, ao mesmo tempo em que elas se opõem, uma não funciona sem 
a outra (CORDEIRO, 1998, passim). 
Comumente, apresentam-se relatórios de pesquisa apenas normalizados, 
às vezes reduzidos a apresentação superficial de provas com recursos ilustrativos, 
como fotos, gráficos e tabelas, e ausência significativa de um texto desenvolvido 
sobre o objeto pesquisado, o método e a discussão dos resultados alcançados. 
Trabalhos, quase sempre, desnecessariamente produzidos, floreados e 
repetitivos. 
No sentido de se pensar em produção científica nova, onde cada um é 
capaz de realizar conhecimento útil e se realizar nessa atividade, afirma-se que 
descobrir consiste em olhar para o que todo mundo está vendo e pensar 
algo diferente. 
 14 
Para se pensar a pesquisa como atitude cotidiana em educação, fruto de 
comportamento curioso e livre dos alunos, e de abertura e criatividade dos 
mestres, é necessária uma expectativa e um estímulo constante para o 
questionamento dos saberes estabelecidos. Refletidos em nova motivação por 
parte daqueles que não mais querem apenas “dar aulas”, e no desejo de sair da 
acomodação daqueles que devem deixar de ser meros objetos de ensino, 
receptáculos de conteúdos prontos. É premente se possuir uma nova visão de 
pesquisa cientifica. 
Essa liberaçãoparte da compreensão que o que realmente interessa é a 
pesquisa. Esta é a maior finalidade da ciência, onde o aluno-mestre pesquisador 
reveste-se de uma disposição intelectual ao inédito, inicia uma abertura mental ao 
imprevisível, uma susceptibilidade às idéias ousadas e que possam contribuir à 
realização de novos inventos e descobertas. 
A principal característica das pessoas pesquisadoras é a curiosidade. 
São pessoas interessantes porque se interessam por tudo. Sabem que as 
novas idéias são resultado de muitas informações, sem fronteiras de assunto ou 
áreas delimitadas. 
Ninguém desenvolve pesquisas e pensa criativamente a partir do nada. O 
pensamento tem que ser alimentado com conhecimento, informações, 
experiências, relacionamentos e impressões. 
A atitude de pesquisar supõe uma expectativa, que leva a procurar idéias, a 
manipular conhecimento e experiência. Ao adotar uma perspectiva de pesquisa 
acontece uma abertura para mais possibilidades, como também para a mudança 
(OECH, 1996: 18). 
É importante observar que o relatório, enquanto forma de comunicação 
através do método de exposição e organização de resultados de pesquisas, tem 
seu papel indispensável na comunidade científica. Sem organização, é muito fácil 
perder trabalho em indefinições e não conseguir realizar nada útil, nem apresentar 
nada lógico. A proposta aqui é exercitar a ampliação de horizontes e 
estabelecimento de comportamento crítico, que busca o bom senso, além da 
participação ativa na sociedade. 
 15 
Seguramente aos alunos-mestres não cabem possibilidades de pesquisas 
ilimitadas. Há carência: de material, de profissionais dispostos a colaborar, de 
recursos de informática; sobretudo, carece-se de dinheiro e tempo. Contudo, é no 
reconhecimento dos limites impostos que reside a possibilidade de ação através 
da criação científica em alternativas de pesquisa. 
 
O cientista criativo é tanto capaz de fazer um trabalho 
como manda o figurino, formal, dentro da ordenação 
prevista, como é capaz de começar pelo fim, de não 
citar ninguém, de afirmar o contrario do que todo mundo 
espera, de buscar espaços ilógicos para a invenção etc. 
(DEMO, 1983, p. 22). 
 
Essa contribuição produtiva, como toda arte, exige um esforço prévio na 
busca e aquisição de conhecimentos fertilizantes à invenção e criação de 
alternativas. O essencial é que se produza algo novo, ainda que seja uma 
interpretação e reconstrução do que havia sido formulado anteriormente por 
autores – na pesquisa teórica, que contribua com o progresso da ciência, e que 
preferencialmente seja útil, no sentido de buscar melhorias de condição de vida e 
trabalho para a população em geral. 
Pedro Demo ressalta que no momento em que se inicia uma pesquisa 
científica a sensação (normal) da primeira impressão é de perplexidade. 
 
Não sabemos por onde começar, sobretudo se nunca 
nos tínhamos metido no assunto. Todavia é uma 
situação normal de que se julga pesquisador e não 
detentor de saber evidente e prévio. Pesquisador é 
alguém que se propõe a descobrir a realidade, supondo 
que nunca a sabemos satisfatoriamente, sempre há o 
que descobrir... (1983: 49-50) 
 
Pesquisar nessa perspectiva significa aprender a aprender. E o 
aprender aqui, refere-se ao aprendizado do mundo numa atitude de adestramento 
(FREIRE, 1982: 9-10). Esse sentido de aprendizagem difere do ensino formal na 
escola que é, basicamente, conceitual. 
 16 
Aprender criativamente implica usar toda atenção no momento presente, 
mantendo em perspectiva, ancorado, o tema de pesquisa. 
Pense num bebê de oito meses. Para ele tudo é motivo de curiosidade, é 
interessante e atrativo. Agora imagine alguém meditando, assistindo a vida numa 
postura igual, de total receptividade. São esses dois tipos de comportamento que 
se precisa praticar para germinar idéias e descobrir novos caminhos de atuação e 
reflexão: curiosidade e receptividade. 
Deve-se estar relaxado, receptivo, perceptivo como uma criança brincando. 
Quando se brinca, não existe perde/ganha. Mesmo perdendo, se ganha sem 
aprendizado. O erro não origina castigo, mas conhecimento. 
Nessa perspectiva, mantém-se a busca de respostas, sem compromisso de 
acertar. O momento é de preparação para o desabrochar de idéias que acontece 
em momentos distintos do processo criativo da pesquisa. 
Para conceber algo novo, é necessário que se parta de conhecimentos 
formulados anteriormente, busca-se uma grande quantidade de informações com 
uma lembrança presente do problema que se está enfocando. Normalmente, as 
idéias surgidas serão insights (relâmpagos) decorrentes da combinação 
modificada das outras idéias. 
 
 
- Fases do ato criativo: 
 
 1ª Fase Germinativa 
 
- Definição do problema; 
- Busca de informações pertinentes e afins; 
- Incubação: tempo necessário para que se possa digerir e combinar os 
dados livremente; 
- Iluminação (insight): surgimento de novas idéias, geralmente caóticas. 
 
 
 17 
2ª Fase Prática 
 
- Seleção; 
- Crítica; 
- Adequação e elaboração de idéias em propostas realizáveis. 
 
 
1.4 - Bloqueios ao pensamento criativo na elaboração de novas pesquisas 
A dificuldade comum ao pensamento criativo reside principalmente nos 
bloqueios mentais originados do status quo. No sentido que é muito mais cômodo 
o lugar comum, o pensamento padrão é fácil, e não discrepância ideológica e a 
ausência de comportamentos desviantes obtêm aprovação (CORDEIRO, 1998 – 
b: passim). 
É importante ainda observar que no desenvolvimento da maioria das 
atividades cotidianas não se exige criatividade. Pelo contrario, as ações rotineiras 
do dia-a-dia são melhor executadas, com agilidade, quando sujeitas a um método, 
porém, quando é necessário ser criativo, por força do hábito, as barreiras 
interiores surgem com todas as couraças. 
A esse respeito, Roger Oech (1996, passim) descreve os mais comuns 
bloqueios mentais à criatividade: 
 
• “A resposta certa consiste na tendência de se procurar apenas uma 
e única resposta ao problema”, na realidade, em virtude da 
complexidade, na pesquisa social existem várias respostas certas. 
• “Isso não tem lógica”. Refere-se à limitação imposta pelo tipo de 
raciocínio que não entende a dualidade, os contrários opostos e 
complementares em todos os fenômenos sociais e naturais. 
• “Siga as normas”. As normas cumprem o papel para que foram 
criadas. Contudo, com o tempo, tornam-se obsoletas. A 
desobediência é necessária, onde para criar, é preciso destruir. 
 18 
• “Seja pratico”. A exigência de se pensar com praticidade e utilidade 
em todos os momentos é extremamente limitante para a fase de 
germinação do pensamento. Ser prático é essencial para “fazer as 
coisas acontecerem”, porém na fase inicial de criação não deve ser 
considerado. 
• “Evite ambigüidades”. As ambigüidades e os paradoxos são 
geralmente evitados por provocarem problemas de comunicação. 
Contudo, a ambigüidade é importante para criação de novas idéias. 
• “É proibido errar”. É óbvio que, na prática, deve-se evitar o erro, 
até para não perder o emprego, morrer jovem. O que se chama 
atenção aqui é a fobia de errar desenvolvida pelo sistema 
educacional. No ensino infantil e no fundamental, o erro resulta em 
punição e até em desrespeito. No processo criativo é preciso errar e 
até dobrar a quantidade de erros. Ao se buscar idéias originais tem-
se que criticar os procedimentos usados anteriormente, testar os 
pressupostos e acertar de vez em quando. Para encontrar 
respostas corretas, tem-se que estar disposto a aceitar a 
possibilidade de errar. 
 
 
1.5 - Pressupostos ao ato criativo: 
 
• “Quem realiza o trabalho é você mesmo”, logo, para que algo 
aconteça é necessário que se acredite. Acreditar para ver 
acontecer e nunca ficar apensas “esperando ter condições” para 
realizar algo. Enquanto na postura acomodada se desperdiça 
tempo, justificando as dificuldades para realizar algo,na postura 
criativa se usa o tempo buscando maneiras de fazer as coisas 
acontecerem. 
 19 
• “Estado de espírito criativo” (sentimento, emoção, símbolos) 
pode ser provocado. Logo, deve-se descobrir e utilizar recursos 
para entrar nesse estado. 
• “erro faz parte da fase germinativa. Pelo erro sabe-se o que não 
dá certo, oportunizando novas abordagens e podendo servir de 
ponto de apoio para novas idéias. 
• Para se criar algo novo é preciso abrir-se a uma visão crítica e 
contestadora da realidade que se vive. A insatisfação com o que 
se apresenta alimenta a utopia dos ideais perfeitos. 
• A ciência é busca de solução, de mistérios, um após o outro, e 
é isso que origina a criatividade na produção científica. 
• É necessário dedicar-se intensamente, concentrando toda 
energia com entusiasmo naquilo que se deseja alcançar. Não é 
supérfluo lembrar que entusiasmo, etmologicamente, significa 
ter os deuses em si. Desenvolver uma pesquisa com entusiasmo 
é acreditar na própria capacidade de encontrar soluções para os 
problemas. 
1.6 - Liberação da criatividade 
Em síntese, são apresentadas as seguir algumas idéias a serem postas em 
prática: 
- A utopia – pela visão utópica chega-se a conceber situações com 
respostas alternativas. A expressão “e se”, tem um papel importante aqui. 
Quando se pensa em algo como o “e se” antecedente, abrem-se portas para 
novas perspectivas; 
- Os erros podem ser usados como pontos de referencia para outras formas 
de pensar a pesquisa; 
- Criar uma visão pessoal e positiva da realização do trabalho, contribui 
para o seu êxito. “O poder de chegar lá, é a qualidade de estar lá; 
- As metáforas são importantes instrumentos de compreensão do 
funcionamento do “computador cerebral” e podem se configurar como excelente 
recurso de liberação do pensamento criativo; 
 20 
 - O humor constitui-se num meio sem igual de superação dos bloqueios 
mentais; 
- Criar um “território de caça” significa partir na ofensiva de buscar 
ativamente novas idéias em qualquer campo possível de descobrir-las. 
Alguns “campos de caça”: 
• Viajar – visitar novos lugares; 
• Contatar pessoas diferentes , conversar com pessoas que têm outros 
valores; 
• Sonhar acordado; 
• Ler revistas científicas antigas – muitas idéias propostas em outras 
épocas podem ser recicladas; 
• Estudar livros básicos sobre assuntos específicos; 
• Ler poesia apreciando as metáforas – observar as próprias metáforas 
e criar muitas outras nas conversas corriqueiras; 
• Cinema, teatro e televisão (sem se empanturrar) podem ser 
alimentos de qualidade no processo criativo, assim como ler 
periódicos atuais; 
• Conversar não só com profissionais da área, mas com todas as 
pessoas, pois no conhecimento científico, como em todas as áreas 
do conhecimento humano, as descobertas muitas vezes acontecem 
quando se está fora da rotina da pesquisa; 
• Habituar-se a ter consigo um bloco de notas e anotar todas as idéias 
no momento em que surgem. 
 
1.7 - A tempestade de idéias 
A tempestade de idéias é usualmente o meio de grande agilidade para se 
produzir em grupo. O principio de funcionamento desse meio de provocar a 
criatividade está na separação da fase de germinação de idéias da fase prática 
(crítica e julgamento). O objetivo dessa prática (também conhecida por 
brainstorming) é a criação de uma grande quantidade de idéias. 
 21 
Na prática acontece da seguinte forma: 
Junta-se um grupo de pessoas (é possível realizar a partir de duas 
pessoas) em ambiente tranqüilo. 
- Define-se um tema questionamento; 
- Todas as pessoas dirão alguma coisa sobre o tema, uma sugestão, uma 
resposta para a questão; 
- Todas as coisas faladas serão anotadas tal qual foram faladas; 
- As sugestões são completamente livres; 
- A única coisa proibida é se fazer censuras, críticas ou qualquer tipo de 
reação negativa às idéias surgidas. Essa abertura a qualquer idéia contribui 
para superação dos bloqueios mentais; 
- Nesse instante todas as contribuições serão bem vindas; 
- Deve-se motivar a participação de todos; 
- Por fim, faz-se a seleção e adequação das melhores idéias, segundo o 
grupo, ao assunto de interesse. 
 22 
2 - ESTUDANDO METODOLOGIA CIENTÍFICA 
 
 
 
• METODOLOGIA – o estudo do método na busca de determinado 
conhecimento – preocupação instrumental. 
 
• CIÊNCIA – é um conhecimento racional, portanto reflexivo, sustentado 
numa lógica racional, ou seja, conhecimentos sistematizados e verificáveis. 
 
• CONHECIMENTO – é desvendar, desbravar, apreensão de um objeto pelo 
sujeito, e quem conhece acaba por apropriar-se do objeto que conheceu. 
 
• CONCEITO – é a forma mais simples do pensamento e por meio dele 
fazemos representações mentais das coisas ou episódios que conhecemos. 
 
 
2.2 - FORMAS DO CONHECIMENTO: 
 
 
 POPULAR RELIGIOSO FILOSÓFICO CIENTÍFICO 
 
- valorativo - valorativo - valorativo - real - factual 
- reflexivo - inspiracional - racional - contingente 
- assistemático - sistemático - sistemático - sistemático 
- verificável - não-verificável - não-verificável - verificável 
- falível - infalível - infalível - falível 
- inexato - exato - exato aproximadamente 
exato 
 
 
2.3 - NATUREZA TEÓRICA-PRÁTICA DA ATIVIDADE CIENTÍFICA: 
 
- Atividade intelectual intencional que visa responder às necessidades humanas. 
 
Animal → sente – necessidades – respostas – ação instintiva rotineira – nível 
prático; 
 
Racional → pensa – problemas – soluções – ação intelectual – nível teórico. 
 
 
 23 
 
2.4- MÉTODOS E TÉCNICAS CIENTÍFICAS: 
 
 
- Indutivo – a indução parte de registros menos gerais para enunciados dos mais 
gerais; 
- Dedutivo – transforma enunciados universais em particulares. O ponto de partida 
é a premissa antecedente, em que tem valor universal, e o ponto de 
chegada é o conseqüente (premissa particular); 
- Dialético – pela etimologia da palavra de origem grega dialektos, que significa 
debate, forma de discutir e debater. Consiste na formulação de 
perguntas e respostas, e que traz à tona todas as falsas concepções; 
- Hipotético-dedutivo – surge o problema e a conjectura, que serão testados pela 
observação e experimento. 
- Histórico – tem como pressuposto reconstruir o passado objetiva e 
acuradamente, em geral relacionando com uma hipótese sustentável; 
- Estatístico – é um método de analise, planejado por Quetelet, que permite obter 
de conjuntos complexos representações simples e constatar se essas 
verificações simplificadas têm relações entre si. Em Contabilidade o uso 
da estatística é ferramenta imprescindível para compreender o 
fenômeno do patrimonial em seus aspectos quantitativos, com suas 
possíveis utilizações; daí ser um dos mais importantes instrumentos 
utilizados pela ciência contábil; 
- Comparativo – realiza comparações com o objetivo de verificar similitudes e 
explicar as divergências no intuito de melhor compreender o 
comportamento humano; 
- Monográfico – também conhecido como estudo de caso, permite, mediante caso 
isolado ou de pequenos grupos, entender determinados fatos, pertindo 
do princípio de que qualquer caso que se estude em profundidade pode 
ser considerado representativo de muitos outros ou até de todos os 
casos semelhantes. 
 
 24 
3 - NÍVEIS E TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA: 
 
- Pesquisa acadêmica – é uma atividade pedagógica que visa despertar o espírito 
crítico; 
- Pesquisa de ponta – é a tentativa de negociação/superação científica e 
existencial, a oferta de um dado novo para a 
humanidade. 
 
3.1 TIPOS DE PESQUISA CIENTÍFICA: 
 
- caracterização segundo os objetivos: 
a) Explortatórias 
b) Descritivas 
c) Explicativas 
 
- caracterização segundo as fontes de dados: 
a) campo 
b) laboratório 
c) bibliografia 
 
- caracterização segundo os procedimentos de coleta de dados: 
a) pesquisa experimental 
b) ex-post-facto 
c) levantamento 
d) estudo de caso 
e) pesquisaação 
f) história oral 
g) história de vida 
h) documento 
i) bibliografia 
 25 
3.2 - FORMAS BÁSICAS DE APRESENTAÇÃO DE TEXTOS: 
 
a) FICHAMENTO – consiste na coleta de informações de obras pesquisadas 
por meio de apontamentos, anotações que serão utilizadas na futura 
elaboração do texto. 
b) RESENHA – consiste em apresentar o conteúdo de obras prontas 
acompanhado ou não de avaliação crítica. 
 
- As partes essenciais da apresentação do corpo da resenha são: 
 
1 - Identificação da obra – autor, título, imprenta, total de páginas resenhadas. 
2 - Credenciais do autor – formação, publicações, atividades desenvolvidas na 
área. 
3 - Conteúdo – idéias principais, pormenores importantes, pressupostos para o 
entendimento do assunto e breve explicação das conclusões do autor. 
4 - Crítica – determinação histórica e metodológica (científica, jornalística, didática) 
da obra, contribuições importantes, estilo, forma, méritos, considerações éticas. 
 
c) RESUMO – apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto. 
d) RELATÓRIO CIENTÍFICO – basicamente é contar o que observou. Partes 
essenciais: referencial teórico, metodologia, apresentação de resultados, 
análise dos resultados, sugestões/recomendações. 
e) PAPER – é o texto transcrito de uma comunicação oral. 
f) ESQUEMA – texto que pode ser esquematizado de várias maneiras: com 
palavras, gráficos, desenhos, chaves, flechas, etc. 
g) ENSAIO – consiste nas comunicações originais do pesquisador, após 
apurado exame de um assunto. Destaca-se o espírito crítico e a 
originalidade. 
h) ARTIGO – é uma pequena parcela de um saber maior, cuja finalidade, de 
modo geral, é tornar pública parte de um trabalho de pesquisa que se está 
realizando. Artigo de opinião e artigo de pesquisa. 
 26 
i) COMUNICAÇÃO - transmitir informações, idéias, fatos e opiniões 
peculiares de todo pesquisador. Essas apresentações são feitas oralmente 
em eventos científicos. 
j) MONOGRAFIA – trabalho de conclusão de curso (graduação e pós-
graduação); 
k) DISSERTAÇÃO – trabalho de conclusão de curso - mestrado; 
l) TESE - trabalho de conclusão de curso – doutorado. 
 27 
 
4. ENQUADRAMENTO DA CONTABILIDADE NO AMBITO DA 
CIENCIA 
 
 
Ciência, na concepção de Good e Hatt (1981), é a acumulação de 
conhecimentos sistemáticos. Para Fachin (2002, p.15), “a ciência é construída 
pela observação sistemática dos fatos. Por meio da análise e experimentação, 
extrai resultados que passam a ser validados universalmente”. 
De acordo com essas definições, estabelecendo-se uma conexão com a 
cronologia histórica dos acontecimentos contábeis, a qual remete à seção 1.1, é 
possível identificar a Contabilidade como uma ciência, quando utilizadas a 
sistematização e a acumulação de conhecimentos como parâmetros de 
sustentação. 
Sá (1997, p. 18) corrobora essa idéia, ao enfatizar que “a ciência foi-se 
construindo em avanços sucessivos, de forma nem sempre definida, mas com 
uma constância de interesse de encontrar-se a verdade”. 
Em sua perspectiva específica e com o intuito de facilitar seu entendimento, 
a epistemologia pode ser didaticamente decomposta em: classificação das 
ciências, objeto da ciência e método na ciência. 
 
4.1 - CLASSIFICAÇAO DAS CIENCIAS 
 
A classificação ou divisão das ciências, conforme Fachin (2002), surgiu em 
decorrência da dificuldade encontrada pelos cientistas de seu domínio. As 
proporções universais das ramificações cientificas foram tornando impossível a 
compreensão das subdivisões que as circundam. 
Fachin (20020) afirma que o propósito da divisão é, obedecendo a um 
esquema classificatório, agrupar as diversas ciências com seus objetos 
 28 
particulares e dentro de suas áreas particulares de estudo. Como resultado desse 
processo, a compreensão individual de cada ciência torna-se mais clara, e permite 
maior abrangência do conhecimento do conjunto cientifico em seus aspectos 
gerais e universais. 
Ao longo do tempo, como expõe Theóphilo (1998), foram criadas diversas 
classificações para atender as ciências, variando em função do parâmetro 
escolhido – ordem de complexidade, objeto, metodologia empregada. Entre elas, 
Fachin (2002) diz que podem ser citadas as classificações de Aristóteles, de 
Bacon, de Ampère, de Augusto Comte, de Spencer, de Wundt, Moderna, de Mário 
Bunge e de Eva Maria Lakatos. 
Essa classificação encontra-se fundamentada na divisão proposta por 
Mário Bunge (1976), onde, conforme Tesche et al (1991), inicialmente, as ciências 
são divididas em dois grandes grupos, de acordo com seu conteúdo: ciências 
formais e ciências factuais. 
Apenas a lógica e a matemática integram o grupo das ciências formais, 
Theóphilo (1998) explica que estas se caracterizam por tratarem de entes ideais, 
tanto abstratos quanto interpretados, cujos argumentos e teoremas dispensam 
testes para experimentação. 
Por sua vez, as ciências factuais tratam de objetos concretos e utilizam-se 
do método experimental para verificar seus postulados e hipóteses. Tesche et al. 
(1991) mencionam que nelas incluem-se os demais campos do conhecimento. 
A contribuição de Eva Maria Lakatos dá-se pela ampliação da classificação 
das ciências factuais, proposta por Mário Bunge. Na perspectiva de Fachin (2002, 
p. 21), “para a autora, a fundamental diferença entre as ciências formais e as 
ciências factuais é que as primeiras constituem o estudo das idéias e as outras 
dizem respeito aos fatos”. 
Assim, Tesche et al(1991) explicitam que, para Lakatos, o grupo de 
ciências factuais é subdividido em dois outros grupos: as ciências naturais, que 
estudam a natureza e os seres vivos, suas leis e interações com o ambiente; e as 
 29 
ciências sociais, dedicadas ao entendimento do homem enquanto ser inteligente, 
livre e social, suas relações com o meio, sua vida moral e postura ética. 
Diante da taxonomia apresentada, a Contabilidade seria enquadrada como 
ciência factual e social, ainda que, segundo Theóphilo (1998), alguns autores da 
área normalmente não façam referência especifica a ela. Usualmente, os 
pesquisadores e teóricos têm abreviado essa denominação, omitindo e termo 
factual, classificando a Contabilidade como uma ciência social. 
Autores clássicos da Contabilidade têm referendado esse enquadramento. 
Iudícibus e Marion (1999) afirmam que a Contabilidade não só uma ciência exata, 
mas uma ciência social. Ainda que ela utilize métodos quantitativos como sua 
principal ferramenta, é a ação humana que gera e modifica o fenômeno 
patrimonial. 
Sobre esse assunto, Sá (2000, p. 37) posiciona-se afirmando que, “se a 
Contabilidade trata patrimônio das células sociais e se estas se inserem no todo 
social, é fácil concluir que seja ela uma ciência social”. 
Tesche et al. (1991, p. 17) caracterizam a contabilidade como a ciência 
social que tem por objeto o patrimônio de quaisquer entidades, em que seus 
aspectos qualitativos e quantitativos, bem como as suas variações”. 
Ao introduzir essa definição, Tesche et al. (1991) remetem ao objeto da 
ciência. Sobre o objeto, pode-se dizer que identificar seus pressupostos é um 
requisito fundamental para entender como o conhecimento é desenvolvido em 
determinado ramo da ciência. 
 
4.2 - OBJETO DA CIÊNCIA 
 
O objeto diz respeito ao fato que os estudos de uma ciência. Fachin (2002, 
p. 69) diz que é “tudo aquilo de que um individuo pode ter conhecimento, sobre o 
que pode tomar qualquer atitude ou ao qual pode responder”. 
 30 
Para Tesch et al. (1991, p. 18) “toda ciência tem um objeto definido. A 
delimitação do objeto de estudo serve para orientar o campo de ação de cada 
ciência”. 
Nesse sentido, de acordo com Drummond (1995), o patrimônio foi definido 
como objeto da Contabilidade pela primeira vez em 1923, por Vicenzo Mazi, um 
seguidor da Escola Veneziana, fundada por Fabio Besta. Desde então, 
denominação passou a ganhar uma diversidade de adeptos nacomunidade 
cientifica, independentemente da vertente teórica assumida. 
Sá (2000, p. 44) estende esse conceito ao afirmar que “o campo de ação da 
Contabilidade é a célula social e dentro dela o patrimônio, este como um conjunto 
de meios ou coisas que devem visar satisfazer as necessidades da aludida célula, 
sob a ótica da eficácia”. 
Iudícibus e Marion (1999, p. 56) enunciam como objeto da Contabilidade o 
patrimônio, levando em conta seu campo de atuação (toda entidade que exerça 
atividade econômica), e ressaltam 
 
“o patrimônio de tais entidades, sejam elas pessoas físicas ou jurídicas, 
seja esse patrimônio resultante da consolidação de patrimônio de outras 
entidades distintas ou a subdivisão do patrimônio de uma entidade em 
parcelas menores que mereçam ser acompanhadas em suas mutações 
e variações”. 
 
Seguindo esse entendimento é possível intuir que, dentro de uma 
perspectiva ampla, o objeto da Contabilidade configura-se no patrimônio. Em um 
escopo mais delimitado, pode-se estabelecer que é o acompanhamento das 
variações do patrimônio de uma entidade. 
Tesche (1991) corroboram com esse enfoque e acrescentam que a 
Contabilidade estuda o patrimônio sob seus aspectos qualitativos e quantitativos e 
de suas variações, buscando entender e prever seu comportamento. 
Assim, verifica-se que a Contabilidade, como ciência social, ao estudar o 
fato norteador da mesma, o patrimônio, rompe a fronteira estritamente econômica. 
 31 
Ao informar a sociedade, o quanto, bem ou mal, determinada entidade usa os 
recursos dos sócios ou da população, acaba por desempenhar papel com 
fundamental amplitude social. 
 
 32 
5 - ALGUMAS FORMAS DO CONHECIMENTO E A CIÊNCIA 
 
Na busca de compreender o mundo através da observação espontânea 
da realidade, o homem transmite para os seus semelhantes os conhecimentos 
adquiridos ao logo do tempo. Em CERVO e BERVIAN (1979. p. 3-4), temos que 
conhecer “é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto 
conhecido”, sendo que no processo do conhecimento o sujeito cognoscente se 
apropria, de certo modo, do objeto conhecido. Apropriação que leva ao 
conhecimento sensível, se a apropriação é física e ao conhecimento intelectual se 
a representação não é sensível. Como por exemplo, conceitos, verdades e leis. 
Portanto, o homem penetra as diversas áreas da realidade para dela tomar posse. 
Entretanto, existem certas atividades essenciais na cultura humana, que 
não colocam grande ênfase no conhecimento (embora ele seja necessário para 
executá-lo), mas em efeitos que influem em outras áreas sensibilidade. 
Um caso típico é a arte. A arte é uma atividade que consiste em realizar 
certos projetos de nossa imaginação, os quais visam transmitir efeitos emocionais 
relacionados com a beleza. 
Outro caso notório é o esporte. O esportista embora precise de 
conhecimentos técnicos sobre a tarefa que executa, não visa transmitir nem 
organizar conhecimento nenhum. Ele só tenta realizar determinadas ações, as 
quais, neste caso, estão vinculadas a certo rendimento físico do corpo (força, 
velocidade, destreza e etc.). 
Ainda que existam especialistas em arte, capazes de transmitir técnicas 
para que o artista possa exteriorizar mais satisfatoriamente sua imaginação, é 
especialista em esporte, que conhecem regras e procedimentos para aprimorar o 
comportamento físico do esportista, nem a arte nem o esporte são atividades 
relativas ao conhecimento científico. 
Mas há outras formas de conhecimento que são relevantes para a 
cultura contemporânea, e que, em outras etapas da historia do homem, foram 
ainda mais influentes do que aquilo que hoje chamamos de “ciência”. 
 33 
O conhecimento científico é metódico, e tem possibilidade de ser 
defrontado com a realidade. Temos condições para aferir se ele é verdadeiro ou 
falso, pelo menos teoricamente. 
Contudo, existem certas formas de conhecimento que não costumam 
ser incluídas no campo da ciência. 
Uma forma especialmente famosa de conhecimento é o filosófico. 
Também, em certo sentido, existe uma forma de conhecimento religioso. Com 
efeito, ainda que muitas pessoas adotem um ponto de vista estritamente irracional 
no plano religioso, muitas outras acham que as experiências místicas constituem 
uma forma de conhecimento e podem, portanto, ser analisadas desse ponto de 
vista. 
Contudo, existe atualmente um grande preconceito em favor do 
conhecimento científico e contra qualquer outra forma. 
Em meados dos anos 30 e depois da Segunda Guerra, tanto a corrente 
que chamamos de positivista¹ quanto muitas outras a ela relacionadas de maneira 
indireta ou direta, levantaram a “palavra de ordem” de que a ciência era a única 
forma racional de conhecimento. 
Tudo que não fosse científico era ou conhecimento ingênuo do senso 
comum (que, embora às vezes verdadeiro, não tinha método, organização nem 
justificação) ou então falso conhecimento, obscuro e incompreensível, disfarçado 
por uma linguagem aparentemente acadêmica. 
Para eles, a filosofia era apenas uma disciplina dedicada a estudar as 
afirmações científicas, uma espécie de “reflexão” sobre a ciência. 
Atualmente, essas tendências, explicitamente positivistas, entraram em 
decadência. Mas apareceram novos motivos para privilegiar o conhecimento 
científico. É a revolução tecnológica. 
De acordo com LAKATOS (1991, p. 21), podemos entender a ciência 
como uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições 
logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se 
deseja estudar: A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, 
 34 
dirigidas ao sistemático conhecimento como objeto limitado, capaz de ser 
submetido à verificação. 
As ciências possuem: 
• objeto ou finalidade. Preocupação em distinguir a característica 
comum ou as leis que regem determinados eventos. 
• função. Aperfeiçoamento, através do crescente acervo de 
conhecimentos, da relação do homem com o seu mundo. 
• objeto. Subdividido em: 
o material, aquilo que se pretende estudar, analisar, 
interpretar ou verificar, de modo geral; 
o formal, o enfoque especial, em face das diversas ciências 
que possuem o mesmo material. 
Ainda em LAKATOS (1991, p. 22), encontramos que a complexidade do 
universo e a diversidade de fenômenos que nele manifestam, aliadas à 
necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los, 
levarem ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas. Estas 
necessitam de uma classificação, quer de acordo com sua ordem de 
complexidade, quer de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de 
enunciados e metodologia empregada. 
Nem todos os fatos pertencem ao mundo físico, químico ou biológico. 
Por exemplo, a psicologia é uma ciência cujo campos de interesse são a mente, o 
inconsciente, os conflitos humanos etc. A sociologia estuda os grupos sociais, a 
família, as populações, os Estados, as relações de poder, o conceito de conflito 
etc. 
Essas ciências não são ciências naturais, ciências dos fatos da 
natureza. São ciências humanas, porque o homem é estudado a partir do ponto de 
vista de sua condição humana. Nas ciências humanas, a condição especial do 
homem tem um destaque inexistente nas ciências naturais. Então, há uma 
primeira divisão possível entre as ciências: as naturais e as humanas. 
 As ciências estão divididas em formais (lógica e matemática), ou 
factuais (naturais e sociais). Nas ciências naturais temos a física, química, biologia 
 35 
e outras. Nas ciências sociais encontramos a antropologia cultural, direito, 
economia, política, psicologia, sociologia, etc. 
 Contudo, tanto as ciências naturais como as humanas participam de 
uma propriedade fundamental. O conhecimento científico origina-se nos fatos 
reais, sejam da natureza, do homem, da sociedade, da mente etc. 
Que acontece, então, com a matemática? Se o conhecimento científicotem origem nos fatos, na realidade, seja natural ou social, como é que a 
matemática é uma ciência? A matemática não lida com objetos reais, nem com 
pessoas, nem com forças, nem com entidades sociais etc. ela é uma ferramenta 
importante em quase todas as ciências, mas seu objeto próprio, específico não 
tem nada a ver com os fatos. 
A matemática é considerada pela maioria dos cientistas como uma 
ciência. Porém, ela não depende da experiência. Um matemático não precisa 
fazer observações ou experimentos para justificar suas afirmações etc. A 
matemática é crítica, metódica e é sistemática. É seriamente estudada nos 
grandes centros de pesquisa, e seria impossível desenvolver a maior parte das 
ciências sem seu apoio. Isso foi causa de uma divisão, quase universalmente 
aceita, no conjunto das ciências: ciências abstratas ou formais e factuais. 
São abstratas ou formais porque os objetos com os quais trabalham não 
são entidades do mundo real, que possamos perceber através dos sentidos. Elas 
não trabalham com fatos. Trabalham com idéias. 
Por outro lado, mesmo que alguns cientistas façam experimentação, 
pelo menos, observam (por exemplo, a Astronomia). A necessidade de 
experiência, típica das ciências naturais e humanas, é responsável pelo fato de 
que essas ciências sejam às vezes também chamadas de “ciências empíricas”. É 
uma ciência dos fatos, ou, então, da experiência dos fatos. 
As ciências humanas também são ciências factuais, mas não se 
preocupam dos fenômenos puramente naturais. O interesse dominante são os 
fenômenos e atividades relacionadas com o homem, a cultura, a sociedade e os 
elementos que fazem parte da comunicação, como a linguagem. 
 36 
Desde os antigos filósofos já havia a preocupação em estudar as 
organizações sociais. Apesar disso, é só no século passado que se começa a falar 
em “ciência do homem”, às vezes chamadas “ciência da cultura” e, em tempos 
mais recentes, “ciências sociais”. A maioria dos pensamentos sobre o homem, a 
história, a cultura e a sociedade eram de caráter exclusivamente filosófico ou 
religioso. 
É só depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que começam a 
aparecer as disciplinas que estudam o homem com as características que hoje 
reconhecemos às ciências. Disciplina como a sociologia ou psicologia só em 
tempos bastante próximos ganham crédito acadêmico e são lecionadas nas 
universidades. 
A divisão entre ciências naturais e humanas embora ambas sejam 
factuais, acontece devido as propriedades específicas de cada uma serem 
diferentes. O homem é um ser pensante e afetivo: ele tem uma forma “superior” de 
inteligência, tem emoções que influem em suas atividades e tem a capacidade de 
transformar o mundo. O homem não é um objeto passivo como as forças, a 
energia, a luz, as células, os planetas ou outras entidades que fazem parte das 
ciências naturais. Daí vemos que o homem e a sociedade não são mecanismos, e 
não seria correto tentar aplica-lhes exatamente as mesmas técnicas que usamos 
no estudo da natureza. 
A ciência moderna com seus quatros séculos de desenvolvimento, responsável 
pelo progresso material atingido pelas sociedades avançadas de hoje, não se 
mostrou capaz se exterminar as desigualdades sociais e os sofrimentos humanos 
delas decorrentes. Na maioria das vezes tem ela funcionado como instrumento do 
poder. Isto porque, sendo social, ela representa um processo social como tantos 
outros, sujeito às vicissitudes das formas de organização societária e aos 
percalços da influência dos produtores sobre o uso de seus produtos; apesar de 
seus ideais de neutralidade e objetividade, idéias que refletem a racionalidade do 
ser humano, a ciência esta presa à contradição de ser uma produção do homem, 
de sua grandeza e de suas misérias. 
 
 37 
 
 
QUESTÕES PARA REFLEXÃO: 
 
 
 
1. Estabeleça a diferença entre o conhecimento cientifico e outros tipos de 
conhecimento. 
 
 
2. Quais as características do conhecimento científico? 
 
 
3. Comente as diferenças entre ciências formais e as ciências factuais. 
 
 
4. Como podemos classificar a Contabilidade no quadro das ciências? 
 
 
 
 38 
6 - ANÁLISE QUANTITATIVA E ANALISE QUALITATIVA 
 
 
Introdução 
 
Chamamos análise quantitativa de uma pesquisa a que se baseia em 
mensurações e no cruzamento de dados estatísticos. Fazem parte dela os 
cálculos de média e proporções, a elaboração de índices e escalas. A análise 
quantitativa decorre de técnicas especificas de mensuração, como questionários 
com respostas de múltipla escolha. 
A análise qualitativa é a que utiliza mecanismos interpretativos e de 
descoberta de relações e significados. Os recursos disponíveis para esse tipo de 
análise são entrevistas, observações, questionários temáticos e abertos, 
interpretação de formas de expressão visual como fotografias e pinturas, e 
estudos de caso. 
 
A magia dos números e a profundidade dos depoimentos 
 
 Já explicamos que a regularidade dos fenômenos sociais permite que eles 
sejam mensuráveis, isto é, que seja quantificável sua freqüência e até mesmo sua 
tendência de desenvolvimento ou de involução. Essas quantificações têm 
auxiliado muito os pesquisadores na elaboração de projeções fidedignas a 
respeito dos acontecimentos sociais. 
 Dissemos também que os indicadores quantitativos, além de propiciarem 
mensurações e projeções, foram utilizados por parecerem aos olhos dos 
sociólogos do passado mais imparciais e menos suscetíveis de desvios 
resultantes do envolvimento do pesquisador com a realidade pesquisada. 
O que procuramos mostrar é que as análises quantitativas não possuem a 
fidedignidade nem a objetividade almejada. A escolha de qualquer indicador – 
quantificável ou não – obedece a critérios teóricos e a avaliações de caráter 
qualitativo. Uma simples análise estatística do número de assaltos em uma 
cidade, por exemplo, implica uma avaliação qualitativa a respeito da fonte de 
 39 
dados e de seus critérios de registro. Poderão ser utilizadas informações 
existentes nas delegacias e em outras instituições publicas, assim como o 
pesquisador pode julgar importante pesquisar dados de primeira mão – aqueles 
coletados originalmente por ele – para detectar acontecimentos não registrados. 
A decisão de uso de uma fonte de dados é qualitativa e envolve uma 
profunda avaliação do pesquisador. As enquetes sobre agressão a mulheres , 
estupro e aborto raramente se baseiam nas estatísticas oficiais, pois se sabe que 
grande parte desses crimes não é denunciada, o que torna os dados existentes 
nas delegacias bastante frágeis na representatividade do fenômeno a ser 
estudado. 
É muito comum que as pesquisas se desenvolvam de maneira a integrar 
procedimentos quantitativos e qualitativos em diferentes etapas do trabalho. 
Podemos cruzar, no estudo da insegurança da população nas grandes cidades, os 
dados quantitativos regionais e as pesquisas qualitativas realizadas junto à 
população. Esse cruzamento poderá nos mostrar, por exemplo, se as regiões 
onde ocorrem mais assaltos são aquelas nas quais a população apresenta uma 
atitude mais temerosa e insegura. Os primeiros dados decorrem de análises 
quantitativas, os seguintes, de estudos qualitativos. 
Portanto os critérios que fazem um pesquisador optar por um procedimento 
estatístico ou um interpretativo não se baseiam nunca em uma questão de 
fidedignidade. Hoje os pesquisadores não almejam mais um distanciamento em 
relação ao objeto de estudo, ao contrario, reconhecem as vantagens do 
conhecimento profundo de uma realidade na identificação de suas características 
mais sutis. Por outro lado, sabemos que os dados quantitativos não estão isentos 
de formulações partidárias e ideológicas. 
Estamos conscientes do abuso no uso de cifras, taxas e índices em 
pesquisas e mesmo em reportagens jornalísticas. E graças ao poder alusivo 
desses indicadores, vivemos em meio a um discursoque lança mão, 
indevidamente, de seu poder persuasivo e demagógico. Muitos gráficos e 
tendências que pretendem exibir, por exemplo, desempenho econômico ou 
preferências eleitorais transformam-se em argumentos cujo objetivo é gerar o 
 40 
comportamento que se deseja revelar e medir. Consciente disso, o próprio mundo 
publicitário utiliza essa linguagem em promoção de produtos e no estimulo ao 
consumo. 
 
 
 
RESUMINDO: 
 
• A analise quantitativa – visa a objetividade dos fatos, o controle, a 
precisão, possibilita análises estatísticas. Os elementos básicos da análise 
são os números, o pesquisador mantém distância do processo, independe 
do contexto, o raciocínio é lógico e dedutivo; 
• A análise qualitativa – compreende os aspectos subjetivos da realidade 
estudada, desenvolve a teoria, descoberta, descrição e interpretação. Os 
elementos básicos da análise são as palavras e idéias, o pesquisador 
participa do processo, depende do contexto, gera idéias e questões para 
pesquisa, o raciocínio é dialético e indutivo, descreve os significados e 
descobertas. 
 
 
 
 
 
(Adaptado de: COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. 2a. ed. São 
Paulo, Moderna, 2001). 
 
 41 
7 - TÉCNICAS DE PESQUISA 
 
• ENTREVISTA 
• QUESTIONÁRIO 
• FORMULÁRIO 
 
 
1. ENTREVISTA 
 
- é conversa orientada para um objetivo definido; 
- é recolher, através de interrogatórios do informante, dados para a 
pesquisa; 
- é um encontro entre duas pessoas a fim de que uma obtenha 
informações a respeito de determinado assunto, mediante uma 
conversação de natureza profissional; 
- é um procedimento utilizado na investigação social para a coleta de 
dados ou para ajudar no diagnostico ou no tratamento de um problema 
social. 
 
 
• Critérios para o preparo e a realização da entrevista 
 
1. o entrevistador deve planejar a entrevista, delineando 
cuidadosamente o objetivo a ser alcançado; 
2. obter, sempre que possível, algum conhecimento prévio acerca do 
entrevistado; 
3. marcar com antecedência o local e horário para a entrevista; 
4. criar condições, isto é, uma situação discreta para a entrevista; 
5. escolher o entrevistado de acordo com a sua familiaridade ou 
autoridade em relação ao assunto escolhido; 
6. fazer uma lista das questões, destacando as mais importantes; 
7. assegurar um numero suficiente de entrevistados, o que dependerá 
a viabilidade de informações a ser obtida. 
 
• Critérios pessoais do entrevistador 
 
- ser discreto 
- evitar ser importuno 
- deixar à vontade o informante 
- dirigir a entrevista e mantê-la dentre dos propósitos dos itens pré-estabelecidos 
- ser habilidoso e elegante 
-evitar que o diálogo se desvie dos propósitos de sua pesquisa 
- deve apenas coletar dados e não discuti-los com o entrevistado 
- falar pouco e ouvir muito 
- anotar cuidadosamente os informantes coletados 
 42 
- obter e manter a confiança do entrevistado 
- dar e manter a confiança do entrevistado 
- dar o tempo necessário para que o entrevistado discorra satisfatoriamente sobre 
o assunto 
- dar prioridade as perguntas que tenham menores probabilidades de provocar 
recusa ou produzir qualquer forma de negativismo 
- uma pergunta após outra, a fim de não confundir o entrevistado. 
 
 
 
2. QUESTIONÁRIO 
 
- é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma serie ordenada de 
perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do 
entrevistador; 
 
- é a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita medir com melhor 
exatidão o que se deseja; 
 
- se respondido na ausência do entrevistador, deve ser acompanhado de 
instruções minuciosas e especificas. 
 
• Classificação das perguntas 
 
1. Perguntas abertas 
- destinam-se a obter uma resposta livre 
- embora possibilitem recolher dados ou informações mais ricas e 
variadas, são codificadas e analisadas com maiores dificuldades. 
Ex.: Do que você gosta mais na cidade? 
 
2. Perguntas fechadas 
- destinam-se a obter respostas mais precisas, padronizadas, de 
fácil aplicação, fáceis de codificar e analisar. 
Ex.: Seu nível de escolaridade é: 
( ) ensino fundamental 
( ) ensino médio 
( ) ensino suprior 
 
 
 43 
 
2. FORMULÁRIO 
 
- Instrumento essencial para a investigação social, cujo sistema de coleta de 
dados consiste em obter informações diretamente do entrevistado; 
- é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que são 
perguntadas e anotadas para um entrevistador numa situação face a face. 
 
• Qualidades 
1. adaptação ao objetivo de investigação 
2. adaptação aos meios que se possui para realizar o trabalho 
3. precisão das informações em um grau de exatidão suficiente e satisfatório 
para o objetivo proposto. 
 44 
 
8 - CITAÇÕES 
 
 
CITAÇÃO – é a inclusão no texto de informações extraídas de outras fontes. 
 
CITAÇÕES CURTAS – (até 4 linhas), entram no alinhamento normal do texto, 
entre aspas. 
 
CITAÇÕES LONGAS – (mais de quatro linhas), devem ser destacadas do 
parágrafo, com recuo. 
 
CITAÇÃO DIRETA – transcrição literal de um texto ou parte do texto de um autor, 
que conserva grafia, pontuação e língua originais. 
 
CITAÇÃO INDIRETA – texto redigido pelo autor do trabalho, mas que mantém 
fielmente a idéia original de outro autor. 
 
 
ELEMENTOS QUE PODEM CONSTAR NO TEXTO: 
 
• capa; 
• folha de rosto; 
• folha de avaliações; 
• dístico ou dedicatória; 
• agradecimentos; 
• sumario; 
• lista de tabelas ou ilustrações; 
• lista de siglas, abreviaturas e símbolos; 
• resumo/sinopse; 
• introdução; 
• corpo; 
• conclusão; 
• anexos/apêndice; 
• bibliografia; 
• folha em branco/contracapa. 
 45 
9 - OS PARADIGMAS DA CIÊNCIA CLÁSSICA 
 
O início da Idade Moderna registra um dos acontecimentos mais 
importantes da história do pensamento: a proclamação e a realização da 
autonomia da ciência em relação à filosofia e à teologia. 
Uma das conquistas mais significativas da Renascença foi a autonomia 
da filosofia em relação à teologia. Esta separação não era um fato isolado, mas 
parte de um movimento mais amplo que vinha promovendo a independência de 
todas as atividades humanas em relação à religião. 
Na Antiguidade e na Idade Media a pesquisa cientifica e a filosófica era 
uma coisa só; a filosofia era, de fato, não só a rainha das ciências, mas a ciência: 
ela abrangia, em conformidade com a distinção aristotélica, a matemática, a física 
e a metafísica. 
O mérito de ter assegurado à ciência plena autonomia tanto em relação 
à teologia como em relação à filosofia, dando à primeira um método e uma 
finalidade diversas aos das duas ultimas, compete a Bacon, Galileu e Descartes. 
Toda a filosofia moderna se caracteriza não apenas pela atitude critica 
mas também por soberana confiança no método. 
Francisco Bacon (1561-1626) nasceu em Londres, no seio de uma 
família que pertencia à alta burguesia. Com o apoio de pessoas importantes na 
época galgou os mais altos postos do governo. De 1621 em diante viveu retirado 
em sua propriedade, na qual faleceu. 
Bacon tinha projetado uma grande obra, que deveria ter como titulo 
Instauratio magna, uma enciclopédia de todas as ciências, para renovar 
completamente a pesquisa cientifica, colocando-a em base experimental. A obra 
devia constar de seis partes, mas ele conseguiu terminar somente a duas 
primeiras: o De dignitate et augmentis scientiaru e o Novum organon(novo 
instrumento). 
O pensamento filosófico do século XVII contribuiu para popularizar os 
avanços do pensamento cientifico. Para Bacon, por exemplo, a teologia deixaria 
de ser a forma norteadora do pensamento. A autoridade, que exatamente 
 46 
constituía um dos alicerces da teologia, deveria em sua opinião, ceder lugar a uma 
duvida metódica, a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade. Para 
ele o novo método de conhecimento, baseado na observação e na 
experimentação, ampliaria infinitamente o poder dohomem e deveria ser 
estendido e aplicado ao estudo da sociedade. 
O cientista, por meio da experiência, deve recolher informações 
suficiente (o material) e, depois, mediante suas faculdades espirituais (a razão), 
deve procurar elaborar noções gerais e leis universais. 
Bacon divide as ciências em três grupos: as que se baseiam na 
memória (historia natural e civil); as que se baseiam na fantasia (poesia em suas 
varias formas); as que se baseiam na razão (filosofia e ciências experimentais). 
O fim da ciência, segundo Bacon, é prático e não especulativo. A ciência 
deve ajudar o homem a adquirir um controle mais perfeito sobre a natureza. O 
objeto da ciência é a causa das coisas naturais. Bacon faz o seu principio: saber 
verdadeiramente é saber pelas causas. 
Não se pode, contudo, fazer uso do método indutivo enquanto a mente 
estiver entulhada de preconceito e erros. É necessário, portanto, antes de se 
começar a pesquisa cientifica, reduzir a mente a uma tábula rasa, eliminando-se 
todos os preconceitos. 
Sobre as varias fases do método indutivo, começa com a coleta e a 
descrição do material. Para isso serve as tábuas, que são coordenações das 
instâncias, isto é, das vezes que um fato se repete. 
Recolhido material suficiente, pode-se formular uma primeira hipótese a 
respeito, da natureza do fenômeno estudado. É uma hipótese provisória, que guia 
o desenvolvimento ulterior da pesquisa. A indução deverá proceder pondo à prova 
a hipótese formada em sucessivos experimentos, que Bacon chama de instâncias 
prerrogativas ate conhecer a causa verdadeira do fenômeno. 
Bacon tem o grande mérito de ter sido o primeiro a por-se de modo 
sistemático o problema do método próprio das ciências experimentais, do seu 
objeto e do seu fim. 
 47 
O seu método, apesar de ainda muito imperfeito nos pormenores (por 
exemplo, insiste muito na fase inicial, isto é, na da coleta do material), 
corresponde, em substância, às exigências das ciências experimentais, que têm 
na experiência seu ponto de partida e de chegada. 
Quanto ao fim da ciência, Bacon observa, com razão, que ele consiste 
em estudar a natureza não para contemplá-la, mas para modificá-la e torná-la útil 
ao homem. A ciência deve servir ao progresso da civilização, não a discussões 
estéreis. 
Com René Descartes a filosofia registra uma reviravolta decisiva, 
recebendo uma colocação nova, substancialmente diferente da que tivera na 
Antiguidade e na Idade Media. A sua orientação era então essencialmente 
ontológica, tem do como objetivo constante e primário a investigação da razão 
ultima das coisas (do homem, do mundo, de Deus). 
 Com Descartes a filosofia recebe uma colocação critica e gnosiológica: 
o que quer verificar em primeiro lugar do conhecimento humano. 
Descartes (1596-1650) que é considerado “o pai da filosofia moderna”, 
nasceu na província da Turena (França), de família bem-estabelecida, filho de 
joachim conselheiro no Parlamento da Bretanha e Jeanne, a mãe, morrendo em 
1597. Sendo, Descartes, criado pela avó e a ama-de-leite. 
O jovem Descartes estuda línguas e textos antigos, Historia, Poesia, 
Arte da eloqüência, do mesmo modo que Teologia e Filosofia – sobretudo a 
Filosofia aristotélica talo qual a interpretou São Tomas de Aquino. 
“O Discurso do Método” é uma obra na qual Descartes trata da 
racionalidade no método cientifico experimental. Descartes foi o primeiro pensador 
a desenvolver um “método” para a ciência de forma geral, pratico e objetivo. 
Dessa maneira, podemos ver que o “Discurso do método” marcou a época em 
virtude de seu tom inovador. 
Descartes exigia para si, em primeiro lugar, esta certeza absoluta. No 
seu entender, apenas Deus é infinito e perfeito. O homem, por sua vez, é um ser 
imperfeito. Em outras palavras, Descartes sugere que a metafísica crie a ciência. 
 48 
Sabemos que, em ultima analise, os métodos possíveis são dois: o 
indutivo e o dedutivo. O primeira parte da experiência, o segundo de princípios 
universais. Segundo LAKATOS (1991, p. 47), “a indução é um processo mental 
por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientes constatados, 
infere-se uma verdade geral ou universal”, sendo o método dedutivo o contrario, 
ou seja, parte-se dos dados gerais. 
Na opinião de Descartes, somente o segundo pode levar-nos aos 
progressos do saber e à descoberta da verdade. De acordo com MONDIN (1982, 
p. 66-67) as regras fundamentais do seu método são quatro: 
• Primeira regra: “Não incluir nos meus juízos nada alem daquilo 
que se apresenta à minha inteligência tão clara e distintamente 
que exclua qualquer possibilidade de duvida”. 
• Segunda regra: “Dividir todo problema que se tem de estudar em 
tantas partes menores quanto forem possível e necessárias para 
melhor resolvê-los”. 
• Terceira regra: “Conduzir meus pensamentos com ordem, 
começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de 
conhecer, para subir aos poucos, como por degraus, ao 
conhecimento dos mais complexos, e supondo uma ordem 
também entre aqueles dos quais uns não procedem naturalmente 
dos outros”. 
• Quarta regra: “Fazer sempre enumerações tão completas e 
revisões tão gerais que tenha a segurança de não ter omitido 
nada”. 
Estas regras, às quais Descartes não dá nenhuma denominação 
especifica, costumam ser designadas pelos estudiosos como intuição, analise, 
síntese e enumeração. 
É a regra da intuição que Descartes enuncia seu celebre critério da 
verdade: o da clareza e da distinção. Clara é uma percepção que está presente e 
é aberta à mente atenta; do mesmo modo dizemos que vemos com clareza 
quando as coisas, presentes ao nosso olho, nos movem forte e abertamente. 
 49 
Distinta é aquela percepção que, sendo clara, é tão disjunta e separada de todas 
as outras que não contem em si nada alem do que é claro. 
Vico em sua critica ao método cartesiano, observou por exemplo, que a 
clareza e a distinção são propriedades mais do sujeito do que do objeto, não 
constituindo por isso nenhuma garantia de conhecimento verdadeiro. Pascal, por 
sua vez, notou que a clareza e a distinção são propriedades de matemática e da 
geometria e censurou Descartes por tê-las transferida para outros campos do 
saber. Na verdade, Descartes foi vitima das duas disciplinas citadas, às quais ele 
mais se comprazia e se enganou pensando que poderia obter resultados 
semelhantes na filosofia. 
A segunda regra, a da analise, torna possível a intuição das idéias 
simples. A originalidade de Descartes consiste em ter atribuído grande importância 
à analise com a finalidade de preparar o terreno para a síntese e a dedução. A 
duvida metódica, que é um dos pontos mais originais do pensamento cartesiano, é 
também um momento essencial da analise. 
O erro fundamental de Descartes, erro que Pascal e Vico não tardaram 
a mostrar, consiste na supervalorização do racional, na idolatria da razão, elevada 
à categoria de medida de todas as coisas. 
As duas ultimas regras dizem respeito aos momentos mais importantes 
da dedução: a síntese torna possível a enumeração completa de idéias 
complexas. 
Por outro lado, Isaac Newton (1642-1727) identificou o principio da 
gravidade universal e fundamentou seus estudos na idéia de que o Universo é 
governado por leis físicas e não dependente de interferência de cunho divino. 
Igualmente a Descartes, para explicar os fenômenos naturais, substituiu a religião 
pela ciência e a revelação milagrosa pela observação e experimentação 
consolidando o racionalismo. 
O primeiro e o segundo livros de Newton constituem um tratado de 
mecânica e estuda os movimentos retilíneos e curvilíneos dos corpos esféricos e 
não esféricos, dos projetos, dos pêndulos, dos líquidos. O terceiro livro da força da 
gravidade, pelas quais os corpos tendem para o sol e os respectivos planetas, etc. 
 50 
Deste sistema de Newton faz parte, a existência de Deus como condição da 
existência da estrutura

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